Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Izabel Cristina Feijó de Andrade Lurdes Caron EDUCAÇÃO INCLUSIVA: compartilhando saberes e fazeres Epígrafe “A educação inclusiva só começa com uma radical reforma da escola, com a mudança do sistema existente e repensando-se inteiramente o currículo, para se alcançar as necessidades de todas as crianças.” Dulce Barros de Almeida Capa e Diagramação Zuraide Maria Silveira Designer Gráfico Tiragem 300 exemplares Editora Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária Responsável: Dênira Remedi – CRB 14/1396 E24 Educação inclusiva : compartilhando saberes e fazeres / organizadoras, Izabel Cristina Feijó de Andrade, Lurdes Caron. – São José, SC : ICEP, 2015. 155 p. ISBN 978-85-68386-09-5 1. Educação Especial. 2. Inclusão Escolar. 3. Professores - Formação. I. Andrade, Izabel Cristina Feijó de. II. Caron, Lurdes. CDU 376 PPGE - UNIPLAC Coordenadora Marina Patrício de Arruda Coordenadora Adjunta Lúcia Ceccato Apoio ICEP Organizadoras Izabel Cristina Feijó de Andrade Lurdes Caron Autores Ana Carolina Marthendal da Luz Andreia Vieira Maia Elza Maria Netto Bernardi Enro Gustavo Venturell Eri Cristina dos Anjos Campos Izabel Cristina Feijó de Andrade Kriscia Germano Fávero Lurdes Caron Marinês Dias Gonçalves Marta Bascompte Grau Miriam Regina Moreira Maria Renata da Rocha Ramos Suzana Maria Webber Xavier 9Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres Sumário Prefácio ..........................................................................................................................11 Marina Patrício de Arruda Apresentação.................................................................................................................13 Izabel Cristina Feijó de Andrade Autismo: a origem do preconceito, dos estereótipos e dos processos de cognição. .......................................................21 Ana Carolina Marthendal da Luz e Izabel Cristina Feijó de Andrade A inclusão da criança com transtorno de espectro autista nos anos iniciais ..........................................................................37 Miriam Regina Moreira Maria e Izabel Cristina Feijó de Andrade Síndrome de Joubert - Avaliação e Intervenção Motora .......................................71 Kríscia Germano Fávero, Renata da Rocha Ramos e Izabel Cristina Feijó de Andrade Atendimento Educacional Especializado para crianças com deficiência intelectual: um compromisso presente desde a educação infantil ............................................................................89 Suzana Maria Webber Xavier e Lurdes Caron Atendimento Educacional Especializado: um olhar para a formação continuada e permanente de professores ..........................................119 Eri Cristina dos Anjos Campos e Lurdes Caron Reflexão sobre a influência da modernidade no desenvolvimento das pessoas com Altas Habilidades/Superdotação ...............................................129 Andreia Vieira Maia e Lurdes Caron 10 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron Relato de experiência: inclusão de surdo no ensino técnico profissionalizante desafios e perspectivas .................................................143 Marinês Dias Gonçalves e Lurdes Caron Relação do controle dos movimentos oculares e a dislexia do desenvolvimento: uma revisão sistemática. ........................................165 Enro Gustavo Venturella, Marta Bascompte Grau e Izabel Cristina Feijó de Andrade Formação de professores para educação especial .................................................181 Izabel Cristina Feijó de Andrade, Lurdes Caro e Suzana Maria Webber Xavier Políticas e práticas de inclusão de alunos com Síndrome de Down: um desafio na educação básica ............................................227 Elza Maria Bernardi e Lurdes Caron 11Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres Prefácio É com alegria e satisfação que como prefaciadora me coloco na situação de quem tem o privilégio da prioridade da leitura do livro Educa- ção Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres, organizado pelas queridas professoras Izabel Cristina Feijó de Andrade e Lurdes Caron. Compar- tilhar saberes sobre educação inclusiva é um ato de responsabilidade e sabedoria por desvelar aspectos, que imbricados entre si, dão o tom da educação inclusiva que ocorre onde nós pisamos. Dessa forma, parabeni- zo as organizadoras por distribuírem o conhecimento que se constrói com tanto esmero e dedicação dentro dos Programas de pós-graduação em Educação como é o caso do PPGE-UNIPLAC. A primeira impressão que tenho é de que a produção é profunda- mente vinculada à vivência das professoras que se juntaram para então fortalecer um processo de construção coletiva de conhecimento. Os capí- tulos têm sua vinculação a alguma prática pedagógica e mostram como os autores dão destaque a momentos vividos em suas práticas de educação e de ensino, tudo de forma reflexiva e criteriosa. O tema Educação Inclusiva ainda suscita debates intensos sobre di- ferentes experiências exigindo reflexões e ações para a ampliação do olhar de toda a sociedade sobre a construção de práticas e valores comprometi- dos com a diferença e qualidade da educação. Isso porque essa discussão é relativamente nova e conflituosa. Até bem pouco tempo atrás a Educação Especial era ligada ao mo- delo clínico orientado por exames médicos e psicológicos e os alunos eram avaliados tendo suas deficiências identificadas para serem então, tratadas. Assim, a Educação Especial foi institucionalizada e por muitos anos man- teve-se como um sistema de ensino segregado, o que só começou a mudar nos anos oitenta a partir dos referenciais da filosofia da normalização e da 12 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron integração das pessoas com deficiência (GLAT & BLANCO, 2007, p. 21). Mas na realidade, sob a luz desse referencial, ainda imperava a “preparação prévia dos alunos para sua entrada no ensino comum”. Só na década de noventa com o surgimento das discussões sobre “educação para todos” e sobre as metas que vislumbravam a universali- zação da educação, é que foram elaboradas políticas de universalização da educação básica e de inclusão escolar em nosso país, considerando; Decla- ração de Educação Para todos (1990) e Declaração de Salamanca (1994). Em 1996 a “educação inclusiva” ganhou destaque nos debates edu- cacionais brasileiros, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- nal (LDBEN nº 9.394/96), que dedicou um capítulo à Educação Especial. Essa breve retrospectiva permite-nos avaliar as dificuldades que tivemos para considerar a diversidade e a diferença do ser humano. Lembrando que relações sociais precisam ser alimentadas por amor e que a amorosidade e o diálogo constituem-se estratégias indispensáveis para que ocorra o processo educativo, retomo as palavras de Freire ao considerar que “o encontro amoroso entre os homens que, mediatizados pelo mundo, o “pronunciam”, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos” (FREIRE, 1992, p. 43). Nes- se sentido, considero exitosa essa proposta de se lançar ao mundo ideias que discutem práticas e reflexões sobre a Educação Inclusiva. Felicito as autoras pela coletânea que reúne discussões que nos ajudam a desconstruir estereótipos que produzimos para excluir o outro do processo educativo amoroso, compromisso que deveria ser assumido por toda a sociedade. Referências FREIRE, P. Comunicação e Extensão. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. GLAT, Rosana. BLANCO, Leila de Macedo Varela. Educação Especial no con- texto de uma educação inclusiva. In : GLAT, Rosana. Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7 letras, 2007. Dra. Maria Patrício de Arruda UNIPLAC 13Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres Apresentação Izabel Cristina Feijóde Andrade Lurdes Caron No Brasil, vivemos um processo dinâmico de transições e transfor- mações que se configura desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96, passando pelo Plano Nacional de Educação 2011 - 2020, pelas Diretrizes Curriculares para a Educação Básica 2013, pela Base Nacional Comum Curricular de 2015, pela Educação dos Direi- tos Humanos, pela Lei no 10.639/2003 que trata das relações étnico-ra- ciais, pela Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Edu- cação Inclusiva, pela Convenção da ONU para os Direitos das Pessoas com Deficiência, pelo Decreto no 6.571 que diz respeito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE) e pela busca da humanização das esco- las, pela Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, pela qual é instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da pessoa com Deficiência). Essa Lei, no Art. 2º reconhece a pessoa com deficiência, “a que tem impedimento de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, com uma ou mais barreiras que podem impedir a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) preconiza que a educação especial é uma modalidade a perpassar todos os níveis de ensino – educação infantil, ensino fundamental, médio e superior. Assim, os educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e Altas Habilidades/Superdotação, tem o direito de receber os serviços especializados que lhes são garantidos. Nessa conjuntura a educação inclusiva contempla as características 14 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron da fase de desenvolvimento de todos os estudantes, promovendo e pos- sibilitando o acesso, a aprendizagem e o convívio com seus pares. Para favorecer o processo de escolarização em turmas regulares, os estudantes com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento, com altas habi- lidades ou outro comprometimento, as instituições propiciam ou encami- nham estes