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6 5 Classificação, Estrutura e Reprodução dos Fungos Este capítulo apresenta uma visão geral da classificação, estrutura e reprodução dos fungos. Serão discutidos os aspectos básicos de sua organização celular, sua morfologia, assim como a classificação clínica das micoses humanas. Propomos uma taxonomia simplificada dos fungos para destacar as principais classes dos fungos patógenos em humanos: Mucormicetos, Basidiomicetos, Pneumocistidiomicetos, Hemiascomicetos e Euascomicetos. A Importância dos fungos Os fungos representam um diverso grupo de organismos ubíquos que tem como principal objetivo degradar a matéria orgânica. Todos os fungos podem existir como heterotróficos ou saprófitas (organismos que se nutrem de materiais mortos ou em decomposição), simbiontes (organismos que vivem em conjunto com benefício mútuo), comensais (quando vivem em estreita relação em que apenas um organismo é beneficiado e o outro não é prejudicado) ou como parasitas (organismos que vivem à custa de outro e esta relação é prejudicial ao hospedeiro). Os fungos emergiram nas últimas décadas como a principal causa de doenças em humanos (Tabela 65‑1), especialmente entre indivíduos imunossuprimidos ou hospitalizados com doenças de base graves. Entre estes pacientes, os fungos atuam como patógenos oportunistas, causando infecções de altas morbidade e mortalidade. A incidência total de micoses invasivas continua aumentando com o tempo (Tabela 65‑2) e a lista de fungos patógenos oportunistas aumenta da mesma maneira a cada ano. Em resumo, não existem fungos não patogênicos. Este aumento das infecções fúngicas pode ser atribuído ao crescente aumento do número de pacientes imunossuprimidos, incluindo transplantados, portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), pacientes com câncer sob uso de quimioterapia e aqueles com doença de base grave submetidos a procedimentos invasivos. Tabela 651 Incidência e Relações Casofatalidade de Determinadas Infecções Fúngicas Invasivas Patógeno N°ˉ de Casos por Milhão por Ano Relação Caso‑fatalidade (%) por Primeiro Episódio Incidência Candida spp. 72,8 33,9 Cryptococcus spp. 65,5 12,7 Coccidioides immitis 15,3 11,1 Aspergillus spp. 12,4 23,3 Histoplasma capsulatum 7,1 21,4 Agentes de mucormicose 1,7 30,0 Agentes de hialo‑hifomicose 1,2 14,3 Agentes de feo‑hifomicose 1,0 0 Sporothrix schenckii < 1 20,0 Malassezia furfur < 1 0 Total 178,3 22,4 Modificada de Rees JR, et al: The epidemiological features of invasives mycotic infections in the San Francisco Bay Area, 19921993: results of populationbased laboratory active surveillance. Clin Infect Dis 27:11381147, 1998. Tabela 652 Incidências Cumulativas de Determinadas Micoses Invasivas Micose Incidência por Milhão por Ano CPHAa CDCb NHDSc NHDSd 1980‑82 1992‑93 1996 2003 Candidíase 2,6 72,8 228,2 290,0 Histoplasmose 13,9 7,1 13,6 ND Aspergilose 8,4 12,4 34,3 22,0 Criptococose 4,0 65,5 29,6 ND ND, Dados não disponíveis. aCPHA, Comission on Hospital and Professional Activities (Reingold et al., 1986). bCDC, Centers for Disease Control and Prevention (Rees et al., 1998). cNHDS, National Hospital Discharge Survey (Wilson et al., 2002). dNHDS, National Hospital Discharge Survey (Pfaller e Diekema, 2007). Taxonomia, estrutura e reprodução dos fungos Os fungos são classificados em seu próprio reino, o reino Fungi. Eles são organismos eucariotas que se distinguem dos demais por terem uma parede celular rígida composta de quitina, glicana e uma membrana plasmática em que o ergosterol (esterol) é o principal componente que substitui o colesterol (Fig. 65‑1). FIGURA 651 Diagrama de uma célula fúngica. A taxonomia clássica dos fungos se baseia fundamentalmente na morfologia e na formação dos esporos. No entanto, cada vez mais as características estruturais, bioquímicas e moleculares são consideradas na classificação, resultando em mudanças na denominação taxonômica original. Os fungos podem ser uni ou multicelulares. O agrupamento mais simples baseado em sua morfologia são leveduras e fungos filamentosos. A levedura pode ser definida morfologicamente como uma célula que se reproduz por brotamento ou fissão (Fig. 65‑2), em que a célula progenitora ou “célula‑mãe” se modifica e dá origem a uma descendência ou “célula‑filha”. As células‑filhas podem alongar‑se e formar estruturas com formato de salsicha chamadas pseudo‑hifas. As leveduras são geralmente unicelulares e produzem colônias redondas, pastosas ou mucoides em ágar. Os fungos filamentosos, por outro lado, são organismos multicelulares constituídos de estruturas tubulares, chamadas de hifas (Fig. 65‑2), que se alongam na extremidade em um processo conhecido como extensão apical. As hifas podem ser cenocíticas (asseptadas ou com poucos septos) ou septadas (divididas por paredes transversais) (Fig. 65‑2). As hifas se mantêm unidas para produzir uma estrutura semelhante a um tapete chamada de micélio. As colônias dos fungos filamentosos são frequentemente descritas como filamentosas, aveludadas ou algodonosas. Quando se desenvolvem em ágar ou outras superfícies sólidas, os fungos filamentosos produzem estruturas denominadas hifas vegetativas, que crescem sobre ou entre a superfície do meio de cultura, e também hifas que se projetam acima da superfície do meio, chamadas de hifas aéreas. As hifas aéreas podem produzir estruturas especializadas conhecidas como conídios (estrutura de reprodução assexuada) (Fig. 65‑3). Os conídios podem ser produzidos por um processo blástico (brotamento) ou processo tálico, em que fragmentos de hifas dão origem a células individuais ou artroconídios. Os conídios são facilmente dispersos pelo ar e servem para disseminar o fungo. O tamanho, a forma e os aspectos do desenvolvimento dos conídios são utilizados como meio de identificação para o gênero e espécie dos fungos. Muitos fungos de importância clínica são denominados dimórficos, porque podem existir tanto sob a forma de levedura como de fungo filamentoso. FIGURA 652 Morfologia das células fúngicas. A, Células de leveduras que se reproduzem por fissão nuclear e por formação de blastoconídios. O alongamento de células de leveduras em brotamento para formar pseudohifas é mostrado, assim como também a formação de um tubo germinativo. B, Tipos de hifas vistas em vários fungos filamentosos. FIGURA 653 Exemplos de formação de esporos assexuados e estruturas associadas vistas em um zigomiceto (A) e Aspergillus spp. (B). A maioria dos fungos apresenta respiração aeróbia, embora alguns sejam anaeróbios facultativos (fermentadores) e outros sejam estritamente anaeróbios. Seu metabolismo é heterotrófico e os mesmos são bioquimicamente versáteis na produção primária (p. ex., ácido cítrico, etanol e glicerol) e metabólitos secundários (p. ex., antibióticos [penicilina], amanitenos, aflatoxinas). Em relação às bactérias, os fungos são de crescimento lento, com tempo de duplicação celular de horas em vez de minutos. Um esquema taxonômico simplificado listando as cinco principais classes de fungos de importância clínica é mostrado na Tabela 65‑3. Entre centenas de milhares de diferentes fungos, apenas cerca de 200 são conhecidos como causas de doença em humanos, embora este número pareça estar aumentando. Tabela 653 Fungos de Importância Clínica (Reino Fungi) Designação Taxonômica Gêneros Representativos Doenças em Humanos Classe: Zigomicetos Ordem: Mucorales Rhizopus, Mucor, Absidia, Saksenaea Mucormicose: oportunista em pacientes com diabetes, leucemia, queimaduras graves ou desnutrição; infecções rinocerebrais Ordem: Entomophtorales Basidiobolus, Conidiobolus Mucormicose: infecções subcutâneas e gastrointestinais Classe: Basidiomicetos Teleomorfos de Cryptococcus, Malassezia, e espécies de TrichosporonCriptococose e numerosas micoses Classe: Arquiascomicetos Pneumocystis jirovecii Pneumonia por Pneumocystis Classe: Hemiascomicetos Teleomorfos de espécies de Candida; Saccharomyces Numerosas micoses Classe: Euascomicetos Ordem: Onygenales Arthroderma (teleomorfos de Trichophyton e Microsporum); Ajellomyces (teleomorfos de espécies de Blastomyces e Histoplasma) Dermatofitoses; micoses sistêmicas Ordem: Eurotiales Teleomorfos de espécies de Aspergillus Aspergilose Ordem: Hypocrealues Teleomorfos de espécies de Fusarium Ceratite e outras micoses invasivas Ordem: Microascales Pseudallescheria (teleomorfo de espécies de Scedosporium) Pneumonia, micetoma e micoses invasivas Modificada de Brandt ME, Warnock DW: Taxonomy and classification of fungi. In Versalovic J, et al (eds): Manual of clinical microbiology, ed 10,. Washington, DC, 2011, American Society for Microbiology Press. Os fungos reproduzem‑se pela formação de esporos, que podem ser sexuados (envolvendo meiose, precedida por fusão do protoplasma e fusão dos dois núcleos compatíveis) ou assexuados (envolvendo somente mitose). As classes Entomoftoromicotina, Mucormicotina, Pneumocistidiomicetos, Basidiomicetos, Sacaromicetos e Euascomicetos produzem diferentes tipos de esporos (sexuados e assexuados) (Tabela 65‑4). A forma teleomorfa está relacionada à formação de esporos sexuados, e forma anamorfa, à formação de esporos assexuados. O fato de um mesmo fungo possuir estado anamorfo e teleomorfo implica uma nomenclatura diferente para um mesmo agente (p. ex., Ajellomyces capsulatum [teleomorfo] e Histoplasma capsulatum [anamorfo]) e é uma fonte de confusão para não micologistas. Tabela 654 Características Biológicas, Morfológicas e Reprodutivas de Fungos Patogênicos Classe dos Organismos Gêneros