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FINANÇAS E GESTÃO TRIBUTÁRIA Autor: Nelson Chalfun Homsy Dados Pessoais Nome: _________________________________________________________ Turma:____________ Matrícula:__________ Curso: __________________ Endereço: _____________________________________________________ Cidade: _____________________________________ UF: _______________ CEP: ________________ Telefone: _________________________________ E-mail: ________________________________________________________ CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito - Cx. P. 191 - 89.130-000 INDAIAL/SC - Fone Fax: (47) 3281-9000/3281- 9090 - www.uniasselvipos.com.br Programa de Pós-Graduação EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Dr. Malcon Anderson Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Hiandra B. Götzinger Montibeller Prof.ª Izilene Conceição Amaro Ewald Prof.ª Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Heraldo da Costa Reis Revisão Gramatical: Marli Helena Faust Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI 658.15 C436f Chalfun Homsy, Nelson Finanças e gestão tributária / Nelson Chalfun Homsy. In- daial : Uniasselvi, 2011. 133 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-507-9 1. Administração – Finanças. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Copyright © UNIASSELVI 2011 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. PARCERIA ENTRE IBAM E UNIASSELVI No momento atual, em todos os países, em qualquer instância de governo, observa-se um movimento de revisão do papel do Estado, somado à exigência das populações por atuação governamental de qualidade. Esta tendência conduz à demanda expressiva para que se consolide a existência e o funcionamento de um sistema qualificado de Gestão para a implementação de políticas públicas. A institucionalização dos processos de gestão e a profissionalização dos servidores públicos passam a ser instrumentos estratégicos para alavancar condições de melhor execução de atividades e projetos, bem como dos meios de controle necessários para avaliação de resultados da atuação governamental. Inúmeras iniciativas são implementadas para dar consistência a este modelo de gestão governamental que se apoia na valorização da transparência, da participação e do controle social, que não podem existir sem instrumentos adequados e pessoas qualificadas. É neste contexto que se forma a parceria do IBAM com a UNIASSELVI. Aprimorar o sistema de gestão pública, apoiar a formação de profissionais que queiram ser ou já são do quadro do setor público e ampliar a informação para o cidadão sobre como deve funcionar o governo são os propósitos iniciais do MBA em Gestão Pública que passa a integrar o programa de pós-graduação da UNIASSELVI. A equipe de Professores Autores que o compõe se destaca pelo desempenho profissional em projetos da Administração Pública e como docentes universitários. A experiência da UNIASSELVI em processos educacionais em nível superior, aliada à do IBAM, que há 60 anos atua, em nível nacional e internacional, para o aprimoramento da administração pública, é composição de excelência para enriquecer o cenário que se quer alcançar. O IBAM e a UNIASSELVI desejam a todos os participantes uma boa jornada de estudos. Aos que se dirigem ao setor público, que consolidem sua formação; e, aos demais, que ampliem o nível de informação sobre governo e aprendam a articular-se com ele como cidadãos. Paulo Timm Superintendente Geral do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM Prof. Carlos Fabiano Fistarol Pró-Reitor de Pós-Graduação a Distância Grupo UNIASSELVI Nelson Chalfun Homsy É economista, professor e pesquisador com experiência em postos executivos nas áreas de economia regional, planejamento, orçamento, contabilidade e fi nanças privadas e públicas. É professor das disciplinas de Economia do Setor Público e Matemática Financeira do Instituto de Economia da UFRJ. Possui experiência como consultor nas áreas de desenvolvimento institucional, organização e gestão e arquitetura organizacional em estados e municípios, subsídios habitacionais, Lei de Responsabilidade Fiscal- LRF, endividamento Público Municipal, política tributária e fi scal; mapeamento institucional de serviços públicos, planos diretores locais, capacitação em desenvolvimento local integrado, estudos de viabilidade econômico-fi nanceira e business plan, incentivos fi scais na área da Cultura, Ciência e Tecnologia, e estratégias para o fi nanciamento urbano, dentre outros temas. Sua formação acadêmica inclui Curso de Doutorado em Planejamento Urbano e Regional, Universidade da Pensilvânia, EUA - 1985 - 1987. Curso de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional na Universidade da Califórnia, Los Angeles, EUA. - 1976 – 1978. Curso de Pós-Graduação em Planejamento Econômico no IPEA/CENDEC Rio – 1970 e Curso de Graduação em Ciências Econômicas pela FEA/UFRJ - 1966 a 1969. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Sistema Tributário Nacional ..................................................9 CAPÍTULO 2 A Divisão Tributária ...............................................................29 CAPÍTULO 3 Competências da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Os Tributos Federais, os Tributos Estaduais e os Tributos Municipais ...............49 CAPÍTULO 4 Receitas Públicas ..................................................................61 CAPÍTULO 5 Tributos Municipais ...............................................................79 CAPÍTULO 6 Gestão Tributária e Cadastro .............................................97 CAPÍTULO 7 Receitas Próprias e Receitas Compartilhadas ...............115 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Em 1755, Jean-Jacques Rousseau, filósofo dedicado à reflexão sobre a liberdade, a cidadania e a democracia, escreveu o clássico “Discurso sobre a Economia Política”. Em uma das passagens do texto, o autor faz uma comparação entre o funcionamento da estrutura da organização política da sociedade com o funcionamento da estrutura do corpo humano, conforme o excerto a seguir. O corpo político, tomado individualmente, pode ser considerado como semelhante ao de uma pessoa humana, um corpo organizado e vivo; O poder soberano representa a cabeça; as leis e os costumes são o cérebro; de onde se originam os nervos e onde se localiza a núcleo da compreensão, da vontade, e dos sentidos, cujos órgãos são representados pelos juízes e os magistrados; O comércio, a indústria e a agricultura são a boca e o estômago que preparam a subsistência comum; As finanças públicas são o sangue de uma sábia economia que desempenha as funções do coração, e cuida de distribuir o alimento e a vida por todo o corpo; Os cidadãos são o corpo e os membros que fazem mover, viver e trabalhar a máquina, e nenhuma parte dessa máquina pode ser danificada sem que esta sensação dolorosa seja, imediatamente, informada ao cérebro, admitindo-se que o animal seja sadio”. Fonte: Extraído e adaptado de: Jean-Jacques Rousseau. Discours sur l’économie politique (1755) p. 9 (T.A.) A comparação feita por Rousseau há mais de 250 anos, quando os Estados Nacionais modernos começavam a se formar, é bastante atual e oportuna, pois, quanto maior o avanço observado no estreitamento das relações entre governo e sociedade, maiores são as demandas por mais e melhores serviçospúblicos e por maiores níveis de participação e controle social da tributação, do gast, e dos resultados da ação pública. Esse quadro de problemas implica o conhecimento profundo dos processos de gestão do gasto público e dos tributos, os “sistemas venoso e arterial”, aos quais Rousseau, provavelmente, queria se referir, quando denominou as Finanças Públicas de “sangue” que corre nas veias e artérias dos corpos do governo e da sociedade. O objetivo da disciplina Finanças e Gestão Tributária Municipal é compreender o funcionamento do sistema tributário brasileiro no ambiente federativo, destacando as questões que dizem respeito aos municípios. Para tanto, o primeiro Capítulo trata dos processos de natureza econômica referentes à imposição de tributos. No segundo Capítulo serão analisadas as diferenças conceituais e práticas entre as modalidades de tributos. O assunto referente à competência do poder de tributar de cada ente federativo é o tema do terceiro Capítulo, no qual os tributos serão também abordados segundo as modalidades e características e as formas pelas quais o produto arrecadado é partilhado pelos entes da federação. No quarto Capítulo serão estudados os assuntos referentes à estrutura de classificação, à destinação e ao registro das Receitas Públicas, enquanto que no quinto Capítulo será analisada a estrutura tributária municipal, partindo-se da Constituição Federal, passando pelas normas gerais e, finalmente, chegando às normas tributárias específicas. As modalidades de gestão, a estrutura da unidade gestora, os critérios de avaliação aplicáveis à gestão tributária e os cadastros municipais são assuntos a serem apresentados e discutidos no sexto Capítulo. No sétimo e último capítulo serão estudadas as modalidades e critérios de partilha das receitas no sistema federalista brasileiro. Os textos apresentados incluem uma quantidade razoável de referências a Leis, Decretos e outros atos normativos, além da indicação de endereços eletrônicos nos quais você poderá consultar assuntos direta e indiretamente associados aos temas expostos ao longo dos Capítulos. Bom trabalho! Bons estudos! . CAPÍTULO 1 Sistema Tributário Nacional A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender os processos de natureza econômica, referentes à imposição de tributos e ao endividamento público. � Avaliar as políticas tributária e fiscal sob a abordagem da eficiência e da equidade, tendo em vista a estrutura das relações econômicas e financeiras entre o governo central, os estados e os municípios. 