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Seguridade Social Autor: Maria Lucimar Pereira Tema 2 A Construção da Política de Pre- vidência Social no Brasil seç ões Tema 02 A Construção da Política de Previdência Social no Brasil PEREIRA, Maria Lucimar. Política de Seguridade Social: A Construção da Política de Previdência Social no Brasil. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2018. SeçõesSeções LEITURAOBRIGATÓRIA FINALIZANDO REFERÊNCIAS GABARITO CONTEÚDOSEHABILIDADES AGORAÉASUAVEZ GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES 4 Tema 02 A Construção da Política de Previdência Social no Brasil 5 Nesta segunda unidade o aluno(a) terá acesso ao conteúdo referente à construção da política de previdência social no Brasil, especialmente a partir da década de 20 do século XX. O percurso traçado foi a origem da proteção social europeia, considerando que os modelos construídos no século XIX e meados do século XX contribuíram para a construção da seguridade social brasileira. Em seguida, abordaremos a trajetória da construção da proteção social no Brasil ao longo do século XX, a partir dos cenários político, econômico e social. Destacam-se também nesta unidade os avanços com a Constituição Federal de 1988, em especial com a ampliação dos direitos sociais e com a consagração da Seguridade Social universal. Para finalizar, apresentamos os modelos de regimes previdenciários que são regidos constitucionalmente. CONTEÚDOSEHABILIDADES 6 LEITURAOBRIGATÓRIA Origem da Previdência Social A proteção social brasileira na perspectiva universal a partir da seguridade social é conquista recente da história, datada da Constituição Federal de 1988. A proteção aos trabalhadores, aqueles inseridos no mundo formal de trabalho a partir da contribuição previdenciária, inicia no começo do século XX com a implantação das Caixas de Aposentadoria e Pensão, as CAPs, após a aprovação da Lei Eloy Chaves de 1923. Bering e Boschetti (2006) colocam que a história da proteção social europeia também contribuiu para a construção do sistema de proteção social brasileiro. Por isso, faz-se necessário o conhecimento da organização dos trabalhadores para as conquistas dos direitos que proporcionaram a proteção social. O primeiro país europeu a desenvolver o capitalismo liberal foi a Alemanha. Como o surgimento das políticas sociais está intrinsecamente relacionado com a consolidação do capitalismo, foi também neste país que se conquista o primeiro arcabouço jurídico de proteção social aos trabalhadores. No processo da Revolução Industrial na Alemanha, em pleno governo do Chanceler Otto von Bismarck, precisamente em 1883, foram criadas as primeiras condições para a implantação do seguro social compulsório, ou seja, aquele em que o trabalhador precisava contribuir financeiramente para acessar os benefícios. O modelo foi chamado de bismarckiano, por fazer referência ao governo da época, que implantou tal sistema em resposta ao movimento operário, que, diante das péssimas condições de vida e de trabalho e a tomada de consciência da exploração individual e coletiva, organiza-se e assim inicia-se o processo de luta de classes, entre trabalhadores versus capitalistas. O Estado, para mediar essa relação, cria o modelo de seguro que se assemelha aos modelos de seguro privado atuais. Bering e Boschetti (2006) relatam que os benefícios estavam diretamente condicionados 7 LEITURAOBRIGATÓRIA à contribuição direta do trabalhador, mas o sistema era financiado por estes e pelos empregadores. Desde o início a gestão dos recursos ficou a cargo do Estado com a participação dos contribuintes. Quanto aos benefícios prestados aos trabalhadores, inicialmente foi o seguro doença e posteriormente também incluiu o seguro contra acidentes de trabalho, isso em 1884. Em 1889 implantou-se o seguro de invalidez e velhice. É necessário destacar que a implantação desta normativa de proteção aos trabalhadores, além de atender à reivindicação que já vinha desde tempos, também foi uma forma de o Estado reduzir as investidas das ideologias socialistas no meio operário. Outra referência importante de proteção social europeia é o Plano Beveridge, implantado desta vez na Inglaterra, em 1942. Este modelo fez duras críticas ao modelo anterior, que era o único modelo vigente até então. O modelo Beveridge propõe a criação do welfare state, ou seja, um sistema que propõe direitos sociais universais, destinado a todos os cidadãos indistintamente, garantindo as condições elementares de sobrevivência. O modelo bismarckiano propõe suprir a renda apenas aos trabalhadores (contribuintes) em momentos de risco social devido à falta de condições de trabalho, como em casos de doença e morte. O modelo Beveridge já avança na perspectiva da luta contra a pobreza. Há de se lembrar que no período da implantação deste plano, grande parte dos países europeus estava destruída com a Segunda Guerra Mundial, o desemprego, a pobreza e a fome imperavam. Um modelo não invalida o outro, mas provocou o surgimento de diferentes modelos que compuseram a seguridade social em países europeus. Quando olhamos para a seguridade social brasileira, percebemos a presença destes dois modelos. Na política da previdência social predomina a característica do modelo bismarckiano, e na política de saúde e assistência social identificam-se semelhanças com o modelo Beveridge. A Previdência Social no Brasil ao Longo da História A Previdência Social brasileira está próxima de fazer 100 anos. A primeira referência legal é 8 LEITURAOBRIGATÓRIA a Lei Eloy Chaves, de 1923, que na realidade é o Decreto nº 4.682 que instituiu a Caixa de Aposentadoria e Pensão, a CAP, aos trabalhadores das empresas ferroviárias. Apenas os trabalhadores das empresas ferroviárias foram atendidos neste momento. Vale destacar que foram 20 longos anos de organização e mobilização para a regulamentação desta legislação, que beneficiava os trabalhadores