Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CARDIOLOGIA – TORTO Hipertensão arterial sistêmica _____________________________________________________________________________ DEFINIÇÃO A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos), além de alterações metabólicas. O fato é que a HAS está intimamente relacionada com o aumento do risco de eventos cardiovasculares fataus e não- fatais, sobretudo em indivíduos com comorbidades associadas. E a prevalência dessas afecções tá relacionada também às baixas taxas de controle de PA (10 a 19,6%) , sendo essa uma problemática que possuí diversos fatores: excesso de pílulas a serem tomadas diariamente, além de seu alto custo; efeitos colaterais das medicações; tempo insuficiente para educação do paciente; demora para iniciar e/ou intensificar o tratamento. OBS: em geral, um anti-hipertensivo consegue diminuir a PA em 20 mmHg. Classificação da has Segundo a 7ª diretriz brasileira de controle da hipertensão arterial, é possível classificar a hipertensão de acordo com os níveis de PA aferidos. CLASSIFICAÇÃO PAS PAD Normal < 130 < 85 Limítrofe 130-139 85-90 Leve (E.1) 140-159 90-99 Moderada (E.2) 160-179 100-109 Grave (E.3) >= 180 >= 110 H. sistólica isolada >= 140 < 90 Epidemiologia Prevalência Na população brasileira nos últimos 20 anos, a prevalência da HAS foi de mais de 30%. Fatores de risco ✓ IDADE (<50 H; >50 M – médias de 40 anos); ✓ GENERO E ETNIA – negros; ✓ EXCESSO DE PESO E SEDENTARISMO; 2 CARDIOLOGIA – TORTO ✓ CONSUMO DE SAL E BEBIDA ALCOÓLICA; ✓ FATORES SOCIOECONÔMICOS; ✓ GENÉTICA. FATORES VARIANTES DA PRESSÃO ✓ A nicotina do cigarro eleva a pressão em 10-20 mmHg e aumenta a PAM diurna; o tabagismo, portanto, não está esclarecido quanto ao risco de desenvolvimento HAS, mas é comprovadamente um fator agravante. Além disso, o cigarro está relacionado ao aumento dos casos de DAC. ✓ Álcool em excesso (vasoconstritor) é um agravante da PA. ✓ Cafeína aumenta pouca a PA e não está relacionado ao desenvolvimento de HAS. ✓ Dieta calórica e com excesso de sal são fatores agravantes importantes da HAS; uma dieta pobre em potássio também pode promover HAS. Fisiopatologia A HAS é uma doença plural, que possuí inúmeros órgãos e tecidos alvos, bem como inúmeros fatores desencadeantes. Os principais eventos relacionados ao aumento patológico e sustentado da pressão arterial sistêmica são: ✓ Genética: é demonstrado que a prevalência de HAS em gêmeos univitelínicos é maior do que nos bivitelínicos. Dessa forma, é possível associar os fatores de risco ambientais com certa carga de predisposição genética. ✓ Sistema nervoso simpático: já é bem esclarecido que o aumento do tônus simpático em depreciação do tônus parassimpático a longo prazo é um fator muito relevante para a fisiopatologia da doença. O SNS atua em diversas situações que podem ocasionar o aumento crônico e sustentado da PA: aumento de catecolaminas; estimulação do sistema renina-angiotensina- aldosterona; hiperinsulinemia (resistência a insulina → DM2); aumento da pressão intravascular; aumento da FC e força contrátil; vasoconstrição periférica etc. ✓ Barrorreceptores: São responsáveis por fazer o ajuste da PA em situações fisiológicas; quando há uma hipertensão sustentada, os barroreceptores se ajustam para manter o nível de PA mais elevados. Essa situação é comum em idosos que sofrem de hipertensão sistólica isolada. ✓ Sistema renina-angiotensina- aldosterona: a angiotensina II é um importante regulador da pressão, tendo um importante papel na patogênese sustentada da HAS. Ela é 3 CARDIOLOGIA – TORTO convertida a partir da angiotensina I, reação mediada pela enzima ECA (enzima conversora de angiotensina). A renina é responsável por converter o angiotensinogênio em angiotensina I. Algumas funções da Angiotensina II são: vasoconstrição, proliferação e crescimento celular, estímulo do sistema nervoso simpático, ativação do mecanismo da sede, liberação de ADH, retenção de sódio e líquido, liberação de aldosterona, remodelamento arterial vascular e de câmaras cardíacas etc. Tudo isso em conjunto são importantes fatores que favorecem o estabelecimento da HAS. Apresentação clínica A apresentação da hipertensão é comumente insidiosa e assintomática, sendo que, na maioria das vezes, os sinais clínicos podem apenas aparecer quando o paciente já apresenta um grau avançado de doença ou um acometimento de órgão-alvo instalado. A hipertensão primária, ou hipertensão essencial, é a forma de apresentação da doença mais comum (95% dos adultos com PA elevada). Ela é assim chamada pois não apresenta uma causa estabelecida, apesar de os fatores de risco e agravante possam ser identificados. OBS: uma outra causa é a rigidez da aorta com a idade avançada, responsável pela hipertensão sistólica isolada do idoso. A HAS essencial pode, então, ser dividida de acordo com sua apresentação. Hipertensão sistólica em adultos jovens Prevalente entre 17 e 25 anos de idade (25% homens), é causada por uma hiperestimulação adrenérgica, levando a um envelhecimento precoce das paredes dos vasos como um todo, o que favorece uma HAS franca precoce. É comum encontrar um DC elevado nesses pacientes. O tratamento envolve atividade física; medicamentoso, betabloqueadores. Hipertensão diastólica na meia idade É a HAS essencial “clássica”, mais comum em homens e na faixa etária de 30 a 50 anos. Está associada a ativação do sistema neuro- hormonal e reação autorreguladora da musculatura lisa cardiovascular. Há produção de substância vasoconstritoras e também a diminuição da excreção renal de sódio, causando elevação da volemia. O tratamento geralmente envolve a associação de diuréticos com IECA/BRA. 4 CARDIOLOGIA – TORTO Hipertensão arterial sistólica isolada no idoso Mais comum em mulheres e indivíduos com > 55 anos. Ela é caracterizada por uma PAS > 140 mmHg, mas com PAD < 90 mmHg. O principal mecanismo associado a essa apresentação clínica é o enrijecimento da aorta por alteração de colágeno e elastina; outros são ação neuro-hormonal, renal e vascular. O tratamento geralmente demanda diuréticos, IECA/BRA e betabloqueadores. Sintomas de órgãos-alvo ✓ Insuficiência cardíaca: dispneia aos esforços, ortopneia, palpitações, edema de MMII. ✓ Insuficiência coronariana: dor precordial aos esforços ou desencadeada por estresse emocional. ✓ Insuficiência renal: edema matutino; palidez, anorexia, perda de peso, náuseas e vômitos, redução do vol urinário. ✓ Retinopatia hipertensiva: embaçamento visual, fosfinas, escotomas, diminuição da acuidade visual, amaurose. ✓ Doença cerebrovascular: diminuição da função cognitiva e da atividade motora, paresia, plegia e parestesias. Diagnóstico A HAS é diagnosticada pela detecção de níveis elevados e sustentados de PA pela medida casual; um paciente com HAS deve ter sempre sua PA aferida para avaliação. Aferição da pa ✓ Na primeira avaliação, as medidas devem ser obtidas em ambos os braços. ✓ Se houver uma diferença de pressão entre os membros maior que 20 mmHg na PAS e 10 mmHg na PAD, deve-se fazer uma investigação para doenças arteriais. ✓ Deverão ser feitas três medidas (em todas as consultas isso deve ser feito também), A médias das duas últimas aferições deve ser considerada a PA real. ✓ Valores acima de 139/90 mmHg já traduzem uma HAS. OBS: a aferição deve ser feita com o paciente sentado. Porém, as medidas nas posições ortostática e supinadevem ser feitas pelo menos na primeira avaliação em todos os indivíduos e em todas as avaliações de idosos, diabéticos, portadores de disautonomias, alcoolista e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva. 5 CARDIOLOGIA – TORTO Monitorização residencial da pressão arterial (mrpa) A MRPA é o registro da PA feita pelo próprio paciente ou outra pessoa capacitada durante a vigília, em casa ou no trabalho. Ela pode ser feita para obter: três medidas pela manhã e três à noite, durante 5 dias, OU duas medidas em cada período durante 7 dias. Ela é útil para firmar o diagnóstico de HAS. Monitorização ambulatorial da pressão arterial de 24 horas (mapa) É o método que permite o registro indireto e intermitente da PA durante 24 horas ou mais, enquanto o paciente realiza suas atividades habituais durante os períodos de vigília e sono. Uma das suas características mais específicas é a possibilidade de identificar as alterações do ciclo circadiano da PA, sobretudo as alterações durante o sono, que tem implicações prognósticas consideráveis. Tem-se demonstrado que esse método é superior que o de medida de consultório para diagnóstico da HAS, já que é favorável em predizer eventos clínicos, tais como IAM, AVC, IRC e retinopatia Outras condições clínicas ✓ Hipertensão do avental branco: quadro em que o paciente apresenta medidas de PA persistentemente elevadas (> 139/90 mmHg) no consultório, mas suas médias de PA normais quando aferidas em sua residência, seja pela MRPA, seja pela MAPA. ✓ Hipertensão mascarada: condição clínica em que há valores normais de PA no consultório (< 140/90 mmHg), porém com PA elevada pela MAPA durante o período de vigília ou na MRPA. Possui uma prevalência de 8 a 48%. Ela deve ser investigada em indivíduos normotensos ou limítrofes e mesmo nos pacientes controlados, mas com sinais de lesões em órgão-alvo, histórico familiar positivo para HAS, risco cardiovascular alto e medida casual