10 FinanÇas e Gestão tributária 11 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Capítulo 1 ConteXtualiZaÇão A cobrança do tributo, contribuição compulsória para fazer face às despesas de caráter coletivo das sociedades, remonta ao início da civilização. A instituição do dízimo, um mandamento bíblico ordenado por lei (Leis sobre dízimos, no Livro de Levítico) aos “fi lhos de Israel”, para que cumprissem o pagamento de 10% sobre toda produção da terra e toda criação de animais, é um exemplo clássico de tal contribuição. Nos Estados Nacionais Modernos, as estruturas de funcionamento dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são sustentadas pela contribuição do valor correspondente a uma parcela da produção de bens e serviços gerados pela sociedade. Em paralelo às atribuições de gestão e controle, o Estado desempenha a função de induzir e planejar o desenvolvimento econômico, executando parcial ou integralmente os investimentos em infraestrutura física e social de caráter coletivo, especialmente em relação aos projetos que demandam grande volume de recursos, longo prazo de recuperação e taxa de retorno comparativamente inferior à das atividades privadas. O crescente comprometimento da arrecadação de tributos com o custeio das atividades de gestão requer a obtenção adicional de recursos por meio do endividamento público. Esses são os assuntos a serem tratados no presente capítulo. Serão destacadas a importância da tributação e a forma pela qual o Estado intervém no processo do desenvolvimento econômico. Será também apresentado o histórico da tributação no Brasil. A IntervenÇão do Estado na Economia A ação de tributar se associa de forma direta à ideia de intervenção do Estado. Mas, por que existem os tributos e por que são devidos ao Estado? Para responder a essas perguntas devemos entender por que e como o Estado intervém na economia. Antes, porém, vamos apresentar a defi nição de Tributo. 12 FinanÇas e Gestão tributária Do ponto de vista jurídico, o termo tributo representa toda prestação pecuniária compulsória instituída por lei e cobrada mediante atividade administrativa vinculada, que não constitua sanção de ato ilícito - Código Tributário Nacional (CTN), art. 3o. O sistema tributário nacional compõe-se de tributos, que, de acordo com a Constituição Federal (CF), compreendem os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria (CF, art. 145). Por Que o Estado IntervÉm na Economia De maneira sintética, cabe ao Estado oferecer as condições para o desenvolvimento econômico com justiça social. Para o fi el cumprimento desta obrigação o Estado deve elaborar e executar políticas capazes de: • oferecer aos cidadãos e às empresas os meios para que eles possam contribuir de maneira plena para o crescimento econômico; • garantir à sociedade a justa repartição dos frutos desse crescimento, com distribuição da renda, geração de emprego e provisão dos serviços sociais. O termo provisão signifi ca a responsabilidade (do Estado) pela existência da oferta do bem ou do serviço. A produção do bem ou do serviço pode ser estatal ou privada. Observe a situação: Até meados da década de 1990, os serviços de telefonia apresentavam provisão e produção pelo Estado. Atualmente, apenas a responsabilidade pela provisão é estatal (ANATEL), enquanto que a produção do serviço é privada. A intervenção do Estado é justifi cada pela incapacidade do mecanismo de mercado, por si só, de promover o desenvolvimento econômico, isto é, alocar e distribuir de forma efi ciente e justa os recursos destinados à oferta de bens e serviços à população. 13 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Capítulo 1 Essa intervenção do Estado ocorre por meio das políticas econômicas do governo, assunto a ser tratado adiante. O termo mercado signifi ca o ambiente onde ocorrem a alocação, a distribuição e o consumo de bens e serviços. O mecanismo de mercado não atende de maneira apropriada aos objetivos do desenvolvimento econômico, pois é incapaz de, por si só, solucionar os seguintes problemas: a) Distribuição de Renda A existência do mercado não garante que todos disponham de recursos para, por exemplo, alimentar-se, vestir, morar, etc. Muitas pessoas não possuem o talento ou a habilidade, nem herdaram fortunas que lhes permitam uma vida digna. Outros são muito jovens, ou muito velhos, ou incapacitados para trabalhar. Muitas pessoas são incapazes de se sustentar sem que haja alguma forma de redistribuição de renda, realizada através da ação governamental. b) Externalidades Externalidades são efeitos (positivos e negativos) que afetam a sociedade como um todo, mas que decorrem de ações tomadas por uma pessoa, de forma isolada, por um grupo de pessoas ou empresas, ou pelo próprio Estado. Veja os exemplos. Externalidade positiva: A vacinação pública tem a capacidade de proteger as pessoas que tomam a vacina e aquelas que não a tomam, em razão da diminuição do risco de contágio. Externalidade negativa: A emissão de fumaça carregada de partículas em suspensão expelida pelas chaminés de uma fábrica. 14 FinanÇase Gestão tributária Muitas vezes a sociedade “paga um preço” em troca de uma vantagem coletiva, como no caso de uma indústria que emprega muitos trabalhadores, mas que utiliza tecnologia ultrapassada, altamente poluidora do ar atmosférico. Nesse caso, o mecanismo de mercado também não funciona, tendo em vista a impossibilidade de se estimar o preço que a sociedade paga pela externalidade – poluição do ar atmosférico. c) Monopólios Naturais Monopólio é a situação na qual uma fi rma detém quase ou integralmente a totalidade do mercado. O Monopólio Natural ocorre de forma mais explícita em determinados serviços de utilidade pública, tais como: distribuição de Energia Elétrica, Gás Canalizado e Saneamento. Essas atividades dependem de alto volume de investimento em ativo fi xo (equipamentos e instalações) e também apresentam longo prazo para recuperação do investimento. As tarifas são fi xadas pelo Governo, responsável pela provisão do serviço, e garantem uma rentabilidade mínima ao concessionário. A exploração dos Serviços de Utilidade Pública pela iniciativa privada não se confunde com a execução de atividades típicas de um mercado competitivo, pois no mecanismo mercado competitivo os preços não são administrados, variando em função da interação da oferta e da procura. d) Flutuações Econômicas O governo dispõe de uma estrutura de serviços básicos necessária para assegurar o funcionamento do mercado, garantindo a propriedade e regulando os contratos. O governo desempenha, também, um importante papel ao buscar garantir a estabilidade do nível de emprego, instituindo, por exemplo, condições especiais de empréstimos para a realização de projetos capazes de absorver grandes quantidades de trabalhadores, mesmo que tais projetos sejam menos efi cientes do que outros. O governo possui também a autonomia para alterar as taxas de juros e de câmbio. 