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Ter coragem para decidir: coragem para afirmar ou para dizer não. Coragem para concluir ou confessar que não sabe. Ter a altivez de assumir a dimensão da responsabilidade dos atos e nunca deixar que decisões tenham seu rumo torcido por interesses alheios. Ser competente para ser respeitado: manter-se permanentemente atualiza- do, aumentando a cada dia o saber. Para isso, é preciso obstinação, devoção e dedicação apaixonada, pois só assim os laudos terão a elevada consideração pelo rigor com que são elaborados e pela verdade que carregam. Conclusão Desde a Antiguidade até os nossos dias, sucederam-se os povos, cresceu a população, houve conflitos que mudaram as relações entre as classes sociais, mas sempre a convivência do homem em sociedade continuou, e se mantém até hoje, regida por normas que validam os costumes vigentes, consagrando valores morais e éticos. O técnico qualificado, nesse caso, é genericamente chamado de perito, que pode examinar uma pessoa ou uma coisa, dependendo da natureza da infração. Assim, a necropsia tem a finalidade de contribuir para a revelação da existência ou não de um fato contraditório ao Direito. Em termos práticos, a necropsia médico-legal tem como outras funções a identificação do cadáver, a determinação da causa médica da morte e, em alguns casos, a determinação da data provável da morte. Obedecendo sempre aos conceitos éticos, morais e legais, os peritos técnicos e auxiliares de necropsia têm de manter o sigilo exigido, ser competentes naquilo que fazem, ser honestos, atuar com total isenção para não modificar o resultado do trabalho e agir com modéstia e sem vaidade. NECROPSIAS MÉDICO-LEGAIS As necropsias médico-legais são indicadas, quando tratar se de um crime, ou acidente de trabalho, ou caso de morte suspeita, ou indivíduos que morram sem assistência médica. Nesses casos é obrigatória a realização da necropsia. Quem requer a necropsia quando há alguma suspeita, a autoridade competente é o Delegado ou um Juiz que preside o processo. Essas perícias serão realizadas com requisição policial. O objetivo das necropsias médico-legais visa então, determinar as causas jurídicas da morte, ou seja, se ocorreu um homicídio, um suicídio ou morte acidental. A técnica na prática de necropsia médico- legal obedece a um roteiro preestabelecido até em regulamentos, como já vimos anteriormente, num conjunto básico de 14 regras. Terminada a necropsia, a reconstituição do cadáver deve ser completa, mais minuciosa, entretanto, e mais perfeita, quando a secção tenha sido imposta contra a vontade da família, por imperativos da lei. Esta mesma recomposição do cadáver precisa ser facilitada por certos por menores de técnica na secção visando a mutilar o menos possível o corpo. Após a realização da necropsia começam então as verdadeiras sequencias do trabalho pericial. Reduzido tudo a laudo minucioso, vai a perícia produzir os seus efeitos forenses, sendo discutida, analisada, criticada, contraditada, podemos ser refeitos uma e mais vezes após exumação do corpo, nova necropsia e novo laudo. Há casos em que uma perícia dessas fica em debate durante muitos anos, até transitar em julgado a sentença do processo em que o laudo esteja. Nas necropsias, é permitido aos setores tirar as peças que julgam necessárias para completar as suas pesquisas, em indagações posteriores, histológicas, toxicológicas, microbiológicas, etc, ou para conservá-las em museus quando de interesse científico. Basta, apenas, que registrem a retirada no laudo de exame, de sorte que assim se faz a justificação dela e na hipótese de se tornar necessária uma exumação, há possibilidade de completar-se o exame da porção que faltou. Instrumental Utilizado em Necropsia Grande parte do instrumental utilizado em necropsia é de aplicação cirúrgica. No Brasil, há pequenas variações com relação a utilização de equipamentos e manobras realizadas em necropsias policiais, porém, o que se observa é que essa variação de- corre mais da preferência dos profissionais envolvidos do que necessariamente de alteração da técnica. A seguir, apresentamos uma lista do instrumental