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VICTOR R.C. DA SONHOS E PSICODRAMA INTERNO SON H OS E PSICO D RAM A INTERNO N a A n á lis e P s ic o d ra m á tic a Em obra anterior, Análise psicodramática Teoria da programação cenestásica Victor Dias lançou as bases de uma nova conceiluação. Com este livro, ele dá continuidade ao desenvolvimento de sua teoria, apresentando o conceito de psicoterapia nas Zonas de Exclusão. Para o autor, todo processo psicoterápico consiste de alianças entre aspectos da parte "sadia" de uma pessoa (entendida como sinônimo do Conceito de Identidade) e da parte "doente" (equivalente ao Conceito de Material Excluído). O grande entrave seria que a abordagem do Material Excluído mobiliza tanto as defesas intrapsíquicas quanto os vínculos simbióticos, funcionando como bloqueios ao desenvolvimento da terapia. Mas, Victor Dias não se limita a teorizar sobre o assunto. Apresenta, em seguida, métodos para a utilização do psicodrama interno, de sensibilização corporal e de sonhos a serviço do Material Excluído - sem trazê-lo à consciência - evitando, assim, que mobilize bloqueios. Um trabalho que, certamente, agrega ao repertório do Psicodrama uma obra original, prática e criativa. Victor Roberto Ciacco da Silva Dias E psiquiatra formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, professor e supervisor em Psicodrama, fundador e coordenador da Escola Paulista de Psicodrama EPP ISBN B5-71B3-527-6 88571 835276 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Dias, Victor R. C. SilvaSonhos e psicodrama interno na análise psicodramática / Victor R. C. Silva Dias . — São Paulo : Ágora, 1996.Bibliografia.ISBN 85-7183-527-61. Psicodrama 2. Psicodrama - Teoria 3. Sonhos I. Título. 96-3298 CDD-150.198índices para catálogo sistemático:1. Psicodrama : Método psicanalítico2. Psicodrama : Teoria3. Sonhos e psicodrama : Método psicanalítico 150.198150.198 150.198 SONHOS E PSICODRAMA INTERNO NA ANÁLISE PSICODRAMÁTICA Victor R. C. S. Dias AGORA Sonhos... “Eu me conto, em segredo, verdades ocultas que sempre soube mas que não podia saber. E, neste jogo ardiloso, vou descobrindo, surpreso e perplexo, aquilo que sou mas que não podia ser. Mas, sempre fui sem poder saber! Eu sonho!” “Um dia sonhei que era eu e quando acordei descobri que vivia um não-eu Mas, em que enrascada danada eu tinha me metido, pois vivia no sonho e sonhava na vida.” Victor SUMARIO In tro d u çã o ............................................................................................. 9 1. Psicoterapia nas Zonas de Exclusão............................................... 11 2. Psicodrama Interno e Dramatizações Internalizadas..................... 15 3. Decodificação dos Sonhos............................................................... 33 4. Sensibilização Corporal................................................................... 53 5. Átomo Familiar e Átomo Social...................................................... 59 6. Compulsões e Dependências........................................................... 65 7. Dinâmica do Suicídio...................................................................... 75 8. Iniciando um Psicodrama de Grupo.............................................. 89 9. Técnicas Psicodramáticas............................................................... 99 10. Sistemática de Supervisão............................................................. 109 11. Sentimentos e Síndrome do Pânico.............................................. 123 B ib lio g ra fia ........................................................................................... 131 INTRODUÇÃO Neste meu terceiro livro, que é uma seqüência de meus trabalhos anteriores, quero apresentar a vocês um novo conceito, o da Terapia nas Zonas de Exclusão. Dentro da Teoria de Programação Cenestésica* criei o conceito de Zonas de Exclusão, sendo a lâ Zona de Exclusão constituída de vivências cenestésicas e tamponada pelos Vínculos Simbióticos e a 2- Zona de Ex clusão constituída de vivências de sentimentos, pensamentos e percep ções, tamponadas pelas Defesas Intrapsíquicas. Todo o processo psicoterápico consiste em fazer uma aliança com a parte “sadia” do indivíduo para abordar sua parte “doente”, considerando aqui a parte sadia como o Conceito de Identidade e a parte doente como o Material Excluído. O grande entrave da psicoterapia é que a abordagem do material excluído mobiliza tanto as defesas intrapsíquicas como os vínculos simbióticos que funcionam como grandes bloqueios no desen volvimento da terapia. Utilizando Psicodrama Interno e Sensibilização Corporal fui de senvolvendo uma postura de tentar trabalhar o material excluído sem torná-lo consciente e, desta forma, não mobilizar os bloqueios. Passei a trabalhar o material simbólico mobilizado no psicodrama no próprio psicodrama interno, sem tentar qualquer identificação racional por parte do cliente, assim como passei a trabalhar as vivências corporais con trapondo-as a outras, sem a interferência do racional do cliente. Esta postura foi se concretizando na medida em que foram aparecendo re sultados bastante animadores, pois o Conceito de Identidade está “proi- * Análise psicodramática: Teoria da programação cenestésica. São Paulo, Agora, 1994. 9 hido” de assimilar o Material Excluído, portanto, a consulta racional geralmente dá uma informação equivocada ou mobiliza os bloqueios. O trabalho com os bloqueios, sejam eles defesas intrapsíquicas ou vín culos simbióticos, oneram a psicoterapia em tempo e em angústia. A partir dessa experiência, comecei a trabalhar com os sonhos da mesma maneira, isto é, apenas decodificando-os e, desta forma, estimu lando o cliente a continuar a sonhar. Como resultado, os clientes começa ram a sonhar, a ter continuação dos sonhos sem uma tentativa de entendi mento racional e, sim, do entendimento da dinâmica do sonho. Passei a trabalhar os sonhos com o princípio da psicoterapia na Zona de Exclusão. Deste trabalho surgiu toda a sistematização que apresento no capítulo sobre sonhos. Parto do princípio de que o cliente sabe o que sonha, mas não pode saber o que sonha, pois viria de encontro ao Conceito de Identi dade, à medida que o sonho vem de material da Zona de Exclusão. Tenho observado que as grandes linhas de psicoterapia como a Psi canálise, a Psicoterapia Analítica e a própria Bioenergética acabam por trabalhar material cenestésico com o mesmo enfoque de material psicoló gico excluído por não terem o conceito de que são vivências diferentes e necessitam de enfoques diferentes. A conceituação de duas Zonas de Ex clusão, com materiais diferentes e procedimentos diferentes de trabalho, tem dado muito bom resultado. Victor II) 1 PSICOTERAPIA NAS ZONAS DE EXCLUSÃO Como já vimos na Teoria da Programação Cenestésica, existem duas Zonas de Exclusão dentro da estruturação do psiquismo de um indivíduo. A I a Zona de E xclu sã o ocorre nos primeiros dois anos de vida e está relacionada à má estruturação dos modelos psicológicos (ingeridor, defecador e urinador) pela atuação d & clim as inibidores. A má estruturação dos Modelos Psicológicos vai ocasionar a não-diferenciação do Psiquismo Caótico e Indiferenciado — PCI — em Psiquismo Organizado e Diferen ciado — POD — e, portanto, uma discriminação incompleta das Áreas Psicológicas: mente, corpo e ambiente. Essa fatia de psiquismo que permanece indiferenciada chama-se Zona de P C I. Ao redor dos dois anos a dois anos e meio de idade, esta Zona de PCI é tam ponada p o r um V ínculo Com pensatório/Sim biótico e p a ssa a se r a p a rtir d a í a Ia Z on a de E xclu sã o d o Psiquism o. Nessa Zona de Exclusão fica o registro do Clima Inibidor como foi vivido pelo bebê, um registro de uma sensação de Falta (falta de terminar algo que deveria ter sido terminado) do término da estruturação do Mode lo e que chamo de Núcleo de Carência.O registro de uma tensão crônica ligada à sensação de que “está para ocorrer algo a qualquer momento”, aflição para que ocorra o término da estruturação do modelo e, finalmen- te, um registro de perda da espontaneidade no nível da sensação e não do comportamento relacionado ao modelo. A 2a Zona de E xclu sã o ocorre a partir dos dois a dois anos e meio e permanece por toda a vida, embora seja muito mais utilizada até o fim da adolescência. Após o tamponamento da Zona de PCI pelos vínculos com pensatórios, a criança passa a trabalhar somente no nível do POD, isto é, do psiquismo que foi organizado e diferenciado. O psiquismo que não foi 11 niganizado c diferenciado permanece como caótico e indiferenciado na Zona de PCI, e as vivências registradas nessa Zona permanecem como que “congeladas no tempo” e tamponadas pelo vínculo compensatório. A partir dos dois anos e meio a criança começa a registrar uma série de vivências apreendidas no seu contato com as pessoas que compõem sua Ma triz de Identidade (pai, mãe, irmãos, empregadas, avós, tios etc.), sua Matriz de Identidade Social (escolas, amigos, clubes, brincadeiras etc.), vivências e conceitos morais veiculados pela família, educadores, religiões, meios de comunicação (televisão, revistas, filmes etc.), além de copiar e imitar modelos de pessoas afetivamente significativas. Essas vivências vão sendo registradas no POD e vão se transforman do em Figuras de Mundo Interno. Figuras de mundo interno são modelos de pessoas, modelos de con dutas culturais e morais, ensinamentos e conceitos morais, religiosos e culturais que, juntamente com os sentimentos, pensamentos e percepções dessa criança, vão fazer parte do seu conceito de identidade. O con ceito de identidade é a m aneira que o indivíduo se vê, com o ele vê o outro e com o ele vê o funcion a m en to do m undo. As vivências que de alguma forma não são compatíveis com o Con ceito de Identidade são excluídas e “esquecidas” pelo psiquismo