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e l i t e r a t u r a CURSO 5 José Leite Jr. Juntou a Fome com Vontade de Ler o Realismo e o Naturalismo Realização c e a r e n s e 1. PEQUENAS REVOLUÇÕES s últimas décadas do sé- culo dezenove foram defi- nitivas para a instituciona- lização cultural no Ceará. Comparado com a informa- lidade da Academia Fran- cesa do Ceará, de 1873, o Clube Literário, de 1886, teve maior estabilidade funcional, com reuniões literárias regulares e periódico próprio, A Quinzena. Logo em seguida, em 1887, mas com propósitos científicos, seria fundado o Instituto do Ceará. Na última década des- se século, surgiram a Padaria Espiritual, de 1892, o Centro Literário e a Academia Cearense (de Letras), ambos de 1894. Conti- nuam até os dias atuais tanto o Instituto do Ceará como a Academia Cearense de Letras. No contexto cearense, literatura e ciên- cia são parceiras históricas, convocadas que são a decifrar a mesma sociedade desi- gual, tendo prestado relevantes serviços na abolição da escravatura e na compreensão dos efeitos sociais e endêmicos das secas. O universitário de hoje deve lembrar-se que recebeu toda uma herança científica de fi- guras como Rodolfo Teófilo e de Guilher- me Studart, que participaram ativamente de algumas dessas agremiações oitocen- tistas. O estudante que hoje lê obras como Dona Guidinha do Poço ou A normalista, para dar apenas dois exemplos, não pode esquecer que seus respectivos autores, Oli- veira Paiva e Adolfo Caminha, surgiram nesse decisivo contexto histórico. Num tempo de grandes transformações, é importante que se diga, abriu-se espaço na cena intelectual a setores socialmente des- prestigiados. As agremiações, coerentes com ascendência abolicionista e índole republi- cana, acolhiam os filhos do povo, a exemplo de comerciários e pequenos funcionários pú- blicos, como foram Antônio Sales e Álvaro Martins (MARQUES, 2018). Quebrando todo um paradigma histórico, também as mulhe- res começaram a ocupar espaços num am- biente marcadamente masculino, a exemplo de Francisca Clotilde, pioneira num século de pioneirismo civilizatório. Quer saber mais? Aprochegue-se! 66 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE 2. LITERATURA EM DOSE TRIPLA: REALISMO, NATURALISMO E IMPRESSIONISMO conjunto das transforma- ções sociais e econômicas do século dezenove teve um impacto inegável na produção artística e lite- rária do Ocidente. Mesmo em uma condição perifé- rica, o Brasil sofreu essa influência, aclimatando-a ao nosso meio. Prova dis- so é a transição do Romantismo para o Re- alismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. No entanto, é importante destacar, essa transição não se operou uniformemen- te, não sendo razoável, feita uma simples leitura da produção das três últimas déca- das do século dezenove e primeiras do sé- culo vinte, compor um quadro esquemá- tico, uma divisão rigorosa entre traços românticos e realistas, naturalistas e parnasianos. Afinal, essas tendências têm uma origem comum: a revolução burguesa, cujo paradigma histórico se constituiu com a Revolução Francesa e a centralidade cultural exercida pela França. Em síntese, “O romantismo foi o meio de expressão próprio da ascensão burguesa; o naturalismo seria o de sua decadência. ” (SODRÉ, 1965, p. 18). Assim, quando se fala numa periodiza- ção literária, o que importa são tendên- cias, jamais consensos. Nesse sentido, há românticos que parecem antecipar o Realismo e há realistas que não escon- O poeta pernambucano Alf. Castro (1873-1926) é considerado por Sânzio de Azevedo como “o representante mais legítimo e ortodoxo da pura arte parnasiana na literatura cearense”. Em 1908, realizou a primeira sessão da agremiação literária Plêiade, de breve existência. Nela, o presidente seria o dono da casa onde se realizaria a referida sessão (revezavam). dem páginas românticas. Não seria fora de propósito a concepção de um grande Romantismo, que, diante do cientificismo, experimentou uma transição de uma arte idealista para a materialista. A mesma prudência se impõe sobre a diferença entre o Realismo e o Naturalis- mo, já que ambas as tendências represen- tam uma inclinação ao materialismo po- sitivista, sendo aquele mais introspectivo e este mais social. O Realismo é uma primeira reação ao Romantismo, vindo o Naturalismo am- pliar esse afastamento, contrapondo-se às concepções materialistas e cientificistas ao idealismo romântico. Vale lembrar que a denominação de Naturalismo baseia- -se na ideia de que todos os elementos da natureza estão sujeitos às mesmas leis, portanto o ser humano – e as perso- nagens literárias – sofreriam as mesmas determinações impostas pelo meio e fato- res hereditários, a depender da deflagração de acontecimentos condicionantes. É bas- tante conhecida esta analogia que Émile Zola (1840-1902) faz na segunda edição de Thérèse Raquin, romance inaugural do Na- turalismo no mundo: “Eu simplesmente fiz sobre dois corpos vivos o trabalho analítico que os cirurgiões fazem sobre cadáveres. ” MALACA CHETAS CURSO literatura cearense 67 Um dos mais importantes autores da se- gunda metade do século dezenove, Eça de Queirós (1929) afirmava que existia um mo- vimento geral na arte que se opera, ao longo da história, numa tensão entre a tendên- cia idealista e a realista. O idealismo seria a arte baseada na imaginação, enquanto o realismo se constituiria pela documentação. Assim, no Ceará, o Romantismo teve sua nota dominante idealista, com Lendas e can- ções populares, de Juvenal Galeno, ou com Iracema, de José de Alencar, ambas publica- das em 1865, mas abrangeu uma tendência realista, a exemplo de O Cabeleira, de Franklin Távora, publicado em 1876. Por seu turno, no Realismo e Naturalismo houve trabalhos mais ortodoxos, como A normalista, de Adolfo Ca- minha, romance de 1893, ao lado de outros, um tanto sincréticos, como o Luzia-Homem, de Domingos Olímpio, lançado em 1903. Pelo menos em sua proposta original ou próximo disso, o Naturalismo no Brasil não conheceria o século vinte: “O lustro 1890-95 pode, assim, servir perfeitamente para fixar a fase mais alta do naturalismo, entre nós. Daí por diante começará a declinar: não apresentará mais nenhum livro de valor destacado ou mesmo de tipicidade. Com O cortiço, O missionário e os dois romances de Adolfo Caminha [A normalista e Bom- -crioulo], realmente, a nova escola oferecia o melhor de si.” (SODRÉ, 1965, p. 188). Para Sânzio de Azevedo, o cientificismo, principal característica da escola