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P ág in a1 DOCÊNCIA DE ENSINO SUPERIOR (31) 9863-1779 P ág in a2 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. P ág in a3 Sumário FACUMINAS ............................................................................................................... 2 A regência para o educador musical ....................................................................... 4 Aspectos Quantitativos e Qualitativos da presença da música na vida humana 6 Considerações sobre o ensino musical no Brasil ................................................ 10 Universidade do Distrito Federal ........................................................................... 21 O Conservatório Nacional de Canto Orfeônico (CNCO) ...................................... 22 Referências Bibliográficas ..................................................................................... 28 P ág in a4 A regência para o educador musical Regência é a mais antiga forma de condução para performance de grandes conjuntos, visto que facilita a execução instrumental e/ou coral realizado por um grande número de pessoas; porém, é uma prática que ainda se restringe à performance do profissional da Regência (FIGUEIREDO, 2006), existindo assim um curso especifico para a formação destes profissionais. Segundo Grings (2011), a necessidade da inclusão da regência na formação do professor de música das escolas brasileiras, pode ser considerada como oficial através da implantação do Projeto do Canto Orfeônico no Brasil. O autor aponta que esses cursos intitulados como Curso Especializado de Música e Canto Orfeônico foram criados a fim de que os professores das escolas primárias pudessem se especializar e, consequentemente, desenvolver o projeto nas escolas. Em ambos os projetos, os professores de música assumiam a função de regente, de „liderar‟ e „conduzir‟ o ensino de música para estudantes em escolas através da atividade do canto coletivo. Para isso, eles utilizavam elementos técnicos e metodológicos de regência, como o gestual para „comunicar‟ o discurso musical e formas de ensinar o grupo a solfejar e cantar coletivamente. Prenunciam-se através deste exemplo, como esses dois cargos, professor de música e regente, se relacionam em atividades de educação musical, especialmente em grupos (GRINGS, 2011. p. 34). Contudo, o autor aponta que, entre os fatores que determinaram a decadência do projeto de Villa-Lobos estão os problemas gerados na capacitação dos professores através desses cursos, por consequência do número de educadores capacitados para ministrar esses cursos ser menor que a demanda causando, assim, deficiências quanto à qualidade da formação desses profissionais. Todavia, a afinidade entre educação musical através do canto coral e a necessidade de capacitação do professor de música para tal, têm ressurgido atualmente no espaço acadêmico. Recentemente, alguns estudos consideram a aproximação da regência com o âmbito da educação musical, por ser uma prática P ág in a5 que tem por objetivo o ensino e aprendizagem (GRINGS, 2011). Estudos como, por exemplo, os de D‟Assumpção Júnior (2010), Costa (2007), Figueiredo (2006), abordam a importância do regente como educador musical e discutem como a regência acontece nesses tipos de atividades. Nesses trabalhos, o que se constatou é que a maioria dos regentes formados em cursos específicos de regência (seja em cursos técnicos, bacharelados, entre outros) tendo que, consequentemente, cumprir a função como educadores musicais nos espaços como escolas, projetos, entre outros, estes, em virtude de sua formação, não possui estrutura pedagógica para operar. Em contrapartida, outro fato apontado é como são raros os professores de música, egressos dos cursos de licenciatura, preparados e com conhecimento suficiente para reger. Em ambos os casos, o que ocorre é que tais profissionais, diante dos fatos, acabam por se adaptar às necessidades do grupo, que na maioria das vezes são formados por amadores em geral (de empresas, escolas, igrejas e outras instituições). Assim, esses regentes e educadores, iniciam o trabalho com informações muito escassas a respeito das competências musicais pedagógicas ligadas às competências técnico musicais para o desenvolvimento de questões relacionadas a ensaios e condução de um grupo. Tão logo, este fato tem suscitado a questão da regência para o educador musical nos cursos de licenciatura em música, porque já que a regência é disciplina exigida nos cursos de graduação e o licenciando em música está recebendo a formação pedagógica necessária para atuar, caberia então, aos egressos desses cursos, reger tais grupos. A atividade coral deverá ser adaptada a realidade educacional através de ações planejadas, sistemáticas e objetivas, que considerem aspectos avaliativos, de organização temporal quanto à duração da aula, prazos e datas do calendário escolar e o processo do desenvolvimento de saberes musicais dos alunos. Identificar o conteúdo programático tornou-se um caminho para a efetivação desta ação planejada. A seleção ao contemplar os objetivos gerais e específicos do curso P ág in a6 profissionalizante de música, considerou aspectos como repertório, particularidades de cada aluno, propósitos de experiência artística e saberes técnicos musicais a ser potencializado. Possibilitou uma formação profissional musical integral, abrangendo capacidades cognitivas, motoras, afetivas, de relação interpessoal e de inserção social. Espera-se que esta organização de conteúdos contribua com a educação musical e a literatura existente, com dados significativos dos aspectos a serem considerados em canto coral no contexto escolar. Todavia, apesar destas afirmações estarem voltadas para o contexto profissionalizante em música, sugere-se que possam ser adaptadas para outras modalidades educacionais. Com a aprovação a Lei 11.769/2008, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de música na educação básica como conteúdo da disciplina artes, o canto coral torna-se uma possível opção para a inclusão da música na matriz curricular. Aspectos Quantitativos e Qualitativos da presença da música na vida humana Ao tecer redes e depois as lançar nas águas de um rio, os pescadores almejam pescar