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2019 ORIENTAÇÕES AOS PAIS E ESCOLAS Moira Sampaio Rocha Terapeuta Ocupacional TRANSTORNO OPOSITOR DESAFIANTE 1 DICAS PARA LIDAR COM CRIANÇAS TRANSTORNO OPOSITOR DESAFIANTE Agressividade, irritação, comportamento vingativo e recusa em obedecer às regras podem ser sintomas do transtorno desafiador opositivo. Saiba quando buscar ajuda para a criança Birra e crises de mau humor são comuns em crianças de todas as idades, mas há casos em que a desobediência ganha contornos severos. O pequeno passa a apresentar dificuldades no controle do temperamento e das emoções, tornando-se teimoso e resistente a ordens. Em outras palavras, parece testar os limites dos pais a todo instante. Se essa descrição lembrou alguma criança que você conhece, saiba que ela pode estar sofrendo do transtorno desafiador opositivo (TDO). “As principais características são a perda frequente da paciência, discussões com adultos, desafio, recusa em obedecer a solicitações ou regras, perturbação e implicância com as pessoas, podendo responsabilizá-las por seus erros ou mau comportamento. Ele se aborrece com facilidade e comumente se apresenta enraivecido, agressivo, irritado, ressentido, 2 mostrando-se com rancor e com ideias de vingança”, resume Gustavo Teixeira, psiquiatra da infância e adolescência e autor do livro “O Reizinho da Casa — Manual para Pais de Crianças Opositivas, Desafiadoras e Desobedientes” (Best Seller). Relações abaladas Dados estatísticos revelam que 2% a 16% das crianças em idade escolar apresentam o TDO. O transtorno ainda é duas vezes mais frequente entre meninos, e os sintomas iniciais ocorrem entre os seis e oito anos de idade. Mas como diferenciar o transtorno de um caso corriqueiro de mau comportamento? “No caso de crianças com idade abaixo de cinco anos, o comportamento deve ocorrer na maioria dos dias durante um período mínimo de seis meses. Em crianças com cinco anos ou mais, deve ocorrer pelo menos uma vez por semana durante no mínimo seis meses”, esclarece Luciana Rizo, neuropsicóloga (RJ). Outra pista é quando o comportamento inadequado causa sofrimento aos grupos de convívio da criança, como família e amiguinhos da escola, impactando negativamente em seus relacionamentos. A raiz do problema “A gravidade do sintoma pode ser leve quando se limita a apenas um ambiente. É moderada quando está presente em pelo menos dois, e grave quando ocorre em três ou mais”, diferencia Luciana. A neuropsicóloga explica que os pais não devem se torturar pensando sobre onde erraram na educação de seu filho. Segundo ela, as causas da manifestação do problema são multifatoriais. “Há evidências de influências hormonais, genéticas e neurofuncionais.” Porém a dinâmica familiar pode reforçar um padrão de comportamento inadequado. “Em resumo, seria uma integração dos fatores genéticos e o quanto o ambiente colabora na expressão em maior ou menor grau do transtorno”, conclui. 3 Transtorno de conduta Na hora de procurar ajuda, o psiquiatra, o neuropediatra ou o neuropsicólogo especializados em tratamento infanto juvenil podem ajudar no diagnóstico, que será clínico. Em algumas situações, é comum o TDO ser confundido com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Os dois transtornos, aliás, não raro, aparecerem juntos. “A semelhança é que ambos têm como característica a impulsividade, ou seja, os portadores tendem a agir sem pensar. Porém, quando é realizada a avaliação adequada, percebe-se claramente a diferença entre ambos”, destaca Luciana. Cerca de 65% das crianças com o diagnóstico de TDO deixarão de apresentar os sintomas nos anos seguintes, desde que acompanhados terapeuticamente. O restante pode permanecer ou intensificar os sintomas, evoluindo para o chamado transtorno de conduta (em que os jovens apresentam agressividade, comportamento antissocial e constantemente violam as regras de convívio). “Quando o TDO não é tratado, a evolução para o transtorno de conduta pode ocorrer em até 75% dos casos. Naquelas em que o início dos sintomas se iniciaram antes dos oito anos de idade, o risco de evolução será maior. Ou seja, o diagnóstico e o tratamento precoces exercem um papel preventivo importante”, pontua Teixeira. Além disso, quando adultos, há maior risco de desenvolvimento de problemas de controle de impulsos, abuso de álcool e drogas, ansiedade e depressão. Manejo do comportamento O tratamento para TDO geralmente alia medicação psiquiátrica com psicoterapia. “De maneira