Representativos Morfologia Reprodução Mucormicetos Rhizopus, Mucor, Absidia, Basidiobolus Largas hifas cenocíticas de parede delgada, de 6 – 25 μm, com lados não paralelos; esporos contidos no interior do esporângio; estruturas semelhantes a raízes chamadas de rizoides, características de alguns gêneros Assexuada: produção de esporangiosporos dentro do esporângio. Sexuada: produção de zigosporos formados por fusão de tipos compatíveis para acasalamento Basidiomicetos Leveduras basidiomicetosas anamórficas (Cryptococcus, Malassezia, Trichosporon) Leveduras em brotamento, hifas e artroconídios. Hifas que produzem basidiósporos (não vistos na natureza ou em pacientes). Hifas com conexões reforçadas. Assexuada: produção de conídios por brotamento a partir de uma célula‑ mãe ou dentro de um fragmento de hifa. Sexuada: fusão de núcleos compatíveis seguida de meiose para formar basidiósporos ou não identificada Pneumocistidiomicetos Pneumocystis jirovecii Formas tróficas e estruturas semelhantes a cistos Assexuada: fissão binária. Sexuada: fusão de tipos compatíveis para acasalamento para formar um zigoto; compartimentalização de esporos no interior do cisto. Sacaromicetos Candida e Saccharomyces Leveduras em brotamento e hifas, pseudo‑hifas Assexuada: produção de conídios através de brotamento a partir de uma célula‑mãe. Sexuada: não vista ou por conjugação entre duas células isoladas ou através de conjugação do tipo “mãe‑ brotamento” Euascomicetos Dermatófitos, Blastomyces, Histoplasma, Aspergillus, Fusarium, espécies de Scedosporium Leveduras em brotamento, hifas septadas, conídios assexuados desenvolvidos em estruturas especializadas Assexuada: produção de conídios por meio de brotamento de uma célula‑mãe. Sexuada: ascósporos produzidos em uma estrutura especializada chamada de asco, ou não vista Em alguns fungos, a fase assexuada, ou anamorfa, apresenta uma alta capacidade de rápida dispersão e adaptação a novos habitats em relação ao estágio sexual, ou teleomorfo, o qual desapareceu ou ainda não foi descoberto. Mesmo na ausência da fase teleomorfa, é possível atribuir aos Basidiomicetos, Pneumocistidiomicetos e Sacaromicetos seus anamorfos através da sequência do ácido desoxirribonucleico (DNA). No passado estes fungos assexuados foram classificados em um grupo artificial, os Fungi Imperfecti (divisão Deuteromicota). Independentemente da capacidade de um fungo produzir esporos sexuais, na prática clínica é comum referir‑se aos fungos pela designação de sua forma assexuada, ou seja, seu estado anamorfo (assexuado). Em amostras clínicas, o estado sexual (teleomórfico) ocorre apenas em situações especiais no laboratório. Os esporos assexuados consistem basicamente em dois tipos: esporangiósporos e conídios. Os esporangiósporos são esporos assexuados produzidos no interior de uma estrutura chamada esporângio (Fig. 65‑3) e são estruturas pertencentes aos Mucorales, tais como Rhizopus e Mucor spp. Conídios são esporos assexuados que se desenvolvem em estruturas especializadas, como visto em Aspergillus spp. (Fig. 65‑3), Penicillium spp. e os dermatófitos. Mucormicetos (anteriormente Zigomicetos) Os Mucormicetos (Zigomicetos) são constituídos de hifas largas, irregulares e com poucos septos. O subfilo Mucoromicotina foi proposto para abrigar os Mucorales e os Entomoftorales. Estes fungos produzem zigósporos sexuados após fusão de estruturas compatíveis. Os esporos assexuados dos Mucorales (Fig. 65‑3) estão contidos dentro de um esporângio (esporangiósporos). Os esporângios estão localizados na extremidade do esporangióforo em uma estrutura chamada columela (Fig. 65‑3). A presença de estruturas em forma de raiz, chamadas rizoides, é útil na identificação de espécies dentro do grupo Mucorales. Os Mucorales incluem os gêneros Lichtemia (Absidia, Mucor, Rhizopus e Rhizomucor). A outra ordem dos Mucorales incluem os Entomoftorales, que são menos comuns, e os Basidiobolus e Conidiobolus. Estes organismos causam mucormicose subcutânea tropical. Os esporos assexuados são produzidos individualmente em esporóforos curtos e são ejetados quando maduros. Basidiomicetos A maioria dos basidiomicetos tem um forma filamentosa separada, mas alguns são tipicamente leveduras. A reprodução sexuada leva à formação de basidiospóros haploides na face externa de uma célula geradora denominada basídio. Os patógenos humanos mais proeminentes da classe dos basidiomicetos são as leveduras com estágio anamorfo pertencente ao gênero Cryptococcus, Malassezia e Trichosporon. O gênero Cryptococcus contém mais de 30 espécies diferentes com teleomorfos (estágios sexuais), que foram atribuídos ao gêneros Filobasidium e Filobasidiella. Pneumocistidiomicetos Pneumocistidiomicetos é uma nova classe que foi recentemente descrita para incluir um organismo, Pneumocystis carinii, que era anteriormente considerado um protozoário. A reclassificação do Pneumocystis foi baseada em evidências moleculares de que ele estava mais intimamente relacionado ao ascomiceto Schizosaccharomyces pombe. Estudos moleculares posteriores resultaram na denominação de Pneumocystis jirovecii em cepas derivadas de humanos. O organismo existe em forma vegetativa que se reproduz assexuadamente por fissão binária. A fusão de tipos compatíveis para acasalamento resulta em um cisto esférico que na maturidade contém oito esporos. Sacaromicetos A classe dos Sacaromicetos contém as leveduras de Ascomicetos (ordem Saccharomycetales), que são caracterizadas por leveduras vegetativas que se reproduzem por brotamento ou fissão (Fig. 65‑2A). Muitos membros da ordem Saccharomycetales têm um estágio anamórfico pertencentes ao gênero Candida (Tabela 65‑ 3). Este gênero, que consiste em cerca de 200 espécies anamórficas, tem teleomorfos em mais de 10 diferentes gêneros, incluindo Clavispora, Debaromyces, Issatchenkia, Kluyveromyces e Pichia. Euascomicetos A classe Euascomicotinaapresenta reprodução assexuada que leva à formação de paredes finas, ou asco, as quais contêm os ascósporos haploides. Embora a maioria dos fungos filamentosos que são isolados no laboratório clínico pertença à classe dos Euascomicetos, é incomum encontrar estruturas reprodutivas sexuadas em culturas de rotina. Esta classe possui 12 ordens que incluem espécies patogênicas para os humanos. Entre as mais importantes estão a ordem Onygenales, que contempla os dermatófitos e alguns agentes patogênicos sistêmicos dimórficos (incluindo Histoplasma capsulatum e Blastomyces dermatitides); a ordem Eutoriales, que contém os teleomorfos dos gêneros anamórfico Aspergillus e Penicillium; a ordem Sordariales, que contém o teleomorfos do gênero anamórfico Fusarium e a ordem Microascales que contém os teleomorfos (Pseudallescheria) do gênero anamórfico Scedosporium (Tabela 65‑3). Além disso, os teleomorfos de vários fungos de importância clínica melanizados (dematiáceos) pertencem a ordens dessa classe. Classificação das micoses humanas Além da classificação taxonômica formal dos fungos, as infecções fúngicas podem ser classificadas de acordo com os tecidos infectados, assim como pelas características específicas dos grupos de organismos. Estas classificações incluem as micoses superficiais, cutâneas e subcutâneas, as micoses endêmicas e as micoses oportunistas (Tabela 65‑5). Tabela 655 Classificação Clínica das Micoses Humanas e Agentes Etiológicos Representativos Micoses Superficiais Micoses Cutâneas e Subcutâneas Micoses Endêmicas Micoses Oportunistas Pedra negra Piedraia horate Tinea nigra Hortae werneckii Pitiríase versicolor Malassezia furfur Pedra branca Trichosporon spp. Dermatofitoses Microsporum spp. Trichophyton spp. Epidermophyton floccosum Tinea unguium Trichophyton spp. E. floccosum Onicomicose Candida spp. Aspergillus spp. Trichosporon spp. Geotrichum spp. Ceratite micótica Fusarium spp. Aspergillus spp. Candida spp. Cromoblastomicose Fonsecaea spp. Phialophora spp. Blastomicose Blastomyces dermatitidis Histoplasmose Histoplasma capsulatum Coccidioidomicose Coccidioides immitis/posadasii Peniciliose Penicillium marneffei Paracoccidioidomicose Paracoccidioides brasiliensis Aspergilose Aspergillus fumigatus A.flavus A.niger A.terreus Candidíase Candida albicans C. glabrata C. parapsilosis C. tropicalis Criptococose Cryptococcus neoformans Tricosporonose Trichosporon spp. Hialo‑hifomicose Acremonium spp. Fusarium spp. Paecilomyces spp. Scedosporium spp. Mucormicose Rhizopus spp. Mucor spp. Absidia spp. Feo‑hifomicose Alternaria spp. Curvularia spp. Bipolaris spp. Wangiella spp. Pneumocistose Pneumocystis jirovecii Micoses Superficiais As micoses superficiais são aquelas infecções que estão limitadas às superfícies da pele e dos pelos. Elas não são destrutivas e são apenas de importância cosmética. A infecção clínica denominada de pitiríase versicolor é caracterizada pela descoloração ou despigmentação e descamação da pele. Tinea nigra se refere a manchas pigmentadas em castanho ou negro localizadas principalmente nas palmas das mãos. As entidades clínicas da pedra negra e da pedra branca envolvem os pelos e são caracterizadas por nódulos compostos por hifas que envolvem as hastes dos pelos. Os fungos associados a estas infecções superficiais incluem Malassezia spp., Hortae weneckii, Piedraia hortae e Trichosporon spp. Micoses Cutâneas As micoses cutâneas são infecções da camada queratinizada da pele, pelos e unhas. Estas infecções podem provocar uma resposta do hospedeiro e se tornar sintomáticas. Os sinais e sintomas incluem prurido, descamação, pelos tonsurados, lesões arredondadas na pele