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DIAZ, VICTOR - Sonhos e Analise Psicodramatica

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VICTOR R.C. DA
SONHOS E
PSICODRAMA INTERNO
SON H OS E PSICO D RAM A INTERNO
N a A n á lis e P s ic o d ra m á tic a
Em obra anterior, Análise psicodramática Teoria da programação cenestásica 
Victor Dias lançou as bases de uma nova conceiluação. Com este livro, ele 
dá continuidade ao desenvolvimento de sua teoria, apresentando o conceito 
de psicoterapia nas Zonas de Exclusão.
Para o autor, todo processo psicoterápico consiste de alianças entre aspectos 
da parte "sadia" de uma pessoa (entendida como sinônimo do Conceito de 
Identidade) e da parte "doente" (equivalente ao Conceito de Material 
Excluído). O grande entrave seria que a abordagem do Material Excluído 
mobiliza tanto as defesas intrapsíquicas quanto os vínculos simbióticos, 
funcionando como bloqueios ao desenvolvimento da terapia.
Mas, Victor Dias não se limita a teorizar sobre o assunto. Apresenta, em 
seguida, métodos para a utilização do psicodrama interno, de sensibilização 
corporal e de sonhos a serviço do Material Excluído - sem trazê-lo à 
consciência - evitando, assim, que mobilize bloqueios.
Um trabalho que, certamente, agrega ao repertório do Psicodrama uma 
obra original, prática e criativa.
Victor Roberto Ciacco da Silva Dias
E psiquiatra formado pela Faculdade de 
Medicina da Universidade de São Paulo, 
professor e supervisor em Psicodrama, 
fundador e coordenador da 
Escola Paulista de Psicodrama EPP
ISBN B5-71B3-527-6
88571 835276
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Dias, Victor R. C. SilvaSonhos e psicodrama interno na análise psicodramática / Victor R. C. Silva Dias . — São Paulo : Ágora, 1996.Bibliografia.ISBN 85-7183-527-61. Psicodrama 2. Psicodrama - Teoria 3. Sonhos I. Título.
96-3298 CDD-150.198índices para catálogo sistemático:1. Psicodrama : Método psicanalítico2. Psicodrama : Teoria3. Sonhos e psicodrama : Método psicanalítico 150.198150.198 150.198
SONHOS E PSICODRAMA 
INTERNO NA ANÁLISE 
PSICODRAMÁTICA
Victor R. C. S. Dias
AGORA
Sonhos...
“Eu me conto, em segredo, verdades ocultas 
que sempre soube mas que não podia 
saber. E, neste jogo ardiloso, vou 
descobrindo, surpreso e perplexo, aquilo 
que sou mas que não podia ser. Mas, 
sempre fui sem poder saber!
Eu sonho!”
“Um dia sonhei que era eu e quando
acordei descobri que vivia um não-eu
Mas, em que enrascada danada eu tinha me metido,
pois vivia no sonho e sonhava na vida.”
Victor
SUMARIO
In tro d u çã o ............................................................................................. 9
1. Psicoterapia nas Zonas de Exclusão............................................... 11
2. Psicodrama Interno e Dramatizações Internalizadas..................... 15
3. Decodificação dos Sonhos............................................................... 33
4. Sensibilização Corporal................................................................... 53
5. Átomo Familiar e Átomo Social...................................................... 59
6. Compulsões e Dependências........................................................... 65
7. Dinâmica do Suicídio...................................................................... 75
8. Iniciando um Psicodrama de Grupo.............................................. 89
9. Técnicas Psicodramáticas............................................................... 99
10. Sistemática de Supervisão............................................................. 109
11. Sentimentos e Síndrome do Pânico.............................................. 123
B ib lio g ra fia ........................................................................................... 131
INTRODUÇÃO
Neste meu terceiro livro, que é uma seqüência de meus trabalhos 
anteriores, quero apresentar a vocês um novo conceito, o da Terapia nas 
Zonas de Exclusão.
Dentro da Teoria de Programação Cenestésica* criei o conceito de 
Zonas de Exclusão, sendo a lâ Zona de Exclusão constituída de vivências 
cenestésicas e tamponada pelos Vínculos Simbióticos e a 2- Zona de Ex­
clusão constituída de vivências de sentimentos, pensamentos e percep­
ções, tamponadas pelas Defesas Intrapsíquicas.
Todo o processo psicoterápico consiste em fazer uma aliança com a 
parte “sadia” do indivíduo para abordar sua parte “doente”, considerando 
aqui a parte sadia como o Conceito de Identidade e a parte doente como o 
Material Excluído. O grande entrave da psicoterapia é que a abordagem 
do material excluído mobiliza tanto as defesas intrapsíquicas como os 
vínculos simbióticos que funcionam como grandes bloqueios no desen­
volvimento da terapia.
Utilizando Psicodrama Interno e Sensibilização Corporal fui de­
senvolvendo uma postura de tentar trabalhar o material excluído sem 
torná-lo consciente e, desta forma, não mobilizar os bloqueios. Passei 
a trabalhar o material simbólico mobilizado no psicodrama no próprio 
psicodrama interno, sem tentar qualquer identificação racional por parte 
do cliente, assim como passei a trabalhar as vivências corporais con­
trapondo-as a outras, sem a interferência do racional do cliente. Esta 
postura foi se concretizando na medida em que foram aparecendo re­
sultados bastante animadores, pois o Conceito de Identidade está “proi-
* Análise psicodramática: Teoria da programação cenestésica. São Paulo, Agora, 1994.
9
hido” de assimilar o Material Excluído, portanto, a consulta racional 
geralmente dá uma informação equivocada ou mobiliza os bloqueios. 
O trabalho com os bloqueios, sejam eles defesas intrapsíquicas ou vín­
culos simbióticos, oneram a psicoterapia em tempo e em angústia.
A partir dessa experiência, comecei a trabalhar com os sonhos da 
mesma maneira, isto é, apenas decodificando-os e, desta forma, estimu­
lando o cliente a continuar a sonhar. Como resultado, os clientes começa­
ram a sonhar, a ter continuação dos sonhos sem uma tentativa de entendi­
mento racional e, sim, do entendimento da dinâmica do sonho. Passei a 
trabalhar os sonhos com o princípio da psicoterapia na Zona de Exclusão. 
Deste trabalho surgiu toda a sistematização que apresento no capítulo 
sobre sonhos. Parto do princípio de que o cliente sabe o que sonha, mas 
não pode saber o que sonha, pois viria de encontro ao Conceito de Identi­
dade, à medida que o sonho vem de material da Zona de Exclusão.
Tenho observado que as grandes linhas de psicoterapia como a Psi­
canálise, a Psicoterapia Analítica e a própria Bioenergética acabam por 
trabalhar material cenestésico com o mesmo enfoque de material psicoló­
gico excluído por não terem o conceito de que são vivências diferentes e 
necessitam de enfoques diferentes. A conceituação de duas Zonas de Ex­
clusão, com materiais diferentes e procedimentos diferentes de trabalho, 
tem dado muito bom resultado.
Victor
II)
1
PSICOTERAPIA NAS ZONAS DE 
EXCLUSÃO
Como já vimos na Teoria da Programação Cenestésica, existem duas 
Zonas de Exclusão dentro da estruturação do psiquismo de um indivíduo.
A I a Zona de E xclu sã o ocorre nos primeiros dois anos de vida e está 
relacionada à má estruturação dos modelos psicológicos (ingeridor, 
defecador e urinador) pela atuação d & clim as inibidores. A má estruturação 
dos Modelos Psicológicos vai ocasionar a não-diferenciação do Psiquismo 
Caótico e Indiferenciado — PCI — em Psiquismo Organizado e Diferen­
ciado — POD — e, portanto, uma discriminação incompleta das Áreas 
Psicológicas: mente, corpo e ambiente.
Essa fatia de psiquismo que permanece indiferenciada chama-se Zona 
de P C I. Ao redor dos dois anos a dois anos e meio de idade, esta Zona de 
PCI é tam ponada p o r um V ínculo Com pensatório/Sim biótico e p a ssa a 
se r a p a rtir d a í a Ia Z on a de E xclu sã o d o Psiquism o.
Nessa Zona de Exclusão fica o registro do Clima Inibidor como foi 
vivido pelo bebê, um registro de uma sensação de Falta (falta de terminar 
algo que deveria ter sido terminado) do término da estruturação do Mode­
lo e que chamo de Núcleo de Carência.O registro de uma tensão crônica 
ligada à sensação de que “está para ocorrer algo a qualquer momento”, 
aflição para que ocorra o término da estruturação do modelo e, finalmen- 
te, um registro de perda da espontaneidade no nível da sensação e não do 
comportamento relacionado ao modelo.
A 2a Zona de E xclu sã o ocorre a partir dos dois a dois anos e meio e 
permanece por toda a vida, embora seja muito mais utilizada até o fim da 
adolescência. Após o tamponamento da Zona de PCI pelos vínculos com­
pensatórios, a criança passa a trabalhar somente no nível do POD, isto é, 
do psiquismo que foi organizado e diferenciado. O psiquismo que não foi
11
niganizado c diferenciado permanece como caótico e indiferenciado na 
Zona de PCI, e as vivências registradas nessa Zona permanecem como 
que “congeladas no tempo” e tamponadas pelo vínculo compensatório. A 
partir dos dois anos e meio a criança começa a registrar uma série de 
vivências apreendidas no seu contato com as pessoas que compõem sua Ma­
triz de Identidade (pai, mãe, irmãos, empregadas, avós, tios etc.), sua Matriz 
de Identidade Social (escolas, amigos, clubes, brincadeiras etc.), vivências 
e conceitos morais veiculados pela família, educadores, religiões, meios 
de comunicação (televisão, revistas, filmes etc.), além de copiar e imitar 
modelos de pessoas afetivamente significativas.
Essas vivências vão sendo registradas no POD e vão se transforman­
do em Figuras de Mundo Interno.
Figuras de mundo interno são modelos de pessoas, modelos de con­
dutas culturais e morais, ensinamentos e conceitos morais, religiosos e 
culturais que, juntamente com os sentimentos, pensamentos e percepções 
dessa criança, vão fazer parte do seu conceito de identidade. O con ceito 
de identidade é a m aneira que o indivíduo se vê, com o ele vê o outro e 
com o ele vê o funcion a m en to do m undo.
As vivências que de alguma forma não são compatíveis com o Con­
ceito de Identidade são excluídas e “esquecidas” pelo psiquismo ou, en­
tão, são registradas no POD. mas seguidas de algum tipo de justificativa.
A s vivências que sã o frontalm en te incom patíveis com o C on ceito de 
Identidade sã o excluídas e depositadas na Zona de P C I, form ando, a s­
sim, uma 2a Zona de E xclusão. E ste m aterial é de P O D , em bora esteja 
depositado na Zona de P C I.
As vivências não totalmente incompatíveis com o Conceito de Iden­
tidade ficam no próprio POD, mas como contradições; é o que chamamos 
de M aterial Justificado.
