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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL MÓDULA TEORIA GERAL DO PROCESSO E PROCESSO DE CONHECIMENTO Professor: Eduardo de Avelar Lamy 1. Material pré-aula a. Tema Tutelas provisórias – urgência e evidência. b. Noções Gerais O Novo Código de Processo Civil foi elaborado sob as bases constitucionais da democracia e reflete a proposta de isonomia material. O resultado prático disto é evidenciado, dentre outras normas, pelas tutelas adequadas, que diante das peculiaridades do caso concreto, se prestam a assegurar, reconhecer ou efetivar o direito material. Conforme Humberto Theodoro Júnior: “As tutelas provisórias têm em comum a meta de combater os riscos de injustiça ou de dano, derivados da espera, sempre longa, pelo desate final do conflito submetido à solução judicial. Representam provimentos imediatos que, de alguma forma, possam obviar ou minimizar os inconvenientes suportados pela parte que se acha numa situação de vantagem aparentemente tutelada pela ordem jurídica material (fumus boni iuris). Sem embargo de dispor de meios de convencimento para evidenciar, de plano, a superioridade de seu posicionamento em torno do objeto litigioso, o demandante, segundo o procedimento comum, teria de se privar de sua usufruição, ou teria de correr o risco de vê-lo perecer, durante o aguardo da finalização do curso normal do processo (periculum in mora). Correspondem esses provimentos extraordinários, em primeiro lugar, às tradicionais medidas de urgência - cautelares (conservativas) e antecipatórias (satisfativas) - todas voltadas para combater o perigo de dano, que possa advir do tempo necessário para cumprimento de todas as etapas do devido processo legal.” 1 Segundo os ensinamentos de Araken de Assis: “O procedimento comum entrou em colapso em confronto com a urgência, instando o poder judiciário ao fornecimento de uma prestação jurisdicional instantânea, que se dá em razão dos anseios que enervam de uma sociedade contemporânea marcada pela velocidade com que as informações circulam e são obtidas, fazendo com que esta urgência, em certa medida, influencie e atenue a atividade cognitiva do judiciário, e generalize a adoção da cognição sumária em substituição a procedimentos incapazes de acompanhar esta evolução, a exemplo do mencionado procedimento comum”.2 É sob essa perspectiva de adequação que o novo ordenamento processual apresenta, como gênero, a tutela provisória; da qual urgência e evidência são espécies. A tutela de urgência pode ser requerida em regime antecedente ou incidente. Já a tutela de evidência, é sempre requerida de forma incidental. Uma vez deferida a tutela provisória, a legislação permite (art. 296 do CPC/2015), que ela conserve sua eficácia durante todo o trâmite do processo. A efetivação da medida, por sua vez, deve observar, no que couber, as normas dispensadas para o cumprimento provisória de sentença (art. 297, parágrafo único, do CPC/2015). Quando o processo for de competência originária dos tribunais ou quando lá estiverem em decorrência do recurso, o requerimento da tutela provisória deve ser dirigido ao órgão jurisdicional competente para a apreciação do mérito (art. 299, parágrafo único, do CPC/2015), devendo o relator decidir monocraticamente (art. 932, II, do CPC/2015). A tutela provisória é o gênero, ela se divide em tutela provisória urgente cautelar e tutela provisória urgente antecipada, por último 1 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. 2 ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume II: parte geral: institutos fundamentais: tomo 2. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. em tutela de evidência, sendo esta distinta das outras pelo fato de que não é necessária a demonstração do perigo de dano real, ou seja, basta a evidencia de um direito em que a prova de sua existência é clara, não sendo juridicamente adequada a demora na concessão do direito ao postulante, conforme dispõe o art. 294 do CPC de 2015. Tutela de Urgência Conforme Cásiio Scarpinella Bueno: A concessão da “tutela de urgência” pressupõe: (a) probabilidade do direito e (b) perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo (art. 300, caput). São expressões redacionais do que é amplamento consagrado nas expressões latinas “fumus boni iuris e periculum in mora, respectivamente.3 A tutela de urgência pode ser cautelar ou satisfativa. A tutela satisfativa é também conhecida como tutela antecipada de urgência, e se destina a permitir ao requerente a imediata realização prática, do direito alegado em juízo. Sendo cautelar, a tutela se destina a assegurar um futuro resultado útil do processo. Qualquer das duas espécies de tutela de urgência: cautelar ou satisfativa, apresenta, como requisitos: risco de dano iminente, decorrente da morosidade do processo, e a probabilidade de existência do Direito (art. 300, do CPC/2015). Para a tutela de urgência satisfativa, a legislação apresenta um terceiro requisito, de ordem negativa: não se admite tutela de urgência que produza efeitos irreversíveis (art. 300, §3º, do CPC/2015). Essa regra, entretanto, não é absoluta, e permite admite a concessão, quando houver risco de irreversibilidade recíproca. A legislação exige, para a concessão das tutelas de urgência, caução real ou fidejussória. Isso para proteger a parte contrária, que suporta 3 SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil– Vol. único. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. os efeitos da medida. Todavia, a hipossuficiência econômica pode dispensar a exigência da caução. A tutela provisória de urgência está disposta no artigo 300, do Novo Código de Processo Civil. O legislador quis mostrar a situação prevista em que será concedida a tutela de urgência. Havendo elementos que evidenciem a probabilidade do direito, é a forma de dizer que é fundamental ter um direito provado de modo satisfatório a respaldar o requerente. A fumaça do bom direito deve se fazer integrante ao caso, contudo o legislador não só previu a necessidade da probabilidade do direito, como também o perigo de dano ou risco ao resultado útil ao processo, isto é, tem que ter um direito de prova sumária, mas suficientes, tal como deve ser imediatamente amparado. Tratando do que dispõe o parágrafo primeiro do artigo 300, o juiz poderá requerer, antes da concessão, uma garantia real, ou seja, uma caução, que no CPC antigo era chamado de contra-cautela, visto que poderia sofrer perdas a parte contrária. Por outro lado, poderá haver dispensa de tal caução, em face da hipossuficiência da parte. Já o paragrafo segundo do artigo 300, mostra como e quando deverá vir o pedido pela antecipação dos efeitos da tutela urgente, podendo vir expressamente, através do pedido de liminar, sem a oitiva da parte contrária, após a consequente justificação. A novidade é que essa justificação prévia foi generalizada, podendo ser determinada para a concessão de qualquer tutela de urgência. Ela era prevista para as ações cautelares, a exemplo do artigo 802, parágrafo único, inciso II, e em outros procedimentos especiais, como as ações possessórias e, agora, foi generalizada para as demais ações. Somente será concedida a tutela de urgência se permitir a reversibilidade, caso exista o risco da tutela concedida ser considerada irreversível, não poderá, de início, ser objeto de outorga, haja vista ir em confronto com os princípios do contraditório e da ampla defesa. Tutela provisória de urgência cautelar No Código de Processo Civil de 2015, a tutela cautelar não necessita de processo apartado e autônomo. A tutela cautelarpermite ao juiz atuar com liberdade, de forma a evitar lesão grave ou de difícil reparação a quem tenha direito e recorra deste instrumento acautelatório. Atualmente a tutela cautelar integra e completa as tutelas de provisórias de urgência. Conforme o art. 294 do CPC a tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental. A tutela cautelar em caráter antecedente propriamente dita está disposta no art. 305, do CPC/2015. A redação do artigo 305 trata da