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INTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS − O FÁRMACO é administrado por uma via no seu sítio de administração, é absorvido, cai na circulação sistêmica, é biotransformado e é distribuído para os tecidos ou é excretado − O fármaco pode ir todo, em parte ou nada para o processo de biotransformação, dependendo da via em que é administrado ABSORÇÃO FATORES QUE AFETAM A ABSORÇÃO RELACIONADOS COM A DROGA − Propriedades físico-químicas − Solubilidade (forma farmacêutica) − Lipossolubilidade (coeficiente de partição O/A) − Tamanho da molécula − pKa da droga – grau de ionização PKA DA DROGA (GRAU DE IONIZAÇÃO) − A característica ácido ou base do fármaco é intrínseca a ele e não muda − pKa é o pH em que a droga está 50% ionizada e 50% não ionizada − Quando um ácido fraco é protonado, ele está na sua forma neutra − Quando uma base é protonada, está na sua forma ionizada − Por isso, para ficar mais claro o entendimento, a equação de HH foi dividida em 2: uma para ácidos fracos e outra para bases fracas − Se há substâncias que alteram o pH do meio, isso vai impactar no grau de ionização das moléculas, seja ácido ou básico • Se altera o pH do estomago, por exemplo, ou de outros sítios, com certeza vai haver impacto na absorção de outras drogas • Assim, remédios antiácido podem alterar absorção de outros fármacos. Nem sempre isso vai ser clinicamente relevante → a prática vai mostrar COMO SE DÁ A INTERAÇÃO FARMACOCINÉTICA? − Alteram o pH intestinal: assim os fármacos que são absorvidos no intestino, predominantemente, sofrem alteração • Após a ingestão de alimentos, o pH do estômago aumenta → pode afetar a desintegração das cápsulas, drágeas ou comprimidos • Omeprazol e antiácidos também alteram pH e modificam a absorção de fármacos − Adsorção, quelação, complexação: exemplos: • Mg(OH)2 e Al(OH)3 e suplementação com Fe também pode gerar essa complexação e diminuir a absorção de drogas. Deve-se esperar cerca de 2 horas após ingestão dessas substâncias para se administrar o fármaco • OBS: óleo mineral não é absorvido / óleo vegetal é • O carvão ativado consegue se ligar a muitas drogas e pode ser usado em casos de intoxicação via oral recente, para impedir a absorção do fármaco, a partir da complexação do carvão nele − Alteração da motilidade intestinal: aceleração ou diminuição da motilidade altera o tempo em que o fármaco permanece no seu local de absorção • Metoclopramida (plasil), domperidona → aumentam a velocidade de esvaziamento gástrico (aumenta velocidade de absorção de várias classes de drogas) • Analgésicos opióides → Absorção mais lenta • Levodopa e penicilina são degradadas no estômago → maior permanência implica em menor disponibilidade − Interações com o Cit P450 intestinal: inibição ou indução enzimática pode alterar a biotransformação e absorção FATORES QUE INTERFEREM NA DISTRIBUIÇÃO LIGAÇÃO A PROTEÍNAS PLASMÁTICAS − Os fármacos usam proteínas plasmáticas para serem transportados e a fração livre é a que consegue cruzar as barreiras biológicas e chegar aos tecidos − As drogas podem se ligar com maior ou menor afinidade nessas proteínas − Muitos fármacos envolvem competição na ligação à proteínas plasmáticas • Em geral substâncias ativas ácidas se ligam às proteínas plasmáticas e deslocam outros fármacos. Se há 2 fármacos que se ligam à mesma proteína plasmática, vai haver competição. O fármaco A que tem maior afinidade de ligação pela proteína vai conseguir se ligar mais a ela e deslocar o fármaco B, fazendo com que aumente sua porção livre, se distribuindo mais rápido (pode provocar efeito mais intenso e mais curto, em vez de mais lento e menos intenso) • Fenilbutazona, oxifenbuzatona, sulfisoxazol, clofibrato e azapropazona deslocam os anticoagulantes orais • Fenilbutazona, oxifenbutazona, salicilatos e sulfonamídicos deslocam os hipoglicemiantes orais (deslocamento de hipoglicemiantes pode favorecer picos de hipoglicemia no paciente) • Se os fármacos A e B se ligam a sítios diferentes na mesma proteína, eles não vão se deslocar − A competição por locais de ligação não ocorre apenas entre fármacos, mas também entre fármacos e ligantes endógenos • Um exemplo de grande importância clínica é o deslocamento de bilirrubina por fármacos ácidos como as sulfonamidas OUTROS − Fluxo sanguíneo − Diferença de pH nos diferentes compartimentos − Permeabilidade capilar − Propriedades físico-químicas do fármaco • Lipossolubilidade • Afinidade química por algum componente celular • Ex. Pb → osso (sítio de armazenamento) − Presença de “barreiras biológicas” protegendo algum órgão • Barreira hemato-encefálica: células endoteliais justapostas, revestindo capilares por prolongamentos de astrócitos. Tem presença de glicoproteína P − Barreira hemato-placentária • Até 6 camadas celulares e tem enzimas e glicoproteína P − Barreira hemato-epididimária BIOTRANSFORMAÇÃO Droga → biotransformação → metabólito − Os dois processos mais importantes são indução e inibição enzimática − INDUÇÃO ENZIMÁTICA – aumenta a tx de síntese/atividade ou diminui a tx de degradação dessas enzimas • ↑ taxa de síntese ou ↓taxa de degradação • É mais relevante quando atinge o sistema microssomal hepático – enzima P450 ✓ Essas enzimas são dependentes da fase 1 de biotransformação • Isoforma-dependente → tem fármacos que inibem mais uma ou outra CYP • Reversível • Fenobarbital, carbamazepina, etc • Se há indução enzimática, há mais biotransformação e mais formação de metabólito, sobrando menos fármaco original para desempenhar sua ação, caso o metabólito seja inativo, havendo diminuição dos efeitos. Se o metabólito for ativo, haverá exacerbação dos efeitos • Tem que prestar atenção nas outras terapias que o paciente está usando, avaliando possíveis efeitos que podem ocorrer − INIBIÇÃO ENZIMÁTICA – diminui a ação da enzima ou aumenta a taxa de degradação enzimática • Sistema microssomal hepático → cimetidina, cetoconazol • Monoaminooxidase - MAO → antidepressivos inibidores da MAO, anfetamina • Colinesterase → organofosforados, piridostigmina • Aldeído desidrogenase → dissulfiram • Há inibições reversíveis e irreversíveis (AAS inibe COX-1 irreversivelmente, aumentando a intensidade do efeito anti-agregante plaquetário) • A inibição enzimática diminui a metabolização dos fármacos, acumulando a droga original, aumentando seu efeito, caso o fármaco original seja ativo. Caso seu metabólito seja o ativo, o efeito irá diminuir EXCREÇÃO − Alteração na Excreção tubular renal • Esse processo depende de transportadores específicos. se 2 fármacos dependem do mesmo transportador para ser excretado, eles vão competir um com o outro. o que tem maior afinidade de ligação com os transportadores vai ser mais excretado, enquanto o outro irá acumular na circulação, aumentando sua meia vida, p • odendo causar toxicidade − Fluxo Sanguíneo renal • Aumento do fluxo gera maior excreção dos fármacos, pois maior é a taxa de filtração glomerular • Os AINES reduzem fluxo sanguíneo renal, reduzindo a excreção de alguns fármacos, principalmente daqueles que são excretados de maneira ativa, como o lítio − Excreção biliar e ciclo êntero hepático • Ex: antibióticos e anticoncepcionais − Alteração do PH Urinário • A alteração do pH urinário é uma estratégia usada para conseguir favorecer a excreção de determinados fármacos TRAPEAMENTO DE FÁRMACOS − Urina acida favorece excreção de bases, porque ioniza ela e impede sua reabsorção − Caso haja intoxicação por bases, como a metanfetamina, que é base fraca, pode-se usar fármacos que acidificam a urina para promover maior eliminação dela − Caso haja intoxicação com ácidos, como os barbitúricos, pode-se usar fármacos que aumentam o pH da urina para CICLO ÊNTERO-HEPÁTICO − Fármacos já conjugados no fígado,podem ser desconjugados pela microbiota intestinal e acaba sendo reabsorvido e voltando para o fígado pela veia porta, sendo novamente biotransformando e redistribuído pelo organismo EXEMPLOS DE INTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS LIDOCAÍNA E ADRENALINA. − Essa interação é muito frequente para realizar-se anestesias locais, uma vez que os anestésicos, como a Lidocaína, por si só possuem atividade vasodilatadora. Assim, sua captação para o sangue é alta, o que torna sua potência muito elevada e reduz a duração da anestesia, podendo não durar o tempo necessário. Para isso, geralmente se é utilizado a combinação de Andrenalina, junto à Lidocaína, para que com sua ação vasoconstritora ao interagir com os receptores α- adrenérgicos, reduza a captação sanguínea, aumentando a duração da anestesia e reduzindo o risco de intoxicação por anestésicos