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Literatura cearense

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CURSO 5
José Leite Jr.
Juntou a Fome 
com Vontade de Ler
o Realismo e o Naturalismo
Realização
c
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a
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e
n
s
e
1.
PEQUENAS 
REVOLUÇÕES
s últimas décadas do sé-
culo dezenove foram defi-
nitivas para a instituciona-
lização cultural no Ceará. 
Comparado com a informa-
lidade da Academia Fran-
cesa do Ceará, de 1873, o 
Clube Literário, de 1886, 
teve maior estabilidade 
funcional, com reuniões 
literárias regulares e periódico próprio, A 
Quinzena. Logo em seguida, em 1887, mas 
com propósitos científicos, seria fundado o 
Instituto do Ceará. Na última década des-
se século, surgiram a Padaria Espiritual, 
de 1892, o Centro Literário e a Academia 
Cearense (de Letras), ambos de 1894. Conti-
nuam até os dias atuais tanto o Instituto do 
Ceará como a Academia Cearense de Letras.
No contexto cearense, literatura e ciên-
cia são parceiras históricas, convocadas 
que são a decifrar a mesma sociedade desi-
gual, tendo prestado relevantes serviços na 
abolição da escravatura e na compreensão 
dos efeitos sociais e endêmicos das secas. 
O universitário de hoje deve lembrar-se que 
recebeu toda uma herança científica de fi-
guras como Rodolfo Teófilo e de Guilher-
me Studart, que participaram ativamente 
de algumas dessas agremiações oitocen-
tistas. O estudante que hoje lê obras como 
Dona Guidinha do Poço ou A normalista, 
para dar apenas dois exemplos, não pode 
esquecer que seus respectivos autores, Oli-
veira Paiva e Adolfo Caminha, surgiram 
nesse decisivo contexto histórico.
Num tempo de grandes transformações, 
é importante que se diga, abriu-se espaço na 
cena intelectual a setores socialmente des-
prestigiados. As agremiações, coerentes com 
ascendência abolicionista e índole republi-
cana, acolhiam os filhos do povo, a exemplo 
de comerciários e pequenos funcionários pú-
blicos, como foram Antônio Sales e Álvaro 
Martins (MARQUES, 2018). Quebrando todo 
um paradigma histórico, também as mulhe-
res começaram a ocupar espaços num am-
biente marcadamente masculino, a exemplo 
de Francisca Clotilde, pioneira num século 
de pioneirismo civilizatório.
Quer saber mais? Aprochegue-se!
66 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
2.
LITERATURA 
EM DOSE TRIPLA: 
REALISMO, 
NATURALISMO E 
IMPRESSIONISMO
conjunto das transforma-
ções sociais e econômicas 
do século dezenove teve 
um impacto inegável na 
produção artística e lite-
rária do Ocidente. Mesmo 
em uma condição perifé-
rica, o Brasil sofreu essa 
influência, aclimatando-a 
ao nosso meio. Prova dis-
so é a transição do Romantismo para o Re-
alismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. 
No entanto, é importante destacar, essa 
transição não se operou uniformemen-
te, não sendo razoável, feita uma simples 
leitura da produção das três últimas déca-
das do século dezenove e primeiras do sé-
culo vinte, compor um quadro esquemá-
tico, uma divisão rigorosa entre traços 
românticos e realistas, naturalistas 
e parnasianos. Afinal, essas tendências 
têm uma origem comum: a revolução 
burguesa, cujo paradigma histórico se 
constituiu com a Revolução Francesa e a 
centralidade cultural exercida pela França. 
Em síntese, “O romantismo foi o meio de 
expressão próprio da ascensão burguesa; 
o naturalismo seria o de sua decadência. ” 
(SODRÉ, 1965, p. 18).
Assim, quando se fala numa periodiza-
ção literária, o que importa são tendên-
cias, jamais consensos. Nesse sentido, 
há românticos que parecem antecipar o 
Realismo e há realistas que não escon-
O poeta pernambucano Alf. Castro 
(1873-1926) é considerado por Sânzio 
de Azevedo como “o representante 
mais legítimo e ortodoxo da pura arte 
parnasiana na literatura cearense”. 
Em 1908, realizou a primeira sessão da 
agremiação literária Plêiade, de breve 
existência. Nela, o presidente seria 
o dono da casa onde se realizaria a 
referida sessão (revezavam).
dem páginas românticas. Não seria fora 
de propósito a concepção de um grande 
Romantismo, que, diante do cientificismo, 
experimentou uma transição de uma arte 
idealista para a materialista. 
A mesma prudência se impõe sobre a 
diferença entre o Realismo e o Naturalis-
mo, já que ambas as tendências represen-
tam uma inclinação ao materialismo po-
sitivista, sendo aquele mais introspectivo 
e este mais social. 
O Realismo é uma primeira reação 
ao Romantismo, vindo o Naturalismo am-
pliar esse afastamento, contrapondo-se às 
concepções materialistas e cientificistas 
ao idealismo romântico. Vale lembrar que 
a denominação de Naturalismo baseia-
-se na ideia de que todos os elementos 
da natureza estão sujeitos às mesmas 
leis, portanto o ser humano – e as perso-
nagens literárias – sofreriam as mesmas 
determinações impostas pelo meio e fato-
res hereditários, a depender da deflagração 
de acontecimentos condicionantes. É bas-
tante conhecida esta analogia que Émile 
Zola (1840-1902) faz na segunda edição de 
Thérèse Raquin, romance inaugural do Na-
turalismo no mundo: “Eu simplesmente fiz 
sobre dois corpos vivos o trabalho analítico 
que os cirurgiões fazem sobre cadáveres. ”
MALACA 
CHETAS
CURSO literatura cearense 67
Um dos mais importantes autores da se-
gunda metade do século dezenove, Eça de 
Queirós (1929) afirmava que existia um mo-
vimento geral na arte que se opera, ao longo 
da história, numa tensão entre a tendên-
cia idealista e a realista. O idealismo seria 
a arte baseada na imaginação, enquanto o 
realismo se constituiria pela documentação. 
Assim, no Ceará, o Romantismo teve sua 
nota dominante idealista, com Lendas e can-
ções populares, de Juvenal Galeno, ou com 
Iracema, de José de Alencar, ambas publica-
das em 1865, mas abrangeu uma tendência 
realista, a exemplo de O Cabeleira, de Franklin 
Távora, publicado em 1876. Por seu turno, no 
Realismo e Naturalismo houve trabalhos mais 
ortodoxos, como A normalista, de Adolfo Ca-
minha, romance de 1893, ao lado de outros, 
um tanto sincréticos, como o Luzia-Homem, 
de Domingos Olímpio, lançado em 1903.
Pelo menos em sua proposta original ou 
próximo disso, o Naturalismo no Brasil não 
conheceria o século vinte: “O lustro 1890-95 
pode, assim, servir perfeitamente para fixar 
a fase mais alta do naturalismo, entre nós. 
Daí por diante começará a declinar: não 
apresentará mais nenhum livro de valor 
destacado ou mesmo de tipicidade. Com 
O cortiço, O missionário e os dois romances 
de Adolfo Caminha [A normalista e Bom-
-crioulo], realmente, a nova escola oferecia 
o melhor de si.” (SODRÉ, 1965, p. 188).