cirúrgico utilizado em necropsia forense na maioria dos Institutos Médico-Legais do Brasil: • Agulha para sutura, triangular, reta, com cerca de 10cm de comprimento. • Agulha para sutura, triangular, semi-reta, com cerca de 10cm de comprimento. • Balança para pesar o corpo. • Balança para pesar órgãos grandes. • Balança para pesar órgãos pequenos. • Balança de análise para pesar órgãos muito pequenos, tais como as glândulas paratireóides. • Bandagem ou tecido de algodão. • Bisturi abotoado. • Bisturi escalpelo pequeno/grande. • Bisturi Esmarch. • Cinzel de Hibbs. • Estilete em aço inoxidável. • Faca de amputação de Collin. • Formão com lâmina em aço inoxidável de 3cm x 10cm. • Machadinha. • Mayon. • Pinça de Backhaus, Lorna e Benhard. • Pinça de Collin para extração de projetis. • Pinça de dissecção anatômica, em aço inoxidável, com 25cm de comprimento, com bordas rombas e parte interna serrilhada. • Pinça de dissecção do tipo dente de rato, em aço inoxidável, com 20cm de comprimento. • Pinça de dissecção do tipo dente de rato, em aço inoxidável, com 25cm de comprimento, com bordas rombas e parte interna serrilhada. • Pinça hemostática de Crile, Kocher e Kelly. • Pinça para osso. • Pino de Steinmann. • Raquítomo. • Rugina de Farabeuf reta e curva. • Rugina de Putti. • Rugina de Robert Jones. • Serra Mathieu com três lâminas. • Serras de Weiss, de Collin, de Charriere, de Saterrice ou serra de arco utilizada em construção civil. • Sonda de 1 mm de diâmetro. • Tesouras Reyman, Smith, Lister, Esmarch, Seutin, Metzenbaum. Trena em aço inoxidável, com 2m de comprimento. Cepo Compõe-se de um bloco maciço em forma de paralelepípedo, de material sintético liso, com uma concavidade em um dos lados maiores, em que se observam elevações transversais ao fundo. É utilizado para apoiar a cabeça ou o tronco do cadáver, com isso melhorando o ângulo de trabalho. Chaira e pedra de afiar São instrumentos utilizados para manter afiado o gume das lâminas (Figuras 3.2 e 3.3), exigindo-se do operador destreza para o procedimento de afiar. Nos casos de material cirúrgico de aço é preferível que o mesmo seja tratado por pessoal especializado. A chaira não gera o fio, apenas o mantém Facas de Virchow Forma correta de empunhar o bisturi, segundo Lazzeri Alguns tipos de lâminas e bisturis descartáveis É oportuno lembrar a frase sempre dita pelo anatomista Celestino Pedro Rezende Neto: "Por motivos de segurança, as facas e os bisturis, quando não estiverem sendo utilizados, deverão estar sempre sobre a mesa, da mesa para o cadáver e do cadáver para mesa." Tesoura de Smith É uma tesoura robusta utilizada para cortes grosseiros que não requerem regularidade ou precisão, como cortar vestes e bandagens presentes no cadáver. Craniotomia A craniotomia é um procedimento que se segue à incisão bimastóidea e ao afastamento dos retalhos anterior e posterior do couro cabeludo. O tipo de craniotomia depende da faixa etária do cadáver. O instrumental utilizado na craniotomia compõe-se de: • Rugina Lambotte. • Ruginas de Farabeuf, reta e curva. • Rugina de Putti. • Rugina de Robert Jones. • Serra Mathieu (também conhecida como serra de Farabeuf). •Serras de Weiss, de Collin, de Charriere, de Saterrice ou serra de arco utilizada em construção civil. • Cinzel e escopro. • Martelo de Hajek. Ruginas As ruginas são instrumentos utilizados para desgastar o periósteo craniano por atrito ou por pequenos golpes, deixando os ossos desnudos, permitindo apurar detalhes, bem como facilitar a ação da serra. Serras As serras podem ser manuais, elétricas circulares. As primeiras são as mais utilizadas no trabalho diário e têm a preferência da maioria das técnicas. A serra elétrica circular apresenta o inconveniente de possibilitar, mais facilmente, a dispersãode aerossóis e de partículas de osso, comprometendo os níveis de biossegurança. (A) Serra manual (arco de serra). (B) Serra Charriere Escopro, cinzel e martelos São instrumentos utilizados para romper a tábua interna da caixa craniana e remover a calota após a demarcação da linha de menor resistência pela serra. O escopro e o cinzel (osteótomo) são compostos de barras estreitas e