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HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA DEFINIÇÕES A hipertensão não é uma doença única, mas uma síndrome caracterizada pela elevação sustentada dos níveis pressóricos: PAS >= 140 mmHg e/ou PAD >= 90 mmHg Tipos: ▪ Hipertensão essencial (95%): não se sabe a causa. Depende de diversos fatores, como traço hereditário, ingestão excessiva de sal, obesidade, estresse, uso de bebidas alcoólicas... ▪ Hipertensão secundária (5%): a causa é conhecida. -Doenças renais (glomerulonefrite, IRA, pielonefrite...) -Doenças endócrinas (Cushing, feocromocitoma, hiperaldosteronismo primário, acromegalia) -Doenças vasculares (coarctação de aorta, estenose de artérias renais) -Neoplasias (ovário, testículo, cérebro...) -Medicamentos (Anticoncepcionais, anti-inflamatórios, descongestionantes nasais, antidepressivos tricíclicos...) -Intoxicação (chumbo, tálio...) Outros termos: ▪ Pré-hipertensão: PAS = 121-139 mmHg e/ou PAD >= 81-89 mmHg; ▪ Hipertensão sistólica isolada: PAS>=140 mmHg com PAD <90 mmHg. ▪ Hipertensão do jaleco branco: PA≥140x90 apenas quando o profissional de saúde afere a PA; ▪ Hipertensão mascarada: valores normais de PA no consultório (<140x90mmHg), porém, PA elevada pela MAPA. ▪ Hipertensão resistente: paciente já diagnosticado, fora da meta pressórica mesmo usando ≥3 drogas de classes diferentes em doses otimizadas, sendo que uma das drogas é obrigatoriamente um DIU tiazídico; EPIDEMIOLOGIA Cerca de 30% da população brasileira é hipertensa. – Metade (15%) não sabem que são; – Dos que sabem, 10% não estão tratando adequadamente; – Apenas 5% dos hipertensos estão tratando adequadamente; Hipertensos tem mais risco de: – DAC (35-40%) – AVE (30-40%) – IC – IRC – Insuficiência Arterial Crônica (IAC), incluindo retinopatia ▪ HAS é a doença cardiovascular crônica mais comum; ▪ É um fator de risco cardiovascular independente (estudo de Framingham); ▪ É 2x mais frequente em indivíduos de raça não branca; ▪ Se relacionam com a HAS: excesso de peso, ingesta excessiva de sal; ▪ Atividade Física diminui a incidência de HAS; DIAGNÓSTICO No consultório: Valores médios de PA >= 140x90 mmHg (aferidos em duas ou mais consultas*) – A PA deve ser aferida 3x, com um intervalo de 01-02 min, devendo-se considerar a média das 02 últimas medidas *Existem exceções, ou seja, em algumas situações o diagnóstico é feito já na 1ª consulta caso: ▪ PA ≥ 180x110; ▪ PA ≥ 140x90 mmHg + alto risco cardiovascular Não é obrigatório, mas se recomenda que, sempre que possível, sejam feitas medidas da PA fora do consultório, não apenas para confirmar o diagnóstico, mas também para identificar a presença de “HAS do jaleco branco” ou “HAS mascarada”. Medida Residencial da PA (MRPA): Falar para o paciente comprar um esfigmo, orientar a medir a PA e anotar num papel 3x antes do café e 3x antes do jantar (por 05 dias) ou 2x antes do café e 2x antes do jantar (por 07 dias) É feito o diagnóstico se medida de várias aferições ≥135x85 mmHg Monitorização ambulatorial da PA (MAPA): Consiste num aparelho que realiza aferições automáticas da PA em 24h, enquanto o paciente realiza as atividades habituais durante período de vigília e sono. É feito o diagnóstico se: ≥135x85 mmHg (Vigília) ≥120x70 mmHg (Sono) (Se relaciona com apneia do sono. O paciente acorda durante a noite com dispneia, isso ativa o SNA e aumenta a PA constantemente. Isso aumenta o risco cardiovascular) ≥130x80 mmHg (média das 24h) CLASSIFICAÇÃO Caso a PAS e PAD se encontrem em categorias diferentes, deve-se considerar a maior para classificar. Cardiologia Thomás R. Campos | Medicina - UFOB FISIOPATOLOGIA A pressão arterial é dada pela fórmula: PA = DC x RVP Para haver HAS, um dos dois precisa estar aumentado. A grande maioria dos hipertensos, especialmente aqueles com mais de 40 anos de idade, tem DC normal e RVP elevada. Isso não permite dizer que o aumento da RVP é o principal causador da HAS, pois um alto débito cardíaco, por induzir