com a aposentadoria por velhice ou por invalidez, pensões, assistência médica e medicamentos a baixo preço, o que era estendido para os familiares. Behring e Boschetti (2006) colocam que no primeiro momento a Lei Eloy Chaves atendeu apenas os ferroviários, e posteriormente abriu precedentes para a outras categorias profissionais que tivessem poder de pressão, ou seja, aquelas com capacidade de organização e reivindicação. Outro fator que possibilitou o atendimento de algumas categorias de trabalhadores foram aquelas estratégicas para o atendimento das necessidades do Estado brasileiro. Este fator, associado ao poder de pressão, resultou na implantação das CAPs. Além das CAPs dos ferroviários em 1923, as autoras Bering e Boschetti (2006) também destacam as que surgiram em seguida, que foram, em 1926, a implantação da Caixa de Aposentadoria e Pensão dos trabalhadores portuários e marítimos, e em 1928, estende-se aos trabalhadores telegráficos e radiotelegráficos. A economia brasileira, até o final da década de 1920, foi quase que exclusivamente baseada na monocultura do café, e não era para o consumo interno. Inclusive, nós brasileiros, desenvolvemos o hábito de tomar o cafezinho apenas depois da década de 30 do século passado, pois até então toda produção deste produto era exclusivamente para exportação. Esta política só muda com a crise da bolsa de Nova York em 1930 e com o governo de Vargas, que inicia nesta mesma época. A chegada da década de 1930 inicia uma nova etapa da história do Brasil. Com a efervescência do contexto do investimento no modelo urbano-industrial, que até o momento não tinha participação do Estado, e a partir de então passa a conduzir as demandas produzidas pelo capital e pelos trabalhadores. Bering e Boschetti (2006) destacam que o governo varguista investiu de forma a garantir o pleno emprego e manter a reprodução da força de trabalho, apesar que de forma focalizada. Tanto que as primeiras ações que caracterizaram políticas sociais foram no sentido de 9 LEITURAOBRIGATÓRIA atender as reivindicações domundo do trabalho. Uma destas investidas foi a criação do Ministério do Trabalho, Ministério da Saúde e os Institutos de Aposentadoria e Pensão. Nos primeiros anos da década de 1930, as Caixas de Aposentadoria e Pensão – CAPs somavam 47 unidades e com mais de 157 mil associados. O sistema previdenciário surge a partir do financiamento das CAPs por empresas ferroviárias. O pagamento é feito pelos trabalhadores e empregadores, sendo 3% e 2,5%, respectivamente, e no primeiro momento cabia ao governo apenas a regulamentação da Lei e a fiscalização de sua aplicação. A Era Vargas corresponde ao período de 1930 a 1945, onde o Presidente Getúlio Dornelles Vargas governou o Brasil ininterruptamente por três governos. Sendo o governo Provisório, Governo Constitucional e o Estado Novo, cada um deles com características particulares. Getúlio Vargas inicia seu governo de imediato investindo na relação capital x trabalho, pois desde o final do século anterior, ou seja, no século XIX, quando iniciara um tímido processo de industrialização – sem nenhuma participação do Estado, já iniciara também o conflito entre os trabalhadores e os capitalistas, portanto o presidente tinha como um dos objetivos de seu governo a harmonia entre essas classes. Para mediar essas relações, ainda durante o primeiro governo de Vargas, o Governo Provisório, foi criado o Ministério do Trabalho, que além de intervir nas relações de conflitos, também passou a elaborar legislações que substituíssem a luta entre essas classes pela conciliação. As legislações no campo do direito só passaram a constar nos documentos legais a partir do processo de organização, reivindicação e conquista dos trabalhadores. Um destes documentos foi a Constituição Federal de 1934, que registrou: • Normatização do trabalho das mulheres e dos menores de idade; • Regulamentação do salário mínimo; • Definição da jornada de trabalho de 8 horas diárias e 44 horas semanais; • Férias anuais remuneradas; • Amparo à maternidade e à infância; 10 LEITURAOBRIGATÓRIA • Criação da Carteira de Trabalho e Previdência Social; • Direito universal à educação primária e gratuita. Vargas controlava parte expressiva da população, não desagradava nenhuma das classes sociais. Mantinha o discurso nacionalista defendendo a paz social, passando a imagem de que distribuía favores e benefícios, além de conceder direitos. Entretanto, na prática, atendia parcialmente a pauta de reivindicações dos movimentos sociais e tratava os trabalhadores com repressão. Valorizou ao longo de seus governos as parcerias políticas que proporcionassem o controle e a dominação. Quanto ao sistema previdenciário, que até aquele momento funcionava a partir das Caixas de Aposentadoria e Pensão, em 1933 Vargas implanta o Instituto de Aposentadoria e Pensão, o IAP, que inicia o processo de substituição das CAPs. Uma das diferenças mais marcantes do IAP é que o sistema deixa de ser por empresa e passa a ser por categoria profissional. As categorias profissionais mais organizadas são os primeiros IAPs a serem implantados, naquele momento eram os trabalhadores marítimos, os bancários, os industriários e os servidores do Estado. Além do IAP ser por categoria profissional, outra diferença importante em relação à CAP é que a gestão não é mais exclusiva de um colegiado formado por trabalhadores e empregador, mas agora é estatal. O presidente do órgão era de indicação do poder público e os demais cargos da diretoria eram paritariamente divididos entre governo e os trabalhadores vinculados àquela categoria profissional. Os IAPs foram substituindo as CAPs durante a década de 1930 e cada Instituto foi desenvolvendo suas características, estruturas e benefícios específicos. A partir deles, a natureza do sistema previdenciário passou a ser pública, já que o Estado passou a ser responsável pelo financiamento, juntamente com os trabalhadores e empregadores. A característica que perdurou entre as CAPs e IAPs e persiste até os dias atuais é a concepção da política de previdência social enquanto um seguro social, ou seja, requer a contribuição do usuário para requerer os benefícios. Couto (2004) relata que Getúlio Vargas discursava que o caráter da previdência devia ser quase que universal, mas o que se via na prática era que alguns IAPs tinham melhores estruturas que outros, e os associados de um determinado Instituto não poderiam utilizar os recursos de um outro. 