Para Sânzio de Azevedo, o cientificismo, 
principal característica da escola Natura-
lista, nas letras cearenses já era perceptível 
na Academia Francesa (AZEVEDO, 1982, p. 
150). Mas a onda positivista, evolucionista e 
determinista parece não ter afugentado o es-
pírito romântico, a julgar pela produção em 
prosa e verso nas agremiações sucessivas, 
como o Clube Literário e o Centro Literário, 
e periódicos da época: “Folheie-se qualquer 
número do Libertador, desse tempo, e será 
fácil ver-se a presença avassaladora do 
Romantismo [...].” (AZEVEDO, 1982, p. 151). 
Vale ainda ressaltar, como ensina Arnold 
Hauser (1972), que o Naturalismo transitou 
para o Impressionismo, que parece preferir 
o flagrante ao documento e a impressão 
à simples constatação da realidade, no 
que resulta uma arte mais introspectiva e 
rica em efeitos estilísticos e sugestões sen-
soriais. Enfim, tais características avançam 
sobre o século vinte, tendo repercussões 
no segundo momento do Modernismo, 
inclusive unindo propostas ideológicas 
contrárias, como a produção de Rachel 
de Queiroz e a de Gustavo Barroso, che-
gando a exemplos mais posteriores, como 
Herman Lima, Moreira Campos, Batista de 
Lima, entre outros expoentes literários.
3.
QUANDO 
A PRINCIPAL 
ARMA É O 
LIVRO: O CLUBE 
LITERÁRIO
uma cidade servida por 
apenas duas livrarias e uma 
biblioteca pública, inau-
gurada em 1867, o Clube 
Literário representou um 
acontecimento naquela 
Fortaleza que não chega-
va a vinte mil habitantes, 
ocupando a área entre as 
atuaisavenidas Duque de 
Caxias, Dom Manuel e Imperador. A novidade 
saiu na edição de 16 de novembro de 1886 do 
Libertador, dando conta de que na véspera 
houvera sua sessão inaugural, presidida por 
Antônio Bezerra. Conta a matéria que o grupo 
preparava seus estatutos e teria seu periódi-
co, A Quinzena. São identificados os funda-
dores: “João Lopes, seu principal fundador e 
animador, Antônio Bezerra, Antônio Martins, 
Oliveira Paiva, José Olímpio, Abel Garcia e 
José de Barcelos.” (BARREIRA, 1948, p.116). 
Em pouco tempo foram aderindo outros inte-
ressados, entre os quais Juvenal Galeno, Jus-
tiniano de Serpa, Farias Brito, Rodolfo Teófilo 
e, em contraponto a tantas figuras masculi-
nas, a educadora Francisca Clotilde. 
O primeiro número de A Quinzena saiu no 
sábado, 15 de janeiro de 1887. As palavras de 
João Lopes, no texto de abertura do periódi-
co, mostram a consciência do desafio cultu-
ral: “Não faltará quem considere arriscado, 
temerário mesmo, este empreendimento a 
68 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
que nos abraçamos. ” Para ele, mesmo “na 
capital do império […] o meio não é propí-
cio às letras e às publicações exclusivamente 
literárias”. Oliveira Paiva, na edição de 31 de 
julho de 1887 de A Quinzena, considera a di-
fusão cultural como uma questão de pa-
triotismo: “Nada é tão capaz de fomentar o 
patriotismo e acender os brios de uma Nação 
como a literatura. ” Nessa guerra patriótica, a 
principal arma seria o livro: “O Livro acom-
panha o indivíduo onde quer que ele vá. Cus-
ta-lhe barato. Que mais? Deve ser uma arma 
para o cearense.” Propondo a divisa “O livro 
é a palavra em ação”, o futuro autor de Dona 
Guidinha do Poço prometia derrotar, “de bas-
tilha em bastilha, a tirania da ignorância”.
A dinâmica de funcionamento do grupo, 
com a leitura de novidades chegadas a Forta-
leza e a apresentação de temas eruditos, liga-
va as gerações entre si e conectava a provín-
cia ao mundo literário brasileiro e europeu. 
A experiência de estreia nesse ambiente é 
assim lembrada por Antônio Sales: “Um dia 
escrevi um soneto – que meti por baixo da 
porta da redação, firmando com um pseudô-
nimo. O soneto foi publicado, e então apre-
sentei-me e fui incorporado ao dito grupo...” 
Na avaliação de Dolor Barreira, “O Clube Lite-
rário […] foi, em todas as oportunidades, fiel 
ao seu programa de incentivar, por todos os 
modos, o levantamento do nível intelectual 
do Ceará” (BARREIRA, 1948, p.121-123).
O Clube Literário, tão regular em suas ati-
vidades, não sustentou a A Quinzena além de 
junho de 1888. Uma das últimas notícias de 
atividade da agremiação ainda apareceria n’A 
República, em 4 de outubro de 1894, avisando 
que, à noite, haveria uma reunião do Clube 
Literário na sede do Clube Cearense. “De uma 
forma ou de outra, tenham durado mais ou te-
nham durado menos, o certo é que foi marcan-
te a influência que o Clube Literário e A Quinze-
na [...] exerceram na incrementação da nossa 
riqueza literária. ” (BARREIRA, 1948, p.126).
Oliveira Paiva, além de exímio 
romancista, também foi autor 
de contos, sendo muitos deles 
conhecidos primeiramente através 
d’A Quinzena. Sânzio de Azevedo, em 
Aspectos da Literatura Cearense, traz 
um estudo sobre essa verve pouco 
estudada do autor, posteriormente 
também perquirida por Nilto Maciel 
em Contistas do Ceará. Muitos 
historiadores ainda desconhecem os 
contos de Oliveira Paiva. Em História 
Concisa da Literatura Brasileira, Alfredo 
Bosi, por exemplo, não se refere ao 
contista Oliveira Paiva, embora o 
considere “prosador terso, que sabia 
descrever e narrar com mão certeira e 
intervir no momento azado com talhos 
irônicos de inteligência fina e crítica”. 
O que nos demonstra que 
muitos caminhos ainda temos 
para conhecer e pesquisar sobre 
os escritores cearenses.
MALACA 
CHETAS
CURSO literatura cearense 69
4.
A QUINZENA
Quinzena circulou de 15 
de janeiro de 1887 a 10 
de junho de 1888, sendo 
impresso na mesma tipo-
grafia do Libertador. Man-
tiveram-se suas oito pági-
nas ao longo das trinta 
edições. Para quem ima-
ginasse que um periódico 
com essas características 
tipográficas não valesse os seis mil-réis de 
uma assinatura anual, assim alertou a nota 
publicada no Libertador de 19 de maio de 
1887: “De proporções modestas, A Quinze-
na vai, contudo, rompendo galhardamente 
a espessa camada do indiferentismo públi-
co por tudo quanto é exclusivamente lite-
ratura e cremos que conquistará em breve 
posição segura e estável entre as folhas li-
terárias do país. ” (BARREIRA, 1948, p.118).
Sobre a distribuição de assuntos, toma-
-se aqui, a título de exemplo, o primeiro 
número do periódico. Assumem a redação 
João Lopes, Antônio Martins, Abel Garcia, 
J. de Barcelos e José Olímpio. É ainda João 
Lopes quem assina o editorial – “Expedien-
te. Preliminares” –, com a proposta do jor-
nal no âmbito do Ceará e sua correlação 
com a imprensa literária nacional. 
