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13/08/2019 SECAD www.portalsecad.com.br/demoArtigo.php?programa=64&utm_campaign=interesse_-_envio_de_material_-_artigo_-_a_-_profisioesp&utm_mediu… 1/9 IMAGÉTICA MOTORA E LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS JÚLIO GUILHERME SILVA DÉBORA CRISTINA LIMA DA SILVA ■ INTRODUÇÃO A imagética motora (IM) pode ser definida como um processo mental que ocorre quando “uma representação, do tipo criado durante as fases iniciais da percepção está presente, mas o estímulo não está sendo realmente percebido; tais representações preservam as propriedades perceptuais do estímulo e podem causar a experiência subjetiva da percepção”. Existem diversos tipos de imagética, como a visual, a auditiva e a motora. O processo de IM tem sido investigado há mais de um século. A IM pode ser definida como um processo de prática mental que ocorre quando uma representação, criada durante as fases iniciais da percepção do movimento. Isso ainda envolve, mentalmente, processos visuais e cinestésicos, o que origina atividades corticais nas áreas relacionadas à motricidade somática, sem gerar um movimento efetivo. Um dos estudos pioneiros nesse campo foi o de Francis Galton, em 1883. Em um dos seus trabalhos, a pesquisa foi fundamentada em questionários e instruções para a realização de tarefas motoras mentais. A variável avaliada era o grau de “nitidez” das tarefas executadas, ou seja, o quanto o indivíduo conseguia realmente imaginar o solicitado. Já os experimentos de Lacourse e colaboradores demonstraram que os mesmos circuitos neuronais ativados ao fazer um movimento real da mão também são ativados quando se realiza a IM. Nas últimas três décadas, as evidências científicas apontam que a IM está contida na mesma categoria de processos corticais que envolvem a organização, o planejamento e a preparação para execução da ação motora. Entretanto, sem desencadear o gesto motor propriamente dito. Dessa forma, em função da sua complexidade, a IM pode ser explicada por informações armazenadas nos t i l i d t l à ã d i t l tá i I i t 1 2 3 3 4,5 6 4,5 4,5 13/08/2019 SECAD www.portalsecad.com.br/demoArtigo.php?programa=64&utm_campaign=interesse_-_envio_de_material_-_artigo_-_a_-_profisioesp&utm_mediu… 2/9 componentes neurais relacionados ao controle e à execução do movimento voluntário. Isso incorpora componentes corticais cognitivos e neuromusculares. Por outro lado, além dos pontos supracitados, a IM tem, ainda, a influência de aspectos psicossomáticos, psíquicos e cinestésicos. Todos os pontos devem ser considerados durante sua análise e pesquisa. ■ OBJETIVOS Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de identificar os principais aspectos da IM e suas implicações na abordagem das disfunções musculoesqueléticas no esporte; aplicar as técnicas de IM como estratégia cinesioterapêutica no tratamento fisioterapêutico no esporte. ■ ESQUEMA CONCEITUAL ■ MODALIDADES DE IMAGÉTICA MOTORA As modalidades da IM podem ser divididas como visual, cinestésica e emocional. Referente à sua aplicação, o sujeito pode executar o processo mental na perspectiva de primeira ou terceira pessoa (Figura 1). Figura 1 — Principais tipos de IM. Fonte: Elaborada pelos autores. A IM visual em primeira pessoa corresponde a imaginar a tarefa motora como se estivesse vendo, por exemplo, seu próprio braço ou sua perna durante o movimento. Em terceira pessoa, pode-se associar essa modalidade à observação de um vídeo, isto é, o indivíduo está observando outra pessoa executar o movimento. Sobre a classificação cinestésica em primeira pessoa, o indivíduo deve se sentir como se o seu corpo estivesse se movimentando; busca-se obter sensações relacionadas às contrações musculares e à posição dos segmentos corporais no espaço. Em terceira pessoa, há um grau maior de dificuldade na tarefa mental, pois uma perspectiva externa