fora do consultório anormal. Outros exames laboratoriais ✓ Análise da urina (albumina e cratinina); ✓ Potássio plasmático; ✓ Creatinina sérica (cálculo da TFG); ✓ Glicemia de jejum; ✓ Colesterol total, HDL-c, LDL-c e triglicérides; ✓ Ácido úrico plasmático; ✓ ECG. 6 CARDIOLOGIA – TORTO Tratamento - princípios Prevenção primária Indicada para todos aqueles que possuem algum fator de risco explícito. Nos pacientes com PA limítrofe ela é fundamental. ✓ Alimentação saudável; ✓ Consumo controlado de sódio e álcool; ✓ Ingestão de potássio; ✓ Combate ao sedentarismo e ao tabagismo. Essas medidas também são fundamentais para aqueles já diagnosticados com HAS de qualquer estágio, pois elas comprovadamente ajudam na redução da PA, bem como a mortalidade por eventos cardiovasculares. Conduta e segmento do paciente NORMAL: reavaliar em 1 ano e estimular MEV. LIMÍTROFE: reavaliar em 6 meses e estimular MEV. ESTÁGIO 1: confirmar em 2 meses (considerar MAPA/MRPA) + MEV. ESTÁGIO 2: confirmar em 1 mês (considerar MAPA/MRPA) + MEV. ESTÁGIO 3: intervenção medicamentosa imediata. OBS: caso a HAS seja de estágio I/estágio 2, mas o paciente apresente fatores de risco para complicações cardiovasculares ou outras comorbidades associadas, deve- se introduzir tratamento medicamentoso. Metas durante o tratamento Estágio 1 e 2 c/ risco cardiovascular baixo e médio → PA < 140/90 mmHg. Hipertensos e limítrofes com risco cardiovascular alto → PA < 130/85 mmHg. Hipertensos e limítrofes com risco cardiovascular muito alto → PA < 130/80 mmHg. Hipertensos nefropatas com proteína > 1g/L → PA < 120/75 mmHg Algoritmo de tratamento Estágio I + RCV baixo/moderado MEV + MONOTERAPIA (diurético; IECA; BRA; BCC). Não atingiu metas/efeitos col. intoleráveis, deve-se = aumentar a dose OU mudar de remédio OU associar 2ª medicação Não atingiu metas = acrescentar outros anti-hipertensivos 7 CARDIOLOGIA – TORTO Estágio 1 + RCV alto OU Estágios 2 e 3 MEV + COMBINAÇÕES (dois fármacos de classes diferentes em doses baixas). Não atingiu metas/efeitos col. intoleráveis, deve-se = aumentar a dose OU mudar combinação OU associar 3ª medicação. Não atingiu metas = acrescentar outros anti-hipertensivos Tratamento – medicamentos Ieca (inibidores da ezima conversora da angiotensina) Inibem a ação da Angiotensina II por meio da inibição da ECA e a degradação da bradicinina (vasodilatação e tosse). A ECA está presente no endotélio vascular dos pulmões, assim como em outros leitos vasculares, incluindo as artérias coronárias. Redução do risco de mortalidade cardiovascular → mais indicado para DM. CONTRA-INDICAÇÕES: estenose da artéria renal bilateral ou unilateral em rim único; gravidez; alergia; hipercalemia; creatinina 2,5-3 mg/dL; hipotensão arterial sistólica < 80 mmHg; estenose aórtica grave. Betabloqueadores Efeitos na regulação da HAS não totalmente compreendidos. Há redução da resistência vascular periféricas, além de queda da FC e DC, em função das ações inotrópicas e cronotrópicas. Essas mesmas ações são benéficas para proteção miocárdica contra a isquemia. Bloqueadores dos canais de cálcio Causam vasodilatação (redução da resistência vascular periférica). Sua classificação química é: • Não-dihidropiridinicos: verapamil e diltiazen (mais ação cardíaca e são contraindicados na IC). • Dihidropiridinicos: anlodipina, nifedipina. (mais seletividade vascular). OBS: o tratamento de escolha para o HAS idoso é hidroclorotiazida e amlodipina! Diuréticos ✓ De alça: furosemida; inibe a bomba Na+/K+/2Cl-, garantindo que a água seja eliminada. ✓ Tiazídicos: hidroclorotiazida, clortalidona e indopamida; principais efeitos colaterais são a hipocalemia, hiperuricemia e hiperglicemia. ✓ Poupadores de K+: amilorida, triantereno, espironolactona, epletenone. 8 CARDIOLOGIA – TORTO Emergência hipertensiva Urgência hipertensiva Não cursam com um risco imediato de dano agudo. Portanto, nessa situação, o controle da PA poderá ser feito gradualmente (em 24h). A elevação crítica da PA, em geral a diastólica > 120 mmHg, mas geralmente sem instabilidade clínica. Emergência hipertensiva Nesse caso, há um aumento crítico da PA, com sinais de instabilidade clínica e possível risco de acometimento de órgãos-alvo e morte. A avaliação do quadro pode mostrar encefalopatia hipertensiva, lesões hemorrágicas dos vasos da retina e papiledema. A EH pode estar associada a AVC, EAP, IAM, dissecção da aorta. Para o tratamento da urgência: ✓ Vasodilatador: nitroprussiato de sódio. ✓ Venodilatador: nitroglicerina Has e outras situações clínicas ✓ Gravidez: o uso de anti- hipertensivos está recomendado quando a PAS estiver > 150 mmHg e a PAD em 90-100 mmHg. A primeira linha de tratamento é o metildopa. ✓ Diabetes: deve-se optar a utilização de IECA como primeira linha na DM, ou um BRA. Hipertensão secundária Quando suspeitar? Apesar de menos frequente quando comparado com a essencial, esse tipo de hipertensão também possui uma alta morbimortalidade. Deve ser suspeitada quando há: ✓ Idade de aparecimento antes de 20 anos ou depois dos 50; ✓ Níveis hipertensivos elevados e de forma abrupta. ✓ Presença de outros sintomas. ✓ Refratariedade ao tratamento adequado com anti-hipertensivos e MEV preconizados na suspeita de uma HAS essencial. Principais diagnósticos diferenciais ✓ Doença parenquimatosa renal: presença de história de infecção renal, DM, abuso de analgésico. Presença de TFG < 60 ml/min, albuminúria e/ou hematúria. ✓ Doenças renais agudas: pensar em causas como encefalopatia 9 CARDIOLOGIA – TORTO hipertensivae estenose da artéria renal. ✓ Doenças renais crônicas: nefropatia diabética e hipertensão renovascular (doença aterosclerótica afetando o terço proximal da artéria renal ou doença fibroblástica que envolve principalmente os dois terços distais e os ramos das artérias renais) ✓ Hiperaldosteronismo primário: hipertensão refratária, presença de hipocalemia, fraqueza muscula, arritmias. ✓ Feocromocitoma: hipertensão paroxística ou crise; cefaleia, sudorese, palpitações e palidez. ✓ Corarctação da aorta: claudicação intermitente, fadiga e cefaleia. Palpação dos pulsos dos MMII, já que quando diminuídos podem sugerir coarctação. Deve fazer DD com HAS quando encontrada hipertensão em crianças. ✓ Hipertireoidismo 1 CARDIOLOGIA - TORTO Anti-hipertensivos _____________________________________________________________________________ Controle da pressão arterial A hipertensão arterial sistêmica possui alta prevalência em nosso meio e configura um dos principais fatores de risco cardiovascular. Nesse contexto, segundo inúmeros estudos, foi possível observar a eficácia do tratamento com fármacos anti- hipertensivos. Aproximadamente 70%-90% dos portadores de HAS necessitarão de combinação medicamentosa para assegurar controle da PA; dentre esses, 30% deverão associar quatro ou mais fármacos para atingir as metas. Ainda assim, o controle de PA é muito baixo e limitado. Quando pensamos na optimização do controle deve-se levar em consideração: ✓ Adesão terapêutica; ✓ Abordagem de sobreposição dos múltiplos fatores potencialmente desencadeadores da HAS; ✓ Compatibilidade farmacocinética; ✓ Utilização de dosagens mais baixas dos fármacos associados para ter menor taxa de efeitos colaterais sem perder a ação anti- hipertensiva. Recomendações para a associação de anti-hipertensivos ✓ De preferência para as combinações preferenciais ou aceitáveis; ✓ Inicie com terapia combinada rotineiramente em indivíduos que necessitem de reduções de PA iguais ou superiores a 20 e/ou 10 mmHg, para PAS e PAS, respectivamente (estágios 2 e 3). ✓ Inicie terapia combinada em indivíduos em estágio 1 com risco alto e muito alto ou quando o segundo agente pode melhorar o perfil de efeitos colaterais da terapia inicial. Benefícios na adesão da combinação medicamentosa O encorajamento de Combinações Medicamentosas Fixas (CMF) possuem inúmeras vantagem para o tratamento: ✓ Posologia de dose única diária e menor número de comprimidos a serem ingeridos; ✓ Menor custo potencial; ✓ Melhor controle pressórico; 2 CARDIOLOGIA - TORTO ✓ Maior estabilidade da PA em 24 horas; ✓ Metas de tratamento atingidas mais precocemente; ✓ Menor taxa de eventos adversos. ✓ Redução dos desfechos com eventos cardiovasculares, como AVE e DAC. Combinações PREFERENCIAIS ✓ IECA + ACC ✓ IECA + diurético ✓ BRA + ACC (diidropiridínico) ✓ BRA + diurético ACEITÁVEIS ✓ BB + diurético ✓ ACC (diidropiridínico) + BB ✓ ACC + diurético ✓ IDR + diurético ✓ IDR + ACC ✓ Diurético tiazídico + diurético poupador de potássio MENOS USUAIS ✓ IECA + BB ✓ BRA + BB NÃO USUAIS ✓ ACC (não diidropiridínico) + BB ✓ IECA + BRA ✓ IECA + IDR ✓ BRA + IDR ✓ Simpatolítico central + BB Combinações duplas de anti- hipertensivos Inibidores do sistema reina angiotensina + diuréticos A combinação de um IECA/BRA/inibidor direto da renina (alisquireno) com um diurético tiazídico (hidroclorotiazida, clortalidona ou indapamida) gera uma redução importante da PA. Inibidores do sistema renina angiotensina + antagonistas dos canais de cálcio Redução significativa da PA e contraposição de efeitos. IECA +ACC demonstraram maior redução de desfechos combinados. 