vasoconstricção, pode aumentar a RVP. A RVP elevada, por sua vez, reduz o débito cardíaco. A maioria das teorias patogênicas da HAS primária parte do pressuposto que o evento inicial é o aumento do DC, geralmente por retenção excessiva de sódio e água pelos rins. Relação com o consumo de sal: alguns indivíduos já são hipersensíveis ao sódio (aumentam 10mmHg da PA após um consumo moderado) e os rins não respondem adequadamente ao aumento da PA com natriurese. Essa retenção de sódio e água aumenta a volemia e, consequentemente, o DC. Papel do sistema renina-angiotensina: a maioria dos hipertensos tem renina plasmática normal, quando fisiologicamente deveria estar baixa, já que ela é produzida em resposta à baixa volemia e baixa PA. Então, em alguns indivíduos, a renina é produzida além do esperado. Papel do Sistema Nervoso Simpático: o estresse crônico e alterações primárias dos centros barorreguladores podem manter uma hiperatividade adrenérgica, responsável pela vasoconstricção periférica, pelo remodelamento vascular, pelo aumento de renina-angiotensina intrarrenal e pelo aumento inicial do DC. Sabe-se que 40% dos hipertensos jovens têm alto DC em função de um hiperadrenergismo, são os chamados hipertensos hipercinéticos. Hiperinsulinemia pode elevar a PA pois causa aumento da reabsorção renal de sódio; aumento da atividade simpática; hipertrofia da musculatura lisa vascular por seu efeito mitogênico; e aumento do cálcio citosólico no tecido vascular. Baixo peso ao nascer se relaciona com HAS na idade adulta: o desenvolvimento renal adequado é comprometido na fase uterina, resultando em crescimento compensatório na fase extrauterina, o que promove hipertrofia dos glomérulos e consequente desenvolvimento de hipertensão arterial por maior secreção basal de renina. [?] Certo..., mas afinal, por que raios uma pressão elevada se torna um problema? A HAS afeta basicamente os vasos sanguíneos – especialmente as artérias e arteríolas – e o coração, caracterizando as principais LESÕES DE ÓRGÃO-ALVO! 1- Lesões vasculares: o evento inicial é a lesão do endotélio, liberando fatores e citocinas que causam remodelamento vascular (um fato interessante é que esse remodelamento aumenta a RVP e, consequentemente, aumenta ainda mais a PA, ou seja, HAS acaba gerando mais HAS). Enfim... as consequências desse remodelamento são: – Arterioesclerose hialina: é um espessamento hialino da parede das arteríolas, o que causa redução do lúmen. Esta lesão pode causar comprometimento orgânico lento e progressivo (ex.: nefroesclerose hipertensiva). – Arterioesclerose hiperplásica: espessamento laminado e concêntrico das arteríolas, dando aspecto de “bulbo de cebola”, causado pela proliferação de células musculares lisas e reduplicação da membrana basal. Nesses casos, há um grave estreitamento do lúmen. Esta lesão é encontrada na hipertensão acelerada maligna (PA > 200x120) e é a responsável pela nefroesclerose hipertensiva maligna. Aspecto de “bulbo de cebola” – Microaneurismas de Charcot-Bouchard: pequenas dilatações nas artérias cerebrais perfurantes, resultado do processo de arterioesclerose hialina. São responsáveis pelos quadros de AVE relacionados à HAS. – Aterosclerose: consiste na formação de placas contendo um cerne lipídico envoltos por uma capa fibrosa (placas de ateroma), dentro da camada íntima das artérias de grande ou médio calibre. A HAS contribui para a aterosclerose por seu efeito lesivo sobre o endotélio e por estimular o remodelamento vascular (com citocinas e etc..). 