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Isaías (N Comentario)

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ISAÍAS
 VOLTAR
 Introdução Capítulo 16 Capítulo 33 Capítulo 50
 Plano do livro Capítulo 17 Capítulo 34 Capítulo 51
 Capítulo 1 Capítulo 18 Capítulo 35 Capítulo 52 
 Capítulo 2 Capítulo 19 Capítulo 36 Capítulo 53 
 Capítulo 3 Capítulo 20 Capítulo 37 Capítulo 54 
 Capítulo 4 Capítulo 21 Capítulo 38 Capítulo 55 
 Capítulo 5 Capítulo 22 Capítulo 39 Capítulo 56 
 Capítulo 6 Capítulo 23 Capítulo 40 Capítulo 57
 Capítulo 7 Capítulo 24 Capítulo 41 Capítulo 58
 Capítulo 8 Capítulo 25 Capítulo 42 Capítulo 59
 Capítulo 9 Capítulo 26 Capítulo 43 Capítulo 60
 Capítulo 10 Capítulo 27 Capítulo 44 Capítulo 61
 Capítulo 11 Capítulo 28 Capítulo 45 Capítulo 62
 Capítulo 12 Capítulo 29 Capítulo 46 Capítulo 63
 Capítulo 13 Capítulo 30 Capítulo 47 Capítulo 64
 Capítulo 14 Capítulo 31 Capítulo 48 Capítulo 65
 Capítulo 15 Capítulo 32 Capítulo 49 Capítulo 66
 
INTRODUÇÃO 
 
I. ISAÍAS, O HOMEM 
 Entre a "santa companhia dos profetas", Isaías destaca-se como 
uma figura majestosa. Pela elevação e originalidade do seu pensamento, 
bem como pela qualidade superlativa do seu estilo, é único no Velho 
Testamento. Nenhum outro profeta há tão digno como ele de ser 
chamado "o profeta evangélico". O seu nome significa "Jeová Salva" ou 
"Jeová é Salvação" e, em dias de crise e catástrofe sem precedentes na 
história do seu povo, exortava constantemente à fé nAquele que é o 
único que nos pode livrar. Em horas em que a esperança parecia morta, 
era uma inspiração e um repto para a coragem desfalecida dos homens 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 2 
de Judá: O seu ministério foi longo, desde a sua chamada à missão 
profética no reinado de Uzias, rei de Judá, através dos reinados de Jotão, 
Acaz e Ezequias, com um possível interlúdio de serviço no tempo de 
Manassés. Durante todos estes anos revelou-se um estadista que lia o 
significado geral dos acontecimentos nos grandes problemas políticos da 
época e também um profeta verdadeiramente designado e escolhido pelo 
Senhor para proclamar o propósito divino com convicção inabalável e 
coração ardente. 
 O nome de seu pai era Amós (Is 1.1; 2.1), segundo uma tradição 
judaica irmão do rei Amazias; nesse caso, Isaías seria primo do rei 
Uzias. Evidentemente que é impossível alguém pronunciar-se com 
certeza a respeito deste problema, mas há indicações nítidas de que 
Isaías desfrutava, de fato, de entrada imediata e regular na casa real, 
além de ter acesso às pessoas mais influentes do seu tempo. Apesar 
disso, continuou a ser um simples e indômito porta-voz de Jeová, motivo 
que - ainda segundo reza a tradição - levou à sua execução no reinado do 
ímpio Manassés. Era casado e chama a sua mulher "a profetisa" (Is 8.3); 
teve dois filhos, Sear-jasube (Is 7.3) e Maher-shalal-hash-baz (Is 8.3), 
cujos nomes constituíam prenúncio dos acontecimentos que se 
avizinhavam e reforçavam a mensagem do profeta. 
 
Fora disto, pouco mais se sabe da sua vida além do que o livro que 
tem o seu nome nos revela. Não é possível determinar com exatidão a 
duração do seu ministério; sabemos, porém, que, durante pelo menos 40 
anos, continuou ativo, desde o último ano de Uzias, em 740 a.C., ao 
décimo quarto ano de Ezequias em 701 a.C., e que, durante todo este 
tempo, a sua mensagem e o repto que lançava aos seus contemporâneos 
foram inalteráveis e persistentes, fiéis a um propósito sempre claro e 
bem definido - estabelecer a adoração do Senhor em justiça e verdade 
entre a raça escolhida. 
 
 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 3 
II. INFLUÊNCIAS FORMATIVAS 
 A influência mais destacada e mais perdurável na vida de Isaías 
foi, sem dúvida, a sua chamada pessoal e direta ao ministério profético 
dentro do recinto do templo depois da morte de Uzias. Este 
acontecimento é registrado com uma beleza e um brilho tais que indicam 
claramente a forte influência que essa visão exerceu sobre ele através de 
todo o seu ministério. Provavelmente nada há em toda a literatura dos 
povos do Oriente que exceda a grandeza e dignidade deste trecho 
imortal, em Is 6. Ao entrar no recinto do templo, depara-se, de súbito, ao 
jovem Isaías esta visão solene e aterrorizadora - o Senhor nas alturas, o 
séquito celeste, os místicos serafins, o "shequiná" da santidade, a voz 
anunciando ao profeta, prostrado perante a majestade assim revelada, a 
missão de que era incumbido. No meio duma cena política conturbada e 
incerta, ele contempla, com todo o poder de uma revelação direta, o 
Senhor Deus entronizado nas alturas, e doravante pousa sobre ele o selo 
da Sua ordem. Não havia que fugir daí. Embora isso significasse que o 
profeta iria levar aos povos do seu tempo uma mensagem que não 
receberiam, não havia que fugir à glória da revelação assim outorgada. 
Foi deste modo que Isaías saiu do templo com uma nova visão e uma 
nova noção dos altos e santos perigos da missão que lhe fora confiada e 
da incumbência que ficava a seu cargo. 
Antes desta experiência notável e decisiva, houvera o fruto do 
ministério de Amós e Oséias, o qual se devia encontrar ainda bem fresco 
na memória e experiência do jovem Isaías. Em épocas de crise nacional, 
houvera sempre em Israel, como em Judá, a mensagem do Senhor, numa 
ou noutra conjuntura, através da voz dos profetas, e nas palavras de 
Isaías descortinam-se vestígios dos elementos característicos das suas 
mensagens. Para alguém que resolvera firmemente no seu coração 
percorrer o caminho do Senhor, essas vozes deviam constituir uma 
inspiração incalculável, e as palavras calorosas e comoventes do profeta 
evangélico, ao apontar para o Redentor de todo Israel fazem lembrar os 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 4 
termos em que esses servos mais antigos de Jeová haviam proclamado a 
mensagem divina. 
 Além desses fatores, Isaías deve ter sido profundamente agitado 
pelos poderosos movimentos históricos do seu tempo. Durante o reinado 
do bom rei Uzias, Judá esteve em paz durante muitos anos e pouco 
conheceu das dificuldades que o reino do norte teve de enfrentar. 
Externamente havia paz e piedade, mas por debaixo, e no próprio âmago 
da vida da nação, havia desassossego e um afastamento pronunciado da 
realidade da adoração instituída no Concerto. (Ver Apêndice 1 de Reis, 
"A Religião de Israel no Período da Monarquia"). Fora da pátria, o 
horizonte apresentava já prenúncios sombrios de invasão e crise e, apesar 
de todos os eleitos, Isaías deve ter visto claramente, na fase mais 
formativa da sua vida, que, se não houvesse um movimento de regresso 
ao Senhor, a catástrofe era inevitável. Em certo sentido, todos nós somos 
produto do nosso ambiente; chegamos à hora de provação, ou para a 
enfrentar em toda a sua magnitude e determinar o seu curso, ou então 
para sermos moldados pela sua força titânica. No caso de Isaías, temos 
um dos exemplos mais frisantes de uma hora grave que encontrou um 
homem à sua altura, e de uma voz que se ergueu no próprio momento em 
que mais necessário era proclamar a mensagem de Deus. 
 
 Isaías pôde trazer à tarefa que foi chamado a desempenhar um 
dom extraordinário, uma felicidade de expressão e uma penetração que, 
sob a mão de Deus, se deveriam transformar no veículo das verdades 
mais íntimas e profundas da revelação. Assim, equipado de forma única 
para o ministério a que era chamado, e preparado na escola da 
experiência para a prova que se avizinhava, no ano em que o rei Uzias 
morreu e em que o trono, havia tanto ocupado com tal distinção, vagou 
uma vez mais, o profeta estava pronto para a alta missão do Senhor 
transcendente nas alturas, enão desobedeceu à visão celestial. 
 
 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 5 
III. CRONOLOGIA 
Ver também Apêndice III de Reis, "Os Grandes Impérios no 
Período da Monarquia". 
 
745 Tiglate-Pileser III ascende ao trono da Assíria. 
740 Morte de Uzias. Jotão sucede-lhe no trono. Visão de 
 Isaías, sendo o profeta incumbido de exercer o ministério 
 do Santo de Israel. 
736 Morte de Jotão. Acaz sucede-lhe no trono. O Reino do 
 Norte alia-se à Síria para atacar Judá. 
734-732 Tiglate-Pileser ataca e invade Israel e a Síria. Visita 
 de Acaz a Damasco. 
727 Ascensão de Salmaneser ao trono da Assíria substituindo 
 Tiglate-Pileser. 
725 Ezequias sobe ao trono, sucedendo a Acaz. 
722 Ascensão de Sargom II ao trono da Assíria em lugar de 
 Salmaneser. Tomada de Samaria. Cativeiro de Israel. 
711 Sargom invade a Síria. Asdode é capturada. 
709 Tomada da Babilônia. 
705 Sargom assassinado; sucede-lhe Senaqueribe. 
701 Senaqueribe invade Judá. 
 