necessidade formal de vir expressa na petição inicial a menção à tutela cautelar a ser perseguida pelo requerente, facultando-se a afirmação expressa quanto à pretensão de mérito, isto é, o que concerne ao pedido principal. Não obstante, constando o requerimento da tutela cautelar de natureza antecedente, o autor deve explanar os fatos resguardados pelo direito material, em especial, comprovando-se o perigo de dano e o resultado útil para o processo. Insta dizer que a tutela cautelar se diferencia da tutela antecipatória, entretanto seus requisitos e pressupostos são os mesmos. Acrescentaram-se também como pressupostos à probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, conforme artigo 300 do CPC/2015. Tutela provisória de urgência antecipada Segundo Bárbara Lupetti: ‘‘Nas tutelas antecipadas, é preciso demonstrar para o juiz que, além da urgência, o meu direito material estará em risco se eu não obtiver a concessão da medida. Já nas cautelares, eu preciso demonstrar, além da emergência, que a efetividade de um futuro processo estará em risco se eu não obtiver a medida de imediato “4. Caso o juiz entenda que o pedido de tutela cautelar traz elementos distintos da cautela ou prevenção, desde logo, constatando ser requerimento de natureza antecipada, seguirá os ditames do art. 302, do mesmo diploma legal, que diz respeito à tutela antecipada, prestigiando assim o principio da fungibilidade. O pedido de tutela antecipada demanda que a probabilidade seja quase inatacável, exigindo um imenso nível de verossimilhança. O magistrado deve estar convencido se a medida antecipatória deferida é conversível para não prejudicar uma das partes. Ademais pode ser deferida quando ficar configurado abuso do direito de defesa ou 4 LUPETTI, Bárbara. Como diferenciar as tutelas de urgência e evidência n o novo cpc. https://www.conjur.com.br/2016-fev-03/barbara-lupetti-tutelas-urgencia-evidencia-cpc intenção protelatória, independentemente do perigo da demora na solução da lide. Pelo seu caráter satisfativo é concedida apenas a requerimento da parte, em contraposição à medida cautelar que pode ser concedida de ofício ou a requerimento da parte interessada. Os artigos 303 e 304 tratam do procedimento da tutela antecipada requerida em caráter antecedente. Estabilização dos efeitos da tutela de urgência Uma das grandes inovações do instituto da tutela de urgência antecipada (satisfativa), trazidas pelo novo CPC, é a forma de requerimento em caráter antecedente, bem como a possibilidade de estabilização dos efeitos da tutela, artigos 303 e 304 do CPC. O art. 303 do novo CPC estabelece que “nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e o perigo de dano ou do risco ao resultado do processo”. Conforme lição de Fredie Didier Jr.: “A tutela de urgência satisfativa (antecipada) antecedente é aquela requerida dentro do processo em que se pretende pedir a tutela definitiva, no intuito de adiantar seus efeitos, mas antes da formulação do pedido de tutela final” 5·. Sendo assim, o autor, conforme art. 303 caput do CPC, deve requerer na inicial a tutela antecipada, indicando o pedido de tutela definitiva (que será formulada no prazo previsto para aditamento), expondo a lide e o direito pretendido, com a demonstração e observância dos pressupostos para concessão da medida, indicando também o valor da causa (considerado o pedido de tutela definitiva, artigo 303 §4º, do CPC) e, por fim, explicitando o interesse de valer-se do benefício, conforme artigo 305, § 5º do CPC. No caso de decisão que não conceda a tutela, por ausência de elementos que evidenciem o preenchimento dos pressupostos, o autor deverá ser intimado para que promova a emenda da petição inicial no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de indeferimento e de extinção do processo sem resolução do mérito, conforme assegura o § 6º do artigo 303, do novo CPC. Concedida a medida antecipatória, 5 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil Ed. Juspodivm. 