Natura- lista, nas letras cearenses já era perceptível na Academia Francesa (AZEVEDO, 1982, p. 150). Mas a onda positivista, evolucionista e determinista parece não ter afugentado o es- pírito romântico, a julgar pela produção em prosa e verso nas agremiações sucessivas, como o Clube Literário e o Centro Literário, e periódicos da época: “Folheie-se qualquer número do Libertador, desse tempo, e será fácil ver-se a presença avassaladora do Romantismo [...].” (AZEVEDO, 1982, p. 151). Vale ainda ressaltar, como ensina Arnold Hauser (1972), que o Naturalismo transitou para o Impressionismo, que parece preferir o flagrante ao documento e a impressão à simples constatação da realidade, no que resulta uma arte mais introspectiva e rica em efeitos estilísticos e sugestões sen- soriais. Enfim, tais características avançam sobre o século vinte, tendo repercussões no segundo momento do Modernismo, inclusive unindo propostas ideológicas contrárias, como a produção de Rachel de Queiroz e a de Gustavo Barroso, che- gando a exemplos mais posteriores, como Herman Lima, Moreira Campos, Batista de Lima, entre outros expoentes literários. 3. QUANDO A PRINCIPAL ARMA É O LIVRO: O CLUBE LITERÁRIO uma cidade servida por apenas duas livrarias e uma biblioteca pública, inau- gurada em 1867, o Clube Literário representou um acontecimento naquela Fortaleza que não chega- va a vinte mil habitantes, ocupando a área entre as atuaisavenidas Duque de Caxias, Dom Manuel e Imperador. A novidade saiu na edição de 16 de novembro de 1886 do Libertador, dando conta de que na véspera houvera sua sessão inaugural, presidida por Antônio Bezerra. Conta a matéria que o grupo preparava seus estatutos e teria seu periódi- co, A Quinzena. São identificados os funda- dores: “João Lopes, seu principal fundador e animador, Antônio Bezerra, Antônio Martins, Oliveira Paiva, José Olímpio, Abel Garcia e José de Barcelos.” (BARREIRA, 1948, p.116). Em pouco tempo foram aderindo outros inte- ressados, entre os quais Juvenal Galeno, Jus- tiniano de Serpa, Farias Brito, Rodolfo Teófilo e, em contraponto a tantas figuras masculi- nas, a educadora Francisca Clotilde. O primeiro número de A Quinzena saiu no sábado, 15 de janeiro de 1887. As palavras de João Lopes, no texto de abertura do periódi- co, mostram a consciência do desafio cultu- ral: “Não faltará quem considere arriscado, temerário mesmo, este empreendimento a 68 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE que nos abraçamos. ” Para ele, mesmo “na capital do império […] o meio não é propí- cio às letras e às publicações exclusivamente literárias”. Oliveira Paiva, na edição de 31 de julho de 1887 de A Quinzena, considera a di- fusão cultural como uma questão de pa- triotismo: “Nada é tão capaz de fomentar o patriotismo e acender os brios de uma Nação como a literatura. ” Nessa guerra patriótica, a principal arma seria o livro: “O Livro acom- panha o indivíduo onde quer que ele vá. Cus- ta-lhe barato. Que mais? Deve ser uma arma para o cearense.” Propondo a divisa “O livro é a palavra em ação”, o futuro autor de Dona Guidinha do Poço prometia derrotar, “de bas- tilha em bastilha, a tirania da ignorância”. A dinâmica de funcionamento do grupo, com a leitura de novidades chegadas a Forta- leza e a apresentação de temas eruditos, liga- va as gerações entre si e conectava a provín- cia ao mundo literário brasileiro e europeu. A experiência de estreia nesse ambiente é assim lembrada por Antônio Sales: “Um dia escrevi um soneto – que meti por baixo da porta da redação, firmando com um pseudô- nimo. O soneto foi publicado, e então apre- sentei-me e fui incorporado ao dito grupo...” Na avaliação de Dolor Barreira, “O Clube Lite- rário […] foi, em todas as oportunidades, fiel ao seu programa de incentivar, por todos os modos, o levantamento do nível intelectual do Ceará” (BARREIRA, 1948, p.121-123). O Clube Literário, tão regular em suas ati- vidades, não sustentou a A Quinzena além de junho de 1888. Uma das últimas notícias de atividade da agremiação ainda apareceria n’A República, em 4 de outubro de 1894, avisando que, à noite, haveria uma reunião do Clube Literário na sede do Clube Cearense. “De uma forma ou de outra, tenham durado mais ou te- nham durado menos, o certo é que foi marcan- te a influência que o Clube Literário e A Quinze- na [...] exerceram na incrementação da nossa riqueza literária. ” (BARREIRA, 1948, p.126). Oliveira Paiva, além de exímio romancista, também foi autor de contos, sendo muitos deles conhecidos primeiramente através d’A Quinzena. Sânzio de Azevedo, em Aspectos da Literatura Cearense, traz um estudo sobre essa verve pouco estudada do autor, posteriormente também perquirida por Nilto Maciel em Contistas do Ceará. Muitos historiadores ainda desconhecem os contos de Oliveira Paiva. Em História Concisa da Literatura Brasileira, Alfredo Bosi, por exemplo, não se refere ao contista Oliveira Paiva, embora o considere “prosador terso, que sabia descrever e narrar com mão certeira e intervir no momento azado com talhos irônicos de inteligência fina e crítica”. O que nos demonstra que muitos caminhos ainda temos para conhecer e pesquisar sobre os escritores cearenses. MALACA CHETAS CURSO literatura cearense 69 4. A QUINZENA Quinzena circulou de 15 de janeiro de 1887 a 10 de junho de 1888, sendo impresso na mesma tipo- grafia do Libertador. Man- tiveram-se suas oito pági- nas ao longo das trinta edições. Para quem ima- ginasse que um periódico com essas características tipográficas não valesse os seis mil-réis de uma assinatura anual, assim alertou a nota publicada no Libertador de 19 de maio de 1887: “De proporções modestas, A Quinze- na vai, contudo, rompendo galhardamente a espessa camada do indiferentismo públi- co por tudo quanto é exclusivamente lite- ratura e cremos que conquistará em breve posição segura e estável entre as folhas li- terárias do país. ” (BARREIRA, 1948, p.118). Sobre a distribuição de assuntos, toma- -se aqui, a título de exemplo, o primeiro número do periódico. Assumem a redação João Lopes, Antônio Martins, Abel Garcia, J. de Barcelos e José Olímpio. É ainda João Lopes quem assina o editorial – “Expedien- te. Preliminares” –, com a proposta do jor- nal no âmbito do Ceará e sua correlação com a imprensa literária nacional. Em seguida vem a primeira parte do artigo “Origem da palavra Ceará”, assina- do por Paulino Nogueira, que teria conti- nuidade no número seguinte. Depois lê- -se o soneto “Lumen-Numen”, de Virgílio Brígido, texto de feição marcadamente romântica, que termina com uma sines- tesia: “Tudo penso escutar, quando em teus olhos / Vejo esse raio límpido luzir / Iluminando a noite que me envolve.” Contrastando com as imagens enamora- das do soneto, aparece “Corda sensível”, um pequeno conto de Oliveira Paiva, que, sob pretexto de narrar a traquinagem de crianças, serve de exercício naturalista, como revela o desfecho, que flagra um parto de ratinhos, inocentemente aco- lhidos pela pequena filha de um coro- nel, numa analogia entre a maternidade humana e a animal. Da incipiente expe- riência naturalista, a leitura volta ao Ro- mantismo de Juvenal Galeno, com “O re- gresso”, balada em décimas, cujo enredo descreve uma cavalgada de retorno à casa paterna em meio ao cenário sertanejo. 