IV. OS REIS DA JUDÉIA DURANTE A VIDA DE ISAÍAS 
 Isaías nasceu no reinado do bom rei Uzias, e foi no último ano da 
vida desse monarca que recebeu a chamada ao ministério profético. Por 
consenso geral, o caráter de Uzias era exemplar, mostrando em tudo um 
espírito de verdadeira piedade e desejo de honrar as coisas de Deus, 
embora, nos seus últimos anos, o rei fosse atacado de lepra devido a um 
ato de orgulho (ver 2Cr 26.16-21). Durante o seu reinado, toda a nação 
atravessou uma fase de prosperidade e desenvolvimento material e foi 
com dor que o seu povo o viu desaparecer da cena numa altura em que a 
sua presença parecia mais necessária. Promoveu-se a adoração de Jeová, 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 6 
mas o rei não foi suficientemente forte para conseguir que se destruíssem 
os altos, onde se celebravam práticas idólatras. O seu reinado classifica-
se necessariamente entre um dos mais distintos do reino do Sul. 
Depois dele, subiu ao trono Jotão, seu filho, que já fora regente 
durante o isolamento de Uzias. Trilhou as mesmas veredas que seu pai, e 
sob o seu cetro o povo continuou a adorar o Senhor Jeová de acordo com 
os mandamentos, embora se permitisse que continuassem os "aserim" e 
locais onde se praticava a idolatria. 
Um observador superficial julgaria ver provas de devoção 
verdadeira e profunda, mas, na realidade, não era assim. Por toda a parte 
alastravam rápida e espontaneamente o luxo e a sensualidade, não sendo 
de surpreender que, em tal ambiente, o espírito da verdadeira piedade 
entrasse em rápido declínio (ver Apêndice I de Reis, "A Religião de 
Israel no Tempo da Monarquia"). 
Seguiu-se-lhe Acaz, cujo reinado foi, de princípio a fim, uma 
autêntica crônica de catástrofes e de destruição (ver 2Rs 16). 
Impetuosamente, Acaz empenhou-se em derrubar a forma estabelecida 
de adoração, quebrou os mandamentos em quase todos os seus 
pormenores, impediu a adoração no templo e acabou por fechar as portas 
da Casa de Deus. Deliberadamente, conspirou para obliterar a memória 
do culto do Senhor de todo o Israel, do Redentor, do Deus Santo. Todos 
os seus atos foram como que um aguilhão para o caráter devoto e franco 
do profeta Isaías que, em público, censurou o rei pelos seus atos 
extravagantes em matéria de religião, reprovando os seus pecados e 
apontando-o ao povo como inimigo do verdadeiro caminho. Isto de nada 
serviu; os seus avisos e conselhos foram desprezados pela nação, à frente 
da qual se encontrava o rei. 
Depois, veio Ezequias. Ao contrário de seu pai, Ezequias procurou 
de muitas formas restaurar a adoração no santuário; fez todos os esforços 
para abolir a idolatria e para libertar o povo que governava do poder do 
domínio estrangeiro. No seu reinado, começou-se a fazer justiça a Isaías, 
que passou a ser considerado com grande favor, sendo-lhe dadas todas as 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 7 
oportunidades de aplicar as suas penetrantes e divinamente inspiradas 
faculdades de discernimento à análise dos fatos da situação sua 
contemporânea. Mas as sementes da loucura passada da nação 
começavam agora a dar fruto, e era já tarde demais para pôr em prática 
reformas eficazes e salutares. Estava próximo o derrubamento de Judá, 
acontecimento havia muito profetizado par Isaías e que nada poderia 
deter. 
 Ver-se-á claramente, pois, que não foi fácil a tarefa do profeta 
durante o seu longo e ativo ministério. A missão que lhe foi confiada no 
dia da sua chamada ficou amplamente realizada, pois a mensagem que 
transmitiu foi, de fato, uma mensagem de condenação, e a profecia então 
feita, de que anunciaria a Palavra do Senhor mas que esta, embora 
ouvida seria incompreendida, teve cumprimento cabal. A glória da vida 
de Isaías é que não se esquivou ao problema quando recebeu a chamada. 
Através de todos aqueles anos sombrios, enquanto a nação caminhava 
sem parar e com rapidez crescente para o abismo e para a catástrofe, ele 
continuou a proclamar a mensagem do Senhor, mantendo-se firme como 
uma rocha da verdade no meio das marés e redemoinhos da infidelidade 
e irreligião do mundo. 
 
V. AUTORIA: O PROBLEMA ESPECIAL DOS CAPÍTULOS 40--66 
 
a) Definição do Problema 
 Esta parte importante do livro de Isaías há muitos anos que 
apresenta espinhosos problemas de ordem crítica, e nenhum estudo do 
livro no seu conjunto seria completo sem referência a este assunto. Há 
quase um século que se afirma, se põe em dúvida e se nega que tenha 
sido Isaías o autor dos capítulos 40 a 66. Esta seção do livro tem sido 
designada por nomes diversos, como "o Isaías Babilônico", "o Deutero-
Isaías" e "O Grande Anônimo", que são já lugares-comuns na literatura. 
Muitos admitirão prontamente, com o Prof. A. B. Davidson, que tal 
problema "diz exclusivamente respeito aos fatos e à crítica, não 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 8 
constituindo matéria de fé ou prática". Admitir-se-á talvez, também, que 
de ambos os lados o critério tem sido influenciado pela atitude do 
estudioso perante a profecia preditiva. Nesta breve introdução, a nossa 
finalidade será reproduzir tão objetivamente quanto possível os 
principais argumentos aduzidos em apoio das duas teses, visto nada se 
ganhar com votar ao desprezo a argumentação apresentada por aqueles 
que discordam de nós. 
 No Dictionary of the Bible, de Hastings, G. A. Smith escreve o 
seguinte: "Os capítulos 40 a 66 não têm título nem reivindicam Isaías 
como autor. Os capítulos 40 a 48 referem-se claramente à ruína de 
Jerusalém e ao exílio como fatos transatos. O autor dirige-se a Israel 
como se tivesse já passado o tempo da sua servidão em Babilônia, e 
proclama a libertação do povo eleito como imediata. Chama a Ciro o 
salvador de Israel, referindo-se-lhe como tivesse já encetado a sua 
carreira e sido abençoado com o êxito por Jeová. Porquanto, como parte 
da argumentação a favor da divindade única do Deus de Israel, Ciro, 
"vivo, irresistível e já bafejado pelo triunfo, é apontado como prova 
insofismável de que se haviam começado a realizar as velhas profecias 
respeitantes à libertação de Israel. Em suma, Ciro é apresentado, não 
como predição, mas como prova do cumprimento de uma predição. Se 
não tivesse já aparecido em cena, e em vésperas de atacar Babilônia com 
todo o prestígio dos seus triunfos constantes, grande parte dos capítulos 
40 a 48 seria ininteligível". Há, assim, uma data bem nítida a atribuir a 
esses capítulos; devem eles ter sido escritos entre 555 a.C., data do 
advento de Ciro e 538 a.C., data da queda de Babilônia". 
 Esta citação apresenta da forma mais lúcida o problema que tem 
de enfrentar todo aquele que estuda o livro de Isaías. Além disso, é de 
extrema importância assinalar os diferentes pontos de vista das duas 
principais divisões do livro. Nos capítulos 1 a 39, por exemplo, é 
evidente que o profeta se dirige à sua própria geração, levando a uma 
situação sua contemporânea a mensagemviva do seu Deus; mas os 
capítulos 40 a 66 dirigem-se a uma geração surgida século e meio mais 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 9 
tarde, os cativos de Babilônia. Não há dúvida de que o Espírito de Deus 
se poderia muito bem ter servido de Isaías para falar a uma geração 
vindoura e de que a predição constitui um elemento incontroverso na 
profecia. Todavia, aqueles que consideram estes capítulos como tendo 
sido escritos por um autor pertencente a uma data mais avançada 
afirmam que isso é forçar o critério e contrariar em grande parte o 
procedimento normal dos profetas de Israel, através dos quais a 
mensagem divina se fazia ouvir poderosamente em relação com 
situações vivas. Se os capítulos 40 a 48 se referem de forma tão evidente 
à ruína de Jerusalém e ao exílio como fatos já passados, não se deverá 
aceitar como provável, dizem eles, que a mensagem dirigida nesses 
versículos aos filhos de Israel proviesse de alguém que vivia no seu seio? 
 
