Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LESÃO RENAL AGUDA Injúria Renal Aguda (ira) Liliany Pinhel Repizo Nefrologista CASO CLÍNICO Paciente de 68 anos, sexo feminino, apresentou queda da própria altura com contusão lombar. Foi ao PS, realizado Rx de coluna que descartou fratura e foi liberada para casa com prescrição de 10 dias de diclofenaco. No término dos 10 dias, evoluiu com queda do estado geral, adinamia, dores difusas, epistaxes, inapetência, confusão mental e vômitos. CASO PA 160x90 mmHg FC 100 bpm FR 24 ipm MEG, afebril, taquidispneica, confusa Ausculta pulmonar reduzida nas bases Edema MMIIs 1/4+ Exames Laboratoriais Creatinina: 8,5 mg/dL Ureia: 320 mg/dL Na 144 K 7,8 mEq/l Cat 8,5 Fosforo 5,3 Cl 102 Gaso A: pH7,20 pO2 70 pCO2 30 HCO3 10 BE -8,0 Lactato 1,2 mmol/L Hb 10 g/dL Ht 30,6% Leuco 8000 PLQ 330.000 - Urina tipo 1: pH 6,0 d 1005 Leucocituria (30/c) PTU neg Hemácias 6/c BACTÉRIAS raras– ausência de cristais, cilindros granulosos ECG ECG sinais de hipercalemia realizado gluconato de calcio 10% EV, bicarbonato de sodio 8,4% EV e furosemida. Realizado hemodiálise HD: IRA por AINEs Introdução Importância dos rins: Eliminam produtos indesejáveis do metabolismo Mantém constante o volume extracelular Mantém constante a concentração extracelular de potássio Mantém constante a pressão osmótica Mantém constante o equilíbrio ácido-base do organismo Papel fundamental na regulação da pressão arterial Funções endócrinas Produção de eritropoetina Produção de forma ativa da vitamina D Definição antiga de ira Síndrome clínica caracterizada por um abrupto e significativo declínio na taxa de filtração glomerular (função renal). Volume urinário é variável e não depende somente da TFG, mas também da reabsorção tubular. Etiologia de base é tipicamente devido a fatores tubulares e vasculares. Definição de IRA: KDIGO 2012 Aumento da SCr ≥ 0,3 mg/dL em 48 horas, ou Aumento da SCr ≥ 1,5 X (ocorrido nos últimos 7 dias) Volume urinário < 0,5ml/kg/h por 6 horas Estadiamento IRA – KDIGO 2012 Estadiamento da Lesão Renal Aguda Estadio SCr Débito Urinário 1 - 1,5-1,9X, ou - ↑ ≥ 0,3mg/dL - <0,5ml/kg/h por 6-12 horas 2 - 2,0-2,9X - <0,5ml/kg/h por ≥ 12 horas 3 - 3,0X, ou - ↑ para SCr ≥ 4,0mg/dL ou - Início de TRS, ou - Em < 18 anos, ↓ TFG para <35ml/min/1,73m² <0,3ml/kg/h por ≥ 24 horas, ou - Anúria por ≥ 12 horas CAUSAS DA IRA Causas IRA pré-renal Rim está funcionalmente íntegro, mas com perfusão sanguínea diminuída Limitação do funcionamento renal de natureza hemodinâmica Hipovolemia aguda ou hemorragia grave Volemia arterial efetiva diminuída Manutenção prolongada da hipopefusão renal lesão e necrose de células tubulares IRA renal, intrínseca, parenquimatosa, orgânica ou estabelecida Lesão estrutual Principal lesão: LTA ou NTA Modalidade mais comum (70% a 90%) Potencialmente reversível (15 a 30 dias) Alta mortalidade 50% das vezes: TRS IRA pós-renal ou obstrutiva Fluxo urinário dificultado ou interrompido por obstrução mecânica das vias urinárias Reversível se desobstrução precoce Causas: pré-renais Diminuição aguda do débito cardíaco IAM, trauma, tamponamento pericárdico Hipovolemia: Perdas gastro-intestinais: vômitos, diarréia Perdas renais: nefropatias