Buscar

Apontamentos sobre a utilização do método fenomenológico na psicoterapia - Claudia Lins Cardoso

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Apontamentos sobre a utilização do método fenomenológico na psicoterapia 
Claudia Lins Cardoso 
Introdução 
● Modo como o psicoterapeuta pode atuar para compreender o cliente e ajudá-lo no seu processo de 
ser no mundo 
● Contribuições da Fenomenologia para a prática clínica 
● Postura do psicoterapeuta apoiado na perspectiva fenomenológica 
● Aplicação de alguns conceitos da Fenomenologia 
 
1 - Husserl e sua nova proposta: a Fenomenologia 
● Fenomenologia: método de descrição filosófica proposto por Husserl no início do século XX 
● Positivismo: movimento filosófico proposto por Comte no fim do século XIX enfatizava o conceito de 
razão e o método científico como caminho para a investigação do mundo e do ser humano. Ideias 
prevalentes: métodos quantitativos, leis gerais, previsão e controle dos fenômenos, transformação 
da realidade pelo homem. Influência do positivismo na ciência e filosofia fez com que as ciências 
naturais, as ciências do ser humano e dos animais e as ciências do espírito partissem da 
experiência e tivessem o mundo como objeto de interesse. 
● Atitude natural: coisas do mundo independem da nossa presença. Mantenedora da dualidade 
sujeito-objeto, tal atitude despreza o como com a consciência apreende o mundo. Característica 
das ciências naturais, que buscam chegar a uma definição absoluta das coisas. 
● Husserl considera a subjetividade humana como a principal característica que o diferencia de 
outros animais e tece duras críticas à utilização do método científico vigente que considera 
questões humanas como objeto de natureza física. 
● Através do “ensaio da dúvida universal”, Husserl sugere a redução fenomenológica (​epoché​): 
mudança de atitude da natural para a fenomenológica, colocando entre parênteses o que nos foi 
dado anteriormente para acessar os fenômenos que se apresentam à consciência (Fenomenologia 
surge com a proposta de reflexão dos fenômenos da consciência). 
● Caráter intencional da consciência: consciência sempre atribui um sentido ao fenômeno que se 
apresenta e é sempre consciência-de. Consciência e objeto como definidos a partir da relação. Não 
existe consciência sem objeto e objeto sem consciência, sendo essa a única fonte de 
conhecimento. Não temos acesso direto aos fatos, mas apenas aos fenômenos (objetos dotados de 
sentido). Somente através da atitude fenomenológica podemos acessar nossas vivências (atos 
psíquicos pré-reflexivos e universais, fundamentais na constituição da subjetividade) e sentidos. 
 
2 - O início do processo psicoterapêutico 
● Pessoa que chega ao consultório está em crise em pelo menos um aspecto de sua vida (vivencia 
uma situação que desperta desconforto, sentimentos desagradáveis, confusão, sofrimento). 
● Pessoa pode ter pleno conhecimento de sua situação, pode não ter a menor noção, ou pode 
reconhecer apenas um sintoma ou um outrocomo responsável por suas mazelas. 
● Estilo da expressão: pessoa pode descrever sua situação e expectativas com clareza e facilidade 
ou com grandes dificuldades -- a pessoa pode escolher dar lugar à perspectiva alheia ao invés de 
perceber e descrever a vida do seu próprio ponto de vista. 
 
3 - A postura fenomenológica na prática clínica 
● A utilização do método fenomenológico na clínica psicológica requer algum grau de adaptação em 
função das peculiaridades do contexto (os dados que são objetos de análise são obtidos por outra 
pessoa que não o pesquisador, por exemplo -- é o cliente que descreve sua experiência, a partir de 
sua própria perspectiva) 
● O objetivo da fenomenologia é investigar os fenômenos (tudo aquilo que aparece à luz da 
consciência). O fazer fenomenológico na clínica requer: 
○ foco na experiência vivida e seus significados 
○ descrição rigorosa e rica 
○ preocupação com questões existenciais 
○ reconhecimento da interconexão entre corpo e mundo 
○ atitude fenomenológica 
○ abordagem relacional transformadora 
● Uma relação terapêutica acolhedora e confirmadora o suficiente é capaz de propiciar a expressão 
dos fenômenos do cliente no seu tempo e ritmo próprios. Ao ser capaz de compartilhar sua 
intimidade, o cliente exercita um desvelamento de si e cria condições para se reconhecer como um 
ser-no-mundo pleno e consciente de suas possibilidades, fragilidades, desejos, responsabilidades e 
aspirações. Tal ampliação da consciência permite a apreensão de novos sentidos e novos 
posicionamentos no mundo. 
● Ao assumir a atitude fenomenológica, o psicoterapeuta acaba por incentivar o cliente a assumir a 
mesma atitude de questionamento reflexivo da própria experiência, alternando entre a 
compreensão do fenômeno e a compreensão do que se desenrola na interação terapêutica. 
● A atitude fenomenológica na investigação da subjetividade humana não se trata de uma técnica, 
mas de uma forma de se relacionar. Ela envolve abertura, presença, acolhimento empático, foco no 
presente e favorecimento de descobertas. 
● A busca por ser competente e efetivo pode levar o psicoterapeuta, comovido pela dor do outro, a 
fazer intervenções no sentido de mudar o cliente, salvá-lo ou reduzir seu sofrimento. O foco da 
atitude fenomenológica, porém, é justamente o processo humano, as vivências e experiências no 
aqui e agora da situação terapêutica, e não em um resultado específico. O sofrimento, a 
contradição e o paradoxo fazem parte da trajetória humana e podem ser vividos como experiência e 
transformação se abordados dentro de uma relação terapêutica acolhedora, cuidadosa e sem 
pressa, o que só é possível através da redução fenomenológica. 
● Exercício de distanciamento de tudo que é anterior à situação terapêutica: colocar entre parênteses 
os valores e conhecimentos anteriores, suspender o conhecimento prévio e manter a percepção 
voltada para “as coisas mesmas” (ponto de partida do conhecimento). Interferências de 
interpretações decorrentes de referências externas ao contexto imediato da sessão podem 
prejudicar a escuta terapêutica, impossibilitando o conhecimento dos fenômenos do cliente e seus 
sentidos a partir da perspectiva dele. Portanto, o foco deve ser a experiência de mundo descrita 
pelo cliente, com toda a rede de sentidos implícitos……... 
 
4 - Considerações finais 
● Atuação fenomenológica do psicoterapeuta tem como foco a experiência presente da pessoa para 
ampliar sua percepção e seu processo de vir-a-ser no mundo. 
● A qualidade das intervenções como recurso no trabalho (tipo de questionamentos e diálogo 
estabelecido) tem papel primordial nos aspectos que serão expressos pelo cliente, na ampliação de 
sua consciência. 
● Importância da relação terapêutica: por se tratar de um encontro subjetivo, é necessário zelar pela 
qualidade da relação, apresentando uma atitude cuidadosa e genuinamente interessada em auxiliar 
no processo de autoconhecimento e fortalecimento do auto suporte. Em sua relação com o outro, o 
terapeuta deve oferecer-se como terra fértil para que o cliente floresça. Cuidado terapêutico requer 
presença e abertura, de modo a propiciar o fluir dos processos humanos. 
● A prática psicoterapêutica fenomenológica é uma experiência transformadora pois a 
Fenomenologia oferece não apenas um método rigoroso de acesso às experiências mas também 
fundamentos para o estabelecimento de um encontro inter-humanopropiciador do reconhecimento 
e da possibilidade de ressignificação da subjetividade, que dá o viés a todo o ser-no-mundo.

Outros materiais