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Diagnóstico diferencial das hematúrias • É importante saber se a hematúria que o paciente apresenta é de origem glomerular ou não glomerular. Caso seja de origem glomerular, que vem do glomérulo, o paciente é portador de glomerulopatia. • Existem alguns pontos relevantes em relação a hematúrias que merecem atenção. • Estima-se que 2/3 das pessoas com hematúria em um exame não apresentarão em outro exame ao longo da vida. Então, 2/3 desses pacientes que são acompanhados não apresentam novos episódios de sangramento na urina. • Hematúria microscópica assintomática pode associar-se com neoplasias malignas urológicas em 10% dos pacientes adultos. É o primeiro ponto que mostra que hematúria não pode ser negligenciada, em 10% desses pacientes que não sentem absolutamente nada, que fazem um exame de urina por qualquer motivo e encontram uma hematúria microscópica, pode ser uma neoplasia urológica. • Após avaliação do trato urinário por imagem e avaliação da urina a procura de sinais de glomerulopatias um número elevado das hematúrias microscópicas assintomáticas permanece sem esclarecimento. observação: hematúria microscópica assintomática: é aquele indivíduo que não sente nada, fez o exame de urina por qualquer motivo e encontrou um sangramento laminar. • Embora nunca possa negligenciar um paciente com hematúria microscópica, mesmo quando se investe todo o conhecimento propedêutico que existe procurando causas urológicas e glomerulopatias para o diagnóstico desse doente, pelo menos em 20% dos casos o paciente fica sem diagnóstico. Isso tem muita importância clínica, se estiver diante de um paciente que tem um exame de urina com hematúria microscópica, assintomática, pede-se para ele repetir o exame mais algumas vezes em um intervalo de 3 a 6 meses para verificar se essa hematúria é persistente ou não. Se ela desaparecer dos exames subsequentes não representa um problema, mas se ela for uma hematúria microscópica persistente avalia-se ele quanto a doenças nefrológicas e urológicas. Porém, o paciente deve ser avisado que apesar de ser necessária a realização de vários exames na tentava de esclarecer a causa da hematúria 20% dos indivíduos permanecem sem diagnóstico. Gabriela Reis Viol • A maioria das hematúrias macroscópicas com sangue vermelho-vivo se devem a causas urológicas como litíase, tumor e fístulas arteriovenosas no rim: hematúria urológica. • Hematúria é a eliminação de um número anormal de hemácias na urina. É considerado anormal uma contagem de hemácias maior que 3 por campo; porém isso não é uma verdade absoluta, em algumas literaturas o ponto de corte é colocado como 5 hemácias por campo, outras 10 hemácias por campo, mas a maioria prefere um ponto de corte baixo devido as doenças que provocam hematúria poderem ter um potencial extremamente grave: isso pode ser a primeira manifestação de câncer ou de uma glomerulopatia que vai levar o indivíduo a uma doença renal crônica e necessidade de diálise. Portanto: hematúria > 3 hemácias/campo (400X). Até 2 hemácias por campo em um exame de urina é normal; de 3 para cima está anormal e deve ser pesquisado. • Nunca se deve negligenciar hematúria devido à grande variedade de doenças graves que podem ter ela como a primeira manifestação, vide doenças glomerulares e tumores de vias urinárias. Detecção • É feita pelo dipstick (fitas de imersão), onde existem os elementos anormais de urina (proteinúria, bilirrubina, urobilinogênio, glicose e hemoglobina). A fita de imersão é comparada a uma escala de cores. • A fita de imersão (Dipstick) possui 100% de sensibilidade, ou seja, se por qualquer motivo o indivíduo estiver urinando sangue, quando se coloca na fita de imersão, o resultado será positivo. Dessa forma, quando coloca a fita de imersão da heme e o resultado é negativo, é porque não tem hematúria. • A especificidade não é tão alta, variando de 70-90%, porque a fita não detecta hemácia, ela detecta o heme, que pode estar presente tanto na hemoglobina quando na miologlobina. • Assim, se a fita de imersão está positiva