20º ed.2018. conforme o inciso I, do § 1º, do art. 303 do CPC, o autor deverá, no prazo de quinze dias, aditar a petição inicial complementando sua argumentação, ocasião em que poderá juntar novos documentos e confirmar o pedido da tutela final. O aditamento previsto será efetuado nos mesmos autos do pedido de antecipação de tutela (§3º, 303 CPC), sem a incidência de novas custas. A inobservância deste procedimento resultará na extinção do processo, §2º do art. 303 do CPC, sem resolução de mérito. Neste sentido, Marinoni: “No caso em que a tutela é concedida e não se estabiliza (art. 304, CPC), o autor tem o ônus de aditar a petição inicial sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito (art. 303, § 2º, CPC) e, assim, cessação da eficácia da tutela. Frise-se que o aditamento só é necessário quando a tutela antecipada não se estabiliza, ou seja, quando o réu interpõe agravo de instrumento quando intimado da efetivação da tutela antecipada (...) O aditamento, como não poderia ser diferente, deve ser feito nos mesmos autos e sem incidência de novas custas processuais (art. 303, § 3º do CPC)” 6 . No caso de concessão da tutela, o juiz deverá citar e intimar o réu para audiência de conciliação ou de mediação na forma do art. 334, ocasião em que, inexistindo autocomposição, o prazo para contestação observará a regra do art. 335, I, do CPC, de 15 dias. A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos respectivos efeitos só será afastada por decisão que a revir, reformar ou invalidar, proferida em ação ajuizada por uma das partes no prazo de 2 (dois) anos, conforme preceitua o § 6º do artigo 304. Vale ressaltar que de acordo com essa decisão, é cabível apelação nos termos do artigo 1009, § 1º, do CPC/2015, visto ser sentença terminativa. Assim sendo, supondo que a parte não recorra da decisão que defere a tutela antecipada, também poderá ajuizar outra ação objetivando rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada, desde que dentro do prazo de 2 (dois) anos, com fulcro no § 6º do exposto artigo. 6 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil. Ed. RT, 3º ed, 2017. Tutela provisória de urgência incidental Conforme lição de Fredie Didier Jr.: “A tutela provisória incidental é a aquela requerida dentro do processo em que se pede ou já se pediu a tutela definitiva, no intuito de adiantar seus efeitos. É requerimento contemporâneo ou posterior à formulação do pedido de tutela definitiva. A tutela provisória antecedente é aquela que deflagra o processo em que se pretende, no futuro, pedir a tutela definitiva. É requerimento anterior à formulação do pedido de tutela definitiva e tem por objetivo adiantar seus efeitos. Primeiro pede-se a tutela provisória, só depois, pede-se a tutela definitiva” 7·. No caso da tutela provisória de urgência de natureza cautelar Incidental,que é pleiteada no decorrer do processo, ou diretamente na peça inicial, junto com o pedido principal, conforme prevê o artigo 301 do CPC. Nesta modalidade de tutela provisória de urgência de natureza cautelar incidental não se busca a antecipação do mérito, nesta fase é almejado tão somente o resguardo do direito da parte Requerente. A diferença da tutela provisória de urgência de natureza cautelar incidental para a tutela provisória requerida em caráter antecedente é que aquela é pleiteada na peça inicial propriamente dita ou no decorrer da demanda, sem a necessidade de apresentar peça complementar, como ocorre na modalidade antecedente. A decisão que defere a tutela provisória de urgência de natureza cautelar incidental poderá ser atacada por intermédio do Recurso de Agravo de Instrumento. Sendo assim, independente da tutela provisória de urgência de natureza cautelar incidental ser deferida ou não, a parte contrária será citada para apresentação de contestação, pelo prazo de 15 (quinze dias) úteis, conforme asseverado no artigo 335 do Código de Processo Civil vigente. 7 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil Ed. Juspodivm. 