b) Argumentos a favor da unidade do livro 
 Dentro do âmbito deste trabalho, que não é de natureza 
especificamente crítica, não há possibilidade de proceder ao estudo 
pormenorizado deste problema. Todavia, talvez seja proveitoso resumir 
os aspectos principais de ambos os lados da questão. 
 A favor da unidade de Isaías é unânime toda a evidência invocável 
de fontes externas. A evidência externa é toda a favor da unidade do 
livro; só nos últimos cem anos é que o problema surgiu. Até então, a 
comunidade judaica e a Igreja Cristã consideravam, sem hesitar, todo o 
livro como procedente da pena de Isaías, filho de Amós. A Septuaginta 
não contém a menor referência a uma autoria dupla. Essa antiga 
convicção foi expressa de forma incomparável pelo filho de Siraque, 
que, referindo-se à história dos dias de Ezequias, diz que Isaías, o 
profeta, "viu por um espírito excelente o que se passaria no final; e 
confortou aqueles que choravam em Sião. Mostrou as coisas que 
aconteceriam até ao fim dos tempos, e as coisas escondidas antes de 
surgirem" (Ec 48.24-25). 
 A par disto há que mencionar os muitos trechos do Novo 
Testamento onde se faz referência a Isaías e se citam as suas palavras. 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 10 
"Isaías o profeta", eis como se lhe chama independentemente da parte do 
livro citada. Quanto às referências, distribuem-se de forma quase igual 
entre as duas partes do livro, sendo as da parte final ligeiramente mais 
numerosas. Isto, em si, confirma a evidência externa e a tradição dos 
Pais da Igreja. 
É sempre difícil avaliar a argumentação de base lingüística, e muito 
se tem discutido várias considerações suscitadas por palavras e frases 
comuns a ambas as partes do livro, bem como as que são peculiares a 
uma ou a outra dessas partes. É impossível analisarmos aqui este aspecto 
do problema, embora cumpra fazer alguns breves comentários sobre o 
significado da alusão a Jeová como "o Santo de Israel". Esta expressão 
ocorre em ambas as partes de Isaías mas é difícil encontrá-la alhures no 
cânon bíblico. Trata-se de uma das designações mais notáveis de Deus 
comuns a ambas as seções, e de um assunto de importância primacial. 
 Não se deve confiar demasiado na evidência baseada em sutis e 
complexas distinções estilísticas e lingüísticas entre as duas partes. 
Dizer, por exemplo, que a palavra equivalente a "justiça" ocorre cerca de 
dezessete vezes na segunda parte e apenas quatro ou cinco na primeira; 
que as palavras correspondentes a "trabalho" ou "recompensa" se 
encontram cinco vezes na segunda parte e não ocorrem na primeira; que 
a palavra que significa "também", ou algo de semelhante, aparece 
repetida nada menos de vinte e duas vezes na primeira e não ocorre na 
segunda; dizer tudo isso e muito mais pouco prova, visto ser fácil 
compilar um catálogo de palavras e expressões características de cada 
uma das partes do livro. A própria distinção entre essas duas partes no 
tocante ao respectivo tipo de mensagem dá origem a distinções de ordem 
lingüística. Enquanto que a primeira parte se caracteriza por tremenda 
energia e vigor, os capítulos 40 a 66 estão impregnados de emoção e de 
solene beleza, desdobrando-se nas asas de uma harmonia profunda e 
eterna. Como em toda a grande poesia, há trechos em que se nos 
deparam repetições e duplicações de frases; mas, para o estudioso 
objetivo, a própria grandeza da mensagem da redenção e da esperança 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 11 
messiânica, distinta da história direta ou de um rol de castigos que se 
avizinhavam para as nações circunjacentes, parecerá ser suficiente para 
explicar as diferenças de estilo e linguagem. Pelo que respeita ao estilo 
literário, até o Dr. Driver, que escolhe dezoito palavras ou frases nos 
capítulos 40 a 66, tem de largar mão de doze delas por haver trechos 
paralelos na primeira parte. Na realidade, a crítica sóbria tem afirmado 
que se exagerou imenso esta questão da diversidade de estilo. Verifica-se 
haver mais de trezentas palavras e expressões comuns às partes 
supostamente "anterior" e "posterior" de "Isaías" e que não têm qualquer 
lugar nas profecias mais recentes de Daniel, Ageu, Zacarias e Malaquias. 
 Outro elemento a ter presente neste estado e que parece favorecer 
a unidade do livro é que a cor local da segunda seção, como na primeira, 
é principal e notavelmente a da Judéia. A este respeito, vale a pena 
reproduzir a seguinte citação do Bible Handbook (página 502) de 
Angus e Greene (tradução portuguesa: "História, Doutrina e 
Interpretação da Bíblia"). 
 "Na paisagística do profeta entram rochedos, montanhas e 
florestas; os seus horizontes estendem-se até às ilhas do mar; os rebanhos 
são os de Quedar; os carneiros são os de Nebaiote; as árvores são cedros 
e acácias, pinheiros e buxos, os carvalhos de Basã e as alturas 
arborizadas do Carmelo. Sobretudo o terrível trecho que descreve a 
prolongada idolatria de Judá (56.9-57.21) enquadra essa cena "nos vales 
das torrentes, sob as fendas dos rochedos, entre os calhaus do ribeiro". 
"Como no solo plano, aluvial, da Babilônia não há torrentes mas apenas 
canais", escreve o Deão Payne Smith, "também ali não há leitos de 
torrentes; no entanto, estes constituem um traço comum na paisagem da 
Palestina e de todos os países montanhosos". 
 Não podemos passar levianamente por cima de evidência como 
esta, e a opinião do autor destas linhas é que a cor local presente é tão 
notavelmente palestiniana que pesa mais na balança do que quaisquer 
alusões aparentes a fatos e incidentes típicos da vida babilônica nos 
últimos capítulos. 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 12 
 Além disso, diga-se o que se disser acerca do resto dos últimos 
capítulos, os que contêm essa seção medonha em que se descreve a 
idolatria carnal de Israel afastam-se de forma tão completa de tudo o que 
sabemos acerca da Babilônia e do exílio judaico ali que devem ser 
identificados com outro local e época. É inegável que existiam muitos 
elementos na história pretérita de Israel e suas relações com as nações 
limítrofes que poderiam ser utilizados na elaboração destes trechos 
terríveis. 
 Há também que enfrentar este outro problema: como foi que um 
profeta tão distinto como o escritor de Isaías 40 a 66 desapareceu por 
completo no ouvido? Os cuidadosos registros da Igreja Hebraica nada 
dizem acerca de o livro de Isaías ter ainda outro autor. Em várias 
coletâneas, conforme se salientou, Esdras e Neemias figuravam juntos, 
mas os judeus jamais os confundiam, mantendo a sua identidade 
separada. Sem dúvida que seria um dos fenômenos literários mais 
espantosos de todos os tempos se o autor de um livro tão majestoso e tão 
sublime ficasse por nomear, e se a raça em cuja língua escreveu e cujos 
escribas eram tão exatos na sua compilação de registros o identificassem 
impensadamente com um dos seus maiores profetas. 
 Recentemente, os argumentos a favor da unidade do livro foram 
reforçados pela descoberta dos manuscritos do Mar Morto, nos quais não 
há qualquer solução de continuidadeno manuscrito de Isaías entre o final 
do capítulo 39 e o princípio do capítulo 40, começando, até, o capítulo 
40 na última linha da página. É claro que não se podem extrair daqui 
quaisquer conclusões definitivas, mas trata-se de um fato que deve ser 
considerado importante como elemento de uma argumentação 
cumulativa. 
 Para terminar, não sabemos ao certo em que circunstâncias 
decorreram os últimos dias da vida de Isaías. Ameaçado de morte às 
mãos do ímpio Manassés (2Rs 21.16), é muito possível que se visse 
forçado a retirar-se da cena pública para o abrigo de qualquer refúgio 
obscuro – uma situação algo semelhante àquela em que João escreveu o 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 13 
livro do Apocalipse na ilha de Patmos. Também João mergulhava o 
olhar no futuro e registrava o que via. Por que não poderia o profeta 
Isaías, filho de Amós, frente ao declínio da religião autêntica na sua 
própria cidade de Jerusalém, "o lar dos eleitos de Deus", ser levado pelo 
Espírito do Senhor a ver e afirmar a esperança imperecível dos 
verdadeiros filhos de Sião e a proclamar às gerações vindouras a 
salvação incomparável oferecida pelo seu Deus? 
 