Em seguida vem a primeira parte do 
artigo “Origem da palavra Ceará”, assina-
do por Paulino Nogueira, que teria conti-
nuidade no número seguinte. Depois lê-
-se o soneto “Lumen-Numen”, de Virgílio 
Brígido, texto de feição marcadamente 
romântica, que termina com uma sines-
tesia: “Tudo penso escutar, quando em 
teus olhos / Vejo esse raio límpido luzir 
/ Iluminando a noite que me envolve.” 
Contrastando com as imagens enamora-
das do soneto, aparece “Corda sensível”, 
um pequeno conto de Oliveira Paiva, que, 
sob pretexto de narrar a traquinagem de 
crianças, serve de exercício naturalista, 
como revela o desfecho, que flagra um 
parto de ratinhos, inocentemente aco-
lhidos pela pequena filha de um coro-
nel, numa analogia entre a maternidade 
humana e a animal. Da incipiente expe-
riência naturalista, a leitura volta ao Ro-
mantismo de Juvenal Galeno, com “O re-
gresso”, balada em décimas, cujo enredo 
descreve uma cavalgada de retorno à casa 
paterna em meio ao cenário sertanejo. 
70 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Passado o idílio romântico, vem a crônica 
de “Os quinze dias”, neste número assina-
da por Antônio Martins (normalmente a 
seção caberia a João Lopes), que recorda 
a exitosa campanha abolicionista cearen-
se, reflete sobre o problema das endemias 
e reprova certo pacto conciliatório na po-
lítica local. Fechando a edição, vêm dois 
poemas de Justiniano de Serpa: o primei-
ro é “A escola”, com suas cinco quadrinhas 
de sete sílabas, e o sonetilho “As crianças”, 
peças que remontam ao moralismo algo 
piegas das velhas crestomatias. 
Como se vê, as oito páginas conciliam te-
mas, gêneros e autorias díspares. Nos textos 
propriamente literários, nota-se claramente 
uma oscilação entre o que sobrou do Ro-
mantismo e o que ainda falta do Naturalis-
mo. No geral, a nota dominante é mesmo 
o Ceará, considerado com ufanismo por 
João Lopes, examinado pela onomástica 
de Paulino Nogueira, cantado nos versos 
sertanejos de Juvenal Galeno e sancionado 
pela crônica política de Antônio Martins.
Nesse primeiro número de A Quinzena 
ainda não aparecia Francisca Clotilde. Seu 
primeiro texto no periódico vem assinado 
com o pseudônimo “Jane Davy”, na edição 
de 15 de abril de 1887. Trata-se do conto 
“Mors Amor”, que parece homenagear o so-
neto homônimo de Antero de Quental (um 
dos mais lembrados de Sonetos, de 1861). 
Mas a homenagem fica por aí, pois o conto 
de Francisca Clotilde ainda tem uma escrita 
iniciante, num enredo que reedita a tragé-
dia do amor entre jovens de classes sociais 
distintas: “Mas uma distância imensa os 
separava. Ela era rica e nobre, ele pobre e 
obscuro.” Noutros números, assinando com 
o próprio nome, aparecem outros contos, 
como “Brincar com cinza” e “A enjeitada”, 
a poesia, a exemplo dos sonetos “Deserto” 
e “Homenagem” (este dedicado à poetisa 
Ana Nogueira, também colaboradora de A 
Quinzena), o ensaio, em que se encaixa “Vic-
tor Hugo”, e mesmo a tradução, que é o caso 
de “O Luís de ouro”, versão em português 
Crestomatias
Antologias, coletâneascom textos em prova e/
ou versos, geralmente 
com fins didáticos.
Onomástica
Estudo linguístico 
dos nomes próprios.
Entre 1898 a 1902, o poeta cearense 
José Albano (1882-1923) esteve em 
Fortaleza, após longo período na 
Europa. Frequentou o Centro Literário, 
publicando em 1901 n’A República. 
Tão “inclassificável” e diferente para sua 
época ele parecia, que Manuel Bandeira, 
em sua Apresentação da poesia brasileira, 
diria que “temos que dar atenção à 
figura singular de José de Abreu Albano; 
singular porque inteiramente fora dos 
quadros da poesia brasileira”.
Sânzio de Azevedo, que nos 
conta essa história, traduz: “Figura 
naturalmente excêntrica, [...] é dotado 
de uma genialidade vizinha da loucura 
(que afinal iria nublar-lhe o fim da 
existência.” (AZEVEDO, 1982, p.59) 
Vale a pena conhecer e estudar 
as suas Rimas.
Embora Francisca Clotilde tenha 
participado do Clube Literário 
e tenha escrito n’A Quinzena, 
responsáveis por acolher autores 
realistas como Oliveira Paiva, a 
autora, como vimos no módulo 
anterior, não é considerada uma 
escritora realista e sim romântica. 
Mesmo seu mais famoso livro, A 
divorciada, de 1902, é também uma 
obra romântica e diferentemente 
do que muitos proclamam por aí, 
o enredo não traz propriamente 
bandeiras feministas para 
além do próprio mote da 
obra: o divórcio. Aliás, o tema é 
colocado para o(a) leitor(a) de uma 
forma quase compulsória para a 
personagem principal que se vê 
abandonada pelo marido alcoólatra, 
mas que tenta de todas as maneiras 
reaver o seu matrimônio, conferindo 
à personagem características 
das heroínas românticas que tudo 
sofriam e suportavam em nome 
do amor. Você pode ler A divorciada 
na sua Biblioteca Virtual do AVA.
de um conto natalino de François Coppée. 
Ainda não é a romancista de A divorciada, 
claro, mas foi na tolerância dessas experi-
ências que se provou seu talento literário. 
Não parece ser outra a avaliação de Sân-
zio de Azevedo, sobre o papel d’A Quinzena 
na revelação de novos escritores: “Ao lado de 
poemas românticos de Juvenal Galeno e das 
narrativas, igualmente românticas, de José 
Carlos Júnior ou “Jane Davy” (Francisca Clo-
tilde) surgiam os contos cientificistas de Ro-
dolfo Teófilo; o Realismo despontava, porém, 
com mais força e arte através dos contos 
de Oliveira Paiva. ” (AZEVEDO, 1976, p. 91)
SABATINA MALACA 
CHETAS
CURSO literatura cearense 71
5.
O CENTRO 
LITERÁRIO
ano de 1894 foi duplamente 
contemplado nas letras do 
Ceará. No dia 15 de agosto, 
era fundada a Academia 
Cearense (de Letras) e, no 
dia 27 de setembro, surgia o 
Centro Literário. 
Os cearenses ficaram sa-
bendo da existência de uma 
nova agremiação literária, em Fortaleza, pelo 
jornal A República: “Com a epígrafe acima (Cen-
tro Literário) foi instituída uma agremiação dos 
nossos rapazes de letras, cujo escopo é fomen-
tar o estímulo e o desenvolvimento literário, 
atualmente tão descurado entre nós. ” (BAR-
REIRA, 1948, p.226). Na mesma notícia vinha 
a relação dos sócios fundadores, alguns dos 
quais já conhecidos do Clube Literário, como 
Juvenal Galeno, Farias Brito, José Olímpio, Ál-
varo Martins, Pápi Júnior e Rodolfo Teófilo.