11 LEITURAOBRIGATÓRIA Os benefícios previdenciários pagos aos associados dependiam de cada IAP e da contribuição que os associados pagavam. As contribuições eram proporcionais aos salários, então as categorias que tinham salários maiores tinham também benefícios mais altos, e uma diversidade de benefícios. Os IAPs cresceram na mesma proporção que as CAPs e os recursos eram expressivos, já que a perspectiva da utilização para fins de aposentadoria era a longo prazo, portanto os gastos com benefícios eram bem menores do que a arrecadação. O recurso da previdência social não ficou parado. Bering e Boschetti (2006) contam que o governo passou a atualizar este recurso com os compromissos dele. No primeiro momento, investiu em programa de habitação, pois havia um déficit nesta ária. A priori era para atender aos associados dos IAPs, mas posteriormente passou a ampliar para toda a população que poderia pagar o financiamento. Além da utilização do recurso previdenciário nesta área, o governo também passou a utilizar em outras, especialmente em empreendimentos industriais. A previdência passou a ser a maior sócia do governo no financiamento do processo de industrialização do país. Com este recurso foram construídas a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF); a Companhia Nacional de Álcalis (CNA); e a Fábrica Nacional de Motores (FNM). Por decreto foi criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. Esta ação do governo não era ilegal, já que foram criadas leis que autorizavam o uso destes recursos para algumas áreas estratégicas do governo. Neste período, tanto o governo como a população já tomavam conhecimento do plano Beveridge na Europa, que previa a proteção social a todos os cidadãos e iniciara uma cobrança por parte dos movimentos sociais para a ampliação da cobertura social. Mas não se avançou, nem sequer foi estendida a política de previdência aos trabalhadores rurais e para os empregados domésticos, para os quais até aquele momento não havia nenhuma garantia social. Para amenizar as manifestações, foram criadas outras formas de benefícios para toda a população, como a criação da Legião Brasileira de Assistência – LBA, em 1942, a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI também em 1942; já o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, o Serviço Social da Indústria (SESI) e o 12 LEITURAOBRIGATÓRIA Serviço Social do Comércio – SESC foram criados em 1946. O governo Vargas chegou ao fim em 1945, depois de longos 15 anos no poder. O mesmo foi destituído a partir do movimento de trabalhadores, da classe média com o apoio dos militares. Os mesmos que o apoiaram no golpe de 1930. Os governos subsequentes pouco mudaram a prática em relação à gestão da previdência social. No que refere à utilização do recurso, continuou da mesma forma. Na segunda metade do século XX, a contribuição do sistema previdenciário proporcionou a construção da capital do país, ou seja, de Brasília, da Ponte Rio-Niterói no Rio de Janeiro, da Usina Hidrelétrica de Itaipu no Paraná, da estrada Transamazônica que perpassa por sete estados brasileiros (Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas) e das Usinas Nucleares de Angra dos Reis no Rio de Janeiro. Percebemos que a política de previdência social desde a década de 1930 tem participado de forma direta no processo de industrialização e urbanização do país. As diferenças entre os IAPs eram muito marcantes, pois a estrutura e o acesso aos benefíciosdependiam das condições da arrecadação, e a arrecadação estava condicionada pelo percentual do salário do trabalhador. Por isso, ainda na década de 1940 iniciava a discussão para a unificação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão. O debate era para unificar os IAPs e os direitos. Mas este processo foi tão longo que chegou a ser arquivado no Congresso Nacional por 13 anos. Havia trabalhadores que defendiam a unificação, pois desejavam que todos os IAPs tivessem a mesma qualidade na prestação de serviços, mas outros defendiam a manutenção da forma como estavam, pois temiam que a uniformização dos benefícios fosse feita pelos menores e piores IAPs e, assim, tivessem prejuízos. Benefícios IAP Marítimos (1933) IAP Bancários (1934) IAP Industriários (1938) IAP ETC Empreg em Transp e Cargas (1938) IPA Servidores do Estado (1938) IAP Comerciários Quadro 1 - Benefícios oferecidos pelos IAPs nos anos de 1940 13 LEITURAOBRIGATÓRIA Fonte: Milward (2009, p. 5). (1940) Apos. idade X X X X Apos. invalidez X X X X X Pensão X X X X X X Assist Med Hosp X X X X X Assist Farmaceut X X Aux. Funeral X X X Pecúlio X X Aux. Doença X X X Aux. Maternidade X X Aux. Detenção X Cont. Segurado 3% 4-7% 3-8% 3-8% 4-7% 3-8% Depois de 13 anos de negociações, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica da Previdência Social – a LOPS, que organizou o sistema previdenciário para os trabalhadores, unificando os trabalhadores do setor privado em um único Instituto, desta forma eliminando as diferenças que havia entre eles. Os Institutos que foram criados desde a década de 1930 foram unificados em um único, passando a ser chamado de Instituto Nacional de Previdência Social – INPS. A preocupação da nivelação por baixo de fato tinha sentido, pois ocorreu a redução tanto na quantidade como na qualidade dos benefícios prestados. O que se pode dizer que avançou foi que todos os trabalhadores urbanos foram contemplados, mesmos para aqueles em que não havia IAPs regulamentado. Os trabalhadores rurais e os domésticos ainda permaneceram excluídos desta reforma do sistema previdenciário. Estes trabalhadores só foram atendidos ao final da década de 1970. Contudo, os valores pagos pelos benefícios dos trabalhadores rurais eram inferiores em relação aos trabalhadores urbanos. Essa situação só foi corrigida com a Constituição de 1988, onde os benefícios destes dois segmentos foram equiparados. Para a população considerada de idade avançada, aqueles com idade igual ou superior a 70 anos, foi criado, também na década de 1970, especialmente em 1974, o benefício de amparo previdenciário, também conhecido como Renda Mensal Vitalícia. 