ANSIOLÍTICOS E HIPNÓTICOS COM ANTIÁCIDOS NA FORMA DE GÉIS, COMO HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO E HIDRÓXIDO DE MAGNÉSIO − Uma interação farmacocinética de sinergismo que atua no nível de absorção é após o uso de Ansiolíticos e Hipnóticos com antiácidos na forma de géis, como Hidróxido de Alumínio e Hidróxido de Magnésio, ou a combinação de ambos. Essa interação irá diminuir a velocidade de absorção de Ansiolíticos, como Diazepam, Alprazolam ou Clordiazepóxido, que geralmente são rapidamente absorvidos. A redução da absorção se da devido à alcalinização do pH gástrico e a consequente formação de precipitados. − Essa interação é de suma importância, pois prolonga os efeitos dos benzodiazepínicos, podendo, no entanto, causar um longo efeito sedativo e intoxicação. HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO COM HIDRÓXIDO DE MAGNÉSIO − A associação de Hidróxido de Alumínio com Hidróxido de Magnésio é muito comum em antiácidos (Gastrol, Estomazil, Gastrobion etc). Sendo que essa associação tem um efeito sinérgico por aumentar a neutralização do HCl gástrico e os seus efeitos adversos são reduzidos, já que o Hidróxido de Alumínio pode causar constipação e o Hidróxido de Magnésio pode provocar diarreia. Portanto, a associação diminui as chances do paciente ter diarreia ou constipação. OMEPRAZOL E CLONAZEPAM (RIVOTRIL) − Um exemplo de interação farmacocinética é a que ocorre entre omeprazol e clonazepam (rivotril). O rivotril, quando administrado sozinho é rapidamente absorvido, e suas concentrações plasmáticas máximas também são alcançadas rapidamente. Já o omeprazol, reduz a secreção gástrica, logo diminui o metabolismo oxidativo do clonazepam, fazendo com que a sua meia-vida de dure mais tempo, logo sua concentração no sangue aumenta e consequentemente a intensidade da sua ação também aumenta, podendo resultar em prolongamento do efeito sedativo e ataxia. Esse caso trata de uma interação medicamentosa de sinergismo farmacocinético envolvendo o processo de absorção. − o omeprazol produz uma inibição enzimática e como consequência há aumento da concentração dos benzodiazepínicos. Daí no caso seria um interação farmacocinética na biotransformação − O omeprazol é inibidor de algumas enzimas do citocromo P450, que são responsáveis por biotransformar diversos benzodiazepínicos em metabólitos menos ativos, inclusive o clonazepam. Segundo a bula do clonazepam, é necessário ter atenção aos fármacos que inibem o citocromo P450 3A, pois esse seria um dos grandes responsáveis pela metabolização do clonazepam. CONTRACEPTIVOS ORAIS (CO) E ANTIBIÓTICOS − O estrógeno e a progesterona são exemplos de fármacos que passam pelo ciclo entero-hepático, pois os metabólitos inativos formados no fígado são levados na bile até o intestino e hidrolisados por bactérias da flora intestinal em estrógeno, que é reabsorvido e, consequentemente, a concentração de estrógeno circulante aumenta. Entretanto, os antibióticos, como a penicilina, podem atuar de 2 formas para diminuir essa reabsorção de estrógeno: • 1- Os antibióticos podem destruir bactérias presentes na flora que seriam responsáveis pela hidrólise do metabólito. Isso diminui a reabsorção de estrógeno e, assim, não haverá aumento na concentração plasmática do hormônio. • 2- Os antibióticos podem aumentar a atividade das enzimas microssomais citocromo P450 no fígado, o que leva ao aumento na biotransformação do CO em metabólitos inativos. − Esses dois processos, quando somados, levam a queda da concentração plasmática de estrógenos PENICILINA COM A PROBENECIDA − A Penicilina é excretada em cerca de 90% por secreção tubular renal com uma velocidade de eliminação extremamente elevada. − Seu uso juntamente com a Probenecida permite que ela não seja excretada tão facilmente, uma vez que a Probenecida é um fármaco uricosúrico, usado no tratamento da gota. A Probenecida inibe os locais de transporte ativo tanto para reabsorção quanto para secreção de substâncias no túbulo renal proximal. Assim, a Penicilina não consegue ser excretada normalmente, uma vez que ela depende do transporte ativo para sofrer secreção tubular. − A Penicilina era administrada com a Probenecida normalmente no tratamento para gonorreia, entretanto houve desenvolvimento de resistência bacteriana da N. gonorrhoea. Na minha visão, é