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Aula No 10 O MERCOSUL e o Dipr

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O MERCOSUL e o Dipr
 Prof. Dr. Francisco Ercílio Moura 
Antecedentes históricos 
Durante um período de aproximadamente sessenta anos, os territórios que hoje compõem os Estados-partes do Mercado Comum do Sul (Mercosul), assim como os demais territórios sul-americanos, faziam parte de uma só nação. Tal fato ocorreu entre 1580 e 1640, quando os reinos de Portugal e Espanha constituíram a União Ibérica, sob o domínio do monarca espanhol. Seria forçoso, no entanto, identificar na ausência formal de fronteiras entre os domínios luso e espanhol na América do Sul uma forma embrionária de integração regional. Conforme esclarece o Embaixador Synesio Sampaio Goes, o fato de estarem ligados ao mesmo monarca não cerceou a independência das nações ibéricas, de modo que, mesmo nesse período, as colônias americanas teriam permanecido tão separadas quanto o eram antes.
Antecedentes 
Pode-se afirmar que o primeiro ímpeto integracionista na região adveio do tumultuado processo de independência das ex-colônias espanholas. Principalmente Simón Bolívar (1783-1830) e José de San Martin (1775-1850) trabalham no que vai redundar no primeiro tratado de união latino-americana, qual seja, o Tratado de União, Liga e Confederação Perpétua entre as Repúblicas da Colômbia, Centro América, Peru e Estados Unidos Mexicanos, e na organização da Grã-Colômbia, unindo Colômbia (da qual fazia parte o atual Panamá), Venezuela, Bolívia, Equador e Peru. Bolívar foi escolhido presidente dessa federação, renunciando, contudo, ao poder diante do insucesso da mesma.
Antecedentes 
A fragmentação do antigo domínio colonial espanhol acabou por gerar diversas nações independentes, com sua própria dinâmica político-econômica. A antiga e possível integração desses territórios se esfuma, enterrada em antagonismos cada vez mais acentuados. Dos antigos laços comuns, permaneceu a desconfiança frente ao Império brasileiro, visto como expansionista. Ao longo do século XIX, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai estiveram envolvidos em conflitos bélicos entre si. Cabe recordar que a constituição do Uruguai como país independente, oficialmente reconhecida em 1828, decorreu de sua separação do território brasileiro, após uma guerra na qual contou com o apoio da Argentina. De modo geral, ao longo do século XIX as relações entre os dois maiores países sul-americanos, Brasil e Argentina, foram marcadas por movimentos de aproximação e distanciamento, estes provocados por ressentimentos e desconfianças. Verifica-se, então, que o rio Uruguai não é a única barreira que separa o Brasil da Argentina, uma vez que a história registra várias disputas, muitas delas veladas, que sempre afastaram um país de outro.
A alalc e aladi
Na segunda metade do século passado, começaram a surgir diversas formas de união comunitária, destacando-se a ALALC e a ALADI. Criada em 1960, pelo Tratado de Montevidéu, a Associação Latino Americana de Livre Comércio (ALALC) visou implantar um mercado comum regional a partir da conformação de uma zona de livre comércio, integrando Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Chile, México e Peru. Essa foi a primeira tentativa de criação de uma zona de livre comércio na América Latina. Devido, entre outros fatores, à falta de complementaridade entre as economias da região, seu funcionamento se mostrou insatisfatório, insuficiente, desequilibrado e dinamicamente decrescente, não conseguindo alcançar os objetivos estipulados no Tratado. As duas crises do petróleo, na década de setenta, com efeitos no mundo inteiro, colocaram em xeque o desenvolvimento econômico dos países latino-americanos, acrescendo-se a isso o ultranacionalismo dos regimes ditatoriais que proliferaram em diversos países da região nesse período.
Alalc e Aladi I
Visando reestruturar a ALALC, os Estados-partes criaram, mediante o Tratado de Montevidéu, em 1980, a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI). O novo Tratado manteve o objetivo de estabelecer, a longo prazo, um mercado comum latino-americano. No entanto, reconhecendo a profunda heterogeneidade da região, introduziu profundas mudanças na orientação do processo, bem como na concepção de sua operação. Nesse sentido, o ambicioso programa de liberalização comercial da ALALC foi substituído por um sistema mais pragmático e flexível de preferência tarifária, que possibilita aos países-membros firmar acordos de alcance regional (entre todos os membros) ou de alcance parcial (entre dois ou mais membros). Com perfil mais abrangente, além da função comercial a ALADI se propôs a promover a complementação econômica e o desenvolvimento de ações de cooperação econômica que levem à ampliação dos mercados. O novo Tratado estabeleceu, ainda, cinco princípios gerais: pluralismo econômico e político; convergência progressiva para a formação de um mercado comum latino-americano; flexibilidade; tratamento diferenciado para países de menor desenvolvimento econômico relativo; e multiplicidade nas formas de concertação.
Expansão da Aladi II 
O Tratado da ALADI permite a adesão de novos membros, de modo que aos 11 Estados fundadores (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela) uniram-se Cuba(1999) e o Panamá(2012).Atualmente, a Nicarágua está em processo de adesão. 