peixes. Conforme a teia da rede de pesca utilizada, será condicionado o tamanho do peixe a ser pescado. Rubem Alves em seu livro “O que é científico?” (2012), compara o pescador a um cientista diante do mar chamado realidade. Suas teorias são suas redes direcionadas para a pesca de peixes. Assim nos faz refletir que o riosupera o conteúdo de uma pesca. Suas redes não alcançam pescar além do que suas teorias permitem alcançar. Segundo Alves, a ciência é uma ferramenta que vale para a finalidade de execução de sua função para a qual foi construída. As redes da ciências são construídas com a linguagem dos números para que P ág in a7 possam apresentar a precisão dos resultados. A linguagem de números utilizada na metodologia científica é abordada por Rubem Alves ao apresentar e comparar os aspectos quantitativos e os qualitativos utilizando-se da música como tema de reflexão. Sobre fabricação de pianos e a arte dos pianistas, os pianos moram no mundo das quantidades e a música mora no mundo das qualidades. Porém, o Artigo da disciplina de Didática do Ensino Superior do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará – Fortaleza – 2016. prazer é uma experiência qualitativa. A realidade da música encontra-se no prazer de quem a ouve. A experiência do gosto, da beleza, da estética, pertence ao mundo das “qualidades”. O que comove os homens e os faz agir é sempre o qualitativo. Sobre a atividade científica, o autor assim se posiciona: “os cientistas, ao fazer ciência, não são movidos por razões quantitativas, científicas. São movidos por curiosidade, prazer inveja, competição, narcisismo, ambição profissional, dinheiro, fama, autoritarismo.” A produção científica rejeita as pesquisas “qualitativas” sob a alegação de que seus resultados são imprecisos, “não passíveis de serem repetidos, e por não serem aceitos nas publicações em revistas internacionais. Na comunidade científica, somente se permite a linguagem quantitativa. “O científico é fabricar pianos. O gostar de música não é científico”. O que leva a soluções ridículas. Se o pianista quiser ter o grau de doutor ele terá de escrever uma tese na qual a “qualidade” que ele sabe produzir é transformada num saber quantitativo duvidoso. Para a academia, não basta o pianista dar um concerto para provar sua competência, com vistas a um grau de doutor em música. As pesquisas qualitativas tendem a ser rejeitadas, pois na comunidade científica, somente se permite a linguagem quantitativa. As experiências como o gosto, a apreciação estética, enfim, o que pertencer ao mundo das “qualidades” não são mensuráveis e não são consideradas científicas. A música move os afetos, a emoção, conceito descoberto na antiguidade clássica pelos gregos, e portanto, situa-se no âmbito qualitativo. P ág in a8 Considerações sobre a presença da música e suas funções na história humana A música ocidental proveniente do patrimônio cultural da antiguidade grega e da religiosidade cristã, o termo grego musiké era concebido como sendo toda arte inspirada pelas musas, não só a música, mas também a poesia e a dança. Na mitologia grega, as musas eram filhas de Zeus e de Mnemosyne (a memória). De acordo com o filósofo grego Platão, “não se introduzam jamais mudanças no modos da música sem que sejam reguladas por leis do Estado”. A música possuía tanto o poder de excitar o homem à guerra assim como o de trazer a paz e a calma. Tal característica era considerada perigosa para a dominação política. Os líderes políticos, ao longo da história humana, se valeram da música para a obtenção de seus objetivos de dominação e poderio. Aristóteles e Platão eram plenamente de acordo em proibir aos jovens a música como atividade profissional, Artigo da disciplina de Didática do Ensino Superior do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará – Fortaleza – 2016, pois deveria sempre permanecer como uma ocupação útil nas ocupações do homem culto (CARROZZO e CIMAGALLI, 1997). Na Idade Média, a música era parte constituinte do currículo escolar e no currículo do Quadrivium fazia parte das quatro disciplinas básicas juntamente com aritmética, geometria e astronomia (GRANJA, 2013). A música já foi uma disciplina importante dentro do currículo escolar. Há mais de 2000 anos, a escola pitagórica tinha a música como uma das principais disciplinas de seu currículo. O Quadrivium, currículo que perdurou até fins da Idade Média, era formado por quatro disciplinas básicas: aritmética, música, geometria e astronomia. A geometria, ou o estudo das magnitudes em repouso, era um pré-requisito para a astronomia, estudo das magnitudes em movimento. Analogamente, a aritmética ou o estudo dos números em repouso, era um pré-requisito da música, estudo dos números em movimento. Essa aproximação entre música e matemática teve origem na Grécia com Pitágoras, que observou a P ág in a9 relação existente entre o comprimento de cordas vibrantes e a harmonia musical, e teve um grande impacto sobre a concepção de conhecimento no mundo ocidental. A interdisciplinaridade no estudo da música relacionou o estudo dos sons a uma ordem numérica com ligações a números e astros conforme Wisnick (1989): “A descoberta dessa ordem numérica inerente ao som teve largas consequências para a edificação da metafísica ocidental, pois a analogia entre a sensação do som e a sua numerologia implícita contribuiu fortemente para a formulação de um universo de esferas analógicas, de escalas de correspondências em todas as ordens, extensivas por exemplo às relações entre som, números e astros.” (Wisnick,1989). Quanto aos usos e funções da música, Allan Merrian em seu livro “Antropologia da Música” (1964), inicialmente apontou para os problemas em se saber “o que “ e “como” a música age nas pessoas, assim como nas diferenças entre usos e funções da música. Desde suas iniciais utilizações ao longo da história humana, a música foi utilizada para as diversas finalidades do cotidiano, das festividades, na atividade política e religiosa, dentre outras. Em seu estudo, Merrian destacou dez funções da música: 1) função de expressão emocional; 2) função de apreciação estética; 3) função de entretenimento; 4) função de comunicação; 5) função de representação simbólica; 6) função de resposta física; 7) função de imposição