e unhas espessadas e opacas. Os dermatófitos são fungos classificados nos gêneros Trichophyton, Epidermophyton e Microsporum. As infecções da pele que envolvem estes organismos são chamadas de dermatofitoses. Tinea unguium se refere a infecções nas unhas que envolvem estes agentes. As onicomicoses incluem infecções das unhas causadas pelos dermatófitos, assim como também fungos não dermatófitos, tais como Candida spp. e Aspergillus spp. Micoses Subcutâneas As micoses subcutâneas envolvem as camadas mais profundas da pele, incluindo a córnea, os músculos e o tecido conjuntivo, e são causadas por um largo espectro de fungos taxonomicamente diversos. Os fungos ganham acesso aos tecidos mais profundos normalmente por inoculação traumática e permanecem localizados, causando a formação de abscessos e úlceras que não cicatrizam. O sistema imunológico do hospedeiro reconhece os fungos, resultando em destruição tecidual variável e frequentemente em uma hiperplasia epiteliomatosa. As infecções podem ser causadas por fungos filamentosos hialinos, tais como Acremonium spp. e Fusarium spp., e por fungos pigmentados ou dematiáceos, tais como Alternaria spp., Cladosporium spp., e Exophiala spp. (feo‑hifomicoses, cromoblastomicoses). As micoses subcutâneas tendem a permanecer localizadas e raramente se disseminam sistemicamente. Micoses Endêmicas As micoses endêmicas são infecções fúngicas causadas por patógenos fúngicos dimórficos clássicos: Histoplasma capsulatum, Blastomyces dermatitidis, Coccidioides immitis, Coccidioides posadasii e Paracoccidioides brasiliensis. Estes fungos exibem dimorfismo térmico (existem como leveduras ou esférulas a 37 °C, e como fungos filamentosos a 25 °C) e geralmente estão confinados a regiões geográficas onde eles ocupam nichos ambientais ou ecológicos específicos. As micoses endêmicas são frequentemente referidas como micoses sistêmicas, porque estes organismos são verdadeiros patógenos e podem causar infecções em indivíduos saudáveis. Recentemente, o fungo dimórfico Penicillium marneffei foi adicionado à lista de agentes causadores de micoses endêmicas. Todos estes agentes produzem uma infecção primária no pulmão, com subsequente disseminação para outros órgãos e tecidos. Micoses Oportunistas As micoses oportunistas são infecções atribuídas aos fungos que são normalmente encontrados como comensais humanos ou no ambiente. Com exceção de Cryptococcus neoformans, estes organismos exibem uma virulência inerentemente baixa ou limitada, e causam infecções em indivíduos que estão debilitados, imunossuprimidos, ou são portadores de aparelhos protéticos implantados ou cateteres vasculares. Praticamente, qualquer fungo pode atuar como um patógeno oportunista, e a lista destes se torna maior a cada ano. Os patógenos fúngicos oportunistas mais comuns são as leveduras Candida spp. e Cryptococcus neoformans, o fungo filamentoso Aspergillus spp. e Pneumocystis jirovecii. Devido à sua inerente virulência, Cryptococcus neoformans é frequentemente considerado um patógeno “sistêmico”. Embora este fungo possa causar infecção em indivíduos imunologicamente normais, ele é claramente visto com mais frequência como um patógeno oportunista na população imunocomprometida. Sumário Com o número cada vez maior de indivíduos em risco de infecções fúngicas, é imperativo que médicos “pensem em fungos” quando analisam uma infecção suspeita. A lista de patógenos fúngicos documentados é extensa, e não se pode mais ignorar ou desconsiderar os fungos como “contaminantes” ou clinicamente insignificantes quando isolados a partir de material clínico. É também considerado que o prognóstico e a resposta à terapia variem com o tipo de fungo que causa a infecção, assim como com o status imunológico do indivíduo. Deste modo, os médicos devem se tornar familiarizados com os vários fungos, seus aspectos epidemiológicos e patogênicos, e também com as abordagens ideais dediagnóstico e terapia. Estas questões serão discutidas em detalhe nos capítulos subsequentes de acordo com o esquema de classificação mostrado na Tabela 65‑5. Questões 1. Como os fungos diferem das bactérias (tamanho, núcleo, citosol, membrana plasmática, parede celular, fisiologia, tempo de geração)? 2. Como a membrana plasmática dos fungos difere da de outras células eucarióticas (p. ex., células de mamíferos)? 3. Qual é a diferença entre uma levedura e um fungo filamentoso? 4. O que os termos anamorfo e teleomorfo significam e por que eles são importantes? Bibliografia Brandt, M. E., Warnock, D. W. Taxonomy and classification of fungi. In Versalovic J., et al, eds.: Manual of clinical microbiology, ed 10, Washington, DC: American Society for Microbiology Press, 2011. Pfaller, M. A., Diekema, D. J. The epidemiology of invasive candidiasis: a persistent public health problem. Clin Microbiol Rev. 2007; 20:133–163. Rees, J. R., et al. The epidemiological features of invasive mycotic infections in the San Francisco Bay Area, 1992‑1993: results of population‑based laboratory active surveillance. Clin Infect Dis. 1998; 27:1138–1147. Reingold, A. L., et al. Systemic mycoses in the United States, 1980‑1982. J Med Vet Mycol. 1986; 24:433–436. Wilson, L. S., et al. The direct cost and incidence of systemic fungal infections. Value Health. 2002; 5:26–34. 6 6 Patogênese das Doenças Fúngicas Embora as bases moleculares e genéticas da patogênese bacteriana e viral sejam bem conhecidas, nosso entendimento sobre a patogênese das infecções fúngicas é limitado. Relativamente poucos fungos são suficientemente virulentos para serem considerados patógenos primários (Tabela 66‑1). Patógenos primários são aqueles capazes de iniciar uma infecção em um hospedeiro normal, aparentemente imunocompetente. Eles são capazes de colonizar o hospedeiro, encontrar um nicho microambiental adequado com substratos nutricionais suficientes, evitar ou subverter os mecanismos de defesa do hospedeiro, e então se multiplicar dentro do nicho microambiental. Entre os patógenos fúngicos primários conhecidos estão quatro fungos ascomicetos, os patógenos dimórficos endêmicos Blastomyces dermatitidis, Coccidioides immitis (e C. posadasii), Histoplasma capsulatum e Paracoccidioides brasiliensis. Cada um desses microrganismos possui supostos fatores de virulência que lhes permitem romper ativamente as defesas do hospedeiro que normalmente restringem o crescimento invasivo de outros microrganismos (Tabela 66‑1). Quando um grande número de conídios de algum desses quatro fungos é inalado por humanos, mesmo se esses indivíduos forem saudáveis e imunocompetentes, geralmente ocorrem infecção e colonização, invasão tecidual e disseminação sistêmica do patógeno. Como ocorre com a maioria dos patógenos microbianos primários, esses fungos podem também agir como patógenos oportunistas, uma vez que as formas mais graves de cada uma dessas micoses são vistas mais frequentemente em indivíduos com comprometimento das defesas imunes inata ou adquirida. Tabela 661 Características de Patógenos Fúngicos Primários e Oportunistas Habitat/Infecção Patogênese Fatores de Virulência Presumidos Formas Clínicas da Micose Patógenos Primários Blastomyces dermatitidis Fase saprofítica • Micélio septado e conídios Fase parasitária • Leveduras com brotamento de base larga Habitat saprofítico • Solo e restos orgânicos • Área endêmica sudoeste dos Estados Unidos e Vale dos Rios Ohio‑ Mississipi Modo de infecção • Inalação de conídios Conídios inalados se convertem em levedura; invasão localizada do hospedeiro pela levedura provoca reação inflamatória; a levedura escapa ao reconhecimento pelos macrófagos e se dissemina através da corrente sanguínea. • Crescimento a 37 °C • Dimorfismo térmico • Modulação das interações entre a levedura e o sistema imune do hospedeiro • Geração de resposta TH2Desprendimento de WI‑1 • Blastomicose pulmonar primária • Blastomicose pulmonar crônica • Blastomicose disseminada • Cutânea • Osso, trato geniturinário e cérebro Coccidioides immitis (posadasii) Fase saprofítica • Hifas septadas e artroconídios Fase parasitária • Esférulas com endósporos Habitat saprofítico • Solo do deserto: sudoeste dos EUA, México e regiões das Américas Central e do Sul Modo de infecção • Inalação de artroconídios • Inoculação percutânea (rara) Artroconídios inalados alcançam os alvéolos; convertem‑se em esférulas, que geram endósporos; os endósporos são fagocitados, mas sobrevivem; grandes (60 – 100) esférulas escapam à fagocitose; ambiente alcalino permite a sobrevivência dentro do fagossomo. • Crescimento a 37 °C • Dimorfismo térmico • Resistência dos conídios à destruição fagocítica • Estímulo de uma resposta TH2 ineficiente • Produção de urease • Produção de proteinases extracelulares • Mimetismo molecular • Infecção pulmonar inicial • Coccidioidomicose pulmonar crônica • Coccidioidomicose disseminada • Meningite • Osso e articulações • Trato geniturinário • Cutânea • Oftálmica Histoplasma capsulatum Fase saprofítica • Hifas septadas, microconídios e macroconídios tuberculados Fase parasitária • Pequenas leveduras intracelulares com brotamentos Habitat saprofítico • Solo enriquecido com fezes de aves/morcegos • Metade oriental dos Estados Unidos, a maior parte da América Latina, partes da Ásia, Europa, Oriente Médio; a variedade duboisii ocorre na África Modo de infecção • Inalação de conídios Conídios inalados se convertem em leveduras; leveduras são ingeridas por macrófagos; sobrevivem e proliferam dentro do fagossomo; algumas formas de levedura permanecem hibernantes dentro dos macrófagos, outras