15 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Capítulo 1 e) Bens Públicos ou Bens de Consumo Coletivo O termo bem público se refere a um determinado grupo de bens e serviços que são consumidos de maneira coletiva. Um exemplo é a Defesa Nacional. O controle do espaço aéreo, a vigilância das nossas fronteiras e da nossa costa são serviços que consumimos coletivamente e de maneira quase involuntária. Todos os 190 milhões de brasileiros recebem a “mesma quantidade de Defesa Nacional”. Diferentemente da vacinação pública, situação em que nem todos são vacinados, mas a probabilidade de todos contraírem a doença diminui, no caso da Defesa Nacional todos recebem o serviço; não há exclusão, tornando-o um “bem público puro”. O termo “bem público” sugere, a princípio, a ideia da “propriedade pública do bem”, quando na realidade o seu caráter “público” se associa ao seu uso coletivo, daí a denominação alternativa “bem de consumo coletivo”. Uma frota de ônibus urbanos, por exemplo, pode ser de propriedade privada, mas o serviço concedido é “transporte coletivo”, um bem público. Como o Estado IntervÉm na Economia Como vimos, o Estado elabora e executa políticas voltadas para o crescimento econômico e para a garantia da justa repartição dos frutos desse desenvolvimento em razão da incapacidade do sistema de mercado em atender plenamente aos objetivos (garantir o desenvolvimento econômico e repartir, de forma justa, os benefícios resultantes desse desenvolvimento). A execução dessas políticas está associada às três funções clássicas específi cas do Estado: • Função Alocativa: pela qual é complementado ou regulado o fornecimento de bens e serviços privados não oferecidos adequadamente pelo sistema de mercado, além dos já citados bens públicos. Exemplo: O instrumento representativo dessa função é o orçamento. • Função Distributiva: pela qual, através da tributação, o governo retira recursos de determinados setores econômicos e de segmentos da sociedade 16 FinanÇas e Gestão tributária e os transfere para outros, visando à maior efi ciência e equidade na distribuição das rendas do trabalho e do capital Exemplo: Além do orçamento, outro instrumento representativo é a tributação. • Função Estabilizadora: pela qual o governo interfere com o objetivo de reduzir os efeitos das bruscas e consideráveis oscilações que ocorrem na economia, em especial nos níveis dos preços e do emprego. Exemplo: Além do orçamento e da tributação, o Estado executa essa função por meio dos instrumentos de gestão de crédito e monetária, e gestão cambial. As funções alocativa e distributiva procuram corrigir as falhas de mercado que afetam de maneira negativa determinados setores produtivos, parcelas específi cas da população e determinadas regiões ou locais que apresentam insufi ciência de recursos em relação às suas necessidades. A função estabilizadora enfoca todos os segmentos da população, todo o território e todos os setores produtivos como um grande bloco agregado, sem levar em consideração as especifi cidades das pessoas, das empresas e das regiões ou dos locais. As Políticas Fiscal, Tributária, de CrÉdito e Monetária e Cambial As Políticas Fiscal, Tributária, de Crédito e Monetária, e Cambial, executadas em conjunto e de forma articulada, constituem a Política Econômica do Governo. a) A Política Fiscal A política fi scal representa o conjunto de instrumentos destinados à execução do gasto público, cujo principal objetivo é reduzir as disparidades de renda e de oportunidades entre pessoas, setores econômicos e regiões e de prover a demanda de bens públicos pela sociedade. Principais Instrumentos da Política Fiscal (tema que será desenvolvido pela Disciplina Planejamento Governamental e Controle): Política Fiscal trata do gasto do setor público nos três níveis de governo. 17 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Capítulo 1 • Plano Plurianual de Aplicações (PPA) • Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e • Lei Orçamentária Anual (LOA) A política fi scal também compõe o elenco de instrumentos de que o governo se utiliza para a execução da função estabilizadora, com o objetivo de reduzir as fl utuações bruscas e intensas dos níveis de preços e do emprego. b) A Política Tributária A política tributária engloba o conjunto de ações cujo principal objetivo é reduzir os desequilíbrios de renda entre pessoas, setores econômicos e regiões e arrecadar recursos destinados ao fi nanciamento do gasto público (funções alocativa e distributiva). Leva em consideração as características clássicas de neutralidade, equidade, simplicidade, fl exibilidade, produtividade e responsabilidade política. A política tributária também compõe o elenco de instrumentos de que o governo se utiliza para a execução da função estabilizadora, situação em que busca reduzir as fl utuações bruscas e intensas dos níveis de preços e do emprego. c) A Política de Crédito e Monetária Enfatiza sua atuação sobre os meios de pagamento, títulos públicos e taxas de juros, modifi cando o custo e o nível de oferta de crédito. Esta política é executada pelo Banco Central, que possui poderes e competência próprios para controlar a quantidade de moeda na economia. d) A Política Cambial Baseada na administração da taxa de câmbio, promove alterações das cotações cambiais – de competência do Ministério da Fazenda - e o controle das transações internacionais do país. O grande desafi o do Estado é executar essas políticas de maneira articulada, pois enquanto a Política Fiscal e a Política Tributária apresentam competência dividida entre as três esferas de governo, a Política Tributária trata da tributação nos três níveis de governo. Política de Crédito e Monetária atua sobre os meios de pagamento, títulos públicos e taxas de juros, modifi cando o custo e o nível de oferta decrédito. Política Cambial administra a taxa de câmbio e controla as transações internacionais do país. 18 FinanÇas e Gestão tributária Política de Crédito e Monetária e a Política Cambial são de competência exclusiva do Governo Federal. Além disso, as Políticas de Crédito e Monetária e a Política Cambial apresentam características peculiares, tais como: • competência exclusiva do governo federal; • abrangência nacional - a taxa de juros básica e a taxa de câmbio ofi cial se aplicam em todo o território; • decisões de alteração nas taxas de juros e de câmbio - ocorrem no âmbito da área econômica do executivo federal, sem qualquer interferência formal de outros setores do executivo e do legislativo; • imediata entrada em vigor; • efeitos da variação das taxas de câmbio e de juros são imediatos e se propagam por todos os setores da economia - em função da abrangência nacional e da intensidade da propagação dos efeitos da sua aplicação, os resultados – positivos ou negativos – são de grande magnitude. Atividade de Estudos: Diferentemente dos bens privados, alguns bens e serviços que não obedecem às regras de mercado têm a sua oferta sob a responsabilidade dos governos locais, estaduais e federal. São os chamados bens públicos ou bens de consumo coletivo. Ao desempenhar as suas funções alocativa e distributiva de maneira efi ciente e equitativa, os governos estão propiciando o acesso dos mais pobres aos serviços de educação, saúde, segurança, etc. Para tanto é fundamental que eles executem as políticas tributária (arrecadação de recursos) e fi scal (gasto dos recursos) de forma articulada com as políticas de crédito e monetária e cambial. Ocorre que as duas últimas políticas estão a cargo somente do governo federal. O que o poder público local deve fazer, reconhecendo-se essa limitação, no sentido de fortalecer a sua capacidade própria em termos econômicos e institucionais? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 19 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Capítulo 1 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ObJetivos do Sistema Tributário Com base no que foi apresentado na Seção A intervenção do estado na economia, podemos afi rmar que os três objetivos básicos de um sistema tributário são: a) Gerar recursos para fi nanciar a provisão de bens e serviços públicos Para produzir os serviços ofertados à população (ensino fundamental e médio; saúde e assistência social, dentre as funções mais evidentes) incorre-se no pagamento de salários e encargos de mestres, médicos e enfermeiros e assistentes sociais, além dos materiais por eles utilizados (giz, gaze etc.). Além desses gastos, há a necessidade de recursos para investimento na construção e aquisição de equipamentos e instalações. Geralmente tais investimentos são executados com recursos obtidos por meio de empréstimos. O gasto público não se resume, portanto, ao pagamento de despesas de custeio e de investimentos em obras e equipamentos, mas inclui também o pagamento de juros e amortizações de recursos obtidos por meio de empréstimos. O gasto público não se resume, portanto, ao pagamento de despesas de custeio e de investimentos em obras e equipamentos, mas inclui também o pagamento de juros e amortizações de recursos obtidos por meio de empréstimos. 20 FinanÇas e Gestão tributária b) Promover a distribuição de renda entre pessoas, setores econômicos e regiões A cobrança de tributos produz efeitos diferenciados sobre pessoas, setores e áreas geográfi cas. Considere alguns efeitos decorrentes da redução da tributação sobre o consumo de determinadas mercadorias (cesta básica, por exemplo) ou serviços: • Os preços relativos das mercadorias e dos serviços se alteram, pois o tributo é um “sobrepreço”. • Em decorrência, os indivíduos alteram os seus padrões de consumo. • Os custos de produção são afetados, provocando alterações na estrutura produtiva. • A distribuição da renda entre os indivíduos se altera, fazendo com que determinados grupos sociais modifi quem seus hábitos de consumo. Observe que essa cadeia de eventos teve origem no momento em que a autoridade tributária promoveu a redução da tributação sobre o consumo. Efeito semelhante pode ocorrer ao alterar-se a tributação sobre a renda de pessoas e setores econômicos de uma determinada região. (MUSGRAVE; MUSGRAVE, 1980). c) Reduzir as fl utuações bruscas e intensas dos níveis de preços e do emprego Modifi cações na tributação sobre a renda de toda a população brasileira, alteração de limites ao endividamento de estados e municípios, contingenciamento dos gastos públicos são alguns exemplos de medidas de caráter tributário e fi scal preocupadas em afetar de maneira global o comportamento de todos os agentes públicos e privados do país. Princípios de TributaÇão Princípios de Tributação e Princípios do Sistema Tributário tratam de aspectos distintos quando nos referimos ao pagamento de tributos. 