2- Lesões cardíacas: na HAS ocorre aumento crônico da pós-carga (dificuldade que o ventrículoencontra durante a ejeção), pois a RVP está aumentada. Dentre as alterações cardíacas encontradas estão: – Hipertrofia ventricular esquerda: devido à sobrecarga sistólica, o miocárdio começa a se hipertrofiar. – Disfunção diastólica: a própria HVE, associada com aumento do átrio esquerdo causa disfunção diastólica, onde há déficit de relaxamento ventricular. – Disfunção sistólica: na maioria das vezes se associa à dilatação ventricular. *Lembrando que a HAS é a 1ª ou 2ª causa de IC mais frequente no Brasil e no mundo. Cardiologia Thomás R. Campos | Medicina - UFOB QUADRO CLÍNICO A hipertensão por si só não causa sintomas, e a maioria dos casos só é descoberta nas triagens de rotina, ou quando o paciente apresenta alguma complicação (por isso a HAS é conhecida como assassina silenciosa). As principais complicações são: – Cardiopatia Hipertensiva: HAS é o principal fator de risco para doença aterosclerótica das artérias coronárias. A sequela de um IAM pode levar a uma cardiopatia dilatada e disfunção sistólica, podendo manifestar-se como insuficiência cardíaca. – Doença Cerebrovascular: DCV é a 2ª principal causa de morte no mundo. Pode manifestar-se de várias formas: Ataque Isquêmico Transitório (AIT), AVE isquêmico, AVE hemorrágico intraparenquimatoso, hemorragia subaracnoide, demência multivascular e atrofia cerebral devido à arterioloesclerose difusa (doença de Binswanger). – Encefalopatia hipertensiva: é a principal lesão de órgão-alvo nas emergências hipertensivas. Se associa ao edema cerebral que ocorre devido a elevações súbitas da PA. Os pacientes podem apresentar náuseas, vômitos, confusão mental, convulsões, letargia e coma associados, além das alterações visuais. – Nefropatia Hipertensiva: boa parte dos hipertensos de longa data apresenta arterioloesclerose hialina nas arteríolas aferentes renais (processo denominado nefroesclerose hipertensiva) e, além disso, lesões tubulointersticiais também podem ocorrer. – Retinopatia Hipertensiva: é explicada pelo acometimento das arteríolas retinianas, similar ao que ocorre na lesão vascular de outros órgãos. Achados na fundoscopia sugestivos de retinopatia hipertensiva incluem: transudatos periarteriolares, lesões epiteliais pigmentares da retina, edema do disco óptico e macular. – Aortopatia: a aterosclerose e a PA elevada podem facilitar o aparecimento de aneurismas de aorta, mais comuns na aorta abdominal. Pode ocorrer em até 3% dos pacientes e deve ser suspeitada através da palpação abdominal. – Arteriopatia de MMII: aterosclerose das artérias femorais é mais comum nos hipertensos, diabéticos e fumantes. Pode manifestar-se como claudicação intermitente e, raramente, com trombose arterial de um dos MMII, levando à isquemia aguda do mesmo. A presença de lesões de órgãos-alvo aumenta muito a morbimortalidade dos indivíduos hipertensos, por esse motivo o grande objetivo do tratamento da HAS é justamente evitar o aparecimento dessas lesões! Alguns exames podem ajudar a detectar lesões subclínicas: ▪ ECG e ECOcardio → para verificar HVE; ▪ USG de carótida → espessura médio-intimal >0.9mm ou presença de placa de ateroma; ▪ Índice tornozelo-braquial <0.9 → indicativo de aterosclerose; ▪ TFG < 60 ml/mim/1,72 m² e microalbuminúria 30- 300 mg/24h → sinais de comprometimento renal. É preciso lembrar que em 5% dos casos a HAS é secundária a alguma doença, e saber identifica-las e trata-las pode curar a hipertensão, por isso é muito importante saber sobre essas causas. Deve-se pensar em hipertensão secundária caso: – HAS antes dos 30 anos ou depois dos 50 anos; – HAS grau 3 logo de cara ou resistente ao tratamento; – Tríade do feocromocitoma: palpitações, sudorese, cefaleia em crises; – Fácies de doenças típicas: Cushing, hipertireoidismo, IRC; – Presença de massas ou sopro abdominal (pensando em doença renovascular); – Assimetria de pulsos femorais (pensando na coarctação de aorta); – Alteração da função renal (creatinina, TFG...); – Hipopotassemia (pensar em hiperaldosteronismo primário); – Urina tipo I alterada (hematúria ou proteinúria); – Ronco, sonolência diurna, síndrome metabólica (pensando em apneia obstrutiva do sono); As principais causas de HAS secundária são: ▪ Doenças parenquimatosas renais: A IRC é a causa mais frequente de HAS secundária. Qualquer nefropatia crônica pode causar HAS, mas é mais comum nas glomerulopatias. Outras causas incluem: doença renal policística e pielonefrite crônica unilateral. Os mecanismos implicados são: sobrecarga de volume e maior ativação do SRAA. A presença de uma proteinúria acima de 2 g/24h é altamente sugestiva de HAS secundária à doença renal parenquimatosa. ▪ Estenose de artéria renal: a chamada hipertensão renovascular é a 2ª causa mais frequente de HAS secundária. Deve ser suspeitada se em pacientes que ficam hipertensos com menos de 30 anos (pensar em fibrodisplasia) ou mais de 55 anos (pensar em aterosclerose renal), em hipertensos graves refratários e em hipertensos cuja função renal piora com o uso de IECA ou antagonistas da angio II. ▪ Uso de anticoncepcionais: o efeito hipertensivo é atribuído ao estrogênio. O etinilestradiol (1000x mais potente que o estradiol biológico), intensifica a produção de angiotensinogênio hepático, que, por sua vez, causa elevação da pressão arterial pelo SRAA ▪ Hiperaldosteronismo primário (Síndrome de Conn): causado por hiperplasia adrenal ou tumores extra-adrenais produtores de aldosterona. Deve ser suspeitado em pacientes com hipocalemia espontânea ou induzida por diuréticos. O exame de triagem é a relação aldosterona/Atividade de Renina Plasmática (ARP) > 30, com níveis séricos de aldosterona > 15 ng/dl. ▪ Apneia obstrutiva do sono: a obstrução de VAS durante o sono promove hipóxia noturna e hiperativação simpática reflexa, o que resulta em aumento da PA. Deve ser suspeitada nos pacientes que apresentam roncos, sonolência diurna, HAS refratária, e que não apresentam descenso noturno fisiológico no MAPA. ▪ Feocromocitoma: é um tumor de células argentafins da medula adrenal, que secreta catecolaminas. Deve ser suspeitado em pacientes com hipertensão “lábil”, isto é, picos significativos esporádicos da PA, geralmente associados a fortes palpitações, angina, sudorese e fadiga generalizada. ▪ Coarctação de aorta: trata-se de uma obstrução congênita da porção da aorta adjacente ao ligamento arterial, sendo uma importante causa de HAS na infância (4ª cardiopatia congênita mais frequente). Deve ser suspeitado na presença de sopro sistólico ejetivo no precórdio e dorso, e grande diferença de pulso entre os MMSS e MMII. ▪ Hipotireoidismo e hipertireoidismo: no hipo a HAS é principalmente diastólica, no hiper a clínica mimetiza um quadro hiperadrenérgico. Diagnóstico é feito pela dosagem de TSH e T4L. ▪ Hiperparatireoidismo: deve ser suspeitado se houver história de litíase renal, osteoporose, depressão, letargia e fraqueza muscular. ▪ Síndrome de Cushing: o cortisol aumenta a retenção de sódio e água promovendo expansão de volume. ▪ Acromegalia: o GH em excesso tem efeito antinatriurético, aumenta a resistência à insulina, aumenta a atividade do SNA. Cardiologia Thomás R. Campos | Medicina - UFOB ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR A estratificação do risco cardiovascular é importante porque vai direcionar o tratamento. Essa estratificação leva em conta fatores de risco, lesões de órgão-alvo e condições clínicas associadas. Se liga: Fatores de risco ▪ Sexo masculino ▪ Idade (homem ≥55a e mulher ≥65a); ▪ História familiar prematura de DCV em parentesde 1º grau (homem < 55a e mulher < 65ª) ▪ Tabagismo; ▪ Dislipidemias -Colesterol total > 190 mg/dL; e/ou -Triglicerides > 150 g/dL; e/ou -LDL > 100 mg/dL; e/ou -HDL < 40mg/dL (homens) ou <46mg/dL (mulheres) ▪ Resistência à insulina -Glicemia de jejum 100-125 mg/dL -TOT 140-199 mg/dL em 02h -HbGlicada 5.7 – 6.4% ▪ Obesidade -IMC ≥30; -Circ. Abdominal ≥102cm (homem) ≥88cm (mulher) Lesão de órgão-alvo ▪ Hipertrofia de VE ▪ Espessura mediointimal de carótida >0.9 ou placa de ateroma ▪ Velocidade de onda de pulso carótido-femoral >10m/s ▪ Índice tornozelo-braquial < 0.9 ▪ Doença Renal Crônica (Estágio 3) ▪ Albuminúria -Entre 30 e 300 mg/24h; ou -Relação albumina-creatinina urinária 30-300 mg/g Condições clínicas prévias ▪ Doença cerebrovascular (AVE, AIT, demência vascular) ▪ Doença cardíaca (Angina estável ou instável, IAM, angioplastia, IC) ▪ DAP sintomática dos MMII ▪ Doença renal (Nefropatia diabética, déficit importante de função – clearence < 60 - IRC grau 4) ▪ Retinopatia avançada (hemorragia, exsudatos, papiledema) Pronto, agora dê um zoom na tabelinha abaixo, ela mostra como você classifica o paciente: Na moral, você acha que vai decorar isso? NÃO! Mas fica ligado nos principais. Em resumo, é o seguinte: ▪ HAS grau 3 → ALTO RISCO ▪ Tem lesão de órgão alvo → ALTO RISCO; ▪ HAS + DM → ALTO RISCO; ▪ HAS + DRC → ALTO RISCO; ▪ HAS + AVE prévio → ALTO RISCO; ▪ HAS grau 1 + 3FR → ALTO RISCO; ▪ HAS grau 2 + 1FR → ALTO RISCO; TRATAMENTO A escolha da abordagem terapêutica vai depender da classificação do paciente: Pré-hipertenso: ▪ Risco baixo a moderado →TNM*; ▪ Alto risco → Medicamento (IECA ou BRA); HAS grau I: ▪ Risco baixo →TNM por 06 meses; ▪ Risco moderado → TNM por 03 meses; ▪ Alto risco → TNM + medicamento; HAS grau II ou grau III: ▪ Independente do risco → TNM + medicamento; HAS sistólica isolada no idoso: ▪ Se ≥60 anos e PAS ≥140 → TNM + medicamento; ▪ Se ≥80 anos e PAS ≥160 → TNM + medicamento; Beleza, uma vez iniciado o tratamento, esse paciente vai ser acompanhado e sempre é preciso verificar as chamadas metas pressóricas: ▪ <140x90 mmHg → HAS graus I ou II (risco baixo ou moderado) e HAS grau III; ▪ <130x80 mmHg → HAS graus I ou II (risco alto); No hipertenso com PA fora da meta, as avaliações devem ser mensais, até que a PA esteja controlada. Tratamento não medicamentoso Aquelas coisas que todo mundo sabe que são benéficas, só que ninguém faz: ▪ Controle do peso: IMS < 25 (<65a) <27 (>65a); ▪ Alimentação saudável: evidências para hipertensos tem a dieta DASH (consumo de frutas, hortaliças e laticínios com pouca gordura. Evitar carne vermelha, doces e bebidas adoçadas). Além disso, óbvio, reduzir o consumo diário de sódio (<2g ao dia); ▪ Beber menos álcool: a recomendação é até 01 dose de álcool por dia (para mulheres) ou 02 doses por dia (para homens) → uma dose equivale a 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de destilados. ▪ Exercícios físicos → a recomendação geral é fazer pelo menos 30min/dia de atividade aeróbica por 5-7 dias da semana. Cuidado com esse pessoal cardíaco! Se PA muito alta, mais de 03 fatores de risco, DM, LOA ou doença cardíaca... deve-se fazer um TESTE ERGOMÉTRICO e avaliação cardiovascular antes de iniciar exercícios físicos moderados! ▪ Controle do estresse: psicoterapia, meditação, biofeedback e/ou técnicas de relaxamento... Tratamento medicamentoso Os medicamentos anti-hipertensivos de 1ª linha são aqueles que, além de baixarem a PA, reduzem a morbimortalidade cardiovascular. São eles: 1. Diuréticos (DIU). 2. Bloqueadores de Canais de Cálcio (BCC). 3. Inibidores da ECA (IECA). 4. Bloqueadores do Receptor de Angiotensina II (BRA). 5. Betabloqueadores (BB). [?] Ok, mas qual medicamento escolher? Uso mais de um? Calma aí, jovem Padawan, isso tudo será explicado agora, pois saber disso você deve. Cardiologia Thomás R. Campos | Medicina - UFOB TRATAMENTO HAS grau I + Risco baixo/intermediário: Iniciar com monoterapia. HAS grau I + Alto risco, HAS grau II, HAS grau III: Iniciar já com 02 fármacos. DIURÉTICOS Tiazídicos (impedem reabsorção de Na no TCD) – Há preferência pelos tiazídicos na terapia inicial, pois podem ser tomados 1x/dia e reduzem mais suavemente a PA em comparação com os outros DIU. – Tiazídicos diminuem a calciúria, pois o bloqueio da reabsorção de sódio no TCD faz com que o Cálcio seja reabsorvido em seu lugar → podem ser usados na hipercalciúria idiopática (principal causa de nefrolitíase de repetição) e diminuem o risco de fraturas em pacientes hipertensos com osteoporose associada. De alça (inibem o transportador Na+K-Cl- na alça de henle) – Causam uma diurese muito intensa, por isso só devem ser usados em HAS com hipervolemia → indicados apenas na vigência de DRC avançada (ClCr < 30 ml/min) e/ou na presença de edema (ex.: ICC). – Os DIU de alça são o contrário dos tiazídicos: inibem a reabsorção de Cálcio. Assim, há benefício na vigência de hipercalcemia aguda sintomática. Poupadores de potássio (antagonista de aldosterona ou então bloqueiam o canal epitelial de sódio induzido pela aldosterona nas células do ducto coletor) – Não são bons anti-hipertensivos, mas podem ser associados a outro DIU para evitar hipocalemia; – 1ª escolha para tratamento da HAS no hiperaldosteronismo primário; – É o 4º fármaco a ser adicionado na HAS resistente; *DIU devem ser evitados em pacientes com história de gota, pois todos os diuréticos causam hiperuricemia; *Todos os DIU predispõem à impotência sexual; *Tiazídicos pioram a hipercalcemia, devendo ser evitados, por exemplo, no hiperparatireoidismo; *DIU de alça devem ser evitados se houver história de nefrolitíase; BCC Por bloquearem canais de cálcio, impedem que esse íon desempenhe seu papel na contração muscular. – Os vasoseletivos (ex.: anlodipino) são os + utilizados na HA – Os não vasoseletivos (ex.: verapamil) são úteis nos hipertensos que necessitam reduzir a FC mas não podem utilizar BB, como os portadores de angina pectoris que também têm asma ou DPOC *BCC podem causar edema maleolar, pois alguns pacientes apresentam vasodilatação exacerbada em MMII, e esse edema pode inclusive evoluir para dermatite ocre; *NIFEDIPINA SUBLINGUAL AUMENTA MORTALIDADE! Antigamente o povo usava, mas não é pra fazer isso. É PRA USAR VO! IECA Impedem a conversão de angio I em angio II. – São excelentes anti-hipertensivos, particularmente se: 1. ICFER e IAM anterior extenso → pois os IECA diminuem a cardiotoxicidade direta do excesso de angio II produzido em resposta à queda do DC, evitando o processo de “remodelamento cardíaco” progressivo. 2. Nefropatia ou DRC → pois os IECA promovem vasodilatação seletiva da arteríola eferente do glomérulo reduzem a pressão hidrostática intraglomerular e, consequentemente, o estresse mecânico gerado pela hiperfiltração (que de outro modo causaria esclerose glomerular) e a própria proteinúria. Este é o famoso efeito nefroprotetor. *Após início do IECA, sempre se espera um certo grau de queda na TFG (pela diminuição na pressão intraglomerular), bem como algum aumento nos níveis séricos de K+ (pois a queda da angio II diminui a secreção de aldosterona pelo córtex adrenal, e a aldosterona é o principal determinante da excreção urinária de K+). *Se houver aumento da creatinina> 30-35% em relação ao basal, e/ou franca hipercalemia, o IECA deverá ser suspenso. *IECA podem causar tosse seca, por impedirem a degradação da bradicinina; além disso outros efeitos: erupção cutânea, angioedema, IRA na doença renovascular... BRA Bloqueiam o receptor AT1 para a angio II (responsável pelos efeitos de vasoconstrição, proliferação celulare liberação de aldosterona pelo córtex adrenal). Assim o excesso de angio II acaba estimulando receptores AT2, que possuem efeito vasodilatador. – Os BRA são úteis nas mesmas situações que os IECA, e têm basicamente os mesmos paraefeitos que estes últimos, com exceção da tosse seca e do angioedema → pois não produzem aumento da bradicinina; – Losartana possui uma vantagem específica adicional: exerce EFEITO URICOSÚRICO, reduzindo a uricemia → boa escolha para pacientes com história de gota; β-BLOQUEADORES: Bloqueiam os receptores beta--1-adrenérgicos (localizados no coração), reduzindo o DC. – O propranolol é o mais lipossolúvel e que mais atravessa a BHE, por isso é útil na presença de: (1) tremor essencial; (2) síndromes hipercinéticas; e (3) cefaleias vasculares (ex.: enxaqueca). Além disso, pode ser usado no tratamento da hipertensão porta, pelo fato de reduzir o DC (bloqueio beta-1) ao mesmo tempo em que bloqueia beta-2 localizados nos vasos esplâncnicos, inibindo a vasodilatação e consequente aumento de fluxo sanguíneo. – Pindolol, apesar de bloquear os receptores beta, age como um agonista parcial, assim não causa bloqueio absoluto. Isso explica a menor incidência de efeitos cardiovasculares – Carvedilol e labetalol