ou, en tão, são registradas no POD. mas seguidas de algum tipo de justificativa. A s vivências que sã o frontalm en te incom patíveis com o C on ceito de Identidade sã o excluídas e depositadas na Zona de P C I, form ando, a s sim, uma 2a Zona de E xclusão. E ste m aterial é de P O D , em bora esteja depositado na Zona de P C I. As vivências não totalmente incompatíveis com o Conceito de Iden tidade ficam no próprio POD, mas como contradições; é o que chamamos de M aterial Justificado. As vivências registradas nas duas Zonas de Exclusão não se mistu ram com as vivências que ficam no POD; elas ficam num patamar de subconsciência ou mesmo de inconsciência. Podemos dizer que o Materi al Depositado na Zona de PCI (2a Zona de Exclusão) é material subcons ciente, pois já teve contato com o ego e o Material que compõe a Zona de PCI ( I a Zona de Exclusão) é material inconsciente, pois é material cenestésico e vivenciado antes do advento do Ego. Dessa maneira, o psiquismo consciente vai sempre dificultar o con tato com o material das Zonas de Exclusão, utilizando-se das Defesas Intrapsíquicas no caso da 2- Zona de Exclusão e dos Vínculos Compensa tórios no caso da Ia Zona de Exclusão, além de sempre apresentar uma resistência para entrar em contato com esse material. Durante o processo de psicoterapia, o terapeuta promove um a A lia n ça Terapêutica com o POD do cliente, considerado como “parte sadia”, para que terapeuta e POD do cliente consigam abordar o material das 12 Zonas de Exclusão, considerado como “parte doente”. Coloco entre aspas parte sadia e parte doente, pois, na verdade, é no POD de um indivíduo neurótico ou psicótico que se encontra a doença, e é nas Zonas de Exclu são que também se encontra o verdadeiro Eu do indivíduo. Essa Aliança Terapêutica vai bem enquanto se questionam as contradições do POD, mas quando se começa a mobilizar o material das Zonas de Exclusão o psiquismo começa a reagir e a Aliança Terapêutica se toma difícil e, em alguns momentos, até se rompe. A 2- Zona de Exclusão é trabalhada na fase da psicoterapia das Divi sões Internas, e a resistência que o psiquismo oferece à abordagem do material excluído é a mobilização das defesa s intrapsíquicas. A Ia Zona de Exclusão é trabalhada na fase dos Vínculos Simbióticos, e a resistência que o psiquismo oferece à abordagem do material excluído são os vínculos com pen satórios ou sim bióticos. Essas defesas que o psiquismo desenvolve são inconscientes, estão fora do controle do indivíduo e se transformam nos grandes entraves do andamento da psicoterapia. Uma psicoterapia onde não existissem as de fesas intrapsíquicas e os vínculos compensatórios poderia se resumir em alguns poucos meses. Em decorrência disso, tenho desenvolvido técnicas para abordagem do material das Zonas de Exclusão sem a conseqüente mobilização das defesas. Normalmente, o terapeuta trabalha as defesas intrapsíquicas até que o cliente possa, gradativamente, ir aceitando o material excluído que está sendo mobilizado e também conscientiza as dependências existentes dos vínculos compensatórios, assim como as Funções Delegadas, para que o cliente possa, conscientemente, ir assumindo essas funções e se encami nhar para o desmonte do vínculo compensatório. Como já disse, este é um trabalho bastante difícil e muito demorado e é também uma fase em que ocorrem muitas das paradas em psicoterapia. A psicoterapia na Zona de E xclusão consiste em trabalhar o m aterial exclu íd o dentro da própria Zona de E xclu sã o sem a preocu p a çã o de torná- lo consciente. Dessa forma, não ocorre um confronto intenso entre POD e Material Excluído e diminui muito a mobilização das Defesas Intrapsíquicas, as sim como diminui o sofrimento da vivência da Zona de PCI no desmonte dos vínculos compensatórios. A psicoterapia na Zona de Exclusão é feita, basicamente, por inter médio de sonhos, psicodram a interno e sen sib iliza çã o corporal. Assim, uma vez mobilizado um Material de Zona de Exclusão, esse material deve ser trabalhado sem o a u xílio do entendim ento con scien te do cliente, p o is esse entendim ento está no P O D , que está sen do questionado e, portanto, vai m obilizar resistências a o afloram ento do m aterial excluído. 13 Se o lerapeuta solicita uma avaliação crítica do cliente sobre o mate- 11 al e x e I u ido mobi 1 izado, ele está fazendo aliança com uma parte do cliente que lói responsável pela exclusão desse mesmo material. Portanto, a ten dência é a de que essa avaliação venha comprometida e falseada dos seus verdadeiros significados. A Psicoterapia na Zona de Exclusão tem mostrado resultados bas tante satisfatórios na medida em que tem permitido trabalhar material excluído com pouca mobilização de defesas, diminuindo as paradas e in terrupções do processo psicoterápico e produzindo mudanças palpáveis em menos tempo de terapia. Nos próximos três capítulos vou explicar detalhadamente como fa zer a psicoterapia na Zona de Exclusão nos sonhos, psicodrama interno e sensibilização corporal. 14 2 PSICODRAMA INTERNO E DRAMATIZAÇÕES INTERNALIZADAS No conceito de Psicoterapia nas Zonas de Exclusão, o Psicodrama Interno, juntamente com os Sonhos e a Sensibilização Corporal, comple ta os instrumentos utilizados dentro da Análise Psicodramática para a abor dagem e o trabalho tanto da I a Zona de Exclusão (Zona de PCI) como da 2a Zona de Exclusão (Material Depositado na Zona de PCI). Desde o lançamento do Psicodrama Interno na comunidade Psicodramática durante o II Congresso Brasileiro de Psicodrama, por mim e por Fonseca Filho, tenho trabalhado e aprimorado essa técnica. Dividi o Psicodrama Interno em dois instrumentos. O primeiro, con tinuei a chamar de Psicodrama Interno, e o segundo passei a chamar de Dramatizações Internalizadas. Chamo de psicodrama interno o processo de intervenção por ima gens internas onde evito ao m áxim o a m ob iliza çã o dos a sp ecto s racionais (POD) do cliente,privilegian do sem pre o d esejo e as sen sações. Dessa forma, consigo abordar o material excluído dentro das Zonas de E xclusão e trabalhar com esse material dentro da própria Zona de Exclusão. O Psicodrama Interno tem se mostrado como o instrumento mais eficiente na abordagem de Material Excluído. Ele supera a abordagem por Sonhos pelo fato de que no Psicodrama Interno o terapeuta tem aces so direto para intervir no Material Excluído desde que siga a norma de evitar consignas que possam mobilizar os aspectos racionais (POD) do cliente e, com isso, colocar valores morais e censuras no material que está sendo trabalhado. Devemos sempre lembrar que o Material Excluído, seja ele da I a ou ?J Zona de Exclusão, foi excluído por não ter condições de ser assimilado 15 diretamente pelo Psiquismo Organizado e Diferenciado (POD) do indiví duo. Dessa forma, sempre que o racional do cliente (POD) é colocado em contato com o Material Excluído, seu psiquismo entra num impasse. Não pode aceitar o Material Excluído sem as devidas reorganizações do Con ceito de Identidade (2a Zona de Exclusão) ou Desmonte dos Vínculos Compensatórios ( Ia Zona de Exclusão). Uma form a de sa ir do im passe é transform ar e cod ifica r o M ateria l E xclu íd o em im agens e m ensagens sim bólicas. A outra é transform ar o M a teria l E xclu íd o em sen sa ções corporais. As imagens e mensagens simbólicas podem ser abordadas e traba lhadas através do Psicodrama Interno e dos Sonhos. As sensações corporais são abordadas pela Sensibilização Corporal, abrindo caminho aqui para as Abordagens dos Sintomas e Doenças Físi cas no ramo da Psicossomática e também para as psicoterapias de Abor dagem Corporal. Chamo de dramatizações internalizadas as intervenções por ima gens internas onde aceito e mobilizo os aspectos racionais do cliente (POD) no desenvolvimento da dramatização interna. Para tanto utilizo o correspondente mental de várias técnicas do Psicodrama, tais como a Inversão de Papel, o Solilóquio, a Maximização, a Concretização, a Realidade Suplementar etc. As Dramatizações Internalizadas não permitem uma abordagem di reta do Material Excluído como o Psicodrama Interno, mas são extrema mente eficientes para as abordagens do Material Contraditório registrado no POD. Entenda-se como Material Contraditório registrado no POD os Con ceitos Morais, as Figuras de Mundo Interno, as Justificativas e as Vivências do indivíduo confrontadas com seus Sentimentos, Pensamentos e Percep ções ligados ao Material Excluído. Tudo isso faz parte do Conceito de Identidade Vigente. Portanto, as Dramatizações Internalizadas abordam e trabalham o Conceito de Identidade Vigente trabalhando os conflitos e possibilitando a emergência de Material Excluído que pode vir à tona e ser integrado durante o próprio trabalho ou ser tamponado pela mobilização de Defesas Intrapsíquicas ou mesmo de Defesas Conscientes. Indicações O Psicodrama Interno é principalmente indicado: • quando a queixa vem em forma de sensações tais como sufoco, peso, frio, calor, amortecimento, tensão etc., no corpo ou em partes dele; 16 • nas fobias por altura, animais, insetos, água, claustrofobia, e me dos em geral; • quando a queixa vem por imagens tais como escuro, névoa, vultos, presenças etc.; • na continuação de sonhos recorrentes ou de sonhos de interrupção brusca. É mais eficaz que o onirodrama, pois aborda o Material Excluído dentro do próprio Material Excluído; • quando a psicoterapia está bloqueada por defesas intrapsíquicas ou vínculos compensatórios instalados no setting e que não cedem com as técnicas de espelho, tanto o que retira como o que reflete.