interessante observar essa interação, no caso pacientes que realizam o tratamento para gota com a Probenecida e precisam tomar a Penicilina, pois sabemos que é a alergia a Penicilina é muito comum, e a dificuldade de excreção desse antibacteriano pode agravar ainda mais o quadro de hipersensibilidade. PITOLISANT E A DIGOXINA − Ela configura um Antagonismo de Biotransformação, ao passo que o Pitolisant diminui a meia-vida da digoxina, por meio da indução das enzimas CYP3A4 e CYP2B6, alterando o processo de metabolização e perfil terapêutico esperado da digoxina. INTOXICAÇÃO POR PARACETAMOL − O Paracetamol é um AINE comumente utilizado em dor e febre. Por ser um medicamento de venda livre a utilização dessa substância nem sempre ocorre de maneira adequada, aumentando as chances de intoxicação. O metabolismo hepático do paracetamol promove a formação do metabólito tóxico n-acetil-p- benzoquinona (NAPQI). No entanto, a glutationa hepática se conjuga com esse metabólito tóxico e contribui para a sua excreção. O uso em doses terapêuticas do paracetamol produz o NAPQI em baixa quantidade, portanto a concentração da glutationa hepática é suficiente para a detoxificação desse metabólito. Em doses tóxicas do paracetamol (150mg/kg) há um excesso de formação do metabólito, podendo ocasionar a necrose dos hepatócitos. − A N-Acetilcisteína é o antídoto no caso da intoxicação pelo paracetamol, pois esse fármaco é um precursor da glutationa, aumentando a conjugação e os níveis de excreção do NAPQI. No entanto, o antídoto deve ser administrado rapidamente, pois após a instalação da necrose a N-acetilcisteína perde a sua eficácia ANTIRRETROVIRAL INIBIDOR DA PROTEASE (IP) RITONAVIR COM OUTRO IP, FREQUENTEMENTE O LOPINAVIR − Segundo Golan, o ritonavir é um fármaco que por causar efeitos gastrointestinais consideráveis pode gerar prejuízos ao tratamento a longo prazo, contudo esse fármaco é um excelente inibidor da enzima P450 3A4, que é responsável por biotransformar outros inibidores da protease. Já o lopinavir, quando usado em monoterapia, tem prejuízo em seu efeito terapêutico por sofrer intenso metabolismo de primeira passagem. − Dessa maneira, usa-se o o ritonavir em uma quantidade inferior aquela que causaria grandes repercussões gastrointestinais, mas suficiente para inibir a CYP3A4, com isso o lopinavir sofre menor biotransformação dessa enzima, possibilitando alcançar concentrações terapêuticas. Entendo esse processo como um sinergismo farmacocinético (afeta biotransformação) por inibição enzimática, que suponho ser de potencialização, por reforçar as concentrações do lopinavir do organismo, porém estou aberto a correções. − Esse método é bastante usado na Terapia AntirretroviralAltamente Ativa (HAART), em que habitualmente se faz uso de inibidores da protease somado a fármacos de outras categorias, como inibidores não nuncleosídeos da transcriptase reversa (INNTR). BICARBONATO DE SÓDIO E FÁRMACOS ÁCIDOS − O Bicarbonato de Sódio é utilizado, normalmente, para tratar sintomas de azia e indigestão, devido à sua característica básica. No entanto, também é usado em casos de intoxicação, novamente em função de ser um sal com característica básica. Desse modo, esse fármaco é capaz de alcalinizar a urina e aumentar a excreção de medicamentos com características ácidas, como os barbitúricos (ex: fenobarbital). essa interação representa o trapeamento/aprisionamento de fármacos em compartimentos biológicos INIBIDORES DA ECA E LÍTIO − Inibidores da ECA (enzima conversora da angiotensina) como Captopril e Enalapril são utilizados em doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial sistêmica. Interagem com lítio, aumentando sua concentração. Isso ocorre pela supressão do sistema renina-angiotensina- aldosterona, com diminuição da concentração de sódio no túbulo proximal. O uso de um diurético concomitante aumenta os riscos de toxicidade por lítio. ASPIRINA E A FENILBUTAZONA (ANTI- INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS) COM A VARFARINA (ANTICOAGULANTE). − Como exemplo de sinergismo farmacocinético que afeta a distribuição temos a interação entre a aspirina e a fenilbutazona (anti-inflamatórios não esteroidais) com a varfarina (anticoagulante). − Medicamentos que têm maior afinidade pelas proteínas plasmáticas quando administrados com outros, podem