conforme normas sociais; 8) função de validação de instituições sociais e rituais religiosos; 9) função de contribuição à comunidade e estabilidade da cultura; 10) função de contribuição para a integração da sociedade. De forma geral, com o intuito de compreensão de como as funções da música P ág in a1 0 foram e são percebidas/tratadas pela sociedade e a ciência no contexto da educação musical brasileira, buscou-se relacionar ao tema seus aspectos históricos, políticos e culturais. Sobre o assunto, a professora Marisa Trench de Oliveira Fonterrada (2005) ressalta que é “preciso lançar um olhar ao passado, pois conhecermos quem fomos pode contribuir para compreender quem somos e quem pretendemos ser. Considerações sobre o ensino musical no Brasil As primeiras lições de música em solo brasileiro se deu por meio da catequese dos jesuítas em um período compreendido pela atuação da Companhia de Jesus no Brasil, que teve início com a chegada dos jesuítas em 1549 na Bahia. Na ocasião, fundaram um colégio e iniciaram a catequese dos índios. Posteriormente, já na segunda metade do século XVIII, em 1759, foram expulsos de Portugal e de suas colônias pelo Marquês de Pombal. Assim, por mais de dois séculos, o ensino da música se deu pelo canto e pela prática musical em um projeto político colonizador português e cristão. Não havia o conceito de educação musical tal como compreendemos hoje e duas características destacavam essa atividade: “o rigor metodológico de uma ordem de inspiração militar e a imposição da cultura lusitana, que desconsiderava a cultura e os valores locais, substituindo-os pelos da pátria portuguesa”. Os valores e práticas referenciaram a educação musical brasileira e a professoraassim destaca a função pedagógica da música: “o principal papel da música é pedagógico, pois, sendo responsável pela ética e pela estética, está implicada na construção moral e do caráter da nação, o que a transforma em evento público e não privado.” (FONTERRADA, 2005). Apesar de registros anteriores referentes à atividade de música no Brasil, a P ág in a1 1 professora Fonterrada destaca a Escola de Santa Cruz, dos negros escravos e das implementadas pelo Padre José Maurício, mestre capela do imperador e professor de música na escola. Porém, o ensino da música nas escolas públicas brasileiras foi instituído somente em 1854 por um decreto que ditava que o ensino deveria se processar por dois níveis: “noções de música” e “exercícios de canto”. No mesmo ano, surgiu no Rio de Janeiro o Conservatório Brasileiro de Música e em São Paulo o Conservatório Dramático e Musical. No século XX, algumas novidades trouxeram alento à educação musical e destacou-se o trabalho do professor Anísio Teixeira, discípulo de John Dewey, cuja filosofia referenciou a educação brasileira com a proposta da Escola Nova. Segundo essa concepção, “a arte deveria ser retirada do pedestal em que se encontrava e colocada no centro da comunidade” (FONTERRADA, 2005). As ideias nacionalistas passariam a influenciar o Conservatório, principalmente pela atuação e pensamento de um de seus professores: Mário de Andrade (1893-1945). Com a década de 20, Mário de Andrade defendia no bojo do movimento modernista a função da música e a importância e o valor do folclore e da música popular. Na mesma época surgia à figura de Villa-Lobos, companheiro de Mário e figura importante do movimento junto a Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e outros. Posteriormente, as ideias nacionalistas iriam fortalecer a identidade nacional brasileira. O nacionalismo se configurou como “um fenômeno das nações marginais que reafirmavam sua identidade e buscavam reconhecimento” (FONTERRADA, 2005). No governo do presidente Getúlio Vargas (1946), embora o ensino da música fosse obrigatório nas escolas, uma das dificuldades encontradas foi a implantação em todo território nacional devido às suas gigantescas dimensões. O canto orfeônico foi implantado e com Villa-Lobos, grande agrupamentos de estudantes em coral utilizaram o método de musicalização em parceria com o P ág in a1 2 projeto político e nacionalista brasileiro da época. O Canto Orfeônico foi adotado nas escolas brasileiras até o ano de 1964, quando seu ensino foi substituído pela Educação Musical. Em 1971, o ensino da música nas escolas brasileiras sofreu uma reviravolta com a promulgação da lei nº. 5692/71. Desde sua implantação a música vem passando por inúmeras dificuldades, pois tal legislação extinguiu a disciplina de Educação Musical do sistema educacional brasileiro substituindo-a pela atividade de Educação Artística (FONTERRADA, 2005). O professor de educação artística deveria possuir uma polivalente formação e atuação dominando quatro áreas de expressão artística: música, teatro, artes plásticas e desenho, substituído posteriormente pela dança. As consequências desse quadro conduziam a um ensino que impedia um aprofundamento em qualquer das áreas de atuação da então nova disciplina. Segundo a professora Fonterrada (2005), o cientificismo e o nacionalismo do início do século utilizado na educação musical brasileira foi substituído pela ausência de planejamento com o “improviso” substituindo o rigor do “método”. Tal período se deu durante o governo militar, onde “não tolher a livre expressão dos alunos” era uma contradição, pois, de fato, não era posto em prática pelas limitações políticas da época. Uma nova maneira de se encarar o ensino das artes se deu por meio da legislação aprovada em dezembro de 1996 (LDBEN nº. 9394/96). Atualmente, mesmo com a promulgação da lei, a música é apenas um dos conteúdos constituintes da disciplina de Artes. Desde 1971, torna-se complexo abordar o “ensino de música” nas escolas brasileiras quando a mais de 45 anos já não há mais música nas escolas no sistema educacional brasileiro. Em 2008, foi promulgada a lei nº. 11.769, que garante a obrigatoriedade da disciplina nas escolas de ensino básico do nosso país. A interpretação da lei quanto a aspectos quantitativos sobre a atual situação do ensino musical nas assim é P ág in a1 3 abordado por Gomes (2012): Embora muitos interpretem que a disciplina de música deverá ser obrigatória a partir de tal lei, ela infelizmente foi redigida e aprovada de modo a garantir apenas a obrigatoriedade