70 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Passado o idílio romântico, vem a crônica de “Os quinze dias”, neste número assina- da por Antônio Martins (normalmente a seção caberia a João Lopes), que recorda a exitosa campanha abolicionista cearen- se, reflete sobre o problema das endemias e reprova certo pacto conciliatório na po- lítica local. Fechando a edição, vêm dois poemas de Justiniano de Serpa: o primei- ro é “A escola”, com suas cinco quadrinhas de sete sílabas, e o sonetilho “As crianças”, peças que remontam ao moralismo algo piegas das velhas crestomatias. Como se vê, as oito páginas conciliam te- mas, gêneros e autorias díspares. Nos textos propriamente literários, nota-se claramente uma oscilação entre o que sobrou do Ro- mantismo e o que ainda falta do Naturalis- mo. No geral, a nota dominante é mesmo o Ceará, considerado com ufanismo por João Lopes, examinado pela onomástica de Paulino Nogueira, cantado nos versos sertanejos de Juvenal Galeno e sancionado pela crônica política de Antônio Martins. Nesse primeiro número de A Quinzena ainda não aparecia Francisca Clotilde. Seu primeiro texto no periódico vem assinado com o pseudônimo “Jane Davy”, na edição de 15 de abril de 1887. Trata-se do conto “Mors Amor”, que parece homenagear o so- neto homônimo de Antero de Quental (um dos mais lembrados de Sonetos, de 1861). Mas a homenagem fica por aí, pois o conto de Francisca Clotilde ainda tem uma escrita iniciante, num enredo que reedita a tragé- dia do amor entre jovens de classes sociais distintas: “Mas uma distância imensa os separava. Ela era rica e nobre, ele pobre e obscuro.” Noutros números, assinando com o próprio nome, aparecem outros contos, como “Brincar com cinza” e “A enjeitada”, a poesia, a exemplo dos sonetos “Deserto” e “Homenagem” (este dedicado à poetisa Ana Nogueira, também colaboradora de A Quinzena), o ensaio, em que se encaixa “Vic- tor Hugo”, e mesmo a tradução, que é o caso de “O Luís de ouro”, versão em português Crestomatias Antologias, coletâneascom textos em prova e/ ou versos, geralmente com fins didáticos. Onomástica Estudo linguístico dos nomes próprios. Entre 1898 a 1902, o poeta cearense José Albano (1882-1923) esteve em Fortaleza, após longo período na Europa. Frequentou o Centro Literário, publicando em 1901 n’A República. Tão “inclassificável” e diferente para sua época ele parecia, que Manuel Bandeira, em sua Apresentação da poesia brasileira, diria que “temos que dar atenção à figura singular de José de Abreu Albano; singular porque inteiramente fora dos quadros da poesia brasileira”. Sânzio de Azevedo, que nos conta essa história, traduz: “Figura naturalmente excêntrica, [...] é dotado de uma genialidade vizinha da loucura (que afinal iria nublar-lhe o fim da existência.” (AZEVEDO, 1982, p.59) Vale a pena conhecer e estudar as suas Rimas. Embora Francisca Clotilde tenha participado do Clube Literário e tenha escrito n’A Quinzena, responsáveis por acolher autores realistas como Oliveira Paiva, a autora, como vimos no módulo anterior, não é considerada uma escritora realista e sim romântica. Mesmo seu mais famoso livro, A divorciada, de 1902, é também uma obra romântica e diferentemente do que muitos proclamam por aí, o enredo não traz propriamente bandeiras feministas para além do próprio mote da obra: o divórcio. Aliás, o tema é colocado para o(a) leitor(a) de uma forma quase compulsória para a personagem principal que se vê abandonada pelo marido alcoólatra, mas que tenta de todas as maneiras reaver o seu matrimônio, conferindo à personagem características das heroínas românticas que tudo sofriam e suportavam em nome do amor. Você pode ler A divorciada na sua Biblioteca Virtual do AVA. de um conto natalino de François Coppée. Ainda não é a romancista de A divorciada, claro, mas foi na tolerância dessas experi- ências que se provou seu talento literário. Não parece ser outra a avaliação de Sân- zio de Azevedo, sobre o papel d’A Quinzena na revelação de novos escritores: “Ao lado de poemas românticos de Juvenal Galeno e das narrativas, igualmente românticas, de José Carlos Júnior ou “Jane Davy” (Francisca Clo- tilde) surgiam os contos cientificistas de Ro- dolfo Teófilo; o Realismo despontava, porém, com mais força e arte através dos contos de Oliveira Paiva. ” (AZEVEDO, 1976, p. 91) SABATINA MALACA CHETAS CURSO literatura cearense 71 5. O CENTRO LITERÁRIO ano de 1894 foi duplamente contemplado nas letras do Ceará. No dia 15 de agosto, era fundada a Academia Cearense (de Letras) e, no dia 27 de setembro, surgia o Centro Literário. Os cearenses ficaram sa- bendo da existência de uma nova agremiação literária, em Fortaleza, pelo jornal A República: “Com a epígrafe acima (Cen- tro Literário) foi instituída uma agremiação dos nossos rapazes de letras, cujo escopo é fomen- tar o estímulo e o desenvolvimento literário, atualmente tão descurado entre nós. ” (BAR- REIRA, 1948, p.226). Na mesma notícia vinha a relação dos sócios fundadores, alguns dos quais já conhecidos do Clube Literário, como Juvenal Galeno, Farias Brito, José Olímpio, Ál- varo Martins, Pápi Júnior e Rodolfo Teófilo. BOLACHINHAS MALACA CHETAS Quintino Cunha, orador, poeta e contista, figurava na lista de sócios- fundadores do Centro Literário. Por sua personalidade singular e tão anedoticamente divulgada, cremos não precisar nos deter aqui sobre ele. O Centro Literário teve o cuidado de deixar uma mensagem para o futuro, que só poderia ser aberta na passagem de 2000 para 2001, “para que as gerações vindouras possam avaliar com que devotamento o Ceará cultiva os cometimentos da inteligência”. (BARREIRA, 1948, p. 241-242) Ao longo de seus dez anos de ativida- des, muitas foram as adesões, tendo presi- dido o Centro Literário os seguintes sócios: Temístocles Machado, Guilherme Studart, José Lino da Justa, Pápi Júnior e Rodrigues de Carvalho. (BARREIRA, 1948, p. 256). Os relatos históricos apontam como origem do Centro Literário uma dissidência da Padaria Espiritual. O próprio Antônio Sales, fundador da Padaria, confirma essa versão: “Uma cisão operada na Padaria com a retirada de Álvaro Martins e Temís- tocles Machado determinou a criação de uma outra associação que tomou o nome de Centro Literário. ” (BARREIRA, 1948, p.230). Um dia após a fundação do Centro Literário, segundo Mário Linhares, “a Pada- ria aprovava as exclusões de Temístocles Machado e Álvaro Martins”. (BARREIRA, 1948, p.230). Dolor Barreira faz uma ava- liação positiva da rivalidade dos centristas com os padeiros, pois quem acabou lu- crando com a animosidade foi a cultura cearense: “As duas sociedades literárias, muito louvavelmente, tudo fariam, sob o ponto de vista intelectual, para suplantar e avantajar-se uma à outra...” 