ter a ação de deslocadores, elevando a concentração sérica do outro, como os anti- inflamatórios não esteroidais quando associados com o varfarina, uma vez que elevam a concentração sérica do anticoagulante e aumentam o potencial hemorrágico deste medicamento. DIURÉTICOS OSMÓTICOS COM O LÍTIO − Um ótimo exemplo de interação farmacocinética que atua na etapa de excreção são os diuréticos osmóticos com o Lítio. − O lítio, amplamente usado para tratamento de transtorno bipolar, tem sua excreção aumentada por meio da redução da reabsorção proximal de sódio causada pelos diuréticos osmóticos. Isso irá aumentar a excreção renal do lítio, causando a diminuição da sua concentração plasmática e possivelmente seu efeito terapêutico. VARFARINA E ANTIDEPRESSIVOS INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRSS) − Um exemplo de interação medicamentosa ocorre no uso concomitante de varfarina e antidepressivos Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRSs) como a fluoxetina. Essa interação ocorre de duas formas: − a) Na distribuição: A varfarina tem a albumina como principal proteína carregadora ligando-se fortemente a ela. Os ISRSs, principalmente a fluoxetina, também se ligam fortemente a albumina e assim têm a capacidade de deslocar a varfarina de sua ligação com a albumina, aumentando sua concentração livre e, consequentemente, seu efeito anticoagulante. − b) Na biotranformação: A varfarina é metabolizada por enzimas do citocromo P450, a CYP2C9 transforma a S-varfarina em metabólitos inativos e a R-varfarina é biotrasformada pela CYP2C19, CYP1A2 e a CYP3A4. Os ISRSs são conhecidos inibidores do citocromo P450. A fluoxetina possui essa característica inibitória, tendo ação principalmente sobre a CYP2C19, CYP2C9 e a CYP3A4. Dessa maneira, a fluoxetina atrapalha a biotransformação da varfarina aumentando a sua meia vida e seu efeito. − Visto isso, a varfarina e a fluoxetina apresentam sinergismo farmacocinético de potenciação, tanto na distribuição, como na biotranformação. Logo, o uso concomitante desses medicamentos aumenta o risco de hemorragias. CICLOSPORINA E ANTIFÚNGICOS DA CLASSE DOS AZÓIS − A ciclosporina é um fármaco indicado para a prevenção da rejeição de enxertos após transplantes alogênicos. Assim, o paciente em uso dessa medicação está com o sistema imune comprometido, sendo mais suscetível a infecções oportunistas, como as causadas por fungos, ou bactérias. Os antifúngicos da classe dos azóis são inibidores da CYP3A4, estabelecendo uma interação medicamentosa por reduzir a metabolização da ciclosporina, aumentando significativamente a sua concentração sanguínea, por ser metabolizada principalmente por essa enzima. O mesmo ocorre com o uso concomitante de antibióticos macrolídeos, como a eritromicina, que também são potentes inibidores da CYP3A4, aumentando o potencial de nefrotoxicidade e hepatotoxicidade da ciclosporina, sendo necessário um ajuste de dose durante a administração concomitante. ISONIAZIDA E ANTIÁCIDOS − Um exemplo de interação medicamentosa farmacocinética que interfere na etapa de absorção podemos citar o uso de isoniazida e antiácidos. A isoniazida é um dos principais fármacos utilizados no tratamento da tuberculose. É uma pré-droga que necessita ser ativada pela enzima catalase/peroxidase(KatG) do M.tuberculosis, consequentemente produzindo radicais reativos de oxigênio(superóxido/peróxido de hidrogênio e peroxinitrato) e radicais orgânicos que inibem a formação de ácido micólico da parede celular, causando dano ao DNA e consequentemente a morte do bacilo. A administração da isoniazida deve ser realizada com estômago vazio e requer um meio ácido para sua absorção. Dessa forma, medicamentos que aumentam o ph gástrico ( Antiácidos ) retardam a absorção da isoniazida diminuindo a sua biodisponibilidade. METOPROLOL FLUOXETINA/PAROXETINA − O uso de metoprolol e fluoxetina/paroxetina constitui um exemplo de interação farmacocinética. − O metoprolol é um beta-bloqueador cardiosseletivo que atua na inibição de receptores adrenérgicos β-1, localizados principalmente no coração, sendo indicado no tratamento de hipertensão arterial sistêmica e cardiopatias isquêmicas. − O fármaco é metabolizado extensivamente por enzimas do sistema citocromo P450 e dados in vivo indicam que cerca de 70% do metabolismo do metoprolol dependem