do conteúdo de música na disciplina de Arte, esta sim, sendo obrigatória. Porém, seguindo o princípio da autonomia escolar, cada instituição de ensino poderá escolher as disciplinas que formarão a parte diversificada do currículo e distribuí-las na carga horária escolar, podendo então ser implantada a disciplina de música tanto no Ensino Médio ficando sua implantação a critério da instituição de ensino (GOMES, 2012). A atividade do professor é abordada por Marilena Chauí em seu artigo “A Universidade pública sob nova perspectiva” onde aponta que “a reforma do Estado reduziu a universidade como uma organização social e não como uma instituição social”. A organização refere-se ao conjunto de meios administrativos particulares para a obtenção de um objetivo particular. Assim, caracterizou a forma com o qual o professor é contratado e se processa sua atuação: “... o professor é contratado ou por ser um pesquisador promissor que se dedica a algo muito especializado, ou porque, não tendo vocação para pesquisa, aceita ser escorchado e arrochado por contratos de trabalho temporários e precários – ou melhor “flexíveis”. Desapareceu, portanto, a marca essencial da docência: a formação (CHAUÍ, 2003). Diante de tal quadro, a universidade reduzida a uma organização abandona a pesquisa para lançar-se em uma competição. Com tal direcionamento, se relega a um plano inferior a “reflexão, a crítica, assim como o exame de conhecimentos instituídos, sua mudança ou sua superação” (CHAUÍ, 2003). Na competição do mercado de trabalho, o candidato a emprego deverá apresentar um currículo com mais créditos que outros em crescente evolução. “Não importa se aprendi e sim se passei”, tem sido um recorte da mentalidade consumista. O capitalismo gera o tipo de consumo. As coisas são feitas para serem descartadas, o que acaba por gerar toda uma barbárie, desde o trânsito caótico ao celular e sua tecnologia transitória. De acordo com as reflexões e discussões da disciplina de Didática do Ensino P ág in a1 4 Superior do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará3 , um “doutor em educação” deve refletir e reconhecer-se como parte integrante do ambiente de aprendizagem. Para essa finalidade, é necessário a utilização das ferramentas, pois permitirá o acesso ao conhecimento e à cultura. As ferramentas construtivas se encontram ao repensarmos os conceitos dos pensadores com consciência crítica. Em um curso de pedagogia, é importante compreender a lógica dos problemas sociais e educacionais. Trabalhar a informação é insuficiente. Ao pensarmos a lógica, será possível um maior desenvolvimento da compreensão e do pensamento. A Universidade é uma construção coletiva e será o que fizermos com ela. Ela não existe sem esse pensamento. O cargo de professor em uma universidade pública federal requer um olhar mais humano. Não se pode estar satisfeito plenamente com alguém problemático ao nosso lado. A indiferença vai conduzindo os problemas a uma situação de gradativa complexidade e problemática. De acordo com Cunha (2001 apud GAUTHIER, 1999), a produção do conhecimento é condicionada por diversos aspectos o que modifica o objeto de estudo:“Gauthier (1999) lembra, com propriedade, que cada dispositivo do olhar e da observação modifica o objeto de estudo, por isso, nunca estudamos um objeto neutro, mas sempre um objeto implicado, caracterizado pela teoria e pelo dispositivo que permite vê-lo, observá-lo e conhecê-lo.”(CUNHA, 2001 apud GAUTHIER, 1999). Todo acesso ao conhecimento é revolucionário e tendo em vista sua interdisciplinaridade, é necessário destacarmos e reconhecermos os aspectos qualitativos da música e seu ensino como ferramenta de desenvolvimento humano. A música é uma construção social. A maior dificuldade da escola é o individualismo, porém a interdisciplinaridade ajuda no trabalho com o outro. É preciso se fazer alguma coisa como professor, pois do contrário, estaremos submetidos a uma repetição das práticas de nossos professores. Essa postura não se amolda a uma visão comprometida à construção de conhecimento com a inclusão social. A didática tem o papel de chamar a atenção para a cultura. A partir de agosto de 1933 foram criados os Cursos de Orientação e Aperfeiçoamento do Ensino de Música e Canto Orfeônico, constituídos de cursos- P ág in a1 5 conferências ministrados por Villa-Lobos às quintas-feiras que também contaram com a presença de convidados, tais como Lorenzo Fernandez (compositor), Andrade Muricy (crítico musical) e Frei Pedro Sinzig (compositor de música sacra e didática). Eram subdivididos em quatro cursos: 1. Curso de Declamação Rítmica (Califasia19): destinado a dar o preparo necessário para a iniciação do ensino musical as escolas, ministrando aos alunos “os princípios elementares do canto e da disciplina” (VILLA-LOBOS, 1946, p. 509). Esse curso era dirigido aos professores das escolas primárias que, juntamente com as demais disciplinas da grade curricular, ministrariam também as primeiras noções de música às crianças. Esse curso trabalhava o seguinte programa: (id, 1937a, p. 69-71): exortação; atitude dos orfeonistas; alguns conhecimentos da teoria da música; ritmo; compasso – como divisão simétrica do tempo (ritmo); declamação rítmica de frases pedagógicas; declamação rítmica dos hinos nacionais; declamação rítmica das principais canções patrióticas; califasia e califonia; a música como elemento indispensável à vida, processos de divulgação de sua utilidade; prática dos pontos mencionados. 2. Curso de Preparação ao Ensino do Canto Orfeônico: possuía a mesma finalidade do primeiro curso e, juntamente com esse, funcionou de 1933 a 1936 e em 1939, segundo VillaLobos (id, 1946, p. 509), cujo programa baseava-se em: exortação; atitude dos orfeonistas; P ág in a1 6 respiração; saudação orfeônica; o ritmo como base da disciplina da vontade como principal Em relação a esses cursos não são fornecidos maiores dados a respeito do conteúdo programático de cada disciplina e seus respectivos objetivos. Califasia: arte de falar com dicção e elegância. Califonia: arte de cantar (entoar) bem. Elemento da educação coletiva das escolas, servindo de introdução ao ensino de canto orfeônico; o compasso como divisão simétrica do tempo (ritmo) – confronto entre as frações compasso e as frações ordinárias; rudimentos de teoria da música; aplicação do diapasão e afinação orfeônica; ditado cantado e de ritmo (curto e fácil); manossolfa simples, falado e entoado entre cinco notas da escala (de dó a sol); dados simples da história da música; a música como elemento indispensável à vida – processos de divulgação de sua necessidade; prática dos pontos mencionados. 