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Manuella Soussa Braga Patologia Oral - 3º período - 2018/1 CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS O câncer de boca é toda neoplasia maligna que acomete a cavidade oral e estruturas anexas, sendo que, 90% a 95% dos casos é representado pelo carcinoma de células escamosas que apresenta alguns sub�pos como o carcinoma verrucoso, de células fusiformes, escamoso basalóide e basocelular. Além disso, têm-se outros �pos de câncer de boca que acometem outras estruturas da cavidade oral que não seja o epitélio escamoso/pavimentoso/de reves�mento: melanoma, osteossarcoma (osso), fibrossarcoma (tec. conjun�vo), tumores metastá�cos e linfomas (vasos linfá�cos). No caso, todas as estruturas da cavidade oral que sofrerem transformação maligna podem dar origem a um câncer de boca. CARCINOMA - origem epitelial SARCOMA - origem mesenquimal O Carcinoma de Células Escamosas (espinocelular ou epidermóide) é a lesão maligna mais comum na boca, acomete mais frequentemente indivíduos adultos tabagistas e e�listas, de meia idade (entre a quinta e sexta década de vida - 41 e 60 anos) do sexo masculino, embora atualmente a incidência em mulheres (relaciona-se mais com fatores gené�cos do que ambientais, além de um aumento no uso do álcool e tabaco) esteja aumentando cada vez mais, havendo equilíbrio ou até mesmo ultrapassando os homens em algumas regiões. O CCE é o 11º tumor mais comum no mundo, sendo que, ⅔ dos casos ocorrem em países em desenvolvimento. Nesse tumor de origem epitelial, tem-se uma variação da diferenciação escamosa e propensão precoce à metástase para linfonodos (principal indicador de mau prognós�co da doença). A causa do CCE é mul�fatorial, fatores intrínsecos e extrínsecos estão relacionados com sua patogenia. Os fatores intrínsecos estão representados pelo estado sistêmico do paciente, deficiência nutricional e a gené�ca. Já os extrínsecos, podemos citar o tabaco, álcool, radiação (solar ou ionizante), etc. FATORES DE RISCO TABACO: é o principal agente capaz de induzir o aparecimento de um carcinoma (através de suas substâncias carcinogênicas como o benzopireno e a nitrosamina ), estudos mostram que 80% dos casos de CCE são diagnos�cados em tabagistas. Os pacientes tratados que con�nuam fumando, tem o risco de 2 a 6 vezes maior de segundo tumor primário (outro tumor e não uma recidiva). Além disso, as caracterís�cas clínicas dos carcinomas de cabeça e pescoço diferem entre os fumantes e não fumantes (LANCET, 2005). Em algumas culturas isoladas da Índia e da América do Sul os índices da doença são al�ssimos, devido a um hábito de fumar o cigarro inver�do, ou seja, com a ponta acesa para o interior da boca, nesse caso a região da mucosa oral mais afetada é a do palato duro, local normalmente incomum para o aparecimento da lesão. ÁLCOOL: pode agir de duas formas, direta ou indiretamente. A forma direta está relacionada com os aldeídos, que são liberados a par�r da degradação do álcool no organismo. Essas substâncias são consideradas carcinogênicas. A forma indireta está relacionada a associação com o tabaco. O álcool age sinergicamente com o cigarro, aumentando as chances do paciente desenvolver uma malignidade. Isso ocorre porque o álcool desidrata a mucosa, sendo assim, as substâncias carcinogênicas do tabaco penetram mais facilmente no organismo. Além disso, pode estar associado a uma deficiência nutricional, por diminuir o ape�te. O álcool sozinho aumenta cerca de nove vezes o Manuella Soussa Braga Patologia Oral - 3º período - 2018/1 risco de desenvolver câncer de boca e, se associado ao tabaco aumenta 35 vezes mais o risco de desenvolvimento. RADIAÇÃO: tanto a radiação ultravioleta quanto a ionizante são fatores importantes na e�ologia do CCE. A