da CYP2D6, uma enzima altamente polimórfica. Pensando nisso, os níveis plasmáticos de metoprolol podem ser influenciados por drogas que atuam como indutores ou inibidores enzimáticos, como por exemplo a fluoxetina/paroxetina. − Essas drogas antidepressivas são inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) que atuam no metabolismo de inúmeras drogas e inibem a CYP2D6. Estudos in vitro evidenciaram o potencial efeito inibitório dos ISRS sobre a biotransformação do metoprolol. Em especial, a fluoxetina e a paroxetina, potentes inibidores da CYP2D6, estiveram relacionadas a menores níveis de biotransformação do fármaco, como é possível observar na tabela abaixo, retirada de Belpaire et al (1998). − Dessa forma, a potente inibição enzimática da CYP2D6 pela fluoxetina/paroxetina, reduz o metabolismo do metoprolol, levando a concentrações mais altas deste beta-bloqueador. Distúrbios de condução, como a bradicardia severa, são manifestações da toxicidade do metoprolol. − Essa interação torna-se particularmente relevante quando consideramos que a depressão é muito comum em pacientes com doenças cardiovasculares e o metoprolol é frequentemente prescrito para pacientes com cardiopatia isquêmica, sendo comum encontrarmos essa associação na prática clínica. OPIÓIDES E ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS. − Como exemplo de interação medicamentosa farmacocinética que afeta a etapa de biotransformação tem-se o uso de opióides (como codeína) concomitante a antidepressivos tricíclicos. Essa interação é considerada desvantajosa, visto que diminui a analgesia causada pela codeína. Essa diminuição ocorre pois a codeína possui uma afinidade muito pequena para receptores opioídes e obtém seu efeito analgésico pela biotransformação em morfina. Nesse sentido, a enzima CYP 2D6, que realiza a O-demetilação da codeína para morfina, tem um papel essencial no efeito analgésico do medicamento. Contudo,a via dessa enzima é alterada por antidepressivos inibidores seletivos da CYP 2D6, como a amitriplina. DIGOXINA E ERITROMICINA − A digoxina é um glicosídeo cardíaco que funciona como cardiotônico. Quando administrada por via oral possui biodisponibilidade de 75%, pois bactérias da microbiota intestinal metabolizam esse fármaco em um metabólico inativo. − A eritromicina , por sua vez, é um macrolídeo bacteriostático, que bloqueia a fase de translocação da síntese proteica, na qual a subunidade maior do ribossomo “desliza” sobre a menor, para que os tRNA mudem de sítio e, com isso, impede várias atividades biológicas das bactérias. − Ao eliminar parte da microbiota entérica, a eritromicina favorece uma maior absorção da digoxina, aumentando sua biodisponibilidade e, portanto, sua toxicidade. − Ao considerar os fatos supracitados nota-se que a associação dos dois fármacos caracteriza-se como uma interação medicamentosa farmacocinética que interfere na fase de absorção.. SIBUTRAMINA E FINASTERIDA − A associação entre sibutramina e finasterida constitui uma interessante interação farmacocinética indesejável de sinergismo a nível do processo de biotransformação. − A sibutramina é um fármaco utilizado no tratamento da obesidade. É um inibidor da recaptação de serotonina e noradrenalina. − A finasterida é um antiandrógeno utilizado no tratamento da calvície e, em doses altas, hiperplasia prostática benigna. É um inibidor da 5-alfarredutase. − Os dois fármacos são metabolizados no fígado pela CYP3A4. A finasterida parece ter maior afinidade pela enzima, reduzindo a metabolização da sibutramina e, dessa forma, aumentando sua concentração e seus efeitos farmacológicos. Assim, há um aumento na inibição da recaptação da serotonina e noradrenalina e há liberação de dopamina na fenda sináptica (o que não ocorreria nas doses usuais). − Além disso, os dois fármacos possuem alta afinidade com proteínas plasmáticas. Ao que parece, a sibutramina que sofreu redução de metabolização e consequente aumento em sua concentração, desloca a finasterida de sua ligação com as proteínas, aumentando a fração livre de finasterida e, assim, inibindo ainda mais a metabolização da sibutramina. ANTICOAGULANTES ANTAGONISTAS DA VITAMINA E ANTIBIÓTICOS MACROLÍDEOS, COMO ERITROMICINA E CLARITROMICINA, − A interação de anticoagulantes antagonistas da vitamina K, como femprocumona e varfarina, com