3 CARDIOLOGIA - TORTO Antagonistas dos canais de cálcio + diuréticos tiazídicos É uma associação possível. Ambos mostraram vasodilatação sem depleção de volume. Betabloqueadores + diuréticos tiazídicos Apesar de possuírem boa ação e desfecho clínico, os BB são menos efetivos do que diuréticos, IECA, BRA e ACC. Em afrodescendentes, no entanto, a associação de BB e diuréticos tem demonstrado bons resultados. , Diuréticos tiazídicos + diuréticos poupadores de potássio A associação hidroclorotiazida ou clortalidona com amilorida possui boa ação na redução da PA. Nela, há preservação dos níveis plasmáticos de potássio, evitando a hipocalemia, e é considerada uma combinação aceitável para indivíduos com função renal preservada (filtração glomerular > 50 mL/min/1,73m²). Antagonistas de canais de cálcio + betabloqueadores Combinações de baixas doses de felodipina e metoprolol tem resultados bons no controle, com menos efeitos colaterais. Os ACC diidropiridínicos podem ser associados; os não diidropiridínicos (diltiazem e verapamil) não podem ser associados, pois aumentam a ação regulatória da FC e condução atrioventricular, podendo gerar bradicardia ou BAV. OBS: cerca de 15% dos pacientes precisam de uma associação tríplice. Naqueles que precisa de uma terapia quádrupla, a melhor opção é a espironolactona (antagonista da aldosterona), seguida por clonidina, BB ou vasodilatadores diretos. Estratégia na hipertrofia ventricular esquerda A hipertrofia do ventrículo esquerdo é uma manifestação comum do curso natural da HAS e implica uma maior incidência de complicações cardiovasculares importante. Em monoterapia, o tratamento ideal é com IECA ou BRA (faz remodelamento cardíaco). ACC, BB e diuréticos estão em um plano inferior. No entanto, associação dupla ou tripla tem maior efeito de controle. Pacientes com doença renal crônica ✓ O uso de IECA ou BRA previne a redução da função renal, sendo a primeira linha de escolha. Porém, deve-se atentar a função renal: 4 CARDIOLOGIA - TORTO - creatinina < 2,5 → eles tem ação protetora para os rins; - creatinina > 2,5 → eles são nefrotóxicos e pioram a DRC. ✓ ACC são a segunda linha de tratamento, sobretudo verapamil e diltiazem, que reduzem a proteinúria. ✓ Antagonistas da aldosterona são a terceira ou quarta linha de tratamento. ✓ BB estão indicados quando há associação com DAC e/ou IC. Combinações na diabetes e síndrome metabólica Essas patologias configuram um quadro de alto risco para complicações cardiovasculares, estando, portanto, indicada uma terapêutica combinada. A associação usual é IECA/BRA com um ACC e, se necessário, um diurético tiazídico. Combinações na dAC e DCV ✓ Pós-IAM: a combinação preferencial é IECA + betabloqueador. ✓ Na doença cerebrovascular, a indicação é de tiazídicos com IECA. ✓ Na doença arterial coronariana: DUPLAS PREFERENCIAIS - BB + IECA - BB + BRA - BB + ACC (diidropiridínicos) TRIPLAS PREFERENCIAIS - BB + IECA/BRA + ACC (diidropiridínicos) - BB + IECA/BRA + diurético tiazídico Combinação de fármacos no idoso Algumas informações importantes: ✓ Optar por esquemas que facilitem a adesão ao tratamento; ✓ Sempre iniciar com doses baixas e com aumento lento e gradual com revisão periódica; ✓ Atentar a sintomas atípicos da hipotensão: sonolência, vertigem e confusão mental; ✓ Estimar sempre a depuração da creatinina para avaliação renal; ✓ A redução da PAS entre 150/140 mmHg já é uma meta muito boa para redução da mortalidade CV nesses pacientes. As principais associações podem ser: ✓ IECA + tiazídico (indapamida); 5 CARDIOLOGIA - TORTO ✓ IECA/BRA/alisquireno + ACC diidropiridínico (amlodipina) Informações estudo dirigido (basicamente a mesma coisa que o resumo, nem precisa ler) Questão ii – em relação ao uso de combinações medicamentosas fixas Posologia de dose única diária e menornúmero de comprimidos a serem ingeridos, ou seja, maior conveniência ao paciente, com menor risco de confusão posológica. Menor taxa de eventos adversos, pois muitas vezes as CMF associam dois fármacos em doses não máximas capazes e reduzir a PA sem levar a eventos adversos que decorreriam do seu uso em altas doses; ou com efeitos indesejáveis dos fármacos que são balanceados ou até mesmo suprimidos por sua ação em combinação. Melhor controle pressórico (possivelmente por ação simultânea e/ou sinérgica em múltiplos fatores fisiopatológicos da hipertensão arterial e atenuação da inércia terapêutica). Maior estabilidade da pressão arterial nas 24 horas quando em CMF sinérgica, com relação vale-pico e doses adequadas, promovendo maior proteção cardiovascular. Meta atingida mais precocemente, levando a diminuição mais breve do risco cardiovascular e a maior confiabilidade do paciente em relação ao médico e em relação ao fármaco. Questão iii – recomendações de associação Caso não seja alcançada a meta com a combinação dupla, reavalie a adesão e outras causas de descontrole e, se necessário, utilize combinações de três ou mais fármacos. Inicie terapia combinada em indivíduos em estágio I com risco alto e muito alto, ou quando o segundo agente pode melhorar o perfil de efeitos colaterais da terapia inicial. Considere o emprego de terapia combinada para alcançar as metas PA, sempre associada a mudança no estilo de vida. Inicie com terapia combinada rotineiramente em indivíduos que necessitem de reduções de PA iguais ou superiores a 20 e/ou 10 mmHg, para PAS e PAD, respectivamente (estágio 2 e 3). Não é recomendado o uso de fármacos anti- hipertensivos manipulados Questão VI As melhores evidências da redução de mortalidade geral e CV em hipertensos com a associação de IECA ou BRA com diuréticos do tipo tiazidas foi com a indapamida que também precisa ser considerada preferencial em relação à hidroclorotiazida. As combinações fixas de IECA ou BRA com diurético são as preferenciais. A maioria das 6 CARDIOLOGIA - TORTO combinações fixas usa a hidroclorotiazida como diurético embora a clortalidona tenha se mostrado mais efetiva na redução da PA e dos desfechos cardiovasculares A combinação de Inibidores do sistema renina angiotensina + antagonistas dos canais de cálcio resulta em uma redução significativa da PA e melhora, pela ação simpaticolítica e venodilatadora dos IECA ou BRA, a tolerabilidade aos antagonistas dos canais de cálcio A combinação de Antagonistas de canais de cálcio + diuréticos tiazídicos resulta em um efeito aditivo com pequena repercussão na PA provavelmente pela sobreposição de seus efeitos farmacológicos. A associação de Betabloqueadores + diuréticos tiazídicos aumenta o risco de desenvolvimento de intolerância a glicose, fadiga e disfunção sexual. Questão v A associação Diuréticos tiazídicos + diuréticos poupadores de potássio é capaz de potencializar ainda mais a redução nos níveis pressóricos, preservando os níveis plasmáticos de potássio, o que é muito interessante no tratamento do HA em virtude das ações vasodilatadoras do potássio, além de reduzir a incidência de hipocalemia. Inibidores do sistema renina-angiotensina + betabloqueadores: Essas classes de agentes são cardioprotetoras e frequentemente administradas em indivíduos com doença coronariana e/ou insuficiência cardíaca. Quando combinados, entretanto, resultam em pequena redução adicional da PA, comparável ao seu uso isoladamente. Por essa razão, essa é uma associação menos efetiva, quando a meta é a redução da PA. A combinação de BB com Antagonistas dos canais de cálcio diidropiridínicos (anlodilpina) é considerada aceitável, mas deve ser evitada com os não diidropiridínicos, como verapamil e diltiazem, pelo efeito adicional na frequência cardíaca e condução atrioventricular, podendo resultar em bradicardia severa e/ou bloqueios atrioventriculares. A combinação de IECA com BRA não é recomendada. Essa combinação apresenta pequeno efeito adicional na redução da PA, comparável à redução de cada um dos agentes isolados. Questão vi A utilização de combinação tríplice em um único comprimido tem sido associada com um controle pressórico mais rápido e consequentemente uma redução maior do risco CV, em comparação com a monoterapia seguida da combinação dupla, contribuindo assim para uma melhora da inércia terapêutica. Betabloqueadores + agentes de ação central (clonidina e alfametildopa) interferem no sistema nervoso simpático. O grau que essa combinação produz de redução de PA ainda não foi estudado. Seu uso em combinação pode resultar em bradicardia importante ou 7 CARDIOLOGIA - TORTO bloqueio AV. Além disso, indivíduos em uso dessa combinação, que descontinuaram abruptamente seu tratamento, exibiram hipertensão de rebote. Por essas razões, é considerada uma combinação menos efetiva. A combinação tríplice, em um único comprimido, tem-se mostrado mais eficaz que a utilização dos três fármacos em separado, tanto na adesão quanto no risco de abandono, com melhoras de 29% e 24%,, respectivamente. A utilização de quatro fármacos na hipertensão arterial nos remete ao paciente com hipertensão resistente. A associação de bloqueadores dos receptores mineralocorticoides é a estratégia de quarto fármaco com maior indicação por promover reduções adicionais significativas da PA, independentemente da relação aldosterona/ atividade plasmática da renina. Em caso de intolerância a espironolactona ou não se alcançando a meta pressórica, o quarto fármaco pode ser a clonidina, betabloqueadores ou os vasodilatadores diretos. Questão vii A presença de Doença Renal Crônica nos hipertensos, em geral, está associada a sobrecarga de volume e maior ativação do SRAA. Nesses pacientes há necessidade de terapia combinada onde os bloqueadores do SRAA devem ser a preferência em associação com outros anti-hipertensivos. O uso de IECA ou BRA previne a redução progressiva da função renal em maior grau que outros agentes antihipertensivos, tanto naqueles com ou sem diabetes, com ou sem proteinúria. A presença de lesões em órgãos-alvo, não importando o estágio hipertensivo, já configura risco cardiovascular alto ou muito alto, devendo a combinação de fármacos anti-hipertensivos ser a estratégia inicial. Em monoterapia os fármacos que mais reduzem a HVE são os BRA e IECA, ficando os ACC, betabloqueadores e diuréticos em um plano inferior. A Hipertrofia Ventricular Esquerda é a manifestação cardinal da doença hipertensiva, estando presente em 36% a 41% dos pacientes, e é um preditor independente de complicações cardiovasculares. Pacientes com HVE têm de 2-4 vezes risco maior de eventos cardíacos e cérebro vasculares. Diversos estudos verificaram que as combinações duplas ou triplas foram mais eficientes em reduzir a massa ventricular esquerda, além da mortalidade cardiovascular. 