proliferam e destroem os macrófagos, liberando células‑filhas. • Crescimento a 37 °C • Dimorfismo térmico • Sobrevivência nos macrófagos • Modulação do pH do fagossomo • Captação de ferro e cálcio • Alteração da composição da parede celular • Pulmonar clinicamente assintomática e “disseminada críptica” • Histoplasmose pulmonar aguda • Mediastinite e pericardite • Histoplasmose pulmonar crônica • Mucocutânea • Disseminada Paracoccidioides brasiliensis Fase saprofítica • Hifas septadas, conídios Fase parasitária • Leveduras com múltiplos brotamentos Habitat saprofítico • Solo e vegetação • Américas Central e do Sul Modo de infecção • Inalação de conídios Conídios inalados se convertem em grandes leveduras com brotamentos multipolares; ingeridos, mas não eliminados pelos macrófagos; podem permanecer hibernantes por até 40 anos; disseminação para a mucosa oral e nasofaríngea. • Crescimento a 37 °C • Dimorfismo térmico • Sobrevivência intracelular • Influências hormonais • Alterações da parede celular • Resposta TH2 ineficiente contra gp43 • Diversas manifestações clínicas • Envolvimento crônico de um único órgão • Envolvimento crônico multifocal (pulmões, boca, nariz) • Doença juvenil progressiva: linfonodos, envolvimento cutâneo e visceral Patógenos Oportunistas Espécies de Candida Fases Habitat saprofítico • Mucosa gastrointestinal, mucosa vaginal, Supercrescimento em mucosas com subquente invasão; geralmente barreira de mucosa debilitada, • Crescimento a 37oC • Transição brotamento‑hifa • Aderência • Colonização simples de mucosas • Candidíase saprofíticas e parasitárias semelhantes: leveduras com brotamentos, hifas, pseudo‑ hifas pele, unhas Modo de infecção • Translocação gastrointestinal • Cateteres intravasculares disseminação hematogênica. Transferência das mãos de profissionais da saúde para o cateter; colonização do cateter e disseminação hematogênica. • Hidrofobicidade da superfície celular • Mananas na parede celular • Proteases e fosfolipases • Mudanças fenotípicas mucocutânea • Comprometimento oral/vaginal • Disseminação hematogênica • Candidose hepatoesplênica • Endoftalmite Cryptococcus neoformans Fases saprófitas e parasitárias semelhantes: leveduras encapsuladas com brotamento Habitatsaprofítico • Solo enriquecido com fezes de aves (pombos) Modo de infecção • Inalação de leveduras • Inoculação percutânea Células leveduriformes inaladas são ingeridas por macrófagos; sobrevivência intracelular; cápsula inibe a fagocitose; cápsula e melanina protegem da lesão oxidativa, disseminação hematogênica e linfática para o cérebro. • Crescimento a 37oC • Cápsula polissacarídica • Melanina • MATalfa • Pneumonia criptocócica primária • Meningite • Disseminação hematogênica • Criptococose geniturinária (prostática) • Criptococose primária cutânea Espécies de Aspergillus Fase saprofítica • Micélio septado, conídios e cabeças conidiais Fase parasitária • Micélio septado, conídios e cabeças conidiais geralmente só vistos em lesões cavitárias Habitat saprofítico • Solo, plantas, água, pimenta, ar Modo de infecção • Inalação de conídios • Transferência para feridas através de curativos/ataduras contaminadas Conídios inalados se ligam ao fibrinogênio e à laminina no alvéolo; conídios germinam e hifas secretam proteases e invadem o epitélio; invasão vascular resulta em trombose e infarto tecidual; disseminação hematogênica. • Crescimento a 37oC • Ligação a fibrinogênio e laminina • Secreção de elastase e proteases • Catalase • Gliotoxina (?) • Aspergilose broncopulmonar alérgica • Sinusite • Aspergiloma • Aspergilose invasiva • Pulmão • Cérebro • Pele • Gastrointestinal • Coração De Cole GT: Fungal pathogenesis. In Anaissie EJ, McGinnis MR, Pfaller MA, editors: Clinical mycology. New York, 2003, Churchill Livingstone. Em geral, indivíduos saudáveis e imunocompetentes apresentam alta resistência inata à infecção fúngica, apesar de serem constantemente expostos às formas infecciosas de diversos fungos presentes como parte da microbiota normal (endógenos) ou no ambiente (exógenos). Os patógenos fúngicos oportunistas, como Candida spp., Cryptococcus neoformans e Aspergillus spp., somente causam infecção quando ocorrem quebras nas barreiras protetoras da pele e membranas mucosas ou quando falhas no sistema imune do hospedeiro permitem a penetração, colonização e reprodução no hospedeiro (Tabela 66‑1). Entretanto, mesmo nas infecções oportunistas, há fatores associados ao organismo, e não ao hospedeiro, que contribuem para a capacidade do fungo de causar doença (Tabela 66‑1). Patógenos fúngicos primários Todos os patógenos fúngicos primários são agentes de infecções respiratórias e nenhum deles é parasita obrigatório. Cada um tem uma fase saprofítica caracterizada por hifas septadas fragmentadas, normalmente encontradas no solo ou em vegetais em decomposição e que se disseminam pelo ar. Da mesma maneira, a fase parasitária de cada fungo está adaptada ao crescimento a 37 °C e à reprodução assexuada no nicho ambiental alternativo da mucosa respiratória do hospedeiro (Cap. 72, Fig. 72‑1). Essa habilidade de existir em formas morfogenéticas alternadas (dimorfismo) é uma das várias características especiais (fatores de virulência) que permitem esses fungos competirem com as condições ambientais hostis do hospedeiro (Tabela 66‑1). Blastomyces dermatitidis Como os demais patógenos fúngicos dimórficos endêmicos, B. dermatitidis frequentemente causa uma infecção respiratória autolimitada (Cap. 72). Entretanto, a blastomicose se diferencia de outras micoses endêmicas pela alta incidência de doença clínica em comparação com as formas moderadas ou assintomáticas entre os https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#c0360 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#f0010 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#c0360 indivíduos infectados em epidemias. O potencial patogênico de B. dermatitidis é ressaltado pela gravidade clínica da maioria dos casos esporádicos de blastomicose. Os fatores importantes para a sobrevida in vivo de B. dermatitidis, como quaisquer patógenos dimórficos endêmicos, são a capacidade de o patógeno inalado alcançar os alvéolos, sofrer transformação para uma outra fase (levedura ou esférula) capaz de se replicar a 37 °C, e colonizar a mucosa respiratória. Após a inalação de conídios ou fragmentos de hifas de B. dermatitidis, os elementos da fase saprofítica do fungo supostamente entram em contato e aderem à camada epitelial dos alvéolos, sofrendo transformação para a fase parasitária de levedura, em um processo chamado de dimorfismo térmico. Essa conversão de conídio (2 a 10 μm de diâmetro) para as formas maiores de levedura (8 a 30 μm de diâmetro) fornece uma importante vantagem à sobrevida ao fungo. Enquanto os conídios são pequenos o suficiente para serem rapidamente ingeridos e destruídos pelos neutrófilos humanos, as leveduras são capazes de resistir ao ataque fagocítico dos neutrófilos e das células mononucleares durante os estágios iniciais da resposta inflamatória. Em vez de se adaptarem ao microambiente intracelular dos fagolisossomas, como H. capsulatum, as leveduras de B. dermatitidis desprendem seu antígeno imunodominante da superfície da célula e, subsequentemente, modificam a composição de sua parede celular, permitindo que escapem ao reconhecimento pelos macrófagos. Assim, eles são capazes de colonizar tecidos e se disseminar pela corrente sanguínea. Modulação das Interações entre as Leveduras e o Sistema Imune do Hospedeiro O principal componente imunorreativo presente na superfície das células leveduriformes, mas não nos conídios de B. dermatitidis, é uma glicoproteína da parede celular de 120 kDa, WI‑1. Essa glicoproteína parece ter participação fundamental na patogênese de B. dermatitidis, promovendo adesão da célula leveduriforme ao macrófago e induzindo uma potente resposta dos sistemas imune humoral e celular. WI‑1 é expressa por todos os isolados virulentos de B. dermatitidis já examinados. Aparentemente, cepas mutantes não virulentas de B. dermatitidis que expressam altos níveis de WI‑1 em sua superfície celular são reconhecidas por macrófagos, fagocitadas, e rapidamente eliminadas do hospedeiro. Em contraste, cepas virulentas desse fungo desprendem grandes quantidades de WI‑1 durante o crescimento, sendo capazes de evitar o reconhecimento pelos macrófagos por este processo. A apresentação de WI‑1, quer se mantenha associada à superfície celular, quer seja desprendida da célula para o ambiente, é um aspecto fundamental da patogenicidade deste fungo. A composição de carboidratos da parede celular da levedura também parece desempenhar uma função na apresentação e desprendimento de WI‑1 e, portanto, na patogenicidade. Um dos principais componentes da parede celular da levedura é a 1,3‑α‑glucana. Há uma relação inversa entre a quantidade de 1,3‑α‑glucana presente na parede celular de B. dermatitidis e a quantidade de WI‑1 detectável na superfície celular. Cepas virulentas de B. dermatitidis produzem leveduras que possuem paredes celulares espessadas contendo grande quantidade de 1,3‑α‑glucana e, quando maduras, apresentam pouca WI‑1 detectável na sua superfície celular. De maneira oposta, cepas não virulentas exibem paredes finas com ausência de 1,3‑α‑glucana, mas com WI‑1 abundante em sua superfície. Especula‑se que a incorporação de 1,3‑α‑glucana na parede celular mascare a glicoproteína de superfície WI‑1, desempenhando um papel na liberação de um antígeno modificado (componente de 85 kDa) no microambiente do