para heme, pode ser uma hematúria, mas também pode ser uma hemoglobinúria, ou mioglubinúria. Portanto, um paciente com lesão muscular que faz uma rabdomiólise pode ter heme positivo na urina sem que ele tenha hematúria (e sim mioglobinúria). Um paciente que por qualquer motivo estiver fazendo um quadro hemolítico e liberando hemoglobina na urina vai ter heme positivo, mas na realidade ele tem hemoglobinúria e não hematúria. Entretanto, nesses últimos dois casos, o sedimento urinário vai dar negativo, já que não vão ser encontradas hemácias. Então nem todo heme positivo na urina vai ser hematúria, pode ser hemoglobinúria e mioglobinúria. Por isso a especificidade não é igual a sensibilidade. Gabriela Reis Viol • Portanto, em um EAS com Hb positiva, deve-se realizar em seguida o sedimento urinário para identificar hemácias. A hematúria será visualizada por microscopia óptica comum (MOC). • Também pode-se recorrer ao método de microscopia de contraste de fase (MCF), que é extremamente útil para o diagnóstico diferencial das hematúrias. Este se diferencia da MOC por possuir um jogo de luz de o torna capaz de contrastar as hemácias e os elementos figurados da urina sem a necessidade de um corante. Se deu heme positivo, lá está mostrando uma cruz, duas cruzes, três cruzes, quatro cruzes de hemoglobina nos elementos anormais; então analisa-se os sedimentos urinários: se tiver hemácia é porque é hematúria, se tem heme positivo sem hemácias ou é hemoglobinúria ou é mioglobinúria (nesse caso o diagnóstico diferencial é feito pelo quadro clínico do doente). • O indivíduo chega com uma hematúria microscópica assintomática, tem um EAS com heme positivo e os sedimentos urinários com hemácias numa contagem maior ou igual a 3 hemácias por campo. Só com esses exames não tem como diferenciar se a hematúria dele é de origem urológica ou nefrológica. Uma das maneiras de fazer esse diagnóstico diferencial é através da microscopia de contraste de fase. Classificação • MACROSCÓPICA: a hematúria vai ser classificada como macroscópica quando o sangue pode ser visto, e não necessariamente hematúria precisa ser vermelho vivo mutilante, pode ser uma coloração amarela mais intensa, uma urina completamente vermelha ou uma urina cor de coca cola. Todas essas cores podem significar hematúria: quando é vermelho não deixa dúvidas; quando está cor de coca cola fica-se na dúvida se é uma hematúria ou se o indivíduo tem uma hepatite associada a acolia fecal. • Existem situações que mimetizam a hematúria. Nos pacientes que queixam da cor da urina deve-se ter sempre em mente essas situações. As duas primeiras perguntas para uma paciente que está urinando com cor diferente são: “você está tomando algum medicamento?” e “mudou o seu hábito alimentar?/comeu algo diferente?”. I. Substâncias endógenas: paciente está em um quadro hemolítico, liberando hemoglobina no sangue, hemoglobina na urina e está apresentando hemoglobinúria. II. Mioglobina: paciente tem um quadro de rabdomiólise, necrose da musculatura esquelética, liberando grande quantidade de mioglobina e alterando a cor da urina. III. Paciente ictérico por qualquer motivo: tem um tumor de cabeça de pâncreas; um cálculo da vesícula biliar que obstruiu o colédoco; uma anemia falciforme e está em Gabriela Reis Viol uma crise hemolítica; tem hepatite viral e está aparecendo bilirrubina na urina que escurece a cor. Pode ser ainda um caso raro chamado porfiria em que a urina adquire cor de vinho do porto quando fica exposta direto à luz. IV. Medicamentos: vários medicamentos alteram a cor da urina. Se o paciente queixa de uma colúria deve-se pesquisar se os medicamentos que ele toma saem na urina. V. Alimentos: vários corantes artificiais, ou o próprio alimento podem colorir a urina. • MICROSCÓPICA: por outro lado, a hematúriapode ser microscópica. Nesse caso a contagem/hematúria quantitativa/interpretação depende da metodologia: no EAS o sedimento urinário é feito pela microscopia óptica comum em que se considera normal até 5000 hemácias por ml de urina centrifugada. observação: é diferente quando é hematúria