pode desencadear sensações de movimento; entretanto, Callow e Hardy, no seu experimento, demonstraram que é possível um indivíduo obter a sensação de movimento, mesmo imaginando-se em terceira 7 + + 8 13/08/2019 SECAD www.portalsecad.com.br/demoArtigo.php?programa=64&utm_campaign=interesse_-_envio_de_material_-_artigo_-_a_-_profisioesp&utm_mediu… 3/9 pessoa. Já a categoria de IM emocional pode ser definida como atividades de prática mental, desencadeada por estímulos emocionais que têm a capacidade de modificar comportamentos motores em uma determinada tarefa ou estratégia motora. Apesar da ampla utilização no campo da psicoterapia, pode ser aplicada no desporto como ferramenta para resolução de problemas psicoemocionais, como, por exemplo, estresse e ansiedade. Também se pode destacar seu o uso no tratamento de dores crônicas e na cinesiofobia. ■ NÍVEIS DE PERCEPÇÃO DA IMAGÉTICA MOTORA Como a IM se trata de uma tarefa cognitiva, há capacidade de imaginação do movimento e depende de alguns fatores, sendo que, durante tal atividade, a nitidez das imagens não ocorre com o mesmo nível de “clareza” em todos os indivíduos. Algumas pessoas apresentam maior capacidade na execução mental de movimentos do que outras. Por exemplo, no estudo de Campos e colaboradores, eles concluíram que homens tendem a realizar tarefas mentais com uma facilidade muito maior do que mulheres, assim como os indivíduos jovens, quando comparados com a população idosa. Além do processo de imaginação, outro fator que está diretamente envolvido a IM é o tempo de duração. Gentili e colaboradores compararam as formas de tarefa mental e real durante o movimento de mirar um alvo com o braço nas condições de troca de velocidade e precisão. Foram analisados 40 indivíduos, predominantemente destros, divididos em quatro grupos de 10 pessoas, a saber: físico, aquele que realizava a tarefa; mental, que fazia uso da IM; controle ativo, em que os participantes faziam movimentos dos olhos por meio dos alvos; controle passivo, no qual os indivíduos não receberam qualquer formação específica de como apontar o braço. Durante o experimento referido, foi solicitado aos participantes do grupo físico que realizassem a ação o mais rápido e preciso possível em direção aos alvos colocados no plano frontal. Os movimentos do braço foram feitos em dois diferentes espaços de trabalho chamados caminhos direito e esquerdo. As variáveis de aceleração, velocidade do movimento e atividade elétrica muscular dos músculos do braço foram analisadas. Os resultados demonstraram que, após o treinamento físico e mental no caminho certo (trajeto de treinamento), a duração do movimento da mão e a aceleração de pico diminuíram e aumentaram, respectivamente. No entanto, a melhora do desempenho motor foi maior após a prática física comparada à prática mental. Observou-se, também, no estudo de Gentili e colaboradores, uma generalização de aprendizagem parcial, ou seja, um aumento do desempenho motor para o caminho da esquerda (caminho não treinado). A quantidade dessa generalização foi aproximadamente semelhante para os grupos físicos e mentais. Além disso, enquanto a atividade muscular do braço aumentou progressivamente durante o período de treinamento para o grupo físico, a atividade dos mesmos músculos para o grupo mental foi inalterada e comparável com os que ficaram em repouso. Os grupos-controles não apresentaram qualquer melhoria. Esses achados apontam a ideia de que o treinamento mental facilita o aprendizado motor e permite sua transferência parcial para áreas de trabalho próximas. Eles sugerem, ainda, que a predição motora, um processo comum durante os movimentos reais e imaginados, é uma operação fundamental tanto para o controle sensório-motor quanto para a aprendizagem. Existem, atualmente, diversas metodologias de avaliação da capacidade de imaginar uma determinada tarefa motora. Dentre as principais ferramentas avaliativas, destacam-se os questionários que focam as perguntas sobre as sensações e a “clareza” percebida durante a imaginação de tarefas ou objetos. Os instrumentos de avaliação mais utilizados são: Psychological Skills Inventory in Sports (PSIS). Imagery UseQuestionnaire (IUQ). Vividness Movement Imagery Questionnaire (VMIQ). Mental Rotations Test (MRT). Brooks Matrix Task. Scale of Vividness of Mental Imagery. Revised Movement Imagery Questionnaire (MIQ-R). 