As vivências registradas nas duas Zonas de Exclusão não se mistu­
ram com as vivências que ficam no POD; elas ficam num patamar de 
subconsciência ou mesmo de inconsciência. Podemos dizer que o Materi­
al Depositado na Zona de PCI (2a Zona de Exclusão) é material subcons­
ciente, pois já teve contato com o ego e o Material que compõe a Zona de 
PCI ( I a Zona de Exclusão) é material inconsciente, pois é material 
cenestésico e vivenciado antes do advento do Ego.
Dessa maneira, o psiquismo consciente vai sempre dificultar o con­
tato com o material das Zonas de Exclusão, utilizando-se das Defesas 
Intrapsíquicas no caso da 2- Zona de Exclusão e dos Vínculos Compensa­
tórios no caso da Ia Zona de Exclusão, além de sempre apresentar uma 
resistência para entrar em contato com esse material.
Durante o processo de psicoterapia, o terapeuta promove um a A lia n ­
ça Terapêutica com o POD do cliente, considerado como “parte sadia”, 
para que terapeuta e POD do cliente consigam abordar o material das
12
Zonas de Exclusão, considerado como “parte doente”. Coloco entre aspas 
parte sadia e parte doente, pois, na verdade, é no POD de um indivíduo 
neurótico ou psicótico que se encontra a doença, e é nas Zonas de Exclu­
são que também se encontra o verdadeiro Eu do indivíduo. Essa Aliança 
Terapêutica vai bem enquanto se questionam as contradições do POD, 
mas quando se começa a mobilizar o material das Zonas de Exclusão o 
psiquismo começa a reagir e a Aliança Terapêutica se toma difícil e, em 
alguns momentos, até se rompe.
A 2- Zona de Exclusão é trabalhada na fase da psicoterapia das Divi­
sões Internas, e a resistência que o psiquismo oferece à abordagem do 
material excluído é a mobilização das defesa s intrapsíquicas.
A Ia Zona de Exclusão é trabalhada na fase dos Vínculos Simbióticos, 
e a resistência que o psiquismo oferece à abordagem do material excluído 
são os vínculos com pen satórios ou sim bióticos.
Essas defesas que o psiquismo desenvolve são inconscientes, estão 
fora do controle do indivíduo e se transformam nos grandes entraves do 
andamento da psicoterapia. Uma psicoterapia onde não existissem as de­
fesas intrapsíquicas e os vínculos compensatórios poderia se resumir em 
alguns poucos meses.
Em decorrência disso, tenho desenvolvido técnicas para abordagem 
do material das Zonas de Exclusão sem a conseqüente mobilização das 
defesas.
Normalmente, o terapeuta trabalha as defesas intrapsíquicas até que 
o cliente possa, gradativamente, ir aceitando o material excluído que está 
sendo mobilizado e também conscientiza as dependências existentes dos 
vínculos compensatórios, assim como as Funções Delegadas, para que o 
cliente possa, conscientemente, ir assumindo essas funções e se encami­
nhar para o desmonte do vínculo compensatório. Como já disse, este é um 
trabalho bastante difícil e muito demorado e é também uma fase em que 
ocorrem muitas das paradas em psicoterapia.
A psicoterapia na Zona de E xclusão consiste em trabalhar o m aterial 
exclu íd o dentro da própria Zona de E xclu sã o sem a preocu p a çã o de torná- 
lo consciente.
Dessa forma, não ocorre um confronto intenso entre POD e Material 
Excluído e diminui muito a mobilização das Defesas Intrapsíquicas, as­
sim como diminui o sofrimento da vivência da Zona de PCI no desmonte 
dos vínculos compensatórios.
A psicoterapia na Zona de Exclusão é feita, basicamente, por inter­
médio de sonhos, psicodram a interno e sen sib iliza çã o corporal. Assim, 
uma vez mobilizado um Material de Zona de Exclusão, esse material deve 
ser trabalhado sem o a u xílio do entendim ento con scien te do cliente, p o is 
esse entendim ento está no P O D , que está sen do questionado e, portanto, 
vai m obilizar resistências a o afloram ento do m aterial excluído.
13
Se o lerapeuta solicita uma avaliação crítica do cliente sobre o mate- 
11 al e x e I u ido mobi 1 izado, ele está fazendo aliança com uma parte do cliente 
que lói responsável pela exclusão desse mesmo material. Portanto, a ten­
dência é a de que essa avaliação venha comprometida e falseada dos seus 
verdadeiros significados.
A Psicoterapia na Zona de Exclusão tem mostrado resultados bas­
tante satisfatórios na medida em que tem permitido trabalhar material 
excluído com pouca mobilização de defesas, diminuindo as paradas e in­
terrupções do processo psicoterápico e produzindo mudanças palpáveis 
em menos tempo de terapia.
Nos próximos três capítulos vou explicar detalhadamente como fa­
zer a psicoterapia na Zona de Exclusão nos sonhos, psicodrama interno e 
sensibilização corporal.
14
2
PSICODRAMA INTERNO 
E DRAMATIZAÇÕES 
INTERNALIZADAS
No conceito de Psicoterapia nas Zonas de Exclusão, o Psicodrama 
Interno, juntamente com os Sonhos e a Sensibilização Corporal, comple­
ta os instrumentos utilizados dentro da Análise Psicodramática para a abor­
dagem e o trabalho tanto da I a Zona de Exclusão (Zona de PCI) como da 
2a Zona de Exclusão (Material Depositado na Zona de PCI).
Desde o lançamento do Psicodrama Interno na comunidade 
Psicodramática durante o II Congresso Brasileiro de Psicodrama, por mim 
e por Fonseca Filho, tenho trabalhado e aprimorado essa técnica.
Dividi o Psicodrama Interno em dois instrumentos. O primeiro, con­
tinuei a chamar de Psicodrama Interno, e o segundo passei a chamar de 
Dramatizações Internalizadas.
Chamo de psicodrama interno o processo de intervenção por ima­
gens internas onde evito ao m áxim o a m ob iliza çã o dos a sp ecto s racionais 
(POD) do cliente,privilegian do sem pre o d esejo e as sen sações.
Dessa forma, consigo abordar o material excluído dentro das Zonas de 
E xclusão e trabalhar com esse material dentro da própria Zona de Exclusão.
O Psicodrama Interno tem se mostrado como o instrumento mais 
eficiente na abordagem de Material Excluído. Ele supera a abordagem 
por Sonhos pelo fato de que no Psicodrama Interno o terapeuta tem aces­
so direto para intervir no Material Excluído desde que siga a norma de 
evitar consignas que possam mobilizar os aspectos racionais (POD) do 
cliente e, com isso, colocar valores morais e censuras no material que está 
sendo trabalhado.
Devemos sempre lembrar que o Material Excluído, seja ele da I a ou 
?J Zona de Exclusão, foi excluído por não ter condições de ser assimilado
15
diretamente pelo Psiquismo Organizado e Diferenciado (POD) do indiví­
duo. Dessa forma, sempre que o racional do cliente (POD) é colocado em 
contato com o Material Excluído, seu psiquismo entra num impasse. Não 
pode aceitar o Material Excluído sem as devidas reorganizações do Con­
ceito de Identidade (2a Zona de Exclusão) ou Desmonte dos Vínculos 
Compensatórios ( Ia Zona de Exclusão).
Uma form a de sa ir do im passe é transform ar e cod ifica r o M ateria l 
E xclu íd o em im agens e m ensagens sim bólicas. A outra é transform ar o 
M a teria l E xclu íd o em sen sa ções corporais.
As imagens e mensagens simbólicas podem ser abordadas e traba­
lhadas através do Psicodrama Interno e dos Sonhos.
As sensações corporais são abordadas pela Sensibilização Corporal, 
abrindo caminho aqui para as Abordagens dos Sintomas e Doenças Físi­
cas no ramo da Psicossomática e também para as psicoterapias de Abor­
dagem Corporal.
Chamo de dramatizações internalizadas as intervenções por ima­
gens internas onde aceito e mobilizo os aspectos racionais do cliente (POD) 
no desenvolvimento da dramatização interna.
Para tanto utilizo o correspondente mental de várias técnicas do 
Psicodrama, tais como a Inversão de Papel, o Solilóquio, a Maximização, 
a Concretização, a Realidade Suplementar etc.
As Dramatizações Internalizadas não permitem uma abordagem di­
reta do Material Excluído como o Psicodrama Interno, mas são extrema­
mente eficientes para as abordagens do Material Contraditório registrado 
no POD.
Entenda-se como Material Contraditório registrado no POD os Con­
ceitos Morais, as Figuras de Mundo Interno, as Justificativas e as Vivências 
do indivíduo confrontadas com seus Sentimentos, Pensamentos e Percep­
ções ligados ao Material Excluído. Tudo isso faz parte do Conceito de 
Identidade Vigente. Portanto, as Dramatizações Internalizadas abordam e 
trabalham o Conceito de Identidade Vigente trabalhando os conflitos e 
possibilitando a emergência de Material Excluído que pode vir à tona e 
ser integrado durante o próprio trabalho ou ser tamponado pela mobilização 
de Defesas Intrapsíquicas ou mesmo de Defesas Conscientes.
Indicações
O Psicodrama Interno é principalmente indicado:
• quando a queixa vem em forma de sensações tais como sufoco, 
peso, frio, calor, amortecimento, tensão etc., no corpo ou em partes dele;
16
• nas fobias por altura, animais, insetos, água, claustrofobia, e me­
dos em geral;
• quando a queixa vem por imagens tais como escuro, névoa, vultos, 
presenças etc.;
• na continuação de sonhos recorrentes ou de sonhos de interrupção 
brusca. É mais eficaz que o onirodrama, pois aborda o Material Excluído 
dentro do próprio Material Excluído;
• quando a psicoterapia está bloqueada por defesas intrapsíquicas 
ou vínculos compensatórios instalados no setting e que não cedem com as 
técnicas de espelho, tanto o que retira como o que reflete.*
As Dramatizações Internalizadas são principalmente indicadas:
• quando existem dificuldades para a dramatização clássica, tais como 
clientes muito obesos ou com dificuldades de locomoção, falta de egos- 
auxiliares para montagem das cenas, espaço inadequado para drama­
tizações etc.;
• quando o cliente se recusa à dramatização clássica (vergonha, sen­
sação de ridículo etc.), embora deva sempre ser também trabalhada a di­
nâmica responsável pela recusa;
• quando o material a ser trabalhado vem a partir de um trabalho de 
relaxamento ou de sensibilização corporal. A montagem da cena clássica 
pode desaquecer o cliente que já está com a cena na cabeça.
Psicodrama Interno
O Psicodrama Interno deve ser feito com o cliente em posição rela­
xada, de preferência deitado ou sentado, confortavelmente, e com o tera­
peuta a uma distância de mais ou menos meio metro. O contato com o 
terapeuta deve ser única e exclusivamente feito pela voz, e os toques fí­
sicos devem ser evitados, pois eles cortam o contato do cliente com o seu 
mundo interno.
