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Recurso de Revista na CLT

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4º Encontro 
QUESTÃO PRÁTICA nº 04 
RECURSO DE REVISTA 
 
CONSIDERAÇÕES SOBRE A PEÇA 
Regulado pelo art. 896, 896-A, 896-B e 896-C, da CLT, o Recurso de Revista tem prazo de oito 
dias úteis e efeito devolutivo, sendo imprescindível o recolhimento de preparo para o seu 
conhecimento. 
Na peça das razões ainda será necessário salientar os requisitos da transcendência, IN 23 do 
TST, e do prequestionamento. 
Será cabível das decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho quando do 
julgamento do recurso ordinário, ou seja, quando o TRT atuar em segunda instância. 
Este recurso, no entanto, não servirá para atacar matéria de fato, sendo restrito para a matéria 
de direito, nos termos das alíneas a, b e c, do artigo 896, da CLT. 
Assim, poderá ser discutido no recurso em apreço: a) divergência de súmula ou jurisprudência 
- ressalte-se que a nº Lei 9.756/98 estabelece que a divergência jurisprudencial a ser apontada 
no recurso de revista deve ser de tribunal regional distinto daquele que proferiu a decisão 
recorrida; b) divergência de norma coletiva; e c) divergência da CF ou de Lei Federal. 
No procedimento sumaríssimo o recurso de revista é ainda mais restrito, só sendo cabível em 
caso de contrariedade a súmula de jurisprudência uniforme do TST ou a súmula vinculante do 
STF e por violação direta da Constituição Federal (Art. 896, § 9º, da CLT). 
Na fase de execução, ainda mais restrito, só sendo cabível em caso de ofensa direta e literal de 
norma da Constituição Federal (Art. 896, § 2º, da CLT). 
 
QUESTÃO PRÁTICA 
Diante do Acórdão infra (que tramita pelo rito ordinário), tendo sido contratado pela 
Autora/Recorrente, maneje o meio cabível para a defesa dos interesses de seu cliente, 
considerando o preparo recursal necessário. Leve em consideração também que o recurso será 
manejado de forma tempestiva e que está prequestionada a matéria. 
 
 
 
 
PROCESSO nº 0002867-94.2019.5.12.0023 (ROT) 
RECORRENTE: MARIA RENDEIRA 
RECORRIDO: RENDAMAR ARTEFATOS PARA FOLCLÓRE LTDA 
RELATOR: NARBAL ANTÔNIO DE MENDONÇA FILETI 
 
 
EMENTA 
ESTABILIDADE DE GESTANTE. ESTADO GRAVÍDICO. 
RENÚNCIA TÁCITA. DEMORA NO INGRESSO DA AÇÃO. 
POSSIBILIDADE 
O transcurso do tempo desde a data da dispensa até a do ajuizamento da ação 
configura renúncia tácita da trabalhadora, inerte que permaneceu no citado 
interregno. 
 
R E L A T Ó R I O 
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de 
RECURSO ORDINÁRIO, provenientes da Vara do Trabalho de Araranguá, SC, 
sendo recorrente(s) MARIA RENDEIRA e recorrida RENDAMAR ARTEFATOS 
PARA FOLCLORE LTDA. 
Não resignadas com o teor da sentença das fls. 259-
265, complementada pela decisão em embargos de declaração das fls. 316-318, 
que julgou improcedente o pedido, a parte interpõe recurso ordinário. 
A autora, nas razões de fls. 333-350, pretende a 
reformulação do Julgado no que tange ao reconhecimento à indenização 
estabilitária. Prequestiona. 
A ré ofertou contrarrazões nas fls. 352-356. 
.O Ministério Público do Trabalho não intervém no 
feito. 
 