geral, quando falamos de transtornos, não falamos em cura, mas em manejo de comportamentos ou sintomas. Com o tratamento, a incidência de comportamentos inadequados diminui bastante”, explica a neuropsicóloga. Uma série de estratégias de manejo de comportamentos pode ser ensinada para aqueles que convivem diretamente com a criança ou adolescente. “O 4 terapeuta trabalha a percepção de situações que levam à ativação emocional e que conduzem ao comportamento de oposição e desafio”, destaca. Também pode ser aplicado o chamado reforç o positivo – que são elogios, aproximação física, carinho e atenção sempre que a criança apresentar um comportamento adequado. Para completar, os pais precisam ficar atentos à disciplina. “A falta de limites e de disciplina pioram os sintomas de crianças com o transtorno desafiador”, lembra Teixeira. Ambiente saudável A participação dos pais, aliás, é de extrema importância no tratamento da criança com TDO. “Uma criança que cresce em um ambiente respeitador, com pais presentes e participativos em sua vida, apresentará menores chances de problemas relacionados com comportamentos desafiadores, desobedientes e opositivos”, lembra o médico Teixeira. Também é importante ser um modelo pacífico e positivo para a criança, evitando agressividade e violência. “Muitos pais confundem limite e monitoramento com intolerância, autoritarismo e violência. Na verdade, a família é um grande modelo de aprendizagem para a criança”, reforça o psiquiatra. Sempre que possível, fortaleça a autoestima de seu filho, evitando dizer coisas como: “você não faz nada certo” ou “você é o pior da escola”. Vale também estimular a prática de esportes, que ensina conceitos básicos de respeito, ética, moral, hierarquia, companheirismo, organização, liderança, cooperação, competição, regras, limites, além do desenvolvimento de habilidades motoras e sociais. Por fim, mantenha um canal de comunicação aberto com a escola para monitorar comportamento do estudante quando ele estiver fora de casa. 5 TDO - Transtorno Desafiador de Oposição 1. Quando percebo que a indisciplina e a desobediência excede padrão normal? Sabemos que tanto as crianças quanto os adolescentes apresentam comportamentos de desobediência, oposição e testam os adultos desafiando seus limites. É natural observar esses comportamentos tanto por pais quanto por professores, contudo, o que fazer quando esses comportamentos torna-se excessivos e capaz de desestruturar uma relação familiar/educacional harmoniosa? Até que ponto chega um problema de indisciplina em casa e na sala de aula? 6 É imprescindível ficar alerta a casos constantes de desobediência, uma vez que eles podem se agravar transformando em uma doença, um transtorno muito comum, conhecido como o transtorno desafiador oposição. 2. T.D.O. ou T.O.D.– O que é? É definido com um padrão recorrente de comportamentos negativista, hostil, desafiador e desobediente em relação a figuras de autoridade que acarreta um prejuízo significativo ao funcionamento social, acadêmico e ocupacional (Serra- Pinheiro, Schmitz et al. 2004; Serra-Pinheiro, Guimarães et al. 2005; Giovannini 2014). Tanto a criança quanto o adolescente discute excessivamente com adultos, enfrentam dificuldades em aceitar regras, não aceitamresponsabilidade devido sua má conduta, incomodam exageradamente os demais, e perdem facilmente o controle caso as coisas não saiam da forma que eles esperam (Serra-Pinheiro, Schmitz et al. 2004; Teixeira 2013; Teixeira 2014). 3. Qual Incidência do TDO? Estima-se que entre 2% e 16% das crianças em idade escolar apresentem TOD (Parra 2012). É destacado como o mais prevalente em crianças entre 9 e 10 anos (Giovannini 2014). Sendo frequente em meninos, já na adolescência a frequência é igual para meninos e meninas. A prevalência no transtorno de oposição oscila entre 0,3% e 22%, uma média de 3,2% (Lahey, Miller et al. 1999). Os chamados transtornos exteriorizantes (problemas de atenção, comportamentos delinquentes ou de “quebrar” regras, comportamento agressivo)*, incluindo a hiperatividade parecem estar na linha de chegada para os problemas de comportamento mais frequentes encaminhados e diagnosticados pelos especialistas de saúde mental da infância e adolescência (Lahey, Miller et al. 1999; Parra 2012). Escalas de atenção e de comportamentos externalizantes no ASEBA* 7 *Extraído do livro Manual para avaliação clínica dos transtornos psicológicos (Parra 2012). Itens da “Lista de comportamentos infantis para pais” (CBCL). 