21 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Capítulo 1 Princípios de Tributação dizem respeito aos aspectos teóricos, de natureza econômica, associados à intervenção do Estado. Princípios do Sistema Tributário se associam aos aspectos jurídicos e administrativos envolvidos no processo de imposição e cobrança dos tributos. Neste capítulo trataremos apenas dos Princípios de Tributação. Os aspectos referentes aos Princípios do Sistema Tributário serão abordados no segundo capítulo desta disciplina. Inicialmente vamos conhecer os Princípios do Benefício Recebido e posteriormente a Capacidade de Pagamento a) Os Princípios do Benefício Recebido Do ponto de vista econômico, há dois princípios em que o Estado se apoia para tributar: • princípio do benefício recebido, baseado na quantidade e tipo de bens e serviços públicos consumidos individualmente pelos contribuintes; • princípio da capacidade de pagamento, associado ao nível de renda dos contribuintes. De acordo com o princípio do benefício recebido, cada indivíduo deve contribuir com um valor proporcional aos benefícios por ele auferidos com o consumo de bens e serviços públicos. Esse princípio procura tornar possível o efetivo desempenho da função alocativa do Estado, pois se preocupa diretamente com o custeio dos gastos do governo, os quais, em última instância, irão determinar como será realizada a provisão dos bens e serviços públicos. Contudo, uma questão importante, mas não contemplada por este princípio, diz respeito ao desempenho da função (re)distributiva do Estado. O princípio do benefício recebido só servirá para alocar efi cientemente a parcela da receita tributária utilizada para custear a provisão dos serviços públicos. 22 FinanÇas e Gestão tributáriaO princípio da capacidade de pagamento considera de maneira independente a questão tributária, isolando-a da determinação dos gastos. De acordo com este princípio um determinado montante de arrecadação total é necessário e cada indivíduo deverá contribuir de acordo com sua capacidade de pagamento. Esse princípio tem, portanto, um forte caráter (re)distributivo, pois os mais ricos contribuem para que os mais pobres possam ter acesso aos serviços de educação, saúde, assistência social, etc. Veja estes dois princípios mais detalhadamente: • Princípio do Benefício Recebido Pelo princípio do benefício recebido cada indivíduo pagará um tributo de acordo com o montante dos benefícios que ele recebe do governo, sob a forma de bens e serviços públicos. Esse princípio se apoia no funcionamento do sistema de mercado de bens privados, segundo o qual cada pessoa desembolsa uma quantia em função da quantidade X ou Y que deseja adquirir para seu consumo e o de sua família. Um dos atributos do mecanismo de mercado é a existência do preço (preço de mercado). Dimensionamos as quantidades adquiridas em função dos nossos desejos e necessidades e da nossa renda. Já a oferta de bens e serviços públicos não se dá de forma orientada para este ou aquele grupo de cidadãos, em quantidades X e Y para esta ou aquela região. Além disso, tais bens e serviços não apresentam um preço único, mas custos associados à sua oferta. Ademais, estes custos são também de difícil determinação, pois envolvem um conjunto extenso de órgãos públicos (ministérios, secretarias estaduais, municipais, etc.) que participam de maneira associada do processo de entrega dos serviços à população. • A oferta de Serviços Públicos Considere a situação na qual seja ofertada uma quantidade igual de ensino fundamental, de saúde pública, de defesa nacional, por exemplo, o que torna praticamente impossível apontar este ou aquele indivíduo como “grande” ou “pequeno” consumidor desses serviços. 23 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Capítulo 1 Quem consome e quanto do serviço Defesa Nacional? É como se todos pegassem carona no consumo dos demais (consumo conjunto). Podemos, entretanto, indicar grupos sociais como potenciais consumidores de alguns desses serviços: as famílias de menor renda que dependem da oferta de ensino fundamental. Já o consumo dos serviços de Defesa Nacional, proporcionados pelas forças armadas, é exercido de forma igual, indistintamente, por todos. Imaginemos, ainda, a situação daqueles indivíduos que estejam desempregados e incapazes de auferir qualquer tipo de rendimento. Estariam eles alijados do consumo desses bens? Certamente que não, pois, mesmo não pagando, ainda assim estariam sendo benefi ciados. Devemos, portanto, admitir que o princípio do benefício recebido não funciona como parâmetro efi ciente do valor a ser tributado. Atividade de Estudos: Imagine um(a) empresário(a) que p ossua uma fi rma com 500 empregados. 90% dos seus funcionários ganham três salários mínimos e têm, em média, 2 fi lhos entre 5 e 15 anos de idade. O(A) empresário(a) é solteiro(a), não tem fi lhos e despende mensalmente 5 salários mínimos com seu plano de saúde, além de todos os seus gastos pessoais. No seu entender, este(a) empresário(a) consome direta ou indiretamente ensino público e saúde pública? Justifi que a sua resposta. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 24 FinanÇas e Gestão tributária ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ b) Princípio da Capacidade de Pagamento Este princípio utiliza como base objetiva de cálculo a renda do indivíduo. Em oposição ao princípio do benefício recebido, o fi nanciamento da produção de bens e serviços públicos não depende da cobrança pela aquisição ou utilização do bem ou serviço, já que todo indivíduo contribui de acordo com o seu nível de renda. E mais: indivíduos de mesma faixa de renda contribuem com a mesma alíquota (equidade horizontal) e indivíduos de diferentes faixas de renda contribuem com alíquotas diferenciadas (equidade vertical). O Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas – IRPF – é universalmente considerado o tributo mais justo, pois os tributos que incidem sobre o consumo fi nal – ou que não geram crédito – são tidos como injustos, por não distinguirem a condição econômica do indivíduo. Marcos Históricos Os marcos do sistema tributário brasileiro espelham as mudanças de natureza econômica e política que ocorreram ao longo do processo histórico de desenvolvimento do país. Ao analisarmos as mudanças relevantes observadas constatamos que elas ocorrem em espaços de tempo bastante largos, pois, tendo em vista o caráter normativo da estrutura tributária, é necessário que as modifi cações introduzidas nesta estrutura tributária espelhem o resultado de um complexo e extenso processo de discussão entre os diversos grupos de interesse, confi gurando o chamado “pacto tributário”. O processo legislativo que rege a tramitação das leis referentes ao planejamento e orçamento (Plano Plurianual - PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO e Lei Orçamentária Anual - LOA) tem sua atualização quase que concomitante às mudanças de curto prazo que ocorrem no ambiente político- econômico. 25 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Capítulo 1 Tanto a LDO quanto a LOA possuem vigência anual, enquanto que o PPA é reelaborado a cada quatro anos. Com isso, tanto a correção de equívocos cometidos por ocasião da aprovação do orçamento de um exercício, como as necessárias reorientações de rumo, por exemplo, podem ser promovidas em prazos curtos ou mesmo durante a vigência da lei que o aprovou. Já um equívoco cometido na elaboração de uma lei instituindo ou excluindo um imposto, ou a adaptação às mudanças que ocorrem no ambiente econômico, por exemplo, implica uma série de ônus de natureza política, econômica e social, para a sua correção. Tais fatos infl uenciam as decisões dos agentes econômicos e impõem distorções à alocação de recursos, exercendo consideráveis impactos sobre a renda e o emprego. (CHALFUN; MÉLLO, 2001). O estágio de desenvolvimento econômico de um país infl uencia a tributação na medida em que as economias mais evoluídas tendem a apresentar uma base tributável mais diversifi cada e mais estável do que as economias em grau inferior de desenvolvimento. a) A História Institucional dos Tributos no Brasil A História institucional dos tributos no Brasil tem início em 1534, com a criação das Provedorias da Fazenda Nacional. O primeiro ônus foi imposto à indústria extrativa (extração do pau-brasil). A Coroa Portuguesa considerava o pau-brasil como monopólio real, autorizando sua extração mediante o compromisso de que o extrator erguesse fortifi cações ao longo da costa, iniciasse a colonização e pagasse o quinto (ou 20%) incidente sobre a receita com a venda do pau-brasil. Ainda durante o período colonial os impostos cobrados pela Coroa Portuguesa incidiam sobre a produção do açúcar e do fumo, principais culturas desenvolvidas no Brasil colonial, e a cobrança do quinto de toda a extração do ouro obtido pelas jazidas brasileiras. (VARSANO, 1996). No Brasil independente de 1822 delinearam-se alguns tipos de sistemas tributários em função da extensão territorial. A estrutura de sistema e administração tributáriosdo período colonial foi mantida: o Estado continuou centralizado e as províncias, administradas por presidentes nomeados e destituídos pelo imperador. (VARSANO, 1996). Um equívoco cometido na elaboração de uma lei, instituindo ou excluindo um imposto, ou a adaptação às mudanças que ocorrem no ambiente econômico, por exemplo, implica uma série de ônus de natureza política, econômica e social, para a sua correção. 