educandos para o Atendimento Educacional Especializado/ AEE, nas Salas de Recursos Multifuncionais e, firma a interface entre o planejamento, a metodologia e ações dos educadores das classes comuns com aqueles que atuam no AEE. Para além dos textos legais e propostas práticas, temos o compro- misso educativo de construir escolas humanizadoras, inclusivas e igualitá- rias, de qualidade para todos. Assim, urge a necessidade da reorientação curricular que é um procedimento essencial para destacar a questão do ensinar e do aprender na perspectiva da justiça e do direito de todos a uma educação de qualidade social. Isso nos leva a pensar, a considerar os direitos humanos, à educação inclusiva e à educação das relações étnico-raciais, como eixos de estudos e debates entre diferentes setores. Indubitavelmente, os estudantes têm assegurado o atendimento pela Educação Especial uma educação escolar que propicie respostas educacio- nais. O estudante com deficiência pode ser inserido, preferencialmente, na escola regular com currículo adaptado para atender às suas necessidades individuais e às necessidades gerais da classe. A rede regular de ensino prevê o apoio à inclusão, no espaço físico da escola ou em espaços o mais próximos possível da mesma, em que o estudante receba o atendimento educacional especializado (AEE) sempre que necessário. Para tanto, esse processo demanda uma reorganização curricular do trabalho escolar e a ajuda mútua entre os profissionais, com a disposição para dialogar, compartilhar experiências e produzir novas práticas. Neste contexto o processo de construção de uma escola para todos, democrática e, inclusiva, que contemple os estudantes com e sem deficiência em suas diferenças no exercício da cidadania é o nosso objetivo fundamental. De 15Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres certo no documento da Política Nacional da Educação Especial na pers- pectiva da Educação Inclusiva afirma que as dificuldades encontradas são de ordem discriminatória e urge superá-la. Com isso, a escola estará de fato, vivendo uma reorientação curri- cular que contribua para transformar a realidade, tomando providências para que as práticas aconteçam de maneira pensada, articulada e refletida. Quando isso acontece, a escola trabalha os desafios do processo de en- sino e de aprendizagem, reinventando alternativas e caminhos, buscando contribuições pedagógicas e propostas curriculares de interação e de ava- liação e ou de outras formas de organização dos tempos e dos espaços. Os educadores ensinam e aprendem sempre, socializando suas experiências, numa dimensão humanizadora. Vivemos em um tempo de profundas transformações que influen- ciam a sociedade e a desafia para mudanças no que concerne a forma de pensar e de conceber a vida. Neste contexto os educadores se habili- tam para o desenvolvimento de um currículo que por meio da educação escolar permita práticas pedagógicas libertadoras viabilizando segundo documento de Puebla (1997), uma formação em prol da humanização e personalização do educando, na compreensão de que todos têm condi- ções de aprender, reaprender. Todos têm direito ao acesso e permanência na escola, bem como direitos iguais. Isto compreende o direito à inclusão escolar e social e ao conhecimento produzido e vivido. Nesse contexto a parceria da escola com a família é essencial, para poder alimentar dados do desenvolvimento do aluno, da correta aplicação de recursos, materiais e equipamentos, bem como no trabalho conjunto de remoção das barreiras e de viabilização da acessibilidade plena. Além da presença marcante da família no processo escolar, há articulações com a comunidade: empresas e, outros segmentos do poder público, contri- buindo para a aculturação de que a educação não é apenas uma área res- trita à escola aos órgãos do sistema educacional. As escolas são espaços cujas contingências tange o respeito às diferenças e as responsabilidades das escolhas de cada um dos professores e alunos. 16 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron Aqui estão retratados alguns desejos e algumas experiências de edu- cadores em formação inicial em que se prioriza uma reflexão sobre a in- clusão, em tempos e em espaços formais e informais educacionais. Nossa premissa é que devemos assegurar a todos os estudantes uma educação inclusiva e humanizadora. Para tanto, essa experiência demanda uma re- organização e uma disposição para dialogar, compartilhar experiências e produzir novas práticas para além da inclusão. O esforço está presente em muitos dos artigos que compõem esse livro. Nesses artigos foram compiladas pesquisas de conclusão de curso de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José (USJ) e Dissertações de Mestrado em Educação da Universidade do Pla- nalto Catarinense (UNIPLAC), que experienciaram um aprofundamento teórica sobre a Educação Especial e artigos científicos do curso de Espe- cialização em Desenvolvimento Infantil do Instituto de Consultoria Em- presarial Educacional e Pós-Graduação (ICEP). O primeiro artigo intitulado “Autismo: a origem do preconceito, dos estereótipos e dos processos de cognição” refere-se a uma refle- xão sobre as possibilidades globais educativas, de inclusão e compreensão da criança autista levando-se em conta os processos de categorização e cognição social legitimado pela sociedade atual. A preconcepção de gran- de parte da população que tem pouco ou nenhum contato com crianças ou adultos autistas, o padrão de comportamento esperado é agressividade e que não demonstrem perceptibilidade sobre o meio que os cerca e sobre quem são. A partir do momento em que uma criança é caracterizada como autista, é criado um rótulo para ela, um padrão da qual a sociedade não está preparada para receber e nem para compreender as diversas fugas que ocorrem. Nesse mesmo viés, o próximo artigo: “A inclusão da criança com transtorno de espectroautista nos anos iniciais” traz o propósito de analisar como ocorreu o processo de inclusão das crianças com Trans- torno de Espectro Autista na escola regular e que medidas devem ser to- madas para sua concretização. Para tanto, foi necessário investigar sobre 17Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres a trajetória da criança com deficiência no âmbito social e educacional e verificar como ocorre a inclusão de alunos com autismo na escola regular. A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido. É um movimento muito polemizado pelos mais diferentes segmentos edu- cacionais e sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos no ensino regular nada mais é do que garantir o direito de todos à educação - e assim diz a Constituição. O artigo “Síndrome de Joubert – Avaliação e Intervenção Mo- tora” tem o propósito de verificar a eficácia de um programa de interven- ção motora em uma criança com Síndrome de Joubert. Essa investigação está centrada na possibilidade da aplicação de um programa de interven- ção motora a uma criança portadora de Síndrome de Joubert acarretará na melhora do seu desenvolvimento global e de suas respectivas funções motoras. A Síndrome de Joubert caracteriza-se pela malformação rara do cérebro e apresenta alterações no sistema nervoso central, ocular, renal, e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor (MESTROVIC, 2014). Para que o desenvolvimento do indivíduo seja completo é necessário que cada parte do seu corpo (física, sensorial, emocional, social) receba ade- quado estímulo. Para discutirmos o atendimento educacional especializado, damos destaque nesse livro ao artigo intitulado “Atendimento Educacional Especializado para crianças com Deficiência Intelectual: Um Com- promisso Presente desde e Educação Infantil” em que enfatiza que todo o ser humano tem direito a inclusão na escola e na sociedade. Essa inclusão se fundamenta na perspectiva de se reconhecer e valorizar a di- versidade cultural das pessoas independente de sua condição individual, comportamental e social. A legislação brasileira garante a todas as crianças o acesso à escola e as mesmas oportunidades, para todas as crianças, inde- pendente da raça, cultura, gênero e classe social. No próximo artigo intitulado “Atendimento Educacional Es- pecializado: um olhar para a formação continuada e permanente 18 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron de professores” buscamos refletir sobre a dimensão de uma escola para todos os estudantes que frequentam um mesmo espaço educacional, inde- pendente de suas diferenças físicas, intelectuais ou sociais, fixa-se um olhar em direção à escola inclusiva. Compreendemos que este espaço de escola- rização garante a plena participação de todos os estudantes, incluindo os de educação especial. Para isso, faz-se necessário o rompimento de barrei- ras, permitindo aos mesmos, a acessibilidade seja esta física ou pedagógica. O artigo “Reflexão sobre a influência da modernidade no de- senvolvimento das pessoas com Altas Habilidades/Superdotação” reflete a questão de pessoas com altas habilidades/superdotação - AH/ SD, no meio em que estão inseridas, de formas para desenvolver e aplicar suas habilidades e construir suas identidades por meio do reconhecimen- to. Destaca que mitos criados em torno de pessoas com AH/SD, são cren- ças, tais como: pessoas com altas habilidades/superdotação terão sucesso profissional garantido, que são auto-educáveis, são vistos como autodida- tas; pessoas acreditam que eles não precisam de ajuda efetiva. Esses mitos são um atributo cultural, construído historicamente e socialmente e que prejudicam a identificação e o atendimento desses educandos. Abordamos um relato de experiência sobre a “Relato de Expe- riência: Inclusão de surdo no ensino técnico profissionalizante de- safios e perspectivas” em que se realiza uma