De forma sintética, pode-se caracterizar a ALADI como um mecanismo de concertação de instrumentos comerciais, que busca conjugar institucionalmente, em um marco flexível, os esforços, ainda que assíncronos, de seus países-membros com vistas à integração econômica.
Conceitos Básicos
Costuma a doutrina distinguir cinco fases nos processos de integração econômica, quais sejam, a zona de livre comércio, a união aduaneira, o mercado comum, a união econômica e monetária e a união política. As duas primeiras são as formas clássicas conceituadas no artigo XXIV do GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio); a terceira surgiu com o Tratado de Roma, em 1957, que instituiu a Comunidade Europeia, que tinha como objetivo a constituição de um mercado comum; e as últimas duas foram conhecidas com a assinatura do Tratado da União Europeia, em 1992, e com o surgimento da ideia de um Tratado para uma Constituição para a Europa, em 2004.
Conceitos Básicos I 
Para Estrela Faria, “uma zona de livre comércio compreende o espaço de dois ou mais países em que se eliminaram substancialmente todos os direitos alfandegários e outras formas de restrição comercial para a circulação dos produtos originários da mesma região”. Ferreira e Olivera completam, afirmando que o livre comércio se refere aos produtos de origem regional, ou seja, que tenham alta proporção de matéria-prima e valor agregado dentro da zona.6 Essa distinção sobre a origem se faz necessária para evitar eventual triangulação comercial, com a reexportação para uma das partes da zona de livre comércio de produtos oriundos de terceiros países. 
 Já a união aduaneira, ainda acompanhando o entendimento de Estrela Faria, compreenderia também a aplicação, pelos Estados-partes, das mesmas tarifas e igual política comercial para o comércio de produtos oriundos de fora do bloco, isto é, uma tarifa comum frente a terceiros países.
Conceitos Básicos II 
Outrossim, mercado comum pressupõe as duas fases clássicas de integração e mais “a liberdade de circulação de serviços e fatores produtivos (capital e trabalho), com a eliminação de toda forma de discriminação”. Traz consigo a ideia de livre circulação de pessoas, de trabalhadores e de mercadorias. Conforme Ferreira e Olivera, ainda ocorre o seguinte: a) os trabalhadores têm livre acesso aos postos de trabalho existentes na região, o que conduz à liberdade de instalar-se com sua família em qualquer dos países que integram o Mercado Comum; b) os empresários, em um regime de livre concorrência, podem competir e vender seus produtos ou serviços onde lhes seja mais vantajoso; e c) os Estados se veem compelidos a dar um tratamento preferencial a seus nacionais frente aos demais estrangeiros comunitários.
A união econômica e monetária, segundoElizabeth Accioly, constitui-se em mais um estágio da fase integracionista e tem sua origem no Tratado da União Europeia, que criou a moeda única, no caso o euro, emitida por um banco central independente, o Banco Central Europeu.
Mercado Comum do Sul - Mercosul
O fenômeno da integração econômica foi sentido também no Cone Sul, onde quatro países formaram um bloco regional, o Mercosul,em1991, por meio do Tratado de Assunção. A cooperação econômica entre Brasil e Argentina da década de oitenta foi vista como precursora desse processo. Destaque-se a inauguração da Ponte Presidente Tancredo Neves, unindo Puerto Iguaçu, na Argentina, a Foz do Iguaçu, no Brasil, momento em que os Presidentes Raul Alfonsín e José Sarney firmaram a Declaração de Iguaçu, proclamando suas vontades de aproximação política e comercial e de superar a tradicional rivalidade entre os dois países. Outros acontecimentos integracionistas sobrevieram, entre eles a assinatura, em julho de 1986, da Ata para a Integração Brasil-Argentina e a assinatura do Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, em novembro de 1988. Porém, o auge desse processo de integração foi atingido com a assinatura da Ata de Buenos Aires, pelos presidentes então recém-eleitos da Argentina e do Brasil, Carlos Menem e Fernando Collor de Mello, em julho de 1990, documento em que se estipulou a criação de um mercado comum até o ano de 1994.
Mercosul I 
Devido às articulações argentina e brasileira para a criação de um bloco regional, a elas logo aderiu o Uruguai e, pouco depois, o Paraguai, preocupados com o movimento que ameaçava deixá-los economicamente isolados.
O principal objetivo do Mercosul é a conformação de um mercado comum, de acordo com o exposto no artigo 1º do Tratado. Essa é a fase que enseja a presença das liberdades fundamentais e a regulamentação de uma série de outros assuntos. Para o seu alcance, o artigo 5o do Tratado previu uma série de instrumentos. O prazo, desmesuradamente ambicioso, estabelecido para a implementação do Mercado Comum, refletia o contexto global então vigente de liberalização econômica. Não é de surpreender, portanto, que o objetivo não tenha sido atingido durante o período provisório, que tinha término previsto para 1994.