26 FinanÇas e Gestão tributária Ao longo do período que vai desde a proclamação da República até a promulgação da Constituição de 1934 a principal receita tributária brasileira resultava do imposto sobre a importação. Nas décadas de 1920 e 1930, iniciam-se os processos de industrialização e de urbanização no Brasil, ocorrendo o direcionamento para a tributação de base interna ao território nacional, sendo instituídos os impostos sobre a renda (1924) e sobre o consumo (1934). Na Constituição de 1946 foram introduzidos novos impostos e adotado o mecanismo das transferências, elevando-se o volume de recursos à disposição dos municípios. Até 1966 observa-se uma participação crescente dos impostos internos, destacando-se os impostos sobre consumo, vendas e consignações. A Lei no 5.172 de 25 de outubro de 1966, também conhecida como Código Tributário Nacional - CTN, ilustra o contexto político, social e econômico do período em que foi criada. Num sistema em que um único nível de governo (o governo federal) era o responsável por elaborar as políticas e implantá-las, seus interesses sempre predominavam. Com efeito, a composição do CTN revela a concentração dos impostos, taxas e contribuições no âmbito do governo federal. (VARSANO, 1996). Na reforma de 1967 foi introduzido o Imposto sobre o Valor Adicionado. Com efeito, a reforma tributária de 1967 apresentava dois principais objetivos: • redução do défi cit por meio da elevação da receita; • implementação de um sistema tributário que estimulasse o investimento. Com a reforma, observou-se uma melhor alocação dos recursos, a priorização da tributação sobre o valor agregado e uma redução do número de tributos, dentre outras vantagens. Reconhece-se que, naquela época, o Brasil passou a contar com um dos sistemas tributários mais modernos do mundo. Na reforma de 1988, com o aumento da participação dos estados e municípios na arrecadação dos impostos de renda e sobre produtos industrializados, o governo federal intensifi cou a arrecadação de contribuições sociais indiretas, não compartilhadas com estados e municípios, como COFINS, CSLL e CPMF. Tributação de base interna são operações que se realizam no território nacional. 27 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Capítulo 1 No Brasil atual existe uma forte concentração do processo de decisão da alocação dos recursos nas mãos do Governo Federal, fruto da própria formação do Estado brasileiro. Entretanto, deve-se prestar atenção para as mudanças importantes que vêm ocorrendo desde a promulgação da Constituição de 1988, de maneira especial no que respeita à descentralização de alguns serviços públicos, principalmente nas áreas do ensino fundamental e da saúde. As mudanças na maneira de se administrar a oferta de bens e serviços públicos seguem uma lógica baseada na classifi cação dos serviços públicos, que conjuga princípios de Administração Pública e a aplicação de conceitos de Economia do Setor Público. AlGumas ConsideraÇÕes Neste capítulo foram destacadas a importância da tributação e a forma pela qual o Estado intervém no processo do desenvolvimento econômico e apresentado o histórico da tributação no Brasil. Vimos que o mecanismo de mercado não é efi ciente ao alocar e distribuir os recursos disponíveis na sociedade, razão pela qual alguns bens e serviços de responsabilidade do Estado (tais como a saúde e a educação básicas) são fi nanciados via cobrança de tributos. Há, porém, formas diferenciadas de se ofertar tais tipos de serviços, o que origina a classifi cação dos tipos de tributos: o imposto, a taxa e a contribuição. Este será o assunto apresentado no Capítulo 2. 28 FinanÇas e Gestão tributária ReFerências BiblioGráFicas: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Contém as emendas constitucionais posteriores. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Lei no 5.172, de 25 de Outubro de 1966 (Código Tributário Nacional). Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm>. Acesso em: 10 jan. 2012. CHALFUN, N.; MÉLLO, L. Entendendo a contribuição da política fi scal, do PPA e da LDO para a gestão fi scal responsável. In: REIS, H. da C. R.; BARATTA, T. C.; NEVES, G. H. (Coord.). Lei de Responsabilidade Fiscal: Estudo em grupos de aprendizagem — Unidade de Estudo, 2, seção 1. Rio de Janeiro: IBAM/BNDES, 2001. 72 p. MUSGRAVE, R.; MUSGRAVE, P. Finanças Públicas: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Campus. 1980. VARSANO, R. A Evolução do Sistema Tributário Brasileiro ao Longo do Século: Anotações e Refl exões para Futuras Reformas. IPEA. TD nº 405. 1996. CAPÍTULO 2 A Divisão Tributária A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer as diferenças conceituais e práticas entre as modalidades de tributos. � Planejar a matriz de arrecadação de recursos com base na capacidade de pagamento dos impostos, das taxas referentes à contraprestação de serviços e das receitas de contribuições previstas no Código Tributário Municipal. 30 FinanÇas e Gestão tributária 31 A DIVISÃO TRIBUTÁRIA Capítulo 2 ConteXtualiZaÇão No capítulo 1 apresentamos os dois Princípios Teóricos de Tributação, cuja fundamentação possui origem de natureza econômica: • o princípio do benefício recebido, baseado na quantidade e tipo de bens e serviços públicos consumidos individualmente pelos contribuintes; e • o princípio da capacidade de pagamento, associado ao nível de renda dos contribuintes. Quando consideramos a necessidade da imposição e da cobrança dos tributos, porém, os Princípios Teóricos de Tributação assumem o formato de normas jurídicas e administrativas, passando a constituir o conjunto dos Princípios do Sistema Tributário Nacional. Os Princípios do Sistema Tributário Nacional tratam das regras jurídicas de subordinação dos contribuintes com relação ao Estado quanto às obrigações tributárias. Tratam também das regras que se referem à observância dos limites do Estado quanto ao seu poder de tributar. Princípios do Sistema Tributário Nacional Os Princípios do Sistema Tributário Nacional se subordinam à Constituição Federal de 1988 (CF/88), conforme ilustrado nas duas situações a seguir apresentadas: Situação 1 Considere a realização de um contrato entre dois cidadãos, envolvendo os seus interesses privados (compra e venda de um automóvel, por exemplo). Neste caso as partes, conforme as suas vontades, poderão estabelecer o preço, a forma e o prazo de pagamento, a entrega do automóvel, e outras condições, mediante a assinatura de um contrato. Nesta situação a existência de regras jurídicas funciona como: garantia na relação entre as partes privadas. 32 FinanÇas e Gestão tributária Situação 2 Considere agora a obrigação de pagarmos os tributos ao Estado. Caso não haja formalmente uma imposição legal nos obrigando a fazê-lo, podemos deixar de pagá-los, seja porque não concordemos com o valor a ser pago, seu pagamento, e outras condições. Nesta situação a existência de regras jurídicas funciona como: garantiana relação entre a sociedade e o Estado. Nas duas situações mencionadas, as regras aplicadas às relações contratuais entre cidadãos e entre cidadãos e o Estado são subordinadas à CF/88. A Constituição de um país - chamada Lei Maior ou Carta Magna - é o conjunto de Princípios sobre a organização do Estado, sobre a relação do governo com a sociedade e sobre direitos e deveres recíprocos entre os cidadãos. A CF/88 dispõe sobre os seguintes Princípios Constitucionais: Princípios Fundamentais do Estado República, Federação, Separação de Poderes e Estado Democrático de Direito. Princípios Gerais Legalidade, Isonomia, Liberdade, Dignidade, dentre outros. Princípios da Administração Pública Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade, Efi ciência, dentre outros. 