* As Dramatizações Internalizadas são principalmente indicadas: • quando existem dificuldades para a dramatização clássica, tais como clientes muito obesos ou com dificuldades de locomoção, falta de egos- auxiliares para montagem das cenas, espaço inadequado para drama tizações etc.; • quando o cliente se recusa à dramatização clássica (vergonha, sen sação de ridículo etc.), embora deva sempre ser também trabalhada a di nâmica responsável pela recusa; • quando o material a ser trabalhado vem a partir de um trabalho de relaxamento ou de sensibilização corporal. A montagem da cena clássica pode desaquecer o cliente que já está com a cena na cabeça. Psicodrama Interno O Psicodrama Interno deve ser feito com o cliente em posição rela xada, de preferência deitado ou sentado, confortavelmente, e com o tera peuta a uma distância de mais ou menos meio metro. O contato com o terapeuta deve ser única e exclusivamente feito pela voz, e os toques fí sicos devem ser evitados, pois eles cortam o contato do cliente com o seu mundo interno. A orientação do terapeuta deve ser sempre a de pesquisar o desejo do cliente e dos personagens e tentar a viabilização desses desejos. Com re ferência aos medos, a orientação deve ser sempre a de tentar ir de encon tro às cenas temidas e não evitá-las. No conceito de Psicoterapia dentro da Zona de Exclusão, durante o Psicodrama Interno não se deve tentar nenhum tipo de racionalização, e * Variações criadas pelo autor e que são descritas no CapítuloTécnicas Psicodramáticas. (N. E.) 17 deve-se evitar totalmente os “porquês”, pois com isso estaríamos mobili zando o POD do cliente e saindo da Zona de Exclusão. O entendimento do Psicodrama Interno deve ser feito depois de ter minado o trabalho e, principalmente, ao longo das sessões subseqüentes, sempre tendo em mente que o mais importante é a vivência do Psicodrama Interno e não a sua compreensão. Vou dar a seguir alguns exemplos de Psicodrama Interno: PA. 30 ANOS — 1993 — AULA DO P 1 P. está deitada no tapete da sala. Está tensa e não consegue se desli gar da turma. Peço para sentir um pouco o corpo. Ela diz sentir frio nos pés e certo tremor nas coxas. Tenta relaxar e conta que não lhe vem ne nhuma imagem à cabeça. Tenta relaxar novamente e relata um peso, prin cipalmente no quadril e nas costas. Peço que deixe o peso tomar conta e ver se tem alguma imagem na cabeça. P — Estou com as coxas tremendo e, ao mesmo tempo, vem uma ima gem de estar afundando. Não sei em qual me concentrar. T — Concentre-se na imagem e esqueça um pouco o corpo. Qual a ima gem que está presente? P — Parece que estou afundando numa lama grossa. Afunda o quadril, as costas, a cabeça, os pés e mãos estão de fora. T — Deixe o corpo afundar nessa imagem. Se ficar com medo me avise. Deixe afundar e vá me contando para que eu possa te acompanhar. P — Afundei. Agora parece água de piscina e o escuro é uma parede. T — Tente entrar em contato com essa parede. Passe a mão e veja o que é essa parede. P — É branca. Como ladrilho de piscina. Vou passando a mão e a parte preta vai saindo e vai ficando branca. T — Continue e veja o que acontece. P — Está ficando muito fina (a parede), como papel. Tenho a impressão de que há algo do outro lado. T — Tente rasgar esse papel para ver o que existe do outro lado. P — Rasguei. Mas não tenho coragem de olhar. T — Tente com o tato. Tente enfiar a mão nesse buraco da parede e sentir o que há do outro lado. P — Tenho medo. {E n colhe as m ãos.) T — Quer algo? Uma luva grossa? P — Quero uma vara. O que tem do outro lado é uma pessoa. T — Materialize uma vara e tente entrar no outro lado. P — Estou empurrando a pessoa e vou entrar. Sou eu mesma! E uma outra P, igualzinha, está com a mesma roupa. T — Veja o que te chama atenção nela. 18 P — O sorriso. É um sorriso sarcástico, irônico, ela é má. T — Veja o que ela quer com você. P — Não quer nada. Fica parada com o sorriso. T — Tente se achegar a ela. Se aproxime ou toque nela. P — Não consigo. Quero sair daqui. T — Então, vamos. Para onde quer ir? P — Vou ficar! Quero entender o que se passa. T — Então, fique e veja o que vai acontecer. P — Ela está crescendo! Está ficando enorme! Bato na cintura dela. T — Olhe para ela e veja o que lhe chama a atenção. P— A indiferença. Ela me olha com indiferença. Tem uma cara de bra va. Parece irritada. T — Tente ver que tipo de irritação é essa. P — Ela cresceu mais. Estou batendo no joelho dela. Estou com medo de ficar aqui. Ela pode me machucar se ela quiser. Vou ficar no canto da parede. T — E agora? O que está acontecendo? P — As pernas dela. Estão ficando brancas. São as pernas da minha mãe. T — Vá olhando e vá me contando o que está vendo. P — Ela está de sapato de salto alto. Tem uma saia azul-marinho que bate no joelho. Blusa branca com bolas e o cabelo está penteado. T — O que você deseja fazer com ela? P — Quero ficar perto dela. T — Então saia do seu canto e fique perto dela. P — Ela nem me olha. Está brava. Parece que eu a incomodo. Ela está mais interessada em arrumar a sala para a festa. T — O que ela está fazendo? P — Ela está arrumando a mesa com toalhas, cristais e flores. Eu estou no canto da parede. T — Mas, você ainda deseja ficar perto dela, apesar da irritação? P — Quero, mas tenho medo. T — Fique invisível e vá. P — Estou indo. Tenho vontade de puxar a toalha da mesa e quebrar tudo. '!’ — Pois faça isso. P — Ela vai ficar furiosa! T — Você não está invisível? Ela nem vai notar que foi você! P — Puxei a toalha! Caiu tudo no chão! Ela está furiosa. Eu dei uma gargalhada, mas ela não me vê. I Continue invisível e veja se você quer fazer algo mais. P Não. Quero ir embora brincar. I - Então vá. Para onde está indo? P Estou no pátio da escola. Tem várias meninas brincando. Estão de uniforme azul e meia branca. Eu também estou vestida assim. 19 ! Tem alguém que lhe chama a atenção? P Tem uma menina loira com uma boneca. É uma boneca importada. Tenho vontade de brincar com ela, mas ela tem uma cara brava. T — Tente, se achegar. P — Estou brincando. Ela está com uma cara melhor. Estamos brincando de pentear a boneca, trocar roupa e pôr para dormir. T — Está bom. Onde você está? P — Está muito bom. Estamos no topo da escada. As outras meninas estão juntas. T — Tente ver essa cena de fora e me descreva. P — Estou me vendo (eu menina) brincando com as outras meninas. T — O que você tem vontade de fazer? P — Ficar olhando. E se ela (eu menina) precisar eu estou aqui. T — Tire uma foto dessa cena que vamos interromper essa vivência. P — Tirei. Vou pôr num porta-retratos. T — Muito bem. Vá voltando para a sala. Mexa seu corpo para podermos comentar um pouco sobre tudo isso. P — (A bre os olhos, o lha para mim e d ep ois para os co leg a s.) T — Levante-se e vá para seu lugar. P — Que sensação estranha. Parece que passou muito tempo. Me esque- ci totalmente de que estava nesta sala. P rocessa m en to Afundando na lama — Modelo de Defecador. Entrando em contato com um núcleo depressivo. Parede branca — Entrando em contato com um núcleo de carência. Modelo de Ingeridor. P x P (má) — Divisão Interna. Ela entra, com medo, em contato com o seu lado mau. Lado mau que estava como Material Depositado na Zona de pci e não faz parte do Conceito de Identidade. P x P (grande) — Caminhando para o passado. A P. grande está identificada com adulto (Figura de Mundo Interno) e ela como criança. Pelo tamanho (bate na cintura) imaginamos seis anos. Identifica indife rença e irritação no adulto. P x P ( grande, maior ainda). Vai mais para o passado ainda, supomos que dois anos (bate no joelho). Continua a ver a indiferença e irritação. Precisa se afastar e vai para o canto — Identifica Rejeição e se Deprime. E minha mãe! — Faz a Identificação da Figura de Mundo Interno. Relata posteriormente que a imagem é da mãe daquela época. Mãe — Rejeita a filha. Sente indiferença e irritação com ela. 20 Filha — Quer ficar junto a mãe. Sente que atrapalha. Tem medo de insistir. Deprime-se e fica no canto. Puxa a toalha da mesa — Enfrentamento da Figura de Mundo Interno. Gargalhada — Vingança, como o sorriso que identifica no início da Divisão Interna. Pátio da escola e outras meninas — Volta à idade de sete anos, e tenta se enturmar. Brincar de boneca — Começa a jogar o papel de “mãe que cuida” com a boneca. Está contente. P., na realidade, está tendo conflito com uma das filhas, que está muito deprimida, e se sente com dificuldade de cuidar dessa filha. Olhando ela criança brincar para proteger — Fazendo o papel de “mãe que cuida” em relação a ela mesma. P., adulta, protegendo e cuidan do de P., com sete anos. Assume a proteção da parte rejeitada pela mãe. G. 30 ANOS — FOBIA DE CALANGOS G. relata fobia em relação a calangos (espécie de lagartos). Na esco la, com 15 anos, eles eram muito comuns no interior, onde morava. Conta que eles ficavam tomando sol em um muro perto da escola. Fazia barulho para eles se afastarem. Psicodrama Interno com G., deitada. T — Imagine algum local onde poderíam aparecer calangos. G — Estou imaginando o sítio de minha avó. Há um salão meio aberto onde tem churrasqueira. T — Fixe sua atenção nesse lugar e vá me descrevendo o que você vê lá. G — Tem uma mesa grande com cadeiras, a churrasqueira e umas prate leiras onde são guardadas ferramentas e coisas que não estão sendo usadas. T — Nessa prateleira poderia aparecer o calango. G — Talvez. Não, acho que é no banheiro. T — Me descreva o banheiro. G — Fica perto da sala, é pequeno, tem o vaso, a pia, um box e umas prateleiras de guardar sapatos. Ali pode ter calangos. T —- Ache um lugar para você ficar dentro do banheiro. G — Estou sentada no vaso, sem calças. T — Olhe para a prateleira de sapatos e deixe aparecer um calango. G — Apareceu. (F ic a tensa.) Está atrás de um sapato. Ele ainda não me viu. Tenho medo que ele corra para cima de mim. ’!’ — Não deixe que ele se movimente e faça com que ele te veja. ( i — Ele me viu. Tem os olhos muito espertos. Estou com medo. I' — Paralise a cena. Veja um ponto do banheiro para onde ele possa cor rer, sem ser em sua direção. 