A orientação do terapeuta deve ser sempre a de pesquisar o desejo do 
cliente e dos personagens e tentar a viabilização desses desejos. Com re­
ferência aos medos, a orientação deve ser sempre a de tentar ir de encon­
tro às cenas temidas e não evitá-las.
No conceito de Psicoterapia dentro da Zona de Exclusão, durante o 
Psicodrama Interno não se deve tentar nenhum tipo de racionalização, e
* Variações criadas pelo autor e que são descritas no CapítuloTécnicas Psicodramáticas. 
(N. E.)
17
deve-se evitar totalmente os “porquês”, pois com isso estaríamos mobili­
zando o POD do cliente e saindo da Zona de Exclusão.
O entendimento do Psicodrama Interno deve ser feito depois de ter­
minado o trabalho e, principalmente, ao longo das sessões subseqüentes, 
sempre tendo em mente que o mais importante é a vivência do Psicodrama 
Interno e não a sua compreensão.
Vou dar a seguir alguns exemplos de Psicodrama Interno:
PA. 30 ANOS — 1993 — AULA DO P 1
P. está deitada no tapete da sala. Está tensa e não consegue se desli­
gar da turma. Peço para sentir um pouco o corpo. Ela diz sentir frio nos 
pés e certo tremor nas coxas. Tenta relaxar e conta que não lhe vem ne­
nhuma imagem à cabeça. Tenta relaxar novamente e relata um peso, prin­
cipalmente no quadril e nas costas. Peço que deixe o peso tomar conta e 
ver se tem alguma imagem na cabeça.
P — Estou com as coxas tremendo e, ao mesmo tempo, vem uma ima­
gem de estar afundando. Não sei em qual me concentrar.
T — Concentre-se na imagem e esqueça um pouco o corpo. Qual a ima­
gem que está presente?
P — Parece que estou afundando numa lama grossa. Afunda o quadril, as 
costas, a cabeça, os pés e mãos estão de fora.
T — Deixe o corpo afundar nessa imagem. Se ficar com medo me avise.
Deixe afundar e vá me contando para que eu possa te acompanhar. 
P — Afundei. Agora parece água de piscina e o escuro é uma parede.
T — Tente entrar em contato com essa parede. Passe a mão e veja o que é 
essa parede.
P — É branca. Como ladrilho de piscina. Vou passando a mão e a parte 
preta vai saindo e vai ficando branca.
T — Continue e veja o que acontece.
P — Está ficando muito fina (a parede), como papel. Tenho a impressão 
de que há algo do outro lado.
T — Tente rasgar esse papel para ver o que existe do outro lado.
P — Rasguei. Mas não tenho coragem de olhar.
T — Tente com o tato. Tente enfiar a mão nesse buraco da parede e sentir 
o que há do outro lado.
P — Tenho medo. {E n colhe as m ãos.)
T — Quer algo? Uma luva grossa?
P — Quero uma vara. O que tem do outro lado é uma pessoa.
T — Materialize uma vara e tente entrar no outro lado.
P — Estou empurrando a pessoa e vou entrar. Sou eu mesma! E uma 
outra P, igualzinha, está com a mesma roupa.
T — Veja o que te chama atenção nela.
18
P — O sorriso. É um sorriso sarcástico, irônico, ela é má.
T — Veja o que ela quer com você.
P — Não quer nada. Fica parada com o sorriso.
T — Tente se achegar a ela. Se aproxime ou toque nela.
P — Não consigo. Quero sair daqui.
T — Então, vamos. Para onde quer ir?
P — Vou ficar! Quero entender o que se passa.
T — Então, fique e veja o que vai acontecer.
P — Ela está crescendo! Está ficando enorme! Bato na cintura dela.
T — Olhe para ela e veja o que lhe chama a atenção.
P— A indiferença. Ela me olha com indiferença. Tem uma cara de bra­
va. Parece irritada.
T — Tente ver que tipo de irritação é essa.
P — Ela cresceu mais. Estou batendo no joelho dela. Estou com medo de 
ficar aqui. Ela pode me machucar se ela quiser. Vou ficar no canto 
da parede.
T — E agora? O que está acontecendo?
P — As pernas dela. Estão ficando brancas. São as pernas da minha mãe. 
T — Vá olhando e vá me contando o que está vendo.
P — Ela está de sapato de salto alto. Tem uma saia azul-marinho que 
bate no joelho. Blusa branca com bolas e o cabelo está penteado.
T — O que você deseja fazer com ela?
P — Quero ficar perto dela.
T — Então saia do seu canto e fique perto dela.
P — Ela nem me olha. Está brava. Parece que eu a incomodo. Ela está 
mais interessada em arrumar a sala para a festa.
T — O que ela está fazendo?
P — Ela está arrumando a mesa com toalhas, cristais e flores. Eu estou 
no canto da parede.
T — Mas, você ainda deseja ficar perto dela, apesar da irritação?
P — Quero, mas tenho medo.
T — Fique invisível e vá.
P — Estou indo. Tenho vontade de puxar a toalha da mesa e quebrar 
tudo.
'!’ — Pois faça isso.
P — Ela vai ficar furiosa!
T — Você não está invisível? Ela nem vai notar que foi você!
P — Puxei a toalha! Caiu tudo no chão! Ela está furiosa. Eu dei uma 
gargalhada, mas ela não me vê.
I Continue invisível e veja se você quer fazer algo mais.
P Não. Quero ir embora brincar.
I - Então vá. Para onde está indo?
P Estou no pátio da escola. Tem várias meninas brincando. Estão de 
uniforme azul e meia branca. Eu também estou vestida assim.
19
! Tem alguém que lhe chama a atenção?
P Tem uma menina loira com uma boneca. É uma boneca importada.
Tenho vontade de brincar com ela, mas ela tem uma cara brava.
T — Tente, se achegar.
P — Estou brincando. Ela está com uma cara melhor. Estamos brincando 
de pentear a boneca, trocar roupa e pôr para dormir.
T — Está bom. Onde você está?
P — Está muito bom. Estamos no topo da escada. As outras meninas 
estão juntas.
T — Tente ver essa cena de fora e me descreva.
P — Estou me vendo (eu menina) brincando com as outras meninas.
T — O que você tem vontade de fazer?
P — Ficar olhando. E se ela (eu menina) precisar eu estou aqui.
T — Tire uma foto dessa cena que vamos interromper essa vivência.
P — Tirei. Vou pôr num porta-retratos.
T — Muito bem. Vá voltando para a sala. Mexa seu corpo para podermos 
comentar um pouco sobre tudo isso.
P — (A bre os olhos, o lha para mim e d ep ois para os co leg a s.)
T — Levante-se e vá para seu lugar.
P — Que sensação estranha. Parece que passou muito tempo. Me esque- 
ci totalmente de que estava nesta sala.
P rocessa m en to
Afundando na lama — Modelo de Defecador. Entrando em contato 
com um núcleo depressivo.
Parede branca — Entrando em contato com um núcleo de carência. 
Modelo de Ingeridor.
P x P (má) — Divisão Interna. Ela entra, com medo, em contato com 
o seu lado mau. Lado mau que estava como Material Depositado na Zona 
de pci e não faz parte do Conceito de Identidade.
P x P (grande) — Caminhando para o passado. A P. grande está 
identificada com adulto (Figura de Mundo Interno) e ela como criança. 
Pelo tamanho (bate na cintura) imaginamos seis anos. Identifica indife­
rença e irritação no adulto.
P x P ( grande, maior ainda). Vai mais para o passado ainda, supomos 
que dois anos (bate no joelho). Continua a ver a indiferença e irritação.
Precisa se afastar e vai para o canto — Identifica Rejeição e se 
Deprime.
E minha mãe! — Faz a Identificação da Figura de Mundo Interno. 
Relata posteriormente que a imagem é da mãe daquela época.
Mãe — Rejeita a filha. Sente indiferença e irritação com ela.
20
Filha — Quer ficar junto a mãe. Sente que atrapalha. Tem medo de 
insistir. Deprime-se e fica no canto.
Puxa a toalha da mesa — Enfrentamento da Figura de Mundo Interno. 
Gargalhada — Vingança, como o sorriso que identifica no início da 
Divisão Interna.
Pátio da escola e outras meninas — Volta à idade de sete anos, e tenta 
se enturmar.
Brincar de boneca — Começa a jogar o papel de “mãe que cuida” 
com a boneca. Está contente. P., na realidade, está tendo conflito com 
uma das filhas, que está muito deprimida, e se sente com dificuldade de 
cuidar dessa filha.
Olhando ela criança brincar para proteger — Fazendo o papel de 
“mãe que cuida” em relação a ela mesma. P., adulta, protegendo e cuidan­
do de P., com sete anos. Assume a proteção da parte rejeitada pela mãe.
G. 30 ANOS — FOBIA DE CALANGOS
G. relata fobia em relação a calangos (espécie de lagartos). Na esco­
la, com 15 anos, eles eram muito comuns no interior, onde morava. Conta 
que eles ficavam tomando sol em um muro perto da escola. Fazia barulho 
para eles se afastarem.
Psicodrama Interno com G., deitada.
T — Imagine algum local onde poderíam aparecer calangos.
G — Estou imaginando o sítio de minha avó. Há um salão meio aberto 
onde tem churrasqueira.
T — Fixe sua atenção nesse lugar e vá me descrevendo o que você vê lá. 
G — Tem uma mesa grande com cadeiras, a churrasqueira e umas prate­
leiras onde são guardadas ferramentas e coisas que não estão sendo 
usadas.
T — Nessa prateleira poderia aparecer o calango.
G — Talvez. Não, acho que é no banheiro.
T — Me descreva o banheiro.
G — Fica perto da sala, é pequeno, tem o vaso, a pia, um box e umas 
prateleiras de guardar sapatos. Ali pode ter calangos.
T —- Ache um lugar para você ficar dentro do banheiro.
G — Estou sentada no vaso, sem calças.
T — Olhe para a prateleira de sapatos e deixe aparecer um calango.
G — Apareceu. (F ic a tensa.) Está atrás de um sapato. Ele ainda não me 
viu. Tenho medo que ele corra para cima de mim.
’!’ — Não deixe que ele se movimente e faça com que ele te veja.
( i — Ele me viu. Tem os olhos muito espertos. Estou com medo.
I' — Paralise a cena. Veja um ponto do banheiro para onde ele possa cor­
rer, sem ser em sua direção.
21
G — Em direção à porta.
T — Deixe ele correr até a porta e paralise a cena.
G — Correu. Está parado e a porta está fechada (antes tinha fic a d o aber­
ta). Agora ele quer vir para cima de mim. Subir pelo meus pés. (E la 
com eça a sentir m uito m edo.)
T — Substitua você por uma boneca de borracha, do seu tamanho. Ago­
ra, fique em um lugar seguro do banheiro.
G — Substituí. Vou ficar em cima da pia.
T — O calango não pode subir na pia. Deixe que ele corra em direção à 
boneca.