1. Francis Galton, em 1883, criou o marco conceitual sobre o significado do grau de “nitidez” das tarefas realizadas por meio da IM. Em relação a isso, assinale a alternativa correta. A) A nitidez significava o quanto o indivíduo conseguia realmente imaginar o solicitado. B) A nitidez significava o quanto o indivíduo conseguia olhar para seu braço ao realizar o movimento. C) A nitidez era quanto Galton conseguia observar seus movimentos ao mesmo tempo em que os imaginava. 9 10 ATIVIDADES 13/08/2019 SECAD www.portalsecad.com.br/demoArtigo.php?programa=64&utm_campaign=interesse_-_envio_de_material_-_artigo_-_a_-_profisioesp&utm_mediu… 4/9 D) A nitidez, de acordo com Galton, nada mais era a capacidade de pensar em um movimento e realizá-lo logo em seguida. Confira aqui a resposta 2. Das alternativas a seguir, qual representa as principais modalidades de IM? A) Cinestésica, motora e usual. B) Visual, motora e auditiva. C) Visual, cinestésica e emocional. D) Emocional, usual e motora. Confira aqui a resposta 3. Em relação ao processo de IM visual, é correto afirmar que A) durante a sua prática, pode-se realizar a IM visual apenas em primeira pessoa. B) a IM visual apenas promove efeitos quando a pessoa assiste a um vídeo sobre o movimento a ser desenvolvido/realizado. C) é impossível obter resultados positivos no controle motor quando se realiza a IM visual em terceira pessoa. D) os resultados das pesquisas apontam que, na IM visual tanto em primeira quanto em terceira pessoa, há ganhos para a realização de movimentos. Confira aqui a resposta 4. Como a IM cinestésica pode ser caracterizada? A) O indivíduo deve se sentir como se o seu corpo estivesse se movimentando. B) O indivíduo deve observar uma segunda pessoa a realizar o movimento, como se o seu corpo estivesse se movimentando de forma igual. C) O indivíduo não deve se sentir como se o seu corpo estivesse se movimentando. D) O indivíduo deve se sentir e, ao mesmo tempo, realizar o movimento que o terapeuta solicitar. Confira aqui a resposta ■ APRENDIZAGEM MOTORA E IMAGÉTICA MOTORA Um dos principais objetivos para realizar uma intervenção fisioterapêutica por meio de IM na reabilitação é o estímulo causado no sistema nervoso central (SNC). As alterações plásticas promovidas pela IM fazem com que haja uma reorganização da função motora que apresenta déficit, seja por lesão central ou periférica. Com a melhor compreensão dos mecanismos que envolvem os processos de IM, novos pontos de aplicação têm sido discutidos. Nesse prisma, pode-se destacar a aplicação da IM na melhora do desempenho desportivo como componente da reabilitação física de lesões musculoesqueléticas. Em um trabalho de metanálise, Kho e colaboradores concluíram que a prática de simulação mental de movimentos é significativamente eficaz na melhoria do desempenho atlético. Ademais, o processo de prática mental depende do tipo de abordagem utilizada e de parâmetros como periodicidade, duração de cada sessão e tipo de tarefa usada. Ranganathan e colaboradores utilizaram dois grupos que realizaram prática de IM na flexão de dedos e cotovelo, sendo um grupo-controle e um grupo de seis voluntários que fizeram exercícios de contração máxima de abdução dos dedos por 12 semanas. Os resultados demonstraram que, embora a prática real de exercício resultasse em um aumento de 53% na força de contração máxima, as pessoas que