21 G — Em direção à porta. T — Deixe ele correr até a porta e paralise a cena. G — Correu. Está parado e a porta está fechada (antes tinha fic a d o aber ta). Agora ele quer vir para cima de mim. Subir pelo meus pés. (E la com eça a sentir m uito m edo.) T — Substitua você por uma boneca de borracha, do seu tamanho. Ago ra, fique em um lugar seguro do banheiro. G — Substituí. Vou ficar em cima da pia. T — O calango não pode subir na pia. Deixe que ele corra em direção à boneca. G — Correu. Está subindo pela perna e pelo corpo. Parou no ombro e está em cima do ombro. Ele é muito folgado. Está tomando sol no ombro dela. T — O que o calango quer fazer agora? G — Está parado. Está começando a descer pelo outro lado do corpo. (Lado direito, e le tinha subido p e lo esquerdo.) T — Deixe ele descer e ir para onde quiser e diga-me o que está aconte cendo. G — Ele desce de forma muito leve, me dá nojo. As patas dele deixam um rastro gosmento. T — Onde ele está indo? G — Desceu pela perna e está voltando para os sapatos. Ele está com medo. T — Tire a boneca e volte a ser você no vaso. G — Ele se escondeu nos sapatos. Está com medo que eu o mate. Mas, eu não tenho coragem de fazer isso. T — Como ele tem medo de que você o mate? G — Esmagando a cabeça dele com um pau. T — Você quer fazer isso? G — Não. T — Você consegue pegar o calango? G — Consigo, mas me dá muito nojo pegar na pele dele. T — Materialize luvas compridas que venham até os ombros e pegue-o. G — Peguei. Ele está esperneando. Peguei-o pelas costas. As patas dão nojo, mas a barriga é amarela e muito bonita. T — Passe a mão pela barriga dele e diga-me o que sente. G — Passei, mas não sinto nada porque a luva é grossa. Ele está querendo fugir. Se eu soltar ele vai andar em cima de mim. T — Você consegue deixar ele andar em você? G — Me dá muito nojo. T — Plastifique seu corpo com um plástico grosso e solte ele. G — Soltei. Ele está em cima da minha cabeça. Ele quer passar pelo meu rosto e vir até a minha boca. Tenho medo e nojo. 22t Substitua você pela boneca. Fique em pé ao lado e ponha uma cordinha no pescoço dele. Assim você pode controlar para onde ele deve ir. ' í Já fiz. Ele está descendo e entrando pela boca da boneca. Desceu e está no estômago. Ele quer deitar lá e ficar protegido. Esse calango é muito folgado! I Deixe ele fazer o que tem vontade. ( í I de se deitou, aconchegado, e fechou os olhos. Ele vai dormir lá dentro do estômago. 1 O que você tem vontade de fazer? • i Eu ainda estou com a cordinha. Tenho vontade de puxar a corda e tirar ele de lá. Ele é muito folgado. Mas se eu puxar a corda posso matá-lo. I O que tem mais você tem mais vontade de fazer? ( I De puxar a corda e arrancá-lo de lá. I Então faça isso. ( i Puxei. Ficou com os olhos esbugalhados e morreu. Está morto na ponta da corda. I O que você tem vontade de fazer com ele? ( I Jogar fora. I Antes disso, tente tocar nele. (> Toquei na barriga. Não é tão nojento, é meio frio. I O que você vai fazer agora? ( i Vou jogá-lo lá no jardim. Joguei-o no fundo do jardim. Vou deixá-lo aí para as formigas comerem. I Onde você tem vontade de ir? I I Estou voltando para a sala. Vou me deitar na rede. I Conte-me o que você está fazendo (■ Estou deitada na rede tomando sol. I Muito bem. Deixe que essa imagem se transforme em um quadro. Vá tomando contato com seu cotpo e voltando aqui para a sala. Nos comentários G. se dá conta de que o calango “é um folgado” e i |uc seu medo vai se transformando em raiva e indignação contra ele. Após matá-lo, consegue um contato direto entre G. e “o folgado”. Depois de alertada pelo terapeuta, ela se dá conta de que após matar o calango folga do ela própria se torna folgada indo tomar sol na rede da sala. Nesse mo mento, identifica o calango com a mãe, que é uma pessoa folgada, que nunca trabalhou e vive às custas do pai. Percebe-se com raiva da mãe e d. tendendo o pai. Percebe também que comprou uma briga entre o pai e ,i mae e comenta: “Ela é folgada porque ele deixa”. Lembra-se de que mandou colocar uma rede na sala de sua casa há sete meses e ainda “não encontrou tempo para deitar-se nela”. 23 S. 32 ANOS — FOBIA POR BARATAS S. relata forte fobia por baratas, a ponto de ter deixado o carro aberto no trânsito e ter corrido, gritando pela rua, por ter uma barata dentro do veículo. Concorda em trabalhar esse medo com Psicodrama Interno. (5. está deitada no centro da sala e o Terapeuta está sentado a seu lado. P sicodra m a de G rupo.) T — Tente imaginar um local habitual onde você possa encontrar uma barata. S — Na cozinha da minha casa. T — Descreva a cozinha. S — Tem uma geladeira, um freezer, uma bancada da pia com o armário suspenso, cadeiras, mesa etc. T — Onde você está? S — Estou em pé, perto da pia. T — Imagine uma barata, mas faça com que ela fique parada. S — Está perto da porta. É bem grande. T — Qual o seu medo? S — Que ela corra em minha direção. T — Marque um ponto distante de você e faça ela correr até lá. S — Marquei, perto da geladeira. Ela correu até lá e está olhando para mim. T — O que ela quer fazer? S — Quer entrar debaixo do armário da pia onde eu estou. (C om eça a apresentar m edo na voz.) T — Deixe-a entrar debaixo do armário, mas não a deixe aproximar-se de você. S — Entrou debaixo do armário. (Súbita tensão na voz e in ício de p â n i co .) Ela está aqui dentro da sala. T — Não se assuste e conte-me onde ela está. S — Está debaixo do sofá, do meu lado direito. T — Faça com que ela fique imobilizada e diga-me como ela está. S — Ela está parada. É estranho. Ela está sentada sobre as patas traseiras como um cachorrinho. T — O que ela quer fazer? S — Subir em mim. Isso eu não suporto. (C om eça a apresentar m edo.) T — Substitua você por uma boneca de borracha de tamanho natural e fique observando de longe. S — Já fiz. Ela está vindo e subiu pela perna da boneca. T — Deixe-a subir e conte-me para onde ela está indo. S — Está subindo pela perna e entrando pela região inguinal. T — Deixe ela ir. Veja onde ela quer ir. S — Ela andou um pouco e parou. Está voltando e subindo pela barriga. 24 T — Veja onde ela quer ir e deixe que pia vá. S — Está descendo pelo lado do corpo e está indo, de novo, embaixo do sofá. Ela não quer a boneca. T — Substitua a boneca por você e diga-me o que acontece. S — Ela virou e quer voltar. (M uito m edo.) T — Você agüenta que ela volte? S — Não. Eu tenho muito medo! T — Ponha um plástico em volta do seu corpo, bem colado, assim ela não entra em contato direto. S — Não dá. Só se for um plástico duro. T — Então, coloque um plástico duro como esses que envolvem brinque dos. S — Coloquei. Ela está vindo e subindo pelo lado do corpo. T — Deixe que ela ande por onde quiser. S — Ela subiu e está andando por cima do meu rosto. Eu vejo ela por baixo, andando por cima do meu rosto. Ela quer entrar na minha boca!! (Surpresa e m edo.) T — Ponha novamente a boneca e veja de longe. S — Ela está parada perto da boca mexendo com as antenas. T — Deixe ela entrar e veja por onde ela quer ir. S — Entrei. (S . assum e o p a p el da barata.) T — Veja para onde vai. Quer ir para o estômago? S — Não. Ela quer subir em direção à cabeça. T — Então deixe ela subir e vá me dizendo o que está vendo. S — É uma espécie de corredor. No fundo tem uma caverna! Nossa!! E um ninho de baratas!! T — Descreva-me o que está vendo. S — É uma caverna cheia de baratas. Elas estão arramadinhas como se fossem ladrilhos. Estão quietinhas. T — A barata quer entrar? S — Entrou. As outras se mexeram um pouco. Só tem baratas aqui den tro. T — O que a barata quer fazer? Ficar aí ou ir para outro lugar? S — Quer ir embora. Está saindo pela boca. T — Paralise a cena e veja onde ela quer ir. S — Ela quer ir embora. Está indo. T — Deixe-a ir. Vá tomando contato com seu corpo e com a sala e vamos conversar um pouco. S., a partir de determinado momento, inverte papel com a barata e descobre “um ninho de baratas dentro da própria cabeça”. Entendemos isso como um “ninho de pensamentos sujos e maus dentro da própria cabeça de S ”. 25 S. relata, nas sessões subseqüentes, uma sensível diminuição do medo de baratas e, ao mesmo tempo, na psicoterapia, começa a abordagem e o aparecimento dos tais “pensamentos sujos”. IV., 40 ANOS — PAVOR A GATOS Psicodrama Interno, feito em grupo de demonstração de técnicas, com IV deitada no chão. T — Respire fundo e relaxe um pouco. Escolha um lugar para encon- trar-se com um gato. IV — Está no fundo do quintal de minha casa. Tem uma churrasqueira, uma parte de terra e uma parte de cimento. Ele está perto da chur rasqueira. T — E você, onde está? IV — Estou longe, depois do corredor. Mas estou vendo ele. T — Como ele é? IV — É preto. Todo preto. Ele está sentado e o pêlo brilha. E muito folga do esse gato. T — Olhe mais para ele e diga-me o que lhe chama a atenção. IV — Não dá para olhar. Tenho muito medo. T — Tente fazer com que ele se movimente lentamente para um ponto mais próximo de você, sem chegar muito perto. IV — Ele andou até uma moita de erva-cidreira. Está mais perto de mim, mas eu estou sumindo. (C om eça a f ic a r m uito aflita .) T — Paralise o gato e diga-me o que ele quer. IV — Ele quer pular no meu peito (M uito aflita.) T — Você consegue colocar uma caixa de vidro em tomo do gato? IV — Não. Só de pensar em chegar perto me dá pavor. T — Então, ponha uma armadura em você. Isso você consegue? IV — Já coloquei. É de ferro. Pega o peito, os braços e vai até o quadril. T — Agora deixe o gato chegar perto de você. IV — Está chegando. Ele anda mole e devagar. Tenho muito medo. Ele está no meu pé. Estou ficando dura. (D efesa conversiva.) T — A sua perna tem alguma proteção? IV — Tem uma calça grossa, de couro. T — O que está acontecendo agora? IV — O gato está arranhando a coxa esquerda. Está rasgando o couro. Estou ficando dura. (Voz de p â n ico .) T — Paralise a cena. Saia da armadura e coloque uma bonecade plástico, do seu tamanho, dentro