3. Curso Especializado de Música e Canto Orfeônico: destinava-se à formação de professores especializados, ou seja, professores de canto orfeônico propriamente dito, que trabalhariam ministrando essa disciplina nas escolas. O curso era direcionado aos professores das escolas primárias, técnicas e secundárias e para membros do orfeão de professores, tendo por objetivo “estudar a evolução dos fenômenos musicais, nos seus aspectos de ordem técnica, social e artística, visando uma aplicação direta ao ensino do canto orfeônico” (VILLA- LOBOS, 1946, p. 509). O programa de estudos contava com as seguintes disciplinas: canto orfeônico, regência, orientação prática, análise harmônica, teoria aplicada, solfejo e ditado, ritmo, técnica vocal e fisiologia da voz, história da música, estética musical, etnografia e folclore; 4. Curso de Prática do Canto Orfeônico: objetivava organizar reuniões entre os professores especializados para o debate de ideias e discussão de métodos, programas e observações em geral. Uma vez definida uma estrutura de formação de professores capazes de ministrar as primeiras noções de música e o canto orfeônico nas escolas públicas, P ág in a1 7 foi possível à SEMA também, além da implantação da disciplina nessas escolas, organizar grupos musicais e realizar atividades culturais junto à comunidade em geral, externando as atividades orfeônicas e seus ideais para além das escolas e atingindo a população do então Distrito Federal como um todo. Grupos musicais criados para incentivar as atividades culturais externas podem ser citados: Orfeão de Professores: criado em 1932, foi integrado posteriormente aos Cursos de Orientação e Aperfeiçoamento do Ensino de Música e Canto Orfeônico (1933), com objetivo de reunir professores do magistério municipal, federal e particular para a prática constante de exercícios de leitura vocal à primeira vista e realizar concertos e apresentações regulares em festividades públicas e escolares; Orquestra Villa-Lobos: organizada no ano de 1933, reproduzia a mesma finalidade do Orfeão de Professores, ao participar e promover concertos cívicos e educativos; Orfeões Escolares: consistiam em grupos criados em cada escola onde era ministrado o ensino de canto orfeônico. Eram compostos por 70 alunos selecionados (que apresentavam maiores aptidões musicais), no máximo, aos quais cabia também a responsabilidade de dirigir esses grupos e de se apresentar em ocasiões determinadas. Como atividades culturais realizadas na cidade do Rio de Janeiro, a SEMA organizou: 21 Mais adiante serão expostos os programas de ensino estabelecidos nas escolas públicas. Concentrações Orfeônicas: consistiam em demonstrações públicas realizadas por parte de grandes massas corais, que reuniam alunos e professores de diversas escolas do Rio de Janeiro, realizadas anualmente em datas cívicas. Essas apresentações eram realizadas geralmente em estádios de futebol e chegaram a reunir até 40.000 vozes, como aquela realizada nas comemorações ao Dia da Independência em 1940, no estádio do Vasco da Gama (CANDÉ, 1964, p. 263); Concertos da Juventude: consistiam numa série de concertos educativos realizados regularmente nos quais eram executas “músicas simples e P ág in a1 8 accessíveis à mentalidade infantil, precedidas de explicações e comentários” (VILLA-LOBOS, 1946, p. 514). O repertório envolvido ia desde o clássico ao folclórico, solicitando-se às crianças que enviassem a SEMA 37 (por intermédio dos professores), por escrito, impressões que tiveram ao ouvir o repertório apresentado; Concertos Culturais: concertos realizados em séries anuais nos quais eram apresentadas obras nacionais e estrangeiras para grande público, que incluía desde personalidades da política até classes operárias, para as quais também foram especificamente dedicados muitos desses concertos. Alguns eram realizados em associação com o Exército e com a Associação Orquestral do Rio de Janeiro, podendo-se destacar a apresentação de obras como Missa Papae Marcelli de Palestrina e a Missa Solemnis de Beethoven, em 1933, Oratório Vidapura de VillaLobos, em 1934 e a Missa em Si menor de Bach, em 1935; Concertos Educativos na Zona Rural: comas atividades da SEMA caracterizandose por sua atuação predominantemente urbana, direcionada às massas citadinas, Villa-Lobos notou a necessidade de que a extensão dessas atividades deveria atingir também as comunidades rurais, em cujas escolas havia a dificuldade da presença de professores especializados em canto orfeônico (baixa remuneração, falta de auxílio locomoção). Dessa forma foram organizadas pela SEMA apresentações orfeônicas em várias escolas dessas regiões; Audições da obra de J.S.Bach: para Villa-Lobos, a música de Bach seria “incontestavelmente a mais sagrada dádiva do mundo artístico” e, por isso, “sendo tão imensa e tão profunda, torna-se perigosa a sua divulgação nos meios sociais que não estejam devidamente iniciados para senti-la” (VILLA- LOBOS,1946, p. 524). Foi dessa maneira que a SEMA promoveu concertos com repertório bachiano, direcionado principalmente às classes operárias ou, como propôs Villa-Lobos (ib, p. 524), “obras de J. S. Bach para auditórios incultos”. Reuniões de Confraternização: reuniões de professores e alunos das escolas primárias, secundárias e técnicas eram estimuladas com a finalidade de P ág in a1 9 promover a 38 confraternização entre os mesmos. Nessas reuniões eram executados programas orfeônicos determinados pela SEMA; Bailados Artísticos: consistiam num programa em que participavam alunos selecionados das escolas públicas – alunos revelados pelo ensino de educação física e estudantes de desenho que demonstrassem aptidão para a cenografia, com a finalidade de criar bailados com temática essencialmente brasileira; Apresentações radiofônicas: foram organizadas várias apresentações de orfeões escolares, dirigidos por alunos-regentes, em