causam bloqueio concomitante dos receptores alfa-1 vasculares, e o nebivolol estimula a síntese endotelial de óxido nítrico, por isso essas drogas também promovem vasodilatação; – Carteolol e betaxolol reduzem a síntese de humor aquoso e são úteis em pacientes com glaucoma de ângulo aberto – Celiprolol bloqueia beta-1 ao mesmo tempo que estimula beta-2 (causando vasodilatação) e alfa-2 (promovendo menor tônus adrenérgico no SNC) *Não deve ser usado em pacientes com Asma, DPOC e BAV (2º e 3º)→ O bloqueio dos receptores beta-2-adrenérgicos (localizados nos vasos sanguíneos, brônquios e hepatócitos) promove vasoconstricção, broncoconstricção, e inibição da liberação hepática de glicose estimulada por catecolaminas. Cardiologia Thomás R. Campos | Medicina - UFOB TRATAMENTO Todas as drogas acima são ditas como de 1ª linha, pois comprovadamente reduzem o risco cardiovascular (o betabloqueador é o que menos tem benefícios). Mas existem ainda outros anti-hipertensivos, como drogas de ação central, alfabloqueadores, vasodilatadores diretos e inibidores diretos da renina, porém não há informações efetivas sobre desfechos de morbimortalidade na HAS. Agonistas alfa-2a e agonistas imidazólicos São as drogas de ação central. Os alfabloqueadores estimulam receptores alfa-2a adrenérgicos (inibitórios) localizados nos núcleos simpáticos do SNC, diminuindo o tônus adrenérgico central. Já os agonistas imidazólicos estimulam receptores imidazólicos (também inibitórios) nos mesmos núcleos simpáticos do SNC. O efeito final é uma ação “simpatolítica”, com redução da RVP e DC. – A metildopa é o fármaco de escolha para o tratamento crônico da HAS durante a GESTAÇÃO. Além de não ser teratogênico, produz dilatação arteriolar placentária, sendo particularmente útil no controle da pré-eclâmpsia. *Os efeitos colaterais incluem sonolência, sedação, e hipotensão postural, por isso é preciso cuidado em idosos. *Efeito rebote pode acontecer quando o paciente suspende a medicação de maneira abrupta, que ocorre devido a um upregulation de receptores adrenérgicos nos tecidos. Isso é especialmente observado na clonidina. Alfabloqueadores Bloqueiam seletivamente os receptores alfa-1- adrenérgicos (vasoconstrictores) localizados na parede das arteríolas reduzindo a RVP. – São os anti-hipertensivos de escolha no paciente que tem feocromocitoma. – Receptores alfa-1 também estão presentes na musculatura lisa do estroma prostático, o que faz essas drogas serem especialmente úteis nos hipertensos que também têm prostatismo. – Melhoram o metabolismo glicídico/lipídico, ao contrário dos betabloqueadores. *Hipotensão postural também pode ocorrer, o que especialmente verdade para o prazosin (o mais potente). Vasodilatadores arteriais diretos O mecanismo exato não é totalmente compreendido, mas sabe-se que a RVP é reduzida em função de um grande relaxamento da musculatura lisa arteriolar. – A hidralazina é o anti-hipertensivo de escolha para o controle das crises hipertensivas durante a gestação (ex.: eclâmpsia), pelo fato de não ser teratogênica e poder ser ministrada pela via intravenosa. – Promovem importantes benefícios em relação ao controle lipêmico: queda do LDL e aumento do HDL, possivelmente por ativação de enzimas envolvidas no metabolismo dessas lipoproteínas – Minoxidil tem como vantagem a melhora da calvície. *Deve-se ter cuidado com taquicardia reflexa. A vasodilatação desses fármaos é mais intensa e acarreta maior risco de "hipovolemia relativa" (a capacidade do leito arterial aumenta, porém, não há aumento concomitante do volume circulante efetivo). Logo, é muito mais frequente o surgimento de taquicardia reflexa, havendo também uma maior ativação do SRAA, que pode culminar em retenção de líquido (edema) se um diurético não for associado. A associação de BB diminui a taquicardia reflexa. Evitar na síndrome coronariana aguda, aneurisma dissecante de aorta e hemorragia cerebral, já que a taquicardia reflexa e o aumento de fluxo sanguíneo podem agravar