sítio de infecção. Por mascarar o antígeno WI‑1, a levedura é capaz de escapar ao reconhecimento por macrófagos e disseminar‑se por via hematogênica. O desprendimento do componente de 85 kDa de WI‑1 pode facilitar a evasão imune por ligação ou consumo de anticorpos opsonizados e complemento longeda superfície celular da levedura. Da mesma maneira, a liberação do componente WI‑1 pode também saturar receptores de macrófago e diminuir a eficiência da ligação e fagocitose das leveduras. Apresentação de Antígenos de Superfície Modula a Via das Células T Auxiliares da Resposta Imune Há diferentes subpopulações de células T auxiliares CD4 (TH, do inglês, CD4 T helper) que secretam diversos padrões de citocinas em resposta a um estímulo antigênico. Após o encontro inicial com um antígeno, células TH podem se tornar polarizadas, secretando predominantemente interleucina‑2 (IL‑2) e interferon‑γ (IFN‑γ) (padrão TH1) ou predominantemente IL‑4, IL‑5 e IL‑10 (padrão TH2). IFN‑γ e IL‑2 ativam respectivamente macrófagos e células citotóxicas T e NK (natural killer), para a eliminação de organismos intracelulares, enquanto as citocinas TH2 favorecem o crescimento e diferenciação de células B, a mudança de isótipos para imunoglobulina E (IgE) e a diferenciação e ativação de eosinófilos, respostas que pedem produção e proteção contra alguns patógenos, mas que também foram relacionadas a alergia e reações de hipersensibilidade. A resposta imune mediada por células T contra B. dermatitidis é essencial para imunoproteção contra esse patógeno. Camundongos imunizados com WI‑1 desenvolveram uma forte resposta TH2 contra os antígenos. É notável que, em um modelo de infecção de blastomicose em camundongos, os animais infectados que desenvolveram características de uma resposta TH2 morreram com uma infecção crônica e progressiva, enquanto os animais infectados que desenvolveram uma resposta TH1 restringiram a disseminação do patógeno e foram capazes de responder à terapia antifúngica e se recuperar da doença. Portanto, uma forte resposta TH2 pode não ser útil na eliminação da infecção por B. dermatitidis, podendo até mesmo retardá‑la. Por liberar grandes quantidades do fragmento de 85 kDa de WI‑1, as células leveduriformes de B. dermatitidis podem enganar as duas vias da resposta imune por evasão da resposta celular e pelo estímulo de uma resposta humoral dominante, porém ineficaz. Coccidioides immitis C. immitis e C. posadasii são patógenos primários capazes de causar uma ampla variedade de lesões (Cap. 72). Esses fungos são endêmicos no deserto do sudoeste dos Estados Unidos e, embora demonstrem diferentes morfologias em suas fases saprofíticas e parasitárias, distinguem‑se dos demais fungos dimórficos endêmicos por características únicas da fase parasitária (Cap. 72, Fig. 72‑1). Entre os fatores de virulência presumidos que podem contribuir para a patogenicidade desse organismo, encontram‑se a resistência dos conídios infecciosos à destruição fagocítica, a capacidade de estimular uma resposta TH2 ineficiente (similar a B. dermatitidis), a produção de urease e proteinases extracelulares e a capacidade de mimetismo molecular (Tabela 66‑1). Resistência dos Conídios à Destruição Fagocítica A fase saprofítica de C. immitis (e C. posadasii) consiste em hifas septadas que, quando maduras, produzem artroconídios em forma de barril, separados uns dos outros por células disjuntoras vazias (Cap. 65, Fig. 65‑2B; Cap. 72, Figs. 72‑1D e 72‑7). Os artroconídios são muito hidrofóbicos e facilmente aerossolizados. Esses conídios são pequenos (3 a 5 μm × 2 a 4 μm) e, quando inalados, podem ser transportados profundamente para o interior no trato respiratório, frequentemente até o nível alveolar. A parede externa do conídio é composta primariamente por proteína (50%), incluindo pequenos polipeptídeos ricos em cisteína conhecidos como hidrofobinas, devido ao seu distinto perfil hidropático. O restante da composição da parede inclui lipídios (25%), carboidratos (12%) e um pigmento não identificado. Acredita‑se que essa camada externa hidrofóbica tenha propriedades antifagocíticas, uma vez que sua remoção resultou no aumento da fagocitose de artroconídios de C. immitis por neutrófilos polimorfonucleares (PMN, do inglês, polymorphonuclear neutrophils) humanos em comparação à fagocitose de artroconídios intactos. É importante notar que tanto os conídios intactos quanto aqueles com a parede celular externa removida não foram eficientemente destruídos após a ingestão por PMN. Aparentemente, os artroconídios infecciosos de C. immitis apresentam barreiras ativas e passivas contra o ataque pelas defesas inatas do hospedeiro nos pulmões. Estímulo de uma Resposta Imune TH2 Ineficiente por C. immitis Sabe‑se que todos os indivíduos com infecções por Coccidioides spp. produzem anticorpos contra uma glicoproteína predominante (SOWgp) de uma camada externa da parede das células parasitárias (esférulas). Ambas as vias da resposta imune por células T auxiliares, TH1 e TH2, são estimuladas por SOWgp. Sabe‑se que a ativação da via TH1 está associada à resolução espontânea da infecção por Coccidioides spp. em camundongos. Além disso, foi demonstrado que camundongos suscetíveis à infecção por C. immitis demonstraram uma resposta TH2 à infecção, enquanto linhagens resistentes apresentaram uma maior resposta TH1. Assim, semelhantemente ao que foi descrito para B. dermatitidis, as respostas TH2 contra SOWgp podem não contribuir para a eliminação de C. immitis, podendo até mesmo ser desvantajosas no controle da infecção. As formas mais graves de coccidioidomicose são acompanhadas por depressão da imunidade celular e altos níveis plasmáticos de anticorpos fixadores de complemento específicos para C. immitis, compatível com uma resposta predominantemente TH2. Embora não se saiba muito a respeito do perfil de citocinas humanas durante infecções por Coccidioides spp., é razoável especular que antígenos imunodominantes de C. immitis que provocam um forte aumento de IL‑10 e IL‑4 possam direcionar a resposta imune para uma via TH2. Essa imunomodulação pode contribuir para o aumento da gravidade da infecção fúngica. https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#c0360 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#c0360 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#f0010 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000656.xhtml#c0325 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000656.xhtml#f0015 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#c0360 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#f0010 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#f0040 Produção de Urease O nicho ambiental para a forma saprofítica de C. immitis é o solo alcalino do deserto. Tanto a fase saprofítica quanto a parasitária deste organismo demonstraram íons amônia e amônio quando cultivadas in vitro, resultando na alcalinização do meio de cultura. Os endosporos de C. immitis liberam muito mais íons amônio/amônia do que as esférulas quando cultivadas em condições ácidas (pH 5,0). Endosporos recém‑ liberados demonstraram ser cercados por um halo alcalino produzido pelos íons amônio/amônia. Os endosporos de C. immitis são rapidamente fagocitados por macrófagos alveolares, mas, uma vez ingeridos, são capazes de sobreviver intracelularmente. Foi demonstrado que endosporos intracelulares viáveis são cercados por um halo alcalino em sua superfície celular, sugerindo que a produção de íons amônio/amônia pode contribuir para a sobrevivência do patógeno dentro do fagossomo do macrófago ativado. A capacidade de C. immitis de gerar um microambiente alcalino e responder à acidificação aumentando a quantidadede íons amônio/amônia por suas células parasitárias é uma característica que pode contribuir para a patogênese desse fungo. Embora os detalhes da geração de amônia e o modo como a alcalinidade da superfície celular afetam a função fagocítica não sejam bem compreendidos, foi proposto que a principal fonte de amônia produzida por C. immitis advenha da atividade da urease. Esta é uma metaloenzima que se localiza na fração citoplasmática de células microbianas e catalisa a hidrólise de ureia, formando amônia e carbamato. Na sequência, o carbamato é hidrolisado, formando outra molécula de amônia. A maior quantidade de urease detectada em C. immitis se encontra em esférulas na fase de formação de endósporos, o que se correlaciona com o estágio de desenvolvimento no qual as maiores quantidades de íons amônia/amônio são detectadas. Consideradas em conjunto, essas informações sugerem que a atividade da urease contribui para a patogenicidade de C. immitis. Proteinases Extracelulares Os patógenos fúngicos produzem uma série de proteinases ácidas, neutras e alcalinas que são ativas ao longo de uma extensa faixa de pH, exibindo ampla especificidade de substratos. Sugeriu‑se que certas enzimas extracelulares secretadas por fungos desempenhem funções fundamentais no crescimento invasivo, o que pode levar à morte do hospedeiro infectado. As proteinases secretadas podem permitir a penetração de barreiras cutâneas e mucosas, a neutralização parcial de defesas ativas do hospedeiro, a transmigração de camadas endoteliais e a subsequente disseminação hematogênica, levando ao estabelecimento da infecção em vários sítios anatômicos. C. immitis, como um patógeno fúngico primário, é capaz de romper a barreira da mucosa respiratória, penetrar na corrente sanguínea e/ou no sistema linfático e se disseminar para outros órgãos. Ambas as formas