O Tratado de Assunção
A nova proposta integracionista teve início com a assinatura, em 1991, do Tratado de Assunção, instituidor do Mercado Comum do Sul (Mercosul) entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Esse Tratado pode ser considerado um tratado marco, uma vez que fixa objetivos comuns a serem concretizados de forma evolutiva e mediante programas conjuntos, possui escassas normas básicas obrigatórias e seu texto contém, sobretudo, enunciações programáticas e princípios genéricos não desenvolvidos. Com efeito, a assinatura desse tratado representou o estabelecimento de uma nova era na busca pela integração. Ele, em si, permitiu a vinculação contratual à luz do Direito Internacional Público entre países para a fundação de um mercado comum e é a pedra fundamental para o processo de integração. Mas, como ele mesmo expressa, é um tratado para a constituição do mercado comum, isto é, um evento futuro, que não começaria com a entrada em vigor dele próprio. O Tratado é apenas o ponto de partida.
O Tratado
Do exposto no artigo1ºdoTratado de Assunção, observa-se que o objetivo desse processo de integração é constituir um mercado comum entre os quatro Estados signatários, sendo esse, inclusive, o porquê do próprio nome do processo sul-americano, o qual deveria estar estabelecido após um período provisório que se estenderia até 31 de dezembro de 1994, e que se denominaria Mercado Comum do Sul. Entre tantas assimetrias entre a União Europeia e o Mercosul, Deisy Ventura vê nesse propósito comum comum abrange e que deveriam estar efetivados até o final do período provisório foram definidos pelo próprio Tratado. um esboço de simetria. Os objetivos particulares que o conceito de mercado
 Devido a diversos percalços, o progresso esperado para acontecer no prazo previsto de 1994 ainda não foi plenamente alcançado.
Protocolo de Ouro Preto
O Protocolo de Ouro Preto, firmado em dezembro de 1994, disciplinou as regras sobre a tarifa externa comum, etapa fundamental para a implementação da união aduaneira. A partir da vigência do Protocolo, o Mercosul passou a ter personalidade jurídica. Esse documento do direito primário sublinhou uma vez mais a opção por um caráter intergovernamental do processo, em que as decisões são tomadas por consenso e com a presença de todos os Estados-partes. Tal caráter é o que representa a maior assimetria entre esse processo e o da União Europeia, sendo apontado como o principal impedimento à necessária execução do direito da integração nos Estados-partes. Por outro lado, a necessidade de consenso pode ser interpretada como uma forma engenhosa de evitar eventuais obrigações contrárias ao interesse do Brasil, o Estado com a maior economia, população e território do bloco.
O Protocolo
O Protocolo assinala o término do período provisório, que foi relativamente curto se comparado com os doze anos previstos para a então Comunidade Econômica Europeia, fase em que se pretendia passar das negociações à implantação, e instaurador da fase de união aduaneira, uma vez que disciplinou as regras sobre a tarifa externa comum. Todavia, o mero estabelecimento de uma tarifa não determina a remoção do sistema de controle de origem. Ademais, é necessária a unificação das regras de aduana, da política de comércio exterior e a harmonização das legislações nacionais relativas a impostos indiretos e normas técnicas. O surgimento do Protocolo, portanto, não significou que um mercado comum tivesse sido realizado.
O artigo 2º do Protocolo consolidou a ausência da supranacionalidade, uma vez que estabeleceu que os órgãos com capacidade decisória têm natureza intergovernamental. Ademais, disciplina o artigo 37 que as decisões serão tomadas por consenso e com a presença de todos os Estados partes.
O Protocolo
O Protocolo manteve e concretizou, como órgãos com poder de decisão, o Conselho do Mercado Comum, o Grupo Mercado Comum e a Comissão de Comércio do Mercosul. O Conselho é o mais alto órgão hierárquico, encarregado de conduzir o processo de integração, e tendo a responsabilidade de observar os prazos e objetivos contidos no Tratado. O Grupo é o órgão executivo do bloco. O Conselho e o Grupo do Mercosul, com a estrutura organizacional trazida pelo Protocolo, assemelham-se com o Conselho e a Comissão da União Europeia, nos quais a instituição superior (em ambos os processos, o Conselho) é controlada pelos Estados-partes e tem o poder de criar regras, ao passo que a outra instituição (no caso, o Grupo) tem o poder de propor e implementar as regras.
A Comissão de Comércio
A Comissão de Comércio do Mercosul, o mais novo órgão com poder de decisão, foi reconhecida como órgão apenas pelo Protocolo de Ouro Preto, embora já tivesse realizado trabalhos anteriores. A ela está confiado o apoio aos trabalhos do Grupo em sua função executiva e deve ainda executar apolítica comercial comum dos sócios tanto em relação com terceiros Estados como em caráter inter-regional. Como órgãos de apoio ao Conselho, sem poder de decisão, prevê o Protocolo a Comissão Parlamentar Conjunta e o Foro Consultivo Econômico e Social. A Comissão Parlamentar representou o ponto de partida para a instituição do Parlamento do Mercosul, criado em 2007. O Foro tem competência para os assuntos econômicos e sociais dos Estados-partes. Nessa instância deverão ser discutidas as políticas sociais do processo de integração.
Uma estrutura administrativa não havia sido criada durante o período provisório. Por intermédio do Protocolo, a Secretaria Administrativa, com sede em Montevidéu, foi elevada a órgão permanente do Mercosul e é o único que possui um corpo de funcionários.
Relacionamento com o Exterior
A partir de 1995, na condição de união aduaneira, a problemática do Mercosul esteve centrada quase exclusivamente em definir o alcancee a mecânica do seu relacionamento externo. Em 1996, o processo recebeu, por meio de acordos de associação, dois novos parceiros na condição de Estados associados, o Chile e a Bolívia.