todas essas complicações! Inibidores diretos da Renina Apenas o alisquireno está disponível... Esta droga inibe a reação inicial do SRAA (transformação do angiotensinogênio em angiotensina I pela renina), diminuindo, desse modo, a vasoconstricção periférica (angiotensina II) e a secreção de aldosterona. – O alisquireno reduz a PA na mesma medida em que as drogas de 1a linha, porém, não há comprovação de que reduza a morbimortalidade cardiovascular. *Principais paraefeitos (raros): rash cutâneo, diarreia, aumento de CPK. *Contraindicado na gravidez. [?] Certo. Você falou, falou, falou... mas qual fármaco eu uso então? O que eu quiser? DEPENDE, papai. Isso mesmo, depende. Se liga só: DM Pode ser usada qualquer droga de 1ª linha, mas se: ▪ Albuminúria ≥ 30 mg/dia, a droga de escolha deve ser IECA ou BRA, pelo efeito nefroprotetor. ▪ BB podem ser usados se DAC ou ICFER, apesar do potencial de piorarem o controle glicídico/lipídico. Síndrome metabólica ▪ Se houver disglicemia, as drogas de escolha serão os IECA ou BRA e/ou os BCC. DAC ▪ As drogas de escolha são os BB, IECA ou BRA. ▪ Se preciso associar, escolhas são DIU ou BCC. Lembrar da curva em “J”. A faixa-alvo da PA nesses casos é entre 120x70 e 130x80, pois baixar demais a PAD (<65mmHg) aumenta a mortalidade! DCV ▪ Qualquer anti-hipertensivo de 1ª linha pode ser usado, mas existem evidências a favor do uso preferencial de BRA nesses pacientes. A meta pressórica para a prevenção secundária de todos os tipos de AVE e AIT é PA < 130 x 80 mmHg. DRC ▪ Qualquer anti-hipertensivo de 1ª linha pode ser usado, mas se albuminúria > 30 mg/dia, é recomendado o uso de IECA ou BRA. ▪ Caso for usar um diurético, lembrar que os tiazídicos só têm efeito nos estágios 1, 2 e 3 (nos estágios 4 e 5 de DRC prefere-se os DIU de alça). ▪ Se transplante renal, os BCC são as drogas de 1a escolha, pois além de baixar a PA antagonizam os efeitos vasoconstrictores da ciclosporina. A meta pressórica para portadores de DRC não diabética é PA < 140 x 90 mmHg. Já para os portadores de DRC diabética a meta é PA < 130 x 80 mmHg. Na presença de albuminúria ≥ 30 mg/dia, DRC diabética e não diabética passam a ter a mesma meta pressórica: PA < 130 x 80 mmHg! Idosos ▪ Os tiazídicos são os fármacos de 1ª linha no idoso. ▪ BCC são drogas de escolha na HAS sistólica isolada. ▪ Alfabloqueadores são indicados se HPB sintomática. CardiologiaThomás R. Campos | Medicina - UFOB AGORA ALGUMAS DOSES DOS PRINCIPAIS FÁRMACOS DIURÉTICOS Tiazídicos ▪ Hidroclorotiazida 25mg / 50mg 12,5-25 mg/dia (1 tomada) ▪ Clortalidona 12,5 / 25mg / 50mg 12,5-25 mg/dia (1 tomada) De alça ▪ Furosemida (Lasix) 40mg 20-80 mg/dia (2 tomadas) Poupadores de potássio ▪ Espironolactona 25mg / 50mg / 100mg 50-100 mg/dia (1-2 tomadas) BCC ▪ Nifedipino 10mg / 20mg / 40mg 30-60 mg/dia (1-2 tomadas) ▪ Anlodipino 2.5mg / 5mg / 10mg 2,5-10 mg/dia (1 tomada) ▪ Verapamil 80mg / 120mg / 240mg 120-480 mg/dia (1 tomada) INIBIDORES DO SRAA IECA ▪ Captopril 12,5mg / 25mg / 50mg 25-100 mg/dia (2-3 tomadas) ▪ Ramipril 2,5mg / 5mg / 10mg 2,5-20 mg/dia (1 tomada) BRA ▪ Losartana 12,5mg / 25mg / 50mg / 100mg 25-100 mg/dia (1-2 tomadas) ▪ Valsartana 40mg / 80mg / 160mg / 320mg 80-320 mg/dia (1-2 tomadas) BETABLOQUEADORES ▪ Atenolol 25mg / 50mg / 100mg 25-100 mg/dia (1 tomada) ▪ Carvedilol 6,25mg / 12.5 mg / 25 mg 12,5-50 mg/dia (2 tomadas) ▪ Propanolol 40mg / 80mg 40-160 mg/dia (2 tomadas) AH DE AÇÃO CENTRAL ▪ Clonidina 0.1mg / 0.15mg / 0.2mg 0,1 - 0,8 mg/dia (2 tomadas) ▪ Metildopa 250mg / 500mg 250-1.000 mg/dia (2 tomadas) ALFABLOQUEADORES ▪ Prazosina (Minipress) 1mg / 2mg / 4mg 2-30 mg/dia (2-3 tomadas) ▪ Doxazosina 2mg / 4mg 1-16 mg/dia (1 tomada) VASODILATAORES ARTERIAIS DIRETOS ▪ Hidralazina 25mg / 50mg 25-100 mg/dia (2 tomadas) ▪ Minoxidil 10mg 2,5-80 mg/dia (1-2 tomadas) INIBIDORES DIRETOS DA RENINA ▪ Alisquireno (Rasilez) 150mg / 300mg 150-300 mg/dia (1 tomada) Cardiologia Thomás R. Campos | Medicina - UFOB
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