do fungo, saprofítica (conídio) e parasitária, expressam diversas proteinases durante o crescimento celular. O conídio produz uma proteinase extracelular de 36 kDa capaz de quebrar o colágeno, a elastina e a hemoglobina humanos, bem como IgG e IgA. A clivagem de imunoglobulinas secretórias por patógenos fúngicos oportunistas foi correlacionada à capacidade de estes organismos colonizarem a mucosa do hospedeiro. Acredita‑se que uma proteinase alcalina de 66 kDa capaz de digerir proteínas estruturais encontradas no tecido pulmonar seja secretada durante todo o curso da doença causada por C. immitis. Todos os pacientes com coccidioidomicose produzem anticorpos dirigidos contra essa enzima, e acredita‑se que essa proteinase alcalina desempenhe uma importante função na colonização e invasão de tecidos do hospedeiro por esférulas e endósporos de C. immitis. Mimetismo Molecular A produção de moléculas por um microrganismo patogênico que são estrutural antigênica e funcionalmente semelhantes a moléculas do hospedeiro é denominada mimetismo molecular. Em alguns casos, a infecção pode resultar na geração de anticorpos que apresentam reação cruzada com tecidos do hospedeiro e produzem uma patologia do tipo autoimune. Foi demonstrado que fungos produzem moléculas semelhantes funcionalmente, mas nem sempre estruturalmente, a moléculas do hospedeiro (“mimetismo funcional”). Foram identificadas moléculas fúngicas que funcionam de maneira similar às integrinas, aos receptores de complemento e aos hormônios sexuais. Uma proteína que se liga ao estrogênio foi isolada de frações citosólicas de C. immitis. Sabe‑se que as concentrações fisiológicas de progesterona e 17‑β‑estradiol estimulam a taxa de crescimento de C. immitis e a liberação de endósporos. Estas informações coincidem com o reconhecimento de que a gravidez, especialmente durante o terceiro trimestre, apresenta um grande fator de risco para coccidioidomicose disseminada. Histoplasma capsulatum Sabe‑se que a maioria das pessoas infectadas por H. capsulatum se recupera sem complicações e sem terapia antifúngica específica (Cap. 72). Entretanto, a reativação da histoplasmose pulmonar e extrapulmonar em pacientes imunocomprometidos que originalmente apresentaram disseminação progressiva do fungo está documentada ao longo da literatura. Inalação de conídios a partir do ambiente, juntamente com a falha em eliminar o fungo por mecanismos mucociliares, gera a oportunidade de que os conídios inalados se transformem em leveduras que são ingeridas por fagócitos mononucleares. H. capsulatum é encontrado quase exclusivamente dentro das células do hospedeiro, onde pode se replicar ou permanecer inativo. Histoplasma capsulatum Reside nos Macrófagos do Hospedeiro A conversão de conídios inalados de H. capsulatum em células leveduriformes é fundamental para a sobrevivência do patógeno dentro do hospedeiro e ocorre horas após a infecção. Embora teoricamente um único conídio possa ser suficiente para estabelecer uma infecção, geralmente se considera que um inóculo muito grande de conídios seja necessário para estabelecer doença disseminada em uma pessoa saudável e imunocompetente. Os fagócitos mobilizados para o sítio de infecção são efetivos na destruição dos conídios ingeridos, o que não ocorre tão bem em relação às leveduras. Sabe‑se que o organismo produz substâncias quimiotáxicas para os macrófagos alveolares, o que facilita a internalização pelos fagócitos do hospedeiro; entretanto, os detalhes da forma pela qual o patógeno resiste aos esforços destrutivos dos macrófagos ainda não estão claros. Sugeriu‑se que certos esfingolipídios contendo fosfoinositol na parede celular possam interferir na resposta oxidativa do macrófago contra o patógeno fúngico. O fato de os macrófagos serem as principais células do hospedeiro nas quais H. capsulatum reside durante a fase de levedura leva a acreditar que seja uma importante estratégia de sobrevivência e disseminação do patógeno. Existem diversos fatores, considerados importantes para a capacidade de o fungo persistir dentro do fagolisossoma do macrófago, que contribuem significativamente para a patogenicidade do organismo: modulação de pH, captação de ferro e cálcio e alteração da parede celular da levedura. Modulação do pH do Fagolisossoma As células leveduriformes de H. capsulatum são rapidamente ingeridas por macrófagos alveolares. Após a ingestão, o pH do fagolisossoma contendo uma ou mais células de levedura se eleva (6,0 a 6,5) acima do valor ideal para muitas das enzimas do lisossomo. Esta modulação de pH não só interfere na atividade enzimática, mas também influencia no processamento de antígenos dentro da célula e contribui para a sobrevivência do patógeno in vivo. Embora seja tentador relacionar a urease de H. capsulatum a este processo, ela não é considerada um fator primordial, uma vez que o pH só se eleva em fagossomos que contêm a célula de levedura. Se a urease fúngica estivesse envolvida, seria esperado que íons amônia/amônio produzidos se difundissem para fora do fagossoma e elevassem também o pH no restante da célula do hospedeiro. Captação de Ferro e Cálcio O ferro é um importante cofator de diversas metaloenzimas diferentes e proteínas contendo o grupo heme. Os microrganismos captam ferro do ambiente produzindo sideróforos, que provocam a quelação do ferro férrico e formam complexos solúveis de ferro. H. capsulatum capta ferro através de um sideróforo hidroxâmico, embora o papel deste sideróforo na sobrevivência do fungo dentro do macrófago seja desconhecido. A capacidade do fungo de modular o pH no interior do fagolisossoma entre 6,0 e 6,5 é fundamental na captação de ferro pelas leveduras. Um pH superior a 6,5 torna o ferro inacessível ao H. capsulatum. Da mesma maneiraque ocorre com o ferro, as leveduras dentro do fagolisossoma devem apresentar um eficiente mecanismo para a ligação e o transporte de Ca2+. As células leveduriformes, mas não as filamentosas, liberam grandes quantidades de uma proteína ligadora de cálcio, CBP1 (do inglês, calcium‑binding protein), para o microambiente que as rodeia. Foi sugerido que a CBP1 seja importante na aquisição de cálcio durante o parasitismo intracelular. A expressão de CBP1 específica da fase de levedura pode fornecer ao H. capsulatum outro importante mecanismo adaptativo para sua sobrevivência dentro do fagolisossoma do macrófago. Alteração da Composição da Parede Celular da Levedura https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#c0360 De modo semelhante ao B. dermatitidis, a maior parte das cepas de H. capsulatum apresenta a 1,3‑α‑glucana em sua parede celular. Demonstrou‑se que mutantes espontâneos de H. capsulatum que perderam o componente 1,3‑α‑glucana infectam e persistem no interior dos macrófagos aparentemente sem lesar a célula do hospedeiro. Em contraste, cepas selvagens de leveduras com 1,3‑α‑glucana podem infectar e sobreviver dentro dos macrófagos, mas também podem proliferar‑se dentro do fagolisossoma e finalmente destruir o fagócito, liberando leveduras que passam a infectar novos macrófagos. Portanto, aparentemente microambientes específicos encontrados dentro de células do hospedeiro podem influenciar a seleção de variantes que apresentam o potencial para a persistência de longo prazo dentro do hospedeiro, bem como daqueles que produzem um processo proliferativo mais rápido. Paracoccidioides brasiliensis A infecção por P. brasiliensis começa com a inalação pulmonar de conídios, seguida pela disseminação hematogênica ou linfática do fungo para praticamente todas as partes do corpo (Cap. 72). Uma característica peculiar da paracoccidioidomicose, em comparação com outras micoses sistêmicas, é o fato de que as infecções pulmonares primárias, que subsequentemente se disseminam, manifestam‑se muito frequentemente como lesões de mucosa na boca, no nariz e, ocasionalmente, no trato gastrointestinal. A parede da levedura de P. brasiliensis é rica em glucanas solúveis em meio alcalino, como a 1,3‑α‑glucana. Como ocorre com muitos outros patógenos fúngicos dimórficos endêmicos, acredita‑se que a presença de 1,3‑ α‑glucana na camada mais externa da parede celular da levedura seja essencial para a sobrevivência do fungo in vivo. Aparentemente, os macrófagos são elementos fundamentais para a resposta inata contra a infecção por P. brasiliensis. Os macrófagos são capazes de conter a infecção por P. brasiliensis, mas geralmente não eliminam as leveduras. Apesar de uma resolução clínica inicial da infecção, lesões residuais contendo leveduras viáveis podem se reativar até 40 anos depois, causando recorrência e sequelas graves. As características de P. brasiliensis consideradas importantes na patogênese da infecção incluem a resposta a fatores hormonais, a expressão de 1,3‑α‑glucana e as respostas imunes contra um antígeno imunodominante, gp43. Influências Hormonais na Infecção Embora a reatividade do teste cutâneo para a paracoccidioidina seja comparável entre homens e mulheres que residem em áreas endêmicas da paracoccidioidomicose, a relação entre homens e mulheres para a doença sintomática é de 78:1. A infecção subclínica parece ocorrer com a mesma frequência entre os dois sexos; entretanto, a progressão para a doença disseminada clinicamente evidente é muito mais frequente em homens. Esta observação levou à hipótese de que fatores hormonais desempenhem um importante papel na patogênese da paracoccidioidomicose. Em contraste com C. immitis, no qual o estrogênio estimula o crescimento fúngico e a formação de endósporos, a