72 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE É notória a organização do Centro Literário, a julgar pela elaboração de sua “Lei Orgânica” e a constituição societária. Dentre os sócios correspondentes, estavam nomes consagrados da crítica literária, como Sílvio Romero e Araripe Júnior, o poeta parnasia- no Alberto de Oliveira, o gramático João Ribeiro e o romancista Adolfo Caminha. A mesma lista inclui as irmãs Julieta de Melo Monteiro e Revocata Heloísa de Melo, pio- neiras da imprensa feminina gaúcha. As finalidades da agremiação não dei- xavam de ser pragmáticas, como a realiza- ção de conferências abertas, finanças para edição de obras dos associados, correspon- dência com sociedades congêneres, dentre outras. Houve preocupação com um espa- ço cultural aberto ao público, deixando-se “o livro ao alcance de todos, no meio da rua”. (BARREIRA, 1948, p.234). No entanto, havia seus excessos, como o projeto de mudança do nome da capi- tal, que passaria de “Fortaleza” para “Ira- cema”. Os centristas veneravam Alencar. As sessões começavam normalmente com assuntos relativos à organização, seguin- do-se de uma “parte literária”, com leitura de textos dos mais diversos gêneros. Era comum a reunião terminar com certa ani- mação, quando Alvarins (Álvaro Martins) declamava trovas e triolés, para a diver- são ou emoção dos presentes. Importante mencionar a única presença feminina no Centro Literário, a de Alba Val- dez, que posteriormente, em 1922, se tor- naria a primeira mulher a ingressar na Aca- demia Cearense de Letras como estudamos no módulo anterior. Entre as sessões sole- nes da agremiação, talvez a mais destacada tenha sido a homenagem a José de Alencar nos dezoito anos de seu falecimento. Tam- bém havia sessões fúnebres, como aquela em memória de Adolfo Caminha. Não faltou a sessão de passagem do século, aberta ao público, com a banda da Escola de Aprendi- zes Marinheiros, queima de fogos e o discur- so filosófico de Farias Brito. Triolé (triolet) Poema de forma fixa, com estrofe(s) de oito versos em que o primeiro verso se repete como quarto e sétimo, e o segundo, como último. 6. SÓ A ARTE IMORTALIZA: A REVISTA IRACEMA revista Iracema “apareceu a 2 de abril de 1895, sob a redação de Pedro Muniz e Júlio Olímpio, en- cimando-a esta divisa: ‘Só a Arte imortaliza’”. (BARREIRA, 1948, p. 238). Os seis primeiros números da Iracema foram quinzenais. A partir do sétimo, a periodicidade passou para ser trimestral, extin- guindo-se ao final do ano de 1896. Além do pe- riódico, foram publicados livros dos associados. Não seria razoável concluir que uma asso- ciação tão diversificada tenha chegado a uma unidade programática, mas é possível inferir al- gumas linhas gerais. Uma delas é o regionalis- mo, conforme identificado por Artur Azevedo, quando liga o poemeto Pescadores da Taíba, de Álvaro Martins, ao sertanismo poético de Juvenal Galeno. Há também um ufanismo, com as variantes nacional e local, ao que tudo indica ideologicamente vinculado ao projeto civilizatório republicano, que assim traduz Ro- drigues de Carvalho: “Bem se vê que há um plano para a uma literatura muito nossa,mol- dada sobre a etnografia, o meio ambiente, a civilização enfim.” (BARREIRA, 1948, p. 256). Em relação aos estilos de época, não faltaram propostas realistas e naturalistas, a exemplo dos conto “Romântica”, de Adolfo Caminha, e “Estupro”, de Pedro Muniz, reunidos na Iracema n.º 7 (1896). No entanto, o espírito romântico reinventa-se, explícita ou implicitamente, mes- mo nos últimos anos de um século em que vi- goraram, pelo menos nos meios intelectuais, as doutrinas materialistas. E não se pode esquecer da presença feminina, pois, além de Francisca Clotilde, a gaúcha Julieta de Melo Monteiro também colabora com o poema “Manhã de pri- mavera”, que está no n.º 6 da Iracema (1895). CURSO literatura cearense 73 7. O REALISMO NA POESIA CEARENSE emos em Augusto Xavier de Cas- tro (1858 – 1895), o X. de Castro, nosso maior representante do realismo na poesia cea- rense. De passagem breve no panorama literário cearense, o escritor foi a segunda baixa da Padaria Espiritual – a primeira tinha sido Joaquim Vitoriano, em 1894 –, vindo a falecer três anos depois do início da agremiação. Nela, adotou o nome de “Bento Pesqueiro”. Seu único livro, intitulado Cromos, foi publicado sob o selo da Padaria Espiritual, em 1895. Sânzio de Azevedo considera-o romântico em seus poemas da década de 1870, tran- sitando ao Realismo na década seguinte, “Sua feição definitiva e mais importante” (AZEVEDO, 1976, p. 93). Não se trata de uma postura realista como a que assumiria um Cesário Verde, por exemplo, mas não deixa de propor versos que lembram uma Sonetilhos Sonetos feitos com versos mais curtos, sobretudo os heptassílabos. caderneta de esboços de um desenhista in- teressado em revelar a riqueza de motivos que muitos veriam como banalidade. Vale lembrar que o título Cromos não lhe é exclusivo. Na verdade, constitui uma configuração discursiva cultivada por mui- tos poetas, que emprestam ao poema uma feição pictórica, em geral sonetilhos que descrevem pequenas cenas. Sânzio de Azevedo sugere a influência de B. Lopes, autor de obra homônima. X. de Castro ora flagra cenas domésticas, captando pequenos diálogos e situações entre familiares, ora se volta para um pla- no mais amplo, descrevendo situações do meio popular. Exemplo desta segunda ten- dência é o sonetilho “Em Porangaba”, que flagra um pequeno drama do trabalho in- fantil, que perde o propósito anedótico se passado pelo crivo da contemporaneidade: Para o trem. Da vilazinha Verde, risonha, engraçada, Vem para a beira da estrada Toda a gente, ali vizinha. Começa na férrea linha Por gritar a meninada: – E olha a castanha assada É nova, é boa, é fresquinha! – Dê cá, diz um passageiro E enquanto puxa o dinheiro Parte o trem já da Estação… Corre, e o menino aturdido Grita e brada enraivecido: – Paga as castanhas, ladrão! 