4. TDO – Quais são as causas? As causas do TOD ainda não foram bem delimitadas, no entanto, acredita-se que componentes biológicos associados aos ambientais possam estar envolvidos (Teixeira 2014). No que tange os aspectos biológicos são os relacionados a uma possível herança genética, ou seja, a criança herda dos pais comportamentos impulsivos, baixo limiar a frustração, irritabilidade e disfunções em neurotransmissores serotoninérgicos e dopaminérgicos. Já os componentes ambientais estão relacionados com modelos de criação parental, comportamento criminoso, alcoolismo e uso de drogas pelos pais ou responsáveis, negligência aos cuidados, falta de afeto e suporte emocional à criança e adolescente (Pacheco, Alvarenga et al. 2005; Teixeira 2013; Giovannini 2014). Além desses componentes podem ocorrer alterações e complicações no desenvolvimento da criança, tais como: prematuridade, 8 complicações na gestação e no parto. Vale ressaltar dois comportamentos parentais que são frequentes pelos pais, um deles é ser permissivo demais, não impondo limites, o outro é característico de lares opressores e de normas rígidas (Serra-Pinheiro, Schmitz et al. 2004; Serra-Pinheiro, Guimarães et al. 2005; Giovannini 2014). Por exemplo, criança e adolescente presenciam constantemente violência, agressividade, hostilidade e brigas dos pais ou cuidadores. 5. TDO – Sintomas? Os sintomas aparecem em varias circunstâncias, contudo, sua repetição ocorre em casa e no contexto escolar. Dentre os sintomas destacam-se: • Perda da paciência; • Acessos de raiva; • Baixa autoestima; • Baixa tolerância a frustrações; • Discussões excessivas com adultos; • Recusa em obedecer a solicitações ou regras; • Comportamento de indisciplina, desafiador, opositor; • Irritação excessivamente; • Ou provocações às pessoas. • Sintomas na Escola: • Dificuldade interpessoal; • Desempenho escolar comprometido; • Dificuldade em realizar tarefas em grupo; • Não aceita ou pede ajuda dos professores; 9 • Discute com professores e colegas; • Apresenta agressividade com colegas de classe; • Recusa trabalhar em grupo; • Não faz atividades escolares; • Não aceita criticas; • Desafia autoridade professores, coordenadores e demais educadores; • Deseja tudo do seu jeito; • Apresenta comportamento de “pavio curto” ou “esquentado” em sala de aula; • Não assume responsabilidade para si, acusa os outros por seu comportamento hostil. 6. TDO – Diagnóstico? Transtorno de Oposição Desafiante Critérios Diagnósticos 313.81 (F91.3) A. Um padrão de humor raivoso/irritável, de comportamento questionador/desafiante ou índole vingativa com duração de pelo menos seis meses, como evidenciado por pelo menos quatro sintomas de qualquer das categorias seguintes e exibido na interação com pelo menos um indivíduo que não seja um irmão. Humor Raivoso/Irritável 1. Com frequência perde a calma. 2. Com frequência é sensível ou facilmente incomodado. 3. Com frequência é raivoso e ressentido. 10 Comportamento Questionador/Desafiante 4. Frequentemente questiona figuras de autoridade ou, no caso de crianças e adolescentes, adultos. 5. Frequentemente desafia acintosamente ou se recusa a obedecer a regras ou pedidos de figuras de autoridade. 6. Frequentemente incomoda deliberadamente outras pessoas. 7. Frequentemente culpa outros por seus erros ou mau comportamento. Índole Vingativa 8. Foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes nos últimos seis meses. Nota: A persistência e a frequência desses comportamentos devem ser utilizadas para fazer a distinção entre um comportamento dentro dos limites normais e um comportamento sintomático. No caso de crianças com idade abaixo de 5 anos, o comportamento deve ocorrer na maioria dos dias durante um período mínimo de seis meses, exceto se explicitado de outro modo (Critério A8). No caso de crianças com 5 anos ou mais, o comportamento deve ocorrer pelo menos uma vez por semana durante no mínimo seis meses, exceto se explicitado de outro modo (Critério A8). Embora tais critérios de frequência sirvam de orientação quanto a um nível mínimo de frequência para definir os sintomas, outros fatores também devem ser considerados, tais como se a frequência e a intensidade dos comportamentos estão fora de uma faixa normativa para o nível de desenvolvimento, o gênero e a cultura do indivíduo. B. A perturbação no comportamento está associada a sofrimento para o indivíduo ou para os outros em seu contexto social imediato (p. ex., família, grupo de