BOLACHINHAS
MALACA
CHETAS
Quintino Cunha, orador, poeta e 
contista, figurava na lista de sócios-
fundadores do Centro Literário. Por 
sua personalidade singular e tão 
anedoticamente divulgada, cremos 
não precisar nos deter aqui sobre ele.
O Centro Literário teve o cuidado de 
deixar uma mensagem para o futuro, 
que só poderia ser aberta na passagem 
de 2000 para 2001, “para que as 
gerações vindouras possam avaliar 
com que devotamento o Ceará cultiva 
os cometimentos da inteligência”. 
(BARREIRA, 1948, p. 241-242)
Ao longo de seus dez anos de ativida-
des, muitas foram as adesões, tendo presi-
dido o Centro Literário os seguintes sócios: 
Temístocles Machado, Guilherme Studart, 
José Lino da Justa, Pápi Júnior e Rodrigues 
de Carvalho. (BARREIRA, 1948, p. 256). Os 
relatos históricos apontam como origem 
do Centro Literário uma dissidência da 
Padaria Espiritual. O próprio Antônio 
Sales, fundador da Padaria, confirma essa 
versão: “Uma cisão operada na Padaria 
com a retirada de Álvaro Martins e Temís-
tocles Machado determinou a criação de 
uma outra associação que tomou o nome 
de Centro Literário. ” (BARREIRA, 1948, 
p.230). Um dia após a fundação do Centro 
Literário, segundo Mário Linhares, “a Pada-
ria aprovava as exclusões de Temístocles 
Machado e Álvaro Martins”. (BARREIRA, 
1948, p.230). Dolor Barreira faz uma ava-
liação positiva da rivalidade dos centristas 
com os padeiros, pois quem acabou lu-
crando com a animosidade foi a cultura 
cearense: “As duas sociedades literárias, 
muito louvavelmente, tudo fariam, sob o 
ponto de vista intelectual, para suplantar e 
avantajar-se uma à outra...”
72 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
É notória a organização do Centro 
Literário, a julgar pela elaboração de sua “Lei 
Orgânica” e a constituição societária. Dentre 
os sócios correspondentes, estavam nomes 
consagrados da crítica literária, como Sílvio 
Romero e Araripe Júnior, o poeta parnasia-
no Alberto de Oliveira, o gramático João 
Ribeiro e o romancista Adolfo Caminha. A 
mesma lista inclui as irmãs Julieta de Melo 
Monteiro e Revocata Heloísa de Melo, pio-
neiras da imprensa feminina gaúcha.
As finalidades da agremiação não dei-
xavam de ser pragmáticas, como a realiza-
ção de conferências abertas, finanças para 
edição de obras dos associados, correspon-
dência com sociedades congêneres, dentre 
outras. Houve preocupação com um espa-
ço cultural aberto ao público, deixando-se 
“o livro ao alcance de todos, no meio da 
rua”. (BARREIRA, 1948, p.234). 
No entanto, havia seus excessos, como 
o projeto de mudança do nome da capi-
tal, que passaria de “Fortaleza” para “Ira-
cema”. Os centristas veneravam Alencar. 
As sessões começavam normalmente com 
assuntos relativos à organização, seguin-
do-se de uma “parte literária”, com leitura 
de textos dos mais diversos gêneros. Era 
comum a reunião terminar com certa ani-
mação, quando Alvarins (Álvaro Martins) 
declamava trovas e triolés, para a diver-
são ou emoção dos presentes.
Importante mencionar a única presença 
feminina no Centro Literário, a de Alba Val-
dez, que posteriormente, em 1922, se tor-
naria a primeira mulher a ingressar na Aca-
demia Cearense de Letras como estudamos 
no módulo anterior. Entre as sessões sole-
nes da agremiação, talvez a mais destacada 
tenha sido a homenagem a José de Alencar 
nos dezoito anos de seu falecimento. Tam-
bém havia sessões fúnebres, como aquela 
em memória de Adolfo Caminha. Não faltou 
a sessão de passagem do século, aberta ao 
público, com a banda da Escola de Aprendi-
zes Marinheiros, queima de fogos e o discur-
so filosófico de Farias Brito. 
Triolé (triolet)
Poema de forma fixa, 
com estrofe(s) de 
oito versos em que 
o primeiro verso se 
repete como quarto e 
sétimo, e o segundo, 
como último.
6.
SÓ A ARTE 
IMORTALIZA: A 
REVISTA IRACEMA
revista Iracema “apareceu a 2 de 
abril de 1895, sob a redação de 
Pedro Muniz e Júlio Olímpio, en-
cimando-a esta divisa: ‘Só a Arte 
imortaliza’”. (BARREIRA, 1948, p. 
238). Os seis primeiros números 
da Iracema foram quinzenais. A 
partir do sétimo, a periodicidade 
passou para ser trimestral, extin-
guindo-se ao final do ano de 1896. Além do pe-
riódico, foram publicados livros dos associados.
Não seria razoável concluir que uma asso-
ciação tão diversificada tenha chegado a uma 
unidade programática, mas é possível inferir al-
gumas linhas gerais. Uma delas é o regionalis-
mo, conforme identificado por Artur Azevedo, 
quando liga o poemeto Pescadores da Taíba, 
de Álvaro Martins, ao sertanismo poético de 
Juvenal Galeno. Há também um ufanismo, 
com as variantes nacional e local, ao que tudo 
indica ideologicamente vinculado ao projeto 
civilizatório republicano, que assim traduz Ro-
drigues de Carvalho: “Bem se vê que há um 
plano para a uma literatura muito nossa,mol-
dada sobre a etnografia, o meio ambiente, a 
civilização enfim.” (BARREIRA, 1948, p. 256). 
Em relação aos estilos de época, não faltaram 
propostas realistas e naturalistas, a exemplo 
dos conto “Romântica”, de Adolfo Caminha, e 
“Estupro”, de Pedro Muniz, reunidos na Iracema 
n.º 7 (1896). No entanto, o espírito romântico 
reinventa-se, explícita ou implicitamente, mes-
mo nos últimos anos de um século em que vi-
goraram, pelo menos nos meios intelectuais, as 
doutrinas materialistas. E não se pode esquecer 
da presença feminina, pois, além de Francisca 
Clotilde, a gaúcha Julieta de Melo Monteiro 
também colabora com o poema “Manhã de pri-
mavera”, que está no n.º 6 da Iracema (1895).
CURSO literatura cearense 73
7.
O REALISMO NA 
POESIA CEARENSE
emos em Augusto Xavier de Cas-
tro (1858 – 1895), o X. de Castro, 
nosso maior representante 
do realismo na poesia cea-
rense. De passagem breve no 
panorama literário cearense, o 
escritor foi a segunda baixa da 
Padaria Espiritual – a primeira 
tinha sido Joaquim Vitoriano, 
em 1894 –, vindo a falecer três 
anos depois do início da agremiação. Nela, 
adotou o nome de “Bento Pesqueiro”. Seu 
único livro, intitulado Cromos, foi publicado 
sob o selo da Padaria Espiritual, em 1895. 