74 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE 8. O REALISMO NA PROSA CEARENSE em dúvida, temos como prin- cipais expoentes da prosa realista cearense os autores: Adolfo Caminha, Antônio Sa- les, Domingos Olímpio, Oli- veira Paiva, Rodolfo Teófilo e Pápi Júnior. Vamos saber um pouco mais sobre eles? O aracatiense Adolfo Ca- minha (1867 -1897) impressiona pela impactante obra que deixou em seus cur- tos trinta anos de vida, colhido que foi pela tuberculose. É um dos três nomes destacados por Dolor Barreira, pela quali- dade das obras lançadas na última década do século dezenove, ao lado de Oliveira Paiva e Rodolfo Teófilo. É nessa década que são publicados os títulos mais representa- tivos do Naturalismo cearense e brasileiro. De Adolfo Caminha, foram publicados os romances A normalista (1893), Bom-crioulo (1895) e Tentação (1896). Concordando com Leonardo Mota, por ele citado, Barreira situa a obra de Adolfo Ca- minha ao lado de outras, identificadas como naturalistas, de Júlio Ribeiro e de Aluísio Azevedo. Como esses autores se propu- nham abrir em suas páginas literárias o que a hipocrisia burguesa dissimulava, não era raro suscitarem reações moralistas, como a que saiu na Gazeta de Notícias (Rio de Ja- neiro), a propósito d’A normalista, romance ambientado em Fortaleza. Na réplica, Adolfo Caminha reiterou sua filiação ao romance documental: “Mas, vamos: é preciso não confundir a verdade flagrante e necessária, reproduzida naturalmente, com a patifaria rasa, que dói nos ouvidos e faz saltar o san- gue à face da burguesia. / Zola, por maior que seja o número de seus inimigos, não é um ro- mancista imoral...” (BARREIRA, 1948, p. 293). Quer saber mais sobre Adolfo Caminha? Adolfo Caminha: vida e obra (Armazém da Cultura) é uma magistral e saborosa biografia escrita por Sânzio de Azevedo sobre este polêmico escritor que nos deixou obras valorosas, mesmo tendo vivido tão pouco. Disponível em e-book, mas também em sebos virtuais em formato impresso. Oliveira Paiva antes de se dedicar à literatura, foi seminarista no Crato, tentou a carreira militar, no Rio de Janeiro, mas acabou voltando a Fortaleza e empenhou-se nas campanhas abolicionista e republicana. Oliveira Paiva (1861-1892) por sua vez ensaiou contos de tendência naturalista n’A Quinzena e publicou o romance A afilhada em folhetins d’O libertador. Sua obra mais aplaudida é Dona Guidinha do Poço, obra póstuma, cuja primeira edição só sairia em 1952, por intervenção de Antônio Sales, Américo Facó e Lúcia Miguel Pereira. Dolor Barreira anotou este comentário de Tristão de Ataíde, que reconheceu nesse romance “páginas de sertanismo inteiramente novas para a época: secas vivas, originais, sem se demorarem em longas descrições, e, pelo contrário, sabendo evocar a paisagem em duas palavras características, com rara concisão de estilo e flagrância de transpo- sição. Os tipos são verdadeiros e cheios de vida. Tudo revela um temperamento literá- rio de excepcional acuidade de visão, liber- tado de preconceitos e exprimindo-se por meio da maior sobriedade de traços, apenas os essenciais”. (BARREIRA, 1948, p.298-299) Lúcia Miguel Pereira admirou-se de que uma obra de tal qualidade tivesse caído no esquecimento por mais de meio século: “Re- duzidos aos seus elementos dramáticos, D. Guidinha do Poço nada tem de original: amor, ciúme e vingança surgem em muitas histórias banais. Mas os temas simples são muitas vezes aqueles em que melhor se paten- teia a superioridade do escritor, do cria- dor. Escritor e criador foi sem dúvida alguma Manuel de Oliveira Paiva. Creio que antes de qualquer outro, ousou escrever como se fala, sem contudo ser incorreto, num estilo saboroso e colorido, que é uma fusão admi- rável da linguagem escrita e da oral”. Interessante notar que a atenção des- ses críticos incide sobre os traços pré- -modernistas da escrita de Oliveira Paiva. Em meio ao beletrismo marcado pelo re- buscamento da frase, ele soube ser mode- rado nas palavras, econômico de traços, fazendo transitar o Naturalismo para o Impressionismo literário. Seus contos foram publicados em 1976 pela Academia Cearense de Letras, numa edição prefaciada por Sânzio de Azevedo. Como a maior influência naturalista em língua portuguesa era então Eça de Queirós, não faltou quem apontasse essa influência sobre Adolfo Caminha, como fez Brito Broca: “A normalista transpira Eça de Queirós por todos os poros. Quando o au- tor pintava a figura do estudante Zuza pen- sava no primo Basílio; Maria do Carmo foi modelada por Luísa; o redator da Madras- ta é um avatar do Palma […].” (BARREIRA, 1948, p. 295-296). Outro título que despertou reações críti- cas foi Bom-crioulo, que, segundo Waldemar Cavalcanti, “é a história cruel de uma paixão homossexual, poucas vezes a literatura brasi- leira atingiu tão alto nível de realismo” (BAR- REIRA, 1948, p. 296). Reunindo esses dois títulos, assim se posiciona Agripino Grieco: “Adolfo Caminha, que não sabia romancear romantizando, sarcástico até na sua meia piedade, foi o pintor da áspera verdade, tra- tando muito bemda vida provinciana e da vida de bordo […]. ” (BARREIRA, 1948, p. 296). SABATINA BOLACHINHAS CURSO literatura cearense 75 PASSANDO A LIMPO Trata-se de textos retirados d’A Quinzena, que só estariam ao alcance dos bibliófilos, não fosse a iniciativa acadêmica. Vitimado de tuberculose, Oliveira Paiva faleceu na capital cearense, no dia 29 de setembro de 1892. A Academia Cearense de Letras lhe dedicou a cadeira 25. Representante do Naturalismo cearen- se, Rodolfo Teófilo é sem dúvida o autor de uma das obras mais impactantes da nossa literatura brasileira: A fome. Far- macêutico por formação, ao lado de sua notável atuação como sanitarista, partici- pou ativamente no movimento literário ce- arense. Foi o padeiro “Marcos Serrano” na Padaria Espiritual e membro do Centro Lite- rário. Em 1922, Rodolfo Teófilo tomaria seu assento na Academia Cearense de Letras. Numa leitura apressada, pode-se imagi- nar que Rodolfo Teófilo tenha sido um na- turalista arraigado, mas não é o que conclui sua fortuna crítica. Pedro de Queirós, em artigo sobre