programas infantis de diversas estações de rádio, contribuindo consideravelmente para uma maior divulgação dos ideais orfeônicos junto à população; Colônia de Férias: realizadas em parceria com a Escola de Educação Física do Exército e inauguradas em 1936, em que também constavam atividades orfeônicas, objetivavam atender crianças pobres; Bandas Recreativas: procurando promover paralelamente à prática do canto orfeônico um estudo instrumental, a SEMA coordenou a formação de bandas de música em algumas escolas secundárias, como Escola Pré-Vocacional Ferreira Viana, Escola João Alfredo e Escola Visconde de Mauá; “Sôdade do Cordão”: reconstrução, em 1940, da organização do antigo “cordão carnavalesco”, gênero de agremiação recreativo-popular que predominou até fins do século XIX. Em relação à sua organização administrativa, a estrutura da SEMA constava de um gabinete central composto pelo superintendente (o próprio Villa-Lobos), um assistente técnico, um encarregado do ensino instrumental e por um orientador assistente. Suas atividades eram 39 realizadas por cinco seções assim divididas (1937a, p. 4-6): a primeira delas constituía o centro de organização dos planos de ensino, englobando profissionais orientadores das diversas séries do ensino primário, secundário e técnico-secundário. Estendia-se também a departamentos externos como à rádio difusão, aos Cursos de Continuação e Aperfeiçoamento da Diretoria de Educação de Adultos e P ág in a2 0 Difusão Cultural, aos teatros particulares e às sociedades artísticas; a segunda seção ligava-se às atividades pedagógicas do orfeão de professores e ocupava-se do ensino na Escola José Pedro Varela, instituição onde eram primeiramente realizadas experiências da aplicação do ensino orfeônico que posteriormente seriam postas em práticas em outras escolas. Essa seção também se ligava ao ensino na Universidade do Distrito Federal (onde também havia um curso de formação de professores); a terceira seção cuidava do ensino instrumental para formação de banda e orquestra; a quarta seção, ligada diretamente ao gabinete central, responsabilizava-se pela cópia e mimeografação de músicas; e a quinta seção cuidava da gravação e impressão musicais. Nos documentos escritos por Villa-Lobos são citados os seguintes funcionários da SEMA: Ceição de Barros Barreto, Silvio Salema Garção Ribeiro, Arminda Neves d‟Almeida (secretária)22, Mário Braz da Cunha (gravador), Edmon Dutro (instrutor do ensino de instrumentos de madeira), Alvibar Nelson de Vasconcellos (instrutor do ensino de instrumentos de metal). Nesse texto, o compositor destacou que, embora houvesse existido interesse de grande parte do corpo docente que se inscreveu nos primeiros cursos de formação de que mais tarde tornou-se a segunda esposa de Villa-Lobos. 40 professores, além do interesse dos alunos ao receberem com entusiasmo a nova proposta, algumas pessoas parecem não ter tido receptividade à ideia: “certos elementos derrotistas surgiram, empregando todos os recursos possíveis para estabelecer a confusão e o desanimo no espirito dos que tão patriótica e abnegadamente se haviam proposto a pugnar pelo levantamento do nível artístico do nosso povo” (ib, p. 369). Contudo, em nenhum momento são identificadas de maneira específica essas pessoas citadas, também cunhadas de “mentalidades retrógradas, vaidosos tardígrados e mediocres falidos” (ib, p. 370). Villa-Lobos, em alguns momentos, fez a observação de que, na maioria dos casos, essas pessoas descrentes das possibilidades do canto orfeônico eram “musicos vencidos na carreira” (ib, p. 370). No texto também há a alusão a P ág in a2 1 educadores, embora também não sejam identificados: “[...] as nossas crianças que, além das muitas obrigações escolares, lutam contra a má vontade de (salvo algumas exceções) das nossas autoridades de ensino que julgam nulidade o ensino de canto orfeônico visando o mesmo, apenas o valor recreativo” (ib, p. 404). É interessante observar também que, segundo o compositor, o ensino orfeônico atingiu maiores resultados, assim como foi alvo de maior interesse, nas escolas femininas. Além dessa limitação imposta pela parcial falta de receptividade de alguns elementos da sociedade, Villa-Lobos também destacou a dificuldade em se implantar o ensino orfeônico em todas as escolas da municipalidade, devido à falta de professores especializados e também à falta de instalações adequadas, pois em algumas não havia salas, quadros, ou carteiras para os alunos. A tarefa de formação de professores de canto orfeônico, elemento estritamente necessário para sua implantação nas escolas públicas, primeiramente se restringiu à incumbência da SEMA, primeiro órgão criado para a difusão da prática orfeônica. Contudo, aos poucos, a formação de professores especializados e a coordenação das atividades orfeônicas foram se expandindo também para a tutela de outras instituições, como poderá ser visto a seguir. Universidade do Distrito Federal A Universidade do Distrito Federal (UDF), estabelecida no Rio de Janeiro em 1935 por Anísio Teixeira e logo extinta em 1939, quando seus cursos foram incorporados à Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ), possuía um Instituto de Artes que ministrava, entre outros, o Curso para Formação de Professores Secundários de Música e Canto Orfeônico, segundo Villa- P ág in a2 2 Lobos (1937b, p. 34), ministrado pelo próprio compositor. Esse curso compunha-se das seguintes disciplinas: história da música, fisiologia do canto coral, introdução ao estudo das artes, história da civilização, prática de regência e canto orfeônico. Estava baseado no seguinte princípio: “do indiferente para o consciente e do consciente para o subconsciente”. Essa expressão, assim como outra encontrada na coletânea de canções intitulada Canto Orfeônico, que diz que “O Ensino do Canto Orfeônico parte deste princípio filosófico: do consciente para o subconsciente” (VILLA-LOBOS, 1951, p. 6), trazem dados interessantes que remetema um sentido de “interiorização psicológica” contido no movimento orfeônico tal como foi desenvolvido, ou seja, um ideal de total assimilação de elementos e ideias contidos nesse movimento por parte da massa praticante, a ponto de se tornarem arraigados na personalidade de cada indivíduo