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1 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Fernanda Fischer de Araújo¹ Giovana Oliveira¹ Sabrina Oliveira Schumacher¹ Alice Brum Martins Mathias² RESUMO Nunca se falou tanto sobre qualidade de vida no trabalho e, provavelmente, o assunto será cada vez mais discutido no futuro. A verdade é que as empresas precisam reorganizar frequentemente seus ambientes de trabalho para que, ao investir na qualidade de vida dos colaboradores, consiga melhores resultados para as empresas. Ao longo desta pesquisa será abordada a origem e mudanças da qualidade de vida no trabalho, conceito geral e seu uso como estratégia empresarial, além dos indicadores de satisfação dos funcionários, baseando-se em estudos já existentes e com os resultados de uma pesquisa prática realizada através de questionário. Com esta pesquisa quantitativa concluiu-se que o investimento em QVT é de extrema importância, pois é com a boa gestão de pessoas que a liderança motiva os funcionários e obtém melhores retornos para as organizações, como aumento de produção entre outras vantagens competitivas. Palavras-chave: Qualidade de vida no trabalho, estratégia empresarial, gestão de pessoas. 1. INTRODUÇÃO As mudanças da sociedade e o crescente desenvolvimento da tecnologia por todo o mundo levaram as empresas a reavaliar seus sistemas e trabalhar melhor a questão da qualidade de vida de seus colaboradores. Para que as organizações se tornem relevantes atualmente é necessário que invistam nesta área não só por conta das obrigações legais, mas também para atrair e motivar seus funcionários que buscam mais do que apenas um pagamento no final do mês. A melhoria das condições de trabalho é capaz de tornar os funcionários mais satisfeitos, melhorando então o seu desempenho e sua produtividade (RODRIGUES, 1994). Mesmo assim, ainda hoje muitas organizações deixam de lado esta constatação, seja por inexperiência ou por falta de conhecimento e adotam os modelos tradicionais e conservadores de trabalho, como explicam Limongi e Assis (1995, p.26), [...] filosoficamente, todo mundo acha importante à implantação de programas de Qualidade de Vida no Trabalho, mas na prática prevalece o imediatismo e os investimentos de médio e longo prazo são esquecidos. A maioria dos programas de QVT tem origem nas atividades de segurança e saúde no trabalho e muitos nem sequer se associam a programas de qualidade total ou de melhoria do clima organizacional. QVT só faz sentido quando deixa de ser restrita a programas internos de saúde ou lazer e passa a ser discutida num sentido mais amplo, incluindo qualidade das relações de trabalho e suas conseqüências na saúde das pessoas e da organização. Mas afinal o que é a qualidade de vida no trabalho na prática, para funcionários e empresas? O objetivo dessa pesquisa é entender a relação do tema com o setor de Recursos Humanos, descobrir como usar essa ferramenta para gerir pessoas, liderando e motivando os colaboradores a aumentar seu rendimento, identificar problemas e soluções a respeito, responder a 2 essas entre outras perguntas a cerca do assunto, através da revisão de estudos já realizados e por meio de abordagem quantitativa entrevistando trabalhadores de diversas áreas. Quanto à relevância desta pesquisa, se justifica em termos teóricos, ao contribuir para o entendimento a cerca das questões e das adversidades da qualidade de vida nas corporações, tendo sido observado durante a busca pelo tema específico que, embora seja um termo muito empregado atualmente, restavam dúvidas quanto sua abordagem prática e seu emprego de modo estratégico. Assim, o artigo oferece informação a respeito do problema encontrado inicialmente, respondendo-o e agregando novos conhecimentos ao leitor. A seguir, encontra-se uma revisão literária mostrando o surgimento, evolução e conceito a respeito do termo qualidade de vida no trabalho. Após, vemos como é abordada a qualidade de vida no trabalho como forma de planejamento estratégico nas empresas, seguido dos indicadores usados para medi-la. No próximo tópico encontram-se as características classificatórias e as ferramentas usadas para elaborar esta pesquisa. Posteriormente os resultados e discussões a cerca do tema com a análise dos dados e as principais conclusões do estudo, devidamente referenciados após. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 – SURGIMENTO E EVOLUÇÃO Segundo Fernandes (1996), o termo Qualidade de Vida no Trabalho foi criado por Eric Trist na década de 1950 para designar experiências calcadas na relação indivíduo-trabalho- organização, com base na análise e reestruturação da tarefa, com o objetivo de tornar a vida dos trabalhadores menos penosa. Também nesta década, membros da OMS (Organização Mundial da Saúde) e OIT (Organização Internacional do Trabalho) uniram-se para estabelecer normas para preservar a saúde dos trabalhadores no ambiente corporativo, assim surgiu a filosofia de que o trabalho deve se adaptar ao homem, assim como o homem ao trabalho, buscando minimizar o que possa ser prejudicial as pessoas e gerar o desenvolvimento mútuo. Durante a década de 60, elaborou-se a Escola Comportamental por meio de Abraham H. Maslow e Frederich Herzberg agregando força no movimento da qualidade de vida no trabalho, enfatizando a inevitabilidade de encontrar melhores formas de organizar o trabalho. Foi também nesse contexto que surgiu a hierarquia das necessidades de Maslow, como podemos ver na Figura 1, a seguir: FIGURA 1 – PIRÂMIDE DE MASLOW FONTE: Disponível em:< https://www.sbcoaching.com.br/blog/piramide-de-maslow/ > Acesso em: 26, mar 2020 3 O conceito mostra o que é preciso e o que busca o ser humano ao longo da vida, desde as necessidades básicas para a sobrevivência (base da pirâmide) até as mais complexas que levam a autorrealização pessoal (topo). Os conceitos e pesquisas sobre qualidade de vida no trabalho estão diretamente associados a saúde, lazer e nutrição, assim como fatores de responsabilidade social e relações do trabalho. Embora na década de 70 tenha ocorrido uma pausa no foco a QVT devido a questões políticas, na próxima década a questão voltou a ter atenção, justamente pela crise vivida. Temendo o crescimento exponencial do mercado Oriental, empresas do Ocidente passaram a ter interesse pelo modo de gerência dos concorrentes japoneses, adotando técnicas como o Círculo de Controle de Qualidade, estabelecida por Ishikawa, aonde o controle da qualidade é feito pelos próprios trabalhadores. Surge então o Gerenciamento da Qualidade Total (TQM) que Campos (1992) conceitua como “sistema administrativo que inicia-se pela análise das necessidades dos clientes e estipula padrões para a satisfação dessas necessidades, junto a uma abordagem humanista, entendendo por cliente todos aqueles que estão relacionados a existência da empresa: funcionário, acionistas, usuário e sociedade.” No Brasil foi criada e sancionada a Justiça do Trabalho ainda no período do Estado Novo, em 1941, pelo presidente Getúlio Vargas que, dois anos depois, sancionou também a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), criada pelo Decreto-Lei nº 5.452, dia 1º de maio. A CLT uniu toda a legislação trabalhista existente no país e inseriu os direitos trabalhistas na legislação brasileira com o intuito de regularizar as relações individuais e coletivas do trabalho. A qualidade de vida no trabalho está diretamente relacionada a um conjunto de ações que a empresa adota para melhorar o grau de satisfação de um colaborador com a sua função e com o ambiente de trabalho, visando os impactos que este bem estar pode trazer aos resultados positivos da organização. Qualidade de vida no trabalho é comumente denominado em ambientes corporativos, por profissionais de recursos humanos ou de gestão de pessoas. Surgiu em meados dos anos 60, no entanto foi na década de 70 que ganhou força, e não demorou muitopara que esta teoria repercutisse entre pesquisadores, sindicalistas e empresários interessados nos resultados sobre a influência que a qualidade de vida no trabalho reflete na produtividade e no rendimento. Neste contexto as organizações deixaram de lado a crença de que apenas, os bens materiais e tecnológicos influenciavam no crescimento econômico para valorizar um bem mais complexo, o capital humano. Assim, a qualidade de vida no trabalho pode ser analisada pela relação entre o que a organização e seus colaboradores fazem para que possa haver bem estar e satisfação no ambiente de trabalho para as duas partes, sendo que, para as empresas a QVT está associada às práticas adotadas que visam potencializar os resultados positivos do capital humano para as empresas, como produtividade, inovação e qualidade, e para os colaboradores essa mesma área traz questões sociais e se reflete no ambiente de trabalho diariamente. Embora os pontos de vista estejam paralelos, os benefícios atendem a ambos, pois o bem estar e a satisfação transcendem para que todos os âmbitos da vida dos colaboradores que tornam-se mais motivados para produzirem e fazerem sua parte na empresa. 