20º ed.2018. Tutela de Evidência A tutela de evidência, enquanto espécie de tutela provisória, tem natureza satisfativa. Trata-se de tutela não definitiva e ao mesmo tempo desvinculada da urgência que caracteriza as tutelas cautelares e antecipatórias. A tutela de evidência foi concebida para os casos em que há probabilidade máxima da existência do direito material. Para Didier: “A sua instituição visa à valorização e proteção do direito evidente, tendo em vista que o tempo necessário para a obtenção da tutela definitiva não deve ser suportado pelo titular de direito assentado em afirmações de fato comprovadas, que se possam dizer evidentes, sob pena de violação ao princípio da igualdade. Isso se dá pois, em certas ocasiões, o direito invocado pelo autor detém tamanho grau de probabilidade que há evidência concreta desse direito” 8. Segundo Bruno Bodart: “A Tutela de Evidência consiste na técnica de distribuição, entre autor e réu, dos ônus decorrentes do tempo do processo, que, baseada no alto grau de verossimilhança e credibilidade da prova documental apresentada, concede ao autor em sede de cognição sumária a tutela jurisdicional quando há demonstração prima facie da existência de seu direito, para que a morosidade judiciária não favoreça a parte a quem não assiste razão em detrimento daquele que a tem, transformando o processo numa arma letal contra o detentor de direito evidente”9. Uma observação, contudo, deve ser feita: a Tutela de Evidência não se confunde com o julgamento antecipado do mérito, porque decorre de atividade de cognição sumária do Juiz, não sendo apta, destarte, a fazer coisa julgada material, a qual somente pode nascer de decisão judicial proferida após cognição exauriente, conforme ensinamento de Humberto Theodoro Junior: “Não é, porém, no sentido de uma tutela rápida e exauriente que se concebeu a tutela que o novo Código de Processo Civil denomina 8 Ibidem. 9 BODART, Bruno Vinícius da Rós. Tutela de Evidência – Teoria da cognição, análise econômica do direito processual e comentários sobre o novo CPC. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. tutela de evidência, que de forma alguma pode ser confundida com um julgamento antecipado da lide, capaz de resolvê-la definitivamente” 10. Portanto, o acesso do autor ao bem da vida quando seu direito é demonstrado de plano não se confunde com o julgamento antecipado total ou parcial do mérito de que tratam os artigos 355 e 356, do CPC. Seu deferimento se justifica pelo abuso do direito de defesa ou ato manifestamente protelatório. Nessa hipótese, a tutela assume um caráter sancionatório. Outra hipótese de deferimento se justifica quando as alegações sobre os fatos deduzidos pelo autor, puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver súmula vinculante ou tese firmada em julgamento de casos repetidos. Tratam-se, portanto, de dois requisitos: prova documental pré-constituída e a existência de tese firmada em súmula ou julgamento de causas repetidas. Conforme Bodart: “Como se vê, diferentemente das demais espécies de Tutela Provisória, a Tutela de Evidência é uma tutela “não urgente”, porque não exige demonstração do perigo de dano (periculum in mora), baseando-se unicamente na Evidência, isto é, num juízo de probabilidade, na demonstração documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do Autor, ou seja, uma espécie de fumus boni iuris de maior robustez “11. A primeira hipótese de Tutela de Evidência (art. 311, I, CPC), relembrando a redação do art. 273, II, do CPC/73, faz do instituto verdadeiro instrumento protetor da boa-fé e lealdade processual, reprimindo práticas protelatórias ou que caracterizem abuso do direito de defesa. Significa dizer que o Juiz, como gestor do processo, deve estar atento a manifestações do Réu que excedam os limites do Princípio da Eventualidade quando do exercício do contraditório no processo, 10 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. 11 BODART, Bruno Vinícius da Rós. Tutela de Evidência – Teoria da cognição, análise econômica do direito processual e comentários sobre o novo CPC. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. tais como o uso de expedientes protelatórios e fraudulentos que visam tumultuar a marcha processual, apresentação de provas de idoneidade duvidosa que visem ludibriar e confundir o magistrado, ou violação ao dever de cooperação do artigo 6º, do CPC. Conforme Donizetti: “Todavia, o direito do autor não nasce com o simples abuso do direito de defesa do réu. É necessário, portanto, que seu direito seja verossímil, provável. O abuso do direito de defesa, puro e simples, não enseja a concessão da medida” 12. Já Scarpinella Bueno assevera que “(...) o abuso do direito de defesa do réu ou o seu manifesto propósito protelatório nada diz, por si só, com relação à evidência do direito do autor, que, por isto, deve também ser demonstrada (...)” 13. A segunda hipótese de tutela de evidência (art. 311, II, CPC) tem cabimento quando há prova documental robusta pré-constituída, e quando há tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em precedente jurisprudencial obrigatório (súmulas vinculantes do Supremo Tribunal Federal). A terceira hipótese de tutela de evidência (art. 311, III, CPC) surgiu para substituir a antiga Ação de Depósito dos artigos 901 a 906 do CPC/73. Assim, estando devidamente instruída a petição inicial, o juiz expedirá ordem liminar para a entrega da coisa que se encontre em poder do demandado, podendo aplicar multa em caso de descumprimento da ordem judicial, conforme Bodart. 14 Note-se que o novo Código, diferentemente do CPC revogado, não mais fala em “multa diária”, mas tão-somente em “multa”. Significa dizer que o julgador aplicará multa em valor suficiente e razoável apto a compelir o devedor ao cumprimento forçado da obrigação, podendo majorar ou reduzir o valor arbitrado este for excessivo ou irrisório, ou até mesmo excluí-lo, conforme dispõe o artigo 537, do novo CPC, sendo o exequente o credor da multa. 12 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. São Paulo: Atlas, 2017. 1.588 p. 13 BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2017.p. 752 14 BODART, Bruno Vinícius da Rós. Tutela de Evidência – Teoria da cognição, análiseeconômica do direito processual e comentários sobre o novo CPC. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. A quarta e última hipótese de Tutela de Evidência (art. 311, IV, CPC) tem cabimento quando o autor instrui a petição inicial com prova documental suficiente dos fatos constitutivos de seu direito, contra o qual o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável. Conforme Clarissa Vencato: “Em outras palavras, a partir do momento em que o réu, ao exercer o contraditório, não se desincumbe do ônus de apresentar fato modificativo, impeditivo ou extintivo do direito do autor por meio de prova documental apta a desacreditar as provas que instruem a inicial, torna o direito do autor ainda mais robusto e dotado de credibilidade, permitindo, assim, o pronto acesso deste ao bem da vida pleiteado sem que tenha de aguardar o trânsito em julgado da demanda” 15. É importante esclarecer, contudo, que a robustez e confiabilidade da prova carreada pelo autor, contra a qual o réu não oponha dúvida razoável, baseia-se num juízo de probabilidade, e não de certeza, por se tratar de medida concedida em sede de cognição sumária, até porque somente pode-se aferir certeza após a atividade de cognição exauriente. c. Legislação Lei nº. 13.105/2015 – Novo Código de Processo Civil (artigos 294 a 311, 932) d. Julgados/Informativos AGRAVO INTERNO NO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À CONCESSÃO DA TUTELA ALMEJADA. 1. O deferimento de tutela provisória de urgência pressupõe a 15 SILVA, Clarissa Vencato Rosa da. Considerações sobre a tutela de evidência do novo Código de Processo Civil. http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI243754,51045- Consideracoes+sobre+a+tutela+de+evidencia+do+novo+Codigo+de+Processo. Acesso em 16/02/2019. Demonstração de elementos que evidenciem a probabilidade do direito alegado e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. 