33 A DIVISÃO TRIBUTÁRIA Capítulo 2 No Brasil, os dois principais diplomas legais que, de forma estruturada, tratam do Sistema Tributário Nacional são a Lei no 5.172/66, denominada de Código Tributário Nacional (CTN), e a CF/88. A CF/88, de hierarquia mais elevada, previu a criação de impostos não constantes do CTN e mudou em muitos aspectos os impostos existentes. Os Princípios do Sistema Tributário Nacional, descritos nos incisos do art.150 da CF/88, e que a ela se subordinam, são os seguintes: a) O Princ ípio da Legalidade O art. 150, no Inciso i da CF/88 dispõe: “[...] é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou aumentar tributo sem que lei o estabeleça”. O estabelecimento do conjunto de regras de tributação aprovadas por lei constitui um dos princípios do Sistema Tributário: o Princípio da Legalidade, ou seja, a garantia dada a todos os cidadãos de que os atos da Administração Pública somente serão válidos se respaldados em lei, assim evitando o abuso de poder por parte do Estado. Admite-se que medidas provisórias operem nesse sentido, mas este instrumento é legislativamente fraco, porque fi ca na dependência de aprovação pelo Congresso no prazo de 30 dias. Deve-se notar, ainda, que a CF/88 permite que determinados impostos tenham as alíquotas alteradas por decreto, o que representa um enfraquecimento ao princípio. (MACHADO, 2000). b) O Princípio da Anterioridade o Art. 150, inciso III, alínea b) dispõe que: “Cobrar tributos no mesmo exercício fi nanceiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.” Uma lei instituindo ou alterando um tributo, ao entrar em vigor, tem sua efi cácia suspensa até o início do exercício fi nanceiro seguinte, quando, então, produzirá todos os efeitos jurídicos. O Princípio da Legalidade veda às pessoas de direito público exigir ou aumentar tributo sem que lei o estabeleça. 34 FinanÇas e Gestão tributária O tributo poderá ser criado mesmo depois de aprovada a lei orçamentária, portanto, até o último dia do ano. (MACHADO, 2000). c) O Princípio da Igualdade O Art. 145, parágrafo 1o da CF/88 dispõe que: “Sempre que possível os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte”. O Sistema Tributário deve observar o princípio constitucional da igualdade, pelo qual todos são iguais perante a lei. É a garantia do tratamento igual dos que sejam iguais. (MACHADO, 2000). d) O Princípio da Competência Esteja atento para os seguintes Artigos: art. 153 e 154, para a União; art.155 para os Estados e Distrito Federal; art.156 – para os Municípios. Cada ente tributante deve observar os limites da parcela de poder impositivo que lhe foi atribuída. Assim, a divisão das áreas dentro das quais a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem instituir e cobrar tributos não permite a invasão de uns pelos outros. (MACHADO, 2000). e) O Princípio da Capacidade de Pagamento O Art. 145, parágrafo 1o da CF/88 dispõe que: “Sempre que possível os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte”. O princípio da Capacidade de Pagamento estabelece a necessidade de graduação dos tributos segundo a capacidade de pagamento dos contribuintes. A este princípio vincula-se a progressividade dos impostos (CF/88 art. 145 § 1o). Esse princípio surge como uma decorrência do caput do art. 5o, que rege: “Todos são iguais perante a lei”, devendo-se interpretar tal enunciado como tratar- se de forma desigual os desiguais. (MACHADO, 2000). 35 A DIVISÃO TRIBUTÁRIA Capítulo 2 f) O Princípio da Vedação do Confi sco De acordo com o art. 150, inciso IV da CF/88, “[...] é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios utilizar tributo com efeito de confi sco”. O princípio da Vedação do Confi sco exprime a noção de que a tributação não pode ser excessivamente onerosa, pois através dela o Estado obtém os meios fi nanceiros para desempenhar suas atividades, e não para transformar em público o patrimônio ou a renda privada. (MACHADO, 2000). g) O Princípio da Liberdade de Tráfego (de Pessoas ou Bens) O princípio da Liberdade de Tráfego atende ao prescrito no art. 5o, XV da CF/88, que assegura a liberdade de locomoção no território nacional. O artigo 150, V da CF/88, veda a cobrança de tributos com a fi nalidade de limitar o tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais. (MACHADO, 2000). O quadro resumo, contendo as abordagens econômica e jurídica e os Princípios do Sistema Tributário Nacional, é apresentado a seguir: Quadro 1 - As abordagens econômica e jurídica e os princípios do sistema tributário nacional ABORDAGEM ECONÔMICA ABORDAGEM JURÍDICA Princípios Teóricos de Tributação Princípios Constitucionais Princípio da Capacidade de Pagamento Princípios Fundamentais do Estado: República, Fede- ração, Separação de Poderes e Estado Democrático de Direito; Princípios Gerais: Legalidade, Isonomia, Liberdade, Dignidade, dentre outros; e Princípios da Administração Pública: Legalidade, Impes- soalidade, Moralidade, Publicidade, Efi ciência, dentre outros. Princípio do Benefício Recebido 36 FinanÇas e Gestão tributária Fonte: Extraído e adaptado da Constituição Federal de 1988. Princípios do Sistema Tributário Nacional a) Princípio da Legalidade – (CF/88, art. 150, I) O estabelecimento do conjunto de regras de tributação aprovadas por lei constitui um dos princípios do Sistema Tributário: o Princípio da Legalidade (CF/88, art. 150, inc. I), ou seja, a garantia dada a todos os cidadãos de que os atos da Administração Pública somente serão válidos se respaldados em lei, assim evitando o abuso de poder por parte do Estado. b) Princípio da Anterioridade – (art. 150, III, b) Uma lei instituindo ou alterando um tributo, ao entrar em vigor, tem sua efi cácia suspensa até o início do exercício fi nanceiro seguinte, quando, então, produzirá todos os efeitos jurídicos. c) Princípio da Igualdade – (art. 145, § 1o da CF/88). O Sistema Tributário deve observar o princípio constitucio- nal da igualdade, pelo qual todos são iguais perante a lei. d) Princípio da Competência Cada ente tributante deve observar os limites da parcela de poder impositivo que lhe foi atribuída. Assim, a divisão das áreas dentro das quais a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem instituir e cobrar tributos não permite a invasão de uns pelos outros. e) Princípio da Capacidade de Pagamento Necessidade de graduação dos tributos segundo a capa- cidade de pagamento dos contribuintes. A este princípio vincula-se a progressividade dos impostos (CF/88 art. 145 § 1o). f) Princípio da Vedação do Confi sco A tributação não pode ser excessivamente onerosa, pois através dela o Estado obtém os meios fi nanceiros para desempenharsuas atividades, e não para transformar em público o patrimônio ou a renda privada. g) Princípio da Liberdade de Tráfego (de Pessoas ou Bens) Este princípio atende ao prescrito no art. 5o, XV da CF/88, que assegura a liberdade de locomoção no território nacio- nal. O artigo 150, V da CF/88, veda a cobrança de tributos com a fi nalidade de limitar o tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais. 37 A DIVISÃO TRIBUTÁRIA Capítulo 2 Divisão Tributária Os tributos são divididos de acordo com as seguintes categorias (MACHADO, 2000): Quadro 2 - Classifi cação dos Tributos Fonte: Extraído e adaptado MACHADO (2000). Observe que, além das espécies assinaladas no Art. 145 da CF/88, ocorrem a incidência e a exigibilidade de outras espécies de tributos: • Contribuições sociais (art. 149 da CF/88), que se dividem em: – contribuições de intervenção no domínio econômico; – contribuições de interesse de categorias profi ssionais ou econômicas; – contribuições de seguridade social. • Empréstimos compulsórios (art. 148 da CF/88). Quanto à função Fiscais – quando o seu objetivo principal é a arrecadação de recursos fi nanceiros para o Estado. Extrafi scais – quando o seu objetivo principal é a interferência no domínio econômico. Parafi scais – quando o seu objetivo é a arrecadação de recursos para o custeio de atividades que não integram funções próprias do Estado, sendo desenvolvidas em seu nome por entidades específi - cas. Quanto à vincula- ção com a atividade estatal Vinculados: as Taxas, a Contribuição de Melhoria e as Contribuições. Não Vinculados: os Impostos. Quanto à competên- cia impositiva Federais Estaduais Municipais Quanto à espécie CF/88, Art. 145 Impostos Taxas Contribuição de Melhoria 38 FinanÇas e Gestão tributária Impostos Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específi ca, relativa ao contribuinte (CTN, art. 16). Entende-se como fato gerador a situação, defi nida em lei, como necessária e sufi ciente à ocorrência da obrigação de se pagar o tributo (CTN, art. 114). Assim, o Imposto sobre a renda tem como fato gerador, por exemplo, o recebimento da renda. No Brasil, país em que o exercício do poder político federativo é territorialmente dividido, a atribuição da instituição de impostos cabe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. São exemplos: • Imposto Federal – Imposto sobre a Renda (IR) • Imposto Estadual - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) • Imposto Municipal - Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) Os impostos estão classifi cados no CTN, de acordo com a natureza econômica do fato gerador, respectivamente, em quatro grupos: • Sobre o comércio exterior – Imposto sobre as Importações – Imposto sobre as Exportações • Sobre o patrimônio e a renda – Imposto Territorial Rural – Imposto Predial e Territorial Urbano – Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis – Imposto sobre a Renda • Sobre a produção e circulação – Imposto sobre Produtos Industrializados Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específi ca, relativa ao contribuinte. No Brasil, a atribuição da instituição de impostos cabe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. 