14 LEITURAOBRIGATÓRIA O critério era a idade e a exigência de pelo menos 12 contribuições previdenciárias. Este benefício sofreu alteração com a Constituição Federal de 1988, que na realidade ampliou a possibilidade de acesso, reduzindo a idade para 67 anos, incluindo pessoas com deficiência, e excluiu a exigência da contribuição previdenciária. Este benefício deixou de ser da política de previdência social e passou a ser da Assistência Social, que também é implantada na mesma Constituição. Quando esta política foi regulamentada pela Lei Orgânica de Assistência Social – a LOAS, em 1993, este benefício passou a se chamar Benefício de Prestação Continuada – BPC. Grandes e importantes mudanças foram realizadas no período da ditadura militar para acomodar as mudanças que a LOPS indicava, e era necessário também implantar uma estrutura compatível. Diante disso, foi criado o Ministério da Previdência, de Assistência Social e de Saúde, mas apenas em 1974, ou seja, 14 anos após a aprovação da referida Lei. Em 1977, o Ministério da Previdência crias três órgãos para cuidar especificamente desta área, o Instituto Nacional de Previdência Social – o INPS, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social – que ficou muito conhecido como INAMPS, e outro como Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social - IAPS. No final da década de 1970, o regime da ditadura militar expressa sinais de falência. A pressão das organizações populares por melhores condições de vida e por um regime democrático culminou com a formação da Assembleia Nacional Constituinte, formada por 512 deputados (487 eleitos e 25 suplentes) e 82 senadores (72 eleitos e 10 suplentes). Esses constituintes trabalharam por 19 meses, nos anos de 1987 e 1988, para a produção da Constituição Federal de 1988. O processo de elaboração desta Carta Magna foi transparente e democrático, como nunca visto na história, marcado pela participação expressiva da população nos espaços de debate que aconteceram durante todo o processo de produção do texto constitucional. Antes mesmo deste período, a população já iniciara a participação ocupando os espaços públicos para denunciar as expressões da questão social, que estavam expostas em toda parte do país, e a ausência da responsabilidade dos poderes públicos na proteção social. Quanto ao sistema previdenciário, já na década de 1980 apresentava diagnósticos que indicavam: problemas na gestão, a crescente demanda não atendida ao longo do tempo que 15 LEITURAOBRIGATÓRIA provocava desproteção social, necessidade de reordenamento na base de financiamento, entre outros. Os mesmos diagnósticos também apontavam que os problemas apresentados deveriam ser da gestão, ou seja, o Estado criar estratégias para minimizar essas situações. A promulgação da última Constituição, em 5 de outubro de 1988, alterou o cenário político do Brasil, em especial a concepção da responsabilidade estatal quanto à ampliação da proteção social a todos os cidadãos brasileiros. Este documento foi mais longe, além de garantir a proteção a todos os brasileiros, esses brasileiros passaram também a ter o direito de participar da gestão das políticas sociais. Políticas que deveriam operacionalizar a proteção social universal. A Carta Magna foi o divisor de águas para a retomada do processo de redemocratização do Brasil, um dos momentos que expressa esta direção é a destinação de um capítulo sobre a Ordem Social, onde consagra a Seguridade Social. As orientações para a implantação de uma política de seguridade social modernizaram no campo jurídico a trajetória da proteção social brasileira. A seguridade social compreende um conjunto de ações de responsabilidade dos poderes públicos, mas também da sociedade. Essas ações se destinam a garantir aos cidadãos brasileiros o acesso aos direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social, conforme está definido no artigo 194 da Constituição Federal. Ainda no Capítulo da Ordem Social, além de subdividir as normas legais destes direitos, também estabelece os princípios que devem orientar a operacionalização dos direitos à saúde, previdência e assistência social, sendo eles a universalidade da cobertura e dos atendimentos, a igualdade ou equivalência dos benefícios, a unidade de organização pelo poder público e a solidariedade financeira, uma vez que cabe a toda sociedade financiar a seguridade social. A partir deste marco, a relação entre cidadão e Estado se modernizou, constituíram-se novos pactos. A saúde universalizou o direito, ou seja, os cidadãos passaram a ter o direito, independente da classe social e contribuição previdenciária, e a responsabilidade em estruturar as condições ficou para o Estado. Quanto à assistência social, adquiriu o status de política social neste momento, os cidadãos 16 LEITURAOBRIGATÓRIA que dela necessitassem passaram a ter o direito de proteção pelo Estado. A previdência social combinou financiamento estatal com a contribuição dos trabalhadores para terem acesso à cobertura dos benefícios previdenciários. Respeitando o princípio da equivalência dos benefícios, pela primeira vez os trabalhadores rurais tiveram acesso aos benefícios previdenciários