 
 
 
V O T O 
Conheço do recurso e das contrarrazões, por 
satisfeitos os pressupostos legais de admissibilidade. 
QUESTÃO DE ORDEM 
DIREITO INTERTEMPORAL. APLICAÇÃO DA LEI 
NO TEMPO. ENTRADA EM VIGOR DA LEI Nº 13.467/17 E MEDIDA 
PROVISÓRIA Nº 808/17. COGNOMINADA "REFORMA TRABALHISTA" 
(a) A Lei nº 13.467/17, de 13-07-2017, denominada 
"Reforma Trabalhista", trouxe significativas alterações na CLT, "[...] a fim de 
adequar a legislação às novas relações de trabalho". 
Ante a entrada em vigor da referida lei, em 11-11-
2017, impende analisar o aspecto intertemporal de sua aplicação, sob a ótica do 
direito material e do direito processual do trabalho. 
(b) Quanto à aplicação intertemporal do direito 
material, sabe-se que a publicação de nova norma jurídica revoga a anterior, não 
sendo possível, todavia, a sua aplicação retroativa, em detrimento do direito 
adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada (art. 5º, inc. XXXVI, da CF). 
Portanto, é evidente que não é possível a aplicação 
da nova legislação trabalhista para atos praticados antes da sua entrada em 
vigor. 
Todavia, também não há olvidar o que dispôs o art. 
2º da Medida Provisória nº 808, de 14-11-2017, que alterou a Consolidação das 
Leis do Trabalho, no sentido de que "[o] disposto na Lei nº 13.467, de 13 de julho 
 
 
de 2017, se aplica, na integralidade, aos contratos de trabalho vigentes". Esta 
Medida Provisória perdeu eficácia em 23-04-2018. 
Ante o referido normativo, não se pode negar a 
aplicação da "lei nova" aos contratos que, embora iniciados em período anterior 
à sua vigência, continuam sendo diferidos. Nesse caso, na hipótese de eventual 
direito subtraído pela Lei nº 13.467/17, e caso não assegurado por fonte 
autônoma (contrato, acordo ou convenção coletivas, por exemplo, que têm 
vigência estipulada), o empregado terá jus a ele até o período de competência 
anterior à vigência da referida lei, mas não mais a partir daí. Preservam-se as 
parcelas antigas, submetendo as subsequentes à "lei nova". O mesmo ocorrerá 
com os direitos que foram ampliados. 
Assim sendo, a lei nova terá eficácia imediata, tal 
como pretendeu o legislador. 
Em resumo, os contratos que continuarem vigentes 
após a entrada em vigor da Lei nº 13.467/17 deverão ser analisados sob a égide 
dos dois acervos de regência, observada a aplicação da lei no tempo de acordo 
com o período de competência. 
(c) Quanto à aplicação intertemporal do direito 
processual do trabalho, importante ressaltar que conforme estabelece o art. 14 
do CPC, aplicado de forma subsidiária ao processo do trabalho, a norma 
processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em 
curso, respeitados os atos processuais e as situações jurídicas consolidadas sob 
a vigência da norma revogada. 
O ordenamento jurídico pátrio adota a teoria do 
isolamento dos atos processuais, motivo por que, em regra, a nova norma 
jurídica rege todos os atos processuais praticados após a sua vigência. 
 
 
Todavia, há atos processuais que merecem ser 
analisados com a devida cautela, sob pena de violação aos princípios da 
segurança jurídica e do devido processo legal, além de afronta ao disposto no 
art. 10 do CPC (vedação da "decisão-surpresa"): as partes, quando do 
ajuizamento da ação, tinham conhecimento de consequências jurídicas distintas 
da apresentada pela novel legislação. 
No caso, quanto aos institutos que possuem 
natureza híbrida ou bifronte (processual e material), como a justiça gratuita (art. 
790, §§ 3º e 4º da CLT), custas processuais, honorários periciais (art. 790-B, da 
CLT) e sucumbenciais (art. 791-A da CLT), os ditames estabelecidos pela nova 
lei não devem ser aplicados aos processos em curso, quando da entrada em 
vigor da Lei nº 13.467/17. Sobre a matéria, ver: FILETI, Narbal Antônio de 
Mendonça; MORAES, Reinaldo Branco de. Direito intertemporal processual. In: 
Reforma trabalhista comentada por Juízes do Trabalho: artigo por artigo. Org. 
Daniel Lisbôa, José Lucio Munhoz. 2 ed. São Paulo: LTr, 2018. p. 561-582. 
Por fim, quanto às normas jurídicas 
regulamentadoras dos recursos, também há observar o direito intertemporal, de 
sorte que a data de publicação da sentença deverá ser o marco temporal para 
aplicação da lei no tempo. 
Dessa forma, às sentenças publicadas antes da 
vigência da Lei nº 13.467/17, o prazo recursal será contado em dias corridos, 
enquanto às sentenças publicadas após a vigência da referida lei, o prazo será 
contado em dias úteis, nos termos da nova redação do art. 775. 
(d) Registro que no julgamento do presente feito 
será considerada a aplicação da lei no tempo, conforme os esclarecimentos 
deste tópico. 
 