2. No caso concreto, a agravante não logrou demonstrar a existência dos requisitos autorizadores. 3. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (STJ, AgInt no TP 1642 / SP, Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, T3 - TERCEIRA TURMA, 15/10/2018) AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA DE URGÊNCIA. SÚMULA 735 DO STF. MATÉRIA QUE DEMANDA REEXAME DE FATOS E PROVAS. SUMULA 7 DO STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Em sede de recurso especial contra acórdão que nega ou concede antecipação de tutela, o exame feito por esta Corte Superior restringe-se à análise dos dispositivos relacionados aos requisitos da tutela de urgência ficando obstado verificar-se a suposta violação de normas infraconstitucionais relacionadas ao mérito da ação principal. Precedentes. 2. A concessão ou revogação da antecipação da tutela pela instância recorrida fundamenta-se nos requisitos da verossimilhança e do receio de dano irreparável ou de difícil reparação aferidos a partir do conjunto fático-probatório constante dos autos, sendo defeso ao Superior Tribunal de Justiça o reexame dos aludidos pressupostos, em face do óbice contido na Súmula 7 do STJ. 3. Esta Corte, em sintonia com o disposto na Súmula 735 do STF (Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar), entende que, via de regra, não é cabível recurso especial para reexaminar decisão que defere ou indefere liminar ou antecipação de tutela, pois "é sabido que as medidas liminares de natureza cautelar ou antecipatória são conferidas à base de cognição sumária e de juízo de mera verossimilhança. Por não representarem pronunciamento definitivo, mas provisório, a respeito do direito afirmado na demanda, são medidas, nesse aspecto, sujeitas à modificação a qualquer tempo, devendo ser confirmadas ou revogadaspela sentença final. Em razão da natureza precária da decisão, em regra, não possuem o condão de ensejar a violação da legislação federal." (AgRg no REsp 1159745/DF, Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 11/05/2010, DJe 21/05/2010). 4. Agravo interno não provido. (STJ, AgInt no AREsp 1292463 / RS, Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, T4 - QUARTA TURMA, 23/08/2018) AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGATIVA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. TUTELA DE URGÊNCIA PREVISTA NO ART. 300 DO CPC/2015. COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS. LIVRE CONVENCIMENTO DO MAGISTRADO. PODER GERAL DE CAUTELA DO JUÍZO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. DECISÃO PRECÁRIA. SÚMULA 735/STF. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. No tocante à alegação de contrariedade aos arts. 1.022 e 489 do CPC/2015, sem razão a recorrente, pois o col. Tribunal de origem decidiu a matéria de forma fundamentada, tendo analisado as questões que entendeu necessárias para a solução da lide, não se podendo confundir decisão contrária aos interesses da parte como sendo deficiência ou negativa de prestação jurisdicional. 2. Não cabe, em regra, recurso especial com o escopo de reexaminar decisão ou acórdão que concede ou não medida liminar ou antecipação da tutela, tendo em vista a natureza precária de tal provimento, que não enfrenta, em cognição exauriente, o mérito da demanda. 3. A reforma do julgado demandaria, necessariamente, o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, providência incompatível com a via estreita do recurso especial, nos termos da Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça. 4. "Esta Corte, em sintonia com o disposto na Súmula 735 do STF (Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar), entende que, via de regra, não é cabível recurso especial para reexaminar decisão que defere ou indefere liminar ou antecipação de tutela, em razão da natureza precária da decisão, sujeita à modificação a qualquer tempo, devendo ser confirmada ou revogada pela sentença de mérito. Apenas violação direta ao dispositivo legal que disciplina o deferimento da medida Autorizaria o cabimento do recurso especial, no qual não é possível. decidir a respeito da interpretação dos preceitos legais que dizem respeito ao mérito da causa" (AgInt no AREsp 980.165/BA, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 06/02/2018, DJe 09/02/2018). 5. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ, AgInt no AREsp 1145391 / RJ, Ministro LÁZARO GUIMARÃES, T4 - QUARTA TURMA, 26/06/2018) PROCESSO CIVIL E CIVIL. AGRAVO INTERNO NO PEDIDO INCIDENTAL DE TUTELA PROVISÓRIA DE EVIDÊNCIA EM AÇÃO RESCISÓRIA QUE OBJETIVA A SUSPENSÃO DOS ATOS EXECUTÓRIOS DA SENTENÇA CONDENATÓRIA REFERENTE AO PENSIONAMENTO MENSAL DO RÉU. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS. 1. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo quando a petição foi instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável, o que não é a hipótese dos autos. 2. Agravo interno não provido. (STJ, AgInt na AR 5905 / PR, Ministra NANCY ANDRIGHI, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, 22/02/2017) e. Leitura sugerida BRUSCHI, Gilberto Gomes. Recuperação de Crédito. Prática e Estratégia. Ed. RT. 2017. BODART, Bruno Vinícius da Rós. Tutela de Evidência – Teoria da cognição, análise econômica do direito processual e comentários sobre o novo CPC. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 1ª edição. São Paulo: Editora Atlas. 2017. GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Teoria geral do processo: comentários ao CPC de 2015: parte geral. São Paulo: Forense, 2015. LAMY, Eduardo de Avelar. Teoria Geraldo Processo, Atlas, 2018. LUCON, Paulo Henrique dos Santos; MIRANDA, Pedro Miranda et al. Panorama atual do novo CPC. 1. Ed. Florianópolis: Empório do Direito, 2016. NERY JÚNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado. Ed. RT, 2018. SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil– Vol. único. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Direito Processual Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. f. Leitura complementar DONIZETTI, Elpídio. Tutela da Evidência. http://genjuridico.com.br/2016/11/23/tutela-da-evidencia/. Acesso em 16/02/2019 FAGUNDES, Cristiane Druve Tavares. Breves apontamentos sobre a tutela de Evidência no NCPC. https://emporiododireito.com.br/leitura/breves-apontamentos-sobre- a-tutela-de-evidencia-no-ncpc-por-cristiane-druve-tavares-fagundes. Acesso em 16/02/2019 LUPETI, Barbara. Como diferenciar as Tutelas de Urgência e Evidência no novo CPC. https://www.conjur.com.br/2016-fev- 03/barbara-lupetti-tutelas-urgencia-evidencia-cpc. Acesso em 16/02/2019 OLIVEIRA, Andreia Vecina. As tutelas provisórias de urgência e evidência no novo cpc e seus efeitos na advocacia contenciosa. https://lex.com.br/doutrina_27501934_AS_TUTELAS_PROVISORIAS_ DE_URGENCIA_E_EVIDENCIA_NO_NOVO_CPC_E_SEUS_EFEITOS_NA _ADVOCACIA_CONTENCIOSA.aspx. Acesso em 16/02/2019 OLIVEIRA, Bruna Alcântara Machado de.A tutela de urgência no novo Código de Processo Civil. http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_ id=19390&revista_caderno=21. Acesso em 16/02/2019 ORTEGA, Flavia. Entenda a tutela de urgência no novo CPC. https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/378028322/entenda -a-tutela-de-urgencia-do-novo-cpc. Acesso em 16/02/2019 PRUSSAK, Jucineia. Tutela de Urgência no novo CPC. https://jucineiaprussak.jusbrasil.com.br/noticias/315646947/tutela- de-urgencia-novo-cpc. Acesso em 16/02/2019. RODRIGUES, Daniel Colgnato.Tutela Antecipada e Tutela Cautelar no CPC 2015. O problema da Unificação de seus pressupostos. https://emporiododireito.com.br/leitura/tutela-antecipada-e-tutela- cautelar-no-cpc-2015-o-problema-da-unificacao-de-seus- pressupostos-por-daniel-colnago-rodrigues. Acesso em 16/02/2019 SILVA, Clarissa Vencato Rosa da. Considerações sobre a tutela de evidência no novo Código de Processo Civil. https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI243754,51045- Consideracoes+sobre+a+tutela+de+evidencia+do+novo+Codigo+de +Processo. Acesso em 16/02/2019
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