pares, colegas de trabalho) ou causa impactos negativos no funcionamento social, educacional, profissional ou outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante o curso de um transtorno psicótico, por uso de substância, depressivo ou bipolar. Além disso, 11 os critérios para transtorno disruptivo da desregulação do humor não são preenchidos. Especificar a gravidade atual: Leve: Os sintomas limitam-se a apenas um ambiente (p. ex., em casa, na escola, no trabalho, com os colegas). Moderada: Alguns sintomas estão presentes em pelo menos dois ambientes. Grave: Alguns sintomas estão presentes em três ou mais ambientes. Especificadores Não é raro indivíduos com transtorno de oposição desafiante apresentarem sintomas somente em casa e apenas com membros da família. No entanto, a difusão dos sintomas é um indicador da gravidade do transtorno. Características Diagnósticas A característica essencial do transtorno de oposição desafiante é um padrão frequente e persistente de humor raivoso/irritável, de comportamento questionador/desafiante ou de índole vingativa (Critério A). Não é raro indivíduos com transtorno de oposição desafiante apresentarem características comportamentais do transtorno na ausência de problemas de humor negativo. Entretanto, as pessoas com o transtorno que apresentam sintomas de humor raivoso/irritável costumam também demonstrar características comportamentais. Os sintomas do transtorno de oposição desafiante podem se limitar a apenas um ambiente, mais frequentemente em casa. Os indivíduos que apresentam sintomas suficientes para atingir o limiar diagnóstico, mesmo que isso ocorra somente em casa, podem ter prejuízos significativos em seu funcionamento social. Todavia, nos casos mais graves, os sintomas do transtorno estão presentes em múltiplos ambientes. Levando-se em conta que a difusão dos sintomas é um indicador da gravidade do transtorno, é extremamente importante avaliar o comportamentodo indivíduo em vários ambientes e relacionamentos. Como são comuns entre irmãos, esses comportamentos devem ser observados nas interações com outras pessoas. Além disso, 12 considerando que, em geral, os sintomas do transtorno são mais evidentes nas interações com adultos ou pares que o indivíduo conhece bem, eles podem não ficar tão evidentes no exame clínico. Os sintomas do transtorno de oposição desafiante podem ocorrer em alguma medida entre indivíduos sem esse transtorno. Há várias considerações importantes para determinar se os comportamentos são sintomáticos do transtorno de oposição desafiante. Em primeiro lugar, o limiar diagnóstico de quatro sintomas ou mais durante os seis meses precedentes deve ser atingido. Em segundo lugar, a persistência e a frequência dos sintomas deverão exceder os níveis considerados normais para a idade, o gênero e a cultura do indivíduo. Por exemplo, não é incomum que crianças pré-escolares apresentem ataques de raiva semanalmente. Explosões de raiva para uma criança pré-escolar seriam consideradas sintomas do transtorno de oposição desafiante somente se tivessem ocorrido na maioria dos dias nos seis meses precedentes, se tivessem ocorrido com pelo menos três outros sintomas do transtorno e se as explosões de raiva tivessem contribuído para o prejuízo significativo associado ao transtorno (p. ex., levassem à destruição de propriedade durante as explosões, resultassem na expulsão da criança da pré-escola). Com frequência, os sintomas do transtorno fazem parte de um padrão de interações problemáticas com outras pessoas. Além disso, geralmente indivíduos com esse transtorno não se consideram raivosos, opositores ou desafiadores. Em vez disso, costumam justificar seu comportamento como uma resposta a exigências ou circunstâncias despropositadas. Consequentemente, pode ser difícil estabelecer a contribuição relativa do indivíduo com o transtorno para as interações problemáticas que ele vivencia. Por exemplo, crianças com transtorno de oposição desafiante podem ter vivenciado uma história de cuidados parentais hostis, e, com frequência, é impossível determinar se seu comportamento fez os pais agirem de uma maneira mais hostil em relação a elas, se a hostilidade dos pais levou ao comportamento problemático da criança ou se houve uma combinação de ambas as situações. A possibilidade de o clínico separar as contribuições relativas dos potenciais fatores causais não deve influenciar o estabelecimento ou não do diagnóstico. Nas situações em que a criança estiver vivendo em condições particularmente precárias, em 13 que poderão ocorrer negligência ou maus-tratos (p. ex., em instituições), a atenção clínica para diminuir a influência do ambiente pode ser útil. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Em crianças e adolescentes, o transtorno de oposição desafiante é mais prevalente em famílias nas quais o cuidado da criança é perturbado por uma sucessão de cuidadores diferentes ou em famílias nas quais são comuns práticas agressivas, inconsistentes ou negligentes de criação dos filhos. Duas das condições que mais costumam ocorrer de forma concomitante com o transtorno de oposição desafiante são o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e o transtorno da conduta (ver a seção “Comorbidade” para esse transtorno). O transtorno de oposição desafiante foi associado a um risco aumentado para tentativas de suicídio, mesmo depois do controle para transtornos comórbidos. Prevalência A prevalência do transtorno de oposição desafiante varia de 1 a 11%, com uma prevalência média estimada de 3,3%. A taxa do transtorno pode variar de acordo com a idade e o gênero da criança. Aparentemente, é mais prevalente em indivíduos do sexo masculino do que em indivíduos do sexo feminino (1,4:1) antes da adolescência. Essa predominância do sexo masculino não é encontrada de forma consistente em amostras de adolescentes ou de adultos. Desenvolvimento e Curso Geralmente, os primeiros sintomas do transtorno de oposição desafiante surgem durante os anos de pré-escola e, raramente, mais tarde, após o início da adolescência. Com frequência, o transtorno de oposição desafiante precede o desenvolvimento do transtorno da conduta, sobretudo em indivíduos com transtorno da conduta com início na infância. No entanto, muitas crianças e adolescentes com transtorno de oposição desafiante não desenvolvem subsequentemente o transtorno da conduta. O transtorno de oposição desafiante também confere risco para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade e transtorno depressivo maior, mesmo na ausência do transtorno da 14 conduta. Os sintomas desafiantes, questionadores e vingativos respondem pela maior parte do risco para transtorno da conduta, enquanto os sintomas de humor raivoso/irritável respondem pela maior parte do risco para transtornos emocionais. As manifestações do transtorno parecem ser consistentes ao longo do desenvolvimento. Crianças e adolescentes com transtorno de oposição desafiante estão sob risco aumentado para uma série de problemas de adaptação na idade adulta, incluindo comportamento antissocial, problemas de controle de impulsos, abuso de substâncias, ansiedade e depressão. A frequência de muitos dos comportamentos associados ao transtorno de oposição desafiante aumenta no período pré-escolar e na adolescência. Portanto, durante esses períodos de desenvolvimento é especialmente importante que a frequência e a intensidade desses comportamentos sejam avaliadas em relação aos níveis considerados normais antes de decidir que se trata de sintomas do transtorno de oposição desafiante. Fatores de Risco e Prognóstico Temperamentais. Fatores temperamentais relacionados a problemas de regulação emocional (p. ex., níveis elevados de reatividade emocional, baixa tolerância a frustrações) são preditivos do transtorno. Ambientais. Práticas agressivas, inconsistentes ou negligentes de criação dos filhos são comuns em famílias de crianças e adolescentes com transtorno de oposição desafiante, sendo que essas práticas parentais desempenham papel importante em muitas teorias causais do transtorno. Genéticos e fisiológicos. Uma série de marcadores neurobiológicos (p. ex., menor reatividade da frequência cardíaca e da condutância da pele; reatividade do cortisol basal reduzida; anormalidades no córtex pré-frontal e na amígdala) foi associada ao transtorno de oposição desafiante. Entretanto, a vasta maioria dos estudos não separou crianças com o transtorno de oposição desafiante daquelas com transtorno da conduta. Desse modo, não está claro se existem marcadores específicos para o transtorno de oposição desafiante. 