G — Correu. Está subindo pela perna e pelo corpo. Parou no ombro e 
está em cima do ombro. Ele é muito folgado. Está tomando sol no 
ombro dela.
T — O que o calango quer fazer agora?
G — Está parado. Está começando a descer pelo outro lado do corpo. 
(Lado direito, e le tinha subido p e lo esquerdo.)
T — Deixe ele descer e ir para onde quiser e diga-me o que está aconte­
cendo.
G — Ele desce de forma muito leve, me dá nojo. As patas dele deixam 
um rastro gosmento.
T — Onde ele está indo?
G — Desceu pela perna e está voltando para os sapatos. Ele está com 
medo.
T — Tire a boneca e volte a ser você no vaso.
G — Ele se escondeu nos sapatos. Está com medo que eu o mate. Mas, eu 
não tenho coragem de fazer isso.
T — Como ele tem medo de que você o mate?
G — Esmagando a cabeça dele com um pau.
T — Você quer fazer isso?
G — Não.
T — Você consegue pegar o calango?
G — Consigo, mas me dá muito nojo pegar na pele dele.
T — Materialize luvas compridas que venham até os ombros e pegue-o.
G — Peguei. Ele está esperneando. Peguei-o pelas costas. As patas dão 
nojo, mas a barriga é amarela e muito bonita.
T — Passe a mão pela barriga dele e diga-me o que sente.
G — Passei, mas não sinto nada porque a luva é grossa. Ele está querendo 
fugir. Se eu soltar ele vai andar em cima de mim.
T — Você consegue deixar ele andar em você?
G — Me dá muito nojo.
T — Plastifique seu corpo com um plástico grosso e solte ele.
G — Soltei. Ele está em cima da minha cabeça. Ele quer passar pelo meu 
rosto e vir até a minha boca. Tenho medo e nojo.
22t Substitua você pela boneca. Fique em pé ao lado e ponha uma 
cordinha no pescoço dele. Assim você pode controlar para onde ele 
deve ir.
' í Já fiz. Ele está descendo e entrando pela boca da boneca. Desceu e 
está no estômago. Ele quer deitar lá e ficar protegido. Esse calango 
é muito folgado!
I Deixe ele fazer o que tem vontade.
( í I de se deitou, aconchegado, e fechou os olhos. Ele vai dormir lá
dentro do estômago.
1 O que você tem vontade de fazer?
• i Eu ainda estou com a cordinha. Tenho vontade de puxar a corda e 
tirar ele de lá. Ele é muito folgado. Mas se eu puxar a corda posso 
matá-lo.
I O que tem mais você tem mais vontade de fazer?
( I De puxar a corda e arrancá-lo de lá.
I Então faça isso.
( i Puxei. Ficou com os olhos esbugalhados e morreu. Está morto na 
ponta da corda.
I O que você tem vontade de fazer com ele?
( I Jogar fora.
I Antes disso, tente tocar nele.
(> Toquei na barriga. Não é tão nojento, é meio frio.
I O que você vai fazer agora?
( i Vou jogá-lo lá no jardim. Joguei-o no fundo do jardim. Vou deixá-lo
aí para as formigas comerem.
I Onde você tem vontade de ir?
I I Estou voltando para a sala. Vou me deitar na rede.
I Conte-me o que você está fazendo
(■ Estou deitada na rede tomando sol.
I Muito bem. Deixe que essa imagem se transforme em um quadro. 
Vá tomando contato com seu cotpo e voltando aqui para a sala.
Nos comentários G. se dá conta de que o calango “é um folgado” e 
i |uc seu medo vai se transformando em raiva e indignação contra ele. Após 
matá-lo, consegue um contato direto entre G. e “o folgado”. Depois de 
alertada pelo terapeuta, ela se dá conta de que após matar o calango folga­
do ela própria se torna folgada indo tomar sol na rede da sala. Nesse mo­
mento, identifica o calango com a mãe, que é uma pessoa folgada, que 
nunca trabalhou e vive às custas do pai. Percebe-se com raiva da mãe e 
d. tendendo o pai. Percebe também que comprou uma briga entre o pai e 
,i mae e comenta: “Ela é folgada porque ele deixa”. Lembra-se de que 
mandou colocar uma rede na sala de sua casa há sete meses e ainda “não 
encontrou tempo para deitar-se nela”.
23
S. 32 ANOS — FOBIA POR BARATAS
S. relata forte fobia por baratas, a ponto de ter deixado o carro aberto 
no trânsito e ter corrido, gritando pela rua, por ter uma barata dentro do 
veículo. Concorda em trabalhar esse medo com Psicodrama Interno.
(5. está deitada no centro da sala e o Terapeuta está sentado a seu lado. 
P sicodra m a de G rupo.)
T — Tente imaginar um local habitual onde você possa encontrar uma 
barata.
S — Na cozinha da minha casa.
T — Descreva a cozinha.
S — Tem uma geladeira, um freezer, uma bancada da pia com o armário 
suspenso, cadeiras, mesa etc.
T — Onde você está?
S — Estou em pé, perto da pia.
T — Imagine uma barata, mas faça com que ela fique parada.
S — Está perto da porta. É bem grande.
T — Qual o seu medo?
S — Que ela corra em minha direção.
T — Marque um ponto distante de você e faça ela correr até lá.
S — Marquei, perto da geladeira. Ela correu até lá e está olhando para 
mim.
T — O que ela quer fazer?
S — Quer entrar debaixo do armário da pia onde eu estou. (C om eça a 
apresentar m edo na voz.)
T — Deixe-a entrar debaixo do armário, mas não a deixe aproximar-se 
de você.
S — Entrou debaixo do armário. (Súbita tensão na voz e in ício de p â n i­
co .) Ela está aqui dentro da sala.
T — Não se assuste e conte-me onde ela está.
S — Está debaixo do sofá, do meu lado direito.
T — Faça com que ela fique imobilizada e diga-me como ela está.
S — Ela está parada. É estranho. Ela está sentada sobre as patas traseiras 
como um cachorrinho.
T — O que ela quer fazer?
S — Subir em mim. Isso eu não suporto. (C om eça a apresentar m edo.) 
T — Substitua você por uma boneca de borracha de tamanho natural e 
fique observando de longe.
S — Já fiz. Ela está vindo e subiu pela perna da boneca.
T — Deixe-a subir e conte-me para onde ela está indo.
S — Está subindo pela perna e entrando pela região inguinal.
T — Deixe ela ir. Veja onde ela quer ir.
S — Ela andou um pouco e parou. Está voltando e subindo pela barriga.
24
T — Veja onde ela quer ir e deixe que pia vá.
S — Está descendo pelo lado do corpo e está indo, de novo, embaixo do 
sofá. Ela não quer a boneca.
T — Substitua a boneca por você e diga-me o que acontece.
S — Ela virou e quer voltar. (M uito m edo.)
T — Você agüenta que ela volte?
S — Não. Eu tenho muito medo!
T — Ponha um plástico em volta do seu corpo, bem colado, assim ela 
não entra em contato direto.
S — Não dá. Só se for um plástico duro.
T — Então, coloque um plástico duro como esses que envolvem brinque­
dos.
S — Coloquei. Ela está vindo e subindo pelo lado do corpo.
T — Deixe que ela ande por onde quiser.
S — Ela subiu e está andando por cima do meu rosto. Eu vejo ela por 
baixo, andando por cima do meu rosto. Ela quer entrar na minha 
boca!! (Surpresa e m edo.)
T — Ponha novamente a boneca e veja de longe.
S — Ela está parada perto da boca mexendo com as antenas.
T — Deixe ela entrar e veja por onde ela quer ir.
S — Entrei. (S . assum e o p a p el da barata.)
T — Veja para onde vai. Quer ir para o estômago?
S — Não. Ela quer subir em direção à cabeça.
T — Então deixe ela subir e vá me dizendo o que está vendo.
S — É uma espécie de corredor. No fundo tem uma caverna! Nossa!! E 
um ninho de baratas!!
T — Descreva-me o que está vendo.
S — É uma caverna cheia de baratas. Elas estão arramadinhas como se 
fossem ladrilhos. Estão quietinhas.
T — A barata quer entrar?
S — Entrou. As outras se mexeram um pouco. Só tem baratas aqui den­
tro.
T — O que a barata quer fazer? Ficar aí ou ir para outro lugar?
S — Quer ir embora. Está saindo pela boca.
T — Paralise a cena e veja onde ela quer ir.
S — Ela quer ir embora. Está indo.
T — Deixe-a ir. Vá tomando contato com seu corpo e com a sala e vamos 
conversar um pouco.
S., a partir de determinado momento, inverte papel com a barata e
descobre “um ninho de baratas dentro da própria cabeça”. Entendemos
isso como um “ninho de pensamentos sujos e maus dentro da própria
cabeça de S ”.
25
S. relata, nas sessões subseqüentes, uma sensível diminuição do medo 
de baratas e, ao mesmo tempo, na psicoterapia, começa a abordagem e o 
aparecimento dos tais “pensamentos sujos”.
IV., 40 ANOS — PAVOR A GATOS
Psicodrama Interno, feito em grupo de demonstração de técnicas, 
com IV deitada no chão.
T — Respire fundo e relaxe um pouco. Escolha um lugar para encon- 
trar-se com um gato.
IV — Está no fundo do quintal de minha casa. Tem uma churrasqueira, 
uma parte de terra e uma parte de cimento. Ele está perto da chur­
rasqueira.
T — E você, onde está?
IV — Estou longe, depois do corredor. Mas estou vendo ele.
T — Como ele é?
IV — É preto. Todo preto. Ele está sentado e o pêlo brilha. E muito folga­
do esse gato.
T — Olhe mais para ele e diga-me o que lhe chama a atenção.
IV — Não dá para olhar. Tenho muito medo.
T — Tente fazer com que ele se movimente lentamente para um ponto 
mais próximo de você, sem chegar muito perto.
IV — Ele andou até uma moita de erva-cidreira. Está mais perto de mim, 
mas eu estou sumindo. (C om eça a f ic a r m uito aflita .)
T — Paralise o gato e diga-me o que ele quer.
IV — Ele quer pular no meu peito (M uito aflita.)
T — Você consegue colocar uma caixa de vidro em tomo do gato?
IV — Não. Só de pensar em chegar perto me dá pavor.
T — Então, ponha uma armadura em você. Isso você consegue?
IV — Já coloquei. É de ferro. Pega o peito, os braços e vai até o quadril. 
T — Agora deixe o gato chegar perto de você.
IV — Está chegando. Ele anda mole e devagar. Tenho muito medo. Ele 
está no meu pé. Estou ficando dura. (D efesa conversiva.)
T — A sua perna tem alguma proteção?
IV — Tem uma calça grossa, de couro.
T — O que está acontecendo agora?
IV — O gato está arranhando a coxa esquerda. Está rasgando o couro.
Estou ficando dura. (Voz de p â n ico .)