2.2 – CONCEITO Para Fernandes (1996, p. 45-46), a QVT é vista como “a gestão dinâmica e contingencial de fatores físicos, tecnológicos e sócio-psicológicos que afetam a cultura e renovam o clima organizacional, refletindo-se no bem-estar do trabalhador e na produtividade das empresas”. Já os 4 pesquisadores Nadler e Lawler (1983) compreendem a Qualidade de Vida no Trabalho como “a maneira de pensar a respeito das pessoas, do trabalho e da organização”. Segundo a Organização Mundial da Saúde, qualidade de vida pode ser definida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (THE WHOQOL GROUP, 1998). Qualidade de vida no trabalho significa uma política organizacional que preza pelo bem-estar do funcionário, tratando pessoas como o recurso mais valioso da empresa, proporcionando infraestrutura, benefícios e o que for possível para criar um ambiente agradável e justo para os trabalhadores, agregando valor na relação empregado-empregador e, consequentemente, aumento na produtividade. Segundo Dias (2017), graduada em Gestão de Recursos Humanos: A QVT é um conceito amplo, cujo objetivo é encontrar o ponto de equilíbrio entre o bem- estar do trabalhador e a eficácia da empresa. A qualidade de vida no trabalho é um dos indicadores da saúde organizacional. Melhorias na qualidade de vida do trabalho nas empresas passam por ajustes em termos de infraestrutura, higiene e segurança do ambiente, assim como dos aspectos psicológicos e sociais. França (1991 apud BERTOLDI, 2013, p. 54) entende que “qualidade de vida no trabalho é um conjunto de ações de uma empresa que envolve a implantação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho”. Maximiano (2002, p. 272 apud BERTOLDI, 2013, p. 55) afirma que qualidade de vida no trabalho “envolve desde a segurança no ambiente físico até o controle de esforço físico e mental requerido para cada atividade, bem como a forma de gerenciar situações de crise, que comprometam a capacidade de manter salários e empregos”. Arellano (2003, p. 34 apud BERTOLDI, 2013, p. 55) diz: Qualidade de vida no trabalho, tem como objetivo principal a busca do equilíbrio psíquico, físico e social dos empregados, dentro do contexto organizacional, considerando as pessoas como seres integrados nessas três dimensões, através de ações que refletem em um aumento na produtividade e na melhoria da imagem da empresa tanto no contexto como externamente, levando a um crescimento pessoal e organizacional. De fato, a QVT, ocorre no momento em que as empresas tomam consciência que os colaboradores são parte fundamental da organização. Vendo assim, as pessoas como um todo. Ao implantar o programa de qualidade de vida no trabalho a empresa ganha muito, pois os empregados se sentem motivados a crescer junto com a organização. Existem alguns fatores capazes de medir o nível de qualidade de vida do funcionário no trabalho como estrutura da empresa e condições de higiene, satisfação com o cargo e motivação para exercê-lo, remuneração justa e benefícios entre diversos outros fatores. França (2002 apud BERTOLDI, 2013, p. 55) avaliou que existe qualidade de vida no trabalho quando: Há condições seguras e salutares; Há oportunidade para desenvolver a capacidade humana; Há estímulo para crescimento e desenvolvimento humano; Existe cidadania nas relações de trabalho; Integração social na organização do trabalho; 5 Compensação justa e adequada; Relevância social na vida do trabalho; Significado social da atividade do empregado. Ao tratar o tema em nosso país é preciso questionar quais as condições dos trabalhadores atualmente. O panorama atual apresenta uma grande diversidade. Há exemplos de organizações em que o trabalho se estrutura de forma humanizada onde o trabalhador é respeitado e valorizado, mas existem também notícias de que os trabalhadores ainda são tratados como escravos ou em condições muito semelhantes a essas. Sobre a preocupação das empresas com os funcionários podemos ver dois ângulos. De um lado o acirramento da concorrência entre as empresas traz a necessidade de investir em tecnologias e automação industrial para ganhar destaque e aperfeiçoar processos, por outro lado, as pessoas é o que está em no foco da produção de produtos e serviços e não é vista mais simplesmente como mão de obra, ou seja, máquinas podem ser facilmente compradas e modificadas, mas as pessoas devem ser a prioridade, tanto como clientes como funcionários. A mudança de postura das empresas não acontece apenas pelo desejo de humanização e marketing social, órgãos governamentais e organizações sociais tem grande parte do mérito. Foi através de pesquisas, campanhas, projetos e leis que as empresas passaram a valorizar mais as pessoas. 