o conto Violação, de Rodolfo Teófilo, chega a atribuir à vivência traumá- tica do autor – que, aos nove anos de ida- de, testemunhou uma epidemia de cólera em Maranguape – traços físicos e compor- tamentais que o marcariam para sempre: “Quem já viu um sorriso de Rodolfo? ” Tra- ços que também feririam sua literatura, como observa o mesmo acadêmico: “As cenas cruas da natureza e do mundo social são o ambiente onde o autor de Violação respira a longos haustos. Na sua paleta têm pouco relevo as cenas de inspiração suave, serena, risonha. Predominam as paisagens carregadas, os quadros tristes. É ele o ma- goado pintor dos painéis da seca. / O fero- císsimo cataclismo de 62 projetou-lhe no elevado espírito veladuras inapagáveis.” (QUEIRÓS, 1898, p. 236-237). Por sua vez, Rodrigues de Carvalho, ao fazer um balanço literário da produção cearense da década de 1890, divide sua opi- nião, entre reprovações e elogios, sobre a produção literária de Rodolfo Teófilo, reco- nhecendo que ele mantinha uma produção constante, que incluía “História da seca do Ceará; A fome (romance); Ciências naturais em contos; Botânica elementar: monografia da mucunã; Os Brilhantes (romance); Viola- ção (novela/conto); Maria Rita (romance)”, acrescentando a próxima chegada do ro- mance O paroara. Carvalho reconhece nele “um homem de ciência e um beletrista”, ad- mitindo que “os seus romances são cheios de vida pela imaginação, e estampam o meio e a época em que se dá a ação”. No en- tanto, não deixa de advertir que o autor “é descuidado na forma”, mas acaba por con- cluir que “a literatura do Ceará muito deve a este escritor” (CARVALHO, 1899, p. 195-198). É curioso que, sendo homem das ciências num momento de grande pres- -tígio cultural positivista, Rodolfo Teófilo não chega a ser o mais autêntico dos naturalistas. Sânzio de Azevedo recorda que ele havia debutado na literatura romântica: “Rodolfo Teófilo, que havia composto versos românticos na década anterior [1870], mas haveria de firmar-se como romancista” (AZEVEDO, p. 91). Para além dos versos juvenis, sua adesão ao Naturalismo “se exerceu mais pela apre- sentação eventual de cenas rebarbativas e pelo vocabulário científico, fruto de sua formação profissional (era botânico e far- macêutico) do que através dos enredos que, na maioria dos casos, são francamen- te românticos”. (AZEVEDO, 1982, p. 151) Também a Nélson Werneck Sodré não escapa o espírito romântico subjacente ao vocabulário de pretensões cientificistas e mesmo à crueza de certas passagens de tí- tulos como A fome, Violação e Os Brilhantes: “mas o hibridismo de seus livros, isto é, a parcela da herança romântica que sobrevi- via às tinturas formais de naturalismo, salta à simples observação” (SODRÉ, 1965, p. 195). Enfim, Sodré parece recuperar a crítica de José Veríssimo, que não foi tolerante com o descompasso entre o homem de ci- ências e o literato: “Os processos descriti- vos do autor, principalmente quando quer referir aos estados d’alma, têm a secura e o descolorido de um inventário ou de um corpo de delito. Cometendo um erro grave de ofício, o autor, como já notei, multiplica a terminologia da técnica médica e fisioló- gica. Assim dirá: ‘Brilhante se estirou à von- tade e a onda de sangue embaraçada em diversos pontos seguiu seu caminho até os capilares das extremidades do corpo’ [...]. ” [José Veríssimo, Estudos de literatura] (BARREIRA, 1948, p. 308). Talvez a grandeza humana tenha pou- pado Rodolfo Teófilo do sepultamento previsto em tom de lamento por Sodré: “As obras de Rodolfo Teófilo, assim, ficaram li- mitadas à província e o tempo as sepultou. Poderiam ter chegado até nós, entretanto, no conhecimento dos leitores, pela rique- za e pela variedade dos temas: o da seca, em A fome, de 1890, o da migração para a Amazônia, em O paroara, de 1889, o do cangaço, em Os Brilhantes, de 1895, os da servidão feudal e dos conceitos de honra familiar, em Maria Rita, de 1897. ” (SODRÉ, 1965, p. 196). Após uma vida de incansável produção, Rodolfo Teófilo veio a falecer em Fortaleza, no dia 2 de julho de 1932. Em reconhecimento, a Academia Cearense de Letras lhe dedica a cadeira número 33. A experiência literária de Antônio Sales (1868- 1940) também foi muito vasta, distri- Aves de Arribação, conforme Sânzio de Azevedo, foi publicada no Correio da Manhã (RJ) em 1903, retificando Dolor Barreira, Pedro Nava, Wilson Martins e Otacílio Colares, que apontavam o ano de 1902. 76 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE buída entre a poesia, o ensaio, a crônica e também o romance. No Ceará, estreou com seus Versos diversos, de 1890, tendo previa- mente contribuído n’A quinzena, do Clube Literário. Notabilizou-se pela idealização e fundação da Padaria Espiritual (1892), sendo o autor de seu famoso “Programa de Instalação”, onde assumiu o nome de “Moa- cir Jurema”: “Uma sociedade literária, como já se haviam fundado tantas, com um cará- ter formal de academia-mirim, burguesa, retórica e quase burocrática, era cousa para qual eu sentia uma negação absoluta. ” (SA- LES, 2010, p. 17). No Rio de Janeiro, partici- pou ativamente da imprensa literária e dos eventos iniciais da Academia Brasileira de Letras, embora não tenha assumido assen- to nessa agremiação. Assumiu a cadeira 20 da Academia Cearense de Letras. O romance é uma exceção no itinerário literário de Antônio Sales. A maior aproxi- mação de Antônio Sales com o a experiên- cia realista e naturalista se manifesta em Aves de arribação, já conhecido em folhe- tins do Correio da Manhã, jornal carioca, em 1903, e publicado em livro no ano de 1914. Dolor Barreira diz que Tristão de Ataíde identifica vínculos dessa obra com o Rea- lismo, pelas “semelhanças com Madame Bovary”, ao passo que Lúcia Miguel Pereira admite maior aproximação com o Natu- ralismo d’A normalista, certamente pelo estudo psicossocial do provincianismo: “Uma professora e um promotor represen- tam os elementos estranhos, que não só contrariam os hábitos antigos, como pro- vocam agitação e inquietação na pacatez provinciana. ” (BARREIRA, 1948, p. 551). A professora é Bilinha, o promotor é Alípio, esboçando-se um triângulo amoroso, em virtude da expectativa de casamento deste com Florzinha, filha do coletor da pacata Ipuçaba. O título pode induzir, pelo menos aos que não passam deste na leitura de uma obra, que se trata de mais um roman- ce da seca, mas, na verdade, simboliza a presença temporária de pessoas estranhas ao ambiente social, numa oposição assim proposta por Abelardo Montenegro: “o