radiação UVA/UVB está mais relacionada com carcinoma de lábio inferior, a par�r das queilites ac�nicas . Pacientes subme�dos a radioterapia de cabeça e pescoço apresentam uma maior predisposição de desenvolverem alguma malignidade. Está relacionado ao acúmulo de mutações gené�cas. MICRORGANISMOS E VÍRUS: alguns microrganismos como a Candida , podem estar relacionados com a e�ologia do CCE. A nitrosamina é uma substâncias carcinogênica que é liberada pelo metabolismo normal do fungo. Alguns vírus dos grupos HSV e HPV, também são fatores extrínsecos importantes. Sabe-se que alguns deles possuem a capacidade de a�var os oncogenes e mutar os genes supressores de tumor. A candidíase pode ser um fator de risco isolado ou estar associado aos outros fatores, já o HPV já foi comprovado em câncer de orofaringe, mas também está presente no câncer de boca. ONCOGENES E GENES SUPRESSORES DE TUMOR: e sses genes são responsáveis pelo equilíbrio de divisão celular, ou seja, os oncogenes são responsáveis por es�mular a divisão celular, já os genes supressores de tumor possuem a função de "frear" essa divisão. Então, é necessário que haja um equilíbrio entre esses dois genes, para que ocorra uma correta divisão celular. Mutações espontâneas ou induzidas por algum fator externo ou envelhecimento (acúmulo de mutações e falha nos mecanismos de reparo) podem acarretar em um mau funcionamento desses genes, predispondo o indivíduo a uma possível malignidade. DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS: a literatura cita que as deficiências de ferro e vitamina A estão associadas a e�ologia do CCE. Sabe-se que o ferro tem grande importância no correto funcionamento das células epiteliais, principalmente as da mucosa do trato diges�vo superior. A síndrome de Plummer-Vinson , que é caracterizada por por uma deficiência de ferro grave, glossite e disfagia está associada a um elevado risco para o carcinoma de células escamosas. As pesquisas também relatam que a vitamina A parece exercer um papel preven�vo em lesões pré-malignizáveis (leucoplasia) e no câncer oral. ALIMENTAÇÃO POBRE EM NUTRIENTES: BAIXA NA AÇÃO ANTIOXIDANTE. Uma higiene oral deficiente, próteses mal ajustadas (geralmente relacionadas ao trauma) e o chimarrão (alta temperatura e grandes quan�dades, já comprovado em câncer de esôfago - mais sensível ao calor) também podem ser fatores associados. LANCET 2005 - observou-se que, independente do �po de câncer, existemtrês fatores de risco ambientais mais comuns ao desenvolvimento de câncer: álcool, tabaco e baixa ingestão de frutas e vegetais. PERFIL DA POPULAÇÃO DE ALTO RISCO PARA CÂNCER DE BOCA (73) - homens, acima de 40 anos de idade, de baixa classe socioeconômica, fumantes e/ou consumidores de bebidas alcoólicas e higiene bucal deficiente. Manuella Soussa Braga Patologia Oral - 3º período - 2018/1 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS LOCALIZAÇÃO: o lábio inferior, mais acome�do quando associado ao fator de risco radiação solar ou substâncias carcinogênicas do cigarro (apoio) e soalho de boca, lateral da língua e palato mole (intra-oral) quando associados ao tabagismo e e�lismo. DETECÇÃO DA LESÃO: deve ser feito um exame clínico mais abrangente e detalhado, tendo maior atenção às áreas mais associadas aos fatores de risco , como assoalho de boca, língua etc, já que possuem maior probabilidade de desenvolver o câncer. Para o diagnós�co então, faz-se uma biópsia, com análise microscópica e posterior estadiamento da lesão. ESTADIAMENTO TNM T: tamanho. T1 - até 2cm T2 - até 4cm T3 - mais que 4cm T4 - invade estruturas vizinhas, qualquer tamanho N: linfonodos (metástase regional). N0 - ausência de metástase para linfonodos (indicador de melhor prognós�co) N1, N2 (a, b e c) e N3 - presença de metástase para