8 CARDIOLOGIA - TORTO 1 CARDIOLOGIA - TORTO Síndromes coronarianas agudas _____________________________________________________________________________ introdução definição A doença arterial coronariana (DAC) é caracterizada por placas ateroscleróticas ou ateromas nos vasos da circulação do coração, os quais podem causar uma obstrução ao fluxo sanguíneo em variados graus. Esse tipo de complicação manifesta sintomas de padrão estável ou instável de acordo com a interrupção do fluxo e do aumento da demanda (configurando uma isquemia). O grau da obstrução e a tolerabilidade a exercícios/atividades diárias são fatores inversamente proporcionais. Classificação das sca As síndromes coronarianas agudas (SCA) são manifestaçõesclínicas de urgência das DAC, em que há um agravamento súbito da obstrução vascular. Ela também pode ser dividida em: ✓ SCA sem supradesnível de ST (SCASST): são compostas pelo infarto sem supradesnível de ST e pela angina instável. Ambas cursam com uma oclusão parcial/transitória do fluxo sanguíneo, sendo uma apresentação mais branda. Além disso, esse tipo de apresentação cursa com isquemia miocárdia restrita ao território subendocárdico. ✓ IAM com supradesnível de ST: há uma extrema oclusão do fluxo sanguíneo, gerando um quadro mais intenso. Nele, há uma onda de necrose que se estende por toda a espessura do miocárdio (transmural). Etiologias mais prováveis das sca ✓ Instabilidade da placa aterosclerótica: compõe cerca de 90% dos casos de SCA, sendo portanto a etiologia prevalente. ✓ Espasmo coronário: secundário a uma alteração na função vasodilatadora do endotélio, causando um aumento do tônus vascular; mais comum em mulheres jovens. Também pode ser causado por cocaína. ✓ Embolização coronária: etiologia relativamente comum em portadores de próteses mecânicas ou endocardite bacteriana ou na FA. 2 CARDIOLOGIA - TORTO Fisiopatologia da aterosclerose A formação da placa aterosclerótica A aterosclerose inicia-se com lesão na camada endotelial causada, por exemplo, por altos níveis séricos de colesterol e triglicerídeos, forças hemodinâmicas, depósito de complexo imune, irradiação, ou produtos químicos. A lesão endotelial leva ao aumento da permeabilidade vascular e acúmulo de lipoproteínas, principalmente LDL (lipoproteína de baixa densidade) na camada íntima. Esses lipídios que se acumulam no endotélio serão oxidados por espécies reativas de oxigênio (ERO), liberadas pelas células endoteliais e por macrófagos. A oxidação da LDL e a ativação de macrófagos estimula a produção de citocinas, que recrutam mais células inflamatórias, desencadeando assim um processo inflamatório crônico. Suas principais causas hipercolesterolemia, hipertensão arterial, diabetes, obesidade, sedentarismo, tabagismo, envelhecimento e suscetibilidade genética individual. Mecanismos de instabilidade do ateroma É multifatorial, sendo a teoria da inflamação a mais aceita. A placa apresenta um núcleo lipídico rico em macrófagos com gordura (células espumosas), que permanece isolado do sangue por uma capa fibrosa de colágeno. Por meio de processo infecciosos agudos, aumento o estresse oxidativo etc, desenvolve-se um processo inflamatório generalizado. Este provoca a ativação de linfóctiros T dentro dos ateromas; por meio da liberação e ativação de interferon, colagenases e metaloproteinases, há o adelgaçamento da membrana fibrosa externa. Dessa forma, a placa fica suscetível ao rompimento, sobretudo em condições em que há sobrecarga hemodinâmica (como estresse emocional e exercícios). Tipos de ateroma instável ✓ Rotura: 3 CARDIOLOGIA - TORTO ✓ Erosão do endotélio sobre a placa (mais comum das SCASST). ✓ Hemorragia intraplaca (+ rara) Aterotrombrose Com a lesão formada, há a exposição de alguns componentes pró-agregantes e pró- coagulantes, como o Fator Tecidual (ativação da via extrínseca). Esse conjunto então promove a formação do trombo, responsável pelo processo oclusivo da SCA. Quadro clínico A dor torácica É a apresentação clínica típica de todas as SCA (variando em sua duração e intensidade, apenas). Tem caráter opressivo, em queimação ou em peso, localizada no centro do tórax (retroesternal), com irradiação para membro superior esquerdo, pescoço ou mandíbula. Ela piora ao esforço físico e melhora ao repouso; não é ventilatório- dependente. Os principais sintomas associados a ele são náuseas, vômito, diaforese e dispneia (mais comum do idoso). 4 CARDIOLOGIA - TORTO Diagnósticos diferenciais de dor no peito ✓ CARDIOVASCULARES: insuficiência coronariana; pericardite; miocardite; valvopatia aórtica; dissecção de aorta. ✓ PULMONAR: TEP, pneumonia, pleurite, pneumotórax. ✓ MUSCULOESQUELÉTICA E NEUROLÓGICA: costocondrite aguda; trauma; herpes zoster; ansiedade. ✓ TRATO GASTROINTESTINAL: espasmo esofágico; refluxo gastroesofágico; gastrite; doença ulcerosa; distensão hepática; pancreatite; cólica biliar; infarto esplênico. Angina instável Quadro mais brando, com exames subsidiários habitualmente normais, sendo a anamnese o foco. Os sintomas são atípicos e fugazes; a apresentação pode ser: ✓ Angina recente em assintomáticos; é instável no 1º mês. ✓ Angina progressiva; uma exacerbação dos sintomas anteriores; ✓ Angina em repouso ou mínimos esforços. A diferença entre a angina instável da estável é que a primeira aparece subitamente, sem eventos desencadeantes prévios. Quanto ao IAM, a dor da angina costuma durar em média apenas 20 minutos e não apresenta manifestações simpáticas exuberantes (palidez, sudorese ou náuseas). Angina variante ou angina de prinzmetal Dor precordial isquêmica desencadeada ´pr espasmo coronário associada a supradesnível temporário do segmento ST, porém sem marcadores de necrose miocárdica (por isso é confundido com IAMSST). Ocorre normalmente em repouso, durante a noite ou manhã; preferencialmente em mulheres jovens sem fatores de risco. O tratamento é a base de nitratos e BCC tanto na fase crônica quanto aguda. Infarto do miocárdio Aqui a oclusão coronariana é completa (mesmo que transitória como na IAMSST). O quadro clínico é mais exuberante, com dor anginosa mais pronunciada, sintomas de resposta simpática e de duração superiores a 30 minutos. O IAMST é o mais intenso, podendo apresentar sensação de “morte iminente”. 5 CARDIOLOGIA - TORTO Exame físico Geralmente está normal, mas é indispensável para a avaliação. ✓ Palidez cutânea, taquicardia e diaforese; ✓ IM de parede inferior: bradicardia com sinais de baixo DC. ✓ Elevação da pressão arterial e da temperatura. ✓ B4 e B3 podem estar presentes. ✓ Sopro sistólico apical pode representar acometimento isquêmico do músculo papilar da valva mitral etc. Exames diagnósticos Ecg É de extrema importância e deve ser realizado em até 10 minutos após a admissão hospitalar: ✓ IMST: a detecção de supradesnível persistente do segmento ST indica a presença de IMST, com sofrimento muscular transmural. ✓ SCASST: nesse caso não há o achado de supra de ST, podendo indicar um caso de AI ou IAMSST. Apesar de não específicos e nem sempre presentes, alguns achados no ECG podem indicar isquemia: - Onda T apiculada: - Inversão de onda T: - Infradesnível de ST 6 CARDIOLOGIA - TORTO OBS: quando há simultaneamente um supra e um infra no ECG, o supra SEMPRE deve ser levado em consideração. Geralmente o infra é uma imagem espelho da região acometida. O que é a onda Q patológica? Representa um evento isquêmico com lesão irreversível no miocárdio. Geralmente indica um IAM prévio. Qual foi a região acometida pelo IAM? Para se definir a parede cardíaca em que ocorreu a isquemia e possível necrose é necessária a avaliação das derivações: ✓ Parede anterior: V1 a V4 ✓ Parede anterior extensa: V1 a V6 ✓ Parede anteroseptal: V1, V2 e V3 ✓ Parede lateral baixa: V5 e V6 ✓ Parede lateral alta: D1 e aVL ✓ Parede inferior: DII, DIII e aVF OBS: sempre que houver um acometimento de parede inferior deve-se suspeitar de um acometimento do VD. Por isso, é necessário traças as derivações VR3 e VR4! Marcadores de necrose cardíaca A morte dos cardiomiócitos com perda da integridade do plasmalema permite que macromoléculas contidas no espaço intracelular sejam liberadas para o tecido intersticial.As principais moléculas