de forma completa, pois os valores foram equiparados com os dos trabalhadoresurbanos. A injustiça com os trabalhadores rurais só foi reparada com a Constituição Federal. Essa nova orientação constitucional exigiu mudanças na estrutura da política da previdência social. Diante disso, o IAPAS e o INPS fundiram-se dando origem ao Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, que passou a ter a responsabilidade de cobrar e receber as contribuições e pagar os benefícios. O INSS passa a executar tarefas que antes estavam subdivididas em dois órgãos. Quanto ao INAMPS, este foi extinto em 1993 e suas funções direcionadas e reordenadas para a implantação do Sistema Único de Saúde- SUS, conforme orientação constitucional. A LBA, que estava alocada no Ministério da Previdência, foi extinta na mesma medida provisória que extinguiu o referido Ministério e criou, em 1995, Ministério da Previdência e Assistência Social. A nova formatação da política da Previdência Social brasileira fez com que este modelo fosse referenciado como o maior sistema da América Latina, disponibilizando a melhor cobertura, tanto para trabalhadores urbanos e, agora, também para os trabalhadores rurais. Entretanto, com toda a reforma que aconteceu, a previdência social não é uma opção ao trabalhador, é uma política pública obrigatória a todos os trabalhadores brasileiros, sejam eles inseridos na iniciativa privada como na área pública. Entretanto, as regras são distintas para os trabalhadores destes setores distintos, foram conferidas regras diferentes, conforme veremos a seguir. Os Regimes Previdenciários Brasileiros Para a previdência social atender a todos os trabalhadores contribuintes a partir da Constituição Federal de 1988, esta organizou-se em três regimes, público, obrigatório e o privado de caráter complementar, são eles: o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) e Regime de Previdência Complementar (RPC). 17 LEITURAOBRIGATÓRIA Regime Geral da Previdência Social (RGPS) Regime Geral da Previdência Social está previsto na Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 201: “A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória [...]” (BRASIL, 1988, s. p.). Este regime garante proteção social aos empregadores e trabalhadores do setor privado, aos empregados domésticos e aos funcionários públicos celetistas, que são segurados obrigatórios. Além destes, o regime é oferecido também a todos os demais trabalhadores que não estão segurados por algum regime próprio. Os benefícios que estes contribuintes têm garantidos estão afiançados na Lei nº 8.213/91. A referida Lei delibera em seu primeiro artigo sobre a finalidade da Previdência Social, conforme segue: Art. 1º: “A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente” (BRASIL, 2017, s. p) A filiação é obrigatória a todos os empregados assalariados, empregadores, trabalhadores domésticos, trabalhadores autônomos, contribuintes individuais e trabalhadores rurais. O órgão responsável por fazer a gestão dos valores arrecadados e transformá-los em benefícios é o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. As normativas que orientam o sistema previdenciário do RGPS são elaboradas e fiscalizadas pelo Ministério da Previdência Social. Os trabalhadores que estão em exercício do trabalho e contribuindo para o sistema financiam quem encontra-se inativo, ou seja, já estiveram na mesma condição de produtividade. Os que financiam no momento têm a expectativa de que futuramente a geração de trabalhadores mais novos também os financiem, sustentando a inatividade de quem financiou de outros. Também pode filiar-se ao Regime Geral da Previdência Social quem não tem registro em carteira, ou seja, aqueles que estão trabalhando de forma autônoma. Também é prevista por este regime a filiação, inclusive, da dona de casa e de estudantes. Atualmente são 10 os benefícios previdenciários do RGPS, sendo: aposentadoria por idade; aposentadoria por invalidez; aposentadoria por tempo de contribuição; aposentadoria especial; auxílio-doença; auxílio-acidente; auxílio-reclusão; pensão por morte; salário- maternidade; e salário-família. 18 LEITURAOBRIGATÓRIA É comum pensar que o benefício do seguro desemprego faz parte da previdência social, mas isso é um equívoco; este benefício, importante para o trabalhador, também requer contribuição, está vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego. O custo do RGPS é especialmente financiado pelas contribuições dos trabalhadores e empregadores. Para os trabalhadores, o percentual da contribuição é variado conforme os salários recebidos, podendo ser de 8,9% e 11%. Para os empregadores este percentual é de 20% em relação ao salário do empregado. As contribuições, tanto dos empregados como dos empregadores, são obrigatórias. Regime Próprio da Previdência Social – RPPS Este regime já diz em seu nome que ele é próprio de uma determinada categoria de trabalhadores. É exclusivo para servidores públicos titulares de cargos efetivos do governo federal, dos governos estaduais e municipais. A gestão é realizada pelos próprios governos. Por se tratar de um regime previdenciário, necessariamente está previsto na Constituição, neste caso, no Artigo 40. Segue orientação e é fiscalizado também pelo Ministério da Previdência Social. A principal finalidade deste regime é assegurar o pagamento dos benefícios aos associados e suas famílias. A regra da contribuição não é diferente do regime anterior, a filiação e a contribuição dos trabalhadores e dos poderes públicos são obrigatórias. Uma das diferenças do RPPS em relação ao RGPS é a definição da contribuição. Os percentuais são definidos em lei própria, onde se define os percentuais dos trabalhadores e do poder específico, podendo ser da União, do Estado ou do Município. A Constituição deixa definido que a contribuição dos poderes públicos não pode ser menor do que a dos trabalhadores, mas também não pode ser