por meio de uma “presença inconsciente”.. O Conservatório Nacional de Canto Orfeônico (CNCO) No ano de 1942, por meio do Decreto-Lei nº 4.993, de 26 de novembro, foi estabelecido o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, criado pelo Ministério da Educação e Saúde e subordinado ao Departamento Nacional de Educação. De acordo com o decreto, competia a essa instituição recém-criada: a) Formar candidatos ao magistério do canto orfeônico nos estabelecimentos de ensino primário e de grau secundário; b) Estudar e elaborar as diretrizes técnicas gerais que devam presidir ao ensino do canto orfeônico em todo o país; c) Realizar pesquisas visando à restauração ou revivescência das obras de música patriótica que hajam sido no passado expressões legítimas de arte brasileira e bem assim ao recolhimento das formas puras e expressivas de cantos populares do país, P ág in a2 3 no passado e no presente; d) Promover, com a cooperação técnica do Instituto Nacional de Cinema Educativo, a gravação em discos do canto orfeônico do Hino Nacional, do Hino da Independência, do Hino da Proclamação da República, do Hino à Bandeira Nacional e bem assim das músicas patrióticas e populares que devam ser cantadas nos estabelecimentos de ensino do país. A implantação do CNCO representou a concretização da expansão do movimento orfeônico para outras partes do país, o que gradativamente já vinha acontecendo. Anteriormente, os cursos de formação de professores oficialmente reconhecidos possuíam sua jurisdição restringida somente à cidade do Rio de Janeiro (sob orientação da SEMA, pertencente ao Departamento de Educação do Distrito Federal e, mais tarde, também sob a tutela da Universidade do Distrito Federal). A SEMA, entretanto, passou a aceitar, posteriormente à sua implantação, a matrícula de professores residentes em outros estados do país que, após o término de cursos de pequena duração, coordenavam atividades orfeônicas em seus respectivos estados e locais de trabalho. Com o tempo, pôde-se notar a difusão do ensino e prática do canto orfeônico para outros estados, tais como Pará, Pernambuco, Paraíba, Minas Gerais, Espírito Santo e Sergipe. O modelo de recolhimento de cantos folclóricos pelas diversas regiões do país seria inspirado na Missão de Pesquisas Folclóricas de 1938, idealizada por Mário de Andrade. Mas foi a partir da implantação do CNCO que os cursos oficiais de formação de professores de canto orfeônico passaram ao controle do governo federal, que então tomou a incumbência de coordenar e fiscalizar, em âmbito nacional, todas essas iniciativas da mesma natureza que já vinham surgindo em várias outras partes do país. Além disso, essa instituição tornou-se o estabelecimento padrão a que outras instituições com o mesmo objetivo – a formação de professores de canto orfeônico que ministrariam a disciplina nas escolas públicas – deveriam ser equiparadas ou reconhecidas, por meio de inspeção federal. P ág in a2 4 Dessa forma, tornou-se possível o surgimento de estabelecimentos oficiais semelhantes em outras regiões do país, sendo consolidada assim a expansão do ensino e prática orfeônica no Brasil. Algumas dessas instituições podem ser destacadas: Conservatório Paulista de Canto Orfeônico, localizado em São Paulo, estabelecido em 1947 por meio de decreto federal e criado a partir do Instituto Musical São Paulo (cujo diretor era o Maestro João Batista Julião) que, desde 1943, já possuía o Curso de Canto Orfeônico, equiparado ao modelo do CNCO, no Rio de Janeiro; Conservatório de Canto Orfeônico “Maestro Julião”, estabelecido em 1950 na cidade de Campinas – SP, anexo ao Conservatório “Carlos Gomes”; Conservatório Estadual de Canto Orfeônico de São Paulo (CECO), estabelecido em 1951 e criado a partir do Curso de Especialização de Professores de Canto Orfeônico que existia desde 1949 anexo ao Instituto Caetano de Campos, na capital paulista; Conservatório Bahiano de Canto Orfeônico, estabelecido na cidade de Salvador, no ano de 1950. O CNCO, que passou a funcionar no 7º andar do Edifício Piauí, sito à Av. Almirante Barroso, nº 72, Rio de Janeiro, e que mais tarde (1943) mudou-se para o Edifício Benjamin Constant, na Praia Vermelha, teve Villa-Lobos como diretor até o ano de sua morte (1959) e contou com professores como Lorenzo Fernandez, Andrade Muricy, Brazilio Itiberê, José Vieira Brandão, Iberê Gomes Grosso, entre outros (MARIZ, 1983, p. 75). Os cursos do CNCO dividiam-se em três categorias, como mencionado por Villa-Lobos (1946, p. 559): Curso de Férias, com a duração de dois meses; Curso de Emergência, com a duração de um semestre; e o Curso de Especialização ou Seriado, com a duração de dois anos, que era o curso que formava professores especializados no ensino de canto orfeônico propriamente dito. Havia também um curso de extensão para formação de músico-artífice. Contudo, no decreto-lei nº 9.494, de 22/07/1946, que promulga a Lei Orgânica do Ensino de Canto Orfeônico (que contém, entre outros, os programas e a grade curricular a ser ministrada no CNCO), são citados também: o Curso de Preparação, destinado aos alunos que não possuíam curso completo na Escola Nacional de Música ou estabelecimento equiparado ou reconhecido, a preceder o Curso de Especialização ou Seriado; Cursos de Aperfeiçoamento, facultativos e com a P ág in a2 5 duração de um ano, que seguiriam o Curso de Especialização. O principal curso – Curso de Especialização – contava com a grade curricular completa (que envolvia todas as disciplinas ministradas no CNCO), da qual algumas dessas disciplinas eram selecionadas para serem ministradas nos outros cursos paralelos e de menor duração. Esse programa geral de ensino contava com cinco seções curriculares e suas respectivas disciplinas, de acordo com Villa-Lobos (1946, p. 560 – 564) 25: 1. Didática do Canto Orfeônico: “Compreende a seriação de cinco matérias, abrangendo os indispensáveis conhecimentos técnicos, teóricos e práticos, em favor da pedagogia do Canto Orfeônico. Desse modo, enquadra e concentra a apuração de toda a atividade curricular do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico” (ib, p.560). As disciplinas constituintes eram as seguintes: Didática do Canto Orfeônico: disciplina ministrada na segunda série do Curso. No texto