2.3 – QVT COMO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO À medida que a população se expande e cresce, aumentam também as necessidades das pessoas, desde requisitos básicos para sobrevivência como alimentos e habitação, a questões globais como tratamento de novas doenças, desenvolvimento econômico e questões ambientais, entre diversos outros fatores que levam a crescente desigualdade social. E como enfrentar tudo isso? Com a invenção mais criativa da humanidade: as organizações. Uma organização bem estruturada trabalha junto com as pessoas, tratando seus funcionários como colaboradores de alto valor, inserindo o bem estar dos empregados no planejamento estratégico da empresa. O desafio da área de RH é alinhar a gestão de pessoas ao plano estratégico de negócio, disse Roberto Shinyashiki, conferencista, em entrevista a revista Melhor, no ano de 2005, assim como afirmam Vidal e Lidorio (2011) em seu artigo: Um modelo de gestão de pessoas bem definido e estruturado auxilia os executivos em um dos seus maiores desafios, que é: manter funcionários trabalhando como verdadeira equipe, com objetivos definidos, cada qual conhecendo e desempenhando seu papel, interagindo com todos os processos da organização, para atingir objetivos previstos pelo plano estratégico, a fim de que a organização passe a pertencer ao grupo de organizações do futuro. Segundo Andrade (2002 apud SANDRO, 2009) “os objetivos estratégicos devem expressar as metas que propõe a alcançar a empresa em um nível global e em longo prazo.” Nesta etapa do planejamento o objetivo deverá ser dividido nas seguintes áreas: produto, mercado e imagem (definir produtos que serão oferecidos e manutenção da imagem junto aos clientes); qualidade para o cliente (definir as necessidade dos clientes e oferecer produtos para satisfazê-los);organização, tecnologia e processos (organizar o processo de produção desde a compra da matéria prima até o cuidado com a pós-vendas); patrimônio humano (estudar as habilidade dos recursos humanos da empresa e manter os funcionários motivados); economia e finanças (realizar o planejamento estratégico dentro das condições financeiras da empresa, não extrapolando seu orçamento). 6 Mathias (2018) explica que ter claro a missão, a visão e os valores da organização, seguido da análise dos ambientes externo e interno, para dar seguimento no processo de planejamento estratégico das empresas, e é através dessas etapas que as informações serão obtidas e nortearão os objetivos. A análise capta e mantém atualizado o conhecimento da empresa em relação aos seus ambientes, identificando e monitorando a si própria. Para que uma empresa obtenha sucesso e alcance seus objetivos, um fator torna-se indispensável: a elaboração de uma estratégia organizacional. A vantagem de se elaborar um planejamento estratégico em RH é que através dessa ação a empresa poderá garantir o alinhamento das ações voltadas para a gestão de talentos com a estratégia e o negócio da organização, consequentemente, com o alcance dos resultados. A seguir seguem algumas ações indicadas para melhoria e elaboração do plano estratégico: Valorização: reconhecer, motivar e incentivar aqueles que se destacam de forma eficiente dentro da empresa. Reestruturação: propiciar um ambiente mais acolhedor e satisfatório aos funcionários. Se o colaborador se sentir bem no ambiente em que está inserido certamente se sentirá motivado a fazer suas funções e a empresa irá obter melhores resultados. Participação ativa: participação do colaborador em decisões que afetam o desempenho de suas atividades. Acompanhamento médico periódico: a fim de garantir o bem estar do colaborador e prevenir doenças, amenizando as faltas dos mesmos. O Planejamento Estratégico é uma ferramenta que auxilia no processo gerencial. Os desafios e ameaças que as empresas se deparam, também são oportunidades para desenvolver soluções e abrir novos mercados para seus produtos. O futuro de uma empresa depende do que está sendo executado agora. Portanto o planejamento lançará a base para a construção de futuro promissor e principalmente a empresa estará preparada para os percalços encontrados no caminho para o sucesso. O mais importante é que toda a equipe da empresa esteja empenhada em conseguir um excelente resultado. Empregados, superiores e a média gerência devem estar familiarizados com a administração estratégica tornando as atividades mais eficazes. 