39 A DIVISÃO TRIBUTÁRIA Capítulo 2 – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – Imposto sobre Operações Financeiras – Imposto Sobre Serviços • Impostos especiais – Imposto de competência da União, sobre operações relativas a combustíveis, a lubrifi cantes, a energia elétrica e a minerais em todo o País. TaXas De maneira geral, as atividades estatais são realizadas com recursos de arrecadação de impostos gerais. Porém, quando há um serviço público específi co, divisível e mensurável, há a possibilidade da cobrança de taxa. De acordo com o art. 77 do CTN, taxa é o tributo que tem como fato gerador duas fontes: • O exercício regular do poder de polícia. Exemplo: Taxa para expedição de alvará de licença. • A utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específi co e divisível, prestado ao contribuinte. Exemplo: Taxa de Incêndio. “Poder de polícia é a prerrogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza a Administração Pública a restringir direitos individuais em favor de terceiros.” (MACHADO, 2000, p. 348). Como decorrentes do poder de polícia podem ser citadas as cobranças de taxas de atividades que tratam da poluição, do gabarito de prédios, da higiene e da ordem pública, por exemplo. A taxa de polícia, portanto, é cobrada em razão da atividade estatal, que verifi ca o cumprimento das exigências legais e concede a licença para o funcionamento de uma empresa, por exemplo. Taxa é o tributo que tem como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específi co e divisível, prestado ao contribuinte. 40 FinanÇas e Gestão tributária Alvará é uma palavra de origem árabe. Signifi ca, de maneira genérica, “o texto que autoriza”. Já as taxas cobradas em razão de serviço público se associam a todas as outras atividades estatais específi cas e divisíveis, prestadas, potencialmente ou efetivamente, ao contribuinte. Os serviços públicos podem ser classifi cados como: • serviços públicos propriamente estatais; • serviços públicos essenciais ao interesse público; e • serviços públicos não essenciais. TaXa, PreÇo Público Ou TariFa? Uma discussão sempre presente sobre a cobrança pela prestação de serviços públicos diz respeito às diferenças entre os conceitos de taxa, preço público e tarifa. No âmbito jurídico, a diferença é estabelecida a partir da distinção entre o que é atividade própria do Estado (pela cobrança de taxa) e atividades que podem ser exercidas por particulares (pela cobrança de preço público ou tarifa). Já sob a ótica fi nanceira e da remuneração dos serviços prestados é possível a aplicação de diferentes critérios para se estabelecer a distinção entre os conceitos de taxa, preço público e tarifa. O primeiro critério é o da compulsoriedade, conceito que se associa ao pagamento de tributos. Na prática, a cobrança de preço não pode ser compulsória. Outro critério se associa ao tipo do serviço prestado. O serviço público pode ser considerado atividade propriamente estatal e indelegável, cuja prestação pelo Estado se associa ao exercício de sua soberania. A cobrança pela prestação de serviço judiciário ou de emissão de passaportes, por exemplo, somente ocorre se o serviço for utilizado, não sendo possível a cobrança pela mera potencialidade de sua utilização. 41 A DIVISÃO TRIBUTÁRIA Capítulo 2 No caso de o serviço público ser caracterizado como essencial ao interesse público, ele deve ser remunerado mediante taxa. Como é essencial à coletividade, a taxa incidirá sobre a utilização efetiva ou potencial do serviço. Como exemplo, pode-se mencionar o serviço de distribuição de água, de coleta de lixo e de esgoto. Há ainda a situação em que o serviço público é considerado como não essencial, mas cuja não utilização não resulta em dano ou prejuízo para a coletividade. Nesses casos tal tipo de serviço é delegável, podendo ser concedido e ser remunerado mediante preço público. Exemplo: o serviço postal, os serviços telefônicos, de distribuição de energia, de gás, etc. Em qualquer caso, porém, a cobrança de taxa, ou de preço público ou de tarifa, requer a sua instituição defi nida peloLegislativo e, em caso de dúvida, pode a lei defi nir a receita como taxa ou como preço público. O importante é que, se a lei denomina a receita como taxa, vincula esta ao regime jurídico tributário. Tal receita fi cará, portanto, sujeita ao princípio da legalidade e da anterioridade da lei ao exercício fi nanceiro correspondente. O critério de diferenciação para a aplicação de taxa e de preço público baseada no tipo de serviço não é tão exato quanto parece, uma vez que a noção de “serviço essencial” pode variar ao longo do tempo e pode ser aplicável em certas localidades e, em outras, não. Após entendida a discussão envolvendo as diferenças entre a taxa, o preço público e a tarifa, podemos então defi nir cada um desses conceitos. Taxa Se o serviço público for específi co, divisível e indelegável (serviços propriamente estatais e serviços essenciais), deve ser prestado pelo próprio Estado, em regime jurídico exclusivamente tributário, sendo remunerado por taxa. Deve-se ressaltar que as taxas são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária. Preço Público A prestação de serviço específi co, divisível e delegável, isto é, serviço não-essencial, poderá ser feita pelo próprio Estado, situação em que o serviço poderá ser remunerado tanto por taxa quanto por preço público, fi cando a critério do Estado tal defi nição. 42 FinanÇas e Gestão tributária Tarifa Caso a prestação do serviço seja delegada a terceiros, é cobrada tarifa do usuário, sendo o regime jurídico de direito privado. Atividade de Estudos: REFLEXÃO SOBRE O CONCEITO DE PODER DE POLÍCIA O Poder de Polícia manifesta-se de quatro formas: • ordem de polícia. Exemplo: Código de Trânsito; • consentimento de polícia. Exemplo: Expedição de carteira nacional de habilitação; • fi scalização de polícia. Exemplo: Radares mantidos por particulares em rodovias; e • sanção de polícia. Exemplo: Multa de trânsito. • Em que situações é possível a privatização do Poder de Polícia? Para responder a esta pergunta consulte o conteúdo da seção sobre Taxas e aponte em quais das quatro formas acima você julga ser possível a delegação a particulares. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 43 A DIVISÃO TRIBUTÁRIA Capítulo 2 As ContribuiÇÕes e Outros Tributos Vamos conhecer as contribuições de melhorias e outros tipos de tributos. a) A Contribuição de Melhoria É o tributo cuja obrigação tem como fato gerador a valorização de imóvel de particular em decorrência da realização de obra pública. A contribuição de melhoria se distingue do imposto porque o fato gerador de um imposto não pressupõe qualquer retribuição direta do Estado. Distingue-se também da taxa, pois a taxa está ligada à prestação permanente de um serviço público, enquanto a cobrança da contribuição de melhoria se associa à valorização imobiliária efetivamente gerada pela realização de uma obra pública. b) Outras Contribuições Além da contribuição de melhoria, há ainda três tipos de contribuições com fi nalidade constitucionalmente defi nida na CF/88 arts. 146, III, 149, 150 I e III e 195 § 6o (MACHADO, 2000): • as contribuições de intervenção no domínio econômico; • as contribuições de interesse de categorias econômicas ou profi ssionais; e • as contribuições destinadas ao fi nanciamento da seguridade social. Essas contribuições não possuem a função expressa de suprir o Tesouro Nacional de recursos fi nanceiros, daí dizer-se que elas possuem natureza parafi scal, algumas, e extrafi scal, outras. • Contribuições de intervenção no domínio econômico A fi nalidade da intervenção no domínio econômico caracteriza essa espécie de contribuição como tributo de função nitidamente extrafi scal, pois tem como objetivo induzir os agentes econômicos a incorporar a preocupação com os interesses sociais em suas ações individuais. A contribuição de melhoria tem como fato gerador a valorização de imóvel de particular em decorrência da realização de obra pública. 