realizaram prática mental de flexão de dedo (35%) e do cotovelo (13%) também obtiveram aumento da força de contração máxima, enquanto, no grupo–controle, não houve aumento significativo. Roure e colaboradores compararam dois grupos de universitários praticantes de voleibol, com capacidade parecida de IM (que foi verificada por meio do questionário MIQ) e nível de desempenho de recepção de saque (por análise na execução real da tarefa), em que apenas um deles utilizou um programa com dois meses de duração e com treinamento mental nas modalidades visual e cinestésica. Os resultados indicaram que o grupo submetido ao treinamento mental aumentou significativamente seu desempenho na recepção de saque, quando comparado ao grupo que não realizou tal modalidade de treinamento. 11 12 13 14 13/08/2019 SECAD www.portalsecad.com.br/demoArtigo.php?programa=64&utm_campaign=interesse_-_envio_de_material_-_artigo_-_a_-_profisioesp&utm_mediu… 5/9 A capacidade de aprendizagem por meio do uso de treinamento mental também foi analisada por Fery e colaboradores, os quais utilizaram voluntários destros que compuseram três grupos com oito pessoas cada. Dois grupos desenharam uma figura em uma placa e, a seguir, realizaram o treinamento mental da mesma tarefa com base em imagética visual para um grupo e cinestésica para o outro. O terceiro grupo não realizou treinamento, sendo considerado como grupo-controle. O mesmo experimento foi executado três vezes. Em um segundo momento, os indivíduos realizaram tarefas relacionadas ao movimento coordenado de ambas as mãos. De acordo os resultados obtidos, concluiu-se que o aprendizado de trabalhos que enfatizam a forma de um objeto após sessões de treinamento mental é maior quando este é feito na modalidade visual, enquanto tarefas associadas à coordenação de movimentos possuem melhor aprendizado quando se aplica um modelo de treinamento com base em IM cinestésica. ■ IMAGÉTICA MOTORA NO TRATAMENTO DE LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS Mesmo com um início do paradigma de intervenção por meio de IM nas disfunções neurológicas, estudos, como, por exemplo, o de Nunes e colaboradores, apontam um caminho da utilização dessa estratégia motora no tratamento de lesões musculoesqueléticas. Os efeitos benéficos já conhecidos no córtex motor primário e nas áreas gnósicas do movimento voluntário durante a IM podem ser explorados para a reabilitação. Para saber mais: As áreas gnósicas, segundo o livro Neuroanatomia Funcional, de Ângelo Machado, são áreas secundárias do córtex relacionadas ao movimento voluntário, ou seja, de organização do movimento. Na década passada, autores como Stenekes e colaboradores e Christakou e Zervas, aventaram a utilização da prática mental nas disfunções de articulações periféricas e estrutura miotendíneas. Defendem que há uma desorganização cortical em uma determinada função abolida e que, por meio da integração sensório-motora cortical, haja uma ativação neuronal nas áreas correspondentes aos segmentos corporais envolvidos. Stenekes e colaboradores propuseram a IM como forma de reabilitação de indivíduos que foram submetidos a reparo cirúrgico de lesão no tendão flexor do punho no período de imobilização. Vinte e oito sujeitos, com pós- operatório dos tendões dos flexores superficiais e profundos dos dedos, foram divididos, aleatoriamente, em dois grupos. Um grupo recebeu o tratamento fisioterapêutico pós-operatório com base em exercícios passivos para punhos e dedos durante quatro semanas e, nas duas semanas seguintes, flexão passiva com o auxílio da mão contralateral do participante. Depois desse período, a flexão ativa foi liberada. No grupo IM, durante o período de imobilização, os indivíduos foram instruídos a realizar mentalmente a flexoextensão de punho e dedos por oito vezes ao dia. No término dessa investigação, a IM teve significante relevância