c) Argumentos contra a unidade do livro 
 Deve-se, porém, admitir que a opinião dos críticos é 
preponderantemente contrária à unidade do livro. De fato, o Professor 
W. L. Wardle, escrevendo no "Comentário" do Dr. Peake, vai ao ponto 
de dizer acerca destes últimos capítulos de Isaías: "Nenhuma conclusão 
crítica é mais certa do que a de pertencerem a uma época posterior". A 
evidência a favor desta opinião pode-se sintetizar como se segue. 
 De todos, o maior problema reside na mudança de situação, tempo 
e lugar verificada no capítulo 40. Tudo leva a crer que as profecias que 
ali se iniciam parecem dirigir-se aos filhos cativos de Israel em Babilônia 
e numa fase do cativeiro em que a libertação parecia iminente. Se estas 
palavras procedem da pena de Isaías, é óbvio que ele já não é um 
pregador da justiça para a sua própria geração, mas um vidente 
arrebatado a um plano de visão de onde contempla os acontecimentos 
que terão lugar século e meio mais tarde. As suas mensagens proféticas 
tornam-se, assim, um autêntico legado para as gerações vindouras, e não 
proclamações inspiradas de um homem arrastado na maré dos 
acontecimentos contemporâneos, juntamente com os seus irmãos. 
 É óbvio que nada há de impossível nisto, embora seja algo 
diferente da prática costumeira dos profetas. Enquanto que muitos 
admitirão prontamente que a predição é parte essencial e integrante da 
profecia, no entanto parece-lhes que enfrentar assim uma situação que só 
surgiria volvido século e meio é tão excepcional que se torna altamente 
improvável na ausência de provas concludentes em contrário. Numa nota 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 14 
suplementar ao seu trabalho sobre Isaías, o Professor Cheyne cita as 
palavras proferidas pelo deão Bradley perante a Universidade de Oxford, 
em 1875, onde esboça esta opinião preditiva em termos bem vívidos: 
"O Isaías", diz ele, "do tempo crítico e conturbado de Acaz e de 
Ezequias é, ao que se supõe, transplantado nos seus últimos dias pelo 
Espírito de Deus para uma época e região diferentes das suas... Em visão 
prolongada e solitária, é conduzido a um país cujo solo nunca pisou, e a 
uma geração que jamais contemplou. Desvaneceram-se e desapareceram 
cenas e rostos familiares rodeado dos quais vivera e trabalhara. 
Reduzem-se ao silêncio todos os sons e vozes do presente, e já não o 
impelem os interesses e paixões a que se consagra com toda a 
intensidade da sua raça e caráter. O presente fenecera no horizonte da 
visão da sua alma... As vozes que lhe soam aos ouvidos são de homens 
ainda por nascer, e vive uma segunda vida entre acontecimentos e 
pessoas, pecado e sofrimento, receios e esperanças, fotografados por 
vezes com a mais rigorosa exatidão no seu espírito sensível e 
compassivo; Isaías transforma-se no denunciador dos pecados 
característicos de uma geração distante, e no porta voz da fé, esperança e 
anseios veementes de uma nação exilada, descendente dos homens vivos 
na altura em que escrevia rodeado da paz profunda de uma prosperidade 
renovada". 
 Quando estudamos os trechos que se referem ao estado 
contemporâneo da nação, é normal presumir que as palavras que lemos 
são de alguém que vivia naquela altura. Mas esta posição inverte-se por 
completo se aceitarmos a unidade de Isaías. Se os capítulos 40 a 48 
tivessem chegado anonimamente até nós, nada mais natural do que 
serem atribuídos à época do cativeiro. No capítulo 41, o escritor, em 
pinceladas firmes, aborda uma situação histórica que é em breve 
delineada com extrema clareza. Ciro, o libertador, é apresentado como 
um vulto de projeção mundial, e em 44.24-45.25 depara-se-nos toda uma 
série de profecias que se relacionam com a sua obra e missão. 
Argumenta-se que, se se trata de escritos preditivos do Isaías de 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 15 
Jerusalém, temos aqui uma proclamação absolutamente excepcional sem 
paralelo em toda a restante literatura profética. Neste contexto, frisa-se 
também que em parte alguma estes capítulos reivindicam a autoria de 
Isaías, encontrando-se, até, separados do resto do livro nitidamente seu 
por uma narrativa histórica de certa extensão. 
 Na sua recente análise de todo este assunto, o Professor C. R. 
North estuda em pormenor o Servo Sofredor do "Deutero-Isaías". 
Enquadram-se bem aqui duas citações: "Enquanto se julgou que o Livro 
de Isaías era, na sua inteireza, obra de um profeta do oitavo século, nada 
mais natural do que presumir que as partes que têm o exílio como pano 
de fundo fossem profecia no sentido preditivo da palavra. Por 
conseguinte, parecia óbvia a interpretação messiânica do Servo. Mas, 
mal se começou a falar num Isaías de Babilônia, os investigadores 
cristãos passaram a adotar o ponto de vista que havia muito prevalecia 
entre os judeus, a saber, que o Servo era a nação de Israel". (Do capítulo 
intitulado: "Interpretações Cristãs: de Doederlein a Duhm"). A página 
207, escreve ele: "A objeção fundamental à interpretação tradicional 
messiânica é a de esta se encontrar ligada a uma doutrina demasiado 
mecânica da inspiração, o que parece arredá-la como indigna de 
consideração séria. O profeta é um mero amanuense, e aquilo que 
escreve nada tem que ver com as condições do seu tempo. Além disso, se 
isso implica que ele viu antecipadamente Alguém que só nasceria cinco 
ou seis séculos depois, surge o difícil problema filosófico da 
possibilidade ou impossibilidade de uma autêntica previsão da história". 
 Trata-se de afirmações de amplitude tal que exigem estudo muito 
mais profundo e pormenorizado do que o possível na presente obra. No 
entanto, exprimem de forma sucinta e enfática o ponto de vista da escola 
crítica a respeito do problema vertente. Pode-se perguntar com justiça, 
porém, se se deverá considerar adequada uma doutrina da inspiração que 
não inclui a possibilidade da visão profética até aos últimos recantos da 
história. Além disso, não foi a esperança messiânica uma das mais 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 16 
poderosas influências que moldaram, preservaram e purificaram o 
espírito de Israel? Poderia existir tal esperança sem previsão profética? 
 Salienta-se freqüentemente que, além de Ciro ser apresentado 
como um fato da história patente perante os seus olhos, esse fato é citado 
como prova da realização de profecias de longa data. É ele que torna 
difícil aceitar o argumento de que, aqui, o profeta se serve do chamado 
"perfeito profético" - ou seja, que, no calor do seu discurso, e na certeza 
da realização futura de certas coisas, empregava uma linguagem que 
implicava terem-se já cumprido os acontecimentos a que faz referência. 
George Adam Smith formula este argumento como se segue: 
 "Não é só que a profecia, com o que poderia ser mero ardor 
visionário, apresenta o Persa como erguendo-se já acima do horizonte, 
na maré alta da vitóriamas que, no decurso de sóbria argumentação a 
favor da divindade única de Deus de Israel - argumentação essa que se 
desenrola dos capítulos 41 a 48 – Ciro, vivo e irresistível, e já bafejado 
pelo triunfo, com Babilônia prostrada a seus pés, é apontado como prova 
insofismável de que se haviam começado a realizar as velhas profecias 
respeitantes à libertação de Israel. Em suma, Ciro é apresentado, não 
como predição, mas como prova do cumprimento de uma predição. Se 
não tivesse já aparecido em cena, e em vésperas de atacar Babilônia com 
todo o prestígio dos seus tempos constantes, grande parte de Isaías 41 a 
48 seria completamente ininteligível". 
 Deixando agora o estudo da citação histórica, pode-se notar que a 
própria evidência constituída pela falta aparente de cor local típica de 
Babilônia é apresentada como um forte argumento a favor de uma data 
coincidente com o exílio. Os exilados de todos os tempos e de todas as 
raças têm o costume de viver rodeados do espírito do lar por que 
anseiam. O próprio desgosto que lhes pesa no coração torna-lhes 
impossível transformarem-se em verdadeiros cidadãos de uma cidade 
estrangeira, e instintivamente surgem pensamentos relacionados com 
uma cena diferente. O mesmo aconteceria com os judeus, banidos como 
foram de Sião, cidade do seu Senhor. Além disso, teriam presente grande 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 17 
parte da sua literatura, cuja beleza e grandiosidade impregnaria a sua 
alma. Isto, e não as planícies estéreis, planas, do país do seu cativeiro, 
seria a fonte da sua inspiração quando falavam. 
 Tudo isto é bem evidente. Mas há quem afirme também que se 
exagerou muito a ausência de cor local nas profecias de Isaías. Aqui 
temos, por exemplo, uma afirmação nesse sentido: "...vislumbres 
constantes de luz e sombra babilônica que se projetam em nosso 
caminho – os templos, as casas onde se faziam ídolos, as procissões de 
imagens, os adivinhos e astrólogos, os deuses e altares especialmente 
mantidos pelo espírito mercantil característico da terra; a navegação 
daquele empório internacional, as multidões dos seus mercadores; o 
relampejar de muitas águas e, até, o brilho intolerável que é uma 
maldição tão freqüente dos céus da Mesopotâmia (49.10)... Os animais 
que o profeta menciona têm, na sua maioria, sido reconhecidos como 
familiares em Babilônia; e, posto que o mesmo se não possa dizer das 
árvores e plantas que ele nomeia, observou-se que os trechos em que 
ocorrem são justamente aqueles em que os seus pensamentos se 
encontram fixados na restauração da Palestina" (G. A. Smith. The Book 
of Isaiah, II, págs. 13 e segs.). 
 Finalmente, assevera-se que o contraste entre Jeremias e o livro de 
Isaías pelo que respeita à forma de predição do cativeiro é inteiramente 
único se, de fato, os capítulos 40 a 66 forem anteriores ao exílio. 
Jeremias falava do exílio e da certeza da libertação, mas sempre no 
futuro. Predisse aberta e nitidamente ambos estes acontecimentos, mas 
com uma reserva e reticência de pormenores que, segundo se diz, são 
inteiramente inexplicáveis se estes últimos capítulos de Isaías tivessem 
sido já escritos, e por um profeta tão destacado. O apelo do profeta 
dirige-se a um povo que sofre há muito sob a mão do Senhor; e é a 
homens e mulheres cuja consciência fora avivada e tornada sensível à 
sua culpa pelo poder punitivo das provações e do desgosto que é dada a 
esperança da libertação, sendo Ciro, o libertador, proclamado como 
instrumento do seu Deus. 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 18 
d) Sumário da evidência 
 A favor de uma autoria dividida, vimos que o livro não contém 
qualquer evidência diretamente explícita que prove ter sido inteiramente 
escrito pelo próprio profeta; que os capítulos 40 a 66 em parte alguma 
reivindicam a autoria de Isaías, e que apresentam o exílio, não só como 
um acontecimento transato, mas também como próximo do seu fim, com 
Ciro prestes a provocar a queda da Babilônia. Além disso, a restante 
evidência existente - linguagem e estilo, teologia e ponto de vista da 
mensagem do profeta - de forma alguma entra em conflito com a teoria 
de uma data ulterior. Há um outro problema para o qual alguns 
estudiosos chamaram a atenção - o de uma teoria demasiado mecânica da 
inspiração, que põe o profeta a escrever acerca de coisas sem relação 
com o seu tempo e a falar do Servo sofredor de Deus como Alguém 
muito distante da cena contemporânea. 
 Por outro lado, notamos que a evidência externa favorece 
inteiramente a unidade do livro; que o argumento da linguagem milita 
tanto a favor dessa unidade como do seu oposto, se não mais; que a cor 
local é predominantemente a da Judéia; que há certos passos nos 
capítulos 40 a 66 que, até do ponto de vista crítico, devem ser anteriores 
ao exílio; e que é difícil explicar o desaparecimento de autor tão notável 
do palco da história e do campo da literatura. 
 No primeiro parágrafo desta seção, tivemos ensejo de nos referir 
ao ponto de vista do Dr. A. B. Davidson. Eis como ele formula a sua 
conclusão final: "Tais problemas deveriam ser mantidos o mais afastados 
possível de toda a interferência com os artigos de religião. Como poderá 
afetar a condição religiosa de cada um o fato de se crer ou não que seja 
Isaías o único autor das profecias que lhe são atribuídas, ou de se lhe 
acrescentarem outros autores? Seja-me permitido dizer que acho que 
devíamos repudiar e sentirmo-nos ofendidos com as tentativas que se 
fazem para transformar este problema num artigo de fé religiosa, e 
procurar formulá-lo de modo que se não transforme em tal". 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 19 
 Embora seja assim, permanece o fato que "a aceitação quase 
unânime, durante vinte e cinco séculos, da autoria de Isaías para todo o 
livro conhecido pelo seu nome só pode ser explicada pelo fato de tal 
opinião estar plenamente de acordo com o conceito da profecia 
apresentado na Bíblia em geral" (O. T. Allis, "The Unity of Isaiah", 
página 122). Se se aceitar a predição como elemento fundamental da 
mensagem do profeta; se ao dirigir-se aos seus contemporâneos, ele 
aponta para Aquele que deveria nascer; e se, para ilustrar os poderosos 
movimentos providenciais da história, Deus o faz ver antecipadamente o 
que vai suceder para que ele possa pregar com maior efeito ao seu povo, 
e também para que a crônica de épocas subseqüentes possa autenticar a 
mensagem profética então é inevitável concluir que o livro de Isaías é 
indivisível. 
 
PLANO DO LIVRO 
 
 O livro de Isaías divide-se naturalmente em duas partes distintas: 
capítulos 1 a 39, e capítulos 40 a 66, que devem ser tratadas e 
consideradas separadamente. Ver a Seção V da Introdução. 
 
CAPÍTULOS 1-39 
 
I. PROFECIAS REFERENTES A JUDÁ E JERUSALÉM - 1.1-12.6 
 
II. PROFECIAS DIRIGIDAS CONTRA NAÇÕES 
ESTRANGEIRAS E HOSTIS - 13.1-23.18 
 
III. O APOCALIPSE DE ISAÍAS: OS CASTIGOS DE JEOVÁ 
SOBRE O PECADO DO MUNDO - 24.1-27.13 
 
IV. PROFECIAS RESPEITANTES ÀS RELAÇÕES DE JUDÁ E 
JERUSALÉM COM O EGITO E A ASSÍRIA - 28.1-33.24 
 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 20 
V. PROFECIAS QUE PROCLAMAM A QUEDA DE EDOM E A 
REDENÇÃO DE ISRAEL - 34.1-35.10 
 
VI. APÊNDICE HISTÓRICO: A VIDA E ATIVIDADE DE ISAÍAS 
DURANTE O REINO DE EZEQUIAS - 36.1-39.8 
 
CAPÍTULOS 40-60 
 
VII LIBERTAÇÃO DO DOMÍNIO DA BABILÔNIA - 40.1-48.22 
 
VIII REDENÇÃO PELO SOFRIMENTO E SACRIFÍCIO - 49.1-
57.21 
 
IX O TRIUNFO DO REINO E O DOMÍNIO UNIVERSAL DE 
JEOVÁ - 58.1-66.24 
 
COMENTÁRIO 
 
CAPÍTULOS 1-39 
 
I. PROFECIAS REFERENTES A JUDÁ E JERUSALÉM - 1.1-12.6 
 
Isaías 1 
a) Os argumentos do Senhor (1.1-31) 
 
1. TÍTULO E INTRODUÇÃO (1.1). É evidente que este versículo 
se relaciona apenas com os primeiros doze capítulos e não com todo o 
livro, visto mencionarem-se Judá e Jerusalém como os temas a ser 
tratados. 
 Já se perguntou qual o momento no tempo a que se faz referência 
neste capítulo. A partir do verso 7, vemos que o país fora assolado pelos 
horrores de uma terrível invasão, e todos os indíciosparecem indicar que 
se trata da invasão de Judá por Senaqueribe em 701 a.C. A ser assim, 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 21 
este capítulo foi escolhido e escrito à guisa de introdução por Isaías 
numa fase já tardia da sua vida. A cena que enfrenta ao contemplar o 
mundo do seu tempo é suficientemente representativa para que o profeta 
a considere típica da atitude de Israel para com a palavra e a vontade de 
Jeová. Como diz George Adam Smith: "Trata-se de um enunciado claro 
e completo dos conflitos entre Jeová e o Seu povo durante todo o tempo 
que Isaías foi profeta do Senhor. É a mais representativa de todas as 
profecias de Isaías, um sumário talvez melhor do que qualquer outro 
capítulo do Velho Testamento da substância da doutrina profética, e uma 
ilustração muito vívida do espírito e método proféticos" (Isaías). 
 