15 Questões Diagnósticas Relativas à Cultura A prevalência desse transtorno em crianças e adolescentes é relativamente consistente entre países que diferem em raça e etnia. Questões Funcionais do Transtorno de Oposição Desafiante Quando o transtorno de oposição desafiante é persistente ao longo do desenvolvimento, os indivíduos com o transtorno vivenciam conflitos frequentes com pais, professores, supervisores, pares e parceiros românticos. Com frequência, tais problemas resultam em prejuízos significativos no ajustamento emocional, social, acadêmico e profissional do indivíduo. Diagnóstico Diferencial Transtorno da conduta. Tanto o transtorno da conduta quanto o transtorno de oposição desafiante estão relacionados a problemas de conduta que colocam o indivíduo em conflito com adultos e outras figuras de autoridade (p. ex., professores, supervisores de trabalho). Geralmente, os comportamentos do transtorno de oposição desafiante são de natureza menos grave do que aqueles relacionados ao transtorno da conduta e não incluem agressão a pessoas ou animais, destruição de propriedade ou um padrão de roubo ou defalsidade. Além disso, o transtorno de oposição desafiante inclui problemas de desregulação emocional (i.e., humor raivoso e irritável) que não estão inclusos na definição de transtorno da conduta. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Com frequência, o TDAH é comórbido com o transtorno de oposição desafiante. Para fazer um diagnóstico adicional de transtorno de oposição desafiante é importante determinar que a falha do indivíduo em obedecer às solicitações de outros não ocorre somente em situações que demandam esforço e atenção sustentados ou que exigem que o indivíduo permaneça quieto. Transtornos depressivo e bipolar. Com frequência, os transtornos depressivo e bipolar envolvem irritabilidade e afeto negativo. Como resultado, um diagnóstico de transtorno de oposição desafiante não deverá ser feito se os 16 sintomas ocorrerem exclusivamente durante o curso de um transtorno do humor. Transtorno disruptivo da desregulação do humor. O transtorno de oposição desafiante compartilha com o transtorno disruptivo da desregulação do humor os sintomas de humor negativo crônico e explosões de raiva. Entretanto, a gravidade, a frequência e a cronicidade das explosões de raiva são mais graves em indivíduos com transtorno disruptivo da desregulação do humor do que naqueles com transtorno de oposição desafiante. Consequentemente, apenas uma minoria de crianças e de adolescentes cujos sintomas preenchem os critérios de transtorno de oposição desafiante seria também diagnosticada com o transtorno disruptivo da desregulação do humor. Nos casos em que a perturbação do humor for suficientemente grave para preencher os critérios de transtorno disruptivo da desregulação do humor, um diagnóstico de transtorno de oposição desafiante não é feito, mesmo que todos os critérios para essa condição tenham sido preenchidos. Transtorno explosivo intermitente. O transtorno explosivo intermitente também envolve altas taxas de raiva. No entanto, indivíduos com esse transtorno apresentam agressão grave dirigida a outros, o que não faz parte da definição de transtorno de oposição desafiante. Deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual). Em indivíduos com deficiência intelectual, um diagnóstico de transtorno de oposição desafiante é feito somente se o comportamento opositor for acentuadamente maior do que aquele que em geral se observa entre indivíduos com idade mental comparável e com gravidade comparável de deficiência intelectual. Transtorno da linguagem. O transtorno de oposição desafiante deve também ser diferenciado da incapacidade para seguir orientações resultante de uma alteração na compreensão da linguagem (p. ex., perda auditiva). Transtorno de ansiedade social (fobia social). O transtorno de oposição desafiante também deve ser diferenciado da recusa decorrente do medo de uma avaliação negativa associada com o transtorno de ansiedade social. 17 Comorbidade As taxas do transtorno de oposição desafiante são muito mais altas em amostras de crianças, adolescentes e adultos com TDAH, sendo que isso pode ser o resultado de fatores de risco temperamentais compartilhados. Além disso, o transtorno de oposição desafiante com frequência precede o transtorno da conduta, embora isso pareça ser mais comum em crianças com o subtipo com início na infância. Indivíduos com transtorno de oposição desafiante também têm risco aumentado de transtornos de ansiedade e transtorno depressivo maior, e isso parece ser, em grande medida, atribuível à presença de sintomas de humor raivoso/irritável. Adolescentes e adultos com o transtorno de oposição desafiante também apresentam taxas mais altas de transtornos por uso de substâncias, embora não esteja claro se essa associação é independente da comorbidade com transtorno da conduta. 