escrito por Villa-Lobos Educação Musical, publicado no Boletim Latino-Americano de Música (1946), o compositor tece maiores comentários a respeito dos objetivos e do conteúdo programático de cada disciplina ministrada nos cursos de formação de professores dessa instituição (p. 565 – 581). Especialização; Fisiologia da Voz: ministrada na primeira série do Curso de Especialização e também no Curso de Emergência; Polifonia Coral: ministrada nas duas séries do Curso de Especialização; Prosódia Musical: ministrada na segunda série do Curso de Especialização, no Curso de Preparação e no Curso de Emergência; Organologia e Organografia: ministrada na segunda série do Curso de Especialização. Prática do Canto Orfeônico: “Formada de quatro matérias e uma atividade escolar, orienta e coordena praticamente, (em aulas vivas entre os próprios professores – alunos do Conservatório) todos os conhecimentos teóricos da didática do Canto Orfeônico” (ib, p. 561). As disciplinas constituintes eram as seguintes: Prática do Canto Orfeônico: ministrada nas duas séries do Curso de Especialização; Teoria do Canto Orfeônico: ministrada na primeira série do Curso de Especialização e no Curso de Preparação;P ág in a2 6 Coordenação Escolar: presente na segunda série do Curso de Especialização e no Curso de Preparação; Prática de Regência: ministrada nas duas séries do Curso de Especialização. Formação Musical: “Prepara, desenvolve e aperfeiçoa a consciência de percepção, apreciação e execução dos principais fatores físicos, fisiológicos, psicológicos e instrutivos musicais” (ib, p.561). Seção curricular constituída das disciplinas: Didática do Ritmo e Didática do Som: ministradas na primeira série do Curso de Especialização e no Curso de Preparação; Didática da Teoria Musical: ministrada na primeira série do Curso de Especialização e no Curso de Preparação; Técnica Vocal: ministrada na segunda série do Curso de Especialização e no Curso de Emergência. Estética Musical (Musicologia): “Composta de três cadeiras, educa o senso crítico do professor-aluno, principalmente no que se refere aos valores nacionais” (1946, p. 561). Era constituída pelas seguintes disciplinas: História da Educação Musical: ministrada nas duas séries do Curso de Especialização; Apreciação Musical: ministrada nas duas séries do Curso de Especialização e no Curso de Preparação; Etnografia Musical e Pesquisas Folclóricas: ministrada nas duas séries do Curso de Especialização e no Curso de Preparação. Cultura Pedagógica: “Constituída de cinco matérias que completam a imprescindível cultura pedagógica do professor de Canto Orfeônico” (ib, p. 561). Disciplinas constituintes: Biologia, Psicologia e Filosofia Educacionais: ministradas nas duas séries do Curso de Especialização; Terapêutica pela Música: ministrada na primeira série do Curso de Especialização; Educação Esportiva: ministrada na primeira série do Curso de Especialização. Além dos cursos de formação de professores, uma vez sentida a necessidade da formação de auxiliares técnicos na área de serviços de cópias, gravação e impressão de música, devido ao aumento da demanda decorrente da expansão dos horizontes da prática orfeônica, o CNCO passou a oferecer um curso para a formação de profissionais especializados nesse ramo de atividades, novidade que até então não estava presente nos programas de outros órgãos competentes, como a SEMA. P ág in a2 7 O Curso de Formação de Músico Artífice contava então com as seguintes disciplinas, de acordo com a Lei Orgânica do Ensino do Canto Orfeônico: Prática do Ritmo, Prática do Som, Teoria Musical, Cópia de Música, Gravação Musical, Impressão Musical, Teoria do Canto Orfeônico e Educação Esportiva. No decreto-lei nº 9.494, de 22/07/1946, sobre a Lei Orgânica do Ensino de Canto Orfeônico é mencionado que o Curso de Preparação, além das disciplinas mencionadas, conta também em sua grade curricular com as seguintes matérias: Fisiologia da Voz, Organologia e Organografia, Técnica Vocal e Educação Esportiva. Além desses cursos curriculares, o CNCO também contava com atividades extracurriculares, tais como: • Centro de Coordenação: consistia em reuniões semanais em que professores e alunos candidatos ao magistério do canto orfeônico debatiam sobre observações e problemas pedagógicos; • Sabatinas Musicais: audições semanais em que se apresentavam alunos do curso e artistas convidados; • Pesquisas Musicais: pesquisa de material folclórico e resgate de obras de autores brasileiros. De acordo com o exposto, percebemos a clara evolução da estrutura e dos programas curriculares praticados nos cursos de formação de professores, evolução que acompanha o processo de expansão e da demanda das práticas orfeônicas por todo o país, passando o movimento orfeônico a ter sua prática constatada em âmbito nacional. Essa expansão, ao mesmo tempo, foi permitida por essa própria estrutura orgânica de formação de professores estabelecida ao longo dos anos, que vai desde o primeiro curso de formação de professores da SEMA (Curso de Pedagogia da Música e de Canto Orfeônico) até a complexa estrutura curricular do CNCO, estabelecimento padrão que inspirou o surgimento de demais instituições de formação de professores por outros estados do país. Uma vez exposta como se deu a evolução da estrutura de formação de professores especializados em canto orfeônico, elemento essencial para que a disciplina fosse implantada nas escolas públicas, será agora exposto como se deu a organização e a programação curricular paralela desse ensino nas referidas escolas. P ág in a2 8 Referências Bibliográficas ABRAHÃO, Ana Maria Paes Leme. A concepção de professores sobre talento musical e música na escola. In: XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós. Brasília: 2006. Artigo da disciplina de Didática do Ensino Superior do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará – Fortaleza – 2016. BRAGA, Simone M. Formação de grupos vocais: aprendizagem pela interação. In: Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais, maio de 2008, São Paulo. Anais do IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais. São Paulo: SIMCAM, 2008 BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental: Arte. 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