clínica, pois houve uma diminuição do período de incapacidade. Apesar dos resultados satisfatórios, há necessidade de mais estudos com esse processo mental, principalmente, associado às mensurações da atividade cortical, assim como dados do sistema nervoso periférico. Por outro lado, Nunes e colaboradores avaliaram 20 homens, atletas de futebol amador, com idade entre 16 e 20 anos e que sofreram entorse 72 horas antes do recrutamento. Nesse estudo clínico, randomizado-controlado, os participantes foram divididos em grupos experimentale controle. No grupo–controle, foi realizado um programa tradicional de tratamento fisioterapêutico das entorses de tornozelo. No grupo experimental, além do mesmo programa de intervenção fisioterápica, foi adicionado a IM. Os resultados indicaram que não houve alterações significativas entre as propostas de tratamento e não se observaram diferenças no senso de posição do segmento. Outra abordagem em que pode se fazer uso da IM é a flexibilidade. Essa valência física, assim como as formas de sua obtenção, tem sido intensamente estudada e possui diversas vertentes. No campo das interações da flexibilidade via SNC, os estudos fomentam importantes discussões e há indícios sobre o ganho de flexibilidade por meio da IM. Guillot e colaboradores investigaram as possíveis modificações na flexibilidade de 21 atletas de nado sincronizado, antes e depois da intervenção de IM, por cinco semanas. O programa tinha cinco exercícios de alongamento alternados, tanto passivos quanto ativos. O protocolo de IM foi de três atendimentos por semana, todos guiados pelo pesquisador, e dividido em três momentos de análise — inicial, programa de IM e final. Foram 15 atendimentos com 5 a 7 minutos de aquecimento, seguido de séries de exercícios de alongamentos alternados por IM (grupo experimental) ou de atividades neutras (grupo-controle) durante uma hora. Os músculos envolvidos foram das regiões a seguir: adutores da coxa; ombro e tornozelo; 15 16 17 18 17 16 19 13/08/2019 SECAD www.portalsecad.com.br/demoArtigo.php?programa=64&utm_campaign=interesse_-_envio_de_material_-_artigo_-_a_-_profisioesp&utm_mediu… 6/9 ombro e tornozelo; isquiotibiais. Os resultados da referida investigação indicaram que o ganho da flexibilidade ocorre tanto nos alongamentos ativos quanto nos passivos, embora não em todos os momentos. O aumento da flexibilidade foi maior no grupo experimental do que no grupo-controle para os isquiotibiais e tornozelo. Na literatura, a observação da tarefa (OT) tem sido utilizada de forma independente da estimulação motora e na reabilitação física, como, por exemplo, no aumento da força e na prevenção de lesões. Eaves e colaboradores detectaram o crescimento das investigações com a associação entre IM e OT. No experimento de Scott e colaboradores, o objetivo era comparar os efeitos da IM e da OT na força do grupamento muscular dos posteriores da coxa. As condições experimentais foram: o grupo IM/OT viu um vídeo do exercício de alongamento de posteriores de coxa e foi estimulado a reforçar a sensação de alongamento e fortalecimento dos músculos isquiotibiais; os sujeitos submetidos apenas à IM ficaram imaginando a execução do exercício e a sensação que envolve sua execução; os participantes do grupo-controle ficaram apenas imaginando uma ação com os membros superiores com os olhos fechados. Os resultados indicaram que não houve efeito principal para o grupo; entretanto, o tamanho do efeito foi moderado no grupo IM/OT; isto é, a condição IM/OT teve benefícios na intervenção. Portanto, concluíram que, durante a fase aguda de lesões nos isquiotibiais, a IM pode ser uma interessante estratégia, em especial para facilitação neuromuscular, sem sobrecarga lesiva aos tecidos moles. As bases neurofisiológicas que fornecem suporte teórico à sua utilização baseiam-se no aumento da atividade do córtex motor primário e