contada por campo: o indivíduo pega o sedimento urinário, pegou uma gotinha, coloca na lâmina e conta quantas hemácias por campo ele está vendo. O normal é no máximo 2 hemácias por campo (3 ou mais é considerado anormal e precisa ser pesquisado). Outra coisa é quando se pede uma hematúria quantitativa em que ele conta quantas hemácias existem em um milímetro cúbico de urina: o normal é até 5 mil hemácias por campo (essa é a microscopia óptica comum). • Existe um microscópio especial que não precisa de corante para o exame da urina, ele tem um mecanismo de jogo de luzes que contrasta os elementos figurados da urina, é chamado de microscopia de contraste da urina. Então fica mais fácil encontrar uma hemácia utilizando uma microscópio de contraste de fase do que o microscópio óptico comum. Por ser muito mais fácil encontrar a hemácia, o ponto de corte é um pouco superior: é considerado normal até 8000 hemácias por campo (anormal acima de 8mil hemácias por campo). • Quando se pede um EAS vai ser mostrado os aspectos físicos da urina, os elementos anormais e a sedimentoscopia. Na sedimentoscopia ele vai usar a microscopia óptica comum. • Quando o médico está diante de um paciente com hematúria e deseja uma microscopia de contraste de fase, que basicamente serve para o diagnóstico diferencial das hematúrias, ele tem que pedir especificamente esse exame (material: urina; exame: microscopia de contraste de fase; indicação: diagnóstico diferencial de hematúria). observação: formas de definir hematúria:quando conta hemácias por campo: hemácias > ou = a 3; quando faz hematúria quantitativa por MOC > 5000 hemácias/mL de urina centrifugada; hematúria quantitativa por MCF 8000 hemácias/mL de urina centrifugada. Gabriela Reis Viol • Utilizando a MCF divide-se a hematúria em dois grandes grupos: hematúria não glomerular e hematúria glomerular. • HEMATÚRIA NÃO GLOMERULAR: a hematúria de origem não glomerular se caracteriza por hemácias na urina muito semelhantes com hemácias do sangue periférico: elas têm um conteúdo de hemoglobina, um tamanho e uma forma semelhante a hemácia do sangue periférico, entretanto, menos avermelhada. Por essa razão, ela é chamada de hematúria isomórfica. Fica fácil de identificar isso na microscopia de contraste de fase da urina porque forma- se esses anéis ao redor da hemácia sem necessidade de coloração. • HEMATÚRIA GLOMERULAR: quando a hematúria é de origem glomerular existe alteração na forma, no tamanho e na hemoglobinização das hemoglobinas. Então, as hemácias são completamente diferentes daquelas do sangue periférico, encontra-se um polimorfismo de hemácias (algumas maiores, outras menores), algumas mais outras menos hemoglobinizadas e muitas delas têm protusões no citoplasma. Essa hematúria com hemácia diferente do sangue periférico é chamada de hematúria dismórfica. Hemácia que passa pela barreira de filtração glomerular sofre inúmeras alterações na sua forma, no seu tamanho e no seu conteúdo de hemoglobina: torna-se completamente diferente da hemácia do sangue periférico. Gabriela Reis Viol • Por que a hemácia que vem do glomérulo se altera na forma e conteúdo de hemoglobina? Observar na imagem 1 que é uma foto de microscopia eletrônica onde tem-se o núcleo da célula endotelial, a barreira de filtração glomerular, a luz capilar, e vê-se uma hemácia passando através da barreira de filtração glomerular. Ao passar através da barreira de filtração glomerular ela sofre alterações no seu tamanho, na sua forma e no seu conteúdo de hemoglobina. • A hemácia mais característica da hematúria dismórfica é a da foto 2, chamada de acantócito (cabeça de Mickey). resumindo… • Hemácia igual ao sangue periférico na urina é hematúria isomórfica e é característico das hematúrias não glomerulares. • Hemácias diferentes da do sangue periférico são chamadas de hemácias dismórficas e são características das hematúrias glomerulares. • Logo, um exame simples como a MCF que é realizado em uma amostra de urina e que não necessita de nenhuma coloração especial pode responder de maneira muito significativa e a hematúria do