7. TDO – Como pode ser tratado? Infelizmente o TOD esta associado com mau prognóstico na vida adulta, expresso por alto risco de depressão, tentativas de suicídio (Angold and Costello 2001; Stringaris, Lewis et al. 2014), abuso de substâncias e problemas com a lei (Tremblay, Pihl et al. 1994). O diagnóstico e o tratamento precoce podem exercer um papel preventivo fundamental para o manejo e melhora dos sintomas (Serra-Pinheiro, Schmitz et al. 2004; Serra-Pinheiro, Guimarães et al. 2005). Na terapia medicamentosa há relatos do efeito da medicação em caso de oposição e agressão, mas especialmente em pacientes que são tratados transtorno de conduta ou déficit de atenção e hiperatividade comórbido (Serra- Pinheiro, Schmitz et al. 2004). A maioria das pesquisas estão focadas na agressão ou nos sintomas de TDO não necessariamente em pacientes com um diagnóstico de TOD. Estudos mostram que metilfenidato e clonidina diminuem os sintomas TOD (Kolko, Bukstein et al. 1999; Connor, Barkley et al. 18 2000; Serra-Pinheiro, Schmitz et al. 2004; Serra-Pinheiro, Guimarães et al. 2005). Entretanto, não há evidências que os psicoestimulantes ou a clonidina sejam eficazes para o TOD sem combinação com diagnóstico TDAH. Terapia que tem se mostrado eficaz é a cognitivo-comportamental, trabalhando com técnicas de manejo parental. Que tem como premissa modificar o comportamento da criança por meio da alteração na forma dos pais lidarem com a criança (Ho, Chow et al. 1999; Kazdin and Wassell 2000; Greene, Ablon et al. 2003; Serra-Pinheiro, Schmitz et al. 2004). 8. Dicas para os pais lidarem com filhos com TDO: • Manter sempre o controle, sem apelar para gritos ou palmadas; • Educar com firmeza, mas nunca se esquecer do afeto; • Ser firmes, mas acolhedor; • Dedicar tempo e atenção diariamente; • Montar uma tabela com colunas referentes comportamento indesejado, conduta que tomou no ato do comportamento e resultados obtidos frente à conduta; • Sempre que agir de forma inadequada, repreender, colocar para pensar (1 minuto por idade) e após prazo conversar sobre ocorrido; • Não ceder aos apelos da criança e mantenha a palavra; • Incentive a prática de trabalhos e esportes em grupo (interação social); • Não dar atenção a “birras”; • Explicar claramente regras e instruções; • Dê castigos proporcionais (e não se sinta culpado depois); • Explique detalhadamente as consequências em casos de indisciplina; • Evite medir forças com a criança, mas seja flexível de vez em quando; 19 • Proponha acordos e privilégios quando a criança tiver atitudes assertivas (reforço positivo); • Elogie atitudes positivas; • Evite punições físicas (bater reforça comportamento agressivo/hostil); • Ao corrigir seu filho, olhe diretamente nos olhos e abaixe para ficar no mesmo nível, com tom de voz firme orientando sobre as regras, se houver resistência, socorrer de uma discreta pressão física (segurar firme no braço, por exemplo), sem deixar de ser amoroso; • Retirar privilégios, caso descumpra as regras; • Evite retardar ou desistir de uma ordem quando esta já foi estabelecida; • Evite orientar/corrigir a criança na hora da raiva; 9. O que os pais NÃO DEVEM fazer? • Utilizar de agressão física/verbal para que seu filho obedeça; • Orientar a criança à distância (deve orientar olhando para criança e certificando que ela compreendeu); • Dar instruções vagas (por ex.: “seja uma boa criança”); • Orientar com muitas explicações (argumentam excessivamente para criança entender), é bem provável que a criança vá se perder durante as explicações; • Orientar em tom ameaçador (em casos onde existe um acontecimento já instalado, é normal que os pais deem bronca com tom ameaçador para criança recuar, nesses casos a criança tende a revidar); • Pedir que realize alguma tarefa em forma de pergunta (você pode ir agora fazer as lições de casa? Vai abrir espaço para que a criança pense e diga não); 20 • Retirar “castigo” já estabelecido (estipula “punição” pornão se comportar proibindo de assistir TV por um mês e depois percebe que é muito tempo e recua reduzindo), avalie qual “castigo” vai estipular antes de estabelecer. 