antibióticos macrolídeos, como eritromicina e claritromicina, pode desencadear hemorragias graves. Essas hemorragias podem ser causadas pelo fato desses macrolídeos inibirem o citocromo P450 3A4, importante na biotransformação da femprocumona, promovendo o consequente aumento da biodisponibilidade desse fármaco e do seu efeito anticoagulante. Por outro lado, a azitromicina mostrou quase nenhuma interação com as enzimas do citocromo P450. − A coadministração de antagonistas da vitamina K com antibióticos de amplo espectro, como amoxicilina (sozinha ou com ácido clavulânico), também parece ser determinante no aparecimento de hemorragias. No entanto, esse evento não deve ser confundido com uma interação farmacocinética, uma vez que, apesar de ter o mecanismo desconhecido, muito provavelmente se deve a inibição da agregação plaquetária causada pela amoxicilina. − Outro inibidor da CYP450, a flavonóide naringenina, uma substância presente em frutas cítricas, pode causar o aumento da biodisponibilidade de vários fármacos. Por esse motivo, o consumo de frutas e sucos cítricos deve ser evitado em pacientes recebendo tratamento com anticoagulantes antagonistas da vitamina K, para assim evitar a ocorrência de hemorragias. SIDELAFIL E O RITONAVIR − Um exemplo de interação medicamentosa farmacocinética que atua como biotransformação é a interação entre o Sidelafil e o Ritonavir, este último causa a inibição do metabolismo do Sidelafil pelo CYP3A4. Tanto que, há uma presença acentuada da sidelafila nos níveis plasmáticos, devido a uma inibição da oxidação da fase I da via metabólica pelas isoenzimas do citocromo P450. LÍTIO − Eurípedes Jóse Ferreira, no auge dos seus 20 anos de idade, depois de um surto psicótico com traços maníacos, foi diagnosticado pelo seu psiquiatra, Dr. (sem doutorado) Marcelo Eurofarma de Melo, com Transtorno Bipolar, sendo-lhe informado que essa doença era "vitalícia". Com isso, como naquela época não haviam muitos estudos científicos (empíricos) na área, o salvador da pátria era a monoterapia com o famoso Carbonato de Lítio (isso mesmo, aquele metal leve da Tabela Periódica), em doses um pouco "elevadinhas", uns 1.800 mg por dia, dois comprimidos de 450 mg pra acorda, dois pra dormi. − Avançando um pouco no tempo, Eurípedes, agora com 70 anos de idade, teve melhora de suas crises maníacas e depressivas, umas vez que seguiu o tratamento à risca nesses últimos 50 anos. Porém, com o tempo, ele foi diagnosticado (sentenciado) também com mais 2 doenças "vitalícias": Hipertensão Arterial (tratada com Hidroclorotiazida, um diurético tiazídico) e Artrite Reumatoide (tratada com Indometacina, um anti-inflamatório não esteroidal). − Em um certo dia, desidratado pelo Verão intenso do deserto do Atacama, depois de comer um almoço sem graça e sem sal por conta da indicação da sua nutricionista para prevenir a pressão alta, Eurípedes foi direto ao banheiro: vômito, diarréia, dor abdominal, polidpsia; tremores nas mãos e nas pernas, frqueza muscular, letargia, vertigem; disartria, hiperreflexia, dismetria, edema........... E o pulso ainda pulsava !!! − O que será que estava acontecendo com o nosso protagonista? Já no pronto atendimento, depois de colhida a história do paciente e de alguns exames, já se lia no prontuário médico: CID 10 - T56.8 Efeito tóxico de outros metais. − Diante dessa situação, vamos analisar algumas interações medicamentosas que podem ter contribuido para que Eurípedes se envenenasse com aquilo que era pra ser o seu remédio. Todas elas são farmacocinéticas sinérgicas e atuam na modificação da etapa de excreção do lítio: • Indometacina: a Indometacina reduz a excreção de lítio provavelmente pela inibição de prostaglandinas • Hidroclorotiazida: excreção diminuída de lítio devido ao aumento da depleção de sódio e da absorção tubular de lítio • Desidratação: o volume diminuído de água dificulta a formação de urina, contribuindo para que a intoxicação ocorra • Dieta Hipossódica: O lítio compete com o sódio pela reabsorção nos túbulos proximais dos rins. Assim, quanto menor a quantidade de sódio no sangue, maior a reabsorção de lítio DIGOXINA E O VERAPAMIL − Um exemplo de interação farmacocinética que ocorre na fase de excreção é entre a digoxina e o verapamil. Ambos os medicamentos são administrados em casos de alterações cardíacas, a