paciente é de origem glomerular (nefrológicas/ glomerulopatias) ou de fora do glomérulo (litíases, tumores, ITUs, menstruação contaminando urina, etc). Etiologia • As etiologias das hematúrias são divididas em 2 grandes grupos: as extra urinárias e as urinárias. As hematúrias de origem urinária serão divididas em glomerulares e não glomerulares. I. EXTRA-URINÁRIAS: não possuem relação com o trato urinário. a. DROGAS: primeiro pergunta-se se o paciente toma alguma droga, algum medicamento. (Por exemplo: paciente que tem uma fibrilação atrial e toma Gabriela Reis Viol anticoagulante oral para prevenção de acidente vascular cerebral; ou tem uma válvula cardíaca que precisa ser anticoagulada; ou está tomando um anticoagulante por qualquer outro motivo. Esse anticoagulante (Marevan) está causando o sangramento urinário e provavelmente é a causa da hematúria. b. GINECOLÓGICAS: causa mais frequente de hematúria microscópica é de origem ginecológica, o que faz aparecer sangue na urina da mulher é menstruação. Toda mulher que chega com hematúria microscópica no exame de urina deve ser questionada sobre o período menstrual e se foi colhido próximo ao período menstrual deve-se repetir. Sangramento urinário em mulheres em idade reprodutiva é de causa ginecológica até que se prove o contrário: contaminação do exame. A conduta é repetir o exame. c. FACTÍCIA: paciente adultera o exame. Essa hematúria é isomórfica pois é feita de sangue periférico. d. HEMATOLÓGICAS: o indivíduo tem uma discrasia sanguínea ou uma coagulopatia e apresenta manifestações hemorrágicas, entre elas a hematúria. Essa hematúria nunca é isolada, o paciente também queixa de epistaxe, gengivorragia, tem petéquias, equimose, ou seja, ele sangra de uma maneira geral e dessa forma também sangra no aparelho urinário. A hematúria faz parte de um contexto de uma doença hematológica e normalmente esses doentes já vão direto para um hematologista pois eles não estão sangrando só na urina. II. URINÁRIAS: através da história clínica, afastado essas causas extra-urinárias, entra se no diagnóstico das causas urinárias onde tem-se as hematúrias de origem glomerular e as de origem não glomerular. As hematúrias de origem glomerular apontam para um diagnóstico de glomerulopatia; e as hematúrias de origem não glomerular são aquelas hematúrias onde o sangramento pode estar no rim, ureter, bexiga, uretra ou próstata (no homem). A hematúria de origem não glomerular é um sangramento em alguma parte do trato urinário, pode estar no rim, no ureter, na bexiga, na uretra ou na próstata. Esse sangramento em alguns desses setores do trato urinário pode ser colocado como uma infecção, ou um cálculo. a. GLOMERULOPATIAS b. TRAUMAS: paciente cai de moto, bate as costas e a partir disso começa a urinar sangue. c. MANIPULAÇÃO DO TRATO URINÁRIO: sondas — paciente não tinha sangramento na urina, faz uma uretroscopia, uma cistoscopia, passou uma sonda para fazer uma cesária, ou por qualquer motivo e começa a apresentar hematúria. d. TUMORES Gabriela Reis Viol e. DOENÇAS VASCULARES f. CISTOS • A principal causa de hematuria microscópica na faixa etária de jovens é litíase. As vezes tem-se um cálculo no trato urinário que provoca um sangramento microscópico e assintomático e só é descoberto quando é feito um exame de urina que dá hematúria. • A maioria dessas de etiologia urinária não glomerular se faz o diagnóstico pela anamnese. Entretanto, muitasdessas também necessitam de exames de imagem para se pesquisar a causa quando o motivo não se torna aparente pela história clínica. • Assim, pode-se recorrer à USG, TC, Rx simples ou RNM, não necessariamente nessa ordem. • Outra etiologia importante também em paciente de etnia afrodescendente é a anemia falciforme. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Gabriela Reis Viol observação: exercício físico não provoca hematúria. O que pode acontecer é que o indivíduo tenha uma doença uronefrológica e a atividade física funcione como um gatilho para manifestação da doença. observação: edema e HAS levam a pensar em glomerulopatias pois doenças urológicas não provocam isso. As fístulas arteriovenosas (FAV) costumam ser complicações de biópsia renal. Por exemplo, o paciente possui história de glomerulopatia e fez uma Bx renal, sendo que ele nunca havia sangrado antes e agora começou a apresentar hematúria, provavelmente se formou uma FAV após a Bx. observação: na faixa etária dos 20-30 anos, até que se prova o contrário, a hematúria, seja ela macro ou microscópica, se deve a cálculo urinário. • Sintomas de irritação vesical, dor, disúria, polaciúria, urgência miccional: apontam para ITU. Se houver hematúria facilita o diagnóstico. • Quando a causa for urinária, o diagnóstico diferencial entre hematúria glomerular e não glomerular é feito por: I. HEMATÚRIA DISMÓRFICA: através da microscopia de fase da urina onde na hematúria glomerular encontra-se hemácias dismórficas II. CILINDROS HEMÁTICOS: um paciente que tem hematúria e cilindros hemáticos: o cilindro hemático é patognomônico de glomerulopatia. Paciente que não tem sintomas, mas faz exame de urina e encontra um cilindro hemático está feito o diagnóstico de glomerulopatia. O cilindro é o molde da luz tubular e o cilindro principal é o cilindro hialino constituído pela proteína de Tamm Horsfall, mas quando ele está se formando se ele aprisionar no interior dele uma hemácia ela só teve uma origem: o glomérulo que está acima dele. Então é um cilindro hemático e a hematúria vista lá dentro é uma hemácia dismórfica que é patognomônica das hematúrias glomerulares. III. ASSOCIAÇÃO COM PROTEINÚRIA: proteinúria indica lesão da barreira de filtração glomerular (que fica no glomérulo). Então, se o indivíduo tem hematúria e tem proteinúria ele tem uma glomerulopatia. IV. ELEVAÇÃO DE CREATININA SÉRICA: a terceira possibilidade é o indivíduo que tem hematúria com alteração da creatinina sérica. Ele perdeu função renal, se ele está perdendo função renal e tem hematúria, provavelmente essa hematúria é de origem glomerular. Gabriela Reis Viol observação:se o indivíduo tem uma hematúria dismórfica provavelmente ele tem uma glomerulopatia; se o indivíduo tem uma hematúria associada com proteinúria MUITO provavelmente ele tem uma glomerulopatia (torna o diagnóstico extremamente provável); se o indivíduo tem uma hematúria associada a uma creatinina sérica elevada provavelmente ele tem uma glomerulopatia; se o indivíduo tem uma hematúria com cilindro hemático ele TEM glomerulopatia (confirma o diagnóstico). • Não é necessário que tenha os 4. 1 deles já é suficiente. Uma vez que para a identificação da hematúria glomerular se raciocina com esses 4 parâmetros apresentados, deve-se realizar 3 exames: a MCF da urina, o EAS com ou sem presença de cilindros hemáticos e proteína (pesquisa de proteinúria, se proteinúria presente deve-se quantificar: proteinúria de 24h ou relação proteína/creatinina em amostra isolada de urina) e a dosagem de creatinina sérica. observação: a primeira maneira de se fazer a diferenciação entre hematúria glomerular e pós (ou não) glomerular é por meio da MCF: vai mostrar se existe predominância absoluta de hemácias isomórficas ou dismórficas. No entanto, apesar de ser um exame de fácil realização, existem poucos lugares que o fazem devido ao fato de que o microscópio eletrônico é um instrumento bastante caro. Fluxograma • As hematúrias vão ser divididas entre as de investigação clínica na qual a história clínica vai apontar um sítio extra urinário do sangramento; hematúrias de investigação nefrológica que são as hematúrias glomerulares; e as hematúrias não glomerulares que são as hematúrias de investigação urológica. • De acordo com o fluxograma o paciente chega com um exame de urina mostrando uma hematúria microscópica, maior ou igual a 3 hemácias por campo. Depois de pedir para o paciente repetir o exame uma ou duas vezes em um intervalo de 3 a 6 meses para saber se a hematúria é persistente ou não, explica-se para ele que existe a possibilidade de fazer uma série de exames e todos serem negativos (porque 20% dessas hematúrias ficam sem diagnóstico). • Assim, a primeira coisa a ser feita nesse paciente é afastar