10. Os pais e a instituição de ensino: É importante que os pais compreendam que tanto eles quanto seu filho precisam da ajuda e apoio dos professores/instituição de ensino. Trazendo-os para sua causa, faça deles seus parceiros para que juntos possam ter êxito no desenvolvimento e sucesso do seu filho. • Procure estar sempre atento às reclamações da escola e evite levar para o lado pessoal; • Unir forças com professor/instituição. Procurar ser o mais “transparente possível” já no início, em uma nova escola ou na mudança de ano escolar, explicando as dificuldades enfrentadas pelo seu filho e quais são suas necessidades; • Ressaltar os conhecimentos adquiridos pelo estudo. Mostrando interesse pelo aprendizado, pela leitura. Lembre-se de que os pais são os “espelhos” dos filhos; • Procurar minimizar as expectativas. Valorizar cada passo alcançado em relação a ela mesma (reforço positivo); • Fazer com que seu filho realize as atividades escolares em casa, e respeite as regras estipuladas pelo professor, criando tabela para rotina da criança. 11. O professor e a criança com TDO: 21 Compreendendo que os pais apresentam dificuldade no manejo com os filhos com TDO, então não é difícil imaginar que na escola não deve ser diferente com o professor, sem mencionar que o professor é responsável por varias crianças. • Em se tratando de crianças diagnosticadas com qualquer transtorno, o primeiro passo para o professor ajudar é buscar informações a respeito do transtorno, assim poderá ter maior compreensão a despeito das dificuldades enfrentadas pela criança; • Motivar sempre os alunos, tendo em mente que o resultado estará diretamente ligado à diferença entre a quantidade de reforço positivo em relação a uma pressão em excesso; • Peça ajuda ao aluno com TDO, permitindo assim, motivá-lo, de forma intermitente, exemplo, apagar a lousa, ajudar na distribuição de materiais para a classe; • Peça gentilmente para o aluno ficar mais próximo de você, sentado a frente, de preferência longe de janelas ou porta; • Evitar criticar na presença de outras crianças, evitando assim uma indisposição do aluno para com o professor; • Procurar ressaltar as regras e anotar na lousa o plano de aula, bem como as tarefas e datas de provas; • Considerar a possibilidade de mudança na forma de avaliação, possibilitando provas orais ou com maior tempo para a execução ou menor número de questões, em relação ao restante da classe; • Procure tornar o ensino prazeroso, estimulando a participação dos alunos e a interação social em atividades de grupo; • Demonstre percepção dos resultados e progressos alcançados pelo aluno; 22 • Ajude os pais com uma maior comunicação, monitorando os progressos ou dificuldades, além da participação no controle em anotar as atividades e datas de provas; • Evitar fazer reclamações do aluno ao entrega-lo aos pais na saída. Qualquer reclamação deve ser feita via agenda ou em particular (agendar reunião); • As tarefas acadêmicas devem ser compatíveis com as habilidades da criança, ir reforçando passo a passo até igualar com as demais crianças da classe; • Trabalhar questões relacionadas ao planejamento e organização do estudo na escola e em casa (rotina diária); • Intercalar as aulas expositivas ou períodos de estudo com breves momentos de atividade física, ajudando a minimizar a fadiga e a monotonia de períodos longos de estudo; • Evitar corrigir as lições com canetas vermelhas ou lápis; • Criar momentos de descontração para minimizar o stress e ajudar na socialização com colegas de classe; • Procurar compreender que a criança não tem controle dos seus comportamentos, elas estão tão assustadas quanto todos envolvidos e precisa de ajuda; • É importante comunicar via agenda os comportamentos inadequados, entretanto é primordial comunicar os comportamentos positivos da criança, evitando que venham escritas somente reclamações. 12. Aspectos importantes: Crianças com TDO podem apresentar outros transtornos associados, sendo os mais prevalentes o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtornos de aprendizagem, transtorno de humor e os transtornos ansiosos. Quando não 23 tratado, o TDO pode evoluir para o transtorno de conduta (TC), este fato acomete 75% dos casos de crianças com diagnóstico inicial. Nos casos de associação as orientações aos pais/instituição de ensino podem ser similares para alguns transtornos distinguindo-os em detalhes. 13. Referências Bibliográficas: 1. Angold, A. and E. J. Costello (2001). “The epidemiology of disorders of conduct: Nosological issues and comorbidity.” Conduct disorders in childhood and adolescence: 126-168. 2. Association, A. P. (2002). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: texto revisado (DSM-IV-TR), Artmed. 3. Connor, D. F., R. A. Barkley, et al. 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