T — Paralise a cena. Saia da armadura e coloque uma bonecade plástico, 
do seu tamanho, dentro dela. Fique em um lugar seguro e observe. 
IV — Corri para o cozinha da casa e estou olhando pela janela.
T — E agora, o que você vê?
2 6
IV — O gato está arranhando a coxa dela. Está rasgando o couro e arra­
nhando a pele. Ela é de carne e está saindo sangue.
T — Deixe ele fazer o que quiser, mas vá me contando.
IV — Ele está lambendo o sangue. ( Voz de surpresa .) Ele está com raiva!
Arranha, sai sangue e ele lambe.
T — O que está acontecendo com ele?
IV — Ele está crescendo, crescendo, está do tamanho dela.
T — O que ele vai fazer?
IV — Pulou no peito dela e a derruba no chão.
T — E agora, o que ele vai fazer?
IV — Está mordendo o pescoço dela. Arrancou a cabeça com o elmo e a 
cabeça rolou para o lado.
T — Veja em que parte o gato está interessado. Na cabeça ou no corpo 
dela?
IV — Ele quer o corpo. Ele quer o coração dela.
T — O que ele está fazendo?
IV — Ele está tentando enfiar a pata por dentro do pescoço. Quer tirar o 
coração por dentro do peito.
T — O que ele fez agora?
IV — Tirou uma bola de carne. Está lambendo a bola de carne. Ele está 
virando um homem!
T — Como é esse homem? Descreva-o.
IV — Ele é forte e está sem camisa. Tem um peito (tórax) muito grande.
I — E a parte de baixo, como é?
IV - Está de calça de brim, arregaçada na canela, cinto marrom e tem as 
pernas muito fortes.
I Veja o rosto dele e me descreva
IV Não dá para ver o rosto. Só a boca. Ele está com a boca suja de 
sangue. Estou com muito medo. (Voz com m uito m edo.) Estou fi­
cando dura. (D efesa conversiva.)
(I. vai fic a n d o cada vez m ais apavorada com o hom em .) Prenda-o 
numa jaula para você ficar com menos medo. 
i V Já coloquei. (/. se acalm a im ediatam ente.) Ele está sentado dentro 
da jaula.
I 11 como você está?
I istou em cima de uma cadeira, olhando pela janela, e estou sentin­
do muito frio e ficando dura.
I >e que tamanho você está?
1'Nlou bem pequena.
< onio você está vestida?
< 'o m meu vestidinho cinza xadrez. Estou encolhida e com frio. (/.
Iiihi ( om voz de desespero.)
'ú-paic você em duas. A pequena encolhida na cadeira e você gran- 
do vendo ela.
27
IV — Estou olhando para ela. Coitadinha! Está machucada, ela tem san­
gue perto do olho esquerdo. Coitadinha!
T — O que você quer fazer? Quer pôr algum remédio nela?
IV — Eu não sei onde tem remédio.
T — Ela está com frio?
IV — Tá. Ela está com muito frio.
T — O que você quer fazer?
IV — Pôr ela no colo. Coitadinha!
T — Então ponha ela no seu colo.
IV — Eu também estou com muito frio.
T — Materialize um cobertor e enrole vocês duas.
IV — Agora está bom. Está esquentando.
T — Como vocês estão?
IV — Ela está alisando meu rosto com a mãozinha.
T — E você, o que está fazendo?
IV — Estou só abraçando ela. Ela está passando a mão no meu peito.
T — O que ela vai fazer?
IV — Ela quer mamar.
T — Você vai deixar?
IV — Vou. Está gostoso. Sinto o corpo quente.
T — O que está acontecendo? Vá me contando.
IV — Ela está crescendo, não cabe mais no meu colo.
T — Deixe acontecer e vá me contando.
IV — Ela cresceu e ficou em pé. Estou sentada e ela está em pé entre as 
minhas pernas. Ela alisa minha cabeça e põe a mão no meu ombro. 
Eu estou abraçada a ela.
T — Faça uma foto dessa cena e guarde-a em algum lugar para inter­
rompermos essa vivência.
IV — Já fiz, guardei no meu guarda-roupas (a que está em pé tem o mes­
mo rosto que eu, mas de cabelos brancos).
T — Vá retomando o contato com o seu corpo e com a sala para conver­
sarmos um pouco.
P rocessa m en to: Nesse psicodrama interno IV. entra em contato num 
primeiro momento com o objeto de pavor (gato) que se transforma em 
homem e inicia um trabalho de sua relação com a figura masculina (no 
dia seguinte, ela relata que o homem é seu pai). Este trabalho fica inter­
rompido com a figura masculina paralisada (preso na jaula). Em seguida, 
IV. trabalha sua relação com a figura feminina no binômio proteção/ 
desproteção. No início do trabalho IV. mobiliza várias vezes Defesa 
Intrapsíquica do tipo Conversiva e o terapeuta contoma-a utilizando-se de 
técnicas de distanciamento em relação ao sentir (armadura, boneca e o 
próprio distanciamento físico — equivalente a Defesa Fóbica). Mais para
28
n mi. mira num mecanismo de Dissociação mente/corpo (gato arranca 
. . 11. do corpo). Interpretamos a Dissociação como um aprofundamento 
! i . ilóguo do trabalho. Mais à frente o terapeuta fica diante de uma op- 
> mirar no mundo cenestésico de material de l â Zona de Exclusão 
. n.i/homem lambendo a bola de carne) ou ficar com material de Concei- 
I. Identidade da 2- Zona de Exclusão. Optou-se pelo terreno mais su- 
I.. 11o lal pois tratava-se de um trabalho em sala de aula. No trabalho com 
, hema masculina a cliente chega ao que foi considerado um limite pelo 
m nipeula quando mobiliza Defesa Conversiva e Fóbica (na janela da casa 
i laia clisianciamento/endurecida/frio). Daí por diante, iniciou-se o traba­
lho ( um a ligura feminina.
i h.iinatizações Internalizadas
< omo já foi dito, as Dramatizações Internalizadas são mais seme- 
Ihanics às clássicas, utilizando as mesmas técnicas das dramatizações ao 
m\el do pensamento.
A dramatização internalizada é feita com o cliente em posição con- 
ti n lavei, deitado ou sentado, de preferência com os olhos fechados e ima- 
s ui.mdo as cenas. A medida que as cenas são imaginadas e verbalizadas, 
i< lapeuta utiliza consignas verbais para o encaminhamento e a utiliza-
ãt» das técnicas.
Vou dar um exemplo que foi realizado em sala de aula para demons- 
tiiK,;io de dramatização internalizada. A aluna é M., de 45 anos.
I Feche os seus olhos, relaxe na poltrona e tente identificar uma situa­
ção ou uma pessoa com quem você tenha alguma pendência não 
resolvida.
N1 I .ocalizei. É Liana, minha sócia, ela me deu um “chapéu”, ou seja, 
ela mudou de escritório e foi pegar a mudança à noite e escondida. 
Quando cheguei de manhã ela havia carregado todas as suas coisas 
sem ter me avisado nada.
l Onde você gostaria de se encontrar com a Liana para falar dessas 
coisas que estão engasgadas?
NI No meu escritório.
I Descreva seu escritório.
i\ l Tem dois módulos para sentar, janelas com cortinas, tapete e algu­
mas almofadas.
1 Onde você está?
M Estou sentada no módulo, de costas para a janela e em frente à 
porta de entrada da sala.
I Deixe Liana entrar, olhe para ela e conte-me como ela está.
M Ela está sorrindo, como sempre. É um sorriso falso e me incomoda 
muito.
29
S
-í
 
2
^
 
2
^
 
2
^
2
“i 
2 
^
 
2-
3 — Então, comece a dizer para ela o que você tem para dizer.
— O que eu tenho para te dizer, Liana, é muito pesado, mas eu tenho 
que te dizer.
— Troque de papel com Liana e responda.
(L) — Então fala. O que é que é?
— Volte ao seu papel e responda
— Eu fíquei com muita raiva de você quando cheguei aqui e vi tudo 
vazio. Você fez uma grande sacanagem comigo e eu fíquei muito 
puta com você. Eu não merecia isso! Por que você fez isso comigo?
— Troque de papel com Liana e responda.
(L) — Eu tinha que fazer assim! Você sabe, né! Eu sou desse jeito 
mesmo. Até quando eu ia ficar falando para as pessoas que estava 
no mesmo escritório que você? Eu quero ter minhas coisas, minha 
independência!
— Volte para seu papel e diga-me como está Liana.
— Está com aquele sorriso cínico. Parece uma máscara!
— Observe melhor o sorriso dela e veja se lhe lembra mais alguém.
— Lembra o sorriso da minha mãe! É o mesmo tipo de sorriso cínico!
— Você se lembra de alguma situação com a sua mãe que se asseme­
lhe a esta?
— Lembro-me. Quando minha mãe saía e não me avisava. Eu acorda­
va e ela não estava. Eu queria abrir a janela do quarto, mas não 
conseguia, ficava no escuro do quarto chorando sozinha.
— Onde você está agora?
— No meu quarto de criança e minha mãe está lá. Eu estou chorando.
— Fale para sua mãe o que você tem a dizer.
— Mãe, por que você não me avisa quando você sai? Eu fico muito an­
gustiada quando acordo e vejo que você não está. Memagoa muito.
— Troque de papel com sua mãe.
(M) — E bobagem essa sua choradeira. Eu fui só até o açougue. É 
muito rápido!
— Volte ao seu papel e responda.
— Pra mim este tempo é uma eternidade. Você não imagina o quanto 
eu sofro, o quanto eu me sinto abandonada.
— Olhe para sua mãe e veja o que ela responde.
— Ela diz que eu não tenho motivo para chorar e fica me olhando com 
esse sorriso cínico! É sempre assim!
— Traga seu pai para a cena e veja o que ele acha dessa situação.
— Já está. Está em pé, perto da porta.
— Entre no papel do seu pai e veja o que ele diz.
(P) — Eu não tenho nada com isso! Não sei por que você me chamou. 
Isso é coisa sua e de sua mãe. Vocês que resolvam isso porque eu 
estou trabalhando. O meu negócio é trabalhar.
30
2
 H
 
2
 H — Volte ao seu papel e responda para seu pai.
— Você é um babaca. Um omisso mesmo! Nunca toma partido de 
nada, fica na sua... Que ódio!
— O que você tem vontade de fazer?
— Quero sair pela janela. (É uma ja n e la baixa que dá para o quintal 
da casa.)
T — Você consegue abri-la sozinha?
M — Agora eu consigo. Abri e pulei, já estou no quintal.
T — O que você quer fazer agora?
M — Vou para a rua e estou andando.
T — Vamos interromper neste ponto em que você está andando. Vá vol­
tando para a sala, respirando fundo e abrindo os olhos bem devagar.
Após a dramatização, M. relata estar se sentindo livre e muito leve.