dela. Fique em um lugar seguro e observe. IV — Corri para o cozinha da casa e estou olhando pela janela. T — E agora, o que você vê? 2 6 IV — O gato está arranhando a coxa dela. Está rasgando o couro e arra nhando a pele. Ela é de carne e está saindo sangue. T — Deixe ele fazer o que quiser, mas vá me contando. IV — Ele está lambendo o sangue. ( Voz de surpresa .) Ele está com raiva! Arranha, sai sangue e ele lambe. T — O que está acontecendo com ele? IV — Ele está crescendo, crescendo, está do tamanho dela. T — O que ele vai fazer? IV — Pulou no peito dela e a derruba no chão. T — E agora, o que ele vai fazer? IV — Está mordendo o pescoço dela. Arrancou a cabeça com o elmo e a cabeça rolou para o lado. T — Veja em que parte o gato está interessado. Na cabeça ou no corpo dela? IV — Ele quer o corpo. Ele quer o coração dela. T — O que ele está fazendo? IV — Ele está tentando enfiar a pata por dentro do pescoço. Quer tirar o coração por dentro do peito. T — O que ele fez agora? IV — Tirou uma bola de carne. Está lambendo a bola de carne. Ele está virando um homem! T — Como é esse homem? Descreva-o. IV — Ele é forte e está sem camisa. Tem um peito (tórax) muito grande. I — E a parte de baixo, como é? IV - Está de calça de brim, arregaçada na canela, cinto marrom e tem as pernas muito fortes. I Veja o rosto dele e me descreva IV Não dá para ver o rosto. Só a boca. Ele está com a boca suja de sangue. Estou com muito medo. (Voz com m uito m edo.) Estou fi cando dura. (D efesa conversiva.) (I. vai fic a n d o cada vez m ais apavorada com o hom em .) Prenda-o numa jaula para você ficar com menos medo. i V Já coloquei. (/. se acalm a im ediatam ente.) Ele está sentado dentro da jaula. I 11 como você está? I istou em cima de uma cadeira, olhando pela janela, e estou sentin do muito frio e ficando dura. I >e que tamanho você está? 1'Nlou bem pequena. < onio você está vestida? < 'o m meu vestidinho cinza xadrez. Estou encolhida e com frio. (/. Iiihi ( om voz de desespero.) 'ú-paic você em duas. A pequena encolhida na cadeira e você gran- do vendo ela. 27 IV — Estou olhando para ela. Coitadinha! Está machucada, ela tem san gue perto do olho esquerdo. Coitadinha! T — O que você quer fazer? Quer pôr algum remédio nela? IV — Eu não sei onde tem remédio. T — Ela está com frio? IV — Tá. Ela está com muito frio. T — O que você quer fazer? IV — Pôr ela no colo. Coitadinha! T — Então ponha ela no seu colo. IV — Eu também estou com muito frio. T — Materialize um cobertor e enrole vocês duas. IV — Agora está bom. Está esquentando. T — Como vocês estão? IV — Ela está alisando meu rosto com a mãozinha. T — E você, o que está fazendo? IV — Estou só abraçando ela. Ela está passando a mão no meu peito. T — O que ela vai fazer? IV — Ela quer mamar. T — Você vai deixar? IV — Vou. Está gostoso. Sinto o corpo quente. T — O que está acontecendo? Vá me contando. IV — Ela está crescendo, não cabe mais no meu colo. T — Deixe acontecer e vá me contando. IV — Ela cresceu e ficou em pé. Estou sentada e ela está em pé entre as minhas pernas. Ela alisa minha cabeça e põe a mão no meu ombro. Eu estou abraçada a ela. T — Faça uma foto dessa cena e guarde-a em algum lugar para inter rompermos essa vivência. IV — Já fiz, guardei no meu guarda-roupas (a que está em pé tem o mes mo rosto que eu, mas de cabelos brancos). T — Vá retomando o contato com o seu corpo e com a sala para conver sarmos um pouco. P rocessa m en to: Nesse psicodrama interno IV. entra em contato num primeiro momento com o objeto de pavor (gato) que se transforma em homem e inicia um trabalho de sua relação com a figura masculina (no dia seguinte, ela relata que o homem é seu pai). Este trabalho fica inter rompido com a figura masculina paralisada (preso na jaula). Em seguida, IV. trabalha sua relação com a figura feminina no binômio proteção/ desproteção. No início do trabalho IV. mobiliza várias vezes Defesa Intrapsíquica do tipo Conversiva e o terapeuta contoma-a utilizando-se de técnicas de distanciamento em relação ao sentir (armadura, boneca e o próprio distanciamento físico — equivalente a Defesa Fóbica). Mais para 28 n mi. mira num mecanismo de Dissociação mente/corpo (gato arranca . . 11. do corpo). Interpretamos a Dissociação como um aprofundamento ! i . ilóguo do trabalho. Mais à frente o terapeuta fica diante de uma op- > mirar no mundo cenestésico de material de l â Zona de Exclusão . n.i/homem lambendo a bola de carne) ou ficar com material de Concei- I. Identidade da 2- Zona de Exclusão. Optou-se pelo terreno mais su- I.. 11o lal pois tratava-se de um trabalho em sala de aula. No trabalho com , hema masculina a cliente chega ao que foi considerado um limite pelo m nipeula quando mobiliza Defesa Conversiva e Fóbica (na janela da casa i laia clisianciamento/endurecida/frio). Daí por diante, iniciou-se o traba lho ( um a ligura feminina. i h.iinatizações Internalizadas < omo já foi dito, as Dramatizações Internalizadas são mais seme- Ihanics às clássicas, utilizando as mesmas técnicas das dramatizações ao m\el do pensamento. A dramatização internalizada é feita com o cliente em posição con- ti n lavei, deitado ou sentado, de preferência com os olhos fechados e ima- s ui.mdo as cenas. A medida que as cenas são imaginadas e verbalizadas, i< lapeuta utiliza consignas verbais para o encaminhamento e a utiliza- ãt» das técnicas. Vou dar um exemplo que foi realizado em sala de aula para demons- tiiK,;io de dramatização internalizada. A aluna é M., de 45 anos. I Feche os seus olhos, relaxe na poltrona e tente identificar uma situa ção ou uma pessoa com quem você tenha alguma pendência não resolvida. N1 I .ocalizei. É Liana, minha sócia, ela me deu um “chapéu”, ou seja, ela mudou de escritório e foi pegar a mudança à noite e escondida. Quando cheguei de manhã ela havia carregado todas as suas coisas sem ter me avisado nada. l Onde você gostaria de se encontrar com a Liana para falar dessas coisas que estão engasgadas? NI No meu escritório. I Descreva seu escritório. i\ l Tem dois módulos para sentar, janelas com cortinas, tapete e algu mas almofadas. 1 Onde você está? M Estou sentada no módulo, de costas para a janela e em frente à porta de entrada da sala. I Deixe Liana entrar, olhe para ela e conte-me como ela está. M Ela está sorrindo, como sempre. É um sorriso falso e me incomoda muito. 29 S -í 2 ^ 2 ^ 2 ^ 2 “i 2 ^ 2- 3 — Então, comece a dizer para ela o que você tem para dizer. — O que eu tenho para te dizer, Liana, é muito pesado, mas eu tenho que te dizer. — Troque de papel com Liana e responda. (L) — Então fala. O que é que é? — Volte ao seu papel e responda — Eu fíquei com muita raiva de você quando cheguei aqui e vi tudo vazio. Você fez uma grande sacanagem comigo e eu fíquei muito puta com você. Eu não merecia isso! Por que você fez isso comigo? — Troque de papel com Liana e responda. (L) — Eu tinha que fazer assim! Você sabe, né! Eu sou desse jeito mesmo. Até quando eu ia ficar falando para as pessoas que estava no mesmo escritório que você? Eu quero ter minhas coisas, minha independência! — Volte para seu papel e diga-me como está Liana. — Está com aquele sorriso cínico. Parece uma máscara! — Observe melhor o sorriso dela e veja se lhe lembra mais alguém. — Lembra o sorriso da minha mãe! É o mesmo tipo de sorriso cínico! — Você se lembra de alguma situação com a sua mãe que se asseme lhe a esta? — Lembro-me. Quando minha mãe saía e não me avisava. Eu acorda va e ela não estava. Eu queria abrir a janela do quarto, mas não conseguia, ficava no escuro do quarto chorando sozinha. — Onde você está agora? — No meu quarto de criança e minha mãe está lá. Eu estou chorando. — Fale para sua mãe o que você tem a dizer. — Mãe, por que você não me avisa quando você sai? Eu fico muito an gustiada quando acordo e vejo que você não está. Memagoa muito. — Troque de papel com sua mãe. (M) — E bobagem essa sua choradeira. Eu fui só até o açougue. É muito rápido! — Volte ao seu papel e responda. — Pra mim este tempo é uma eternidade. Você não imagina o quanto eu sofro, o quanto eu me sinto abandonada. — Olhe para sua mãe e veja o que ela responde. — Ela diz que eu não tenho motivo para chorar e fica me olhando com esse sorriso cínico! É sempre assim! — Traga seu pai para a cena e veja o que ele acha dessa situação. — Já está. Está em pé, perto da porta. — Entre no papel do seu pai e veja o que ele diz. (P) — Eu não tenho nada com isso! Não sei por que você me chamou. Isso é coisa sua e de sua mãe. Vocês que resolvam isso porque eu estou trabalhando. O meu negócio é trabalhar. 30 2 H 2 H — Volte ao seu papel e responda para seu pai. — Você é um babaca. Um omisso mesmo! Nunca toma partido de nada, fica na sua... Que ódio! — O que você tem vontade de fazer? — Quero sair pela janela. (É uma ja n e la baixa que dá para o quintal da casa.) T — Você consegue abri-la sozinha? M — Agora eu consigo. Abri e pulei, já estou no quintal. T — O que você quer fazer agora? M — Vou para a rua e estou andando. T — Vamos interromper neste ponto em que você está andando. Vá vol tando para a sala, respirando fundo e abrindo os olhos bem devagar. Após a dramatização, M. relata estar se sentindo livre e muito leve. Como vocês podem perceber, o manejo da Dramatização In ternalizada é bem diferente do Psicodrama Interno. Na Dramatização Interna lizada não se propõe um aprofundamento e consulta-se a parte cons ciente do cliente. Portanto, não é uma técnica da Psicoterapia na Zona de Exclusão. No Psicodrama Interno propõe-se, desde o começo, um aprofundamento que leva o cliente para o contato com o Material Ex- i luído, caracterizando assim uma Psicoterapia na Zona de Exclusão. 