2.4 - COMO INVESTIR EM QVT NA SUA EMPRESA Investir na qualidade de vida de seus funcionários significa promover o bem-estar e melhoria na saúde física, psíquica, social e profissional. Atualmente, existe investimento neste sentido por parte das empresas, mas ainda não foi atingido o nível ideal. A maioria das ações ainda parte das grandes multinacionais e das áreas de Recursos Humanos mais estruturadas, mas o cenário vem mudando. Pequenas e médias corporações vêm absorvendo o conceito de saúde corporativa e perceberam que hoje, para manter pessoas felizes com o trabalho, devem oferecer algo a mais que o retorno financeiro. Medidas pequenas, mas que surtem efeito, como salas de descanso, cursos e palestras com temas pertinentes à qualidade de vida, entre outros benefícios, estão cada vez mais presentes nas organizações. O profissional se tornou mais exigente na hora de escolher um bom lugar para trabalhar e empreender sua carreira, acaba então a história do funcionário que vende a sua saúde simplesmente por salário. O desgaste físico e mental faz com que a motivação e a produtividade caiam no rendimento, por isso a empresa precisa despertar o interesse e preocupação de seus líderes para este objetivo, mas muitos profissionais de diretoria e gerência ainda não possuem esta visão, 7 focando seus esforços apenas em metas e resultados. O Recursos Humanos tem uma função muito importante dentro deste conceito de qualidade de vida. É por meio de ações focadas em cada perfil de colaborador ou equipe, que o RH irá conseguir atingir a satisfação e felicidade de cada indivíduo – dentro de cada empresa existem diversas culturas e cabe ao RH identificá-las e oferecer benefícios e atividades para cada uma delas, explica Rufo (2012), Consultor de Qualidade de Vida, Saúde Empresarial e palestrante, em artigo para Catho Comunicação. Organizações que não possuem a mentalidade da qualidade de vida perdem muito e os resultados negativos ficam evidentes. Estas perdem a oportunidade de estimular os seus colaboradores a serem resilientes, mais produtivos e melhores na gestão individual da saúde. A rotatividade de pessoas também cresce, aumentando todos os encargos da corporação. Ainda segundo Rufo (2012) “a empresa só alcança o sucesso com a satisfação de seus colaboradores. Proporcionar qualidade de vida e um ambiente saudável para trabalhar devem ser objetivos prioritários das companhias”. O investimento na qualidade de vida dos funcionários é o caminho para o sucesso organizacional. Afinal, isso irá aumentar a produtividade na empresa, reduzir o estresse no trabalho, manter a motivação, reduzir o absenteísmo, prevenir doenças e afastamentos, além de ser um diferencial para atração e retenção de talentos. 2.5 – INDICADOR DA QUALIDADE DE VIDA O TRABALHO De fato, fatores como o desempenho e a satisfação com o trabalho influenciam tanto a qualidade de vida pessoal quanto no próprio trabalho, sendo assim, criar meios para medir o quão adequado está o ambiente de trabalho tem ganhado cada vez mais importância. Atualmente há diversos meios de chegar aos indicadores, desde pelo primeiro e mais completo Modelo de Walton; pelo Modelo de Westley que embora amplo, aborda um problema de cada área por vez; pelo Modelo de Hackman e Oldham que abrange as dimensões essenciais do trabalho e a significância da tarefa; pelo modelo de Nadler e Lawler que reúnem aspectos psicológico, ambiental, organizacional e econômico; e também pelo modelo desenvolvido pela OMS, QWQL-78 (Quality of Working Life Questionnaire) considerado o mais usado atualmente. 2.5.1 – QWQL-78 O QWQL-78 foi elaborado a partir do WHOQOL-100, um questionário de mesma finalidade desenvolvido pela OMS com o objetivo de medir a qualidade de vida no trabalho, baseado nos modelos anteriores de Walton (1973), Westley (1979), Halckman e Oldham (1983) e Werther e Davis (1983). Por diversos autores tratarem questões semelhantes de forma parecida, reduziu-se o questionário a 78 questões. A partir daí foi criada uma lista de indicadores e então foram formuladas questões dispostas aleatoriamente, que respondessem a esses indicadores, estes representados no Quadro 1: QUADRO 1 – Domínios do QWQL-78 1. Físico/saúde (17 questões): aspectos relacionados à saúde, doenças relacionadas ao trabalho e costumes dos trabalhadores. 