examinadas em suspeita de infarto são: ✓ CK-MB: não é eletiva de ser dosada quando há troponina disponível, já que é menos específica do que ela para lesão miocárdica. Se eleva em 3 a 4 horas, com pico em 24 a 48 horas e abaixa após 72 horas. Por esse padrão de normalização rápida, ela é preferível para avaliação de reinfarto (quando está alta em um momento que já deveria ter abaixado). ✓ Troponinas: superiores a CK-MB, são os melhores marcadores cardíacos e sua dosagem é o suficiente para avaliar necrose miocárdica. Se eleva em 3 a 4 horas, pico em 18 a 36 horas e decaem lentamente, de 10 a 14 dias. A troponina deve ser dosada pelo menos 3 vezes durante a avaliação, com um intervalo de 3 a 6 horas entre cada dosagem. Na terceira dosagem, é necessário que haja um 7 CARDIOLOGIA - TORTO acréscimo de pelo menos 20% da segunda (curva de necrose). Tratamento Objetivos Prevenir a morte e evitar complicações agudas; reperfundir o miocárdio isquêmico antes que ele necrose, ou seja, dentro das primeiras 6 horas. Nos primeiros 10 minutos ✓ Monitorização ECG; ✓ 02 se saturação < 94%; ✓ Nitrato (dinitrato de isossorbida sublingual); ✓ AAS 200 mg VO (chupar cp.) ✓ Acesso venoso SF 0,9% ✓ Avaliar se há contraindicações de trombolíticos ou se há complicações (como um EAP). Terapêutica aguda ✓ Morfina: reduz dor, ansiedade, PA e níveis de catecolaminas. Efeitos colaterais são vômitos e depressão respiratória. ✓ Nitroglicerina: reduz consumo de oxigênio; contraindicado para pacientes hipotensos, IAM de parede inferior e/ou de VD e se usou viagra (vasodilatador) 24-48h antes. ✓ Betabloqueador (metoprolol, atenolol ou caverdilol): uso obrigatório, sobretudo na IAM de parede anterior. Efeito crono e ianotrópico. É contraindicado: ICC descompensada; EAP; bradicardia; hipotensão; hipoperfusão periférica; BAV grave; asmático/DPOC grave; IAM por cocaína. ✓ Estatinas. ✓ Antiagregação dupla: AA + clopidogrel. ✓ IECA: diminui a remodelação ventricular (enalapril). Trómbolise no IAMST Caso apresente supra de ST no ECG, é mandatória a trombólise imediata: Só se pode fazer se a dor dura a mais de 30 minutos e com menos de 12 horas. TROMBÓLISE MECÂNICA Sempre a mais indicada (angioplastia com stent ou balão). - serviço disponível no hospital? ATÉ 90 MIN - serviço indisponível no hospital, mas será encaminhado para outro? ATÉ 120 MIN TROMBÓLISE QUÍMICA Caso não seja possível fazer a mecânica, a trombólise deve ser feita com Tecneteplase ou estreptomicina. 8 CARDIOLOGIA - TORTO OBS: antes de qualquer trombólise (química ou mecânica), deve-se fazer anticoagulação plena com heparina. Reperfusão Quando o paciente é devidamente reperfundido após o tratamento, é normal aparecer uma taquicardia ventricular de ritmo lento no ECG (sinal de bom prognóstico). Geralmente é transitória e não precisa de tratamento. Pós-iam ✓ AAS 100 mg x1/dia; ✓ Clopidogrel 75 mg x1/dia; ✓ Enalapril 75 mg x1/dia; ✓ Caverdilol 25 mg a cada 12 horas; ✓ Sustrate (nitrato) 5 mg 3 tomadas em cada período do dia por 30 dias; ✓ Sinvastatina antes de dormir. ✓ Pantoprazol 20 mg em jejum. Informações estudo dirigido Questão i Os biomarcadores no IAM, preferencialmente a troponina, são fundamentais na avaliação dos pacientes com SCA. No IAM com supra de segmento ST (IAMCSST) a dosagem dos biomarcadores é fundamental para se avaliar a presença de reperfusão miocárdica ou reinfarto e não se presta ao diagnóstico inicial desta enfermidade, uma vez que é inconcebível aguardar o processamento da amostra do sangue coletado e a elevação desses marcadores de necrose miocárdica para se iniciar o tratamento dessa condição. Questão ii A escolha entre o tratamento trombolítico ou angioplastia primária deve levar em conta a disponibilidade de hemodinâmica no serviço e, em caso negativo, o tempo para transferência do doente até um centro onde a desobstrução mecânica possa ser realizada. Se o tempo estimado para que o paciente seja submetido à angioplastia for superior a 120 minutos, a fibrinólise deve ser estabelecida e o agente de escolha deve, preferencialmente, ser a tecneteplase (TNK) em bólus. Caso não existam sinais de reperfusão, o paciente deve ser submetido à angioplastia de resgate. Ainda que a trombólise tenha sido bem-sucedida, a recomendação é que estes pacientes devam se submeter preferencialmente à https://facisb.com.br/moodle/mod/quiz/view.php?id=4391 9 CARDIOLOGIA - TORTO angioplastia entre 2 e 24 horas após o início dos sintomas. Questão iii A disfunção endotelial é o principal determinante da manifestação clínica da doença, sendo ela altamente dependente da presença de fatores de risco clássicos, a saber: hipertensão arterial, dislipidemia, sexo masculino, história familiar de doença coronariana precoce, diabete melito, obesidade, etc. A associação dos fatores clássicos de risco na gênese da disfunção endotelial, condição fundamental durante o processo da aterosclerose e suas complicações, encontra-se bem definida. Questão IV O clínico deve ser rápido e efetivo na tomada de decisão. São recomendadas como medidas iniciais morfina, oxigênio, nitrato e ácido acetilsalicílico (AAS), conforme as condições hemodinâmicas do enfermo. Oxigênio adicional deve ser suplementado, caso a saturação seja inferior a 94%. Questão v Enquanto o IAMCSST está frequentemente associado à ruptura de capa fibrótica de uma placa ateromatosa rica em colesterol e células inflamatórias com trombose e oclusão coronária total, a doença isquêmica aguda do coração sem supradesnivelamento do ST (IAMSSST e AI) associa-se a oclusões coronárias parciais. Um dos mecanismos envolvidos é o da erosão endotelial, com exposição da íntima aos elementos do sangue, gerando trombina e ativação plaquetária, e resultando na SCA sem supradesnivelamento do ST (SCASSST). - 1 CARDIOLOGIA - TORTO DOENÇA ISQUÊMICA CRÔNICA _____________________________________________________________________________ DEFINIÇÃO A doença arterial coronariana crônica é cada vez mais prevalente na população, sendo responsável por severa incapacitação e retardo funcional. Ela deriva de uma semiobstrução crônica ao fluxo sanguíneo coronariano, levando a quadro de isquemia decorrente do desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio. O resultado disso é a apoptose dos cardiomiócitos,, hibernação e atordoamento com disfunção contrátil ventricular regional e/ou global e dilatação (hipertrofia excêntrica). Quadro clínico A apresentação principal se dá por meio da angina estável crônica. Geralmente os pacientes são totalmente assintomáticos ou apresentam dor anginosa e sinais de IC. Dessa forma, é imperioso classificar os pacientes de acordo com as manifestações que apresentam em relação as atividades diárias e suas limitações: New tourk heart association (nyha) I – sem sintomas e nenhuma limitação em atividades rotineiras; II – leves sintomas e limitações em atividades rotineiras. Confortáveis no repouso (dispneia a esforços habituais); III – com limitação importante na atividade física; atividades menores que as rotineiras produzem sintomas. Confortáveis somente em repouso (dispneia a esforços menores que os habituais); IV – severas limitações. Sintomas presentes mesmo em repouso. Classificação da angina I – angina ocorre com esforços físicos prolongados e intensos. Atividade física habitual não provoca angina. II – discreta limitação para atividades habituais. Ocorre ao caminhas ou subir escadas rapidamente, após refeições, no frio, ao vento, sob estresseemocional, após caminhas dois quarteirões planos ou ao subir mais de um lance de escadas. III – limitação com atividades habituais como caminhas um quarteirão plano ou subir um lance de escadas. IV – incapacidade de realizar qualquer atividade habitual. Os sintomas podem surgir em repouso. 2 CARDIOLOGIA - TORTO Critérios de framingham 3 CARDIOLOGIA - TORTO Exames complementares ✓ Teste ergométrico: avalia a viabilidade cardíaca frente a queixas de desconforto torácico durante exercícios físicos ou estresses emocionais em indivíduos previamente hígidos. Apesar de ser de fácil acesso, possui limitações de aplicação por exigir a indução de estresse no paciente. ✓ ECG: isoladamente pode demonstrar alguns achados típicos, como bloqueio de ramo esquerdo, ectopias ventriculares frequentes e a fibrilação atrial. ✓ Cintilografia miocárdica gated SPECT: é capaz de detectar obstruções arteriais significativas. ✓ Ressonância magnética cardíaca: padrão-ouro para avaliação da viabilidade miocárdica. ✓ Cineangiocoronariografia (cateterismo): excelente para análise anatómica, sendo capaz de identificar os sítios acometidos pela obstrução. Lesões angiograficamente importantes são aquelas em que há 70% ou mais de obstrução do lúmen arterial, A angiografia coronária deve ficar reservada para: - pacientes com sinais de alto risco nos testes não invasivos; permanência dos sintomas com terapia ideal; pacientes muito sintomáticos com mínimo esforço; pacientes com diagnóstico de doença obstrutiva duvidoso. Tratamento Objetivos Impedir o remodelamento ventricular, preservar o miocárdio e a função ventricular, reduzir a morte súbita, melhorar a classe funcional e o prognóstico dos enfermos. Terapêutica clínica O tratamento deve ser optimizado e geralmente exige uma polifarmacia. Mudanças no estilo de vida, como dieta restringindo sal e líquidos deve ser estimulada (ajudam no prognóstico favorável para NYHA I e II). 