secundário, além de outras estruturas subcorticais, como os núcleos da base e o cerebelo. Essas estruturas estão sincronizadas, o que é comprovado por instrumentos como o eletroencefalograma (EEG). Berends e colaboradores analisaram o evento relacionado dessincronizado no córtex motor primário nas bandas de frequência teta, alfa e beta no grupo submetido à IM e à OT comparado ao grupo que foi estimulado apenas por meio da OT. Os resultados demonstraram que há uma dessincronização significativa no grupo que recebeu IM e OT e reforçam a ideia de que a atividade cortical é aumentada quando ocorre a associação das formas de imagética. A IM possui diversas formas de aplicação e, no esporte, pode ser mais um elemento no processo de reabilitação física dos pacientes. No âmbito da fisioterapia esportiva, a IM pode promover efeitos sobre questões como a cinesiofobia, a flexibilidade e a força muscular. Na recuperação de atletas com questões psicoemocionais envolvidas, a fisioterapia, por meio desse processo mental, tem como promover alterações corticais que implicam uma melhora funcional. No controle motor, a IM tem aplicabilidade no incremento de novos padrões de movimento, principalmente na fase de correção, sensopercepção e componentes proprioceptivos. A IM, mesmo não desencadeando a ação, as estruturas do sistema proprioceptivo, é indiretamente ativada. Dessa forma, situações práticas na reabilitação esportiva, como a sensação de restrição de movimento, a cinesiofobia do movimento que reproduz o mecanismo de uma determinada lesão, a correção postural, podem ser combatidas durante as intervenções de IM. Tais processos abrem espaço para a sistematização da IM, tanto para melhora do desempenho desportivo quanto para reabilitação física. Williams e colaboradores testaram o método chamado Layered Stimulus Response Training (LSRT). A referida forma de intervenção envolve, primeiramente, a redução da simulação mental para conter apenas os componentes de imagens que o participante é capaz de gerar com facilidade. A complexidade e o realismo da imagem são gradualmente aumentados ao longo de vários ensaios práticos, incorporando proposições adicionais de estímulo, resposta e significado geradas por participantes, como vistas, sons ou sentimentos associados à tarefa de movimento. Assim, Williams e colaboradores demonstraram que as intervenções de imagens realizadas por meio do método LSRT eram mais eficazes para melhorar o desempenho no golfe e a capacidade de imagem em novatos, em comparação com os tipos mais tradicionais de IM visual. Por outro lado, a eficácia desse método, até o momento, não está comprovada; porém, tem sido testada nos domínios da aprendizagem e reabilitação motora, associada à OT. Na fisioterapia esportiva, esse método poderia ser aplicado, por exemplo, em atletas que, primeiramente, seriam instruídos a observar passivamente um vídeo rico em movimentos específicos de alta complexidade e relacionado 3 20 21 LEMBRAR 22 22 13/08/2019 SECAD www.portalsecad.com.br/demoArtigo.php?programa=64&utm_campaign=interesse_-_envio_de_material_-_artigo_-_a_-_profisioesp&utm_mediu… 7/9 ao segmento corporal em tratamento, assim como rico em proposições de estímulo. Durante a evolução do plano de tratamento, os componentes de IM ao longo das repetições e a experiência cada vez mais realista, próxima ao gestual desejado, seriam associados. Isso poderia promover aumento do controle motor, além de criação de um padrão de movimento “ideal”, em especial na fase sensório-motora da estimulação proprioceptiva. 