perdedoras de sal, uso de diuréticos, diurese osmótica Queimaduras Hemorragias Ingestão inadequada de líquidos Diminuição da volemia arterial efetiva: ICC (Chagas, outras miocardiopatias, valvulopatias) Hipoalbuminemia: sd. nefrótica, doença hepática avançada, desnutrição Peritonites Vasodilatação periférica: hipotensão arterial, choque, sepse, sd. hepato-renal, uso de medicamentos vasodilatadores, choque anafilático Causas: renais Necrose tubular aguda (NTA): Isquêmica: hipovolemia com hipoperfusão renal a mais comum Tóxica: antibiótios (aminoglicosídeos), antifúngicos (anfotericina B), imunossupressores (CsA, FK), antivirais (aciclovir), AINEs, contrastes radiológicos, pigmentos (hemoglobina, mioglobina, bilirrubina), metais pesados, peçonhas animais Nefrite intersticial aguda (NIA): Reação alérgica a medicamentos: penicilinas, cefalosporinas, rifampicina, sulfonamidas, quinolonas, diuréticos (furosemida, clortalidona), AINEs, cimetidina, etc Infecções (pielonefrites) Infiltração: linfomas, leucemias, sarcoidose, doença de Sjögren, doenças imunológicas Doenças vasculares Inflamatórias (vasculites): glomerulonefrite necrotizante puci-imune, poliarterite nodosa, granulomatose de Wegener, doença do soro Microangiopáticas: SHU, PTT, hipertensão maligna, esclerodermia Glomerulopatias: Pós-infecciosa: Streptococcus, vírus, erisipela, endocardite, abscessos abdominais Glomerulonefrite rapidamente progressiva: LES, sd. Goodpasture, poliarterite, Wegener, púrpura de Henoch-Schönlein Glomerulonefrite membranoproliferativa (ocasional) Sepse SIRS Causas: pós-renais Ureteral e pélvica: Obstrução intrínseca: coágulos, cálculos, infecções fúngicas e bacterianas Obstrução extrínseca: tumores, fibrose retroperitoneal, ligadura inadvertida de ureteres, cálculos Vesical: Cálculos Coágulos Carcinoma Neuropatia (“bexiga neurogênica”) Uretral: Estreitamentos Fimose HPB Adenocarcinoma prostático FISIOPATOLOGIA K+ Na+ Na+ Na+ K+ K+ TRANSPORTE RESULTANTE DE SÓDIO CÉLULA TRANSPORTADORA ATP ATP K+ Na+ Na+ Na+ K+ K+ TRANSPORTE RESULTANTE DE SÓDIO CÉLULA TRANSPORTADORA ATP ATP HIPÓXIA 21 K+ Na+ Na+ K+ K+ ATP Na+ CÉLULA TRANSPORTADORA ATP HIPÓXIA K+ Na+ Na+ K+ K+ ATP Na+ CÉLULA NÃO TRANSPORTADORA ATP SEM TRANSPORTE RESULTANTE DE SÓDIO L I PROXIMAL SEGMENTO S3 K + ATPase Na + H + Na + Na + aa Na + H PO 2 4 Na + Na + K + ATPase Cl - Cl - Na Na + + Cl - ATP ATP ATP ATP ATP ATP 24 L I PROXIMAL SEGMENTO S3 Na + H + Na + Na + aa Na + H PO 2 4 Na + Na + Cl - Cl - Cl - 25 L I PROXIMAL SEGMENTO S3 Na + Na + 26 Na + K + ATPase Na + Na + K + Cl - Cl - + - PORÇÃO ESPESSA ASCENDENTE DA ALÇA DE HENLE L I K + 27 Na + Na + K + Cl - Cl - + - PORÇÃO ESPESSA ASCENDENTE DA ALÇA DE HENLE L I K + 28 + - PORÇÃO ESPESSA ASCENDENTE DA ALÇA DE HENLE L I 29 HIPÓXIA 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 EM USO DE IECA OU BRA – PREJUDICA A AUTOREGULAÇÃO RENAL EM SITUAÇÕES DE ESTRESSE 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Pressão (mmHg) PA PCG PE PC RA RE RE 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Pressão (mmHg) PA PCG PE PC RA RE 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Pressão (mmHg) PA PCG PE PC RA RE 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Pressão (mmHg) PA PCG PE PC RA RE Fisiopatologia: IRA pré-renal Depleção de volume reabsorção de Na e água Função tubular normal FENa% (carga excretada/carga filtrada x 100): cai a quase zero Sódio urinário baixo e potássio urinário elevado Urina mais concentrada (osmolalidade elevada) Queda de fluxo plasmático e da pressão hidrostática glomerular Diminuição da TFG Vaso-constrição das arteríolas glomerulares Angiotensina II, catecolaminas, endotelina, ADH Aumento desproporcional entre creatinina e uréia Aumento reabsorção de Na e água pelo túbulo proximal Fisiopatologia: IRA pré-renal Parâmetros Laboratoriais Concentração plasmática de creatinina ↑↑ Concentração plasmática de uréia ↑↑↑↑ Razão uréia / creatinina > 40 Fluxo urinário ↓↓↓ [Na+] urinária ↓↓↓↓ Osmolaridade urinária ↑↑↑ FE Na < 1% FE Na= Na urinário x Cr sérica Na sérico x Cr urinária Fisiopatologia: IRA pré-renal Se hipoperfusão renal agravar (queda PA): Garantir perfusão cérebro e miocárdio (sobrvivência imediata) Vaso-constrição renal se agrava Intensificação da absorção de Na e água Isquemia da própria micro-circulação renal Transição IRA pré-renal para IRA renal (NTA) Vulnerabilidade do rim à isquemia e à hipóxia Fisiopatologia: IRA pós-renal Obstrução das vias urinárias Obstrução ao fluxo urinário ↓ Elevação da pressão hidrostática da via urinária ↓ Transmissão aos túbulos e cápsula de Bowman ↓ Anulação da pressão de ultrafiltração Após 24 a 48h: outros mecanismos para diminuir TFG (vasoconstritores) Obstrução persistir: lesão parênquima renal + NTA e/ou infecção perda do órgão Fisiopatologia: IRA renal Néfrons deixam de desempenhar suas funções adequadamente Não estão ávidos por Na+ Não secretam adequadamente K+ Não concentram urina para reter água Pode reduzir fluxo urinário drasticamente < 400mL/24h: oligúria < 100mL/24h: anúria Células tubulares necrosadas ou ausentes ↓ Restando somente membrana basal ↓ Vazamento puro e simples do filtrado de volta ao interstício Fisiopatologia: IRA renal Parâmetros Laboratoriais na IRA renal oligúrica Concentração plasmática de creatinina ↑↑↑ Concentração plasmática de uréia ↑↑↑ Razão uréia / creatinina < 40 Fluxo urinário ↓↓↓↓↓ [Na+] urinária ↑↑ Osmolaridade urinária próxima à do plasma (baixa) FE Na > 1% Fisiopatologia: IRA renal Uma vez instalada IRA renal não pode ser revertida rapidamente Mesmo corrigindo o distúrbio originário Regulação do balanço de água e eletrólitos só melhorará com a recuperação espontânea do tecido renal (02 a 04 semanas) IRA renal não-oligúrica Diferença da IRA renal oligúrica: fluxo urinário (>400mL/24h) Prognóstico melhor que da oligúrica Melhor controle do balanço hídrico IRA renal: isquêmica e tóxica Vaso-constrição renal Lesão tubular por agressão tóxica direta Medicamentos e outros agentes introduzidos no organismo por ação do médico Contrastes iodados, AINEs, certos antimicrobianos Peçonhas, venenos de origem animal Pigmentos Hemglobina, bilirrubina e mioglobina IRA de outras causas Complicação de outras patologias renais Glomerulonefrites (GNRP) Microangiopatias trombóticas (SHU) Vasculites primárias ou secundárias a doenças sistêmicas (LES) Lesões intersticiais agudas (Nefrite intersticial aguda) Drogas Intoxicações