O crescimento econômico e as associações ocorridas fortaleceram a posição do Mercosul perante outros significativos parceiros. Na mesma época da aceitação daqueles Estados associados, o bloco estabeleceu uma forte relação de cooperação com a União Europeia, além de numerosas outras organizações e países. As relações com a União Europeia remontam quase ao tempo da sua fundação, pelo que ela foi considerada a “madrinha” do Mercosul, quando foi celebrado o Acordo de Cooperação Institucional entre a Comissão Europeia e o Conselho do Mercosul. Desde então, o Mercosul recebe da organização assistência técnica e financeira fundamental para ser usada no desenvolvimento de suas instituições, por meio do Comitê Consultivo Conjunto de Assistência Técnica e Institucional.
Relacionamento
Posteriormente, em 15 de dezembro de 1995, em Madri, foi celebrado o Acordo-quadro Inter-regional de Cooperação entre a Comunidade Europeia e seus Estados-membros por um lado, e o Mercado Comum do Sul e seus Estados-partes por outro. Tal acordo tinha como objetivo primordial a preparação da associação inter-regional e como principais tarefas liberar gradual e progressivamente o comércio, ampliar a cooperação econômica e inaugurar um diálogo político regular, entre outras constantes dos seus 37 artigos. Também, como objetivo primaz, se encontrava a condução ao fortalecimento do potencial competitivo internacional de ambas as regiões. O instrumento escolhido para o alcance desses objetivos foi o diálogo político, a ser levado a efeito por meio de instituições como o Conselho de Cooperação e a Comissão Mista de Cooperação, organismos aos quais, em 1999, foi acrescentado um Comitê Birregional de Negociações como órgão de supervisão e gestão geral das negociações. A bem da verdade, o acordo, que entrou em vigor em 1o de julho de 1999, não tem um prazo definido para a sua completa implantação. O resultado esperado da relação estabelecida era a formação de uma zona de livre comércio entre os dois blocos de diferentes níveis de desenvolvimento e distantes geograficamente, com a progressiva remoção de barreiras à importação e exportação de produtos que tenham origem em seus territórios.
Período do apogeu 
Em seus primeiros anos, o Mercosul gerou mais ganhos que qualquer organização anterior da qual fossem integrantes os seus Estados-partes. As relações de cooperação e de comércio foram expandidas, dispondo-se de uma condizente estrutura institucional e se tornando um mercado interessante para os investidores estrangeiros. A ideia de uma moeda única chegou a ser aventada e foi considerado um potencial competidor para a União Europeia e para o Nafta. Naquele momento, passou a ser visualizado um ordenamento jurídico no bloco, que conta com um direito processual civil internacional. Apesar do sucesso, o bloco enfrentou problemas. Até 1997, o comércio entre os Estados-partes cresceu de forma espantosa. Com tais resultados, tornou-se o terceiro mais importante bloco econômico no mundo. O comércio e os investimentos entre Brasil e Argentina, por exemplo, quadruplicaram, atingindo assim um grande sucesso econômico com aumento de vinte e dois por cento, comparáveis aos sete por cento do comércio extrazona. Cerca de noventa por cento dos produtos comercializados no bloco podiam circular livres de tarifas, enquanto para oitenta e cinco por cento dos bens importados valia uma tarifa externa comum. Regras especiais existiam apenas para produtos sensíveis e os setores protegidos.
Apogeu 
Apesar do sucesso inicial, o bloco passou a enfrentar nítidos problemas. Alguns foram vinculados à abertura econômica, redução do aparato do Estado e à evolução de problemas sociais como desemprego e miséria. Como lembra Salomão Filho, “processos de integração regional são dinâmicos – ou se desenvolvem de forma permanente ou tendem a uma involução. Os motivos para isso residem na dinâmica do comércio internacional (...). Tão logo o processo de integração se paralise, há a tendência do predomínio dos interesses particulares dos Estados e se opõem, em função disso, contra o comércio”. Por isso é dito que a estagnação representa um retrocesso. Ainda que não seja tão visível um retrocesso no caso do Mercosul, seguiu-se ao período de sucesso uma forte mercoesclerosis.
Crises do Mercosul
Em 1999, os Estados-partes começaram a enfrentar crises econômicas que, naturalmente, tiveram reflexos no Mercosul. Logo em janeiro desse ano, o Brasil precisou desvalorizar a sua moeda em trinta por cento frente ao dólar, passando de um sistema de câmbio fixo para uma regra de livre oscilação. A Argentina, que adotava política cambial de paridade com o dólar, demonstrava não ter se adequado, no prazo previsto, às metas instituídas pelo bloco. Tal inadequação e a desvalorização do real frente ao dólar, decisão política e econômica unilateral, fez com que ela se visse obrigada a instituir cláusulas de salvaguarda frente ao Brasil,especialmente para os setores de calçados, frangos, têxteis e regime automotivo, como forma de proteger a indústria doméstica, que subitamente perdera sua competitividade. O impacto dessa medida quase desencadeou o rompimento do Acordo Mercosul.