reflexão sobre os desafios do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas do Instituto Federal Catarinense - Campus Rio do Sul frente à proposta de inclusão defendida em seu regulamento. Deste modo, relata a experiência ocorrida com a inclusão educacional de um estudante Surdo no ensino técnico profissionalizante, apontando os principais desafios e perspectivas encontradas no decorrer do processo. No artigo “Relação do controle dos movimentos oculares e a dislexia do desenvolvimento: uma revisão sistemática” apresen- ta a relação entre a eficiência oculomotora e a habilidade de leitura tem sido demonstrada por meio de uma revisão da literatura. Os movimentos oculares representam apenas uma faceta da deficiência de leitura, o que 19Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres provavelmente, é só um aspecto cognitivo periférico para a leitura. No en- tanto, devido aos movimentos oculares estarem principalmente sob con- trole voluntário, eles podem ser um aspecto maleável do comportamento cognitivo na dislexia. Assim, embora a terapia visual para os movimentos oculares possa não curar as pessoas com dislexia, pode ser um método de aprendizagem sistemático de aquisição da informação, fator que promo- veria alguma assistência. O próximo artigo “Formação de professores para educação especial” tem o objetivo de compreender como o professor atua com a educação especial. Para tanto traçamos um panorama pedagógico da trajetória educacional inclusiva. A forma como o professor trabalha a educação inclusiva é discutida nos meios acadêmicos, pois a inclusão de crianças com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação trata de garantir o desenvolvimento de projetos de educação com qualidade para todos os alunos. A formação do profes- sor da educação infantil e do ensino especial é debatida e pesquisada pelas especificidades que apresenta. Por fim, apresentamos o artigo intitulado “Políticas e práticas de inclusão de alunos com Síndrome de Down: um desafio na educa- ção básica” abordamos o olhar da pesquisadora, partindo do entendi- mento que o campo da educação especial é demasiado complexo e ex- tenso para ser pesquisado em sua totalidade de forma simples e objetiva e tem o propósito analisar as políticas e práticas de inclusão de alunos com Síndrome de Down, na educação municipal de Lages. 21Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres autismo: a origem do preconceito, dos estereótipos e dos processos de cognição. Ana Carolina Marthendal da Luz/USJ Izabel Cristina Feijó de Andrade/USJ Textos, Contextos e Pretextos Todo projeto de trabalho de conclusão de curso é algo extrema- mente pessoal, um recorte do assunto que mais chamou a atenção durante a graduação e, possivelmente, uma linha de pesquisa prévia para a pós- graduação. A minha justificativa para uma pesquisa sobre a relação entre autismo e o preconceito se responde na falta de um conhecimento prévio sobre o que se trata o autismo e nos preconceitos a respeito de semelhan- ças, comparações e diferenças com outros distúrbios e síndromes, como por exemplo: Síndrome de Down. O propósito desse artigo é refletir sobre as possibilidades globais educativas, de inclusão e compreensão da criança autista levando-se em conta os processos de categorização e cognição social legitimado pela so- ciedade atual. Na preconcepção de grande parte da população que tem pouco ou nenhum contato com crianças ou adultos autistas, o padrão de comporta- mento esperado é agressividade e que não demonstrem perceptibilidade sobre o meio que os cerca e sobre quem são. A partir do momento em que 22 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron uma criança é caracterizada como autista, é criado um rótulo para ela, um padrão da qual a sociedade não está preparada para receber e nem para compreender as diversas fugas que ocorrem. Nesse sentido, o tema desse trabalho emergiu da necessidade direta de pensar em minha família, em que minha irmã maisnova tem autismo. Nessa vivência ficou registrada a angústia que experimentamos diante da criança, tão pequena, tão inacessível, em muitos momentos nos sentíamos desesperadas. Aos poucos, a vivência foi sendo ampliada por sorrisos, olhares e interações diversas. A criança autista suscita, tão claramente, questões relacionadas o outro, à fala, à singularidade com que constrói sua realidade. Isso nos re- mete indubitavelmente a pensar em formas alternativas para interagir com as crianças nessa condição. Poucas doenças mobilizam mais o ser humano do que o autismo. Temos uma criança, normalmen- te bonita, sem sinais óbvios de lesão, que não nos fixa nos olhos, se esquiva, não nos responde, não interage conosco. Logo fere o nosso amor-próprio, o nosso narcisismo, a nossa onipotência e a nossa auto-estima. Rapidamente desenvolvemos teorias, explicações, justificativas e argumentos para com- preender o problema. Alguém tem que ser o res- ponsável ou o culpado. (GAUDERER, 1992, p. 17) Por não possuir causas orgânicas, (como por exemplo: em um caso de tendinite, existe tratamento pré-determinado para a área lesionada onde podemos tratar e controlar a doença) temos a falsa percepção que o autismo é reversível com o uso de medicamentos ou terapias alternativas. Então, quanto mais se tem essa falsa sensação de controle, maior é a ig- norância gerada. O autismo não tem um rosto e nem características concretas, apesar de possuir um estereótipo, cada portador é único dentro de suas limitações e evoluções diárias. Tanto, que sujeitos categorizados 23Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres como autistas de alto ou baixo padrão de desenvolvimento podem ser diferentes entre si e divergirem em alguns pontos da categoria em que foram inseridos. Quando falamos a respeito de educação especial, seja por parte de educadores ou até mesmo da sociedade, é impossível não associar quem precisa de atendimento especializado do preconceito causado pela falta de conhecimento sobre como lidar com quem, muitas vezes, age de forma diferente do que a sociedade está acostumada a enxergar como “igual” ou “normal”. No processo de cognição social abordados nas páginas a se- guir, fica evidente que a criança autista e a família, sofrem por anos diversas situações preconceituosas, tendo em vista que o autismo tem causas que refletem no comportamento dessas crianças e é quase que instintivo que seja associado à falta de limites e não a necessidade de um olhar diferenciado para as reais necessidades das crianças autistas. O fato do autismo não ter uma característica física, um rosto, torna o diagnóstico difícil, pois cada criança autista é única, não necessaria- mente apresentando todas as características da categorização feita pela medicina. Quais as possibilidades de inclusão da criança autista no contexto educacional? Antes de apontar as possibilidades de inclusão da criança autista no contexto educacional brasileiro, se faz necessário compreender primei- ro o que é inclusão O que se entende por inclusão de crianças com neces- sidades especiais vai além de refletir sobre o contexto atual da educação brasileira. Carvalho (2005) nos fala que a inclusão não deve ser concebida como um preceito administrativo, dado a priori, que leva a estabelecer datas, a partir das quais as escolas passam a ter o status de inclusivas, em obediência à hierarquia do poder ou a pressões ideológicas. Existe um consenso de que se faz necessário repensar a qualidade das respostas cognitivas das crianças inclusas no sistema educacional bra- sileiro, porém esse, ainda não existe quando se trata de políticas públicas educacionais destinadas a melhoria tão esperada dessas respostas. Um re- 24 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron flexo do que é o contexto educacional brasileiro são as questões relaciona- das a estereótipos e preconceitos, quase como uma reação em cadeia que de certa forma impede uma possibilidade maior de inclusão. Diante disso, as possibilidades de inclusão de uma criança autista são inúmeras, assim como os problemas educacionais brasileiros. O início da resolução desses problemas deve partir de dentro de cada um para fora, do micro para o macro. Não é possível que haja uma política pública satisfatória para incluir a criança autista de uma forma correta dentro do contexto educacional enquanto não forem resolvidas as questões de pre- conceitos errôneos de educadores acerca da inúmera diversidade biológica em que podemos encontrar nas escolas. Assim, trazemos a perspectiva do diagnóstico como é necessário haver sintomas nos três domínios: social, comunicacional e o comporta- mental. Desse modo, a criança autista precisa estar extremamente pre- judicada por esses três sintomas para que o diagnóstico possa ser feito. Algumas crianças realmente têm problemas similares e leves, mas pode- se dizer que elas estão numa linha tênue do diagnóstico, porque não são gravemente incapacitadas por esses problemas, permanecendo no que se denomina Espectro do Autismo. (LANG,2003;GILLBERG, 2005). A pesquisa qualitativa dá a liberdade para o entrevistado responder a questionamentos de uma forma mais indireta, portanto abre margens para mais discussões e reflexões a respeito dos dados apresentados em uma entrevista, tendo em vista que as respostas tendem a ser subjetivas, devem ser analisados também o caráter indutivo dos dados. Além disso, optou-se por uma pesquisa de campo, para observar os fatos e refletir assim como a coleta de dados é feita aonde eles acontecem em sua forma real. Permite ao pesquisador uma imagem ampla da situação a ser obser- vada, pois ele está inserido na situação problema. A pesquisa de campo gera a possibilidade de se ter um aporte metodológico muito próximo da prática pedagógica observada. O que nos permite compreender os mo- vimentos constitutivos nos processos individuais e coletivos de sujeitos envolvidos. Além disso, se configura como uma busca qualitativa sobre os aspectos educacionais investigados e suas relações culturais e sociais. 25Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres A análise textual discursiva é descrita como um pro- cesso que se inicia com uma unitarização em que os textos são separados em unidades de significado. Estas unidades por si mesmas podem gerar outros conjuntos de unidades oriundas da interlocução empírica, da interlocução teórica e das interpreta- ções feitas pelo pesquisador. (Moraes e Galiazzi, 2006, p.45 ) Com uma junção de letras, formam-se palavras que dispostas em frases formam um parágrafo e com alguns parágrafos têm-se um texto. A análise discursiva textual torna-se primordial em uma pesquisa já que a todo o momento tem-se cada vez mais acesso a novas informações, e por causa da análise podemos verificar diversos aspectos que vão de ortogra- fias a ideias e teorias que podem tornar-se obsoletas. Há uma espécie de consenso coletivo e social de excluir tudo o que possa ser considerado diferente dos padrões considerados normais. Em uma sociedade de banalizações, dificilmente encontram-se olhares di- ferenciados, seja dentro ou fora do universo da pedagogia e da educação para quem mais precisa de um olhar diferenciado. Em contradição a isso, ficam as diversas justificativas humanitárias e apelativas para os direitos humanos e para a inclusão de mais crianças nos níveis educacionais, po- rém, quando se faz necessário que exista realmente um processo de inclu- são, ela se dá de forma equivocada, caindo em processos de categorização. Existem inúmeras e contraditórias formas de pensar e agir, no que respeita à inclusão, particularmente no espaço escolar, face à polissemia da aplicação do termo, que tanto se diz respeito aos espaços onde ocorre (inclusão física, inclusão social, inclusão no mundo do trabalho, inclusão na escola...), quando aos sujeitos aos quais se refere (minorias étnicas, re- ligiosas, de grupos sociais em desvantagens, de pes- soas que frequentamou não a escola, que estejam ou não em situação de deficiência...). (CARVALHO, 2005, p.1) 26 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron Nesse sentido, quando se reflete a respeito de educação inclusiva, o primeiro pensamento que se têm é de salas repletas de recursos pedagó- gicos, todos prontos para o início de uma evolução cognitiva na criança, porém as salas somadas aos diagnósticos clínicos não são de muita va- lia, quando não existe ao menos um caminho traçado para seguir com a criança e a família. O que é inclusão torna-se apenas tolerância ao que é diferente, transformando-se então em apenas moralismo abstrato (MAN- TOAN, 2005). A inclusão é uma proposta, um ideal. Se quisermos que a sociedade seja acessível e que dela todas as pessoas possam participar, em igualdade de opor- tunidades, é preciso fazer desse ideal uma realidade a cada dia. As ações de cada indivíduo, das insti- tuições e dos órgãos públicos deve ser pensada e executada no sentido de divulgar os direitos, a legis- lação e programar ações que garantam o acesso de todas as pessoas a todos os seus direitos (SASSAKI, 1999, p.20) Assim, a principal justificativa e, talvez, a única que exista para a realização dessa pesquisa é ser participante ativamente nesse processo de moralismo abstrato que a sociedade fornece à diversidade biológica inseri- da no contexto escolar brasileiro tendo em vista que em minha família há uma criança autista, no caso, minha irmã caçula e em minha vivência pes- soal, presenciei diversas atitudes de tolerância, disfarçando um moralismo em relação a conhecimentos sobre o autismo e o tratamento das crianças autistas, partindo diversas vezes de pessoas que na teoria deveriam apre- sentar um olhar diferenciado, professores e coordenadores de escolas de educação infantil. Entre o caminho da ciência e o do simples estudo de uma situação, essa pesquisa segue o meio-termo. Diferencia-se pela vivência, que torna essa uma investigação abrangente, tendo em vista que busca responder questões que ainda não foram respondidas para as famílias das crianças 27Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres autistas e incluo a minha própria família nessa porcentagem de pessoas que buscam respostas. A cada ano surgem novos livros pedagógicos que estão escritos como manuais práticos de como agir com a criança autista e até de como alimentá-la de uma forma mais saudável. Essa literatura é extremamente valiosa, pois ainda há muito que se pesquisar a respeito do autismo e sín- dromes afins, porém esses livros não respondem o porquê essas crianças ficam à margem da educação. A construção de um preconceito, do que se julga ser correto, belo ou bom está mais arraigada no inconsciente da sociedade do que se ima- gina. Recebemos estímulos externos de todas as partes e, por isso, muitas, vezes o que é compreendido como inclusão de uma criança que necessita de um olhar diferenciado para seguir adiante na escola, nada mais é do que uma aceitação dos limites que ela possui. A confusão entre termos “inclusão” e “aceitação” é a primeira de muitas batalhas a serem vencidas pela criança autista. Atualmente os conceitos estão misturados, a socieda- de que inclui é a sociedade que aceita. Porém, nos moldes atuais de ensino, a sociedade que inclui e aceita, não é a mesma sociedade que leva essas crianças a romperem barreiras. Essa pesquisa me motiva a romper barreiras pessoais, enquanto parte atuante desse processo como familiar de uma criança autista e a res- ponder algumas das diversas questões que estão em aberto a respeito do autismo, como pesquisadora e estudiosa na área, de como ele é compre- endido pelo atual modelo da sociedade brasileira e se é possível que seja compreendido de outras formas. Histórico Os primeiros estudos científicos sobre o tema datam os anos 40, por carecerem de informações precisas, as crianças, adultos e famílias de autis- tas são alvo dos estigmas fantasiosos que são enquadradas as ditas doenças psiquiátricas. Historicamente, o adjetivo autista foi utilizado à primeira vez 28 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron em 1906 por Plouller, que estudava a organização de pensamento de de- terminados pacientes que faziam referências ao meio em que os cercava consigo mesmos. Porém foi na década de 40 que o psiquiatra Léo Kanner da John Hopkins University através de um estudo de caso chamado “Autistic Disturbanceof Affective Contact” com um grupo de crianças severamente comprometidas nas áreas sociais e comportamentais que acabou chamando a atenção da comunidade científica para o autismo. Criador também do conceito da “mãe geladeira”, Kanner afirmou com isso que a causa para o comportamento isolado e diversos outros “desvios” de padrão comportamental era devido ao pouco amor/rejeição das mães dessas crianças. Essa teoria foi considerada válida até meados da década de 80, caindo em desuso após o surgimento de novas pesquisas e a retratação pública anos depois do psiquiatra. Porém o conceito de que a culpa está na mãe ainda persiste em diversas famílias e está arraigado no inconsciente coletivo da sociedade brasileira. Levando em consideração a etimologia do termo “autismo”, que deriva do grego e significa “voltar-se para si” é possível compreender o porquê que ainda a teoria da “mãe geladeira” é considerada. Muitas vezes devido ao extremo desgaste emocional, por falta de informação e conhe- cimento do que é o autismo, torna-se mais simples culpar um alguém que já se sente responsável por dar a luz uma criança que não aprendeu a inte- ragir da forma que a sociedade espera que ela faça. [...] o pesquisador austríaco Hans Asperger publico um em sua tese de doutorado, a psicopatia autista da infância, um estudo observacional com mais de 400 crianças, avaliando seus padrões de comportamento e habilidades. Descreveu um transtorno de persona- lidade que incluía falta de empatia, baixa capacidade de fazer amizades, monólogo, hiperfoco em assunto de interesse especial e dificuldade de coordenação motora. [...] (SILVA, et al, 2012, p. 160) Com o início de estudos mais aprofundados sobre o autismo, sur- giram também outras pesquisas sérias a respeito do tema. No caso da 29Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres síndrome de Asperger que muito se assemelha com o autismo, chegando até mesmo a causar dificuldades de diagnósticos. De acordo com SILVA (et al, 2012) existe uma proposta da Associação de Psiquiatria Norte Ame- ricana para que a síndrome de Asperger passe a ser classificada como au- tismo de alto funcionamento, muito em parte por suas semelhanças com o autismo em si. Atualmente podemos classificar o autismo em quatro categorias distintas: • Traços de autismo, geralmente associadas a características bem leves; • Síndrome de Asperger • Autismo com alto padrão de desenvolvimento • Autismo clássico, geralmente com algum grau de deficiência mental associada Essa categorização de certa forma é válida, já que abre um pre- cedente para que novas pesquisas surjam a cada dia. Categorizando e dividindo uma questão norteadora, que nesse caso seria o autismo, torna-se mais fácil compreender como um todo, principalmente se tratando de um transtorno global de desenvolvimento que atinge di- versas áreas importantes do ser humano. Porém existe o outro lado da questão. A partir do momento em que se categoriza algo, fica im- possível de saber se é possível transpor alguma barreira, como por exemplo: a questão da linguagem. Quando categorizamos uma criança, por exemplo, com autismo com alto padrão de desenvolvimento, estamos restringindo àquela catego- ria, na qual se diz ter dificuldades de interação verbal e