3 DECODIFICAÇÃO DOS SONHOS O sonho é uma m ensagem que o psiquism o envia pa ra si mesmo. \ sim sendo, cabe aqui, obviamente, a pergunta: Por que essa mensagem « in freqüentemente codificada e, na maior parte das vezes, carregada de imbolismos? A resposta é bastante óbvia, na medida em que analisamos a compo- .içáo do próprio psiquismo. Conforme vimos em meu livro A n á lise psicodram ática — Teoria da program ação cen estésica , o psiquismo de uin indivíduo está formado de: P siquism o O rganizado e D iferen cia d o — P O D E o psiquismo que está diretamente ao alcance do consciente do in- ihviduo e engloba as Vivências Conscientes dessa pessoa, sua Cadeia ‘.uperegóica, o Material Justificado e suas Figuras de Mundo Interno. Tudo i . -o forma o C on ceito de Identidade Vigente dessa pessoa. M aterial E x clu íd o e D ep osita d o na Z on a de P C I 2a Zona de Exclusão São vivências (sentimentos, pensamentos e percepções) do indiví duo em relação a si mesmo e aos outros que se chocam de maneira frontal .mi o Conceito de Identidade Vigente e, portanto, passam a ser excluídas desse Conceito, ficando depositadas na Zona de PCI. É material subcons- . lente e fica como que “esquecido” pelo indivíduo. É tamponado pelas delesas intrapsíquicas. 33 M a teria l Justificado São vivências que o indivíduo tem em relação a si mesmo e aos ou tros que não se chocam de maneira frontal com o Conceito de Identidade Vigente e, assim, ficam registradas no POD em forma de Contradições Justificadas. E material consciente, mas não pode ser admitido sem as devidas justificativas. Z o n a s de P siqu ism o C a ótico e Indiferenciado I a Zona de Exclusão São “bolsões” de psiquismo infantil — PCI — que não se transfor maram em POD e ficam excluídos da identidade do indivíduo. É material inconsciente e está tamponado pelos Vínculos Compensatórios. Dessa maneira, podemos responder à pergunta feita inicialmente. O sonho é uma m ensagem que o p siquism o envia p a ra ele m esm o, de uma m aneira codificada, m uitas vezes sim bólica, porque diz respeito a m aterial registrado nas Z o n a s de E xclu sã o d o p róp rio psiquism o. É Material Justificado, Material Depositado na Zona de PCI (2- Zona de Exclusão) ou Material da Zona de PCI ( Ia Zona de Exclusão). Dessa forma, temos quatro tipos básicos de sonhos: A ) Sonhos de C on stata ção Os sonhos de Constatação, como o próprio nome indica, são aqueles que informam ao sonhador vivências que ele tem consciência mas que não pode assumir frente a si mesmo. Os sonhos de Constatação dizem respeito a Material Justificado. Um exemplo típico é o seguinte: Marta teve uma discussão com seu chefe e ficou muito chateada com ele. Ela sonha que está esfaqueando seu chefe. O sonho informa que o sentimento de Marta foi muito além de uma simples chateação, como ela havia admitido para si mesma. Outro exemplo típico: Marta e o marido saem para jantar com Luiz Carlos e Claudia. Marta gosta de dançar com Luiz Carlos e o marido de Marta não gosta de dançar. Durante o jantar Marta dançou com Luiz Carlos, o que acontece com freqüência. Comentam abertamente que gostam mui to de dançar e que formam uma boa dupla. Marta sonha que está tendo relações sexuais com Luiz Carlos, num clima muito erótico. O sonho informa que o que ela sente vai além da dança com Luiz Carlos. 34 Nesses dois exemplos, Marta constata que ficou com ódio do chefe e que sente atração sexual pelo amigo. Sentimentos esses que ela não aceita dentro do seu consciente, na intensidade que o sonho informa. I )entro do Conceito de Identidade Vigente de Marta, esses senti men- ii' não têm lugar na forma em que aparecem no sonho e são vividos de luima abrandada (Material Justificado) como chateação e parceiro para dança. ( )utro exemplo é o sonho de L. L. tem 34 anos, dois filhos e é casada com W. há dez anos. Nos últimos dois anos W. está trabalhando em outra cidade e só vem ver a l.utulia duas a três vezes ao mês. W. não gosta que L. vá à cidade onde ele está trabalhando e não lhe da o endereço de onde mora com a justificativa de que não é um bom lugar para ela. Assim, ela tem apenas o telefone do emprego onde ele I ussa a maior parte do tempo. L. fica revoltada com a situação, mas acaba aceitando este esquema. L. tem o seguinte sonho: “Está andando em um local cheio de gente «• que parece o lugar onde W. trabalha. Está procurando por W. Encontra \ ui ias pessoas conhecidas pelas diversas dependências até que chega num ..dão onde vê W. junto com uma mulher. Essa mulher é companheira de liabalho de W. e L. sabe disso. Nesse momento, ouve as pessoas ao redor « omentarem que W. e a companheira de trabalho têm um caso há dois anos. L. fica muito angustiada e acorda”. L. telefona para uma amiga e confirma o que o sonho acabara de lhe Informar. W. realmente tem um caso com a companheira de trabalho há mais ou menos dois anos. Na verdade, L. tinha suspeitas dessa situação e até muitos indícios, - nlictanto, não “queria saber”. No decorrer da psicoterapia vimos que L. nao admitia que W. pudesse preferir outra mulher que não ela. Neste caso, ■ ■ amho constatou uma percepção de L., que no seu Conceito de Identida de Vigente era abrandada e justificada como “esquisitices” de W. Os sonhos de Constatação não necessitam de interpretação. A im- Iii n lância terapêutica é o cliente poder constatar, sem as devidas justifica- livas, seus verdadeiros sentimentos, pensamentos, percepções, intenções, i a ido em relação a si mesmo como em relação aos outros e ao mundo em geral. B) Sonhos da 2- Zona de E xclu sã o São sonhos que trazem à tona Material Excluído e Depositado na /ona de PCI. Começa a ser Excluído do Conceito de Identidade a partir de dois iinos e meio a três anos de idade e continua por toda a vida. As fases em 35 que existe maior “depositação” de Material Excluído são as de Triangulação (4 a 6 anos), Homossexual (9 a 13 anos), de Transição (13 a 16 anos) e na Adolescência em geral. As situações de intensos conflitos emocionais também geram uma maior depositaçãode Material Excluído. O Material Excluído checa, de maneira frontal, o Conceito de Iden tidade Vigente e, portanto, no sonho ele aparece de forma codificada e simbólica, necessitando de uma decodificação e interpretação para poder ser entendido e assimilado pelo POD. A importância terapêutica desse tipo de sonho é que ele significa um contato da esfera consciente do indivíduo com suas vivências excluídas. Mesmo que seja aparentemente incompreensível, é um contato que per mite ao cliente ir se familiarizando com os temas, sentimentos e vivências contidos nesse material. No entendimento da psicoterapia dentro da Zona de Exclusão, o terapeuta não deve tentar forçar uma interpretação do sonho, e, sim, ten tar ao máximo decodificar as mensagens simbólicas e as relações existen tes entre os elementos do sonho de modo a estimular o psiquismo do cliente a continuar sonhando. Na minha experiência, os sonhos tendem a se tornar seqüenciados e cada vez menos simbólicos, até que o Material Excluído vá se tornando consciente e facilmente interpretável. Desta forma, é fundamental que o terapeuta tente sempre fazer al gum tipo de comentário sobre o sonho. Mesmo sem interpretar, os comentá rios sobre o sonho estimulam o cliente a continuar a sonhar, permitindo, assim, o afloramento do Material Excluído. Q u em tem de interp reta r o so n h o é o p r ó p r io clien te. C a b e ao terapeuta d eco d ifica r as m ensagens, p o ssib ilita n d o que o clien te volte a sonhar, até que o sonho se torne claro. O clien te sem pre sabe, em bora esteja p roib id o de sa b er o que o sonho realm ente qu er dizer. Esse tipo de sonho é o que mais desperta a curiosidade dos terapeu tas e dos clientes e é também o mais comum no processo de psicoterapia. Para facilitar a abordagem do sonho, tracei seis passos que norteiam a interpretação do sonho. 1. Clima Afetivo do Sonho Chamo de clima afetivo do sonho aquele em que o indivíduo sente durante o sonho. Não se inclui no clima afetivo do sonho o que o indiví duo tem ao acordar, pois este já pode estar contaminado com reações afetivas ligadas aos processos conscientes. 36 (.•liando acorda de um sonho, o indivíduo p a ssa de uma vivência de , uh is de psiquism o exclu íd o do C o n ceito de Identidade Vigente para as i n em ias do P siqu ism o O rganizado e D iferen cia d o — P O D — e, p orta n to dentro do C o n c e ito de Id en tid a d e Vigente. Essa transição pode, «miiiinente, acarretar climas afetivos. O mais comum é o p â n ic o , pois ih 'i alguns instantes a pessoa fica desorientada entre a vivência do Mate- ibil 1 .xcluído e a retomada do Conceito de Identidade Vigente. Isso expli- • | >1 que, muitas vezes, as pessoas acordam em pânico quando no sonho ,i sensação não existia. Muitas vezes, aparecem sentimentos ligados ii ' valores morais, tais como vergonha, culpa, constrangimento etc., que não estavam presentes durante o sonho. São sentimentos ligados ao Con- . ito dc Identidade e reativos às vivências do sonho. Só fa zem pa rte d o C lim a A fetivo d o Sonho os afetos sen tidos durante a •uinlio e os que perduram e continuam presen tes ao acordar. Nesses . r.os, o clima afetivo do sonho continua com o indivíduo acordado. Um Pi mais comuns é a excitação erótica e também situações carinhosas. É um sinal de que essas vivências já estão próximas de serem assimiladas pell) POD. Quando o clima afetivo do sonho não é contaminado pelo conscien te ele pode permanecer presente por várias horas e até mesmo por dias, rmpre seguido por uma tênue sensação de irrealidade. Às vezes, o clima afetivo está claramente identificado no sonho. Por emplo: medo, perseguição, opressão, raiva, tristeza, alegria, amor, ódio rii\ Outras vezes, necessita de decodificação, tal como frio (abandono, nlidão, desamparo), gelo (ódio, dureza), sol, quente (alegria, aceitação) dc. E, ainda, pode não estar no sonhador, que permanece como um obser- •ulor neutro, e sim nos personagens ou elementos do sonho. A importância terapêutica de identificar o Clima