Sânzio de Azevedo considera-o romântico 
em seus poemas da década de 1870, tran-
sitando ao Realismo na década seguinte, 
“Sua feição definitiva e mais importante” 
(AZEVEDO, 1976, p. 93). Não se trata de 
uma postura realista como a que assumiria 
um Cesário Verde, por exemplo, mas não 
deixa de propor versos que lembram uma 
Sonetilhos
Sonetos feitos 
com versos 
mais curtos, 
sobretudo os 
heptassílabos.
caderneta de esboços de um desenhista in-
teressado em revelar a riqueza de motivos 
que muitos veriam como banalidade. 
Vale lembrar que o título Cromos não 
lhe é exclusivo. Na verdade, constitui uma 
configuração discursiva cultivada por mui-
tos poetas, que emprestam ao poema uma 
feição pictórica, em geral sonetilhos que 
descrevem pequenas cenas. 
Sânzio de Azevedo sugere a influência 
de B. Lopes, autor de obra homônima. 
X. de Castro ora flagra cenas domésticas, 
captando pequenos diálogos e situações 
entre familiares, ora se volta para um pla-
no mais amplo, descrevendo situações do 
meio popular. Exemplo desta segunda ten-
dência é o sonetilho “Em Porangaba”, que 
flagra um pequeno drama do trabalho in-
fantil, que perde o propósito anedótico se 
passado pelo crivo da contemporaneidade: 
Para o trem. Da vilazinha
Verde, risonha, engraçada,
Vem para a beira da estrada
Toda a gente, ali vizinha.
Começa na férrea linha
Por gritar a meninada:
– E olha a castanha assada
É nova, é boa, é fresquinha!
– Dê cá, diz um passageiro
E enquanto puxa o dinheiro
Parte o trem já da Estação…
Corre, e o menino aturdido
Grita e brada enraivecido:
– Paga as castanhas, ladrão!
74 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
8.
O REALISMO NA 
PROSA CEARENSE
em dúvida, temos como prin-
cipais expoentes da prosa 
realista cearense os autores: 
Adolfo Caminha, Antônio Sa-
les, Domingos Olímpio, Oli-
veira Paiva, Rodolfo Teófilo e 
Pápi Júnior. Vamos saber um 
pouco mais sobre eles?
O aracatiense Adolfo Ca-
minha (1867 -1897) impressiona pela 
impactante obra que deixou em seus cur-
tos trinta anos de vida, colhido que foi 
pela tuberculose. É um dos três nomes 
destacados por Dolor Barreira, pela quali-
dade das obras lançadas na última década 
do século dezenove, ao lado de Oliveira 
Paiva e Rodolfo Teófilo. É nessa década que 
são publicados os títulos mais representa-
tivos do Naturalismo cearense e brasileiro. 
De Adolfo Caminha, foram publicados os 
romances A normalista (1893), Bom-crioulo 
(1895) e Tentação (1896).
Concordando com Leonardo Mota, por 
ele citado, Barreira situa a obra de Adolfo Ca-
minha ao lado de outras, identificadas como 
naturalistas, de Júlio Ribeiro e de Aluísio 
Azevedo. Como esses autores se propu-
nham abrir em suas páginas literárias o que 
a hipocrisia burguesa dissimulava, não era 
raro suscitarem reações moralistas, como 
a que saiu na Gazeta de Notícias (Rio de Ja-
neiro), a propósito d’A normalista, romance 
ambientado em Fortaleza. Na réplica, Adolfo 
Caminha reiterou sua filiação ao romance 
documental: “Mas, vamos: é preciso não 
confundir a verdade flagrante e necessária, 
reproduzida naturalmente, com a patifaria 
rasa, que dói nos ouvidos e faz saltar o san-
gue à face da burguesia. / Zola, por maior que 
seja o número de seus inimigos, não é um ro-
mancista imoral...” (BARREIRA, 1948, p. 293). 
Quer saber mais sobre Adolfo Caminha? 
Adolfo Caminha: vida e obra (Armazém 
da Cultura) é uma magistral e saborosa 
biografia escrita por Sânzio de Azevedo 
sobre este polêmico escritor que 
nos deixou obras valorosas, mesmo 
tendo vivido tão pouco. Disponível em 
e-book, mas também em sebos virtuais 
em formato impresso.
Oliveira Paiva antes de se dedicar à 
literatura, foi seminarista no Crato, 
tentou a carreira militar, no Rio 
de Janeiro, mas acabou voltando 
a Fortaleza e empenhou-se nas 
campanhas abolicionista e republicana.
Oliveira Paiva (1861-1892) por sua vez 
ensaiou contos de tendência naturalista n’A 
Quinzena e publicou o romance A afilhada 
em folhetins d’O libertador. Sua obra mais 
aplaudida é Dona Guidinha do Poço, obra 
póstuma, cuja primeira edição só sairia 
em 1952, por intervenção de Antônio Sales, 
Américo Facó e Lúcia Miguel Pereira. Dolor 
Barreira anotou este comentário de Tristão 
de Ataíde, que reconheceu nesse romance 
“páginas de sertanismo inteiramente 
novas para a época: secas vivas, originais, 
sem se demorarem em longas descrições, e, 
pelo contrário, sabendo evocar a paisagem 
em duas palavras características, com rara 
concisão de estilo e flagrância de transpo-
sição. Os tipos são verdadeiros e cheios de 
vida. Tudo revela um temperamento literá-
rio de excepcional acuidade de visão, liber-
tado de preconceitos e exprimindo-se por 
meio da maior sobriedade de traços, apenas 
os essenciais”. (BARREIRA, 1948, p.298-299) 
Lúcia Miguel Pereira admirou-se de que 
uma obra de tal qualidade tivesse caído no 
esquecimento por mais de meio século: “Re-
duzidos aos seus elementos dramáticos, D. 
Guidinha do Poço nada tem de original: amor, 
ciúme e vingança surgem em muitas histórias 
banais. Mas os temas simples são muitas 
vezes aqueles em que melhor se paten-
teia a superioridade do escritor, do cria-
dor. Escritor e criador foi sem dúvida alguma 
Manuel de Oliveira Paiva. Creio que antes de 
qualquer outro, ousou escrever como se 
fala, sem contudo ser incorreto, num estilo 
saboroso e colorido, que é uma fusão admi-
rável da linguagem escrita e da oral”.
Interessante notar que a atenção des-
ses críticos incide sobre os traços pré-
-modernistas da escrita de Oliveira Paiva. 
Em meio ao beletrismo marcado pelo re-
buscamento da frase, ele soube ser mode-
rado nas palavras, econômico de traços, 
fazendo transitar o Naturalismo para o 
Impressionismo literário. 
Seus contos foram publicados em 1976 
pela Academia Cearense de Letras, numa 
edição prefaciada por Sânzio de Azevedo. 
Como a maior influência naturalista 
em língua portuguesa era então Eça de 
Queirós, não faltou quem apontasse essa 
influência sobre Adolfo Caminha, como fez 
Brito Broca: “A normalista transpira Eça de 
Queirós por todos os poros. Quando o au-
tor pintava a figura do estudante Zuza pen-
sava no primo Basílio; Maria do Carmo foi 
modelada por Luísa; o redator da Madras-
ta é um avatar do Palma […].” (BARREIRA, 
1948, p. 295-296). 