con- traste entre os processos sociais sertanejos e os processos sociais citadinos, o antago- nismo entre o matuto e o praciano, entre o requinte da civilização e a rudeza do mato, encarnando a antítese Florzinha – a donze- la sertaneja – e Bilinha, a demi-vierge lito- rânea” (BARREIRA, 1948, p. 553). Para Sodré, em Avesde arribação, “há uma aguda observação e boa fixação dos costumes, além do levantamento do qua- dro social” (SODRÉ, 1965, p.197). Mas tudo isso é sugerido com certo comedimento, como observa Otacílio Colares, um dos pre- faciadores da obra: “É uma estória sem tra- gédias flagrantes, de um sensualismo aqui e ali repontante mas velado, longe dos mol- des violentos dos livros de Adolfo Caminha e da rudeza crua das cenas e ambientes dos de Teófilo. ” (COLARES, 1979, p.XVIII) Após uma exaustiva revisão da crítica sobre essa obra, Sânzio de Azevedo consta- ta o sincretismo de sua elaboração: “A nos- so ver, o romance de Antônio Sales pode ser classificado como uma obra realista, dentro da qual podemos encontrar [...] ca- racterísticas regionalistas, naturalistas e psicológicas.” (AZEVEDO, 1982, p. 31). demi-vierge Meio virgem. Jovem bastante liberal nos modos, porém sem nunca ter tido relações sexuais”. (LAROUSSE, tradução livre). BOLACHINHAS Toda obra naturalista é realista, mas nem toda obra realista é naturalista. Cruz Filho revela que o poeta Matias de Araújo, personagem de Aves de arribação, seria o próprio Antônio Sales, e que a cidade-cenário Ipuçaba seria o Soure, hoje denominada Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. (AZEVEDO, 1982, p.34) MALACA CHETAS CURSO literatura cearense 77 Em síntese, trata-se de um exemplar do Impressionismo literário, já que a um na- turalista de raiz não escaparia o simbolismo, em que o inverno cearense, consolidado em abril, é assim louvado: “O marulho surdo das águas, rolando sobre as lajes do leito, acompanhava o grande coro das aves, cujas vozes, diferentes de som e de expressão, se harmonizavam no mesmo hosana em hon- ra da estação bendita. ” (SALES, 1979, p. 72). Aves de arribação foi publicada em fo- lhetim em 1903, embora tenha sido escrita ainda em 1897 – afirmação de Azevedo, a partir da afirmação da viúva de Sales a Abe- lardo Montenegro, em O romance cearense – e publicada em livro em 1914. Ao final da apresentação da primeira edição, escreve o autor: “[...] A crítica encontrará, por certo, neste trabalho, muitas falhas e inexperiên- cias que já são sensíveis para mim, agora; mas encontrará também, espero, páginas em que estão pintados fielmente alguns as- pectos e alguns costumes desta minha ter- ra, tanto mais sofredora quanto mais queri- da”. (AZEVEDO, 1982, p.33) De vida mais longeva temos Pápi Júnior (1854-1934). Nascido no Rio de Janeiro, o autor participou do Clube Literário e do Cen- tro Literário. Em 1897 organizou o Clube de Diversões Artísticas, com apresentações no Teatro Iracema. É autor de peças de te- atro e prosa de ficção (contos e romances). Sua obra mais apreciada pela crítica é seu romance inaugural, O Simas (1898). Pedro Queirós identifica nessa obra traços do ro- mance documental, pela verossimilhança: “tão aparentemente real que se presume não passar as folhas de uma ficção, mas a narrativa de um fato verdadeiro engenhosa- mente escrita.” (QUEIRÓS, 1898, p. 240). No entanto, Nélson Werneck Sodré não vê prosseguimento na proposta naturalis- ta do autor: “Pápi Júnior, que escreveu O Simas, em 1898, à base da reconstituição, descambaria para o romantismo inequí- voco, adiante, de sorte que Os gêmeos, de 1914, completamente fora de época, cons- titui ostensivo desmentido aos que preten- dem incluí-lo entre os naturalistas”. (SODRÉ, 1965, p. 196) Para Carlos d’Alge, é possível fazer uma correlação entre os romances de Eça de Queirós e O Simas: “Assim como n’O primo Basílio, a Juliana descobre as cartas amorosas de Luísa; n’A relíquia, há a troca de embrulhos; e n’Os Maias, chega de Pa- ris, um senhor que traz displicentemente uma caixa de charutos; n’O Simas, uma car- ta ocasional feita sob emoção precipita os acontecimentos. ” (D’ALGE, 2001, p. 56). Por sua vez, Sânzio de Azevedo não hesita no enquadramento naturalista d’O Simas: “Obra naturalista, cuja personagem central é um sedutor sem escrúpulos, um aventureiro de simpática aparência, mas de baixa extração moral, dificilmente dei- xaria de sofrer a influência do mestre que a todos empolgava na época: Eça de Quei- rós.” (AZEVEDO, 1982, p.152) Também re- conhece como qualidade desse romance o fato de não se exceder nos chavões na- turalistas: “Mas, apesar de seu intuito na- turalista, Pápi Júnior soube fugir daquele radicalismo deformante que faz com que, nalgumas obras da corrente, todas as personagens mergulhem, sem exceção, na mesma lama.” (AZEVEDO, 1982, p. 155). Azevedo lamenta que, provavelmente por ser pouco conhecida, a obra quase nun- ca é citada quando se estuda o romance realista-naturalista brasileiro. Octogenário, Pápi Júnior faleceu em Fortaleza em 30 de novembro de 1934. Na Academia Cearense de Letras, ele é o patrono da cadeira de número cinco. Domingos Olímpio (1851–1906), dife- rentemente dos demais autores que estu- damos até aqui, não fez da capital cearense palco para suas incursões literárias. Enquan- to esteve no Ceará, foi em Sobral que deixou alguma contribuição. Foi em sua terra natal que ele participou das rodas intelectuais e literárias, na União Sobralense. No lança- mento da pedra fundamental do Teatro São João, foi Domingos Olímpio quem discursou. Depois, se transferiu para a capital paraense, daí transferindo-se definitivamente para o Rio de Janeiro, tendo colaborado na im- prensa local e mesmo fundado seu próprio semanário, Os Anais (1904-1906), logo depois de publicar Luzia-Homem (1903). No exílio carioca, foi esse livro que o reintegrou à terra para onde ele jamais voltaria. Percebe-se, por seu exemplo, uma cen- tralidade das agremiações em Fortaleza, mas é importante lembrar que muitas ou- tras surgiram na segunda metade do sécu- lo dezenove em outras cidades no Ceará. Tudo indica que não houve grande comu- nicação entre as associações culturais in- terioranas e as da capital. PASSANDO A LIMPO Assim como a obra Simas, apontada por Nestor Victor como um dos “melhores romances que se tem produzido no Brasil” (AZEVEDO, 1976, 126), muitas outras publicadas em pequenas tiragens ou mesmo em única edição, ou publicadas por editoras locais, sem experiência de distribuição, nascem e morrem no Ceará desde sempre. Hoje, a insistente ausência de boas casas editoriais no estado, além de poucas estratégias de incentivos de publicações dessas obras por órgãos da cultura ou universitários, associados ao completo desconhecimento do patrimônio literário cearense, contribuem para manter a produção e a historiografia literária apartada dos estudos da Literatura Brasileira. 