linfonodos depende: tamanho do linfonodo, mesmo lado ou não da lesão, se é único ou múl�plo . M: metástase para outros órgãos. M0 - ausência de metástase à distância M1 - presença de metástase à distância O estadiamento tem por função definir o tratamento do paciente e qual o prognós�co dele, podendo ser clínico (que depende do exame clínico e de imagem) e o TNM patológico, em que a medida do tumor é feito por macroscopia e analisa-se o acome�mento de linfonodos na microscopia a par�r de pacientes operados. Após o estadiamento, as lesões são agrupadas em estádios I e II quando são iniciais e III e IV quando são avançadas. Detectar o tumor em seu estádio inicial (0, I e II) melhora o prognós�co do paciente. Tabela disponível em BIASOLI et al., 2015 Manuella Soussa Braga Patologia Oral - 3º período - 2018/1 A lesão pode assumir 6 formas principais: endo��ca, exo��ca, leucoplásica (placa branca), eritroplásica (placa vermelha), eritoleucoplásica (placas brancas e vermelhas) ou apresentar-se como uma lesão ulcerada. Qualquer lesão com esses aspectos localizadas em borda lateral e ventre de língua, assoalho da boca e lábio inferior é mandatório a realização de biópsia. Outros locais da mucosa oral podem ser acome�dos. Os carcinomas de lábio, sendo 90% deles localizados no lábio inferior, estão fortemente associados as queilites ac�nicas , que estão relacionadas com a exposição crônica aos raios ultravioletas. O CCE de lábio apresenta-se normalmente como ulcerações ou crostas na super�cie do lábio inferior, com perda de delimitação do vermelho dos lábios, de indivíduos de meia-idade ou idade avançada do sexo masculino. Além disso, apresentam um prognós�co bastante posi�vo (menos agressivo) se comparado ao intraoral, isso porque apresentam um crescimento mais lento e menores chances de sofrerem metástase. imagem disponível em www.dermafoto.com Na biópsia da lesão deverá dar preferência para a região ulcerada e, se não �ver, a área eritroplásica. Além da biópsia, pode-se palpar para diagnos�car possibilidade de invasão de tecido vizinho. Se, após análise histopatológica, vier laudo não suges�vo de carcinoma, repete-se biópsia, tendo em vista que, o aspecto clínico é bastante caracterís�co do CEE. Nos exames de língua (50% dos casos), u�liza-se uma gaze, colocando-a para fora e lateralizando-a, a fim de examinar a região posterior da borda lateral da língua. O CEE presentes na língua, normalmente, manifestam-se como uma úlcera de bordos elevados e endurecidos, assintomá�co. A medida que for crescendo e a�ngindo outras estruturas vai provocando dor. lesão exo��ca em borda lateral de língua, notar super�cie irregular e ulceração/ lesão endo��ca na super�cie ventral da língua. pode-se observar uma área de ulceração e a borda "em rolete". Imagens disponíveis em h�p://odontologiadrameri.blogspot.com.br/ e Neville et al, 2009 Os carcinomas que acometem o assoalho de boca (35%) podem estar presentes na linha média (faz-se esvaziamento cervical bilateral), além de que, é o carcinoma com maior possibilidade de surgir de lesões epiteliais precursoras pré-existentes. É comum ter metástase para linfonodos. Imagem disponível em h�p://www.ricardosgomez.com/ http://odontologiadrameri.blogspot.com.br/ Manuella Soussa Braga Patologia Oral - 3º período - 2018/1 Os tumores de rebordo alveolar normalmente são assintomá�cos, sendo mais comum na região posterior e inferior. Têm propensão a imitar lesões inflamatórias benignas, como o granuloma piogênico e hiperplasia fibrosa. Em geral, invadem o ligamento, mime�zando uma doença periodontal que destrói osso (estrutura vizinha - avançado, T4) e causa mobilidade dentária. LOCAIS DE RISCO Os locais de risco coincidem com os de maior frequência de acome�mento: borda lateral e ventre de língua, palato