8 FONTE: A autora. 2. Psicológico (10 questões): aspectos relacionados à satisfação pessoal, motivação no trabalho e autoestima dos trabalhadores. 3. Pessoal (16 questões): aspectos relacionados à família, às crenças pessoais e religiosas, à cultura, e a forma que afetam o trabalho. 4. Profissional (35 questões): aspectos organizacionais que podem influenciar a vida dos trabalhadores. FONTE: REIS JÚNIOR, 2008, adaptado pelas autoras. Segundo Reis Júnior (2008) as respostas estão dispostas em uma escala do tipo Likert e podem variar da seguinte maneira: Nada, muito pouco, mais ou menos, bastante, extremamente; Muito baixa, baixa, média, alta, muito alta; Nunca, raramente, às vezes, frequentemente, sempre; Muito ruim, ruim, médio, bom, muito bom. Todas as respostas devem ser baseadas nas atividades de até duas semanas anteriores, para garantir padronização e que todos osentrevistados correspondam pelo mesmo período de tempo, além de ser estabelecido que, pelo menos, 80% das questões de cada área sejam respondidas para que haja confiabilidade na pesquisa. Quanto à análise dos resultados, ela é feita a partir da escala apresentada na figura 2: Assim trabalhadores com índice até 45 apontam nível muito insatisfatório ou satisfatório, pessoas com índice entre 45 e 55 apontam neutralidade, já pessoas com índice superior a 55 consideram-se satisfeitas ou muito satisfeitas com sua qualidade de vida no trabalho. Para a tabulação e os cálculos estatísticos dos dados do QWQL-78, foi construída uma sintaxe exclusiva para o instrumento no programa Excel for Windows, sendo este um software de fácil manuseio e mais acessível aos pesquisadores (REIS JÚNIOR, 2008). 2.5.2 – QWQL-bref FIGURA 2: Classificação de resultados para questionário QWQL-78 9 Para arquitetar a versão abreviada do modelo QWQL-78, no QWQL-bref, foi adotado o mesmo método para escolher as questões iniciando pela correlação dos temas com o score global da qualidade de vida no trabalho, calculado por meio da média entre os quatro aspectos abordados no questionário a partir de dados obtidos por Reis Júnior (2008) com a aplicação do QWQL-78, usando amostragem com 378 trabalhadores. Segundo Cheremeta et al. (2011) “para o QWQL-bref, foram selecionadas vinte questões das setenta e oito que constituem o QWQL-78. São quatro questões do domínio físico/saúde, três do domínio psicológico, quatro do domínio pessoal e nove do domínio profissional.”. Tais questões apresentam-se na mesma lógica do QWQL-78 como podemos ver no Quadro 2: QUADRO 2 - Questões que compõem o QWQL-bref DOMÍNIO QWQL- 78 QWQL- bref QUESTÃO F ÍS IC O 31 36 69 77 4 8 17 19 Em que medida você avalia o seu sono? Em que medida algum problema com o sono prejudica seu trabalho? Suas necessidades fisiológicas básicas são satisfeitas adequadamente? Em que medida você se sente confortável no ambiente de trabalho? P S IC O L Ó G I- C O 22 32 37 2 5 9 Em que medida você avalia sua motivação para trabalhar? Como você avalia sua liberdade de expressão no seu trabalho? Em que medida você avalia o orgulho pela sua profissão? P E S S O A L 33 38 45 66 6 10 11 15 Você se sente realizado com o trabalho que faz? Como você avalia a qualidade da sua relação com seus superiores e/ou subordinados? Em que medida sua família avalia seu trabalho? Em que medida você é respeitado pelos seus colegas e superiores? 10 P R O F IS S IO N A L 20 24 35 46 59 63 67 72 78 1 3 7 12 13 14 16 18 20 Como você avalia sua liberdade para criar coisas novas no trabalho? Como você avalia a igualdade de tratamento entre os funcionários? Em que medida você possui orgulho da organização na qual trabalha? Em que medida você está satisfeito com seu nível de participação nas decisões da empresa? Você está satisfeito com seu nível de responsabilidade no trabalho? Você se sente satisfeito com os treinamentos dados pela organização? Você se sente satisfeito com a variedade das tarefas que realiza? Como você valia o espírito de camaradagem no seu trabalho? O quanto você está satisfeito com a sua qualidade de vida no trabalho? FONTE: CHEREMETA et al., 2011, p. 12-13. As opções de resposta, dados para padronização e confiabilidade, bem como a forma para estabelecer o índice de satisfação do entrevistado, seguem as mesmas usadas com o QWQL-78, como explica Cheremeta et al., (2011) quando diz que “o QWQL-bref possibilita a obtenção de resultados fidedignos ao instrumento original, porém com menor demanda de tempo para aplicação e tabulação de dados.” Foi desenvolvida uma ferramenta para o cálculo dos dados no software Microsoft Excel for Windows, de forma que basta tabular os dados nos locais específicos e os cálculos serão realizados automaticamente (CHEREMETA et al., 2011). 