Outro título que despertou reações críti-
cas foi Bom-crioulo, que, segundo Waldemar 
Cavalcanti, “é a história cruel de uma paixão 
homossexual, poucas vezes a literatura brasi-
leira atingiu tão alto nível de realismo” (BAR-
REIRA, 1948, p. 296). Reunindo esses dois 
títulos, assim se posiciona Agripino Grieco: 
“Adolfo Caminha, que não sabia romancear 
romantizando, sarcástico até na sua meia 
piedade, foi o pintor da áspera verdade, tra-
tando muito bemda vida provinciana e da 
vida de bordo […]. ” (BARREIRA, 1948, p. 296).
SABATINA
BOLACHINHAS
CURSO literatura cearense 75
PASSANDO
A LIMPO
Trata-se de textos retirados d’A Quinzena, 
que só estariam ao alcance dos bibliófilos, 
não fosse a iniciativa acadêmica. Vitimado 
de tuberculose, Oliveira Paiva faleceu na 
capital cearense, no dia 29 de setembro de 
1892. A Academia Cearense de Letras lhe 
dedicou a cadeira 25. 
Representante do Naturalismo cearen-
se, Rodolfo Teófilo é sem dúvida o autor 
de uma das obras mais impactantes da 
nossa literatura brasileira: A fome. Far-
macêutico por formação, ao lado de sua 
notável atuação como sanitarista, partici-
pou ativamente no movimento literário ce-
arense. Foi o padeiro “Marcos Serrano” na 
Padaria Espiritual e membro do Centro Lite-
rário. Em 1922, Rodolfo Teófilo tomaria seu 
assento na Academia Cearense de Letras. 
Numa leitura apressada, pode-se imagi-
nar que Rodolfo Teófilo tenha sido um na-
turalista arraigado, mas não é o que conclui 
sua fortuna crítica. Pedro de Queirós, em 
artigo sobre o conto Violação, de Rodolfo 
Teófilo, chega a atribuir à vivência traumá-
tica do autor – que, aos nove anos de ida-
de, testemunhou uma epidemia de cólera 
em Maranguape – traços físicos e compor-
tamentais que o marcariam para sempre: 
“Quem já viu um sorriso de Rodolfo? ” Tra-
ços que também feririam sua literatura, 
como observa o mesmo acadêmico: “As 
cenas cruas da natureza e do mundo social 
são o ambiente onde o autor de Violação 
respira a longos haustos. Na sua paleta têm 
pouco relevo as cenas de inspiração suave, 
serena, risonha. Predominam as paisagens 
carregadas, os quadros tristes. É ele o ma-
goado pintor dos painéis da seca. / O fero-
císsimo cataclismo de 62 projetou-lhe no 
elevado espírito veladuras inapagáveis.” 
(QUEIRÓS, 1898, p. 236-237). 
Por sua vez, Rodrigues de Carvalho, 
ao fazer um balanço literário da produção 
cearense da década de 1890, divide sua opi-
nião, entre reprovações e elogios, sobre a 
produção literária de Rodolfo Teófilo, reco-
nhecendo que ele mantinha uma produção 
constante, que incluía “História da seca do 
Ceará; A fome (romance); Ciências naturais 
em contos; Botânica elementar: monografia 
da mucunã; Os Brilhantes (romance); Viola-
ção (novela/conto); Maria Rita (romance)”, 
acrescentando a próxima chegada do ro-
mance O paroara. Carvalho reconhece nele 
“um homem de ciência e um beletrista”, ad-
mitindo que “os seus romances são cheios 
de vida pela imaginação, e estampam o 
meio e a época em que se dá a ação”. No en-
tanto, não deixa de advertir que o autor “é 
descuidado na forma”, mas acaba por con-
cluir que “a literatura do Ceará muito deve a 
este escritor” (CARVALHO, 1899, p. 195-198).
É curioso que, sendo homem das 
ciências num momento de grande pres-
-tígio cultural positivista, Rodolfo Teófilo 
não chega a ser o mais autêntico dos 
naturalistas. Sânzio de Azevedo recorda 
que ele havia debutado na literatura 
romântica: “Rodolfo Teófilo, que havia 
composto versos românticos na década 
anterior [1870], mas haveria de firmar-se 
como romancista” (AZEVEDO, p. 91). Para 
além dos versos juvenis, sua adesão ao 
Naturalismo “se exerceu mais pela apre-
sentação eventual de cenas rebarbativas 
e pelo vocabulário científico, fruto de sua 
formação profissional (era botânico e far-
macêutico) do que através dos enredos 
que, na maioria dos casos, são francamen-
te românticos”. (AZEVEDO, 1982, p. 151) 
Também a Nélson Werneck Sodré não 
escapa o espírito romântico subjacente ao 
vocabulário de pretensões cientificistas e 
mesmo à crueza de certas passagens de tí-
tulos como A fome, Violação e Os Brilhantes: 
“mas o hibridismo de seus livros, isto é, a 
parcela da herança romântica que sobrevi-
via às tinturas formais de naturalismo, salta 
à simples observação” (SODRÉ, 1965, p. 195). 
Enfim, Sodré parece recuperar a crítica 
de José Veríssimo, que não foi tolerante 
com o descompasso entre o homem de ci-
ências e o literato: “Os processos descriti-
vos do autor, principalmente quando quer 
referir aos estados d’alma, têm a secura e 
o descolorido de um inventário ou de um 
corpo de delito. Cometendo um erro grave 
de ofício, o autor, como já notei, multiplica 
a terminologia da técnica médica e fisioló-
gica. Assim dirá: ‘Brilhante se estirou à von-
tade e a onda de sangue embaraçada em 
diversos pontos seguiu seu caminho até 
os capilares das extremidades do corpo’ 
[...]. ” [José Veríssimo, Estudos de literatura] 
(BARREIRA, 1948, p. 308).
Talvez a grandeza humana tenha pou-
pado Rodolfo Teófilo do sepultamento 
previsto em tom de lamento por Sodré: “As 
obras de Rodolfo Teófilo, assim, ficaram li-
mitadas à província e o tempo as sepultou. 
Poderiam ter chegado até nós, entretanto, 
no conhecimento dos leitores, pela rique-
za e pela variedade dos temas: o da seca, 
em A fome, de 1890, o da migração para 
a Amazônia, em O paroara, de 1889, o do 
cangaço, em Os Brilhantes, de 1895, os da 
servidão feudal e dos conceitos de honra 
familiar, em Maria Rita, de 1897. ” (SODRÉ, 
1965, p. 196). Após uma vida de incansável 
produção, Rodolfo Teófilo veio a falecer em 
Fortaleza, no dia 2 de julho de 1932. Em 
reconhecimento, a Academia Cearense de 
Letras lhe dedica a cadeira número 33. 
A experiência literária de Antônio Sales 
(1868- 1940) também foi muito vasta, distri-
Aves de Arribação, conforme Sânzio 
de Azevedo, foi publicada no Correio 
da Manhã (RJ) em 1903, retificando 
Dolor Barreira, Pedro Nava, Wilson 
Martins e Otacílio Colares, que 
apontavam o ano de 1902.