44 FinanÇas e Gestão tributária Os recursos arrecadados pela cobrança da contribuição de intervenção sobre o domínio econômico aplicada nos combustíveis destinam-se a custear o desenvolvimento de produtos e processos poupadores de combustíveis, investimentos em melhorias das estradas e redução da poluição ambiental, por exemplo. Dentre as mais importantes contribuições de intervenção sobre o domínio econômico podem ser listadas: – Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE, incidente sobre a importação de petróleo, gás natural e álcool combustível; – Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE, sobre o consumo de Combustíveis; – Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE, sobre remessas para o exterior; – Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública; – Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfi ca Nacional – CONDECINE. • Contribuições de interesse das categorias profi ssionais ou econômicas São contribuições que objetivam atender a determinadas categorias profi ssionais ou econômicas, vinculando sua arrecadação às entidades que as instituíram, não sendo computadas pelo Orçamento da União. Essas contribuições são destinadas ao custeio das organizações de interesse de grupos profi ssionais, como, por exemplo: OAB, CREA, CRM, entre outras. Visam também ao custeio dos serviços sociais autônomos prestados no interesse das categorias, como SESI, SESC e SENAI, mas que não integram o Sistema de Financiamento da Seguridade Social. Deve-se fazer ainda uma distinção entre a contribuição confederativa e a contribuição sindical: – A contribuição confederativa não é tributo, pois é instituída pela assembleia geral da categoria profi ssional e não por lei. – A contribuição sindical é instituída por lei, portanto compulsória, (art. 149 da CF/88), possuindo assim natureza de tributo. 45 A DIVISÃO TRIBUTÁRIA Capítulo 2 • Contribuições para a Seguridade Social A competência da instituição das contribuições de seguridade social é da União Federal, mas só quem as pode arrecadar é a pessoa, necessariamente distinta da União em virtude do disposto no art. 194, parágrafo único, inciso VII da CF/88. Com isso, temos as contribuições para a Seguridade Social dos empregadores domésticos, dos trabalhadores, incidentes sobre o seu salário de contribuição, as das empresas, incidentes sobre faturamento e lucro e as incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos. São exemplos de contribuições da seguridade social: o FGTS, o PASEP, o PIS, a CSL e a CPMF. É importante ressaltar, contudo, que há outras, como é o caso do salário-educação, da contribuição parafi scal administrada pelo Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (“FNDE”) e das contribuições destinadas a entidades privadas (sistema “S” – SENAI, SENAC, SESC, SESI, SEBRAE). Atividade de Estudos: A CPMF ou ContribuiçãoProvisória sobre Movimentação ou Transferência de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (“CPMF”), também conhecida como “imposto sobre o cheque”, é um tributo que vem sendo instituído e revogado desde 1996, tendo sido criado para fi nanciar a saúde, um dos elementos da Seguridade Social. A alternância entre a sua instituição e revogação revela a importância da participação da sociedade no processo político que envolve as questões tributárias. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 46 FinanÇas e Gestão tributária c) Os Empréstimos Compulsórios O artigo 148 da CF/88 ainda prevê a possibilidade de a União instituir empréstimos compulsórios, nas seguintes hipóteses: – para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; ou – no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional. Dispõe, também, que a aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. No caso de guerra externa a União poderá instituir empréstimo compulsório, conforme citado no art. 148, I da CF/88, e impostos extraordinários, os quais serão suprimidos gradativamente, cessadas as causas de sua criação, como disposto no art. 154, II. As diferenças entre o empréstimo compulsório e o imposto extraordinár io são: O Empréstimo Compulsório deve ser instituído por lei complementar e ocorre para atender a despesas extraordin árias decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência ou no caso de investimento publico de caráter urgente e de relevante interesse nacional. O Imposto Extraordinário pode ser instituído por lei ordinária e ocorre na iminência ou no caso de guerra externa. AlGumas ConsideraÇÕes Enquanto que no Capítulo I foi adotada uma análise baseada em critérios econômicos, este capítulo destacou as diferenças conceituais e práticas entre as modalidades de tributos sob a ótica da legislação, podendo ser observado o rigor jurídico empregado na defi nição e na classifi cação dos tributos, a fi m de que os cidadãos e o Estado possuam o exato conhecimento dos seus direitos e deveres em matéria tributária. 47 A DIVISÃO TRIBUTÁRIA Capítulo 2 No próximo capítulo será estudada a classifi cação quanto à competência impositiva, isto é, os tributos federais, estaduais e municipais. Com isso poderemos compreender a importância das três esferas de governo em dimensionar de maneira conjunta o volume de recursos tributados para o atendimento das necessidades da população no contexto do crescimento local, estadual, regional e nacional. Do ponto de vista prático o objetivo é o de podermos estabelecer os limites da participação dos governos federal e estadual no conjunto dos investimentos e custeio do governo local. Para fi nalizar, agora que já sabemos um pouco mais sobre os tributos, que tal visualizar a lista de todos os tributos atualmente vigentes em nosso país, na qual estão incluídos os mencionados na CF/88, no CTN e os que foram introduzidos por meio de outros instrumentos legais? Para ver a lista, vá ao endereço: http://www.portaltributario.com.br/tributos.htm ReFerências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 22 dez. 2011. BRASIL. Lei no 5.172, de 25 de Outubro de 1966 (CTN). Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/L5172.htm>. Acesso em: 22 dez. 2011. MACHADO, H. B. Curso de Direito Tributário. 18 ed. São Paulo: Malheiros, 2000. PORTAL TRIBUTÁRIO. Disponível em: <http://www.portaltributario.com.br>. Acesso em: 22 dez. 2011. 48 FinanÇas e Gestão tributária CAPÍTULO 3 Competências da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Os Tributos Federais, os Tributos Estaduais e os Tributos Municipais A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender a importância das três esferas de governo em dimensionar de maneira conjunta o volume de recursos tributados para o atendimento das necessidades da população no contexto do crescimento local, estadual, regional e nacional. � Estabelecer os limites da participação dos governos federal e estadual no conjunto dos investimentos e custeio do governo local. 50 FinanÇas e Gestão tributária 51 COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL. OS TRIBUTOS FEDERAIS, OS TRIBUTOS ESTADUAIS E OS TRIBUTOS MUNICIPAIS Capítulo 3 ConteXtualiZaÇão No capítulo 2 foram destacadas as diferenças conceituais e práticas entre as modalidades de tributos sob a ótica da legislação, podendo ser observado o rigor jurídico empregado na defi nição e na classifi cação dos tributos, a fi m de que os cidadãos e o Estado partilhem o exato conhecimento dos seus direitos e deveres em matéria tributária. De acordo com o art.1o da CF/88, o Brasil é uma república federativa formada pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, entes federativos independentes e autônomos. Sua autonomia fi nanceira, entretanto, decorre da competência conferida a cada um deles para instituírem seus próprios tributos. A classifi cação das competências de tributar é importante para que as três esferas de governo possam dimensionar de maneira conjunta o volume de recursos tributados para o atendimento das necessidades da população no contexto do crescimento local, estadual, regional e nacional. Neste capítulo 3 é estudada a competência do poder de tributar, conferida pela CF/88 a cada ente federativo. Serão vistas as modalidades e características da competência de tributar e as formas pelas quais o produto arrecadado é partilhado pelos entes da federação. Competência tributária é a parcela do poder de tributar conferida pela Constituição a cada ente federativo para instituir, fi scalizar e cobrar tributos, em suas esferas específi cas (federal, estadual e municipal). Do ponto de vista prático o objetivo é o de podermos estabelecer os limites da participação dos governos federal e estadual no conjunto dos investimentos e custeio do governo local. 52 FinanÇas e Gestão tributária A RepartiÇão de Competências Tributárias Embora a CF/88 disponha que no Estado Brasileiro coexistem entes políticos independentes e autônomos, - a União, o Distrito Federal, os Estados e Municípios -, não há referência à relação hierárquica entre tais entes, sendo necessário, portanto, determinar a repartição da competência quanto ao poder de tributar. De acordo com descrição de Rosa Junior (1999), há três modalidades de competência tributária: a) Privativa É a competência para instituir impostos, atribuída com exclusividade a um ente federativo. Exemplifi cando: o Imposto de Importação é de competência privativa da União; o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é da competência privativa dos Estados e do Distrito Federal; e o Imposto sobre Serviços (ISS) é da
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