Crises I 
Nos anos seguintes, o Brasil passou a ser superavitário no comércio com a Argentina, que passou a considerar a participação no Mercosul como problemática para a sua economia e se tornou não cooperativa em matérias que envolvessem o bloco. Houve vozes que até questionavam a manutenção da integração. Paralelamente a esse contexto, foi reforçada pelos Estados Unidos a iniciativa de criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), cuja proposta de eliminar as barreiras alfandegárias entre todos os países americanos (exceto Cuba) representava uma forte ameaça aos projetos de desenvolvimento do Mercosul.
Em dezembro de 2001, agravou-se drasticamente a situação econômica e política da Argentina e as reações do governo do país para com essa nova realidade foram extremas, envolvendo a imposição de limites para saques e transferências bancárias, o abandono da paridade cambial, forte desvalorização da moeda e o fechamento dos bancos. Havia previsões concretas de que tal crise se estendesse ao Brasil. Os retrocessos do ano de 1999 já haviam levado os céticos a questionar que futuro teria o Mercosul. Com tudo isso, diminuíram as expectativas de que o bloco viesse a se tornar o mercado comum do século XXI.
Crises II 
Diante dessas crises, o processo conheceu ideias de relançamento, fundadas no fortalecimento institucional, na incorporação das normas dos órgãos do Mercosul pelos Estados – partes e na efetivação do sistema de solução de controvérsias. Em 2002, Brasil e Argentina restabeleceram relações amistosas e cooperativas um com o outro no contexto do Mercosul, para que os inúmeros ganhos adquiridos desde a sua fundação não fossem desperdiçados. Em 2004, novas desavenças comerciais se tornaram conhecidas sob o nome de guerra das geladeiras e, em 2006, o pedido de ingresso da Venezuela no bloco reativou os debates. 
Venezuela como membro pleno
O Tratado de Assunção, já em 1991, previu a possibilidade de ingresso de novos membros no bloco. Assim, em 2006, o tema da agenda do Mercosul foi a eventual passagem da Venezuela de Estado associado para Estado-parte do bloco econômico, isto é, assumir a característica de membro pleno do processo. Com isso, o Mercosul passaria a ter dez países entre essas duas modalidades de participação. Por ser parte da Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), fundada pelo Tratado de Montevidéu em 1980, a Venezuela preenchia uma condição importante para tanto.
Em verdade, o ingresso de um novo país vem ao encontro do termo integração, além de promover um significativo ganho econômico, expandindo o bloco da Patagônia ao Caribe. Acresça-se que o eventual ingresso da Venezuela poderia representar,quando da sua proposta, um freio à tentativa norte-americana de criação da Área de Livre Comércio das Américas, pois, imagina-se, dificultaria ainda mais as negociações em curso entre o bloco e os Estados Unidos.Contudo,as tratativas em torno da ALCA foram abortadas anos antes de a Venezuela se tornar um membro pleno do Mercosul
Questionamentos 
Diversos questionamentos foram levantados quanto à entrada da Venezuela no bloco. Em uma associação direta do país com a polêmica figura do seu então mandatário, uma das mais frequentes preocupações decorria das posições políticas do Presidente Hugo Chávez contra os Estados Unidos da América, maior economia do planeta e país com o qual o Mercosul tem interesse em manter profícuo intercâmbio. Chegou-se a cogitar, também, a hipótese de a Venezuela não atender os requisitos para a entrada no bloco. Como se sabe, o Mercosul possui uma cláusula democrática, estabelecida em Ushuaia, na Argentina, em 1992, que impede o ingresso de país sob regime ditatorial. Apesar do cumprimento dos ritos democráticos, a situação venezuelana, com atos considerados arbitrários do Presidente Chávez, que determinou, em 2009, o fechamento de dezenas de emissoras de rádio e de outros veículos de comunicação, reformando ainda a Constituição do país, que agora permite reeleições sucessivas do Presidente, gerou questionamentos sobre o atendimento dessa cláusula pelo país andino.
Questionamentos
O Poder Executivo brasileiro submeteu à consideração do Congresso Nacional o texto do Protocolo de Adesão da República Bolivariana da Venezuela ao Mercosul, por meio da Mensagem n. 82, de 2007. Em 15 de dezembro de 2009, o Congresso Nacional brasileiro aprovou o ingresso desse país no bloco e, assim, referendou a frágil democracia que ainda persiste nesse país. Ironicamente, foi justa a aplicação da cláusula democrática do Mercosul que viabilizou o ingresso da Venezuela no bloco. Como os parlamentos da Argentina e do Uruguai já haviam aprovado o ingresso do país andino, o último entrave residia no parlamento do Paraguai, que dava sinais de resistir à ideia.
No contexto de uma crise político-institucional, em 22 de junho de 2012 o Presidente paraguaio, Fernando Lugo, teve seu mandato cassado, após um processo conduzido e consumado por opositores em pouco mais de 24 horas. Brasil, Argentina e Uruguai, em posicionamento comum aos demais países sul-americanos, condenaram o rito sumário de destituição do mandatário do Paraguai, alegando que não fora adequadamente assegurado o amplo direito de defesa.