76 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
buída entre a poesia, o ensaio, a crônica e 
também o romance. No Ceará, estreou com 
seus Versos diversos, de 1890, tendo previa-
mente contribuído n’A quinzena, do Clube 
Literário. Notabilizou-se pela idealização 
e fundação da Padaria Espiritual (1892), 
sendo o autor de seu famoso “Programa de 
Instalação”, onde assumiu o nome de “Moa-
cir Jurema”: “Uma sociedade literária, como 
já se haviam fundado tantas, com um cará-
ter formal de academia-mirim, burguesa, 
retórica e quase burocrática, era cousa para 
qual eu sentia uma negação absoluta. ” (SA-
LES, 2010, p. 17). No Rio de Janeiro, partici-
pou ativamente da imprensa literária e dos 
eventos iniciais da Academia Brasileira de 
Letras, embora não tenha assumido assen-
to nessa agremiação. Assumiu a cadeira 20 
da Academia Cearense de Letras.
O romance é uma exceção no itinerário 
literário de Antônio Sales. A maior aproxi-
mação de Antônio Sales com o a experiên-
cia realista e naturalista se manifesta em 
Aves de arribação, já conhecido em folhe-
tins do Correio da Manhã, jornal carioca, em 
1903, e publicado em livro no ano de 1914. 
Dolor Barreira diz que Tristão de Ataíde 
identifica vínculos dessa obra com o Rea-
lismo, pelas “semelhanças com Madame 
Bovary”, ao passo que Lúcia Miguel Pereira 
admite maior aproximação com o Natu-
ralismo d’A normalista, certamente pelo 
estudo psicossocial do provincianismo: 
“Uma professora e um promotor represen-
tam os elementos estranhos, que não só 
contrariam os hábitos antigos, como pro-
vocam agitação e inquietação na pacatez 
provinciana. ” (BARREIRA, 1948, p. 551). A 
professora é Bilinha, o promotor é Alípio, 
esboçando-se um triângulo amoroso, em 
virtude da expectativa de casamento deste 
com Florzinha, filha do coletor da pacata 
Ipuçaba. O título pode induzir, pelo menos 
aos que não passam deste na leitura de 
uma obra, que se trata de mais um roman-
ce da seca, mas, na verdade, simboliza a 
presença temporária de pessoas estranhas 
ao ambiente social, numa oposição assim 
proposta por Abelardo Montenegro: “o con-
traste entre os processos sociais sertanejos 
e os processos sociais citadinos, o antago-
nismo entre o matuto e o praciano, entre o 
requinte da civilização e a rudeza do mato, 
encarnando a antítese Florzinha – a donze-
la sertaneja – e Bilinha, a demi-vierge lito-
rânea” (BARREIRA, 1948, p. 553). 
Para Sodré, em Avesde arribação, “há 
uma aguda observação e boa fixação dos 
costumes, além do levantamento do qua-
dro social” (SODRÉ, 1965, p.197). Mas tudo 
isso é sugerido com certo comedimento, 
como observa Otacílio Colares, um dos pre-
faciadores da obra: “É uma estória sem tra-
gédias flagrantes, de um sensualismo aqui 
e ali repontante mas velado, longe dos mol-
des violentos dos livros de Adolfo Caminha 
e da rudeza crua das cenas e ambientes dos 
de Teófilo. ” (COLARES, 1979, p.XVIII)
Após uma exaustiva revisão da crítica 
sobre essa obra, Sânzio de Azevedo consta-
ta o sincretismo de sua elaboração: “A nos-
so ver, o romance de Antônio Sales pode 
ser classificado como uma obra realista, 
dentro da qual podemos encontrar [...] ca-
racterísticas regionalistas, naturalistas 
e psicológicas.” (AZEVEDO, 1982, p. 31). 
demi-vierge
Meio virgem. 
Jovem bastante 
liberal nos modos, 
porém sem 
nunca ter tido 
relações sexuais”. 
(LAROUSSE, 
tradução livre).
BOLACHINHAS
Toda obra naturalista é realista, mas 
nem toda obra realista é naturalista.
Cruz Filho revela que o poeta Matias 
de Araújo, personagem de Aves de 
arribação, seria o próprio Antônio 
Sales, e que a cidade-cenário Ipuçaba 
seria o Soure, hoje denominada 
Caucaia, na Região Metropolitana de 
Fortaleza. (AZEVEDO, 1982, p.34)
MALACA
CHETAS
CURSO literatura cearense 77
Em síntese, trata-se de um exemplar do 
Impressionismo literário, já que a um na-
turalista de raiz não escaparia o simbolismo, 
em que o inverno cearense, consolidado em 
abril, é assim louvado: “O marulho surdo 
das águas, rolando sobre as lajes do leito, 
acompanhava o grande coro das aves, cujas 
vozes, diferentes de som e de expressão, se 
harmonizavam no mesmo hosana em hon-
ra da estação bendita. ” (SALES, 1979, p. 72).
Aves de arribação foi publicada em fo-
lhetim em 1903, embora tenha sido escrita 
ainda em 1897 – afirmação de Azevedo, a 
partir da afirmação da viúva de Sales a Abe-
lardo Montenegro, em O romance cearense 
– e publicada em livro em 1914. Ao final da 
apresentação da primeira edição, escreve 
o autor: “[...] A crítica encontrará, por certo, 
neste trabalho, muitas falhas e inexperiên-
cias que já são sensíveis para mim, agora; 
mas encontrará também, espero, páginas 
em que estão pintados fielmente alguns as-
pectos e alguns costumes desta minha ter-
ra, tanto mais sofredora quanto mais queri-
da”. (AZEVEDO, 1982, p.33)
De vida mais longeva temos Pápi Júnior 
(1854-1934). Nascido no Rio de Janeiro, o 
autor participou do Clube Literário e do Cen-
tro Literário. Em 1897 organizou o Clube de 
Diversões Artísticas, com apresentações 
no Teatro Iracema. É autor de peças de te-
atro e prosa de ficção (contos e romances). 
Sua obra mais apreciada pela crítica é seu 
romance inaugural, O Simas (1898). Pedro 
Queirós identifica nessa obra traços do ro-
mance documental, pela verossimilhança: 
“tão aparentemente real que se presume 
não passar as folhas de uma ficção, mas a 
narrativa de um fato verdadeiro engenhosa-
mente escrita.” (QUEIRÓS, 1898, p. 240). 
No entanto, Nélson Werneck Sodré não 
vê prosseguimento na proposta naturalis-
ta do autor: “Pápi Júnior, que escreveu O 
Simas, em 1898, à base da reconstituição, 
descambaria para o romantismo inequí-
voco, adiante, de sorte que Os gêmeos, de 
1914, completamente fora de época, cons-
titui ostensivo desmentido aos que preten-
dem incluí-lo entre os naturalistas”. (SODRÉ, 
1965, p. 196) Para Carlos d’Alge, é possível 
fazer uma correlação entre os romances de 
Eça de Queirós e O Simas: “Assim como n’O 
primo Basílio, a Juliana descobre as cartas 
amorosas de Luísa; n’A relíquia, há a troca 
de embrulhos; e n’Os Maias, chega de Pa-
ris, um senhor que traz displicentemente 
uma caixa de charutos; n’O Simas, uma car-
ta ocasional feita sob emoção precipita os 
acontecimentos. ” (D’ALGE, 2001, p. 56). 