 2. INTRODUÇÃO (1.2-9). Esta introdução de Isaías assume a 
forma de um grande julgamento - a grande acusação, como Ewald lhe 
chama, formulada contra o povo escolhido. Deus é ao mesmo tempo 
queixoso e juiz. Céu e terra são chamados a apoiar a queixa (2), sendo o 
profeta a principal testemunha. A acusação feita contra o povo escolhido 
é de rebelião absoluta nascida do seu coração ímpio e antinatural. Aí se 
radicavam todos os males que assolavam o país. Embora a mensagem do 
Senhor Deus tivesse sido transmitida pela boca dos profetas Amós e 
Oséias, não lhe haviam dado ouvidos, e a perversidade daquele povo 
conduzira a muitas infrações patentes da lei moral. O resultado de tal 
estado de coisas é que Aquele que os havia criado e mantido continuava 
desconhecido e a desgraça que se abatera sobre o país constitui 
testemunho eloqüente da realidade deste afastamento da fé. 
 Fala o Senhor (2). É significativo que, no próprio começo deste 
livro, Isaías acentua o fato de ele conter a mensagem autêntica do Senhor 
Deus (ver Sl 1.4; Dt 32.1). Note-se a ênfase desta afirmação de rebeldia: 
"Criei filhos e exalcei-os, mas eles prevaricaram contra Mim". 
 O boi... o jumento (2). Os próprios animais do campo são capazes 
de demonstrar uma dependência e uma dedicação mais natural e mais 
perfeita do que o povo escolhido do Senhor. 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 22 
 O Santo de Israel (4); esta expressão aplicada ao Senhor não 
ocorre antes do tempo de Isaías. É provável que seja criação sua. A visão 
que lhe veio dentro do Templo foi de um Senhor sentado num alto e 
sublime trono (6.1), de um Senhor superlativamente santo (6.3); e foi, 
sem dúvida, movido por essa inspiração no próprio início do seu 
ministério que Isaías continuou a referir-se a Deus como o Santo de 
Israel. Não é possível determinar todo o significado desta expressão para 
Isaías, mas provinha de alguém que vira o Senhor e que, em todo o seu 
ministério subseqüente, se consagra a dar ao seu povo igual consciência 
da majestade e poder dAquele a quem ele contemplara dentro do 
santuário. Temos aqui como que um relicário da glória e beleza da 
santidade, tudo compreendido na personalidade de Deus, o autor do 
Concerto. 
 Se mais vos rebelaríeis? (5). A vossa terra está assolada... (7). 
Durante a vida de Isaías, ocorreram pelo menos três invasões do solo 
sagrado de Judá, uma delas pelas forças combinadas de Israel e da Síria 
cerca de 734 a.C., e as outras pelas forças dos assírios - a primeira sob o 
comando de Sargom em 712 a.C., e a outra sob o comando de 
Senaqueribe em 701 a.C. (Ver apêndice 3 do livro de Reis, "Os Grandes 
Impérios no Período da Monarquia"). O ataque sírio vem mencionado no 
capítulo 7, e os outros nos capítulos 22 e 26. 
 Numa subversão de estranhos (7). Uma variante sugerida por 
Ewald produz um efeito muito mais forte: "... numa subversão como a de 
Sodoma". 
 Filha de Sião (8). Trata-se de uma personificação, aludindo a 
referência à Cidade Santa. Esta expressão não é infreqüente nos escritos 
mais especificamente poéticos do Velho Testamento. Ver 2Rs 19.21; Sl 
45.12. Cheyne salienta que em Lm 2.8 esta expressão parece designar a 
cidade sem quaisquer habitantes; enquanto que em Mq 4.10 parece 
aplicar-se aos habitantes sem a cidade. O quadro evocado é o de 
Jerusalém desolada, contemplando as ruínas que ficaram depois de a 
violenta maré da batalha e da invasão se ter perdido à distância. No verso 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 23 
8 as várias idéias da cabana, da choupana, ambas abrigos toscos erguidos 
nos campos durante a colheita e da cidade sitiada são todas quadros de 
solidão. Já como Sodoma seríamos, isto é, teríamos sido totalmente 
destruídos. Assim, logo no princípio do seu livro, Isaías introduz uma 
expressão significativa, o remanescente (9). A promessa divina desde 
eras passadas diz respeito à continuidade da raça escolhida e Àquele que 
sairia do meio do povo de Israel. A ênfase recai sobre a soberania do 
propósito divino. É o Senhor que deixa um remanescente. É pela Sua 
graça que a nação não é totalmente derrubada numa catástrofe 
semelhante à que engoliu Sodoma e Gomorra. Ver nota sobre 7.3. 
 
3. FORMALISMO NA ADORAÇÃO E A EXIGÊNCIA DIVINA 
(1.10-17). Nesta parte das suas profecias, Isaías descreve as muitas 
maneiras como os filhos de Israel, aqui ousadamente designados como o 
povo de Gomorra (10), procuravam o favor de Deus sem de qualquer 
forma satisfazer os altos e santos requisitos dos mandamentos. Oblações, 
luas novas, sábados, incenso, o sangue de bezerros e a gordura de 
carneiros, a assembléia convocada e o encontro solene (11-14). Estavam 
patentes aqui todos os adornos externos da vida religiosa, mas faltava o 
essencial da fé, e o povo observava um aparato vão sem o espírito que 
constitui o cumprimento de toda a lei. Contrastando com esta terrível 
negação da fé, o profeta expõe a lei eterna e os requisitos do Santo de 
Israel (16-17). O fundamental era a retidão e o cumprimento da ordem de 
atender necessidades como as dos órfãos e das viúvas. Temos aqui uma 
das mais nobres passagens de Isaías, freqüentemente comparada com as 
severas e inequívocas profecias de Amós (ver Am 5.15, etc.). 
 Pisar os Meus átrios (12). Esta tradução não reproduz todo o 
conteúdo do original, a que anda aliada uma idéia de afronta. O sentido é 
pisar a pés os átrios do Senhor. Surgir perante o trono do Senhor Deus 
com toda a aparência de constituir um insulto para o céu e uma afronta 
para toda a glória da revelação do divino poder e santidade. 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 24 
 Solenidades (14). Eram estas as festividades engastadas no 
próprio coração da lei e mandamentos de Deus. Quando delas andava 
ausente o estado de espírito que as transformava na expressão de um 
amor e de uma dedicação que procuravam tão-somente a Deus, até os 
sábados, a festa do Pentecostes, a festa da Páscoa, das trombetas e dos 
tabernáculos, o dia da propiciação - tudo se Lhe tornava odioso, uma 
ofensa contra o Seu glorioso mandamento. 
 Sangue (15), em hebraico, "sangues", isto é, manchas de sangue. 
 Lavai-vos, purificai-vos (16). Não bastava a purificação 
cerimonial; esta tinha de ser acompanhada de uma reforma positiva. 
 Praticai o que é reto (17). Este versículo coloca-nos perante 
alguns dos males sociais que Isaías tanto se esforçava por condenar. Ver 
o verso 23 mais abaixo. 
 
 4. CONDIÇÕES DE BÊNÇÃO (1.18-20). Com estas palavras, 
apresenta-se ao povo o ponto crucial da questão. Note-se a maneira 
como Isaías acentua o poder da razão. "Deus discute com o homem - eis 
o primeiro artigo de religião para Isaías. O profeta salienta mais o 
aspecto intelectual do sentido moral do que o outro, sendo característica 
de toda a sua carreira a freqüência com que neste capítulo emprega as 
palavras saber, considerar, raciocinar" (G. A. Smith, Isaiah, pág. 10). 
 Vinde então e arguí-Me (18). Cheyne traduz esta frase da 
seguinte forma: "Vinde agora, encerremos o nosso raciocínio". Por 
outras palavras, só há uma resposta final à rebelião do homem - o perdão 
livre de Deus. 
 A oferta de perdão aqui feita não constituia continuação de um 
raciocínio de conjunto, mas o final de um debate e a conciliação de uma 
dissensão: 
 Escarlate... carmesim (18), termos praticamente sinônimos que 
designam o vermelho vivo obtido da cochonilha (um inseto) e que 
contrastam fortemente com a cor da neve e da lã natural, não-tingida. 
 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 25 
 5. CASTIGO E REDENÇÃO (1.21-31). Esta passagem 
suplementar no final do primeiro capítulo exprime de forma concentrada 
a certeza do castigo divino para todos quantos desobedecem e se 
revoltam (21-24,28-31), e a certeza da redenção do Senhor, que será bem 
real e não tardará (25-27). Virão certamente tribulações, mas serão 
definitivamente arredadas, e o Senhor Deus remirá Sião e o 
remanescente do povo. 
 Os teus príncipes são rebeldes... (23). A forma como as classes 
dirigentes se haviam entregado à corrupção e à opressão é sempre 
descrita em termos ousados por Isaías. A doença partia da cabeça e 
alastrava por toda a estrutura política. Ver o verso 17 acima. 
 Purificai inteiramente (25), literalmente, com um álcali, tendo o 
profeta ido buscar a metáfora aos processos de fundição. Ver verso 22. 
Ao fazer ligas de prata, costumava-se usar estanho ou chumbo. Os 
carvalhos e os jardins (29) estavam associados com a idolatria e ritos 
pagãos. 
 
b) Descrição da glória da era messiânica (2.1-4.6) 
 Os capítulos 2 a 4 constituem em si um livrinho de ditos proféticos 
e inspirados. Há aqui seis breves oráculos, todos eles muitos 
provavelmente atribuíveis à primeira fase do ministério do profeta. 
 