transição de conídios para a forma de levedura de P. brasiliensis é inibida pelo estrogênio. Isto resulta na rápida eliminação da infecção em mulheres, enquanto em homens ocorre a progressão da infecção. Uma explicação alternativa seria a de que os hormônios sexuais masculinos apresentam um efeito imunoinibitório que facilita o estabelecimento da infecção. Esta ainda é uma área em investigação. De qualquer maneira, os eventos iniciais da interação fungo‑hospedeiro após a infecção natural parecem ser modulados pelos hormônios, sendo, portanto, significativamente diferentes em homens e mulheres. Essas diferenças poderiam ser responsáveis pela suscetibilidade acentuadamente superior entre homens para a paracoccidioidomicose. O Papel das Glucanas da Parede Celular na Patogênese de P. brasiliensis A parede celular de P. brasiliensis contém quatro polissacarídeos principais: galactomanana, 1,3‑α‑glucana, 1,3‑ β‑glucana e quitina. O componente 1,3‑α‑glucana só é expresso na forma de levedura do organismo, e sua expressão se correlaciona com sua virulência. Cepas mutantes de P. brasiliensis desprovidas dessa glucana não são virulentas, sendo muito mais suscetíveis à digestão por neutrófilos. A fração 1,3‑β‑glucana da parede celular age como importante imunomodulador e, quando exposta na parede celular do fungo, provoca uma intensa resposta inflamatória. As β‑glucanas são descobertas quando os níveis de 1,3‑α‑glucana se reduzem, o que levou à hipótese de que a proporção entre 1,3‑α‑glucana e 1,3‑β‑ glucana na parede celular de P. brasiliensis possa ser mais importante na patogênese do que cada componente polissacarídico isoladamente. É importante perceber que a relação entre a razão de α‑/β glucanas na parede https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000723.xhtml#c0360 celular de P. brasiliensis e o tipo de resposta imune é semelhante àquela observada tanto na histoplasmose quanto na blastomicose. Em cada caso, um grande conteúdo de 1,3‑α‑glucana nas leveduras está relacionado a uma virulência aumentada, e níveis ausentes ou diminuídos deste componente relacionam‑se a uma virulência reduzida. A alteração na composição da parede celular de leveduras dos três patógenos dimórficos também está relacionada à sua capacidade de eles serem sequestrados dentro das células e dos tecidos e de persistirem como elementos viáveis durante anos após a infecção. Resposta ao Antígeno Imunodominante, gp43 A fase de levedura de P. brasiliensis secreta uma glicoproteína imunodominante de 43 kDa (gp43), que é ao mesmo tempo um importante antígeno sorodiagnóstico e um presumido fator de virulência. O antígeno gp43 é um receptor de laminina‑1 e pode ser responsável pela adesão das células de leveduras à membrana basal do hospedeiro. Este antígeno também se liga a macrófagos e provoca tanto uma forte resposta humoral quanto uma resposta de hipersensibilidade tipo tardia (HTT) em humanos. A defesa imunológica contra a infecção por P. brasiliensis depende da imunidade celular e não da humoral. Uma resposta da HTT debilitada se correlaciona com um aumento da gravidade da doença. Camundongos imunizados com gp43 desenvolvem respostas imunes tipos TH1 e TH2, enquanto gp43 e um segundo antígeno, gp70, são grandes contribuintes para uma resposta humoral em humanos. É possível que a reatividade imune de pacientes contra gp43 e gp70 seja dominada pela via TH2 com uma resposta inadequada de células T. Caso a imunidade celular do paciente contra P. brasiliensis esteja de fato comprometida por essa hiporresponsividade de células T, este poderia ser um mecanismo (como visto na histoplasmose e coccidioidomicose) subjacente à imunopatogênese da paracoccidioidomicose. Patógenos Oportunistas O estado do hospedeiro é de fundamental importância na determinação da patogenicidade de patógenos fúngicos oportunistas, comoCandida spp., C. neoformans e Aspergillus spp. Na maioria dos casos, esses organismos podem existir como colonizadores benignos ou saprófitas ambientais, só causando infecções sérias quando há uma diminuição das defesas do hospedeiro. Existem fatores associados a estes organismos, que podem ser considerados “fatores de virulência”, por contribuírem para o processo patológico, e, em alguns casos, que podem explicar as diferenças entre as patogenicidades dos diversos organismos. Espécies de Candida Candida spp. são os mais comuns dos patógenos fúngicos oportunistas (Cap. 73). Atualmente está bem estabelecido o fato de que Candida spp. colonizam a mucosa gastrointestinal e atingem a corrente sanguínea por translocação gastrointestinal ou através de cateteres vasculares contaminados, interagem com defesas do hospedeiro e deixam o compartimento intravascular invadindo tecidos profundos de órgãos‑alvo como fígado, baço, rins, coração e cérebro. Acredita‑se que as características do microrganismo que contribuem para sua patogenicidade incluam sua capacidade de aderir a tecidos, o dimorfismo entre as formas de levedura e hifa, a hidrofobicidade de sua superfície celular, a secreção de proteinases e as mudanças fenotípicas (Tabela 66‑1). A capacidade de aderência de Candida spp. a diversos tecidos e superfícies inanimadas é considerada importante nos estágios iniciais da infecção. A capacidade de aderência de várias espécies de Candida está diretamente relacionada ao seu grau de virulência em diversos modelos experimentais. A aderência é adquirida por uma combinação de mecanismos específicos (interação ligante‑receptor) e inespecíficos (forças eletrostáticas e de van der Waals). Há muito tempo se considera que a capacidade de sofrer transformação de leveduras para hifa apresente alguma importância na patogenicidade. A maioria das espécies de Candida é capaz de realizar essa transformação, que demonstrou ser regulada tanto por pH quanto por temperatura. A transformação de levedura em hifa é uma resposta de Candida spp. a alterações no microambiente. As hifas de C. albicans exibem tigmotropismo (um sentido de tato), que lhes permite crescer ao longo de depressões ou através de poros e pode auxiliar na infiltração de superfícies epiteliais. A composição da superfície celular de Candida spp. pode afetar tanto a hidrofobicidade da célula quanto a resposta imune contra ela. O tipo e o grau de glicosilação das manoproteínas na superfície celular podem afetar a hidrofobicidade da célula e, portanto, a adesão a células epiteliais. Os tubos germinativos de C. albicans são hidrofóbicos, enquanto os brotos ou blastoconídios são hidrofílicos. As diversas glicoproteínas de C. https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000735.xhtml#c0365 albicans também suprimem a resposta imune contra o organismo por meio de mecanismos pouco compreendidos. Conforme discutido em relação aos patógenos primários, a capacidade de Candida spp. secretar diversas enzimas pode também influenciar a patogenicidade do organismo. Diversas espécies de Candida secretam aspartil proteinases que hidrolisam as proteínas do hospedeiro envolvidas em defesas contra a infecção, permitindo que as leveduras rompam barreiras de tecido conjuntivo. Da mesma maneira, a maioria das espécies de Candida que causam infecção em humanos produz fosfolipases. Estas enzimas lesam as células do hospedeiro, sendo consideradas importantes na invasão tecidual. A capacidade de Candida spp. transformarem‑se rapidamente de um morfotipo a outro foi denominada mudanças fenotípicas. Embora originalmente aplicada a alterações na morfologia macroscópica de colônias, já se sabe que os diferentes fenótipos observados em meios de cultura sólidos representam diferenças na formação de brotamentos e hifas, expressão de glicoproteínas de parede celular, secreção de enzimas proteolíticas, suscetibilidade à lesão oxidativa por neutrófilos e suscetibilidade e resistência a antifúngicos. Mudanças fenotípicas contribuem para a virulência de Candida spp. por permitir que o organismo se adapte rapidamente à alteração em seu microambiente, facilitando sua capacidade de sobreviver, invadir tecidos e escapar das defesas do hospedeiro. Cryptococcus neoformans C. neoformans. é uma levedura encapsulada com distribuição universal, que causa infecção em humanos. Embora este organismo possa infectar hospedeiros aparentemente normais, ele causa doença com mais frequência e gravidade em hospedeiros imunocomprometidos. Ao se analisar a patogênese da criptococose, é útil considerar tanto as defesas do hospedeiro quanto os fatores de virulência presumidos. Existem três linhas de defesa principais contra a infecção por C. neoformans: macrófagos alveolares, células fagocíticas inflamatórias e resposta de células T e B. O desenvolvimento da criptococose depende amplamente da competência das defesas celulares do hospedeiro e do número e da virulência das leveduras inaladas. A primeira linha de defesa são os macrófagos alveolares. Estas células são capazes de ingerir as células de leveduras, mas apresentam uma capacidade limitada de destruí‑las. Os macrófagos que contêm as leveduras ingeridas produzem várias citocinas para o recrutamento de neutrófilos, monócitos, células NK e células da corrente sanguínea para os pulmões. Eles também agem como células apresentadoras de antígenos e induzem à diferenciação e proliferação de linfócitos T e B que são específicos para C. neoformans. As células recrutadas são eficientes na destruição de C. neoformans por mecanismos intra e extracelulares (tanto oxidativos quanto não oxidativos). A resposta de anticorpos contra este organismo não é protetora, mas serve