Como vocês podem perceber, o manejo da Dramatização In­
ternalizada é bem diferente do Psicodrama Interno. Na Dramatização Interna­
lizada não se propõe um aprofundamento e consulta-se a parte cons­
ciente do cliente. Portanto, não é uma técnica da Psicoterapia na Zona 
de Exclusão. No Psicodrama Interno propõe-se, desde o começo, um 
aprofundamento que leva o cliente para o contato com o Material Ex- 
i luído, caracterizando assim uma Psicoterapia na Zona de Exclusão.
3
DECODIFICAÇÃO 
DOS SONHOS
O sonho é uma m ensagem que o psiquism o envia pa ra si mesmo. 
\ sim sendo, cabe aqui, obviamente, a pergunta: Por que essa mensagem 
« in freqüentemente codificada e, na maior parte das vezes, carregada de 
imbolismos?
A resposta é bastante óbvia, na medida em que analisamos a compo- 
.içáo do próprio psiquismo. Conforme vimos em meu livro A n á lise 
psicodram ática — Teoria da program ação cen estésica , o psiquismo de 
uin indivíduo está formado de:
P siquism o O rganizado e D iferen cia d o — P O D
E o psiquismo que está diretamente ao alcance do consciente do in- 
ihviduo e engloba as Vivências Conscientes dessa pessoa, sua Cadeia 
‘.uperegóica, o Material Justificado e suas Figuras de Mundo Interno. Tudo 
i . -o forma o C on ceito de Identidade Vigente dessa pessoa.
M aterial E x clu íd o e D ep osita d o na Z on a de P C I
2a Zona de Exclusão
São vivências (sentimentos, pensamentos e percepções) do indiví­
duo em relação a si mesmo e aos outros que se chocam de maneira frontal 
.mi o Conceito de Identidade Vigente e, portanto, passam a ser excluídas 
desse Conceito, ficando depositadas na Zona de PCI. É material subcons- 
. lente e fica como que “esquecido” pelo indivíduo. É tamponado pelas 
delesas intrapsíquicas.
33
M a teria l Justificado
São vivências que o indivíduo tem em relação a si mesmo e aos ou­
tros que não se chocam de maneira frontal com o Conceito de Identidade 
Vigente e, assim, ficam registradas no POD em forma de Contradições 
Justificadas. E material consciente, mas não pode ser admitido sem as 
devidas justificativas.
Z o n a s de P siqu ism o C a ótico e Indiferenciado
I a Zona de Exclusão
São “bolsões” de psiquismo infantil — PCI — que não se transfor­
maram em POD e ficam excluídos da identidade do indivíduo. É material 
inconsciente e está tamponado pelos Vínculos Compensatórios.
Dessa maneira, podemos responder à pergunta feita inicialmente.
O sonho é uma m ensagem que o p siquism o envia p a ra ele m esm o, de 
uma m aneira codificada, m uitas vezes sim bólica, porque diz respeito a 
m aterial registrado nas Z o n a s de E xclu sã o d o p róp rio psiquism o.
É Material Justificado, Material Depositado na Zona de PCI (2- Zona 
de Exclusão) ou Material da Zona de PCI ( Ia Zona de Exclusão).
Dessa forma, temos quatro tipos básicos de sonhos:
A ) Sonhos de C on stata ção
Os sonhos de Constatação, como o próprio nome indica, são aqueles 
que informam ao sonhador vivências que ele tem consciência mas que 
não pode assumir frente a si mesmo.
Os sonhos de Constatação dizem respeito a Material Justificado.
Um exemplo típico é o seguinte:
Marta teve uma discussão com seu chefe e ficou muito chateada com 
ele. Ela sonha que está esfaqueando seu chefe.
O sonho informa que o sentimento de Marta foi muito além de uma 
simples chateação, como ela havia admitido para si mesma.
Outro exemplo típico: Marta e o marido saem para jantar com Luiz 
Carlos e Claudia. Marta gosta de dançar com Luiz Carlos e o marido de 
Marta não gosta de dançar. Durante o jantar Marta dançou com Luiz Carlos, 
o que acontece com freqüência. Comentam abertamente que gostam mui­
to de dançar e que formam uma boa dupla.
Marta sonha que está tendo relações sexuais com Luiz Carlos, num 
clima muito erótico.
O sonho informa que o que ela sente vai além da dança com Luiz 
Carlos.
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Nesses dois exemplos, Marta constata que ficou com ódio do chefe e 
que sente atração sexual pelo amigo. Sentimentos esses que ela não aceita 
dentro do seu consciente, na intensidade que o sonho informa.
I )entro do Conceito de Identidade Vigente de Marta, esses senti men- 
ii' não têm lugar na forma em que aparecem no sonho e são vividos de 
luima abrandada (Material Justificado) como chateação e parceiro para 
dança.
( )utro exemplo é o sonho de L.
L. tem 34 anos, dois filhos e é casada com W. há dez anos. Nos 
últimos dois anos W. está trabalhando em outra cidade e só vem ver a 
l.utulia duas a três vezes ao mês.
W. não gosta que L. vá à cidade onde ele está trabalhando e não lhe 
da o endereço de onde mora com a justificativa de que não é um bom 
lugar para ela. Assim, ela tem apenas o telefone do emprego onde ele 
I ussa a maior parte do tempo. L. fica revoltada com a situação, mas acaba 
aceitando este esquema.
L. tem o seguinte sonho: “Está andando em um local cheio de gente 
«• que parece o lugar onde W. trabalha. Está procurando por W. Encontra 
\ ui ias pessoas conhecidas pelas diversas dependências até que chega num 
..dão onde vê W. junto com uma mulher. Essa mulher é companheira de 
liabalho de W. e L. sabe disso. Nesse momento, ouve as pessoas ao redor 
« omentarem que W. e a companheira de trabalho têm um caso há dois 
anos. L. fica muito angustiada e acorda”.
L. telefona para uma amiga e confirma o que o sonho acabara de lhe 
Informar. W. realmente tem um caso com a companheira de trabalho há 
mais ou menos dois anos.
Na verdade, L. tinha suspeitas dessa situação e até muitos indícios,
- nlictanto, não “queria saber”. No decorrer da psicoterapia vimos que L. 
nao admitia que W. pudesse preferir outra mulher que não ela. Neste caso,
■ ■ amho constatou uma percepção de L., que no seu Conceito de Identida­
de Vigente era abrandada e justificada como “esquisitices” de W.
Os sonhos de Constatação não necessitam de interpretação. A im- 
Iii n lância terapêutica é o cliente poder constatar, sem as devidas justifica- 
livas, seus verdadeiros sentimentos, pensamentos, percepções, intenções, 
i a ido em relação a si mesmo como em relação aos outros e ao mundo em 
geral.
B) Sonhos da 2- Zona de E xclu sã o
São sonhos que trazem à tona Material Excluído e Depositado na 
/ona de PCI.
Começa a ser Excluído do Conceito de Identidade a partir de dois 
iinos e meio a três anos de idade e continua por toda a vida. As fases em
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que existe maior “depositação” de Material Excluído são as de Triangulação 
(4 a 6 anos), Homossexual (9 a 13 anos), de Transição (13 a 16 anos) e na 
Adolescência em geral.
As situações de intensos conflitos emocionais também geram uma 
maior depositaçãode Material Excluído.
O Material Excluído checa, de maneira frontal, o Conceito de Iden­
tidade Vigente e, portanto, no sonho ele aparece de forma codificada e 
simbólica, necessitando de uma decodificação e interpretação para poder 
ser entendido e assimilado pelo POD.
A importância terapêutica desse tipo de sonho é que ele significa um 
contato da esfera consciente do indivíduo com suas vivências excluídas. 
Mesmo que seja aparentemente incompreensível, é um contato que per­
mite ao cliente ir se familiarizando com os temas, sentimentos e vivências 
contidos nesse material.
No entendimento da psicoterapia dentro da Zona de Exclusão, o 
terapeuta não deve tentar forçar uma interpretação do sonho, e, sim, ten­
tar ao máximo decodificar as mensagens simbólicas e as relações existen­
tes entre os elementos do sonho de modo a estimular o psiquismo do 
cliente a continuar sonhando.
Na minha experiência, os sonhos tendem a se tornar seqüenciados e 
cada vez menos simbólicos, até que o Material Excluído vá se tornando 
consciente e facilmente interpretável.
Desta forma, é fundamental que o terapeuta tente sempre fazer al­
gum tipo de comentário sobre o sonho. Mesmo sem interpretar, os comentá­
rios sobre o sonho estimulam o cliente a continuar a sonhar, permitindo, 
assim, o afloramento do Material Excluído.
Q u em tem de interp reta r o so n h o é o p r ó p r io clien te. C a b e ao 
terapeuta d eco d ifica r as m ensagens, p o ssib ilita n d o que o clien te volte a 
sonhar, até que o sonho se torne claro. O clien te sem pre sabe, em bora 
esteja p roib id o de sa b er o que o sonho realm ente qu er dizer.
Esse tipo de sonho é o que mais desperta a curiosidade dos terapeu­
tas e dos clientes e é também o mais comum no processo de psicoterapia.
Para facilitar a abordagem do sonho, tracei seis passos que norteiam 
a interpretação do sonho.
1. Clima Afetivo do Sonho
Chamo de clima afetivo do sonho aquele em que o indivíduo sente 
durante o sonho. Não se inclui no clima afetivo do sonho o que o indiví­
duo tem ao acordar, pois este já pode estar contaminado com reações 
afetivas ligadas aos processos conscientes.
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(.•liando acorda de um sonho, o indivíduo p a ssa de uma vivência de 
, uh is de psiquism o exclu íd o do C o n ceito de Identidade Vigente para as
i n em ias do P siqu ism o O rganizado e D iferen cia d o — P O D — e, p orta n ­
to dentro do C o n c e ito de Id en tid a d e Vigente. Essa transição pode,
«miiiinente, acarretar climas afetivos. O mais comum é o p â n ic o , pois 
ih 'i alguns instantes a pessoa fica desorientada entre a vivência do Mate- 
ibil 1 .xcluído e a retomada do Conceito de Identidade Vigente. Isso expli- 
• | >1 que, muitas vezes, as pessoas acordam em pânico quando no sonho 
,i sensação não existia. Muitas vezes, aparecem sentimentos ligados
ii ' valores morais, tais como vergonha, culpa, constrangimento etc., que 
não estavam presentes durante o sonho. São sentimentos ligados ao Con-
. ito dc Identidade e reativos às vivências do sonho.
Só fa zem pa rte d o C lim a A fetivo d o Sonho os afetos sen tidos durante 
a •uinlio e os que perduram e continuam presen tes ao acordar. Nesses 
. r.os, o clima afetivo do sonho continua com o indivíduo acordado. Um 
Pi mais comuns é a excitação erótica e também situações carinhosas. É 
um sinal de que essas vivências já estão próximas de serem assimiladas 
pell) POD.
Quando o clima afetivo do sonho não é contaminado pelo conscien­
te ele pode permanecer presente por várias horas e até mesmo por dias, 
rmpre seguido por uma tênue sensação de irrealidade.