Isaías 2 
 1. UMA PROFECIA MESSIÂNICA (2.1-4). Este trecho vem 
repetido em Mq 4.1-4 (ver notas). O quadro que nos é apresentado é o da 
era messiânica, na qual a cidade santa será demandada por todas as 
nações para aprenderem o verdadeiro caminho, e na qual o reino da paz 
universal será introduzida pela obediência do povo à mensagem revelada 
do Senhor (2-3). Então será estabelecida a justiça, e a lei divina rodeará 
toda a terra (4). 
 Visão... (1). Uma vez mais o profeta acentua que a sua 
mensagem diz respeito a Judá e a Jerusalém. Como era aqui que o 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 26 
remanescente escolhido deveria estar, nada mais próprio do que o autor 
se referir constantemente a estes lugares. 
 O monte da casa do Senhor (2), ou seja, o Monte Moriá, onde o 
templo se erguia. Prediz-se aqui enfaticamente que a verdadeira 
adoração do Deus vivo acabará por prevalecer, nos últimos dias, sobre 
todas as outras formas de adoração ou devoção religiosa, as quais, pela 
sua própria natureza e pelo fato de serem alheios à revelação autêntica, 
se revelam falsas e insatisfatórias. 
 Muitos povos (3), isto é, nações. De Sião (3); esta profecia 
cumpriu-se à letra. Foi na cidade santa que o nosso Senhor sofreu a 
rejeição, e foi do cenáculo nessa mesma cidade que a Palavra se 
disseminou por todas as nações; ver Jo 4.22; Lc 24.47,49. 
 Sobre as gentes (4). O sentido correto é: "entre as nações". As 
causas de tudo o que contribui para conflitos serão julgadas pelo Senhor 
Deus e pelo Seu Messias, e a Palavra pronunciada, não o poder armado 
do homem, será o critério de arbitragem. Comparar o verso 4 com Jl 3.9-
10. 
Em vista da importância dada à cidade santa e ao Monte de Sião 
nesta passagem, tem-se freqüentemente sugerido que se trata talvez de 
uma intercalação muito tardia no texto, e que, portanto, se lhe deveria 
atribuir uma data posterior ao exílio. Tal argumentação equivale a forçar 
os pressupostos doutrinais e críticos ao máximo. O profeta, que recebeu 
a mensagem do Senhor Deus dentro de recinto do templo e que dali saiu 
com a Palavra de Deus vivo na sua boca, não podia deixar de ter 
consciência bem funda do significado da cidade santa nos propósitos de 
Deus; ao raiar no seu espírito a visão da glória futura no reinado do 
Príncipe da Paz, parecer-lhe-ia que só num local ela se poderia realizar 
de forma condigna, a saber, na cidade Santa. 
 
 2. O DIA DO SENHOR: CASTIGO E PROVAÇÃO (2.5-22). A 
esta visão de bênção futura segue-se uma acusação renovada da raça 
escolhida (5-9). Vem depois uma descrição da forma do castigo que 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 27 
necessariamente cairá sobre ela visto ela teimar em se afastar do Senhor 
Deus (10-22). Este dia do Senhor acumulará forças como uma violenta 
tempestade e virá inexoravelmente do norte para a orla marítima, 
avassalando e esmagando no seu curso tudo o que é alto e elevado, dos 
cedros do Líbano (13) aos navios de Társis (16). Assim será abatido o 
orgulho do homem e castigado o seu pecado. 
 Ó casa de Jacó... (5); versículo de transição do quadro do domínio 
universal do Senhor para a descrição dos pecados de Judá. 
 Mas (6). Os versículos que se seguem apresentam as razões que o 
profeta invoca para o regresso ao Senhor Deus. Só se andarem na luz do 
Senhor (5) é que a profecia precedente se poderá realizar. Citam-se aqui 
quatro grandes motivos do desagrado divino: ligação com povos 
estrangeiros (6), imitação servil das práticas pagãs de tais povos (6), 
dependência das meras reservas financeiras e bélicas (7), e adoração dos 
ídolos (8). Se associam (6) com os filhos dos estranhos e dos pagãos, ou 
melhor: apertam-lhes a mão, fazendo um pacto com eles. Comparar o 
verso 10 com os vv. 19 e 21. 
 Navios de Társis (16), os maiores navios conhecidos ao tempo, os 
que efetuavam a longa travessia para Társis. Társis era talvez Tartessus, 
na Espanha, embora haja quem seja de opinião que ficava na Itália e que 
os seus habitantes eram tirrenos ou etruscos. Ver 23.1n. Todas as 
pinturas desejáveis (16). Têm-se sugerido traduções diferentes para este 
passo, mas o sentido é bem evidente: o de serem derrubados todos os 
objetos de desejo. 
 E todos os ídolos totalmente desaparecerão (18). É este o 
grandioso e dramático ponto culminante que o profeta aguarda. Na 
consumação dos atos poderosos de Jeová, o derrubamento de todas as 
divindades estranhas e falsas será absoluto e total; nada permanecerá de 
pé quando Ele surgir (ver Ml 3.2). 
 Então os homens se meterão nas concavidades das rochas (19); 
ler os vv. 10 e 21. Vemos um povo que foge das suas casas perante o 
invasor e que procura abrigar-se nas montanhas (ver Ap 6.15-16). A 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 28 
destruição é tão completa que aqueles que outrora se dedicavam 
devotamente às práticas idólatras dos pagãos as repudiarão com nojo e 
ódio, lançando-as às pragas dos campos e das casas (20). 
 Deixai-vos, pois, do homem (22), isto é, de confiar apenas no 
homem. Só no Senhor Jeová há poder, suficiência e força perdurável. 
 
Isaías 3 
 3. OPRESSÃO E ANARQUIA (3.1-12). Tendo denunciado as 
práticas pagãs e o sentimento de autoconfiança do povo, o profeta aborda 
no capítulo 3 os males sociais e o luxo na vida particular. Nos vv. 1-12, 
prediz uma fase terrível de anarquia para o país, pois o Senhor removerá 
os dirigentes e todos aqueles que poderiam orientar o povo (1-3). A 
ausência destes será tão absoluta que os homens lançarão os olhos pelo 
país em busca de alguém que os governe e oriente, mas tudo em vão (4). 
É este o terrível galardão para o espírito da desobediência e do pecado, 
para a acepção de pessoas, geral no país, e para a falta de vergonha, 
como sucedera em Sodoma (5-9). A única esperança reside na justiça. A 
bênção será para os justos; ai dos maus; cada um colherá inevitavelmente 
aquilo que semeou (10-11). A opressão e a cobiça reveladas pelos nobres 
deverão desaparecer, ou então nunca haverá esperanças de melhores 
dias. Na corte, as coisas estão tão más que os próprios dirigentes são 
dominados pelo elemento feminino e agem como crianças (12). A 
anarquia é absoluta em todo o país. 
 O bordão e o cajado (1). Usam-se aqui dois gêneros do mesmo 
substantivo, como em Ec 2.8; Na 2.12, de acordo com a construção 
idiomática hebraica usada na representação de todas as espécies de 
objetos. Neste caso, faz-se referência a todas as formas deapoio, como 
alimento, e seguidamente às outras coisas aqui mencionadas - governo, 
lei, ordem, paz. 
 O sábio entre os artífices, e o eloqüente (3), ou, segundo uma 
tradução inglesa, "o mago habilidoso e o perito em encantamentos", uma 
referência à superstição que imperava. 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 29 
 Tu tens roupa (6). O sentido é que, ou a pobreza era tanta que 
descobrir alguém possuidor de vestuário adequado para um fim especial 
era um acontecimento digno de nota, ou que "roupa" (ou manto) se 
refere aqui ao trajo indicativo de um cargo; neste caso, ao aproximar-se 
assim do seu vizinho, o homem fala com alguém que outrora ocupara 
uma posição de mando no país. 
 Para imitarem os olhos da Sua glória (8); ver 65.3. 
 
 4. O CASTIGO DO SENHOR (3.13-15). Com estas palavras, o 
profeta apresenta o Senhor Deus no ato de Se erguer para castigar os 
dirigentes do povo, que tão mal administravam os negócios públicos. O 
brado dos oprimidos chegara aos ouvidos do Altíssimo, que desce para 
os libertar e os salvar. Príncipes e governantes são agora chamados a 
prestar contas; os guardadores da vinha haviam abusado da sua posição 
de privilégio, transformando os proventos particulares na essência e na 
finalidade da vida. O mesmo castigo que eles haviam dado aos pobres e 
oprimidos abater-se-á sobre eles em medida ainda maior. Fostes vós que 
consumistes esta vinha (14). O "vós" é enfático: vós, os anciãos e 
dominadores, vós mesmos. A vinha é um símbolo favorito nas Escrituras 
(ver. 5.1-7). 
 
 5. O CASTIGO DAS FILHAS DE SIÃO (3.16-4.1). Chegamos ao 
ponto culminante desta mensagem de castigo e condenação. As próprias 
mulheres de Jerusalém têm culpa deste terrível estado de coisas. 
Também elas, como os homens, serão derrubadas no dia do Senhor (16-
17); o vigor do quadro aqui apresentado é realçado pelo contraste com o 
luxo a que elas estavam habituadas (18-24). Assim como Amós 
denunciou as mulheres de Samaria pela sua desalmada opressão dos 
pobres e pela sua conduta subseqüente (Am 4.1-3), também aqui Isaías 
ataca a altivez e o desdém das mulheres da Cidade Santa (16). Temos 
aqui um quadro mundano muito familiar - a miséria mais abjeta roçando 
ombros com o luxo e a extravagância altiva. Pela sua participação em 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 30 
tais pecados, estas mulheres serão incluídas no castigo que se avizinha, e 
sobre elas cairá uma terrível e nojenta praga (17). Não só serão vítimas 
de uma doença repugnante, mas sobre elas cairá a tremenda maldição do 
Oriente - não se casarem (4.1). 
 Na lista (18-23) das peças de vestuário e de adorno usadas pelas 
mulheres de Jerusalém, incluem-se muitos objetos igualmente usados 
pela deusa pagã Istar. 
 
Isaías 4 
 6. VISÃO DE CONFORTO E PAZ (4.2-6). Esta parte do livro 
termina, como sucede tão freqüentemente no sumário e coroamento das 
grandes mensagens do profeta, com uma visão de conforto e paz. Vale a 
pena afirmar uma vez mais que nada há no texto que justifique atribuir-
se-lhe uma data posterior à de Isaías. Temos aqui a promessa de uma 
consumação e de uma vida magníficas (2-3); temos aqui a resposta 
divina às queixas do homem. A terra cobrir-se-á ainda de fruto e de 
vegetação para o remanescente eleito do Senhor (2). A justiça e a 
verdade reinarão nas cidadelas do país; o povo será purificado, e a 
coluna de fogo e de nuvem será, uma vez mais, a glória da nação e a 
defesa segura desta (3-5). No centro de tudo estará o tabernáculo do 
Senhor, onde o coração que O busca encontrará repouso, conforto e 
descanso eterno (9). 
 O renovo do Senhor (2); ver Jr 23.5; 33.15; Zc 3.8; 6.12. É 
evidente nestas passagens que o autor se refere a Alguém que governará 
e regerá em justiça, Alguém da família de Davi, um servo de Deus. Não 
pode ser senão o Messias, que fará raiar para todo o país um dia de alta e 
graciosa bênção. Como diz G. A. Smith, "do pessimismo mais negro 
surgirão nova esperança e fé, assim como dos versículos mais sombrios 
de Isaías irrompe subitamente esta passagem, qual fonte irreprimível que 
jorra aos pés do inverno". 
 Inscrito entre os vivos (3), isto é, incluído no rol do remanescente 
de Deus. Sobre toda a glória haverá proteção (5), ou, como noutra 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 31 
versão, "sobre toda a glória se estenderá um dossel", isto é, de divino 
amor e proteção. 
 