causas extra urinárias com investigação clínica. Verificar se ele está tomando alguma droga que possa estar relacionada com hematúria, se existe possibilidade de ter uma infecção ginecológica ou do exame de urina ter sido colhido próximo o período menstrual ou se existe Gabriela Reis Viol manifestação sistêmica de sangramento em outras áreas (epistaxe, gengivorragia, se tem petéquias ou equimoses). • Na primeira consulta devem ser afastadas causas extra-urinárias através da anamnese. • Depois, saber se o paciente tem sintomas sugestivos de nefrolitíase ou de infecção do trato urinário (ITU), ou se ele tem passado de cólica renal, se é mulher jovem que tem cistite de repetição, ou já teve cistite eventualmente. • Se a resposta for que o indivíduo tem sintomas sugestivos de nefrolitíase ou ITU, a pesquisa da hematúria vai depender: sendo litíase procura-se o cálculo por raio X simples de abdômen, ou ecocardiografia ou o padrão ouro para o diagnóstico de litíase que é a tomografia computadorizada elicoidal. Por outro lado, se existem manifestações clínicas sugestivas de infecção urinária, o exame que se impõe é a cultura de urina, porém deve-se lembrar que o paciente já trouxe um EAS que mostrou hematúria, e se associada a essa hematúria tem piúria é altamente sugestivo de infecção urinária ou pelo menos de bacteriúria. • A outra possibilidade é que o doente não tenha nenhum outro sinal ou sintoma sugestivo de nefrolitíase ou infecção do trato urinário. Nesse caso, a pergunta que precisa ser respondida é se a hematúria é glomerular ou não glomerular; para obter a resposta faz-se uma microscopia de contraste de fase da urina, olha se há cilindros hemáticos ou proteinúria no EAS. Se tiver proteinúria deve-se quantifica-la através de uma proteinúria de 24h ou de uma relação proteína/creatinina em amostra isolada de urina; ou se esse paciente tem elevação de creatinina. Se ele tiver uma desses 4 fatores a hematúria é glomerular. • Sendo hematúria glomerular é muito provável que esse paciente tenha que fazer uma biópsia renal, que é a única possibilidade definitiva de saber se ele tem glomerulopatia (analisando o glomérulo). • Apesar de pouco utilizado, a cistoscopia é um ótimo exame pois é capaz de observar se o sangramento é da uretra, da bexiga e se é uni ou bilateral dos ureteres. Bilateral sugere doença sistêmica e unilateral sugere doença localizada naquela região. • Nunca se pede BAAR urinário, pois dará negativo (tuberculose urinária é paucibacilar). Está escrito assim no fluxograma apenas para lembrar da possibilidade de ser tuberculose em pacientes com hematúria, piúria e urocultura comum negativa. observação: citologia urinária = pesquisa de células neoplásicas na urina: laboratório de anatomia patológica. Não se faz BxR em suspeita de tumor renal, pois há perigo de disseminação do tumor. Logo, se faz o diagnóstico dele por exames de imagem e citologia urinária. Gabriela Reis Viol Nefropatia IgA (doença de Berger) • A principal glomerulopatia que se manifesta como hematúria microscópica assintomática é a nefropatia IgA (Doença de Berger). O indivíduonão sente nada, faz um exame de urina, encontra hematúria dismórfica (que é característica de doença glomerular), e as vezes sem proteinúria (mas na maioria das vezes com uma proteinúria discreta). Na biópsia desse paciente encontra-se uma nefropatia de IgA (ou doença de Berger). • A doença de Berger é a forma mais frequente de glomerulonefrite no mundo, ela só não é tão frequente no Brasil porque aqui não se biopsia muito. As vezes uma hematúria microscópica assintomática, mesmo glomerular, no paciente que tem função renal Gabriela Reis Viol normal e não tem proteinúria não é necessário fazer biópsia. Nesse caso fica-se com um diagnóstico presuntivo de nefropatia IgA, pois a biópsia renal é um procedimento extremamente invasivo. • Mas ela é a glomerulonefrite mais frequente no mundo. • É a principal responsável pelos casos de hematúria microscópica e macroscópica de origem glomerular. O pico de incidência é entre a segunda e a terceira década. • A apresentação