finas, de aço inoxidável, e que terminam em cunha .A) Escopro de Virchow. B) Osteótomo Stille reto (A) Martelo de Hajek (B) Martelo de Neufield Inspeção das cavidades do tronco Para a inspeção das cavidades torácica e abdominal são utilizados os seguintes instrumentos: •Costótomo. •Bisturi descartável. •Faca de amputação de Collin. •Cisalha de Liston articulada. •Concha em aço inoxidável com cuba e cabo em peça única, tendo o cabo cerca de 20cm de comprimento e a concha 100mL de volume. •Enterótomo. •Pinça de dissecção anatômica, em aço inoxidável, de 25cm de comprimento, com bordas rombas e a parte interna serrilhada. •Pinça de dissecção do tipo dente de rato, em aço inoxidável, com 25cm de comprimento, com bordas rombas e a parte interna serrilhadas. •Pinça hemostática de Crile, Kocher e Kelly. •Tentacânula em aço inoxidável com cerca de 18cm de comprimento. •Pinça de Collin para extração de projetis. •Sonda de 1 mm de diâmetro. • Raquítomo. •Tesoura Mayo curva, em aço inoxidável, com 22cm de comprimento, pontas romba-romba. •Tesoura Mayo reta, em aço inoxidável, com 17cm de comprimento, pontas finas. •Tesoura Mayo reta, em aço inoxidável, com 17cm de comprimento, pontas fina- romba. Costótomo e cisalha São instrumentos destinados à retirada do plastrão esternal através de corte na cartilagem costosternal ou diretamente sobre o osso da costela. (A) Costótomo de Collin. (B) Cisalha Concha em aço inoxidável A concha em aço inoxidável é semelhante a uma concha doméstica, porém com cuba e cabo em peça única, sendo o cabo com cerca de 20cm de comprimento e a concha com 100mL de volume. É utilizada para retirar conteúdo líquido das cavidades e do estômago Enterótomo É uma tesoura formada por uma ponta protegida por uma espécie de capuz moldado a partir da própria lâmina e outra ponta romba. A ponta protegida é inserida na luz de órgãos como intestino, estômago e coração, orientando o corte sem danificar a estrutura interna . Pinças de dissecção São pinças interpotentes utilizadas para firmar o material para exposição, corte ou sutura. A pinça anatômica é utilizada quando da manipulação de tecidos friáveis, para evitar danificá- los. Já a pinça do tipo dente de rato é aplicada quando se objetiva tracionar tecidos resistentes Pinças dente de rato: (A) (B) pinça anatômica Pinça hemostática Trata-se de um tipo de pinça interfixa com dentes fixadores na extremidade. Os modelos mais utilizados em necropsia são as pinças de Crile, de Kocher e de Kelly Tentacânula É uma lâmina sulcada com uma extremidade dilatada. O sulco é usado para orientar profundamente cortes feitos com bisturi ou tesoura. Pinça de Collin para extração de projetis É uma pinça interfixa longa utilizada para remover projétis, de modo que os preserve com segurança. Deve ser constituída de material sintético ou plástico para não produzir deformidade ou abrasões nos projétis, quando utilizadas. Raquítomo ou raquiótomo É composto de uma cunha que forma com o cabo uma peça única em semi- arco. O cabo apresenta uma concavidade, que melhora o apoio. Tesoura Mayo, Tesoura Metzenbaum e Tesoura Iris A tesoura Mayo longa é comumente utilizada para corte de fios ou linhas cruas de fechamento. A tesoura Metzenbaum, muito útil em cirurgias, deve ser utilizada paracortar tecidos mais delicados, e sua curvatura permite cortes curvilíneos. (A)Tesoura Mayo longa de 20cm. (B) Tesoura Metzenbaum de 18cm. (C) Tesoura Mayo curta de 15cm (A) Tesoura abotoada de 15cm. (B) Tesoura Iris curva. (C) Tesoura Iris reta Reconstituição Compreende uma técnica de fechamento que visa deixar o cadáver no melhor estado de apresentação possível. O corpo deve ser reconstituído de modo que, depois de vestido, não haja evidências da necropsia. O material utilizado na reconstituição compõe-se de: • Pinças anatômicas do tipo dente de rato. • Agulha para sutura, triangular, reta, de cerca de 10cm de comprimento. • Agulha para sutura, triangular, semi-reta, de cerca de 10cm de comprimento. • Linha crua. • Tesoura de Mayo. • Bandagem ou tecido de algodão. Agulhas As agulhas utilizadas na recomposição do cadáver apresentam as seguintes carac- terísticas: corpo robusto com