Afetivo do Sonho é i dc que este é produzido p e lo M ateria l E xclu ído, sem a cen sura da Ca- tleia Superegóica e das Figuras de M undo Interno, sen do portanto um < lima Afetivo ligado ao Verdadeiro E U do indivíduo. Época do Sonho Definimos a época do sonho como sendo a fa s e do desenvolvim ento p sico ló g ico e a idade em que o m aterial presente no sonho f o i vivido, (■ xcluído do C o n ceito de Identidade e deposita do na Z on a de P C I. A importância terapêutica em se determinar a época do sonho é a de que temos alguns parâmetros para pesquisar as vivências da época e, com isso, facilitar a compreensão do sonho. Por exemplo: um sonho em que, 11a época, o cliente tinha 12 anos de idade, já nos informa que o Material I xcluído pode estar ligado à Fase Homossexual do desenvolvimento da 37 Identidade Sexual, da ligação afetiva com o Grande Amigo/a, da reorga nização dos Modelos Internalizados femininos (cliente mulher) ou mas culinos (cliente homem). Ou, ainda, fatos ligados aos dramas individuais da pessoa nessa época, tais como: separação dos pais, mudanças de cida de ou de status, morte de entes queridos ou inúmeras outras situações que abalaram o Conceito de Identidade dessa pessoa. Já um sonho cuja época abranja os quatro anos de idade nos informa de Material Excluído que pode estar ligado à Fase da Triangulação ou circunstâncias da vida dessa pessoa, tais como nascimento de irmãos, en trada na escola maternal etc., desde que tenham abalado o Conceito de Identidade. Em sua grande maioria, existem elementos que possibilitam desco brir a época do sonho. D e i o nom e de M arcadores de É p o ca a esses elem entos. O s M arcadores de É p o ca sã o elem entos, p esso a s ou ob jetos que ch a maram a atenção do sonhador, durante o sonho, m as que não participam do enredo. Os Marcadores de Época mais comuns são: Pessoas — Crianças ou filhos que aparecem com a idade que o so nhador tinha na época do sonho, pessoas do passado com a idade compatível com a do sonhador na época (ex. a mãe aparece com trinta anos e, na época, o sonhador tinha seis anos); pessoas já falecidas e que na época eram vivas; pessoas que participaram de apenas determinada época da vida do sonhador (colegas de escola, por exemplo). Essas pessoas podem ser Marcadores de Época se o seu aparecimento no sonho chama a atenção do sonhador, mas elas não participam do enredo do sonho. Às vezes, o Marcador é o próprio sonhador com outra idade. Locais — Os mais comuns são casas ou cômodos de casas que o sonhador frequentou durante sua vida, colégios, ruas, cidades, clubes, sí tios, praias, enfim, locais em que ele teve contato durante sua vida. Objetos — Móveis, brinquedos, roupas, jóias, carros, barcos e um sem-número de objetos que o sonhador têm gravados em sua mente e que podem determinar uma época de sua vida. Situações — Também servem como marcadores de época. Como por exemplo, mudanças, andar a cavalo, pescaria, dançar etc. Para se identifi car a época é necessário pesquisar. “Quando é que você costumava andar a cavalo?”, “Quando aconteceram mudanças de casa na sua vida?” ou “Quando você costumava pescar?” etc. 38 | essas sejam as formas mais comuns de se identificar o | j rt(. : i „ de Época, ele pode aparecer de inúmeras outras formas, mas é um elemento que chama a atenção do sonhador, durante o sonho, um*i p.ulieipa do enredo do sonho. i | I' di lentos do Sonho < )■• I ilementos do Sonho são pessoas, personagens, animais, objetos, jp u elementos físicos (água, fogo, terra, água, ar, fumaça etc.), vege- , ,i minerais, acidentes geográficos, sol, lua, claro, escuro, frio, calor , i, , |iie ajudam a compor o Clima Afetivo do Sonho e que fazem parte juh yianle do Enredo do Sonho. Os Elementos do Sonho interagem com ,i uihador, são observados por ele ou interagem entre si, observados Rflo sonhador. I >ivido osElementos do Sonho em três tipos, excluindo o Marcador l. Época que também é um Elemento do Sonho. ile m e n to s de Enquadre — São os que dão enquadre ao sonho, ou |u, onde ele acontece, tais como casas, parques, ruas, cidade, sítios, carro, ônibus, navio, avião, porão de casas etc. Quando não são Marcadores de I poca, esses elementos, freqüentemente, são extensões do Eu do próprio indivíduo. Por exemplo: o sonho acontece no porão de uma casa e esse poiáo pode ser uma parte do mundo interno do cliente. Elem entos S im b ólicos — São aqueles que trazem significado para o [•medo do sonho mas estão representados por objetos, animais, persona gens, locais, elementos físicos etc. Por exemplo: escuro pode ter um sig- míicado de material pouco consciente; um panoram a árido pode signifi car um núcleo de carência, uma igreja ou cruz pode significar um superego religioso; gelo pode estar significando ódio, dureza ou ausência de emo- ções; uma cobra pode ter significado de pecado ou tentação, significado sexual ou, então, de mulher. Os Elementos Simbólicos devem ser pesquisados de forma a m obili zar o significado que aquela sim bologia tem para o clien te e não o seu significado universal. Muitas vezes, uma simbologia universal pode ter um significado muito diferente para o cliente. Por exemplo: no sonho de R. aparecia em determinado momento uma bandeira com a suástica nazista. Na simbologia consensual isso re presenta uma época de perseguição e violência, mas, para R., lembrou- lhe de uma fase em que tinha uma relação afetuosa com o pai, que costu mava ler as histórias da Segunda Guerra para ele. 39 .wu as pessoas conhecidas ou desconhecidas, que íipair. nu no sonho contracenando ou não com o sonhador. Muitas vezes, '..u> .mistas, personalidades, pessoas do presente em sonhos do passado que estão representando os verdadeiros personagens. Chamo a essas pessoas de “dublês”. 4. Relação entre o Sonhador e os Elementos do Sonho Durante o sonho, o sonhador estabelece relações entre ele e os Ele mentos do Sonho ou, então, observa as relações que esses elementos esta belecem entre si. Essas relações vão formar o E nredo e, normalmente, são carregadas de afetos, tais como: raiva, impotência, dominação, desespero, perseguição, erotização, indiferença, alegria etc. O Enredo do Sonho é a mensagem que o psiquismo está enviando, para ele mesmo, de forma co dificada. Na medida em que conseguimos estabelecer relações entre o sonha dor e os elementos do sonho, este começa a ganhar uma estrutura lógica mais compatível, para uma melhor compreensão tanto por parte do clien te como do terapeuta. Sonhos com muitos elementos simbólicos têm muito pouco enredo e mostram Material Excluído que está começando vir à tona do consciente mas ainda de forma muito desorganizada. Esses sonhos têm pouco valor interpretativo e apenas os principais elementos devem ser apontados. Eles significam que o cliente está mobilizando Material Excluído, o que é sem pre um bom sinal na psicoterapia. Sonhos que apresentam um enredo, mesmo que com algum simbolismo, já representam material excluído or ganizado e perto de ser conscientizado e assimilado pelo POD. 5. Relato do Sonho Uma vez identificado o Enredo do Sonho e estabelecida alguma es trutura lógica, o terapeuta deve relatar o sonho p a ra o cliente, isto é, con tá-lo, inclu indo as ob serv a çõ es sobre o clim a afetivo, a época, os p o s síveis significados sim b ó lico s e a relação entre os elem entos. É fundamental que, durante o Relato do Sonho, o terapeuta não colo que suas interpretações pessoais. Ele deve tentar decodificar ao máximo as nuances do sonho do cliente. A importância terapêutica do Relato do Sonho é que, embora muitas vezes ele não faça sentido para o terapeuta, ele o faz para o cliente e, 40 seguramente, mais ainda ao seu psiquismo, mesmo que este não esteja cons ciente. A prova disso aparece, com freqüência, nos sonhos subseqüentes, que surgem quase que como encomenda, trazendo a continuação do pri meiro sonho. Podemos dizer que o Relato do Sonho é feito diretamente para o Psiquismo do Cliente e, além de organizar o Material Excluído que está vindo à tona por meio do sonho, é um convite e um estímulo para que o cliente volte a sonhar. 6. Interpretação do Sonho Após o Relato, o terapeuta vai interpretar o sonho. A Interpretação é um entendim ento p s ic o ló g ic o da m ensagem do sonho. A Interpretação do sonho é sempre uma hipótese do terapeuta e só vai ser verdadeira na medida em que fizer algum sentido emocional para o cliente. O terapeuta vai utilizar-se de todo o material do sonho (clima afetivo, época, simbologia e enredo) e dar-lhe uma linguagem técnico- psicológica. Tentará entender o sonho dentro da dinâmica da personalida de do cliente, da fase da psicoterapia e do momento de vida desse cliente. Além disso, vai avaliar os acontecimentos importantes que antecederam esse sonho e correlacioná-los a outros, que o cliente estiver tendo. No Relato do sonho o terapeuta deve utilizar-se da linguagem do próprio sonho e, na Interpretação, da linguagem do entendimento psico lógico. N o R elato do Son ho o terapeuta está trabalhando o M a teria l de E x clusão, dentro da p róp ria Zona de E xclusão, e na Interpretação d o Sonho o terapeuta está tentando trazer o M ateria l de E xclu sã o para a esfera do consciente. Portanto, confrontando-o com o C on ceito de Identidade. Na minha experiência tenho utilizado muito mais o Relato do So nho, até que o psiquismo do cliente possa ir trabalhando esse sonho e trazendo outros, cada vez mais claros, tanto ao nível do enredo quanto dos símbolos para depois lançar mão das Interpretações. Uso a Interpreta ção quando o sonho já está quase que interpretado por si próprio. C ) Sonhos da I a Z on a de E xclu sã o São sonhos que dizem respeito ao Material da Zona de Psiquismo Caótico e Indiferenciado — PCI. O Material que compõe a Zona de PCI é Cenestésico, está excluído da Identidade e tamponado pelo Vínculo Compensatório. Como