escrita. Entretanto, como é possível precisar o nível de compreensão desta criança, já que a linguagem como um todo não fica restrita a conversas ou textos? A cate- gorização e o enquadramento de uma criança, logo no início de sua vida é provavelmente a primeira importante causapara o preconceito que a acompanhará por toda a sua vida. 30 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron Cognição é uma palavra associada a diferentes con- ceitos, resultando disso definições distintas para o termo. Dentre elas, duas interpretações se tornaram influentes: a da cognição como informação ou co- nhecimento obtido pela experiência pessoal; e a que define cognição como sistema de processos e con- teúdos mentais interligados, que mantém em con- junto relações de influência mútua com os demais estados, processos e conteúdos psicológicos indivi- duais, estando presentes em tomadas de decisão, na seleção de comportamentos, na orientação da con- duta e na organização da escala de valores. Devido à abrangência, esta última definição é utilizada com maior frequência pelos psicólogos, notadamente os sociais. (KRUGER, 2004, p. 04) De acordo com o conceito de cognição social apresentado, compre- ende-se então que a origem de pré-conceitos e conceitos estereotipados acontecem através de processos cognitivos como as percepções e memó- ria, nos quais, de uma forma coletiva, acaba-se por construir preconceitos. O ser humano é extremamente perceptivo, portanto o que é identificado nos processos de cognição como algo diferente de sua realidade social automaticamente é caracterizado por nós, enquanto animais sociais como diferente, causando em níveis maiores, estranheza e repulsa. Categorização e Preconceito Quando se reflete sobre os conceitos que formam os preconceitos é necessário se pensar em alguns critérios que nos auxiliam a entender a formação desses conceitos. O homem enquanto ser histórico e social, não é um indivíduo neutro, tampouco sabe agir com neutralidade, pois nossa herança histórica e cultural marcou nossos olhares (CORTELLA, FER- RAZ, 2012, pg. 16). Difícil precisar a origem exata dos critérios que auxi- liam a formação de conceitos que levam aos preconceitos, pois recebemos influências de todos os tipos desde o nascimento até a velhice. 31Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres Convém lembrar que o preconceito é inevitável como possibilidade, porque é fruto da nossa liber- dade de reflexão. E nós somos livres, inclusive para sermos tolos. Não se pode, portanto, impedir que o preconceito apareça, mas ele pode ser prevenido, recusado e rejeitado. (CORTELLA e FERRAZ, 2012, p. 10) A sociedade dita valores comportamentais, seguindo tendências consideradas éticas e morais. Quem foge dos padrões ditados é caracte- rizado dentro de um padrão e automaticamente vítima de preconceito. Levando em consideração que um primeiro conceito que formamos a res- peito de alguém ou alguma coisa é geralmente uma informação que não avaliamos com a devida neutralidade, pode-se afirmar que o homem com grande capacidade de tornar-se preconceituoso desde o início do convívio em sociedade. [...] como o agente cognitivo dispõe de um conjun- to abrangente de crenças relativamente estáveis a respeito de diversas categorias sociais, pode-se ima- ginar que os ambientes urbanos, onde tradicional- mente circulam entes que pertencem as mais diver- sas categorias sociais, sejam espaços privilegiados para a manifestação frequente de julgamentos fun- damentados em categorias. [...] (PEREIRA, 2008, p. 282) Os mesmos conceitos que levam a formação de preconceitos na atual configuração de sociedade podem ser aplicados à formação do en- tendimento que se têm a respeito de categorização. Se o preconceito nada mais é do que uma forma de excluir aquilo que nos foi ensinado como diferente, os processos de categorização confirmar e de certa forma jus- tificam isso. 32 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron O Educador que Inclui O tempo médio da graduação em Pedagogia no Brasil é de apro- ximadamente quatro anos. E durante o percurso é necessário que o estu- dante tenha conhecimento em diversas áreas como psicologia e sociologia, são abordados diversos conteúdos sob as reflexões de pensadores de dife- rentes épocas da história mundial. Por ser extremamente necessária uma formação abrangente, tendo em vista a vasta gama de alunos, o pedagogo enquanto estudante, muitas vezes não consegue ficar seu tempo de estudos de forma satisfatória quan- do se fala em educação especial e inclusão educacional em alguns casos, a formação nessa área é inexistente ou com poucas horas aula em compara- ção com as matérias que preparam de uma forma genérica para a educação infantil, anos iniciais e educação de jovens e adultos. Por não existir uma unificação dos currículos das universidades ou uma reformulação das cargas horárias desses currículos, há cada vez mais no mercado de trabalho profissionais que simplesmente não compreen- dem as crianças autistas (e as que precisam de qualquer tipo de atendimen- to especializado de uma forma geral), porque diferente de outras síndro- mes, como por exemplo, a Síndrome de Down em que há características no fenótipo da criança. O autista não apresenta um rosto padronizado. Historicamente falando, os portadores de necessidades especiais de aprendizagens nunca tiveram de fato oportunidades. Na Grécia Antiga, registros mostram que crianças com deficiências físicas eram abandonadas a sua própria sorte, por não serem consideradas aptas o suficiente para o convívio em sociedade. Pelos caminhos da História, podemos acompanhar o modo como a pessoa com necessidades especiais foi tratada e concebida, conforme os padrões re- lacionados aos valores sociais, morais, filosóficos, éticos e religiosos nas diferentes culturas. As ações registradas pela História a respeito da rejeição, dos maus tratos e da falta de visão, relacionadas aos que 33Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres apresentavam alguma deficiência, abriram lugar ao paternalismo e ao assistencialismo, resistindo ao conhecimento dos direitos do cidadão. (ORRÚ, 2012, p. 45) Ao rotular uma criança como incapaz ou simplesmente tolerá-la em sua sala de aula por motivos humanitários, o educador que deveria incluir e ser responsável ativo no processo de inclusão social da criança torna-se um exclusor, pois desmerece a importância dos aspectos socioculturais próprios da condição humana (ORRU, 2012, p. 50) O atendimento especializado é completamente suscetível a ques- tionamentos, pois “recursos” é bem diferente de “atendimento” (CAR- VALHO, 2005). Atendimento remete à assistência, que muitas vezes o próprio educador não tem, portanto não pode fornecer algo que não pos- sui. Isso requer tempo, dedicação energia física e mental. É notório o pro- blema educacional que o Brasil possui em relação a educação e a falta de valorização profissional que existe. O educador em primeiro patamar não possui estímulo psicológi- co, pois têm uma carga de trabalho elevada em condições que não são propícias para a conservação de sua saúde física e mental. Em segundo patamar há todo o tempo e dedicação para a formação de um educador hábil na educação especial. Tendo em vista a formação muitas vezes gené- rica nos cursos de pedagogia, ser hábil e capacitado na educação especial pode levar de três a cinco anos estudando após o término da graduação. Existindo uma política sólida e consistente de planos de cargos e salários seria uma forma de tornar parte da equação mais fácil de ser solucionada, porém esse aspecto transcende a pedagogia e chega à alcunha política. O educador brasileiro, principalmente o que está inserido no ensi- no público regular, tem sua formação genérica, trabalha muitas vezes em condições desfavoráveis para a sua própria saúde e não é valorizado finan- ceiramente como profissional. Isso caminha para a realidade de que a cada semestre chegam ao mercado de trabalho mais e mais profissionais que não sabem se comunicar com a criança autista, repleta de nuance únicas, que pouco se assemelham às outras síndromes afins, como também não 34 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron estão preparados para intensa diversidadebiológica que está em número cada vez maior sendo inserida no ensino regular de ensino através de po- líticas voltadas para a inclusão dessas crianças e jovens. Considerações Finais Durante esse estudo identificamos as peculiaridades cognitivas das crianças autistas possibilitando ao leitor o entendimento mais detalhado das diferentes áreas de facilidades e dificuldades comumente encontradas nesta população. Com este percurso de estudo foram fornecidos dados essenciais para que o educador consiga criar no dia-a-dia melhores estratégias de inclusão da criança autista na escola regular. Neste contexto, as estratégias educacionais desafiam a família e os educadores para o bem estar e apren- dizagem da criança. Não devemos pensar no autismo como algo distante e condenado ao isolamento em escolas especializadas. Sua inclusão é possível. Existem muitas possibilidades que podem ser feitas para a criança autista. Mas, o essencial é acreditar que ele tem potencial para aprender. Essas crianças necessitam de instruções claras e precisas e o programa deve ser essencial- mente funcional, ligado diretamente a elas. É necessário saber que ela per- cebe e interage com o mundo de uma forma diferente, ao mesmo tempo em que vive no nosso próprio mundo. Podemos considerar que a criança autista apresenta maturidade cognitiva para aprender, por isso deve ser utilizada antes da realização de um plano de ensino para o autista, ficando claro para o profissional que trabalha numa escola e que recebe uma criança já diagnosticada com autismo, o desafio grande a ser superado. Mesmo com uma bibliografia escassa e, muitas vezes, a ansiedade da família, o profissional pode a cada dia desenvolver um trabalho em sala de aula, a fim de não privar a criança da escola e do convívio social. Simples práticas diárias podem fazer a diferença. 35Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres Referências CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva: do que estamos falando? 2005. Disponível em: <http://www.fcee.sc.gov.br/index.php?option=- com_docman&task=doc_view&gid=238> Aces. 20 out 2012 CORTELLA, Mario Sergio. FERRAZ, Janete Leão. Escola e preconceito: docência, discência e decência. São Paulo: Àtica, 2012 GAUDERER, E. Christian. Autismo e outros atrasos no desenvolvimen- to: uma atualização para os que atuam na área: do especialista aos pais. Retardo mental, deficiência mental, atraso no desenvolvimento, S. Rett, S. X Frágil. Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. CORDE, 1992. GILLBERG, C. Transtornos do espectro do autismo. Palestra do Dr. Christopher Gillberg em 10 de outubro de 2005, no Auditório do InCor, em São Paulo. Disponível em:http://www.caleidoscopioolhares.org/arti- gos/Palestra%20Gillberg%2020051010.dfAcesso em: 20 jun. 2011. KRUGER, Helmuth. Cognição, Estereótipos e preconceitos sociais. Em Marcos E. O. Lima e Marcos E. Pereira. Estereótipos, preconceitos e dis- criminação. Perspectivas teóricas e metodológicas. Salvador: EDUFBA, 2004. LANG,N.;Autism Spectrum Disorders. A study of Symptom Domains and Weak Central Coherence.2003.133f. Tese (Doutorado em CiÍncias MÈdicas),Universidade de Groningen,Rotterdam,2003. MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer?. São Paulo, Moderna, 95p. 2005. MORAES, R; GALIAZZI, M. C. Análise textual discursiva: processo construído de múltiplas faces. Ciência & Educação, v.12, n.1, p.117-128, 2006. ORRÚ, Sílvia Ester. Autismo, linguagem e educação: interação social no cotidiano escolar. 3. Ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2012 PEREIRA, Marcos Emanoel, Cognição, categorização, estereótipos e vida urbana. Disponível em: <http://www.sumarios.org/sites/default/files/ pdfs/52942_6198.PDF> Aces. 07 nov 2012 36 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão – construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, WVA, 1999 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. GAIATO, Mayra Bonifácio. REVELES, Le- andro Thadeu. Mundo Singular: entenda o autismo. Rio de Janeiro: Ob- jetiva, 2012. 37Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres A inclusão da criança com transtorno de espectro Autista nos anos iniciais Miriam Regina Moreira Maria/USJ Izabel Cristina Feijó de Andrade/USJ Textos, Contextos e Pretextos Esse artigo tem o propósito de analisar como ocorreu o processo de inclusão das crianças com Transtorno de Espectro Autista na escola regular e que medidas devem ser tomadas para sua concretização. Para tanto, foi necessário investigar sobre a trajetória da criança. A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorci- do. É um movimento muito polemizado pelos mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No entanto, inserir a criança autista no ensino re- gular nada mais é do que garantir o direito à educação para todos. Edu- cação para Todos (UNESCO, 1990) e a Declaração de Salamanca (Es- panha, 1994) definem ações práticas possíveis e reais que são essenciais para as mudanças educacionais. A Conferência Mundial sobre Educação para Todos foi realizada no período compreendido entre 5 a 9 de março de 1990, organizada pela UNESCO. A mesma reuniu em torno de 1500 participantes, entre eles os delegados de 150 países. Os textos dos docu- mentos foram revisados e aprovados na sessão plenária de encerramento da Conferência em 9 de março de 1990. A Declaração de Salamanca é um documento que foi elaborado na Conferência Mundial sobre Educação Especial, em Salamanca, na Espanha, em 1994, com o principal objetivo 38 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron de fornecer diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social. De acordo com a Declaração de Salamanca: O princípio orientador desta Estrutura [de ação] é o de que as escolas deveriam acomodar todas as crianças, independentemente de suas condições fí- sicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Tal deveria incluir crianças portadoras de deficiência ou com altas habilidades, crianças de rua e crianças que trabalham, crianças provindas de populações remotas ou nômades, crianças perten- centes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outras áreas ou grupos marginalizados ou em situações de desvantagem. [...] O desafio a ser encarado pela escola inclusiva é o de desenvol- ver uma pedagogia centrada na criança, capaz de educar efetivamente todas as crianças, incluindo as que sofrem sérias desvantagens ou deficiências. O mérito de tais escolas não está apenas em serem ca- pazes de prover uma educação de qualidade a todas as crianças; seu estabelecimento é um passo crucial no auxílio à mudança de atitudes discriminatórias, à criação de comunidades receptivas e ao desenvolvi- mento de uma sociedade inclusiva. Uma mudança na perspectiva social é imperativa. [...] (SALAMAN- CA, 1994, p. 59-60) A oportunidade de trabalhar com crianças Autistas, na sala de aula, tem sido nova para grande maioria das escolas, causa um impacto nos profissionais que atuam especialmente quando se deparam com as reações dessas crianças, estão portanto, diante de uma experiência nova, na qual não se sentem preparados. Nessa conjuntura as práticas escolares que tem a intenção de superar as dificuldades iniciais e o desenvolvimento de competências sociocognitivas das crianças com este transtorno preci- sam ser renovadas. A pesquisa pretende contribuir com os profissionais 39Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres da educação para o desenvolvimento de práticas inclusivas na educação escolar de crianças Autistas. Esta pesquisa originou-se de necessidades pessoais de encontrar embasamento teórico para suprir questionamentos acerca das possibilida- des de se trabalhar a questão inclusiva no Ensino Fundamental em esco- las regulares, na minha experiência profissional, sendo professora de uma criança com Transtorno de Autista,encontro inúmeras dificuldades, sendo assim busco com este estudo encontram fundamentos teóricos, para me- lhorar a pratica profissional e contribuir na formação integral da criança e apresentar a necessidade do segundo professor. O Segundo Professor tem a o papel de auxiliar as crianças com Transtorno de Espectro Autista a se desenvolverem de forma mais tranquila, uma vez que acompanham mais de perto sua rotina e podem compreender e contribuir para a melhor inclusão dessas crianças1. É de extrema importância a realização desta pesquisa, devido ao aumento de matrículas de crianças com Transtorno de Espectro Autista nas escolas de SC. Percebe-se o anseio dos profissionais da educação ao receber cada vez mais crianças com este diagnóstico, tendo dificuldades em inseri-las dentro do ambiente escolar e sem saber como será o pro- cesso ensino-aprendizagem. Justificamos também a escolha deste tema devido a insegurança das famílias ao ingressar seus filhos numa instituição educacional onde sejam bem recebidos, cuidados e acima de tudo que não sofram nenhum preconceito, tendo uma educação que garanta o acesso, a permanência e o sucesso da criança autista. A criança Autista também tem a possibilidade de integrar-se a uma vida social e educativa, desde que sejam devidamente fornecidas estraté- gias inclusivas a fim de facilitar seu dia-a-dia. Ao identificarmos potencia- lidades e objetivando seu bem estar, o profissional da educação e a família devem estar cientes de que se trata de um ser humano inteiramente capaz de produzir e apto ao convívio social. E essas têm os mesmos direitos es- 1 Papel do 2º professor planejar e executar as atividades pedagógicas, em conjunto com o professor titular, quando estiver atuando nas séries iniciais do ensino fundamental, propor adaptações curriculares nas atividades pedagógicas, participar do conselho de classe. É contratado quando houver em turma alunos com diagnóstico de deficiência múltipla com Defici- ência mental; diagnóstico de transtornos globais do desenvolvimento com sintomatologia exacerbada e outros conforme Politica de Educação especial de Santa Catarina – Programa Pedagógico. 