 
 
M É R I T O 
1. ESTABILIDADE DA GESTANTE 
O Juiz de origem não reconheceu o direito à 
estabilidade provisória da gestante, por entender que não foi "oportunizado ao 
empregadora possibilidade de reintegrar a trabalhadora, uma vez que a 
postulação somente ocorreu tempo após encerrado o período de garantia. 
A autora requer a reforma da sentença, 
argumentando que a demora no ajuizamento da ação não inviabiliza o direito, 
tampouco constitui abuso, pois observado o prazo prescricional. Aduz que a 
reclamada tinha ciência da gravidez da autora desde a admissão, optando por 
dispensa-la. 
Analiso. 
No presente caso a autora foi dispensada em 
19.12.2018, já ciente da gravidez, o nascimento do filho ocorreu em 02.03.2019, 
e só ajuizou a ação em 15.08.2019, oito meses após a ruptura contratual. 
O fato de a autora não ter comunicado a gravidez na 
vigência do contrato de trabalho em nada influencia no deslinde da controvérsia, 
entendimento que há muito prevalece na jurisprudência e que está 
consubstanciado na Súmula nº 244 do TST: a confirmação da gravidez é 
objetiva, não sendo necessário nem mesmo que a obreira saiba que estava 
gestante no momento da dispensa. 
Nessa mesma senda é o entendimento da Súmula 
nº 59 do TRT/SC, em seu item I, que assim prevê: "[p]ara fazer jus à garantia de 
emprego (art. 10, II, "b", do ADCT), basta que a empregada comprove que a 
 
 
concepção ocorreu durante a vigência do pacto laboral, sendo certo que o 
desconhecimento do fato por ela ou pelo empregador não afasta o seu direito". 
Com base nos fatos acima retratados, de que a 
autora, mesmo sabendo de sua condição de grávida no momento da rescisão 
contratual, ajuizou a ação trabalhista passados cinco meses do nascimento, sem 
qualquer pedido de concessão de liminar de reintegração no emprego, ficou 
comprovado que ela renunciou, voluntária e conscientemente, à garantia 
provisória de emprego. 
Destaco que a garantia de emprego que protege a 
empregada grávida, prevista no art. 10 inc. II, al. "b" do ADCT da CF, não 
assegura o recebimento de salários sem trabalhar, mas, sim, a manutenção do 
emprego o que, por corolário, repercute na segurança do nascituro. 
Portanto, somente é admissível a sua conversão em 
pecúnia quando caracterizada a impossibilidade de retorno ao trabalho, por 
expressa negativa de readmissão pelo empregador. 
Nesse passo, constitui um inequívoco abuso de 
direito o fato de a autora, ciente de sua condição de grávida, não dar a chance à 
ex-empregadora de readmiti-la, situação que seria muito mais favorável ao 
nascituro. Mas não o fez; preferiu deixar escoar o prazo para só depois postular 
em Juízo, demonstrando com isso o puro interesse material, olvidando, inclusive, 
o bem-estar da criança. 
Diante disso, tenho me manifestado que, nesses 
casos específicos, a empregada não tem jus à indenização correspondente ao 
período de garantia provisória no emprego. 
 