químicas Processos alérgicos Infecções (pielonefrites) Sepse Diminuição da volemia arterial efetiva SIRS NECROSE TUBULAR AGUDA NEFRITE INTERSTICIAL AGUDA BIÓPSIA RENAL MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Manifestações Clínicas Retenção de escórias nitrogenadas (uréia e creatinina) provoca disfunções de vários órgãos e sistemas UREMIA Hipertensão e Edema Hiponatremia e edema celular Hipercalemia Acidose metabólica Anemia e distúrbio do metabolismo de Cálcio Manifestações Clínicas Digestivas: inapetência, náuseas, vômitos, sangramento Cardiorrepiratórias: dispnéia, edema, hipertensão arterial, ICC, EAP, arritmias, pericardite Neurológicas: sonolência, tremores, agitação, convulsão, coma Hematológicas: sangramentos, anemia Imunológicas: depressão imunológica, infecções Nutricionais: catabolismo aumentado, perda massa muscular Cutânea: prurido Diagnóstico Fluxo urinário Creatinina plasmática (aumenta quando a TFG < 50%) Uréia Ultra-sonografia: Tamanhos normais Córtex preservada Detectar a causa FENa%: < 1% IRA pré-renal FENa%: > 1% NTA (IRA RENAL) FEuréia%: < 35% pré-renal Feuréia%: > 50% NTA (IRA RENAL) Diagnóstico Fração de Excreção de Sódio FENa = (Na urina / Na sangue) x 100 (Cr urina / Cr sangue) Fração de Excreção de Uréia FEUréia = (Uréia urina / Uréia sangue) x 100 (Cr urina / Cr sangue) 65 IRA - MAGNITUDE DO PROBLEMA 5% DAS INTERNAÇÕES HOSPITALARES 30% DAS INTERNAÇÕES EM UTI 68 IRA HCFMUSP 2000 46% 54% DIÁLISE TRATAMENTO CLÍNICO 69 CAUSAS MAIS COMUNS DE IRA NA UTI Choque séptico (40-50%) Sepse grave (25%) 70 Sepse e RIM Instabilidade hemodinâmica ( RVS) Depressão miocárdica TNF-alfa, IL-6, NO, ICAM, dentre outros Apoptose células tubulares renais Infiltração neutrofílica 71 TRATAMENTO CONSERVADOR Controle dos distúrbios hidroeletrolíticos Correção da anemia e sangramentos Otimização da volemia Nutrição adequada Correção da dose de antibióticos Evitar drogas nefrotóxicas 73 Terapia Dialítica Quando iniciar? Não existe “número mágico” Combinação de fatores clínicos e laboratoriais Quanto mais cedo, melhor a sobrevida Indicações de diálise na IRA Hipercalemia Hipervolemia: edema periférico, derrame pleural e/ou pericárdico, ascite, hipertensão arterial e ICC Uremia: NRL sonolência, tremores, coma e convulsões Cárdio pericardite, tamponamento pericárdico, ICC refratária Pulmão congestão pulmonar, pleurite TGI náuseas, vômitos, hemorragias digestivas Sangramentos Acidose metabólica Outras: hipo ou hipernatremia, hipo ou hipercalcemia, hiperuricemia, hipermagnesemia Prevenção da IRA 75 Medidas preventivas testadas na IRA Alto risco 1 2 3 Descontinuar todos agentes nefrotóxicos quando possível Garantir status volêmico e evitar hipotensão Considerar monitorização hemodinâmica funcional Monitorizar Creatinina Sérica e Débito Urinário Evitar hiperglicemia Considerar alternativas aos procedimentos radiocontrastados Procedimentos Diagnósticos não invasivos Considerar procedimentos diagnósticos invasivos Ajustar dose de drogas Considerar Terapia Renal Substitutiva Considerar transferência para UTI Evitar cateteres em veia subclávia se possível KDIGO 2012 76 BIBLIOGRAFIA Cecil 24 edição Johnson 4 edição 2010 KDIGO- ACUTE KIDNEY INJURY 2012
Compartilhar