40 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron pecificados na legislação nacional, em relevância ao seu desenvolvimento e necessidades individuais, todos têm direitos assegurados. Educar as crianças em segregadas salas de educação especial é ne- gar-lhes o acesso a formas ricas e estimulantes de socialização e aprendi- zagem que acontecem somente nas salas de aulas regular, devido à diversi- dade presente neste ambiente. A questão extrapola, portanto, a discussão ligada extremamente á escola e requer uma reflexão sobre a formação de políticas públicas que efetivam o direito á educação de qualidade para todos. Segundo Mantoan (1997), a efetivação de uma escola de qualidade e inclusiva se pauta na defesa dos direitos fundamentais de todas as crianças e adolescentes notadamente daqueles com deficiências. A inclusão busca a capacitação de profissionais na área da educação, entretanto não é única variável envolvida no processo, sendo importante lembra-se também que a criança necessita do apoio familiar. Segundo Sassaki (1997, p.3) Conceitua-se a Inclusão Social como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com ne- cessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bila- teral no qual as pessoas, ainda excluídas e a socie- dade buscam, em parcerias, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos. A escolha por este tema surgiu através da preocupação em tor- nar o dia-a-dia das crianças autistas, mais agradável e prazeroso dentro da instituição escolar, temos como objetivo crítico clarear o sentido da inclusão de crianças especiais aos que se interessam pela educação, bus- cando assim uma sociedade que aceite e valorize as diferenças individuais, e que com isto aprenda a conviver dentro da diversidade humana onde seja usada sempre à compreensão e cooperação de todos. Para Mantoan (1997 p.145) 41Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres [...] a inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, uma vez que não se limita a ajudar so- mente os alunos que apresentam dificuldades na escola, masapoia a todos: professores, alunos, pes- soal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. Assim, a escola contempla uma diversidade que produz coletiva- mente o conhecimento, considerando a inclusão como processo de trans- formação. A escola que se deseja inclusiva é uma escola preparada para iden- tificar e eliminar as barreiras que impedem o acesso das crianças ao co- nhecimento, efetivando mudanças que iniciam na construção do projeto político-pedagógico e na gestão para a participação, fatores determinantes para a consolidação da proposta. Portanto, inclusão é a transformação da escola a partir de um conjunto de princípios, como a valorização da diver- sidade como elemento enriquecedor do desenvolvimento pessoal e social, o desenvolvimento de currículos amplos que possibilitem a aprendizagem e participação de todos, o respeito às diferentes formas de aprender, o atendimento às necessidades educacionais das crianças, a acessibilidade física e nas comunicações e o trabalho colaborativo na escola. O Transtorno de Espectro Autista se apresenta com caracterís- ticas que podem ser manifestada pelo desenvolvimento comprometi- do ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um repertório muito restrito de atividades e interesses. As manifes- tações do transtorno variam bastante, variando de acordo com a ida- de cronológica de cada indivíduo. Diante do exposto, questiona-se: Como ocorre o processo de inclusão das crianças com Transtorno de Espectro Autista na escola regular e que medidas devem ser tomadas para sua concretização? Os sujeitos da pesquisa foram alunos que frequentam o Ensino Fundamental da Escola De Educação Básica Estadual e que têm diagnós- tico de autismo. Os alunos elencados para a pesquisa – aluno a autismo, aluno b autismo com hiperatividade e o aluno c – síndrome de asperger. 42 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron ALUNO A - Está no 1ºano do Ensino Fundamental em grupo de 22 alunos – período vespertino, é acompanhado pelo 2º professor. Apre- senta pouca interação social como grupo, exceto a 2ª professora Também apresenta dificuldade na comunicação e na linguagem. Demonstra o que deseja apontando (que é muito raro), pouca manifestação da sua necessi- dade. Em alguns momentos bate palmas para demonstrar alegria, gritos quando está triste ou é contrariado. Os seus hábitos alimentares são sem- pre os mesmos carne moída com refrigerante, biscoito recheado, aonde come somente o recheio. Isola-se na hora do lanche. Fato esse que pro- voca muito desconforto em sala de aula. Apresenta uma rotina de rasgar jornais, estereotipia exacerbada. O aluno A nunca frequentou uma creche. Não está alfabetizado. ALUNO B - autismo com hiperatividade, está no 2º ano do ensino fundamental, em um grupo de 25 anos, iniciou em 2013 no 1º ano, apre- sentou pouquíssima interação social, gritava, isola-se, não aceitava os de- mais da sala de aula, estereotipia exacerbada, dificuldade para demonstrar o que deseja, também tem dificuldade na linguagem e na comunicação. Auto agressão e “agressividade”, principalmente para a 2ª professora. Es- condia-se embaixo das cadeiras e das mesas. ALUNO C - diagnóstico de síndrome de Asperger iniciou no ano de 2013 no 1º ano do ensino fundamental. Aluno com pouca interação, o barulho externo produzia incômodos, tais como gritos e isolamento. Em outros momentos subia nas carteiras e tirava a roupa. Está no 2º ano em uma turma constituída de 24 crianças. Está no processo de alfabetização. Faz uso de medicação.História da Educação Especial A História da humanidade perpassa por momentos de exclusão, de extermínio e de isolamento das pessoas com qualquer tipo de “anorma- lidade” ou deficiência. Momentos de desumanidade, num contexto rega- do de valores igualitários. Num pensar de um modelo ideal. No período 43Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres inicial, as pessoas “diferentes” eram queimadas em praças, aniquiladas de alguma forma, com momentos conflitantes numa dicotomia do bem e o mal, atribuindo a diferença a um castigo divino. Assim, a pessoa com defi- ciência era julgada, condenada por não corresponder a um padrão impos- to por uma sociedade de ideários homogêneos. Em toda a literatura clássica, no decorrer da história da humanidade houve questões referen- tes às pessoas com deficiência. No século XX, iniciou-se a construção de uma nova perspectiva, transformando a sociedade em uma inclusiva. Conforme a Política de Educação Especial do Estado de Santa Catarina, Nessa perspectiva de uma sociedade inclusiva é um processo que envolve todos os segmentos sociais, dentre os quais se destacam a família e a escola. A família enquanto primeira instância socializadora da criança e a escola como mediadora na apropriação do conhecimento cientifico (SANTA CATATINA, 2009, p.9). A inclusão como uma produção heterogênea, numa transição de valorizar o ser, transformando-o num sujeito de direitos e deveres, como cidadão histórico e social. Pensar na história, nos faz refletir sobre as ati- tudes da falta do entendimento sobre a diferença. Na Antiguidade clássica, a busca da perfeição na arte, da retórica, das multi manifestações em prol da homogeneidade. Nessa época as pes- soas com deficiência eram consideradas sub-humanas, sendo eliminadas ou abandonadas. Na Idade Média surge a dicotomia Deus-Diabo, sen- do assim acolhidos em conventos ou igrejas com o sentimento do casti- go x caridade. Na Idade Moderna inicia o processo do entendimento do homem como animal racional, que necessita do trabalho e planejar suas ações, buscando igualar a produção e quantidade. Também nessa época surge o método cientifico, estudos das tipologias e a mentalidade classifi- catória da deficiência. Na Idade Contemporânea, a ideia do homem dentro da sociedade, não, mas com ser regido pelo trabalho. Dessa forma, modificando e oportunizando a educação e a integra- 44 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron ção social para todos. Considerando o homem como ser com a necessida- de de se relacionar com o outro. Beneficiando-se (ou ajudando a promover?) de toda uma reavaliação dos direitos humanos e na esteira que inclui a mulher, a criança, o índio, o negro, o idoso, .a pessoa com necessidades especiais pode começar a ser olhada e a olhar para si mesma, de forma menos maniqueísta: nem herói nem vitima, nem deus nem demônio, nem melhor nem pior, nem super-homem nem animal (AMARAL, 1994, p.15) No Brasil, surge o atendimento as pessoas com deficiência com a criação dos Institutos: Imperial Instituto dos Meninos Cegos, atualmente Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Imperial Instituto dos Surdos -Mudos, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES na data de 1857. A iniciativa pioneira com objetivo de educar as pessoas com de- ficiência mental ocorreu no de 1926, coma Sociedade Pestalozzi na cidade de Canoas no Rio Grande do Sul. A primeira Associação dos Pais e Ami- gos dos Excepcionais – APAE foi em 1954 na cidade do Rio de Janeiro. Em Santa Catarina foi à cidade de Brusque em 1955. Desta forma, gradativamente o processo de inclusão vem ocorren- do. Pois “Incluir é muito mais que receber, é aceitar, é oportunizar, é con- siderar” (GARCIA, apud BATISTA, et al, 2011, p.17). Os movimentos voltados à inclusão iniciaram com a Conferência Mundial, em 1990, com a temática direcionada à educação para todos (BRASIL, 2007). É necessário salientar o pensamento de Stainback&Stainback, (1987) e Wang &Walberg (1987), que defendiam a necessidade de unificar a educação especial e a regular num único sistema educativo, tecendo crí- ticas a ineficácia da educação especial. Aparecia assim, pela primeira vez, uma defesa muito importante à prevalência de um único sistema educativo para todos. Na década de 1990 apresentou-se o movimento inclusivo na escola e a ampliação do acesso das pessoas com necessidades especiais na rede 45Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres regular de ensino, assegurado por leis como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 e a Constituição Federal de 1988 entre outras, es- tabelecendo o direito de acesso e a permanência no sistema de ensino de qualidade (BRASIL, 2007). Nessa mesma década no Brasil, segundo Prieto (2000) o discurso da inclusão escolar assumiu status privilegiado, persistindo, porém, mui- tas controvérsias a respeito do assunto. Há profissionais que defendem a inclusão escolar como parte de um movimento maior de inclusão social, sobretudo no meio educacional, pela universalização do acesso e pela qua- lidade do ensino; há outros que têm interpretado a inclusão escolar como mero acesso de crianças com deficiência à classe comum. No Brasil, o processo de inclusão ocorre dentro de uma perspecti- va interdisciplinar, com eixos de prevenir, de educar e de reabilitar, numa proposta inclusiva por meio de possibilidades pedagógicas, objetivando o apoio, a complementação e a suplementação para a apropriação dos con- teúdos acadêmicos. Aspectos legais O atendimento educacional, de forma