a exclu são da Zona de PCI acontece por volta dos dois anos de idade, as vivências nela registradas não sofrem uma evolução com o resto do psiquismo, fi- 41 Iho, com rendinhas, por um novo, florido. Ao sair, vejo uma mulher, que loma conta dos banheiros. Digo a ela que já troquei o sutiã e que o outro ela pode jogar fora”. No entendimento da seqüência de sonhos de N., ela abandona uma identidade feminina antiga (sutiã velho) ligada aos modelos da avó e da mãe e a substitui por uma identidade feminina baseada em seus próprios valores de ser mulher (sutiã florido). Outro sonho de reparação de N. ocorre após ter trabalhado a relação entre a separação dos pais e começar a tomar um novo rumo em sua pró pria vida, sem ser em função deles. Sonho: “Entro numa casa que foi sendo ampliada e vou descobrindo vários cômodos. Os cômodos foram sen do agregados por diferentes reformas. A casa não tem luz e é toda iluminada com velas em castiçais. Vejo uma mulher passar por um cômodo parecida com a arquiteta que reformou meu apartamento. Estou conversando com um homem na sala quando noto que uma lâmpada está acesa. Digo que a luz já chegou e começo a apagar as velas”. No entendimento, esta casa é o próprio Eu de N., que durante a psicoterapia foi se ampliando e sendo reconhecido. As velas foram luzes de entendimento que foram sendo acesas a cada descoberta de novos com partimentos afetivos. A chegada da luz representa uma retomada do con tato de N. com ela mesma e a finalização do processo de materiais excluí dos. Podemos entender melhor este sonho se o compararmos ao que ocorreu duas noites depois. N. sonha: “Estico a cabeça e vejo um poço escuro e muito profun do. Estou puxando uma corda, como se fosse um poço de água, e na ponta tem um balde. Vejo uma manivela, mas não faço uso dela. Estou pu xando a corda e esta vem cheia de musgos e material decomposto. Vou puxando e nãoacaba nunca. Não vejo o fundo do poço e as cordas vão ficando no chão formando grandes bolos de material decomposto. Olho e vejo vários buracos no chão. Penso que preciso enterrar essas cordas. Acabo de puxar e enterro-as. Olho para o poço e ele está totalmente claro e azu- lejado. Olho para onde enterrei as cordas e vejo que está nascendo grama. Penso que o lugar vai ficar muito bonito”. As cordas e o material decomposto são todas as vivências excluídas que N. foi trabalhando ao longo desses anos de terapia. O poço escuro é a própria Zona de Exclusão que vai se tornar clara e incluída no psiquismo. O material enterrado é elaborado e se transforma em vivências e compor tamentos (grama) novos. Outra seqüência de Sonhos de Reparação acontece com V., 53 anos. V. vem trabalhando na terapia uma dificuldade em assumir posturas na vida e com as mulheres com maior carga de energia masculina. V. é hete rossexual, mas assume sempre uma postura maternal/paternal na vida e com as mulheres. 44 V. sonha: “Estou amassando com as mãos a cara de um leopardo. Passo a mão e aperto o maxilar do leopardo até deformá-lo”. Em seguida, V. sonha: “Estou indo para uma casa procurar o E. (neto, com dois anos de idade). Vejo a casa e sei que E. está lá e está bem. Vou chegando perto e vejo que, de repente, uma espécie de campanário cai da casa. Nesse momento, estou na rua, atrás da casa deitado em uma cama. De repente, grito: ‘Sai para lá, sua puta!’. Imediatamente, dou um enor me urro de leopardo”. Outro sonho de V.: “Estou dentro do mar e vejo um bebê, do sexo masculino, que é uma espécie de feto. Ele flutua, imerso na água, e eu também. Sinto as sensações do feto e sei que está muito gostoso”. Em seguida, V. sonha: “Estou dentro do mar e vejo E. (o neto de dois anos); estamos brincando e está muito gostoso”. No entendimento V. amassa, reprime e contém sua agressividade (energia masculina - leopardo). Vai à procura de E. (neto com quem se identifica e que em sonhos anteriores várias vezes tinha sido perdido no mar). Entendemos que o campanário caindo é uma libertação do menino e, no mesmo sonho, V. se liberta de uma mulher, que exerceu uma função repressora em sua vida, libertando-se da energia masculina (leopardo). Entendemos que o campanário e a mulher que sai da cama dele são o mesmo elemento repressor. O feto é a identidade masculina (energia masculina) de V. se libertando e crescendo. E. é resgatado no próprio mar (ambiente feminino) onde tinha sido perdido (engolido por uma onda em sonhos anteriores) e interage com V. (brincando). E. é a identificação que V. faz com sua própria identidade masculina. Na seqüência dos sonhos de V. ele passa a resgatar elementos que estavam na mão das mulheres e, em especial, da irmã, assim como sonhar com cenas de agressividade com antigos desafetos masculinos. Exemplos de Decodificação de Sonhos Ma., 36 anos, sonha o seguinte: “Sonho que estou no hospital onde trabalho (Ma. é psiquiatra) e vejo vindo em minha direção uma mulher com o olhar perdido e vago. Sinto muito medo e começo a fugir dela. Passo por uma passarela que une o hospital a um outro prédio (na verdade não existe essa passarela) e entro correndo. E uma espécie de refeitório e noto uma cristaleira. A mulher vem atrás de mim e corro em direção a uma outra mulher para me proteger. Acordo assustada”. C lim a A fetivo do Sonho — E um sonho de medo e de fuga. M arcador de É p o ca — É a cristaleira (elemento que chama a aten ção do sonhador mas não entra no enredo do sonho). Ma. relata que a 45 cristaleira do sonho é igual à da casa da avó, que ela freqüentava até mais ou menos sete anos de idade. É, portanto, um sonho de material excluído na infância, até os sete anos de idade. E lem en tos do Sonho E lem en to de Enquadre — O hospital (presente) e depois o refeitório (não identificado pela cliente). E lem en tos S im b ólicos — A passarela (ligação entre presente e passa do, visto que o refeitório está ligado com vivências dos sete anos (crista- leira/avó). Personagens — Mulher com olhar perdido e vago (loucura ou histe ria) e Mulher do Refeitório (que protege e pode se relacionar com comi da, pois Ma. tende a comer quando está ansiosa). R ela çã o entre os Elem entos Sonhador versus Mulher com olhar perdido — Medo e fuga. Mulher com olhar perdido versus sonhador — Vem ao encontro (tenta estabelecer contato). Sonhador versus Mulher do Refeitório — Proteção. R elato do E nredo do Son h o (feito pelo terapeuta) É um sonho que diz respeito a sua relação com as mulheres (Ma. é mulher). Você está no hospital e ameaça entrar em contato com uma vivência de loucura ou histeria (mulher de olhar perdido e vago) que lhe dá medo. Ao fugir, entra em contato com uma vivência do passado (sete anos) onde, provavelmente, teve alguma vivência semelhante com algu ma figura feminina da época e buscou refúgio em outra figura feminina que está identificada com comida. Interpretação d o Sonho Uma interpretação possível é que Ma. foge de seus sentimentos amor tecendo-os (olhar perdido e vago), dissociando-se deles, e compensa isso fazendo um vínculo compensatório com a comida, que está identificada com uma figura feminina do passádo (vínculo de amor e proteção). Fa., 34 anos, tem o seguinte sonho: “Sonhei que estava viajando de navio com Na. (a filha, de onze anos). Estava procurando Na. desespera damente. Eu sabia que havia um estuprador a bordo e que ele a tinha raptado. Depois de muita procura e desespero, passo por vários capachos enrolados e noto algo estranho. No meio de um deles encontro Na., morta e degolada. Eu tinha certeza de que ela havia sido violentada antes de morrer. Olho para ela e tenho a sensação de que ela sou eu”. 46 C lim a Afetivo do Sonho — Desespero e procura. M arcador de É p oca — E a própria filha de 11 anos e, portanto, é material que foi excluído ao redor dos 11 anos da cliente. Elem entos do Sonho E lem en to de E nquadre — Viagem de navio/o próprio navio. Fa. rela ta que visitava navios quando ia para Santos quando tinha entre 9 e 13 anos, e uma viagem de navio aos 16 anos. Elem entos S im b ólicos — Vários capachos empilhados (lembranças/ vivências guardadas e possivelmente “esquecidas”), menina morta e de golada (vivências amortecidas e dissociadas — Dissociação mente/corpo). Personagens — Menina de 11 anos e Homem estuprador não identi ficado. R ela çã o entre os E lem entos Sonhador versus Menina — Procura e desespero com o que possa ter acontecido. Estuprador versus Menina — Abordagem sexual. Sonhador versus Menina (morta e degolada) — Identificação como sendo a mesma pessoa R elato do Enredo do Sonho (feito pelo terapeuta.) E um sonho que levanta vivências possivelmente ocorridas ao redor de seus 11 anos de idade e ligadas ou à época em que freqüentava Santos ou à viagem de navio que você fez. Você procura desesperadamente Na. (você mesma com mais ou menos 11 anos) e teme que tenha sido aborda da sexualmente por um homem (estuprador). Encontra-a em vivências “esquecidas” (capachos empilhados) e constata que, realmente, aconte ceu algum tipo de abordagem sexual entre esse homem e você aos 11 anos. Mas essas vivências estão amortecidas dentro de você (menina mor ta) e também estão dissociadas entre seus sentimentos e suas lembranças (menina degolada). Interpretação do Sonho Uma interpretação possível é que Fa. está entrando em contato com um lado seu de pré-adolescente, em quefoi/imaginou ou desejou ser abor dada sexualmente por um homem erotizado e essa vivência está amorteci da e dissociada dentro dela. Vi., 38 anos, tem o seguinte sonho: “Sonho que estou saindo num Fiat Tipo preto (ela tem, na verdade, um Fiat Tipo prata) para experimen- 47 tar o carro. Estou junto com De., 13 anos (enteada). De repente, fica escu ro e não consigo acender o farol. Dirijo com medo, pois estou sem farol e está escuro. Quero voltar para casa, mas me dou conta de que estou muito
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