78 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Apesar de ter produzido peças de teatro, contos e mesmo outros romances, deve-se à Luzia-Homem sua consagração literá- ria. Surgido num momento de redescoberta do Brasil, nas primeiras décadas da Repúbli- ca, esse romance tem correlação com obras regionalistas, seja na ficção, como Canaã, de Graça Aranha, seja no jornalismo literário, como Os sertões, de Euclides da Cunha, am- bos os títulos publicados no ano anterior da obra capital de Domingos Olímpio. Ambientado em Sobral, o enredo traz um flagrante do segundo ano da grande seca, iniciada em 1877. Típica do Impressionis- mo literário, caracterizado pelo sincretismo de tendências literárias do século anterior, o romance desafiou críticos da grandeza de Lúcia Miguel Pereira, que hesitou entre a admiração e a insatisfação com a obra, cuja heroína assim interpretou: “Essa heroína, alma feminina prisioneira de um corpo más- culo, viveu o drama de Hermafrodite.” Mesmo insatisfeita com a construção da obra, seja pelo rebuscamento da linguagem, seja pela discordância com a metamorfose da protagonista, ela acaba capitulando: “As BOLACHINHAS descaídas de forma e mesmo de estrutura não impedem Luzia-Homem de ser realmente forte, denso e verdadeiro. Da obra de Domin- gos Olímpio, só ele permanece: mas basta para assegurarao autor um lugar destacado na nossa literatura. ” (PEREIRA, 1988, p. 204) O romance tem do Naturalismo apenas o compromisso documental, com o regis- tro de cenas, como a da frente de serviço que levantou o prédio da cadeia pública de So- bral, de crianças mortas de fome na cidade onde a família sertaneja veio buscar socorro do flagelo da seca, além da denúncia de cor- rupção de quem deveria zelar pela segurança pública, como é o caso do soldado Crapiúna. No entanto, a documentação não tem a frie- za pretensiosamente científica, como com- prova a exuberância discursiva, com descri- ções ricas em sugestões sensoriais. No mais, o idealismo romântico lhe serve de base, particularmente no trato do gênero feminino, cujo simbolismo trágico metaforiza a própria terra cearense, entre os extremos da seca e a opulência das quadras chuvosas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluímos nosso módulo com a certeza de que teríamos outros nomes para discorrer, e com mais análises, mas o espaço não nos permite. Esperamos, todavia, que você faça uso de nossa Biblioteca Virtual, ampliando o seu conhecimento sobre autor e obra. Procu- re os títulos possíveis em bibliotecas, sebos virtuais, editoras, casas especializadas e pro- cure lê-los. Não se contente com sinopses, resenhas e críticas. A SUA LEITURA e a sua reflexão sobre ela é o mais importante. Apro- prie-se e alimente-se. E por falar em alimen- tar-se, quem quer pão? Você? Então espere o próximo módulo, que vem quentinho! Herman Lima (1897-1981) escreveu contos, romance, livros de viagem, sobre caricaturas (uma paixão), ensaios/ crítica literária, biografia e de memórias. Entre as suas obras, Tigipió (1924) – que teve adaptação do conto homônimo para o cinema em 1986 –, realista com características regionalistas, naturalistas e psicológicas. Azevedo nos fala sobre a obra: “Publicado na Bahia, Tigipió, além de enfeixar contos onde está presente a terra cearense, foi todo escrito aqui, sob o influxo das leituras de Afonso Arinos e Gustavo Barroso, sendo uma das mais representativas obras da ficção cearense, em todos os tempos”. (AZEVEDO, 1976, p.150 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A QUINZENA. Fortaleza: Centro Literário, 1887-1888. AZEVEDO, Sânzio de. Aspectos da Literatura Cearense. Fortaleza: Edições UFC/Proed e Academia Cearense de Letras, 1982. AZEVEDO, Sânzio de. Literatura Cearense. Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1976. AZEVEDO, Sânzio de. Álvaro Martins. Revista da Academia Cearense de Letras, Fortaleza, v. 76, n. 36, p.207-209, 1975. BARREIRA, Dolor. História da Literatura Cearense. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1987[1948]. 4.v. CARVALHO, Rodrigues de. Ceará Literário: nestes últimos dez anos. Rodolfo Teófilo. Revista da Academia Cearense de Letras, v. 4, p. 190-191,1899. CARVALHO, Rodrigues. 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CURSO literatura cearense 79 Realização Apoio Patrocínio FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Marcos Tardin Gerente Geral Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Viviane Pereira Gerente Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Educacional CURSO LITERATURA CEARENSE Raymundo Netto Coordenador Geral, Editorial e Estabelecimento de Texto Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo Emanuela Fernandes Assistente Editorial Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico Miqueias Mesquita Diagramador Carlus Campos Ilustrador Luísa Duavy Produtora ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção) ISBN: 978-65-86094-28-2 (Fascículo 5) Este curso é parte integrante do programa Circuito de Artes e Juventudes 2019, Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania. Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br AUTOR José Leite Jr. É licenciado em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), com mestrado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), doutorado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Ensinou na Uece e na Universidade de Fortaleza (Unifor). Desde 2006 é docente do Departamento de Literatura da UFC, participando do quadro efetivo do Programa de Pós- Graduação em Letras. Coordena o Grupo de Estudos de Semiótica Literária, ligado ao Grupo de Estudos Semióticos da UFC (Semioce). É autor de obras entre poesias e ensaios. É ilustrador e artista plástico, tendo realizado exposições individuais e coletivas, participado de salões e de curadorias. ILUSTRADOR Carlus Campos Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na construção do seu trabalho, aborda várias técnicas como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção gráfica ganhou prêmios em salões de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
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