Às vezes, o clima afetivo está claramente identificado no sonho. Por 
emplo: medo, perseguição, opressão, raiva, tristeza, alegria, amor, ódio 
rii\ Outras vezes, necessita de decodificação, tal como frio (abandono, 
nlidão, desamparo), gelo (ódio, dureza), sol, quente (alegria, aceitação) 
dc. E, ainda, pode não estar no sonhador, que permanece como um obser- 
•ulor neutro, e sim nos personagens ou elementos do sonho.
A importância terapêutica de identificar o Clima Afetivo do Sonho é 
i dc que este é produzido p e lo M ateria l E xclu ído, sem a cen sura da Ca- 
tleia Superegóica e das Figuras de M undo Interno, sen do portanto um 
< lima Afetivo ligado ao Verdadeiro E U do indivíduo.
Época do Sonho
Definimos a época do sonho como sendo a fa s e do desenvolvim ento 
p sico ló g ico e a idade em que o m aterial presente no sonho f o i vivido, 
(■ xcluído do C o n ceito de Identidade e deposita do na Z on a de P C I.
A importância terapêutica em se determinar a época do sonho é a de 
que temos alguns parâmetros para pesquisar as vivências da época e, com isso, facilitar a compreensão do sonho. Por exemplo: um sonho em que, 
11a época, o cliente tinha 12 anos de idade, já nos informa que o Material 
I xcluído pode estar ligado à Fase Homossexual do desenvolvimento da
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Identidade Sexual, da ligação afetiva com o Grande Amigo/a, da reorga­
nização dos Modelos Internalizados femininos (cliente mulher) ou mas­
culinos (cliente homem). Ou, ainda, fatos ligados aos dramas individuais 
da pessoa nessa época, tais como: separação dos pais, mudanças de cida­
de ou de status, morte de entes queridos ou inúmeras outras situações que 
abalaram o Conceito de Identidade dessa pessoa.
Já um sonho cuja época abranja os quatro anos de idade nos informa 
de Material Excluído que pode estar ligado à Fase da Triangulação ou 
circunstâncias da vida dessa pessoa, tais como nascimento de irmãos, en­
trada na escola maternal etc., desde que tenham abalado o Conceito de 
Identidade.
Em sua grande maioria, existem elementos que possibilitam desco­
brir a época do sonho.
D e i o nom e de M arcadores de É p o ca a esses elem entos.
O s M arcadores de É p o ca sã o elem entos, p esso a s ou ob jetos que ch a ­
maram a atenção do sonhador, durante o sonho, m as que não participam 
do enredo.
Os Marcadores de Época mais comuns são:
Pessoas — Crianças ou filhos que aparecem com a idade que o so­
nhador tinha na época do sonho, pessoas do passado com a idade 
compatível com a do sonhador na época (ex. a mãe aparece com trinta 
anos e, na época, o sonhador tinha seis anos); pessoas já falecidas e que 
na época eram vivas; pessoas que participaram de apenas determinada 
época da vida do sonhador (colegas de escola, por exemplo). Essas pessoas 
podem ser Marcadores de Época se o seu aparecimento no sonho chama a 
atenção do sonhador, mas elas não participam do enredo do sonho. Às 
vezes, o Marcador é o próprio sonhador com outra idade.
Locais — Os mais comuns são casas ou cômodos de casas que o 
sonhador frequentou durante sua vida, colégios, ruas, cidades, clubes, sí­
tios, praias, enfim, locais em que ele teve contato durante sua vida.
Objetos — Móveis, brinquedos, roupas, jóias, carros, barcos e um 
sem-número de objetos que o sonhador têm gravados em sua mente e que 
podem determinar uma época de sua vida.
Situações — Também servem como marcadores de época. Como por 
exemplo, mudanças, andar a cavalo, pescaria, dançar etc. Para se identifi­
car a época é necessário pesquisar. “Quando é que você costumava andar 
a cavalo?”, “Quando aconteceram mudanças de casa na sua vida?” ou 
“Quando você costumava pescar?” etc.
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| essas sejam as formas mais comuns de se identificar o
| j rt(. : i „ de Época, ele pode aparecer de inúmeras outras formas, mas é 
um elemento que chama a atenção do sonhador, durante o sonho, 
um*i p.ulieipa do enredo do sonho.
i | I' di lentos do Sonho
< )■• I ilementos do Sonho são pessoas, personagens, animais, objetos, 
jp u elementos físicos (água, fogo, terra, água, ar, fumaça etc.), vege- 
, ,i minerais, acidentes geográficos, sol, lua, claro, escuro, frio, calor 
, i, , |iie ajudam a compor o Clima Afetivo do Sonho e que fazem parte 
juh yianle do Enredo do Sonho. Os Elementos do Sonho interagem com 
,i uihador, são observados por ele ou interagem entre si, observados 
Rflo sonhador.
I >ivido osElementos do Sonho em três tipos, excluindo o Marcador 
l. Época que também é um Elemento do Sonho.
ile m e n to s de Enquadre — São os que dão enquadre ao sonho, ou 
|u, onde ele acontece, tais como casas, parques, ruas, cidade, sítios, carro, 
ônibus, navio, avião, porão de casas etc. Quando não são Marcadores de 
I poca, esses elementos, freqüentemente, são extensões do Eu do próprio 
indivíduo. Por exemplo: o sonho acontece no porão de uma casa e esse 
poiáo pode ser uma parte do mundo interno do cliente.
Elem entos S im b ólicos — São aqueles que trazem significado para o 
[•medo do sonho mas estão representados por objetos, animais, persona­
gens, locais, elementos físicos etc. Por exemplo: escuro pode ter um sig- 
míicado de material pouco consciente; um panoram a árido pode signifi­
car um núcleo de carência, uma igreja ou cruz pode significar um superego 
religioso; gelo pode estar significando ódio, dureza ou ausência de emo- 
ções; uma cobra pode ter significado de pecado ou tentação, significado 
sexual ou, então, de mulher.
Os Elementos Simbólicos devem ser pesquisados de forma a m obili­
zar o significado que aquela sim bologia tem para o clien te e não o seu 
significado universal. Muitas vezes, uma simbologia universal pode ter 
um significado muito diferente para o cliente.
Por exemplo: no sonho de R. aparecia em determinado momento 
uma bandeira com a suástica nazista. Na simbologia consensual isso re­
presenta uma época de perseguição e violência, mas, para R., lembrou- 
lhe de uma fase em que tinha uma relação afetuosa com o pai, que costu­
mava ler as histórias da Segunda Guerra para ele.
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.wu as pessoas conhecidas ou desconhecidas, que 
íipair. nu no sonho contracenando ou não com o sonhador. Muitas vezes, 
'..u> .mistas, personalidades, pessoas do presente em sonhos do passado 
que estão representando os verdadeiros personagens. Chamo a essas 
pessoas de “dublês”.
4. Relação entre o Sonhador e os Elementos do 
Sonho
Durante o sonho, o sonhador estabelece relações entre ele e os Ele­
mentos do Sonho ou, então, observa as relações que esses elementos esta­
belecem entre si. Essas relações vão formar o E nredo e, normalmente, são 
carregadas de afetos, tais como: raiva, impotência, dominação, desespero, 
perseguição, erotização, indiferença, alegria etc. O Enredo do Sonho é a 
mensagem que o psiquismo está enviando, para ele mesmo, de forma co­
dificada.
Na medida em que conseguimos estabelecer relações entre o sonha­
dor e os elementos do sonho, este começa a ganhar uma estrutura lógica 
mais compatível, para uma melhor compreensão tanto por parte do clien­
te como do terapeuta.
Sonhos com muitos elementos simbólicos têm muito pouco enredo e 
mostram Material Excluído que está começando vir à tona do consciente 
mas ainda de forma muito desorganizada. Esses sonhos têm pouco valor 
interpretativo e apenas os principais elementos devem ser apontados. Eles 
significam que o cliente está mobilizando Material Excluído, o que é sem­
pre um bom sinal na psicoterapia. Sonhos que apresentam um enredo, 
mesmo que com algum simbolismo, já representam material excluído or­
ganizado e perto de ser conscientizado e assimilado pelo POD.
5. Relato do Sonho
Uma vez identificado o Enredo do Sonho e estabelecida alguma es­
trutura lógica, o terapeuta deve relatar o sonho p a ra o cliente, isto é, 
con tá-lo, inclu indo as ob serv a çõ es sobre o clim a afetivo, a época, os p o s ­
síveis significados sim b ó lico s e a relação entre os elem entos.
É fundamental que, durante o Relato do Sonho, o terapeuta não colo­
que suas interpretações pessoais. Ele deve tentar decodificar ao máximo 
as nuances do sonho do cliente.
A importância terapêutica do Relato do Sonho é que, embora muitas 
vezes ele não faça sentido para o terapeuta, ele o faz para o cliente e,
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seguramente, mais ainda ao seu psiquismo, mesmo que este não esteja cons­
ciente. A prova disso aparece, com freqüência, nos sonhos subseqüentes, 
que surgem quase que como encomenda, trazendo a continuação do pri­
meiro sonho.
Podemos dizer que o Relato do Sonho é feito diretamente para o 
Psiquismo do Cliente e, além de organizar o Material Excluído que está 
vindo à tona por meio do sonho, é um convite e um estímulo para que o 
cliente volte a sonhar.
6. Interpretação do Sonho
Após o Relato, o terapeuta vai interpretar o sonho. A Interpretação é 
um entendim ento p s ic o ló g ic o da m ensagem do sonho.
A Interpretação do sonho é sempre uma hipótese do terapeuta e só 
vai ser verdadeira na medida em que fizer algum sentido emocional para 
o cliente. O terapeuta vai utilizar-se de todo o material do sonho (clima 
afetivo, época, simbologia e enredo) e dar-lhe uma linguagem técnico- 
psicológica. Tentará entender o sonho dentro da dinâmica da personalida­
de do cliente, da fase da psicoterapia e do momento de vida desse cliente. 
Além disso, vai avaliar os acontecimentos importantes que antecederam 
esse sonho e correlacioná-los a outros, que o cliente estiver tendo.
No Relato do sonho o terapeuta deve utilizar-se da linguagem do 
próprio sonho e, na Interpretação, da linguagem do entendimento psico­
lógico.
N o R elato do Son ho o terapeuta está trabalhando o M a teria l de E x ­
clusão, dentro da p róp ria Zona de E xclusão, e na Interpretação d o Sonho 
o terapeuta está tentando trazer o M ateria l de E xclu sã o para a esfera do 
consciente. Portanto, confrontando-o com o C on ceito de Identidade.
Na minha experiência tenho utilizado muito mais o Relato do So­
nho, até que o psiquismo do cliente possa ir trabalhando esse sonho e 
trazendo outros, cada vez mais claros, tanto ao nível do enredo quanto 
dos símbolos para depois lançar mão das Interpretações. Uso a Interpreta­
ção quando o sonho já está quase que interpretado por si próprio.