A Crises Paraguaia
Em decorrência do que foi considerado como uma ruptura da ordem democrática, o Paraguai foi suspenso do Mercosul, em aplicação ao Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático, até a realização de novas eleições presidenciais no país, em 2013. Paralelamente, lideranças do bloco viram na aplicação dessa sanção política de alta gravidade uma oportunidade para acelerar a incorporação da Venezuela ao Mercosul. A posição brasileira teve como base um polêmico parecer da Advocacia-GeraldaUnião,que,emmalabarismojurídico,buscoujustificar a tese de que um Estado-Parte suspenso estaria vedado de participar do processo decisório das instituições do bloco,apesar da disposição do art. do Protocolo de Ouro Preto, que expressa que as decisões dos órgãos do Mercosul serão tomadas por consenso e com a presença de todos os Estados-partes.
Desdobramentos 
A suspensão tornou desnecessária a manifestação do Congresso paraguaio sobre a questão. Desse modo, como o ingresso da Venezuela já havia sido aprovado pelos Parlamentos brasileiro, argentino e uruguaio, não haveria mais entraves para que o país se tornasse membro pleno do Mercosul. Nesse sentido, em 31 de julho de 2012, a Venezuela foi oficialmente incorporada ao bloco. O ingresso da Venezuela alterou a geografia e o peso político-econômico do Mercosul. 
O bloco passou a contar com uma população de 270 milhões de habitantes (70% da população da América do Sul), um PIB, a preços correntes, de US$ 3,3 trilhões (83,2% do PIB sul-americano) e um território de 12,7 milhões de km2 (72% da área da América do Sul).
Solução de controvérsias no Mercosul
Em função de obstáculos constitucionais e da opção pela intergovernamentalidade, o mecanismo de solução de controvérsias assumiu características diferentes do existente na União Europeia. O primeiro documento que o regulou foi o Protocolo de Brasília, de 1991, de caráter transitório, que implantou um sistema arbitral. As iniciativas tendentes a dar impulso à integração envolveram a superação das deficiências derivadas da carência de um órgão que garantisse a interpretação uniforme do Tratado e tivesse capacidade para sancionar as violações às normas do Mercosul, a adaptação do sistema ao estágio atual da integração e a necessidade de fortalecer a estrutura institucional. Para tanto, em 2002 foi aprovado o Protocolo de Olivos, o qual entrou em vigor em 2004, derrogando o de Brasília. Em 2007, foi emitida a primeira opinião consultiva, umas das novidades com ele surgidas. Em outubro de 2009, pela primeira vez a Argentina formulou uma questão ao Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul, sendo também a primeira vez que uma questão partiu diretamente de um tribunal superior de um dos Estados partes do processo de integração, sobre um assunto originado dentro do órgão judiciário superior. Tal acontecimento demonstra que o mecanismo possui funcionalidade e vitalidade
Funcionamento
O sistema de solução de controvérsias atingiu um relativo significado. As quatro primeiras controvérsias aceitas para ir ao tribunal arbitral ad hoc e que não resultaram em um acordo intermediário foram entre Brasil e Argentina. A primeira decisão do Tribunal Arbitral surgiu apenas em abril de 1999, tendo o segundo laudo arbitral35 ocorrido cinco meses após, e já no começo de 2000 surgiu o terceiro laudo. No ano de 2001, foram emitidos dois laudos arbitrais sobre conflitos em negociações comerciais, seguindo-se a esses sete outros laudos.
Segundo o artigo 17, a possibilidade de recurso ao Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul, instalado solenemente em 13 de agosto de 2004, com sede em Assunção, é o principal avanço do Protocolo de Olivos em relação ao sistema anteriormente estabelecido. A solução de controvérsias não dispunha de instância recursal até então.
Fragilidade institucional
Desde o surgimento do processo de integração, a doutrina tem indicado que o bloco poderia adotar um regime supranacional, submetendo a vontade individual dos Estados-partes aos ditames do bloco. Sob a óptica integracionista, essa perspectiva, imagina-se, proveria a solução de inúmeros problemas e um melhor enfrentamento dos períodos de crise. Por outro lado, ao se analisar a composição do Mercosul, a visível assimetria entre seus membros possibilita compreender, em parte, a resistência à instituição da supranacionalidade. O Brasil, que em 2008 correspondia a cerca de 80% da população e 82% do PIB do bloco, teria de se sujeitar a eventualmente ser posição minoritária entre seus parceiros.
Em que pese o significativo gesto de confiança inerente à aceitação de tal cenário, realisticamente não se vislumbra, na atual conjuntura, a possibilidade de o Brasil cogitar tamanha abdicação de sua soberania. O Governo brasileiro dificilmente deixará de se pautar pela basilar aplicação do princípio de buscar resguardar a liberdade de ação do País no plano internacional.
Fragilidade
Mantida a opção atual, basta que um país discorde dos demais para que uma medida não seja adotada. A instauração de tal regime supranacional resolveria esse problema. Contudo, a ideia da supranacionalidade não tem encontrado aceitação nos governos nem em outros círculos, ciosos da possibilidade de abrir mão da soberania nacional. Sacrifica-se, assim, a eficiência pela garantia de não vir a ser subordinado à vontade dos demais membros do bloco.