4 CARDIOLOGIA - TORTO ✓ Os medicamentos para redução dos RCV são: betabloqueadores, AAS, estatinas e inibidores de enzima de conversão ou bloqueadores de receptores de angiotensina. ✓ A isquemia pode ser combatida com agentes dilatadores coronarianos, como os nitratos. ✓ Redutores do consumo de oxigênio: betabloqueadores, ACC e a ivabradina. Terapêuticas avançadas ✓ Dispositivos eletrônicos, como cardiodesfibrilador implantável para reduzir o risco de morte iminente em pacientes NYHA I e II. ✓ Em casos extremos, implante de dispositivo de assistência ventricular ou suporte circulatório mecânico para manutenção imediata. ✓ Cateterismo (já citado em exames complementares). ✓ O transplante cardíaco é o tratamento de escolha para muito pacientes com insuficiência cardíaca terminal que permanecem sintomáticos, apesar da terapia médica ideal. - 1 CARDIOLOGIA - TORTO Insuficiência cardíaca _____________________________________________________________________________ DEFINIÇÃO Síndrome em que o coração não consegue ofertar fluxo sanguíneo adequadamente aos tecidos por redução da ejeção do débito cardíaco diante do aumento da demanda, ou o faz à custa de elevação da sua pressão de enchimento. Geralmente é causado por uma disfunção funcional ou estrutural do coração, em que se observa dificuldade de enchimento das câmaras e/ou dificuldade de ejeção do sangue. Classificação ✓ Duração: pode ser agudo (“de novo”, geralmente causado por um IAM), subagudo ou crônico. ✓ IC direito: congestão sistêmica (estase jugular, edema de membros inferiores, hepatomegalia dolorosa, ascite). ✓ IC esquerda: sintomas de congestão pulmonar (dispneia aos esforços, tosse noturna, dispneia paroxística noturna, ortopneia, crepitações pulmonares). ✓ Débito cardíaco (reduzido ou aumentado – mais raro); redução da fração de ejeção no ventrículo direito (FEVD) ou no esquerdo (FEVE). ✓ Classe funcional: avaliação de limitação aos esforços (NYHA). A seguir, classe com mortalidade anual em porcentagem: I – doença cardíaca sem limitação p/ atividades habituais (5%). II – leve limitação para atividades habituais; assintomático em repouso (10%). III - grande limitação para atividades habituais; assintomático em repouso (30%). IV – paciente sintomático inclusive em repouso (50 a 60%). ✓ Estabilidade: compensada, descompensada ou persistentemente descompensada. IC descompensada é aquela que apresenta sintomas (de congestão) e exige tratamento/novo tratamento. ✓ Obstrução mecânica: avaliação de presença de alguma alteração mecânica do ciclo cardíaco, como a estenose aórtica, estenose mitral, insuficiência aórtica, insuficiência mitral, TEP agudo ou crônico. 2 CARDIOLOGIA - TORTO ✓ Perfil hemodinâmico: avaliação da perfusão sanguínea (quente se boa) e da congestão (seco se boa): Fatores de risco Idade, sexo masculino, HAS, doença coronariana, aterosclerose, DM, obesidade, doença valvar, Chagas, uso abusivo de álcool, cocaína e cigarro, dislipidemia, doença renal crônica, cardiomiopatia familiar, síndrome metabólica, albuminúria, quimioterapia para câncer, anema, apneia do sono, vida sedentária, situação econômica desfavorável, estresse psicológico, genética, FC elevada e aumento dos níveis séricos de homocisteína. Clínica e diagnóstico Os sintomas da IC podem ser muito inespecíficos, mas devem ser analisados pois, além de levar à suspeita da doença, ajudam na investigação da etiologia da doença. Os sintomas e os critérios diagnósticos de Framingham estão dispostos a seguir. Deve-se considerar a presença de 2 critérios maiores ou 1 critérios maior e 2 critérios menores para configurar o diagnóstico de IC. Dentre os sintomas mais característicos e prevalentes nos pacientes com IC estão: ortopneia, ortopneia paroxística noturna, papalpitações e dor precordial (anginosa, ventilatório dependente, atípica etc). Causas de IC ✓ Doenças cardiovasculares sistêmicas: HAS, aterosclerose e suas complicações (sindromes coronarianas agudas), doenças das válvulas cardíacas pu doença congênita. 3 CARDIOLOGIA - TORTO ✓ Cardiomiopatias genéticas; adquiridas, como miocardite, toxinas, infecções, periparto, drogas, taquiarritmia e álcool; mistas. ✓ Cardiomiopatias secundárias: doenças infiltrativas, de depósito, toxicidade, inflamatórias granulomatosas, autoimunes e/ou colagenoses, endócrinas, neuromuscular/neurológica, distúrbio hidroeletrolítico, carência nutricional etc. ✓ As causas mais comuns para IC sistólica são cardiomiopatia dilatada idiopática, isquêmica (aterosclerose coronariana – IAM), Chagas, HAS, valvopatia, álcool, miocardite idiopática e periparto. Fisiopatologia Adaptação fisiológica ✓ Mecanismo de Frank-Starling: aumento da pré-carga mediante um aumento do retorno venoso; logo, quanto maior o retorno venoso, maior o débito cardíaco. O aumento da pré-carga ocorre pelo aumento do volume diastólico, em que há aumento do volume e pressão diastólicos buscando a normalização do DC. ✓ Pós-carga: é a força que se contrapõe ao esvaziamento e contração ventricular, abordada pela Lei de LaPlace; segundo esta, quanto maior a pressão, maior o estresse da parede ventricular, isso tudo inversamente proporcional a espessura do ventrículo. Assim, quandp há uma pressão muito grande (como na HAS, na estenose aórtica etc.), há um aumento da parede do ventrículo de forma concêntrica para compensar esse aumento da pós-carga. ✓ Frenquência cardíaca: essencial na fase aguda de diversas adptações que requerem um aumento do débito cardíaco, sendo a IC um deles. ✓ Ativação neuro-hormonal:regulação da capacidade volêmica do ciclo cardíaco (que em constância podem levar a IC), como a liberação de catecolaminas para o aumento da contratilidade e FC, sistema renina-angiotensina- aldosterona para retenção hídrica e vasopressina, endotelina e citocinas inflamatórias. Fisiopatologia da ic A IC com fração de ejeção ventricular esquerda reduzida apresenta uma redução do volume sistólico. Devido ao problema no ciclo cardíaco, seja a origem que for, o coração tenta compesar com mecanismos fisiológicos de adpatação (vistos anterioresmente) na fase aguda. No entanto, ao longo prazo, esses mecanismos atuam de forma a contribuir com a progressão da doença. 4 CARDIOLOGIA - TORTO Prognóstico A IC possui elevada mortalidade, sendo essa geralmente causada por quadros de arritmia (morte súbita), IAM ou o próprio avanço da doença. Alguns marcadores de prognósticos reservados da IC são: ✓ História: não adesão ao tratamento; classificação III ou IV, idade avançada, síncopes, necessidade de ressuscitação, apneia do sono, depressão, anorexia, DM, função cognitiva comprometida. ✓ EF: má perfusão, congestão, PA reduzida, taquicardia, B3 persistente, caquexia, obesidade mórbida. ✓ Etiologia: chagásica, isquêmica ou específica. ✓ Laboratorial: anemia, sódio baixo, TFG baixa (creatinina alta com indicativo de insuficiênci renal), BNP e pro-BNP altos, linfocitose, catecolaminas altas, renina alta, vasopressina alta, aldolterona alta, colesterol alto, troponina alta, VHS alta etc. ✓ Estrutura: aumento do VE (ou dilatação progressiva), aumento do ventrículo direito, aumento do átrio esquerdo, aumento do índice de massa corpórea. ✓ Fração de ejeção do ventrículo direito menor que 30%. Eletrofisiológico: BRE, FA, extrassístoloes ventriculares frequentes, TV não sustentada frequente, TV sustentada ou fibrilação, onda T alternante, intervalo de QT longo, alterações de dispersão de intervalo QT, diminuição da variabilidade de FC. Investigação diagnóstica ✓ Eletrocardiograma (ECG): possui alterações pouco específicas, mas geralmente nunca se apresenta normal. Bloqueio de ramo esquerdo são achados frequentes. Bradi e taquiarritmias são causas comuns de IC. ✓ RX: é útil para definir a forma do coração por meio da margem cardíaca. Índice cardiotorácico > 0,50 sugerem cardiomegalia. Além disso, é útil para avaliar acometimento pulmonar, como congestão pulmonar. ✓ Ecocardiograma: exame eletivo para documentação da disfunção cardíaca. Ele pode definir o tamanho das câmaras, a espessura das paredes, a massa ventricular, a contração segmentar, a presença de trombos, o pericárdio, a definição das disfunções valvares de maneira anatômica e funcional, a medida indireta da pressão sistólica do VD, avaliação da fração de ejeção e o grau de dissincronia. O ECO é recomendado para acompanhamento apenas quando há uma mudança significativa do padrão de apresetação clínica do 5 CARDIOLOGIA - TORTO paciente, não sendo um exame utilizado rotineiramente na IC. ✓ Medicina nuclear: a cintilografia de perfusão miocárdica com estresse permite avaliar a presença de coronariopatia ou inflamação. ✓ RM: pode ser utilizada com grande acurácia para avaliação da funcionalidade anatômica cardíaca, presença de isquemia e viabilidade. ✓ Biópsia endomiocárdica: não é de uso rotineiro, mas pode ser útil para diagnosticar patologias de disfunção cardíaca de origem desconhecida. ✓ Peptídeo natriurético tipo B (BNP) ou NT pro-BNP: é produzido pelos ventrículos em situações de estresse, sendo a IC uma delas. É um aliado no diagnóstico (valores baixos contraindicam IC), além de serem marcadores prognósticos importantes, sobretudo para avaliar resposta ao tratamento. ✓ Tratamento Não farmacológico ✓ Restrição de sal, água de