maior do que o seu dobro. No ano de 2003 houve uma mudança importante no RPPS, até este momento, apenas os trabalhadores que estavam na ativa contribuíam para o sistema, considerando que quem estava na inativa já havia contribuído enquanto estava na ativa. Entretanto, a Emenda Constitucional nº 41 deste ano, determinou o retorno do pagamento para quem já estava na inativa, ou seja, os aposentados e pensionistas. Como vimos, a previdência social é obrigatória a todos os trabalhadores do Brasil, independentemente do vínculo de trabalho, podendo estar no setor privado ou no setor 19 LEITURAOBRIGATÓRIA público. O que muda é o regime. Regime de Previdência Complementar - RPC Os regimes RGPS e RPPS são de filiação obrigatória aos trabalhadores. Entretanto, a Constituição Federal também prevê uma terceira modalidade de previdência, sendo que esta não é obrigatória e sim opcional, é o Regime de Previdência Complementar – RPC. O caráter deste regime é complementar, ou seja, o cidadão tem a opção de pagar ao longo da sua vida esta modalidade de previdência, e quando chegar o período para requerer seu benefício previdenciário obrigatório, o RGPS ou RPPS, também requere da previdência complementar. Este regime é o único dos três que é opcional ao trabalhador. Também está previsto na Constituição no artigo 202. Apesar de ser totalmente privado, as orientações legais e a fiscalização são por conta do Ministério da Previdência Social, como é dos demais regimes. Entretanto, este Ministério conta com a Superintendência Nacional de Previdência Complementar – PREVIC. A Superintendência Nacional de Previdência Complementar foi criada apenas em 2004, por meio da Medida Provisória nº 233, com a responsabilidade de fiscalizar e supervisionar as operadoras das entidades de previdênciacomplementar e da execução das orientações previstas nas legislações para esta modalidade de previdência. As referidas normativas orientam para dois tipos de segmentos para a previdência complementar: as Entidades Fechadas de Previdência Complementar - EFPC e as Entidades Abertas de Previdência Privada - EAPP. Para Nogueira (2012) e Sousa (2016), as Entidades Fechadas de Previdência Complementar não têm finalidade lucrativa, têm como objetivo a administração e a execução de planos de benefícios previdenciários. Elas são configuradas em forma de fundação ou de sociedade civil por seu patrocinador ou fundador. Essas entidades são mais conhecidas como fundos de pensão, os quais executam Planos de Benefícios. Os beneficiários são empregados de empresas ou grupos que se formam em locais de trabalho, sendo que essas empresas são as patrocinadoras. Outra alternativa é a organização de grupos a partir dos associados ou membros de associações, entidades de caráter profissional, classista ou setorial, denominados de instituidores. 20 Quanto às Entidades Abertas de Previdência Privada, são administradas por entidades abertas, de sociedade anônima e têm a finalidade lucrativa. São denominadas de Entidades ‘abertas’, pois aceitam qualquer pessoa física, que deseja ter uma previdência deste modelo e que possa pagar por ela. Essas duas modalidades seguem orientações da Lei Complementar Nº 109/01, onde define que as entidades são formadas em sociedade anônimas, com a finalidade de operar planos e benefícios previdenciários a partir dos pagamentos mensais continuados ou também podendo ser em cota única. As responsabilidades pela fiscalização e assessoria destes modelos de previdência são divididas entre o Ministério da Previdência Social e o Ministério da Fazenda, diferente dos demais regimes, que estão vinculados apenas ao Ministério da Previdência Social. Os benefícios garantidos pelas entidades de previdência complementar são comuns aos demais regimes da previdência do Regime Geral da Previdência Social – RGPS e Regime Próprio da Previdência Social – RPPS. LEITURAOBRIGATÓRIA 21 Vídeos: Tempos Modernos O filme de Charlie Chaplin, de 1936, trata de um assunto sério com muito bom humor, mostra as condições de vida e trabalho dos operários no período da Revolução Industrial, onde os trabalhadores são submetidos a condições desumanas, sofrendo física e psicologicamente. O filme é uma denúncia das condições de escravidão a que estavam expostos os trabalhadores na linha de montagem fordista. Além do ambiente insalubre, ainda são controlados pela vigilância constante. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CozWvOb3A6E&t=879s>. Vídeo: Olga O filme conta a história verídica de Olga Benário, judia comunista que foi mulher do brasileiro Luís Carlos Prestes. Veio para o Brasil para liderar a Intentona Comunista de 1935, em pleno governo do presidente Getúlio Vargas. Mesmo grávida de sete meses, foi deportada pelo governo brasileiro para a Alemanha nazista de Hitler para ser morta no Campo de Concentração de Barnimstrasse. Este filme é interessante assistir depois que se apropriarem da leitura da unidade que trata sobre o governo de Vargas. Assim poderão visualizar a dinâmica da relação entre governo e os movimentos sociais. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OJohIdRe_z8>. Conquistas, Desafios e Perspectivas da Previdência Social no Brasil 20 anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988 Depois que você conhecer a trajetória da construção da política de previdência social, faça LINKSIMPORTANTES 22 a leitura deste material, elaborado por vários pesquisadores da área e publicado pelo IPEA, que analisa os últimos 20 anos desta política, o que avançou, os desafios enfrentados e que ainda necessitam de reflexões e debates. Acesso em: 16 set. 2017. Disponível em: <http:// www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/politicas_sociais/05_capt02_7e.pdf>. LINKSIMPORTANTES 23 Instruções: Agora chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido. Bom estudo! AGORAÉASUAVEZ Questão 1: A Previdência Social é um direito social que está correlacionado ao princípio cons- titucional da dignidade da pessoa humana. Como política social, destina-se a garantir aos seus associados a proteção social em momentos das adversidades da vida, como doença, velhice, maternidade, privação de liberdades e outras. Quais os benefícios que esta política deve assegurar para seus beneficiários? Questão 2: Para a previdência social atender a todos os trabalhadores contribuintes, a Constitui- ção Federal de 1988 organizou-a em três regimes: público, obrigatório e o regime pri- vado de caráter complementar. Analise as afirmativas abaixo: I - O Regime Geral de Previdência Social é destinado a todos os trabalhadores do setor privado, com exceção dos trabalha- dores rurais; II - O Regimes Próprios de Previdência So- cial não têm diferença em relação ao Regi- me Geral da Previdência Social, podendo todo e qualquer trabalhador se filiar, se- guem as mesmas legislações. III - O Regime de Previdência Comple- mentar é opcional aos trabalhadores do RGPS e obrigatório para os trabalhadores do RPPS, conforme consta na legislação, bem como a Previdência Complementar. IV – O RGPS é destinado a todos os tra- balhadores do setor privado e trabalhado- 24 AGORAÉASUAVEZ Questão 5: Os trabalhadores dos países europeus con- quistaram a proteção social bem antes do que os países latinos. Os planos elaborados a partir da mobilização dos trabalhadores serviram de referência para a construção da seguridade social brasileira. Os planos euro- peus influenciaram a construção de nossa seguridade social. Quais são as principais características do Plano Bismarckiano? Questão 4: A Constituição Federal de 1988 provocou importantes mudanças na proteção social, especialmente com a consagração da Se- guridade Social. Quais são as principais di- ferenças entre as três políticas, para aces- sar a proteção social? Questão 3: A Previdência Social brasileira está próxi- ma de fazer 100 anos. A primeira referên- cia legal é a Lei Eloy Chaves, de 1923, que na realidade é o Decreto nº 4.682. Em que esta legislação contribui para a proteção social? a) Instituiu a Caixa de Aposentadoria e Pensão, a CAP, aos trabalhadores das empresas ferroviárias. b) Responsabiliza o Estado a fiscalizar as condições de trabalho nas indústrias no início do século XX. c) Unifica todos os Institutos de Aposentadoria e Pensão em um único, sendo ele o Instituto Nacional de Seguro Social. res públicos celetistas, enquanto o RPPS é específico para trabalhadores dos setores públicos. V – O sistema previdenciário brasileiro tem legislação aberta, podendo ter quantos re- gimes a sociedade desejar e organizar. Assinale a alternativa correta: a) I e II estão corretas. b) Todas estão corretas. c) Apenas IV está correta. d) II e III estão corretas. d) Orienta para o trabalho de mulheres, crianças e jovens nos espaços insalubres e periculosos das fábricas têxteis. 25 FINALIZANDO Ao longo desta unidade pudemos perceber que a construção da proteção social no Brasil foi celetista e excludente para uma grande parte da sociedade, pois de 1923, com a implantação da Lei Eloy Chaves, a 1988, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, apenas os trabalhadores inseridos no mundo formal de trabalho foram protegidos, sendo que uma grande parte deste período, os trabalhadores rurais e os trabalhadores domésticos, também não foram contemplados com as legislações que garantiam acesso a benefícios e políticas de proteção social. O surgimento das políticas sociais, especialmente a partir do governo de Getúlio Vargas, teve caráter interventivo, cumprindo a função mediadora nas relações de conflitos entretrabalhadores e capitalistas. A história da construção das políticas sociais no Brasil registra que a previdência social é conquista da sociedade a partir da mobilização social. Destacamos como momento marcante nesta história o processo de mobilização, elaboração e aprovação da Constituição Federal de 1988. A Carta Magna, conhecida mundialmente como Constituição Cidadã, avançou para a universalização da proteção social, garantindo a todos da sociedade os direitos sociais e responsabilizando o Estado em garanti-los. Esta Constituição consagra a Seguridade Social como forma universal para a garantia da proteção, por meio dos direitos relativos às áreas da saúde, previdência e assistência social. A previdência social é a política social mais antiga do sistema de seguridade social brasileira. No entanto, como observamos durante a leitura da unidade, passou por importantes mudanças na referida Constituição, como a ampliação da cobertura previdenciária e a equivalência dos valores entre os trabalhadores urbanos e rurais. Também vimos que os recursos da previdência social foram decisivos para a construção de um estado nacional, pois desde a primeira metade do século XX os governos utilizam tais 26 recursos em outras políticas públicas, especialmente no desenvolvimento industrial. Sendo que estes recursos não voltaram para os cofres do sistema previdenciário. FINALIZANDO 27 GLOSSÁRIO Revolução Industrial: Refere-se ao período de mudanças nas formas de produção, teve início na Inglaterra durante o século XVIII. Enquanto a produção era artesanal no período feudal, na Revolução Industrial este processo foi substituído pelas máquinas a vapor, com o intuito de gerar mais lucros com menos gastos em menos tempo. Regulamentação: Conjunto de medidas legais que orientam um determinado assunto ou instituição. Congresso Nacional: Congresso Nacional no Brasil é o órgão composto por duas Casas: o Senado Federal e a Câmara dos Deputados. Exerce funções legislativas, como elaborar e aprovar leis e fiscalizar o Estado brasileiro. Lei Orgânica de Assistência Social – a LOAS: é a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Política de Assistência Social, define os princípios, diretrizes e os objetivos da assistência social. Benefício de Prestação Continuada – BPC: benefício criado pela Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e tem por objetivo principal amparar pessoas idosas a partir de 65 anos e pessoas com deficiência em situação de pobreza. O benefício consiste no recebimento mensal no valor de um salário mínimo. Ditadura militar: regime que foi instaurado no Brasil a partir de um golpe militar em 1º de abril de 1964 e perdurou até 15 de março de 1985. Neste período o Brasil foi governado por contínuos governos militares com comandos autoritários, utilizando como instrumentos jurídicos os Atos Institucionais, sendo que um dos A.I. vigorou por 10 anos, quando o Congresso Nacional foi dissolvido junto com a extinção das liberdades civis. 