Em verdade, a ordem jurídica do Mercosul é tida, invariavelmente, como frágil, visão essa que seria quase incontestável Essa estruturafrágil é ainda elemento de um dos paradoxos atuais do processo. Ainda que não tenha uma base jurídica sólida, o Mercosul já atua e mesmo legisla um modelo novo de direito. Ocorre que da leitura do direito primário não fica claro se o Mercosul está ou não legitimado a impor essas leis nas ordens jurídicas internas e a controlar a sua execução, embora as normas sejam obrigatórias para os Estados-partes.
Direito Processual civil internacional no Mercosul
Durante o período tido como de sucesso do Mercosul, situado entre 1995 e a eclosão da crise econômica argentina, em 2001, já era possível afirmar que o bloco possuía um ordenamento jurídico; hoje a doutrina já fala acerca de uma constituição material. O Tratado de Assunção, os protocolos de Ouro Preto e de Brasília, as decisões, as resoluções e as diretrizes formavam uma ordem jurídica organizada e estruturada que possuía fontes próprias, dotada de órgãos e procedimentos aptos para emiti-las, interpretá-las, bem como para constatar e sancionar os casos de não cumprimento e violações. Para esse ordenamento jurídico, é de grande relevância o que se pode considerar de processo civil internacional do Mercosul. Mais de treze acordos principais e complementares já foram firmados no âmbito do bloco nesse sentido, em sua maioria tratados de direito processual internacional e de cooperação judiciária.
 Os protocolos do Mercosul
O Protocolo de Las Leñas sobre cooperação e assistência jurisdicional em matéria civil, comercial, laboral e administrativa, de 1992, trata do reconhecimento e execução de decisões e cooperação judicial internacional. É considerado o documento fundamental para o tema entre os países do Mercosul. Na doutrina estrangeira, esse documento recebeu comparações com normas europeias. Para Tellechea Bergman, representa um terceiro nível de cooperação jurídica internacional, qual seja o do reconhecimento da eficácia extraterritorial das sentenças.
Um passo importante na busca da uniformização do direito processual civil internacional do Mercosul ocorreu com o Protocolo de Buenos Aires sobre jurisdição internacional em matéria contratual, de 1994. Ele é aplicado à jurisdição contenciosa internacional com relação a contratos internacionais de natureza civil e comercial celebrados entre particulares, pessoas físicas ou jurídicas.
Protocolos
O Protocolo de Ouro Preto de Medidas Cautelares, de 1994, supôs a finalização do processo codificador do auxílio jurisdicional internacional entre os Estados-partes do Mercosul e determinou um nível de especial relevância para a cooperação cautelar. Conforme o documento, não será mais necessária a homologação de medidas cautelares pelo Superior Tribunal de Justiça, no caso brasileiro, quando proferidas dentro de um Estado-parte do Mercosul. Contudo, a autoridade jurisdicional requerida poderá recusar cumprimento de uma carta rogatória referente a medidas cautelares quando entender que ela é manifestamente contrária à sua ordem pública.
Em 1996, surge o Protocolo de São Luis em matéria de responsabilidade civil emergente de acidentes de trânsito, que regula o foro e a lei aplicável à responsabilidade civil por acidentes desse tipo. Ele estabelece o direito aplicável e a jurisdição internacionalmente competente em casos dessa natureza ocorridos no território de um Estado-parte, nos quais participem, ou dos quais resultem atingidas, pessoas domiciliadas em outro Estado-parte.
Protocolos
Por fim, o Protocolo de Santa Maria sobre jurisdição internacional em matéria de relações de consumo, de 1996, é um protocolo específico que objetiva preencher as lacunas deixadas pelo Protocolo de Buenos Aires, de 1994. Para tanto, tem como objeto determinar a jurisdição internacional em matéria de relações de consumo derivadas de contratos em que um dos contratantes seja um consumidor. Ele ainda não está em vigor nos Estados-partes.
Harmonização das regras materiais
No Mercosul, a efetivação das políticas de integração ocorre por meio de harmonização das legislações nacionais envolvidas. Esse processo não tem se apresentado fácil, verificando-se que algumas matérias contam com estudos e mesmo avanços, ao contrário de outras tantas.
Com efeito, harmonizações legislativas passaram a ser exigidas também com o crescimento das relações transfronteiriças. O Mercosul adotou duasmedidasdeharmonizaçãorelativasainvestimentosestrangeiros,quais sejam o Protocolo de Colônia para a promoção e recíproca proteção de investimentos no bloco (Decisão n. 11/1993) e o Protocolo de Buenos Aires relativo à promoção e proteção de investimentos provenientes de países não participantes do Mercosul (Decisão n. 11/1994). Pelo Protocolo de Colônia, os Estados-partes se obrigam a tratar os investidores dos outros parceiros pela forma que tratam os seus nacionais. Esse Protocolo segue em estrutura e conteúdo o modelo dos mais modernos acordos de proteção a investidores. Por meio do Protocolo de Buenos Aires, são protegidos os investidores de países não pertencentes ao bloco.