3. METODOLOGIA Esta pesquisa busca esclarecer diversos tópicos a cerca da qualidade de vida, para isso, foi realizado amplo estudo em artigos de texto e imagem, e reportagens, além de pesquisa prática com o uso de questionário e diálogo com trabalhadores de diversas áreas, idades, gêneros, entre outras categorias. Por buscar analisar informações sem propor uma abordagem prática posterior sobre o assunto, a natureza desta pesquisa é básica, de abordagem quantitativa. Segundo o Dicionário de Significados (2019) “neste tipo de pesquisa, os meios de coleta de dados são estruturados através de questionários de múltipla escolha, entrevistas individuais e outros recursos que tenham perguntas claras e objetivas”. Sobre os procedimentos técnicos adotados foram utilizados fontes bibliográficas e documentais já existentes, e também houve o levantamento de dados através de questionário formulado pela autora com base em modelo estudado e outras questões pertinentes ao estudo, como pode ser observado a seguir. 11 Figura 3 - QUESTINÁRIO QVT FONTE: As autoras Figura 4 - QUESTINÁRIO QVT FONTE: As autoras 12 Figura 5 - QUESTINÁRIO QVT FONTE: As autoras Figura 6 - QUESTINÁRIO QVT FONTE: As autoras Sobre a estrutura do questionário usado, inicia-se com uma breve identificação da pesquisa que está sendo realizada, apresentando os responsáveis pela elaboração, data, como deve ser respondido e finalidade do uso dos dados, além de agradecer pela participação. Após, é coletado os 13 dados dos participantes que, por se tratar de um grupo de pessoas com características amplas e de diversas áreas de trabalho, chamamos de população. Ao se passar um período de duas semanas, atingiu-se um total de 53 respostas, sendo 64,2% delas de mulheres e 35,8% delas de homens, de 16 até 65 anos de idade. Sobre a escolaridade dos interrogados, foi perguntado em que grau encontrava-se, com opções desde fundamental incompleto até pós-graduado, e também se possui ou não formação complementar. Quanto ao ambiente de trabalho, foi questionado se estava ou não empregado no momento, sobre o porte da empresa e se a pessoa se considera um bom funcionário, levando em consideração sua experiência atual ou a mais recente, caso não empregado no período da pesquisa. Depois desta primeira etapa, encontra-se o questionário oficial QWQL elaborado pela OMS, sendo escolhido o uso de seu modelo simplificado para reduzir o tempo necessário para resposta. O modelo usado, QWQL-bref, é composto por 20 questões de diversos domínios retiradas do modelo completo, que conta com 78 questões, porém sem perder sua confiabilidade como consta na fundamentação teórica já apresentada. Todas as questões aqui abordadas são de múltipla escolha e possuem cinco possibilidades de respostas. Na terceira seção do questionário temos três perguntas adicionais, acrescidas para identificar as motivações dos funcionários e iniciativas pessoais e corporativas para melhorar a qualidade de vida, sendo a primeira questão de múltipla escolha e as demais dissertativas. Para concluir, novamente agradecimentos aos que participaram e um espaço para saber mais ou tirar alguma dúvida sobre a pesquisa, disponibilizando um contato para estas questões. Após, tela automática de confirmação de resposta, apontando o encerramento do formulário. Todo o processo para a realização desta pesquisa encontra-se representado na Figura 7 a seguir: Figura 7 - CRONOGRAMA PARA PESQUISA QVT FONTE: As autoras 14 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Depois de realizada a pesquisa foi constatado que, funcionários veem o crescimento na profissão como maior fator motivacional. Pode não parecer, mas o investimento em qualidade no espaço corporativo envolve custos mínimos se comparados à falta desse recurso. Equipes insatisfeitas tornam-se improdutivas,estão mais propensas a erros, atuam no limite do estresse e costumam