28 Questão 1 Resposta: Os benefícios previdenciários a que os segurados têm direitos são: aposentadoria por idade; aposentadoria por invalidez; aposentadoria por tempo de contribuição; aposentadoria especial; auxílio-doença; auxílio-acidente; auxílio-reclusão; pensão por morte; salário-maternidade; e salário-família. Questão 2 Resposta: O sistema previdenciário brasileiro organiza-se em três regimes, sendo: Regime Geral de Previdência Social (RGPS), Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) e Regime de Previdência Complementar (RPC). Todos previstos na Constituição Federal de 1988 e sustentados com regulamentações específicas. O Regime Geral de Previdência Social é garantido aos empregadores e trabalhadores do setor privado, aos empregados domésticos e aos funcionários públicos celetistas, que são segurados obrigatórios. Os Regimes Próprios de Previdência Social são específicos para os servidores públicos titulares de cargos efetivos do governo federal e dos governos estaduais e municipais, e o Regime de Previdência Complementar é um regime facultativo ao trabalhador. Questão 3 Resposta: Alternativa C. A Lei Eloy Chaves instituiu a Caixa de Aposentadoria e Pensão, a CAP, aos trabalhadores das empresas ferroviárias. Neste momento, apenas os trabalhadores das empresas ferroviárias foram contemplados com a proteção social, que consistia em benefícios em pecúnia, como aposentadoria por velhice ou por invalidez, pensões, assistência médica e medicamentos GABARITO 29 GABARITO a baixo preço, o que era estendido para os familiares. Entretanto, a conquista apenas para esta categoria de trabalhadores abriu precedentes para outras, tanto que em 1926 aconteceu a implantação da Caixa de Aposentadoria e Pensão dos trabalhadores portuários e marítimos, e em 1928, estende-se aos trabalhadores telegráficos e radiotelegráficos. Questão 4 Resposta: A seguridade social tem como finalidade garantir proteção social aos cidadãos a partir do acesso aos direitos relativos à saúde, previdência e assistência social. Entretanto, os acessos a esses direitos são diferentes. Para o cidadão ter acesso aos direitos da política da previdência social, necessariamente deve contribuir previamente. A Previdência Social não é um programa social, mas funciona em forma de seguro social, a filiação dos trabalhadores é obrigatória. Desde a sua origem em 1923, com a Lei Eloy Chaves, os direitos estavam condicionados à contribuição. A Política de Saúde foi implantada em 1930 no governo do presidente Getúlio Vargas, deste período até a proclamação da Constituição de 1988, o acesso a ela estava condicionado à política da previdência social, ou seja, o trabalhador só tinha o direito caso estivesse contribuindo para a previdência social, quem não estava, o Estado não tinha nenhuma responsabilidade sobre tal. A Constituição Federal de 1988 universalizou o acesso, garantindo a todos os cidadãos o acesso a esta política, independente da contribuição. A Assistência Social é a política mais nova do tripé da seguridade social, tornou-se política pública apenas em 1988, com a Constituição Federal, desta forma sendo uma responsabilidade do Estado e um direito de quem dela necessitar. Questão 5 Resposta: O Plano Bismarckiano é a primeira legislação de proteção social que se tem identificado, surgiu na Alemanha na Europa em 1880, no governo do Chanceler Bismarck. O plano foi 30 implantado para atender às reivindicações dos trabalhadores da indústria e do comércio que se mobilizaram para cobrar dos capitalistas melhores condições de trabalho. O Plano Bismarckiano no primeiro momento contemplou aposentadoria por idade, por invalidez, pensões por morte, cobertura para doenças e maternidade, cobertura para acidentes de trabalho e, posteriormente, o seguro desemprego. GABARITO 31 REFERÊNCIAS BEHRING, Elaine; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006. BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social e Trabalho: paradoxos na construção das polí- ticas de previdência e assistência social no Brasil. Brasília: Letras Livres, 2006. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. ______. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: <<http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 19 out. 2017. COUTO, Berenice Rojas. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasi- leira: uma equação possível? São Paulo: Cortez, 2004. MILWARD, Julianne Alvim. Estudo da Trajetória do Sistema de Proteção Social Brasi- leiro até a Abertura Democrática. 2009. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/ pdf/APS1285.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017 NOGUEIRA, Narlon Gutierre. O equilíbrio financeiro e atuarial dos RPPS: de princípio constitucional a política públicade Estado. 2012. Disponível em: <http://www.previdencia. gov.br/arquivos/office/1_120808-172335-916.pdf>. Acesso em: 12 set. 2017. SOUZA, Ana Patrícia dos Anjos. Os direitos Sociais na Era Vargas: a Previdência Social no processo histórico de constituição dos Direitos Sociais no Brasil. II Jornada Internacio- nal de Políticas Públicas. São Luiz, 2005. Disponível em: <http://www.joinpp.ufma.br/jorna- das/joinppIII/html/Trabalhos2/Ana_Patr%C3%ADcia118.pdf>. Acesso em: 10 set. 2017.