Proteção da propriedade industrial 
No âmbito da política de proteção da propriedade industrial, em agosto de 1995, os quatro países firmaram um Protocolo de harmonização de normas sobre propriedade intelectual em matéria de marcas, certificados de procedência e denominações de origem (Decisão n. 8/1995). Nesse aspecto, deve referir-se que os quatro países são signatários das mais importantes convenções internacionais, enfatizando-se que as legislações nacionais têm se aproximado das normas do Agreement onTrade-Related Aspects of Intellectual Property Rights (TRIPs) e entre si. Devido ao seu caráter de documento de Direito Internacional Público, não estão em vigor os 28 artigos do Protocolo para todos os Estados-membros. Da mesma forma, se encontra o Protocolo de harmonização de normas sobre desenho (Decisão n. 16/1998).
Existem também doutrinas sobre harmonização no direito dos contratos internacionais.60 Convém referir a discussão havida com a tentativa de harmonização da proteção dos consumidores.61 Outras áreas com possibilidades de êxito em termos de harmonização seriam a fiscal, o direito do trabalho, a liberdade de estabelecimento e de prestação de serviços62 e o direito de sociedade.
Parlamento do Mercosul
No dia 07 de maio de 2007, foi instalado na capital uruguaia, Montevidéu, o Parlamento do Mercosul. Essa instalação do órgão atendeu à Decisão n. 49/2004 CMC e também ao protocolo constitutivo firmado pelos chefes de Estado dos países em dezembro de 2005, a Decisão n. 23/2005 CMC.
 A primeira sessão do Parlamento aconteceu no plenário da Assembleia Nacional do Uruguai, participando da reunião parlamentares do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai, como membros plenos, e da Venezuela. A instituição terá sessões mensais, com presença dos parlamentares dos Estados-partes.
Parlamento
O novo parlamento regional terá o papel de absorver os anseios e preocupações dos diversos setores da sociedade civil dos Estados-partes. Entre as competências do Parlamento do Mercosul também estão a recomendação de normas para o bloco, o envio de anteprojetos de normas nacionais que tratem da harmonização das legislações dos Estados-partes e a solicitação de relatórios sobre questões vinculadas ao processo de integração. Ainda caberá ao órgão realizar reuniões públicas sobre questões relativas à integração, com a participação de entidades da sociedade civil e dos setores produtivos. Todos os projetos de normas do Mercosul que necessitem de aprovação legislativa serão analisados e terão parecer do Parlamento. O próximo passo é a adequação da atual Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul aos dispositivos do Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul.
Estrutura do parlamento
O Parlamento vem aumentar a estrutura organizacional do processo de integração, possibilitar que ele tenha um caráter mais democrático e permitir uma melhor inclusão da sociedade civil. Para tanto, a implantação do Parlamento teve uma etapa de transição, entre 2007 e 2010, e uma segunda etapa, originalmenteprevista para o período entre 2011 e 2014. Na primeira delas, o novel organismo é integrado por dezoito parlamentares de cada Estado-parte, indicados pelos respectivos Parlamentos nacionais, de acordo com os critérios particulares de cada país. Antes da conclusão dessa etapa de transição, cada Estado-parte deveria efetuar eleições por sufrágio direto, universal e secreto para indicar seus parlamentares, cuja realização se daria de acordo com a agenda eleitoral nacional desse Estado-parte.
2ª. Etapa 
A partir da segunda etapa, todos os representantes deverão ser eleitos por meio de sufrágio direto, universal e secreto e não poderão acumular a função no bloco com a de parlamentar nacional. Ao final dessas fases de transição, por proposta do Parlamento, o Conselho do Mercado Comum estabelecerá o Dia do Mercosul Cidadão para realização de eleições de forma simultânea em todos os Estados-partes, sempre por sufrágio direto, universal e secreto dos cidadãos. O Paraguai realizou, em 2008, eleições diretas para parlamentares do Mercosul. Os demais países, no entanto, têm alegado dificuldades internas para implementar eleições diretas, o que acarretou no adiamento da segunda etapa de transição. Caso permaneçam essas complicações, é provável que novo adiamento venha a ser necessário, o que levaria as eleições diretas a serem realizadas apenas em 2018. 
Considerações finais
O Mercosul tem desafios complexos pela frente, precipuamente por ter inerentes aspirações integracionistas. Há uma longa jornada para alcança-las; porém a vontade política dos Estados-partes, somada à credibilidade econômica, leva a crer que se está no caminho certo. A chegada de novos sócios nesse projeto integracionista dá ao Mercosul um novo status aos olhos da comunidade internacional. Só o futuro revelará se o Mercosul ficará restrito a uma união aduaneira, ou se será capaz de transformar-se em uma verdadeira comunidade, com todas as instituições que lhe são inerentes, permitindo-se chegar a um mercado comum ou a alguma etapa intermediária de integração. O ponto central dos interesses dos cidadãos dos países mercosulistas não se restringe a um espaço de consumo dos produtos de livre circulação, como ocorre com o NAFTA, mas sim à melhoria da qualidade de vida que o processopoderáproporcionar,commaisadequadascondiçõesdehabitação,de saúde, de educação e de trabalho, e com o integral respeito aos direitos humanos, por meio de uma ordem jurídica coerente e justa. As populações desses Estados almejam, por certo, a constituição de um espaço econômico único, com o surgimento de políticas comuns em setores como a atividade agrícola, industrial, de transportes, de comunicações e proteção ao consumidor e ao meio ambiente.

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