Isaías 5 
1) Os castigos de Deus sobre o pecado (5.1-30) 
 Este capítulo começa sob a forma de um lamento cujo tema é uma 
história sobre a vinha do Senhor (1-7). Num trecho de extraordinário 
vigor e sublimidade, o profeta dirige-se aos ouvintes que o cercam e 
leva-os habilmente a concordar com o julgamento que ele vai pronunciar 
sobre a nação. A mudança súbita de ritmo no verso 7, e o emprego da 
assonância nesse mesmo versículo, acentuam a mensagem severa e 
incisiva do ministro de Jeová. Segue-se um lamento sêxtuplo: a sentença 
do amor eterno sobre os proprietários rurais cobiçosos (8-10), sobre os 
ébrios (11-17), sobre os descrentes (18-19), sobre os inimigos da ordem 
moral (20), sobre os homens confiantes em si e experientes do mundo 
(21), e sobre os juízes dissolutos e injustos (22-24). Segue-se a 
declaração severa e inequívoca de que o próprio Senhor chamará as 
terríveis e infatigáveis hostes dos assírios para destruir a terra de Judá 
(25-30). 
 
 1. A PARÁBOLA DA VINHA (vv. 1-7). Neste versículo, o 
profeta torna a acentuar a mensagem dos capítulos precedentes. Judá 
apostatou, o que constitui simultaneamente um desgosto para Deus e a 
causa do derrubamento e condenação daquele povo. Fez-se tudo o que se 
podia ter feito para que a vinha desse bom fruto, mas em vão (2,4). Nada 
resta senão arrancar pela raiz as defesas dela e destruir tudo o que lhe 
pertencera no passado (5-6). Segue-se inevitavelmente, e com tremendo 
vigor, a aplicação do verso 7. 
 Ao meu amado (1); ao meu Amigo, isto é, Jeová. O objetivo desta 
introdução é captar a atenção dos circunstantes para a mensagem que se 
vai seguir. Um outeiro fértil (1); o lado mais soalheiro das encostas 
rochosas era sempre preferido para a vinicultura. Note-se a ênfase sobre 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 32 
a intenção de permanência no trabalho e plano do Amado - fertilidade 
mediante a remoção das pedras; produção e desenvolvimento mediante a 
feitura do lagar, que seria escavado na rocha; defesa mediante a 
construção de paredes, sebes e torres. Através das Escrituras Sagradas é 
evidente esta maravilhosa intenção de Deus relativamente a Israel. "Ah, 
se tivesses dado ouvidos aos Meus mandamentos, então seria a tua paz 
como o rio, e a tua justiça como as ondas do mar" (48.18). 
 Às nuvens darei ordem (6). Das palavras finais deste versículo é 
evidente que o profeta alude ao Senhor Deus. O guardador da vinha é o 
Senhor de toda a terra. 
 Opressão... clamor (7). Temos aqui a definição do que fora 
mencionado parabolicamente sob a forma de "uvas bravas" (2,4). O 
clamor é o apelo de auxílio lançado pelos oprimidos. 
 
 2. DENÚNCIA DOS MALFEITORES E DECLARAÇÃO DOS 
CASTIGOS FUTUROS (vv. 8-24). Pronunciam-se aqui seis "ais" sobre 
determinados males. No primeiro (vv. 8-10), os proprietários rurais 
gananciosos são denunciados pela forma como procuram continuamente 
ampliar os limites das suas possessões, pisando a pés os pobres e os que 
não têm terras; na sua ganância, expulsavam os antigos donos das suas 
terras, criando para si latifúndios. Em breve virá a recompensa 
inevitável. A terra ficará desolada e as colheitas serão escassas e 
insatisfatórias. 
 Geiras (10); esta palavra significa literalmente "jugos"; um "jugo" 
era o que uma junta de bois, isto é, dois bois, consegue lavrar num único 
dia. Um bato (10), uma medida líquida equivalente a um efa de medida 
para secos, pouco mais de trinta litros. Trata-se, pois, de uma quantidade 
ridiculamente pequena para uma área tão vasta de terra lavrada. Hômer 
(10), cerca de 315 litros - portanto, uma produção que mal chega a um 
décimo de porçãosemeada. 
 O segundo "ai" (vv. 11-17) consiste numa severa denúncia de 
todos os que se entregam à dissipação. Tal conduta leva gradualmente a 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 33 
nação à ruína e abre as portas da escravidão aos cativos (13-14). 
Esquecer Deus no planejamento da vida é facilitar a destruição certa e 
levar o povo à condenação inevitável reservada para os maus. 
 Até que o vinho os esquenta (11). Isaías refere-se várias vezes ao 
alcoolismo, o que sugere a sua prevalência. Ver v. 22, e comparar com 
19.14; 24.20; 28.1,7. 
 Será levado cativo (13), para o exílio. 
 Sepultura (14), isto é, o Seol ou Hades. Ver Jó 11.8; 14.13. 
 No terceiro "ai" (vv. 18-19), o profeta dirige-se àqueles que se 
apegam ao pecado e que, com a sua conduta, incitam Deus a revelar-Se 
em castigo. As suas próprias ações fazem lembrar cordas que arrastam os 
resultados do pecado. Atente-se nas palavras de G. A. Smith: notável 
esta imagem de pecadores que zombam da aproximação de uma 
calamidade quando, de fato, a puxam sobre si, como se o fizessem com 
cordas". 
 Cordas de carros (18), isto é, uma corda grossa que sugere a 
enormidade do pecado. 
 O quarto "ai" (verso 20) dirige-se contra aqueles que, pelas suas 
palavras e comportamento, procuram derrubar a ordem moral 
estabelecida. As últimas duas frases são, na realidade, uma ilustração da 
primeira. 
O quinto "ai" (verso 21) dirige-se contra os que procuram ordenar a 
sua vida à luz do seu próprio entendimento. A confiança em si mesmo é 
um crime de corações insensatos que se esquecem de Deus nos seus 
planos. O espírito de dependência é a única coisa que pode manter o 
coração justo aos olhos de Deus. 
 O sexto "ai" (vv. 22-24) parece visar os juízes corruptos, 
ironicamente descritos como "poderosos para beber vinho, e homens 
forçosos para misturar bebida forte". O que aqui salta à vista é, porém, a 
sua rejeição da lei e o seu desprezo pela mensagem de Deus, mais do que 
propriamente a sua propensão para a embriaguez (ver vv. 11 e 12 supra). 
Tais homens serão como palha que arde numa fogueira, e como uma 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 34 
planta podre que não tem possibilidade de florescer. A negação da 
justiça aos justos constitui um tema que se repete (ver 1.17,23n.). 
 
 3. A IRA DE DEUS (vv. 25-30). É este o golpe final do castigo 
divino. Tinha havido anteriormente indicações do âmbito e poder do 
castigo que se avizinhava, enviado por uma deidade vingadora; agora, 
soa aos nossos ouvidos uma mensagem final, enfática, cheia de colorido. 
Nestes versículos magníficos, vemos um inimigo irresistível que se abate 
sobre a nação e a domina, vindo dos extremos da terra. As forças 
invasoras não são aqui mencionadas por nome, mas o profeta refere-se 
naturalmente ao poder acumulado dos exércitos assírios que, embora 
poderosos, iriam ser mais tarde eclipsados por um poder ainda maior - o 
de Babilônia. Cairão eles sobre as cidades indefesas de Judá - homens 
que não sentem o cansaço e que marcham em filas cerradas (27), com os 
seus cavalos e carros preparados para uma batalha decisiva (28), e 
soltando gritos de guerra que inspiram terror em todos os corações (29-
30). Assim se realiza decisivamente o terrível castigo do Senhor Deus, 
sendo consumido e esquecido o povo que olvidara os Seus 
mandamentos. 
 Nações (26). Em vez de "nações" leia-se "nação". Ver Am 6.14. 
Assobiarão (26), isto é, chamarão ao ataque a nação invasora. 
 As unhas dos seus cavalos dir-se-iam de pederneira (28). Os 
cavalos dos antigos não eram ferrados, e sugere se aqui que o invasor 
não seria detido pelo fato de os seus cavalos eventualmente ficarem 
coxos. 
 Arrebatarão a presa (29) uma referência ao costume assírio de 
despovoar as cidades conquistadas. 
 Como o bramido do mar (30). Nota-se aqui uma alteração, tanto 
na metáfora como no ambiente. Surge perante nós o quadro do mar 
encolerizado, sobre o qual se abatem trevas palpáveis. O sol está oculto, 
e a luz do céu é ensombrada e estranha. Toda a cena está impregnada de 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 35 
um sentimento de cataclismo e caos. Assim termina a senda do coração 
pecador e da nação pecadora. 
 