especializada, direcionado às pessoas com deficiência teve seu marco inicial coma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 4.024/61, que garantia o di- reito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino (BRASIL, 2007). Com isso houve uma mudança na trajetória de atendimento a todos aqueles que necessitavam de tratamento educacional especializado, porém o maior progresso, neste sentido, veio coma promulgação da Constituição Federal, em 1988, que apresentou em seu artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e garante, como dever do 46 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencial- mente na rede regular de ensino (art. 208). Há a necessidade de destacar que a origem das políticas e legislação direcionadas à inclusão, foram alicerçadas nas políticas inclusivas interna- cionais. A Política Nacional de Educação Especial foi publicada no ano de 1994, orientando o processo de integração instrucional que “[...]condi- ciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares progra- madas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais” (BRASIL, 1994, p.19). Já no ano de 2003, surge o Programa de Educação Inclusiva que garante: [...] direito à diversidade, com vistas a apoiar a transformação dos sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, promovendo um amplo processo de formação de gestores e educadores nos municípios brasileiros para a garantia do direito de acesso de todos à escolarização (BRASIL/MEC, 2003, p.45). Um dos marcos mais recente, das políticas públicas, de inclusão foi o lançamento, em 2007, do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social, tendo como eixos a formação de professores para a educação especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, aces- so e a permanência das pessoas com deficiência na educação superior e o monitoramento do acesso à escola dos favorecidos pelo Beneficio de Prestação Continuada– BPC. Dentre todas as garantias destaca-se o aten- dimento às crianças com autismo na rede regular de ensino, garantido sua convivência coletiva e seus direitos à educação. Mais recentemente, no ano de 2012, foi publicada a Lei Lei Bereni- ce Piana, que traz em seu Art. 3º a afirmação de que o autista tem direito ao acesso à educação e ao ensino profissionalizante. Depois, em parágrafo único, a mesma lei afirma que “Em casos de comprovada necessidade, a 47Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres pessoa com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV do art. 2º, terá direito a acompa- nhante especializado” (BRASIL, 2012). Autismo De acordo com Belisário (2010) o termo autismo foi, primeiramen- te, utilizado pelo Dr. Leo Kanner, um psiquiatra infantil americano que percebeu em sua atuação profissional um grupo de crianças que se des- tacava das demais por duas características básicas: forte resistência a mu- danças e incapacidade de manterem relacionamento com outras pessoas. O autismo infantil tem como principais características: a) um de- senvolvimento anormal ou alterado, manifestado posterior a idade de três anos, e b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento dos seguintes domínios: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se acompanha comumen- te de numerosas outras manifestações inespecíficas, como por exemplo: fobias, perturbações de sono ou alimentação, crises de teimosia ou agressi- vidade (autoagressividade) (BELISÁRIO, 2010). Para Belisário (2010, p.9) Desde o início há uma extrema solidão autista, algo que, na medida do possível, desconsidera, ignora ou impede a entrada de tudo o que chega à criança de fora. O contato físico direto e os movimentos ou ruídos que ameaçam romper a solidão são tratados como se não estivessem ali, ou, não bastasse isso, são sentidos dolorosamente como uma interferên- cia penosa. De acordo com o DSM-IV, estão contidos neste grupo: O Trans- torno Autista, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrado da Infân- cia, Transtorno de Asperger e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outras Especificações (BELISÁRIO, 2010). Meninos também po- dem apresentar a Síndrome de Rett, entretanto, morrem rapidamente 48 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron após o nascimento. Meninas com a síndrome aparentam normalidade depois do nascimento. Dos seis para os dezoito meses, elas vão per- dendo a fala e habilidades motoras. Depois, elas desenvolvem sintomas semelhantes ao autismo, como movimentos repetitivos, epilepsia e falta de contato social. O Transtorno Desintegrado da Infância, que é de- finido por um período de desenvolvimento normal no início e por uma perda definitiva no curso de poucos meses, de anormalidades características do funcionamento social, comunicativo e do compor- tamento (BELISÁRIO, 2010, p.14). Cabe ressaltar que a existência dos Aspergers só foi reconhecida em 1993, antigamente eles eram considerados “esquisitões” (SCHWA- RSTZMAN, 1995 apud SANTOS, 2008). Segundo Eliana R. Boralli (2007 apud SANTOS, 2008), psicomotriscista e coordenadora da Ama Associação dos Amigos da Criança Autista, durante um curso realizado pela autora, no autista há uma alteração nos dozes sentidos. São eles: térmico, tátil, orgânico (capacidade de sentir e defender a vida), equi- líbrio, cinestésico (conjunto de movimento do corpo, como um todo), audição, linguagem, “Eu” – (somos únicos e exclusivos), pensamento, visão, paladar e olfato. O autismo é explicado e descrito como um con- junto de transtornos qualitativos de funções envol- vidas no desenvolvimento humano. Esse modelo explicativo permitiu que o autismo não fosse mais classificado como psicose infantil, termo que acar- retava um estigma para as famílias e para as próprias crianças com autismo. Além disso, o modelo per- mite uma compreensão adequada de outras mani- festações de transtornos dessas funções do desen- volvimento que, embora apresentem semelhanças, constituem quadros diagnósticos diferentes (BELI- SÁRIO, 2010, p.12). 49Educação Inclusiva: compartilhando saberes e fazeres O autismo caracteriza pela insensibilidade a dor, o não reconheci- mento de si, geralmente, não há muito controle na alimentação, exceden- do, em muitos casos, ao ingerir alimentos em demasia e, também a sensa- ção térmica pode ser inversa. A mielinização ocorre nas crianças autistas, mas não ocorre sinapse, por isso a criança tem várias agnosias. De acordo com dados do Censo Escolar MEC/INEP (2009) existe 639.718 estudantes com deficiência matriculados no Brasil. Desse total, mais da metade (359.664) estudam em escolas regulares, e um terço (195.257) em escolas especializadas. Aproximadamente 13% destas pessoas frequentam classes especiais (80.797), porém dentro da escola comum. As estatísticas demonstram que o número de pessoas com deficiência na escola vem au- mentando cada ano, sendo necessário oferecer uma escola que esteja pre- parada para receber a pessoa com deficiência como ela é, através de um ambiente inclusivo, onde se possa acolher a todos, sem exceção. Segundo Santos (2008), no Brasil uma série de leis federais, esta- duais e municipais foi promulgada para efetuar o compromisso assumido na Declaração de Salamanca que propõe que “as escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, sociais, emocionais, de linguagem ou outras”. Entre essas formulações está a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), 9.394/96, que busca promover o direito da infância e da adolescência em relação à educação, apontando para a importância do atendimento do aluno com deficiência preferencialmente na rede regular de ensino (BARTALOTTI & CARLO, 2001). Segundo Gauderer (1987, p 89), [...] as crianças com autismo, em geral, apresentam dificuldade em aprender a utilizar corretamente as palavras, mas quando participam de um programa intenso de aulas parecem ocorrer mudanças positi- vas nas habilidades de linguagem, motoras, intera- ção social e a aprendizagem. O ensino é o principal objetivo do trabalho com crianças autistas. Ensinar coisas funcionais para a criança autista é a essência de um trabalho 50 Izabel Cristina Feijó de Andrade | Lurdes Caron adequado e a persistência é um grande aliado deste objetivo. Todo traba- lho de interação da criança com objetos e com situações do meio deve ser feito concomitantemente ao trabalho de capacitação, aos cuidados pesso- ais e ao lazer para socialização. Autista na Escola Regular e as Adaptações Curriculares A homogeneidade não trouxe a garantia de relações justas nas esco- las. A igualdade de oportunidades, que tem sido característica das políticas igualitárias e democráticas no contexto educacional, também não conse- gue solucionar o problema das diferenças nas escolas, uma vez que elas escapam ao que essa proposta sugere, diante das desigualdades naturais e sociais (MANTOAN, 1997) Assim somos levados ao princípio da diferença, se desejamos montar o sistema social de modo que nin- guém ganhe ou perca devido ao seu lugar arbitrário na distribuição de dotes naturais ou à sua posição ini- cial na sociedade sem dar ou receber benefícios com- pensatórios em troca (RAWLS, 2001, p.108). Quando o objetivo é o atendimento de alunos com necessidades educacionais especiais, muito desse novo discurso tem servido para con- denar práticas da educação especial, sem, contudo ressaltar que sua tra- jetória reflete em alto grau a marginalização a que foi submetida pelas políticas educacionais, o que a fez constituir-se também como alternativa com o poder de reiterar o isolamento social daqueles em atendimento por essa modalidade de ensino. Tem ainda aparecido como a grande vilã, res- ponsável quase que isoladamente pela perpetuação de fortes mecanismos de resistência à escolarização de todos em escolas regulares. O que pode
Compartilhar