mole (câncer de orofaringe) e assoalho da cavidade bucal. Pacientes com lesões nessas regiões precisam ser acompanhados com maior frequência e a biópsia deve ser realizada de maneira urgente. Além disso, os locais mais comum da eritroplasia coincidem com os do CEE. O que jus�fica o fato de que, quando se realiza uma biópsia da eritroplasia, grande parte já é um carcinoma in situ ou invasor. “A ERITROPLASIA É A FORMA MAIS PRECOCE DO CEE!” METÁSTASES A metástase do CCE, assim como de outros carcinomas se dá pela via linfá�ca para os linfonodos cervicais, normalmente do mesmo lado da lesão (é mais agressiva quando comete um linfonodo do lado oposto). Um linfonodo cervical que contém depósitos tumorais, apresenta-se aumentado, fixo e de consistência pétrea (duros), normalmente se apresenta indolor. Em relação às metástases à distância (2% dos tumores - não é tão comum), os sí�os mais comuns são: pulmões, �gado e ossos. Asmetástases dos carcinomas de células escamosas não ocorrem precocemente, o problema está em relação ao atraso no diagnós�co, pois, a maioria dos pacientes só procuram atendimento quando a lesão já evoluiu bastante, por isso, trata-se do principal indicador de mau prognós�co. O paciente que já apresenta metástase no pulmão (comprovado pelo rx de tórax) é considerado inoperável, fazendo outras terapias, como a radio e quimio. DIANTE UM CÂNCER DE BOCA: O QUE SE FAZ? 1. A lesão deverá ser detectada. 2. Faz-se uma biópsia para confirmação. PADRÃO OURO PARA DIAGNÓSTICO. 3. Encaminha-se para o tratamento (oncologista/cirurgião de cabeça e pescoço). E qual é o papel do cirurgião den�sta? O CD está habilitado para realizar uma biópsia incisional e enviar para análise patológica. Após confirmação de lesão, encaminha-se para o oncologista/cirurgião de cabeça e pescoço. Além de prevenção, conscien�zação dos fatores de risco, diagnós�co precoce dessas lesões. - Os tumores com células menos diferenciadas são os mais agressivos e de pior prognós�co. A especialização da célula refere-se a produção de quera�na, que representa o mais alto grau de diferenciação. Nesse contexto, um tecido com células bem diferenciadas é bem organizado e Manuella Soussa Braga Patologia Oral - 3º período - 2018/1 estra�ficado, o que não ocorre na indiferenciação celular (a�pia - não produz cera�na e não parece com célula epitelial). Os tumores com células mais diferenciadas têm prognós�co melhor. QUATRO GRAUS DE DIFERENCIAÇÃO: I - o mais próximo de uma célula normal (mais diferenciada). COMPORTAMENTO MELHOR. IV - nem lembra o tecido epitelial (menos diferenciada). COMPORTAMENTO PIOR. BEM: semelhante ao epitélio escamoso oral. MODERADAMENTE: pleomorfismo celular, aumento do número de mitoses a�picas. POUCO: predomínio de células imaturas, com numerosas mitoses �picas e a�picas e mínima cera�nização. INDICADORES DE PROGNÓSTICO Acome�mento de linfonodos. Padrão de invasão (formação de ilhas). Invasão perineural (tumor u�liza o espaço ao redor do nervo para metástase). Invasão vascular, seja linfá�ca ou sanguínea. Espessura do tumor. Profundidade da invasão. PROCEDIMENTOS RELEVANTES NO DIAGNÓSTICO Inspeção visual e palpação de toda a mucosa. Palpação bimanual do assoalho de boca. Palpação da cadeia de linfonodos. SEMPRE CONFIRMAR DIAGNÓSTICO POR MEIO DA BIÓPSIA! A DEPENDER DA DOSE DA RADIAÇÃO, PODEM-SE TEM COMPLICAÇÕES: mu�lações, mucosite, hipossalivação, cárie por radiação, perda do paladar, osteorradionecrose, trismo e necrose do tecido mole. As imagens foram re�radas do site h�p://estomatologiaonlinepb.blogspot.com/ A tabela foi re�rada de BIASOLI, et al. Roteiros de aulas da disciplina de Estomatologia. 1. ed. Aracatuba: [s. n.], 2015. 144p. http://estomatologiaonlinepb.blogspot.com/
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