envolver-se em conflitos. A qualidade de vida no trabalho pode ser aperfeiçoada, principalmente, com a mudança de hábitos dentro da empresa. Respeitar os profissionais nos aspectos físico e mental, por exemplo, é um bom começo para garantir boas condições de trabalho. Outras mudanças, como a melhoria da iluminação do ambiente de trabalho e otimização da comunicação interpessoal, também fazem toda a diferença. Para isso, é preciso algum investimento financeiro e, principalmente, comprometimento da liderança. Para obter destaque no mercado, as organizações precisam inovar. Como as ideias são abundantes, as tecnologias e estratégias podem ser facilmente copiadas, o real diferencial está nas pessoas, ou seja, nos colaboradores. É possível firmar que uma empresa que investe na qualidade de vida no trabalho e que beneficia toda a sua equipe é muito mais competitiva. Buscando isso, ela consegue contar com profissionais motivados, comprometidos e capazes de entregar ótimos resultados. Em suma, a Qualidade de Vida no Trabalho não é importante apenas para as empresas que buscam funcionários mais produtivos e motivados, como também para os próprios colaboradores, que buscam realizações e crescimento profissional. Os resultados positivos serão sentidos por ambos os lados. Como dizia Max Weber, o trabalho dignifica o homem. Portanto, uma harmonia entre pessoal e profissional será fundamental para que empregador e funcionário tenham um ambiente de trabalho muito mais saudável, seguro e com condições de crescimento a todos! 5. CONCLUSÃO Durante a pesquisa ficou claro que inicialmente a gestão de pessoas fora instituída como forma de controle pelas empresas, mas com o passar do tempo e a expansão de diversos mercados, assim como movimentos sociais em prol da valorização do trabalhador levou a uma mudança de perspectivas. Agora o foco das empresas são as pessoas, partindo da ideia de que as pessoas são as empresas, e sem dúvida, seu recurso mais valioso. Pode-se motivar o trabalhador, criando um ambiente de participação, de integração com superiores, com colegas de trabalho, partindo sempre da compreensão das necessidades dos empregados. A gerência ou o líder mais próximo tem a responsabilidade de criar um ambiente onde as pessoas possam se sentir bem e elas também precisam saber o que a administração espera que eles produzam e de que maneira. A gerência ou líder mais próximo precisa estar sempre demonstrando que as pessoas têm um papel importante na organização e que outras pessoas contam com elas. Somos conscientes de que o trabalho é vital para o ser humano, torná-lo mais participativo, utilizando potencialidades e talentos, dar-lhes condições de trabalho adequadas, resultará no aumento da saúde mental e física dos trabalhadores. A qualidade de vida no trabalho contribui para que os talentos estejam mais dispostos e motivados, além de aptos emocionalmente para entregar grandes resultados. Em outras palavras, cada colaborador poderá produzir mais e melhor. http://www.kenoby.com/blog/comunicacao-interna/ 15 QVT envolve todo um conjunto de ações que, quando implantadas, tornam o ambiente corporativo agradável e promove inovações e melhorias na empresa, que beneficiam, não só toda a equipe, mas também a empresa como um todo, visto que esta passa a alcançar cada vez mais resultados extraordinários no mercado em que atua. REFERÊNCIAS ANDRADE, Borges. Trabalho, organizações e cultura. São Paulo, 1996. BERTOLDI, Alexandra Danuza. Psicologia organizacional e do trabalho. Indaial: Uniasselvi, 2013. CAMPOS, Vicente F. Controle da qualidade total: no estilo japonês. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1992. CHEREMETA, M. et al. Construção da versão abreviada da QWQL-78: um instrumento de avaliação da qualidade de vida no trabalho. Revista brasileira da Qualidade de Vida, v. 3, n. 1, jan./jul. 2011. DIAS, Elisangela. O que é qualidade de vida no trabalho? 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UFRGS, Grupo de estudos em qualidade de vida. Qualidep - Projeto Whoqol-100. Rio Grande do Sul. Disponível em: < https://www.ufrgs.br/qualidep/qualidade-de-vida/projeto-whoqol-100/49- whoqol- 100#:~:text=Qualidade%20de%20vida%20foi%20definida,(WHOQOL%20GROUP%2C%201994) .>. Acesso em: 11 jun. 2020. ____; VIDAL, D. S.; LIDORIO, M. Logística. Indaial: Uniasselvi, 2011. https://www.significados.com.br/pesquisa-quantitativa/
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