clássica da nefropatia IgA é de uma hematúria macroscópica de 2 a 3 dias após uma infecção; ou uma apresentação insidiosa na qual tem hematúria microscópica que pode estar associada a uma proteinúria não nefrótica. • Cursa com complemento sérico normal e existe um aumento de IgA sérico em 50%. Ela é chamada de nefropatia IgA porque quando é feita a biópsia renal e procura-se qual imunoglobulina está depositada no exame desse doente é encontrada a IgA, caracteristicamente tem depósito de imunoglobulina A no mesangio. • Embora pareça benigna, 30% dos pacientes que têm nefropatia IgA evoluem para insuficiência renal crônica, é uma hematúria quase maligna. Não glomerular • Por outro lado, o paciente que não tinha sinais nem sintomas sugestivos de infecção urinária, que não tinha hematúria dismórfica, não tinha proteinúria, não tinha cilindro hemático e tinha creatinina sérica normal – portanto a hematúria dele não tinha característica de hematúria glomerular – esse paciente fica com diagnóstico de hematúria não glomerular, que tem origem urológica; é um sangramento ou no rim ou no ureter, ou na bexiga, ou na uretra ou na próstata (no caso dos homens). Então, esse paciente tem que ter uma investigação urológica. • Dessa forma, paciente com um quadro de hematúria microscópica assintomática, não tem nenhuma manifestação na história clinica que possa fazer pensar na hematúria extra renal, não tem nenhuma manifestação clínica de infecção urinária ou de nefrolitíase, já foi pesquisado se a hematúria dele é glomerular avaliando a creatinina, proteinúria, microscopia de contraste de fase da urina e já viu se tem cilindro hemático na urina e tudo isso foi negativo, a hematúria dele é de origem urológica. • Depois deve-se saber se esse indivíduo tem mais de 35 anos, ou se tem algum fator de risco para câncer do urotélio; se uma dessas respostas for sim, esse paciente vai ser submetido a uma citologia urinaria (pesquisa de células neoplasias). • Pacientes com hematúria não glomerular, > 35 anos, fatores de risco para câncer urinário: 1. História de tabagismo. 2. Sintomas crônicos de irritação vesical. Gabriela Reis Viol 3. Radioterapia pélvica. 4. Quimioterapia com ciclofosfamida. 5. Cateterismo vesical crônico. 6. Exposição ocupacional a benzeno ou aminas aromáticas. 7. Hematúria macroscópica. observação: citologia urinária é diferente de sedimento urinário. Sedimento urinário é feito no laboratório de análises clínicas quando se pede o EAS; citologia urinária é quando a urina vai para um laboratório de anatomia patológica e um patologista examina a urina procurando células neoplásicas. • Esse paciente vai ser submetido a uma cistoscopia e a uma exame de uroimagem. Então, a pesquisa de hematúria glomerular vai por uma via que é completamente diferente da pesquisa da hematúria não glomerular, da hematúria de origem urológica. • Na hematúria de origem urológica, o médico está procurando câncer, tumores e na uroimagem ele está procurando cálculo, tumor, fístula arterio-venosa, alguma alteração no trato urinário que esteja sangrando. • Mas se o paciente tem hematúria microscópica, tem menos de 35 anos e não tem nenhum fator de risco para câncer do sistema urinário, ele entra naqueles 20% que não tem nenhum diagnóstico. Esses pacientes vão ser acompanhados periodicamente; geralmente não se abandona um indivíduo que tem hematúria microscópica persistente. • Fez-se toda a pesquisa, a hematúria dele é não glomerular, na pesquisa urológica ele passou por cistoscopia, citologia, um exame de uroimagem (geralmente uma uroscopia) e deu tudo negativo o que se propõe para o doente é um acompanhamento anual. Nesse acompanhamento anual faz-se o diagnóstico diferencial novamente, é analisado se surgiu proteinúria, se perdeu função renal, se a hematúria dele se caracteriza como isomórfica ou dismórfica; em muitos casos pede-se uma citologia urinária e pelo menos uma ultrassonografia para ver se está crescendo algum tumor que passou desapercebido no ano anterior. Gabriela Reis Viol Gabriela Reis Viol
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