acordo com a doença e evitar álcool. ✓ Exercícios físicos. ✓ Vacinação anual para influenza e vacinação para pneumococo. ✓ Acompanhamento assistido. Medicamentoso – crônico ✓ Diuréticos: redução dos sintomas congestivos, portanto, são indicados para todos os estágios da doença. Podem ser tiazídicos (hidroclorotiazida, clorotiazida, clortalidona), de alça (furosemida) e poupadores de potássio (espironolactona, amilorida). ✓ Digitálicos: aumentm a atividade inotrópica, reduzem a atividade simpática e o consumo de O2. Principal exemplo são os digitálicos; possuem alta toxicidade. ✓ Betabloqueadores: indicados no tratamento precoce de IC sintomática ou não. Apresenta melhora da função ventricular, melhora dos sintomas, redução das hospitalizações, reverte o remodelamento miocárdico e diminui mortalidade. Os mais utilizados são o metoprolol, caverdilol, bisoprolol e nebivolol. As principais contraindicações são: BAV avançado, DA periférica grave, asma e DPOC grave. ✓ IECA (primeira escolha) e BRA (segunda escolha). ✓ Hidralazina/nitrato: redução da pré-carga por ação vasodilatadora. São indicados como alternativa a pacientes que não podem usar IECA ou BRA. ✓ Ivabradina: indicada para IC com FC de repouso >70 bpm. 6 CARDIOLOGIA - TORTO ✓ Tratamento cirúrgico. Medicamentoso – agudo O primeiro passo é sempre investigar a causa da descompensação do paciente com IC e iniciar o tratamento específico para a situação (tratar infecção, reverter bradi ou taquiarritmia, revascularização em SCA etc). ✓ Internação imediata, com oferecimento de 02 caso a saturação esteja baixa (<92%); ✓ Avaliação do paciente: - “quente e úmido”: boa perfusão e com congestão; utiliza-se vasodilatadores e diuréticos. - “frio e úmido”: baixa perfusão e congestão; necessário diuréticos com inotrópicos. - “frio e seco”: apenas má perfusão; realiza-se reposição volêmica. OBS: lista de fármacos utilizados • Inotrópicos: dobutamina, milrinona, levosimendam. • Vasoconstritores (associados com inotrópicos ou para controle de pressão sitêmica caso haja perfusão não responsíva): dopamina e noradrenalina • Vasodilatadores (redução da pré e pós-carga): nitroprussiato de sódio, nitroglicerina. Informações Estudo dirigido Questão i a) Nosso país ainda apresenta controle inadequado de hipertensão arterial e DM, e a persistência de doenças negligenciadas está entre causas frequentes de IC. A doença reumática e a doença de chagas, embora menos relevantes do que no passado, continuam presentes, gerando quadros graves. Esta última esteve relacionada ao atendimento ambulatorial de até 21% de portadores de IC. b) Em nosso país, a principal causa de re-hospitalização é a má adesão à terapêutica básica para IC, além de elevada taxa de mortalidade intra- hospitalar, posicionando o Brasil como uma das mais elevadas taxas no mundo ocidental. c) Pacientes NYHA III e IV apresentam condições clínicas progressivamente piores, internações hospitalares mais frequentes e maior risco de mortalidade. Por outro lado, embora pacientes em NYHA II apresentem sintomas mais estáveis e internações menos frequentes, o processo da doença nem sempre é estável e estes pacientes podem apresentar morte súbita sem piora dos sintomas. d) O perfil clínico da IC crônica envolve indivíduos idosos portadores de 7 CARDIOLOGIA - TORTO etiologias diversas, sendo a isquemia a mais prevalente, com alta frequência de comorbidades associadas. Questão ii Os sintomas típicos de IC são falta de ar/dispneia; ortopneia e dispneia paroxística noturna. Questão iii a) O RX simples de tóraz, por sua simplicidade, rapidez de obtenção e ampla disponibilidade, é recomendado na avaliação inicial dos pacientes com sinais e sintomas de IC, para avaliação de cardiomegalia e congestão pulmonar. Porém, vale ressaltar quea sensibilidade do método é bastante limitada e, ainda, que a disfunção sistólica cardíaca significatia pode ocorrer sem cardiomegalia na radiografia de tórax. O método tem maior valor no contexto da IC aguda, em que as alterações de congestão pulmonar são mais intensas. A RX de tórax também é útil por sua capacidade de identificar causas pulmonares de dispneia, como doenças pulmonar intersticial, DPOC, neoplasia e pneumonia. b) O BNP e NT pro-BNTtem papel no diagnóstico da IC bem esclarecido, tanto no cenário da sala de emergência, quanto em pacientes com IC crônica ambulatoriais. Apesar das evidêcias claramente favoráveis em relação a eles para o diagnóstico, algumas limitações ao seu uso na prática devem ser destacadas, pois estes peptídeos podem elevar-se na presença de anemia, IRC, idade avançada, apresentar níveis mais baixos na presença de obesidade. Os peptídeos natriuréticos têm demonstrado ainda papel prognóstico em pacientes com IC. c) A cintilografia miocárdica de perfusãp deve ser considerada para a avaliação funcional não invasiva da perfusão miocárdica naqueles pacientes já sabidamente portadores de DAV sem angina ou naqueles suspeitos de DAC, para avaliar a presença de isqyemia e viabilidade miocárdicas. d) Não se recomenda a realização de ECO de forma rotineira nos pacientes com IC, mas sugere-se sua repetição naqueles pacientes que exibem mudança significativa de seu estado clínico, com descompensação da IC ou perante progressão de sintomas. Questão VI a) A HAS é fator de risco para IC, tanto por aumentar o risco de IAM quanto por levar a anormalidades na estrutura e na função cardíacas, decorrentes do aumento da pós- carga arterial. O tratamento da HAS reduz o risco de hospitalização 8 CARDIOLOGIA - TORTO por IC ou IC fatal em indivíduoz hiértensos previamente assintomáticos. b) Em pacientes com DM 2 e elevadi risco cardiovascular, a empagliflozina, um inibidor de SGLT2, reduz a mortalidade e risco de hospitalização por IC. c) O tabagismo aumenta o risco de IC independentemente da presença de DAC. d) A introdução de um IECA em pacientes assintomáticos com fração de ejeção reduzida, de etiologia isquêmica ou não, reduz a chance de progressão para IC sintomática. e) A vacinação anual contra influenza deve ser recomendada para todos os pacientes. 1 CARDIOLOGIA – TORTO taquiarritmias _____________________________________________________________________________ Definição e classificação Taquicardia são ritmos cardíacos com mais de 100 bpm, independente de ser sinusal ou não. As arritmias, quando há alteração desse ritmo, podem ser causadas por um distúrbio de formação do impulso elétrico, distúrbio na condução do impulso ou uma associação de ambos. Eles podem ser classificados conforme seu local de origem: ✓ QRS estreito → origem supraventricular; exceção são as taquicardias fasciculares (raras). ✓ QRS largo → origem ventricular; exceção são as TSV com bloqueio de ramo antigo (comuns). Fisiopatologia Eletrofisiologia normal O ritmo cardíaco normal é formado nas células autônomas do nó sinoatrial (NSA), localizado no átrio direito. A despolarização gerada percorre os feixes intermodais e desce para o nó atrioventricular (NAV). Aqui há um atraso fisiológico do pulso, a fim de manter a contratilidade rítmica. A despolarização ventricular é guiada pelo sistema His-Purkinje, que garante uma condução rápida e equânime por todo a parede ventricular. O automatismo das células formadoras de pulso são decorrentes de seu baixo limiar de despolarização e da existência de canais inespecíficos (If), que permitem rápido influxo de íons positivos para que ocorra a despolarização até atingir o limiar. A partir dai, são abertos canais lentos de Ca2+, os quais mantém a despolarização. A repolarização segue por meio da abertura de canais de K+, os quais efluem das células. Já as células contráteis do coração são dependentes do estímulo gerado pelas células autônomas. Na fase 0, há um influxo de Na+ pela abertura de canais voltagem dependentes, causando a despolarização; na fase 1, há uma queda rápida da despolarização, mas essa é rapidamente mantida na fase 2 pelo influxo de cálcio, formando o platô. A fase 3 e 4 compreende a repolarização, em que a celula entra em um 2 CARDIOLOGIA – TORTO estado de refratariedade. A refratariedade absoluta é quando aquela célula torna-se momentaneamente inexcitável; já a refratariedade relativa, é que um estado de hiperrepolarização, em que a celula pode ou não ser despolarizada quando houver um estímulo apropriado. Arritmogênese Os principais mecanismos responsáveis pelas arritmias cardíacas são: ✓ Anormalidades na geração de impulso: alterações do automatismo normal; automatismo anormal; atividade deflagrada (pós- potenciais precoces e pós- potenciais tardios). ✓ Anormalidades na condução do impulso: lentificação da condução e bloqueios; reentradas (reentrada ordenada ou ocasional, adição e inibição); bloqueio de condução, eletrotônico e reflexão. ✓ Anormalidades mistas: condução na fase 4 da despolarização; parassístoles. Fibrilação atrial (FA) Definição e classificação É causada por uma desorganização elétrica nos átrios, com despolarizações atriais desordenadas. Isso gera contrações inefetivas dos átrios. Toda FA com duração menor do que 48h é considerada aguda; aquelas com um período maior que esse, são crônicas. Quanto a sua classificação, a FA pode ser: ✓ Isolada (primeiro episódio): geralmente agudas e paroxísticas, em pacientes < 60 anos e sem substrato clínico ou ecocardiográfico de cardiopatia. ✓ Paroxística: toda FA revertida espontaneamente em até 7 dias. ✓ Persistente: toda FA que exigiu cardioversão, seja ela química ou elétrica. ✓ Permanente: toda FA não revertida a RS, apesar da utilização de medidas químicas ou elétricas OU toda FA sem indicação de reversão. No ecg Para se definir uma FA no ECG são necessários os seguintes achados: ✓ RR irregular (essencial); ✓ Ausência de ondas P (essencial); ✓ Presença de ondas f com frequência entre 300 a 600 bpm. 3 CARDIOLOGIA – TORTO FA – RR irregular, sem ondas P e com ondas f (a derivação é DII). Tratamento Os objetivos do tratamento da FA são o controle da resposta ventricular, a restauração do ritmo sinusal (se possível) e a prevenção de fenômenos tromboembólicos a longo prazo. 