 
Assim, preconizo que o transcurso do tempo desde 
a data da dispensa até a do ajuizamento da ação (15-8-2019) configura renúncia 
tácita da trabalhadora, inerte que permaneceu no citado interregno. 
Assim lecionava Valentin Carrion (in Comentários à 
CLT. 37. ed. São Paulo: Saraiva, p. 310), tratando da hipótese de empregada 
gestante e sobre os arts. 392 e 393 da CLT: 
A necessidade de provar que o empregador tinha conhecimento do estado gravídico e por isso 
praticara ato para impedir a consumação do direito da mulher já havia sido superada pela 
jurisprudência: a) ou porque se considerou a gravidez simples fato do que decorrem os direitos 
correspondentes, presumindo-se o conhecimento do empregador; b) ou evidenciando-se a boa-
fé empresarial se a gestante fosse reintegrada logo após a citação para reclamação trabalhista 
em que se pleiteavam os respectivos salários. Indaga-se da intenção do texto constitucional ao 
introduzir uma expressão a mais no texto referente ao despedimento não arbitrário, 'desde a 
confirmação da gravidez'. Esse requisito não poderá ser interpretado como uma confirmação 
pessoal da gestante, uma convicção íntima, pelo simples exame do funcionamento de seu 
organismo apenas; haverá necessidade de um atestado médico ou laboratorial; inexistindo prova 
da entrega do atestado à empresa, a propositura da reclamação trabalhista com o resultado dos 
exames satisfaz o requisito constitucional, tanto para fins de reintegração não repelida pela 
empresa como das indenizações cabíveis. A sentença deve deferir os salários a partir do 
ajuizamento da ação; perde os salários anteriores quem os pleiteia tardiamente; a lei quer a 
manutenção do emprego com trabalho e salários, mas não pode proteger a malícia. 
Isso posto, observada a renúncia tácita da autora, 
as verbas decorrentes da garantia são devidas somente a partir da data do 
ajuizamento da ação. 
Assim, julgo indevida à autora a indenização 
substitutiva do período de garantia de emprego, pois a presente ação foi 
interposta quando já escoado integralmente o prazo de garantia de emprego. 
Nego provimento. 
2. INVERSÃO DA SUCUMBÊNCIA 
Mantida a sentença, nada a deferir no tópico. 
 
 
 
3.PREQUESTIONAMENTO 
Impende consignar que o Magistrado não está 
adstrito a responder todas as assertivas arguidas pelas partes, nem obrigado a 
se ater aos fundamentos apontados por elas, e nem rebater um a um estes 
fundamentos ou dissertar sobre entendimentos sumulados e artigos 
constitucionais e de lei, bastando expor os motivos nos quais firmou a sua 
convicção. 
Alerto à parte que o fato de este Órgão Julgador não 
ter acolhido os argumentos e alegações formulados não implica na existência de 
omissão, contradição ou obscuridade. A função jurisdicional do Magistrado 
prolator do acórdão consiste na entrega da decisão indicando a resolução dada 
ao litígio e os fundamentos fáticos e jurídicos que influíram na formação do seu 
convencimento. Desse modo, todas as teses e alegações que com eles não se 
coadunem restam evidentemente afastadas. 
Esclareço que embargos de declaração não têm a 
finalidade de restaurar a discussão da matéria decidida com o propósito de 
ajustar o "decisum" ao entendimento sustentado pela parte. A essência desse 
procedimento judicial é a correção de obscuridade, contradição ou omissão do 
julgado, não se prestando a uma nova análise do acerto da decisão. 
Deve a parte ater-se aos estreitos limites da via 
eleita, pois, embargos manifestamente protelatórios acarretarão a penalização 
prevista em lei (CPC/1973, art. 538, parágrafo único e CPC/2015, art. 1.026, §§ 
2º e 3º) inclusive para o respeito às normas legais, celeridade e razoável duração 
do processo (CF/1988, art. 5º LXXVIII). 
Saliento que não há justificativa para o 
prequestionamento à luz da Súmula nº 297 e da Orientação Jurisprudencial nº 
118 da SDI1, ambas do Eg.TST. 
 
 
Por fim, no intuito de evitar possíveis embargos de 
declaração com intuito protelatório, declaro prequestionada toda a matéria 
ventilada, inclusive teses, argumentos, dispositivos constitucionais e legais, bem 
como entendimentos decorrentes de súmulas e orientações jurisprudenciais 
citados no recurso do recorrente. 
Nada a prover. 
 
Nesses termos, 
ACORDAM os membros da 4ª Câmara do Tribunal 
Regional do Trabalho da 12ª Região, por unanimidade, CONHECER DO 
RECURSO. No mérito, por igual votação, NEGAR-LHE PROVIMENTO. Custas 
conforme arbitradas na sentença. Intimem-se. 
Participaram do julgamento realizado na sessão do 
dia 05 de fevereiro de 2020, sob a Presidência do Desembargador do Trabalho 
Marcos Vinicio Zanchetta, o Desembargador do Trabalho Garibaldi Tadeu 
Pereira Ferreira e o Juiz do Trabalho Convocado Narbal Antônio de Mendonça 
Fileti. Presente o Procurador Regional do Trabalho Alexandre Medeiros da 
Fontoura Freitas. 
 
NARBAL ANTÔNIO DE MENDONÇA FILETI 
 Relator

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