C ) Sonhos da I a Z on a de E xclu sã o
São sonhos que dizem respeito ao Material da Zona de Psiquismo 
Caótico e Indiferenciado — PCI.
O Material que compõe a Zona de PCI é Cenestésico, está excluído 
da Identidade e tamponado pelo Vínculo Compensatório. Como a exclu­
são da Zona de PCI acontece por volta dos dois anos de idade, as vivências 
nela registradas não sofrem uma evolução com o resto do psiquismo, fi-
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Iho, com rendinhas, por um novo, florido. Ao sair, vejo uma mulher, que 
loma conta dos banheiros. Digo a ela que já troquei o sutiã e que o outro 
ela pode jogar fora”.
No entendimento da seqüência de sonhos de N., ela abandona uma 
identidade feminina antiga (sutiã velho) ligada aos modelos da avó e da 
mãe e a substitui por uma identidade feminina baseada em seus próprios 
valores de ser mulher (sutiã florido).
Outro sonho de reparação de N. ocorre após ter trabalhado a relação 
entre a separação dos pais e começar a tomar um novo rumo em sua pró­
pria vida, sem ser em função deles. Sonho: “Entro numa casa que foi sendo 
ampliada e vou descobrindo vários cômodos. Os cômodos foram sen­
do agregados por diferentes reformas. A casa não tem luz e é toda iluminada 
com velas em castiçais. Vejo uma mulher passar por um cômodo parecida 
com a arquiteta que reformou meu apartamento. Estou conversando com 
um homem na sala quando noto que uma lâmpada está acesa. Digo que a 
luz já chegou e começo a apagar as velas”.
No entendimento, esta casa é o próprio Eu de N., que durante a 
psicoterapia foi se ampliando e sendo reconhecido. As velas foram luzes 
de entendimento que foram sendo acesas a cada descoberta de novos com­
partimentos afetivos. A chegada da luz representa uma retomada do con­
tato de N. com ela mesma e a finalização do processo de materiais excluí­
dos. Podemos entender melhor este sonho se o compararmos ao que ocorreu 
duas noites depois.
N. sonha: “Estico a cabeça e vejo um poço escuro e muito profun­
do. Estou puxando uma corda, como se fosse um poço de água, e na 
ponta tem um balde. Vejo uma manivela, mas não faço uso dela. Estou pu­
xando a corda e esta vem cheia de musgos e material decomposto. Vou 
puxando e nãoacaba nunca. Não vejo o fundo do poço e as cordas vão 
ficando no chão formando grandes bolos de material decomposto. Olho e 
vejo vários buracos no chão. Penso que preciso enterrar essas cordas. Acabo 
de puxar e enterro-as. Olho para o poço e ele está totalmente claro e azu- 
lejado. Olho para onde enterrei as cordas e vejo que está nascendo grama. 
Penso que o lugar vai ficar muito bonito”.
As cordas e o material decomposto são todas as vivências excluídas 
que N. foi trabalhando ao longo desses anos de terapia. O poço escuro é a 
própria Zona de Exclusão que vai se tornar clara e incluída no psiquismo. 
O material enterrado é elaborado e se transforma em vivências e compor­
tamentos (grama) novos.
Outra seqüência de Sonhos de Reparação acontece com V., 53 anos. 
V. vem trabalhando na terapia uma dificuldade em assumir posturas na 
vida e com as mulheres com maior carga de energia masculina. V. é hete­
rossexual, mas assume sempre uma postura maternal/paternal na vida e 
com as mulheres.
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V. sonha: “Estou amassando com as mãos a cara de um leopardo. 
Passo a mão e aperto o maxilar do leopardo até deformá-lo”.
Em seguida, V. sonha: “Estou indo para uma casa procurar o E. (neto, 
com dois anos de idade). Vejo a casa e sei que E. está lá e está bem. Vou 
chegando perto e vejo que, de repente, uma espécie de campanário cai da 
casa. Nesse momento, estou na rua, atrás da casa deitado em uma cama. 
De repente, grito: ‘Sai para lá, sua puta!’. Imediatamente, dou um enor­
me urro de leopardo”.
Outro sonho de V.: “Estou dentro do mar e vejo um bebê, do sexo 
masculino, que é uma espécie de feto. Ele flutua, imerso na água, e eu 
também. Sinto as sensações do feto e sei que está muito gostoso”.
Em seguida, V. sonha: “Estou dentro do mar e vejo E. (o neto de dois 
anos); estamos brincando e está muito gostoso”.
No entendimento V. amassa, reprime e contém sua agressividade 
(energia masculina - leopardo). Vai à procura de E. (neto com quem se 
identifica e que em sonhos anteriores várias vezes tinha sido perdido no 
mar). Entendemos que o campanário caindo é uma libertação do menino 
e, no mesmo sonho, V. se liberta de uma mulher, que exerceu uma função 
repressora em sua vida, libertando-se da energia masculina (leopardo). 
Entendemos que o campanário e a mulher que sai da cama dele são o 
mesmo elemento repressor. O feto é a identidade masculina (energia 
masculina) de V. se libertando e crescendo. E. é resgatado no próprio mar 
(ambiente feminino) onde tinha sido perdido (engolido por uma onda em 
sonhos anteriores) e interage com V. (brincando). E. é a identificação que 
V. faz com sua própria identidade masculina.
Na seqüência dos sonhos de V. ele passa a resgatar elementos que 
estavam na mão das mulheres e, em especial, da irmã, assim como sonhar 
com cenas de agressividade com antigos desafetos masculinos.
Exemplos de Decodificação de Sonhos
Ma., 36 anos, sonha o seguinte: “Sonho que estou no hospital onde 
trabalho (Ma. é psiquiatra) e vejo vindo em minha direção uma mulher 
com o olhar perdido e vago. Sinto muito medo e começo a fugir dela. 
Passo por uma passarela que une o hospital a um outro prédio (na verdade 
não existe essa passarela) e entro correndo. E uma espécie de refeitório e 
noto uma cristaleira. A mulher vem atrás de mim e corro em direção a 
uma outra mulher para me proteger. Acordo assustada”.
C lim a A fetivo do Sonho — E um sonho de medo e de fuga.
M arcador de É p o ca — É a cristaleira (elemento que chama a aten­
ção do sonhador mas não entra no enredo do sonho). Ma. relata que a
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cristaleira do sonho é igual à da casa da avó, que ela freqüentava até mais 
ou menos sete anos de idade. É, portanto, um sonho de material excluído 
na infância, até os sete anos de idade.
E lem en tos do Sonho
E lem en to de Enquadre — O hospital (presente) e depois o refeitório 
(não identificado pela cliente).
E lem en tos S im b ólicos — A passarela (ligação entre presente e passa­
do, visto que o refeitório está ligado com vivências dos sete anos (crista- 
leira/avó).
Personagens — Mulher com olhar perdido e vago (loucura ou histe­
ria) e Mulher do Refeitório (que protege e pode se relacionar com comi­
da, pois Ma. tende a comer quando está ansiosa).
R ela çã o entre os Elem entos
Sonhador versus Mulher com olhar perdido — Medo e fuga.
Mulher com olhar perdido versus sonhador — Vem ao encontro (tenta 
estabelecer contato).
Sonhador versus Mulher do Refeitório — Proteção.
R elato do E nredo do Son h o (feito pelo terapeuta)
É um sonho que diz respeito a sua relação com as mulheres (Ma. é 
mulher). Você está no hospital e ameaça entrar em contato com uma 
vivência de loucura ou histeria (mulher de olhar perdido e vago) que lhe 
dá medo. Ao fugir, entra em contato com uma vivência do passado (sete 
anos) onde, provavelmente, teve alguma vivência semelhante com algu­
ma figura feminina da época e buscou refúgio em outra figura feminina 
que está identificada com comida.
Interpretação d o Sonho
Uma interpretação possível é que Ma. foge de seus sentimentos amor­
tecendo-os (olhar perdido e vago), dissociando-se deles, e compensa isso 
fazendo um vínculo compensatório com a comida, que está identificada 
com uma figura feminina do passádo (vínculo de amor e proteção).
Fa., 34 anos, tem o seguinte sonho: “Sonhei que estava viajando de 
navio com Na. (a filha, de onze anos). Estava procurando Na. desespera­
damente. Eu sabia que havia um estuprador a bordo e que ele a tinha 
raptado. Depois de muita procura e desespero, passo por vários capachos 
enrolados e noto algo estranho. No meio de um deles encontro Na., morta 
e degolada. Eu tinha certeza de que ela havia sido violentada antes de 
morrer. Olho para ela e tenho a sensação de que ela sou eu”.
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C lim a Afetivo do Sonho — Desespero e procura.
M arcador de É p oca — E a própria filha de 11 anos e, portanto, é 
material que foi excluído ao redor dos 11 anos da cliente.
Elem entos do Sonho
E lem en to de E nquadre — Viagem de navio/o próprio navio. Fa. rela­
ta que visitava navios quando ia para Santos quando tinha entre 9 e 13 
anos, e uma viagem de navio aos 16 anos.
Elem entos S im b ólicos — Vários capachos empilhados (lembranças/ 
vivências guardadas e possivelmente “esquecidas”), menina morta e de­
golada (vivências amortecidas e dissociadas — Dissociação mente/corpo).
Personagens — Menina de 11 anos e Homem estuprador não identi­
ficado.
R ela çã o entre os E lem entos
Sonhador versus Menina — Procura e desespero com o que possa ter 
acontecido.
Estuprador versus Menina — Abordagem sexual.
Sonhador versus Menina (morta e degolada) — Identificação como 
sendo a mesma pessoa
R elato do Enredo do Sonho (feito pelo terapeuta.)
E um sonho que levanta vivências possivelmente ocorridas ao redor 
de seus 11 anos de idade e ligadas ou à época em que freqüentava Santos 
ou à viagem de navio que você fez. Você procura desesperadamente Na. 
(você mesma com mais ou menos 11 anos) e teme que tenha sido aborda­
da sexualmente por um homem (estuprador). Encontra-a em vivências 
“esquecidas” (capachos empilhados) e constata que, realmente, aconte­
ceu algum tipo de abordagem sexual entre esse homem e você aos 11 
anos. Mas essas vivências estão amortecidas dentro de você (menina mor­
ta) e também estão dissociadas entre seus sentimentos e suas lembranças 
(menina degolada).
Interpretação do Sonho
Uma interpretação possível é que Fa. está entrando em contato com 
um lado seu de pré-adolescente, em quefoi/imaginou ou desejou ser abor­
dada sexualmente por um homem erotizado e essa vivência está amorteci­
da e dissociada dentro dela.
Vi., 38 anos, tem o seguinte sonho: “Sonho que estou saindo num 
Fiat Tipo preto (ela tem, na verdade, um Fiat Tipo prata) para experimen-
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tar o carro. Estou junto com De., 13 anos (enteada). De repente, fica escu­
ro e não consigo acender o farol. Dirijo com medo, pois estou sem farol e 
está escuro. Quero voltar para casa, mas me dou conta de que estou muito

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