digoxina para aumentar a força de contração e o verapamil para arritmias e eles podem ser usados em conjunto em pacientes com fibrilações atriais mal controladas. Porém, o verapamil desloca a digoxina dos sítios de ligação tecidual e reduz a excreção renal dela e, assim, ocorre o aumento das concentrações plasmáticas da digoxina que, por sua vez, tem uma faixa terapêutica estreita entre 1-2,6 nmol/l (RANG & DALE) portanto, nesse caso, esse aumento da concentração pode causar toxicidade. PENICILINAS COM BLOQUEADORES DA BETALACTAMASE − Um exemplo que acredito que seja de biotransformação, mas não relacionado unicamente ao nosso corpo é a associação de penicilinas com bloqueadores da betalactamase. Algumas bactérias possuem a enzima betalactamase, que é responsável por destruir os antibióticos betalactamicos (como a penicilina). Ao fazer uso de um inibidor da betalactamase a hidrólise do antibiótico é impedida e sua ação potencializada. − Algo que me gerou dúvida foi se essa interaçãopode ser classificada como farmacocinética de biotransformação, por essa degradação do antibiótico betalactâmico acontecer nas bactérias e não em um processo fisiológico do corpo humano. METOTREXATO E OS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTERÓIDES (AINES). − Um bom exemplo de interação farmacocinética é entre o metotrexato e os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs). − O metotrexato é um fármaco utilizado para o tratamento inicial de artrite reumatoide. Ao ser administrado concomitantemente à aspirina, um AINE, o metotrexato é deslocado de seu sitio de ligação na albumina plasmática, reduzindo sua biodisponibilidade, o que afeta o processo de distribuição desse fármaco. − Além disso, ele tem sua excreção prejudicada devido à competição de ambos pela secreção tubular, o que leva a um aumento sérico do metotrexato. ERVA DE SÃO JOÃO COM CONTRACEPTIVOS ORAIS − Uma interação farmacocinética interessante e provavelmente pouco discutida, mas indesejada, é a do fitoterápico Erva de São João com contraceptivos orais. − O medicamento fitoterápico popularmente conhecido como Erva de São João, produto à base da espécie Hypericum perforatum L., é utilizado para o tratamento de depressão leve e moderada e ansiedade. Na Europa é líder em prescrição e seu consumo, no Brasil, se dá de forma indiscriminada, o que faz com que a população negligencie possíveis interações do medicamento com outras substâncias apenas por ser advindo de uma planta medicinal e de uso popular. − Dessa forma, no caso de mulheres que utilizam ambos os medicamentos, ocorre uma interação de antagonismo envolvendo a biotransformação, visto que há indução, por parte da Erva de São João, da via metabólica envolvendo o citocromo P450, acelerando o metabolismo dos contraceptivos orais. Como resultado, podem ocorrer sangramentos e falhas no anticoncepcional, além de uma possível gravidez indesejada. − − CIMETIDINA E PROPANOLOL − Cimetidina inibe competitivamente a ação da histamina nos receptores H2 das células parietais, reduzindo a secreção ácida gástrica durante o dia e em condições basais noturnas. Ela atua como inibidora enzimática. Esse fármaco também atua como inibidor enzimático, inibindo algumas enzimas do citocromo P450. Já o propanolol atua inibindo a estimulação simpática, causando redução da frequência cardíaca, entre outros efeitos. Assim, o uso concomitante de cimetidina e propanolol pode levar à bradicardia, pois a inibição de enzimas do p450 pela cimetidina interfere na biotransformação do propanolol, provocando um acúmulo do fármaco no organismo, intensificando a inibição do sistema simpático, exacerbando a bradicardia. ETANOL E ETILENOGLICOL − O etanol é utilizado no tratamento de paciente intoxicado pelo etilenoglicol (solvente industrial e usado como anticongelante), pois, o etilenoglicol é biotransformado em ácido oxálico (que causa nefrotoxicidade) e outros produtos tóxicos através da enzima desdrogenase alcoólica. − Assim, administrando o etanol, ocorre a ligação do etanol com esta enzima evitando a biotransformação do etilenoglicol, o que levaria a formação e deposição de cristais de oxalato nos rins, e, a produção de outros produtos tóxicos. Dessa forma, há uma interação na biotransformação do etilenoglicol.
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