para opsonizar as células leveduriformes, aumentando a citotoxicidade mediada por células. Dessa maneira, o sistema complemento aumenta a eficácia da resposta de anticorpos e fornece opsoninas e fatores quimiotáxicos para a fagocitose e o recrutamento de células inflamatórias. Uma resposta efetiva do hospedeiro contra C. neoformans consiste em uma interação complexa de fatores imunes celulares e humorais. Quando esses fatores são prejudicados, a infecção se dissemina, geralmente por migração de macrófagos contendo células de levedura viáveis, a partir do pulmão para os linfáticos e da corrente sanguínea até o cérebro. Os principais fatores inerentes ao C. neoformans que permitem que a levedura invada as defesas do hospedeiro e estabeleça a infecção incluem a capacidade de crescer a 37 °C, produzir uma espessa cápsula de polissacarídeos, sintetizar melanina e apresentar um fenótipo do tipo MATalfa (Tabela 66‑1). A cápsula de C. neoformans protege a célula da fagocitose e de citocinas induzidas pelo processo fagocítico e suprime tanto a imunidade celular quanto a humoral. A cápsula pode bloquear fisicamente o efeito opsonizante do complemento e anticorpos anticriptococos, e a alteração negativa que ela confere produz uma repulsão eletrostática entre as células leveduriformes e as células do hospedeiro. Além disso, o material capsular interfere na apresentação de antígenos e limita a produção de óxido nítrico (tóxico para as células criptococócicas) pelas células do hospedeiro. O fungo produz melanina por meio de uma enzima fenoloxidase ligada à membrana e a deposita na parede celular. Acredita‑se que a melanina aprimore a integridade da parede celular e aumente a carga total negativa da célula, protegendo‑a ainda mais contra a fagocitose. Estima‑se que a melanização seja responsável pelo neurotropismo de C. neoformans e possa proteger a célulade estresse oxidativo, temperaturas extremas, redução de ferro e peptídeos microbicidas. O fenótipo MATalfa está associado à presença do gene STE12alfa, que demonstrou ser um modulador da expressão de vários outros genes cujas funções são importantes para a produção da cápsula e melanina. Espécies de Aspergillus A aspergilose é a mais comum infecção invasiva por fungos filamentosos em todo o mundo. Aspergillus spp. são saprófitos ubíquos na natureza, podendo ser encontrados no solo, em vasos de plantas, vegetação em decomposição, pimenta e áreas de construção. Aspergillus spp. podem causar doença em humanos pela colonização de vias aéreas com subsequentes reações alérgicas, pela colonização de cavidade preexistente (aspergiloma) ou por invasão tecidual. A via primária de infecção na aspergilose é a inalação de conídios por aerossol (2,5 a 3 μm) que se depositam nos pulmões, nasofaringe ou seios paranasais. Nos pulmões, os macrófagos alveolares e neutrófilos desempenham papel fundamental na defesa do hospedeiro contra Aspergillus spp. Os macrófagos ingerem e destroem os conídios, enquanto os neutrófilos aderem e destroem as hifas que crescem após a germinação dos conídios. As hifas que não são destruídas podem invadir o tecido pulmonar e a vasculatura, levando a trombose e necrose tecidual local, bem como à disseminação hematogênica para outros órgãos‑alvo (cérebro). Aspergillus spp. secretam muitos produtos metabólicos, como gliotoxinas e várias enzimas, incluindo elastase, fosfolipases, diversas proteases e catalase, que podem ter uma importante função na virulência. A gliotoxina inibe a fagocitose por macrófagos e a ativação e proliferação de células T; entretanto, não se sabe se são produzidas quantidades clinicamente significativas de gliotoxinas na doença humana. Conídios de Aspergillus fumigatus se ligam ao fibrinogênio humano, bem como à laminina na membrana basal alveolar. Acredita‑se que este seja um importante primeiro passo que permite ao fungo se estabelecer em tecidos do hospedeiro. A ligação ao fibrinogênio e laminina poderia facilitar a aderência de conídios, enquanto a secreção de elastases e proteases ácidas poderia auxiliar na invasão de células do hospedeiro pelas hifas. A aspergilose invasiva está altamente associada à neutropenia e à deficiência na função neutrofílica. Os conídios de Aspergillus resistem à destruição por neutrófilos, mas os conídios em germinação e as hifas são rapidamente destruídos. Na doença granulomatosa crônica, os neutrófilos são incapazes de gerar a explosão respiratória para destruir microrganismos produtores de catalase. Aspergillus spp. produzem catalase, uma enzima que quebra o peróxido de hidrogênio. A forte associação entre aspergilose e doença granulomatosa crônica ressalta a importância da função neutrofílica na defesa do hospedeiro contra a aspergilose e fornece evidências indiretas para a catalase como um fator de virulência. É geralmente aceito que o risco aumentado de aspergilose em indivíduos que recebem altas doses de corticosteroides seja devido à deficiência na função de macrófagos e, talvez, de células T. Além disso, foi demonstrado que os corticosteroides estimulam o crescimento de Aspergillus spp. em meios de cultura. Não se sabe se Aspergillus spp. apresentam proteínas específicas de ligação a esteroides análogas àquelas encontradas em outros fungos. Questões 1. O que distingue um patógeno primário de um patógeno oportunista? 2. Quais são os temas comuns vistos na patogênese dos patógenos fúngicos primários? 3. Qual é a mais importante linha de defesa contra os fungos dimórficos endêmicos? 4. Qual fator de virulência presumido é comum tanto aos patógenos fúngicos primários quanto aos oportunistas discutidos neste capítulo? Bibliografia Cole, G. T. Fungal pathogenesis. In: Anaissie E.J, McGinnis M.R, Pfaller M.A, eds. Clinical mycology. New York: Churchill Livingstone, 2003. Cramer, R. A., Jr., Perfect, J. R. Recent advances in understanding human opportunistic fungal pathogenesis mechanisms. In Annaisie E.J., McGinnis M.R., Pfaller M.A., eds.: Clinical mycology, ed 2, New York: Churchill Livingstone, 2009. Dignani, M. C., et al. Candida. In Annaisie E.J., McGinnis M.R., Pfaller M.A., eds.: Clinical mycology, ed 2, New York: Churchill Livingstone, 2009. Heitman, S. G.F., et al. Molecular principles of fungal pathogenesis. Washington DC: American Society for Microbiology Press; 2006. Nemecek, J. C., et al. Global control of dimorphism and virulence in fungi. Science. 2006; 312:583–588. 6 7 O Papel dos Fungos na Doença Um resumo dos fungos (leveduras e fungos filamentosos) mais comumente associados com a doença humana é apresentado neste capítulo. As doenças micóticas humanas se desenvolvem como processos patogênicos em um ou mais sistemas de órgãos. Os sistemas afetados podem ser tanto as camadas mais externas da pele quanto as superficiais ou profundas como o coração, o sistema nervoso central ou trato gastrointestinal. Embora um único fungo possa estar mais comumente associado com a infecção de um único sistema orgânico (p. ex., Cryptococcus neoformans em sistema nervoso central), mais frequentemente vários organismos distintos podem produzir uma síndrome diferente de acordo com o agente etiológico, para orientar o diagnóstico subsequente e os esforços terapêuticos, é útil desenvolver um diagnóstico diferencial que inclua os mais prováveis patógenos fúngicos. Como o desenvolvimento de uma infecção fúngica depende de fatores que, com frequência, são mais importantes do que o potencial de virulência do organismo infectante, é preciso considerar numerosos fatores, tais como o estado imune do hospedeiro, a oportunidade para a interação entre o fungo e o hospedeiro (p. ex., o fungo é endógeno ou exógeno ao paciente?) e a carga infectante (p. ex., no caso de um fungo dimórfico endêmico) para a determinação da possibilidade de uma infecção fúngica, o significado dos dados microbiológicos (p. ex., resultados da cultura) e a necessidade de tratar e com qual agente. Muitas vezes as infecções fúngicas ocorrem em pacientes gravemente debilitados, e não é possível resumir aqui as interações complexas que, em última análise, levam ao estabelecimento da infecção e da doença em cada indivíduo. Como alternativa, este capítulo fornece uma lista bastante ampla dos vários fungos comumente associados a infecções em locais específicos do corpo e/ou manifestações clínicas específicas (Tabela 67‑1). Estas informações visam à utilização conjunta com aquelas do Capítulo 68, Tabela 68‑1, como um auxílio para estabelecer um diagnóstico diferencial e para a seleção das amostras clínicas mais prováveis que ajudarão a estabelecer o diagnóstico etiológico específico. Outros fatores que podem ser importantes na determinação da frequência relativa com que fungos específicos causam doença (p. ex., idade, comorbidades, imunidade do hospedeiro, epidemiologia das micoses e fatores de risco) são abordados nos capítulos individuais neste texto ou nos textos de doenças infecciosas mais abrangentes citados neste e em outros capítulos. https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000681.xhtml#c0340 https://www.evolution.com.br/contentresolver/epub/66487/OEBPS/xhtml/B9788535271065000681.xhtml#t0010 Tabela 671 Resumo dos Fungos Associados à Doença Humana Sistema Afetado Patógenos Infecções do Trato Aéreo Superior Orofaringe Candida spp., Cryptococcus neoformans, Histoplasma capsulatum, Blastomyces dermatitidis, Paracoccidioides brasiliensis, Penicillium marneffei, Geotrichum candidum Sinusite Aspergillus spp., Mucormycetes, Fusarium spp., fungos
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