5. Observe as afirmativas sobre a aprendizagem motora e IM. I — O estímulo causado no SNC é apresentado como um dos principais objetivos para fazer uma intervenção fisioterapêutica por meio de IM na reabilitação. II — As alterações plásticas promovidas pela IM fazem com que haja uma reorganização da função motora que apresenta déficit por lesão central; entretanto, elas desorganizam a lesão periférica. III — A aplicação da IM na melhora do desempenho desportivo como componente da reabilitação física de lesões musculoesqueléticas tem sido discutida porque está havendo melhor compreensão nos mecanismos que envolvem o processo. IV — A prática de simulação mental de movimentos é significativamente eficaz na melhoria do desempenho atlético, segundo um estudo. Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I, a II e a III. C) Apenas a I, a III e a IV. D) Apenas a III e a IV. Confira aqui a resposta 6. Mesmo com a escassez de pesquisas sobre IM e fisioterapia esportiva, Nunes e colaboradores discutiram os efeitos da IM na entorse do tornozelo. Sobre isso, é corretoafirmar que A) quando a IM foi associada a um programa de fisioterapia, os sujeitos não apresentaram diferenças no senso de posição articular. B) a IM não promoveu modificações no senso de posição articular, provavelmente, em função da interferência do programa fisioterapêutico. C) as entorses de tornozelo promovem redução da sensopercepção e por isso não ocorreram diferenças no estudo. D) a ausência de um protocolo específico de IM comprometeu o estudo e a análise dos efeitos da IM no senso de posição articular. Confira aqui a resposta 7. A flexibilidade é uma valência física que pode ser influenciada pela IM. Segundo o trabalho de Guillot e colaboradores sobre essa questão, é correto afirmar que A) o mecanismo que norteia o ganho seria a modificação das estruturas corticais envolvidas apenas aos proprioceptores. B) os maiores efeitos da IM foram nos grupamentos musculares que movem o ombro e o tornozelo. C) os efeitos da IM na flexibilidade foram observados tantos nos exercícios de alongamentos ativos quanto nos passivos. D) a flexibilidade só tem um aumento com a IM quando associada à imagética visual. Confira aqui a resposta 8. A OT configura-se como uma interessante forma de estimular o ganho de força. Segundo o trabalho de Scott e colaboradores, assinale V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Não houve diferenças entre a OT e a aplicação de IM no ganho da força dos músculos isquiotibiais. ( ) O tamanho do efeito entre a relação de OT e IM foi fraco e a associação entre as duas estratégias não provocam efeitos importantes na força. ( ) O estudo determinou que a OT e IM podem ser utilizadas em conjunto para facilitação neuromuscular, principalmente na fase aguda. ( ) A IM e OT, juntas, são importantes ferramentas na reabilitação porque não desencadeiam sobrecarga tecidual no segmento acometido. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. ATIVIDADES 13/08/2019 SECAD www.portalsecad.com.br/demoArtigo.php?programa=64&utm_campaign=interesse_-_envio_de_material_-_artigo_-_a_-_profisioesp&utm_mediu… 8/9 A) V — V — V — V. B) V — F — V — V. C) V — V — F — V. D) V — V — F — F. Confira aqui a resposta ■ CASO CLÍNICO Paciente de 32 anos, sexo feminino, jogadora de voleibol profissional, queixa-se de dor na região dos punhos e dos ombros há mais de dois anos, apresenta diagnóstico clínico de fibromialgia, foi submetida à avaliação cinesioterapêutica e também por meio da Escala Visual Analógica (EVA) de dor, da Escala Tampa para Cinesiofobia (ETC) e do Questionário Internacional de Atividade Física (QIAF) antes de iniciar a fisioterapia. A paciente relata que sente muitas dores no corpo, principalmente em membros inferiores; com isso, o medo de sentir dor fez com que ela diminuísse o ritmo de treino e não se movimentasse mais, uma vez que, após o resultado da ETC, constatou-se que ela apresenta cinesiofobia de realizar o movimento de saque. 