Isaías 6 
d) A chamada de Isaías (6.1-13) 
 Isaías tem conhecimento da morte do rei Uzias, e logo, cônscio, ao 
que parece, do desgosto nacional ante as dificuldades e perigos que a 
nação tinha agora que enfrentar, penetra nos átrios do templo para se 
aproximar de Deus. É então que raia perante os seus olhos a visão 
relatada neste capítulo. Pouco antes, oprimiam-no o abandono a que o 
país se encontrava votado e o trono vazio, mas agora vê o Senhor Deus 
nas alturas, com todo o poder do universo às Suas ordens (1). 
 No pensamento e ânimo do profeta agigantava-se neste momento a 
consciência da santidade do Deus de toda a terra (2-4) e, cônscio do seu 
próprio pecado e indignidade, o profeta exclama que esta perdido (5). 
Segue-se a mensagem de misericórdia salvadora. Até junto dele voou um 
dos serafins, tocando-lhe nos lábios com uma brasa acesa tirada do altar 
(6), e eis que no seu coração ecoam palavras avassaladoras de amor 
soberano (7). Só depois deste perdão absoluto é que lhe é dada a 
incumbência de trabalhar para o Senhor Deus, e o profeta ouve a voz do 
Senhor que pergunta quem está disposto a cumprir a Sua ordem (8). A 
mensagem é, na realidade, de condenação para a raça escolhida, e 
ninguém a poderia transmitir de ânimo leve (9-13); mas mesmo ali, 
dentro do recinto da casa de Deus, o jovem Isaías aceita o repto e sai, 
levando sobre si o peso da ordenação divina. 
 Vi ao Senhor (1). No meio de toda a inquietação e agitação, o 
profeta constata que Deus guarda os Seus. O Senhor (1) ver Jo 12.41, 
onde a idéia inerente a esta passagem sugere a versão dos Targuns: "Vi a 
glória do Senhor". Aqui, a manifestação da divindade revela-se 
claramente na pessoa de Cristo, Filho de Deus. A revelação divina é 
sempre outorgada ao homem mediante a pessoa do Filho unigênito do 
Pai. "Ninguém jamais viu a Deus". Como sucedeu tão freqüentemente 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 36 
nos tempos dos patriarcas e santos do Velho Testamento, temos aqui a 
atividade eterna do Deus de toda a terra transmitida ao homem através 
do Filho eterno. Trono (1). Acentua-se a certeza da soberania do Senhor 
Deus. Só há um dominador que rege o rolar incessante da história. 
 Os serafins (2). Esta palavra é traduzida de várias maneiras; há 
quem prefira "serpente ardente", ou "áspide ardente voadora" (ver 14.29; 
30.6), enquanto que outros tradutores optam por "seres exaltados ou 
nobres". No caso presente, tratava-se evidentemente de figuras aladas de 
forma humana, pois lemos que tinham mãos, pés e voz. O seu ministério 
incessante era louvar o Senhor e revelar a glória divina. 
 Clamavam uns para os outros (3), em antífona: "Em cânticos 
respondiam, cantando, uns aos outros". Santo, Santo, Santo (3); a 
repetição exprime grande ênfase. Comparar com Jr 7.4; 22.29; Ez 21.27. 
 Revela-se aqui o conteúdo intensamente espiritual da visão. 
Doravante, para Isaías, todos os antigos conceitos que aprendera 
brilharão com uma chama nova e ainda mais férvida. No meio de um 
povo cada vez mais atolado na busca de coisas alheias a Deus e que, 
portanto, de forma alguma se coadunavam com um sentido elevado e 
santo da Sua glória, Isaías vê agora que o Deus de Israel é, antes de mais, 
santo. De futuro, Deus será para ele "o Santo de Israel". 
 Fumo (4); provavelmente, símbolo da cólera divina. 
 Ai de mim (5). O efeito desta visão no profeta é imediato e 
avassalador. Unido com a nação no seu afastamento de Deus, e preso nos 
seus próprios desejos e hábitos pecaminosos, Isaías só se pode considerar 
perdido. Um homem de lábios impuros (5). Ver Jó 40.4-5. A visão de 
Deus na Sua santidade produz a consciência da nossa indignidade e 
impureza aos Seus olhos. Foi, sem dúvida, por Isaías saber que a sua 
vida seria consagrada à proclamação da mensagem do Senhor Deus que 
ele sentiaaqui a pecaminosidade e indignidade dos seus lábios para 
serviço tão excelso. A sua sensação de necessidade é imediatamente 
satisfeita pela ação de um dos serafins (6). 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 37 
 Purificado (7), expiado. Com respeito à ação purificadora do 
fogo, ver Nm 31.22-23; Ml 3.2; Mt 3.11. 
 A mensagem que cumpria transmitir era de castigo solene. O povo 
iria ouvir e ver, mas não compreenderia o que a mensagem implicava. 
Cada vez estaria mais cego; o seu coração endureceria, em vez de ficar 
mais sensível; a nação seria destruída como um carvalho e como uma 
azinheira (13), "mas, se ainda a décima parte dela ficar, tornará a ser 
pastada". A idéia exprime uma devastação completa, mas mesmo assim 
ainda há promessas para o futuro. Os próprios troncos cortados 
florescerão e crescerão, e o remanescente (semente santa) do povo será 
reunido para servir o Redentor Todo Poderoso de Israel e voltar ao Seu 
domínio. A expressão "santa semente" falta na versão dos Setenta, mas 
ocorre no rolo de Isaías encontrado com os chamados Manuscritos do 
Mar Morto. 
 
Isaías 7 
e) A mensagem do Senhor a Acaz (7.1-25) 
 Este capítulo pertence à fase da guerra entre Judá e a coligação 
siro-efraimita. Perante a ameaça de ataque iminente, o rei de Judá, Acaz, 
fica aterrorizado e presa de grande perturbação (1-2). O profeta 
transmite-lhe a mensagem do Senhor, que, se ele tiver confiança, haverá 
livramento (3-9). Para restaurar a fé do rei hesitante, Isaías dá-lhe ensejo 
de pedir um sinal de Jeová (10-11), mas ele recusa (12), e é-lhe então 
dado um sinal pelo próprio profeta, o sinal de Emanuel (13-16). Segue-se 
a descrição da forma terrível como Judá será assolado numa data futura 
(17-25). 
 
 1. A MENSAGEM DO PROFETA AO REI ALARMADO (7.1-9). 
Esta mensagem é de confiança em Deus. 
 Rezim... e Peca (1). Ver também 2Rs 16.5-6; 2Cr 28.5-8. Síria 
(1). A Síria da Bíblia é "Aram" em hebraico. Damasco era a principal 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 38 
cidade dos estados arameus, desempenhando o papel decisivo nos seus 
destinos. 
 Fez aliança (2); literalmente, a "Síria repousa em Efraim". Como 
Efraim era a principal tribo de Israel, o seu nome passou a designar todo 
o estado. Era da base avançada do território de Israel que o rei da Síria 
projetava levar a cabo a invasão. 
 Sear-Jasube (3), literalmente, "voltará um remanescente". Isto 
não se refere à catástrofe que envolverá os exércitos de Judá. Uma das 
doutrinas mais importantes de Isaías é a do Remanescente. De todo o 
povo que se afastou do Senhor, ficará um resto que regressará à luz e se 
regozijará na salvação do Senhor Deus. Ao dar este nome ao seu filho, 
Isaías afirma a realidade tanto do castigo como da misericórdia. A raça 
dos fiéis não será inteiramente arrancada da terra. Apenas um resto, mas, 
mesmo assim, uma verdadeira geração de fiéis que sobreviverá à sombra 
da mão bondosa de Deus e transformará em realidade a vontade divina. 
 Não temas... estes dois pedaços de tições fumegantes (4). 
Pretende-se acentuar que estes tições, outrora potencialmente perigosos, 
são agora quase impotentes, pouco mais do que meros troncos 
fumegantes. Assim, Isaías exprime o seu desprezo por eles. 
 O filho de Tabeal (6). Nada se sabe a respeito deste homem. É 
significativo o fato de o profeta conhecer tão perfeitamente o plano da 
campanha que até sabe quem é a pessoa que se projeta sentar no trono. O 
nome é aramaico e, portanto, refere-se provavelmente a qualquer 
fantoche do rei da Síria. 
 A cabeça da Síria será Damasco... (8). O sentido deste versículo 
e do seguinte é: "Contemplai o poder aparente de Aram e de Israel, mas 
não o temais. As suas cabeças são apenas Rezim e o filho pretensioso de 
Remalias, mas Jerusalém é a cabeça de Judá, e a cabeça de Jerusalém é 
Jeová". 
 Dentro de sessenta e cinco anos (8). Alguns comentadores 
consideram estas palavras uma intercalação feita por um escriba em data 
posterior; afirmam eles que os profetas normalmente não dão uma data 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 39 
tão precisa às suas predições. No entanto, leia-se Jr 25.12-13. Este 
espaço de tempo é certamente o que mediou a profecia e a destruição 
final do poder de Israel. Sob os golpes repetidos das invasões de Tiglate-
Pileser e, mais tarde, com a introdução de colonos estrangeiros por Esar-
Hadom, o poder do reino do norte foi completamente aniquilado. 
 Se o não crerdes, certamente não ficareis firmes (9). Há um 
notável trocadilho no original que é quase impossível reproduzir numa 
tradução. Eis algumas tentativas de fazer ressaltar o efeito original: "Sem 
fé não há fixidez"; "Sem confiança forte não há forte de confiança"; 
"Sem confiança não há permanência". Estas palavras dirigem-se a Acaz 
e àqueles dos seus seguidores que dão indícios de não estarem 
convencidos pela mensagem do profeta. 
 
 2. A RECUSA DO REI E O SINAL (7.10-16). Para confirmar no 
coração e consciência do rei a verdade das suas palavras, Isaías diz-lhe 
que busque um sinal de Jeová (11). Receoso de que isto o pudesse 
obrigar a alterar de qualquer maneira a política externa que adotara, o rei 
recusa-se a fazê-lo (12), o que não impede que seja dado um sinal (14), o 
do nascimento de uma criança com o grande nome de Emanuel (14). É 
essa a certeza da esperança de que o Deus eterno não abandonara o Seu 
povo, antes em toda a sua vida o vigia, guarda e domina para glória Sua. 
 Sinal (11). Não necessariamente milagroso. Um sinal é um penhor 
palpável, uma prova da verdade que o profeta proclamava em nome de 
Jeová. 
 Nem tentarei... (12); temos aqui puro subterfúgio e hipocrisia. O 
rei recebera ordem expressa de pedir este sinal, e não o fazer era recusar 
o auxílio do céu. 
 Eis que uma virgem conceberá... (14-16). É este um dos mais 
grandiosos trechos de Isaías, em torno do qual, nestes últimos tempos, se 
têm desencadeado tempestades de controvérsia e polêmica. Não 
podemos fazer aqui mais do que sublinhar alguns pormenores; para 
examinar mais a fundo esta questão, estudem-se obras de maior fôlego 
Isaías (Novo Comentário da Bíblia) 40 
concebidas em maior detalhe. O problema é se esta passagem constitui 
uma referência específica e enfática à vinda do Messias e à maneira 
como se verificará o Seu nascimento, ou se temos aqui apenas uma 
referência estritamente limitada ao fato da presença de Jeová Todo 
Poderoso. Ao considerar este assunto, não se esqueça que é muito 
freqüente as profecias do Velho Testamento terem um sentido duplo, 
apontando para uma realização imediata e para outra mais tardia. Nos 
versos 15 e 16, o que se descortina é, evidentemente, um livramento num 
futuro breve. O nascimento daquela criança com o nome sagrado de 
Emanuel ("Deus conosco") é um penhor da certeza da libertação. Mas, 
para além dele, há a promessa firme, a realizar mais tarde, da salvação 
por Jeová do Seu povo de Israel. Só mediante a vinda do Filho de Deus e 
a realidade da encarnação é que se abriu o caminho para a realização 
deste livramento ulterior e mais absoluto. 
 O autor destas linhas é de opinião que não há possibilidade de tirar 
a esta passagem o seu sentido messiânico. Mesmo que se conceda que a 
palavra traduzida por "virgem" (em hebraico almah) não tem 
necessariamente esse sentido exclusivo e que o profeta pensa, antes de 
mais, num acontecimento imediato, permanece o fato de que a redenção 
dos filhos de Israel e de toda a raça humana é realizada por Alguém com 
o nome de Emanuel, e acerca do Qual lemos, através do ensino explícito 
desse mesmo Alguém, que os profetas dEle escreveram e falaram (ver 
Lc 24.27). 
 Com respeito ao reino futuro a que Isaías se refere (ver 7.16-18; 
8.8), Delitzsch faz o seguinte comentário: "Se, nestes capítulos 7-9 Isaías 
encara a Assíria absolutamente como o Império Mundial, isto se revela 
verdadeiro na medida em que os impérios, do babilônio ao romano, 
constituem, na realidade, apenas o desenrolar de um processo que teve 
início na Assíria. E se aqui, no

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