1. Identificar e tratar os fatores determinantes: hipertireoidismo, valvopatia mitral, infecção sistêmica, consumo exagerado de álcool, TEP, pericardite etc. 2. FA com alta resposta ventricular com repercussão hemodinâmica: necessariamente deve ser feita a cardioversão elétrica (CVE), iniciando com 120 J. Se possível, sedar o paciente com etomidato antes do procedimento. OBS: os sinais de repercussão hemodinâmica são → hipotensão arterial, alteração no nível de consciência, choque cardiogênico, precordialgia anginosa (sinais de isquemia miocárdica), sinais de insuficiência cardíaca (congestão pulmonar e dispneia). 3. Controle da frequência ventricular: deve-se verificar a função ventricular antes. ✓ Se disfunção ventricular: tratar com digitálicos e/ou amiodarona em doses baixas. ✓ Se não houver disfunção ventricular: amiodarona, verapamil, diltiazen ou metoprolol. 4. Devo reverter para ritmo sinusal? ✓ Na FA aguda, a cardioversão está indicada. Ela pode ser feita eletricamente (120 J) ou quimicamente (amiodarona, propafenona, diltiazen). ✓ Na FA crônica, deve-se fazer uma anticoagulação por 4 a 6 semanas antes de se tentar a cardioversão (elétrica ou química), em função da possibilidadede já existir um trombo na parede atrial. OBS: a cardioversão é contraindicada nos casos de → valvopatia mitral descompensada, átrio esquerdo muito dilatado, disfunção ventricular severa (FE < 35%), contra-indicações para anticoagulação oral. Nesse caso, os pacientes serão classificados com FA permanente. 5. Pacientes com FA permanente: deve-se estimar o risco de acidente vascular encefálico por meio do CHA2DS2VASC: 4 CARDIOLOGIA – TORTO = 0 (baixo risco) → AAS ou nada = 1 (intermediário) → AAS ou ACO > ou = 2 (alto risco) → ACO Qual anticoagulante usar? ✓ Varfarina é a principal escolha. Deve-se ajustar a dose visando manter INR ideal de 2 a 3. Principal escolha para as FA valvares. ✓ Novos anticoagulantes orais: apenas pode ser usado em FA não valvar. Vantagem de não necessitar de monitorização laboratorial, mas exige correção de dose nas disfunções renais. Flutter atrial Definição e tipos São arritmias causadas por mecanismo de macrorreentrada atrial. É geralmente paroxístico e transitório, mas pode ser uma arritmia crônica também. Ele pode ser dividido em: TÍPICO: apresenta frequência habitual entre 240 a 340 bpm. ✓ Anti-horário (mais comum): onda f negativa em D2, D3 e aVF, mas positiva em V1. ✓ Horário: onda f positiva em D2, D3 e aVF, mas negativa em V1. AÍPICO: frequência muito elevada, entre 340 e 430 bpm. NO ecg ✓ Ondas f rápidas com aspecto de “dente de serra”, mais visíveis nas derivações inferiores e V1. ✓ Geralmente acompanha BAV fisiológico 2:1. FLUTTER TÍPICO: 5 CARDIOLOGIA – TORTO FLUTTER ATÍPICO: TRATAMENTO ✓ Flutter atrial agudo: cardioversão elétrica (100J). ✓ Flutter atrial crônico: controle da resposta ventricular (amiodarona, verapamil, diltiazen ou metoprolol) + anticoagulação por 4 a 6 semanas para realizar a cardioversão. OBS: na contra-indicação de anticoagulação oral, seguir com AAS. Taquicardia atrial paroxística Presença de ondas P precedendo todo QRS, com frequência elevada, com morfologia geralmente diferente daquela observada no ritmo sinusal. O intervalo PR é curto (< 0,12), ou seja, as ondas P “grudam” no complexo QRS. TAP – ondas P de morfologia diferente do usual; PRi curto (<0,10 seg) Taquicardia atrial multifocal Taquicardia com FC > 100 bpm, com 3 ou mais morfologias diferentes de ondas P em uma mesma derivação qualquer. Pode também ocorrer variação do PRi e do i RR. É comum em pacientes hipoxêmicos (DPOC) e geralmente se degenera para FA. O Tratamento é focado no controle da doença base, uso de betabloqueadores, verapamil ou amiodarona e rádio-ablação. Taquicardia paroxística supraventricular por reentrada nodal Definição É causado por um mecanismo de microrreentrada nodal que acontece no próprio NAV. Inclui 50% das TPSV (excluindo a FA e o flutter). 6 CARDIOLOGIA – TORTO Exige duas vias interligadas de condução, além da presença de um bloqueio unidirecional: ✓ Via alfa → via de velocidade de condução lenta e período refratário curto; ✓ Via beta → via de velocidade de condução rápida e período refratário longo. Ela possui um fator precipitante: extrassístole qualquer, seja atrial, seja ventricular. É comum em jovens, particularmente mulheres. No ecg ✓ Átrios e ventrículos são estimulados ao mesmo tempo, geralmente com FC alta > 170 bpm. ✓ A ativação atrial retrógrada faz com que a onda P seja englobada dentro do QRS, não sendo visível. ✓ EM alguns casos, a onda P retrógrada pode ser vista na porção terminal do QRS, formando um r’ em V1 ou s’ em D2 e aVF. TPRN comum: Ondas P após o QRS r’ em V1 7 CARDIOLOGIA – TORTO tratamento ✓ Se estável: manobra vagal > adenosina > antiarrítmicos (verapamil/amiodarona) ✓ Se instável ou insucesso nas terapias anteriores: cardioversão elétrica (100J). Tpsv por macro-reentrada nodal Definição e ecg A reentrada se faz por uma via acessória (um feixe anômalo) que liga anatomicamente o átrio ao ventrículo. De acordo com a trajetória do pulso, onde ele entra e onde ele retorna ao átrio é possível classificar em: ✓ Ortodrômica: desce pelo NAV e retorna ao átrio pelo feixe anômalo (apresenta QRS estreito, já que se origina no átrio). ✓ Antidrômica: desce pelo feixe anômalo e retorna ao átrio pelo nó AV (QRS largo por entrar por uma via mais lenta). No ECG, observa-se a inscrição de uma onda P retrógrada após o QRS da taquicardia, sendo o intervalo entre o início do QRS e a onda P retrógrada (P’) > 100 ms. TPSV ortodrômica: Ritmo regular, com a onda p’ logo após o QRS, o qual é estreito. Em alguns casos, após a reversão da taquicardia para ritmo sinusal, é possível verificar a presença de um sinal de pré- excitação ventricular → a onda delta. A onda delta, sinal de pré-excitação ventricular, é vista como uma “rampinha” logo antes de começar a onda R. Tratamento ✓ Se ortodrômica: manobra vagal > adenosina > verapamil/amiodarona > cardioversão elétrica. ✓ Se antidrômica: mesmo tratamento da taquicardia ventricular. 8 CARDIOLOGIA – TORTO Taquicardias ventriculares Definição São ritmos que se originam nos ventrículos e não nos átrios no NSA ou na junção AV. Portanto, apresentam-se com QRS alargado, aberrante, com frequência maior que 100 bpm, mantendo o padrão regular. Geralmente indica a presença de uma cardiopatia estrutural grave associada a fibrose cicatricial intramiocárdica (como, por exemplo, uma sequela de IAM). OBS: o achado no ECG de uma sequência de pelo menos 3 extrassístoles já configura uma TV! Na apresentação clínica, é comum o paciente manifestar sinais e sintomas de baixo débito cerebral e outros sinais de instabilidade. Classificação A classificação é importante para se decidir a conduta. Ela é feita com base na duração do quadro: ✓ TV sustentada: duração superior ou igual a 30 segundos, geralmente associada a sintomas de baixo débito. ✓ TV não sustentada: duração inferior a 30 segundos. No ECG As taquicardias ventriculares possuem duas formas de apresentação características: ✓ Monomórfica: ✓ Polimórfica: Além disso, é possível utilizar os critérios do Algoritmo de Brugada para um diagnóstico de TV de alta acurácia, além de facilitar o descarte de diagnósticos diferenciais. 9 CARDIOLOGIA – TORTO Tratamento ✓ Se houver instabilidade hemodinâmica: cardioversão elétrica com início em 100J. ✓ Se não houver instabilidade hemodinâmica: - Adenosina (6 mg em bolus único); - Amiodarona OBS: é importante lembrar que a taquicardia ventricular lenta após o tratamento de um IAM é um marcador de reperfusão cardíaca bem sucedida, sendo geralmente transitória e indicando bom prognóstico. Fibrilação ventricular É uma despolarização incoordenada do ventrículo esquerdo, resultado na interrupção abrupta do débito cardíaco. É uma emergência, que geralmente evolui com parada cardiorrespiratório e exige atendimento rápido. NO ECG, é possível visualizar uma completa desordem, impossível de identificar padrões comuns ao ritmo sinusal ou as demais taquiarritmias. O tratamento da FV é suporte avançado de vida, exigindo desfibrilação imediata de 200 J. Informações estudo dirigido Questão i As taquicardias paroxísticas são geralmente bem toleradas, não cursando com instabilidade hemodinâmica. Entretanto, podemos esperar repercussão hemodinâmica nas taquicardias de alta frequência (> 150 bpm) e naquelas cujos pacientes são portadores de cardiopatias estruturais, especialmente valvulopatia (estenose aórtica e mitral importantes) ou disfunção ventricular importante
Compartilhar