9. Que tipo de abordagens o fisioterapeuta pode utilizar para a paciente do caso clínico, focando, principalmente, na utilização da IM? Confira aqui a resposta ■ CONCLUSÃO A IM é muito explorada na neurorreabilitação, mas ainda com uma relativa escassez de estudos na reabilitação musculoesquelética, em especial na fisioterapia esportiva. A complexidade de mecanismos neurofisiológicos envolvidos na IM permite uma gama de possibilidades e aplicabilicações na recuperação de atletas. Estratégias como OT, protocolos de IM, tempo de aplicação e número de atendimentos são pontos que necessitam de discussões mais substanciais e estudos que comprovem a sua efetividade no tratamento das disfunções musculoesqueléticas no esporte. A IM e as lesões musculoesqueléticas no esporte são uma temática fértil e rica. Na fase mais tardia do tratamento fisioterapêutico, a IM pode incrementar o processo de reeducação motora e implementar novos comportamentos. Aspectos cognitivos, como a atenção e a memória de trabalho, são fatores que podem ser estimulados e facilitar os gestuais motores desejados. ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 1 Resposta: A Comentário: Francis Galton, em 1883, realizou uma pesquisa que foi fundamentada em questionários e instruções para a realização de tarefas motoras mentais. A variável avaliada era o grau de “nitidez” das tarefas executadas, ou seja, o quanto o indivíduo conseguia realmente imaginar o solicitado. Atividade 2 Resposta: C Comentário: As modalidades da IM podem ser divididas segundo Callow como visual cinestésica e emocional ATIVIDADE 13/08/2019 SECAD www.portalsecad.com.br/demoArtigo.php?programa=64&utm_campaign=interesse_-_envio_de_material_-_artigo_-_a_-_profisioesp&utm_mediu… 9/9 Comentário: As modalidades da IM podem ser divididas, segundo Callow, como visual, cinestésica e emocional. Atividade 3 Resposta: D Comentário: A classificação visual pode ser subdividida em primeira pessoa e terceira pessoa, ou seja, o indivíduo pode se observar realizando o movimento ou a ação motora ou em terceira pessoa, observando uma terceira pessoa realizar os movimentos. Atividade 4 Resposta: A Comentário: Na classificação cinestésica em primeira pessoa, o indivíduo deve se sentir como se o seu corpo estivesse se movimentando; busca-se obter sensações relacionadas às contrações musculares e à posição dos segmentos corporais no espaço. Atividade 5 Resposta: C Comentário: O estímulo causado no SNC é um dos principais objetivos para realizar uma intervenção fisioterapêutica por meio de IM na reabilitação. As alterações plásticas promovidas pela IM fazem com que haja uma reorganização da função motora que apresenta déficit, seja por lesão central ou periférica. Com a melhor compreensão dos mecanismos que envolvem os processos de IM, a sua aplicação na melhora do desempenho desportivo como componente da reabilitação física de lesões musculoesqueléticas tem sido discutida. Kho e colaboradores, em seu estudo, concluíram que a prática de simulação mental de movimentos é significativamente eficaz na melhoria do desempenho atlético. Atividade 6 Resposta: A Comentário: A alternativa A está correta, pois o senso de posição foi inalterado nesse estudo. Atividade 7 Resposta: C Comentário: A IM foi utilizada e em ambos os grupos (experimental e controle) houve uma ativação da flexibilidade, seguramente por influência nas áreas relacionadas ao controle motor no córtex cerebral. Atividade 8 Resposta: B Comentário: A segunda afirmativa está incorreta porque o tamanho do efeito foi grande quando foram associadas às técnicas de IM e OT. Atividade 9 Resposta: Em relação ao caso clínico, existem diversos modos de fazer a imagética. Inicialmente, deve ser realizado um questionário, para que possa se saber qual tipo de estratégia de imagética a paciente utiliza (por exemplo, imagética cinestésica em primeira ou terceira pessoa); depois disso, solicitar, após a sessão de fisioterapia, que a paciente imagine tudo o que foi feito na terapia, assim como o movimento que ela tem medo de fazer. Ê
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