aproximadamente 10cm, fundo rombo, corpo reto ou semi-reto e ponta de reverso cortante. São muito comuns agulhas longas com pontas cortantes, utilizadas para costurar tecidos ou couro.Linha de cânhamo crua e agulha longa com ponta cortante para fechamento Tesoura Mayo Usada para cortar a linha de sutura Fechamento em sutura contínua da parede abdominal do tipo Schmieden (A) Régua milimetrada para fotografia. (B) Régua antropométrica sutura de Cushing INSTRUMENTOS DE MEDIDAS •Balança para pesar o corpo. •Balança para pesar órgãos grandes. •Balança para pesar órgãos pequenos. •Balança de análise para pesar órgãos muito pequenos, tais como as glândulas paratireóides. •Estilete em aço inoxidável (pino de Steinmann). •Paquímetro em aço inoxidável para medidas de até 150mm. •Trena em aço inoxidável com 2m de comprimento. •Régua antropométrica •Régua milimetrada para fotografia Paquímetro em aço inoxidável para medidas CUIDADOS COM O MATERIAL A seguir relacionamos alguns cuidados a serem observados para assegurar maior vida útil e melhor utilização do material: •Usar o material sempre para a sua função específica e não exceder os limites estabelecidos pelo fabricante. O aço inoxidável, apesar da denominação, está sujeito a oxidação. •As partes ativas do instrumental, assim como cortes, articulações e serrilhas, têm vida útil limitada, variando conforme a freqüência de uso e a maneira como o instrumento é utilizado. •Limpeza: todo o instrumental deve ser bem lavado após o uso, de preferência em água corrente quente ou fria, utilizando-se escova com cerdas de náilon e detergente neutro. Esterilização química: Etapa 1: aplicar produto bactericida na proporção de 4 ou 5mL de produto para cada litro de água, por 5 minutos. Etapa 2: lavar novamente o instrumental em água corrente a fim de retirar os resíduos do produto. Etapa 3: secar completamente o instrumental com pano antes de colocá-lo na estufa. Nunca se deve deixá-lo secar naturalmente, para evitar manchas brancas ou amareladas. Esterilização em estufa: Etapa 1: separar os materiais cromados dos materiais feitos de aço inoxidável. Consultar sempre o responsável pelo setor para tirar dúvidas antes de prosseguir, pois jamais se deve colocar os dois tipos juntos na mesma estufa ou autoclave. Etapa 2: separar o instrumental pesado do instrumental leve para evitar deformações, e o novo do velho, para evitar que possíveis pontos de oxidação sejam transferidos de um para o outro. Etapa 4: envolver o instrumental com papel de grau cirúrgico ou em campo de tecido de algodão cru duplo. Recipiente: recomenda-se a utilização de caixas cirúrgicas perfuradas na tampa e na lateral, que possibilitam uma boa oxigenação e a circulação de vapores no interior da caixa. Temperatura e tempo de estufa: a temperatura usual é de 150°C a um tempo de 90 minutos (contínuo). Caso a estufa seja requisitada durante o processo, esses valores poderão ser 170°C a um tempo de 120 minutos, não podendo exceder esses limites, pois a resistência do material à corrosão pode ser definitivamente comprometida. Além disso, pode-se mudar o ponto certo de têmpera e causar quebras prematuras, porque o material perde a flexibilidade às tensões a que foi submetido. Autoclaves: na convencional, 120°C a um tempode 30 minutos; na autovácuo, 132°C a um tempo de 4 minutos. Consertos e gravações não devem ser feitos por qualquer pessoa ou até mesmo por profissionais do ramo que não tenham familiaridade com equipamentos cirúrgicos. Muitas gravações eletroquímicas efetuadas na própria instituição ou por terceiros não são cuidadosamente neutralizadas, ocasionando oxidação prematura. A própria gravação não pode ser realizada em qualquer ponto da superfície da peça, pois pode ocasionar infiltrações do produto corrosivo. Gravações em forma de "riscos" com objetos pontiagudos na peça são absolutamente erradas, porque o aço inoxidável só apresenta suas características apropriadas ao uso cirúrgico devido ao polimento e ao tratamento em sua superfície. Sendo assim, qualquer agressão à superfície causará oxidação e até mesmo perda da resistência original.
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