Por sua vez, Sânzio de Azevedo não 
hesita no enquadramento naturalista d’O 
Simas: “Obra naturalista, cuja personagem 
central é um sedutor sem escrúpulos, um 
aventureiro de simpática aparência, mas 
de baixa extração moral, dificilmente dei-
xaria de sofrer a influência do mestre que 
a todos empolgava na época: Eça de Quei-
rós.” (AZEVEDO, 1982, p.152) Também re-
conhece como qualidade desse romance 
o fato de não se exceder nos chavões na-
turalistas: “Mas, apesar de seu intuito na-
turalista, Pápi Júnior soube fugir daquele 
radicalismo deformante que faz com que, 
nalgumas obras da corrente, todas as 
personagens mergulhem, sem exceção, na 
mesma lama.” (AZEVEDO, 1982, p. 155).
Azevedo lamenta que, provavelmente 
por ser pouco conhecida, a obra quase nun-
ca é citada quando se estuda o romance 
realista-naturalista brasileiro. 
Octogenário, Pápi Júnior faleceu em 
Fortaleza em 30 de novembro de 1934. 
Na Academia Cearense de Letras, ele é o 
patrono da cadeira de número cinco.
Domingos Olímpio (1851–1906), dife-
rentemente dos demais autores que estu-
damos até aqui, não fez da capital cearense 
palco para suas incursões literárias. Enquan-
to esteve no Ceará, foi em Sobral que deixou 
alguma contribuição. Foi em sua terra natal 
que ele participou das rodas intelectuais e 
literárias, na União Sobralense. No lança-
mento da pedra fundamental do Teatro São 
João, foi Domingos Olímpio quem discursou. 
Depois, se transferiu para a capital paraense, 
daí transferindo-se definitivamente para o 
Rio de Janeiro, tendo colaborado na im-
prensa local e mesmo fundado seu próprio 
semanário, Os Anais (1904-1906), logo depois 
de publicar Luzia-Homem (1903). No exílio 
carioca, foi esse livro que o reintegrou à terra 
para onde ele jamais voltaria. 
Percebe-se, por seu exemplo, uma cen-
tralidade das agremiações em Fortaleza, 
mas é importante lembrar que muitas ou-
tras surgiram na segunda metade do sécu-
lo dezenove em outras cidades no Ceará. 
Tudo indica que não houve grande comu-
nicação entre as associações culturais in-
terioranas e as da capital.
PASSANDO
A LIMPO
Assim como a obra Simas, apontada 
por Nestor Victor como um dos 
“melhores romances que se tem 
produzido no Brasil” (AZEVEDO, 1976, 
126), muitas outras publicadas em 
pequenas tiragens ou mesmo em única 
edição, ou publicadas por editoras 
locais, sem experiência de distribuição, 
nascem e morrem no Ceará desde 
sempre. Hoje, a insistente ausência 
de boas casas editoriais no estado, 
além de poucas estratégias de 
incentivos de publicações dessas 
obras por órgãos da cultura ou 
universitários, associados ao completo 
desconhecimento do patrimônio 
literário cearense, contribuem para 
manter a produção e a historiografia 
literária apartada dos estudos da 
Literatura Brasileira.
78 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Apesar de ter produzido peças de teatro, 
contos e mesmo outros romances, deve-se 
à Luzia-Homem sua consagração literá-
ria. Surgido num momento de redescoberta 
do Brasil, nas primeiras décadas da Repúbli-
ca, esse romance tem correlação com obras 
regionalistas, seja na ficção, como Canaã, de 
Graça Aranha, seja no jornalismo literário, 
como Os sertões, de Euclides da Cunha, am-
bos os títulos publicados no ano anterior da 
obra capital de Domingos Olímpio. 
Ambientado em Sobral, o enredo traz um 
flagrante do segundo ano da grande seca, 
iniciada em 1877. Típica do Impressionis-
mo literário, caracterizado pelo sincretismo 
de tendências literárias do século anterior, o 
romance desafiou críticos da grandeza de 
Lúcia Miguel Pereira, que hesitou entre a 
admiração e a insatisfação com a obra, cuja 
heroína assim interpretou: “Essa heroína, 
alma feminina prisioneira de um corpo más-
culo, viveu o drama de Hermafrodite.” 
Mesmo insatisfeita com a construção da 
obra, seja pelo rebuscamento da linguagem, 
seja pela discordância com a metamorfose 
da protagonista, ela acaba capitulando: “As 
BOLACHINHAS
descaídas de forma e mesmo de estrutura 
não impedem Luzia-Homem de ser realmente 
forte, denso e verdadeiro. Da obra de Domin-
gos Olímpio, só ele permanece: mas basta 
para assegurarao autor um lugar destacado 
na nossa literatura. ” (PEREIRA, 1988, p. 204) 
O romance tem do Naturalismo apenas 
o compromisso documental, com o regis-
tro de cenas, como a da frente de serviço que 
levantou o prédio da cadeia pública de So-
bral, de crianças mortas de fome na cidade 
onde a família sertaneja veio buscar socorro 
do flagelo da seca, além da denúncia de cor-
rupção de quem deveria zelar pela segurança 
pública, como é o caso do soldado Crapiúna. 
No entanto, a documentação não tem a frie-
za pretensiosamente científica, como com-
prova a exuberância discursiva, com descri-
ções ricas em sugestões sensoriais. No mais, 
o idealismo romântico lhe serve de base, 
particularmente no trato do gênero feminino, 
cujo simbolismo trágico metaforiza a própria 
terra cearense, entre os extremos da seca e a 
opulência das quadras chuvosas.
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Concluímos nosso módulo com a certeza de 
que teríamos outros nomes para discorrer, 
e com mais análises, mas o espaço não nos 
permite. Esperamos, todavia, que você faça 
uso de nossa Biblioteca Virtual, ampliando o 
seu conhecimento sobre autor e obra. Procu-
re os títulos possíveis em bibliotecas, sebos 
virtuais, editoras, casas especializadas e pro-
cure lê-los. Não se contente com sinopses, 
resenhas e críticas. A SUA LEITURA e a sua 
reflexão sobre ela é o mais importante. Apro-
prie-se e alimente-se. E por falar em alimen-
tar-se, quem quer pão? Você? Então espere o 
próximo módulo, que vem quentinho!
Herman Lima (1897-1981) escreveu 
contos, romance, livros de viagem, 
sobre caricaturas (uma paixão), ensaios/
crítica literária, biografia e de memórias. 
Entre as suas obras, Tigipió (1924) – que 
teve adaptação do conto homônimo 
para o cinema em 1986 –, realista com 
características regionalistas, naturalistas 
e psicológicas. Azevedo nos fala sobre a 
obra: “Publicado na Bahia, Tigipió, além 
de enfeixar contos onde está presente 
a terra cearense, foi todo escrito aqui, 
sob o influxo das leituras de Afonso 
Arinos e Gustavo Barroso, sendo uma 
das mais representativas obras da 
ficção cearense, em todos os tempos”. 
(AZEVEDO, 1976, p.150
REFERÊNCIAS 
BIBLIOGRÁFICAS 
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AZEVEDO, Sânzio de. Aspectos da Literatura 
Cearense. Fortaleza: Edições UFC/Proed e Academia 
Cearense de Letras, 1982.
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Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1976.
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Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1979.
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queirosiano. In: ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS. A 
produção literária do Ceará: antologia. Fortaleza: 
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Arte. 2.ed. São Paulo: Mestre Jou, 1972. v.2.
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Cartas inéditas de Fradique Mendes e mais 
páginas esquecidas. Porto: Lello & Irmão, 1929.
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Teófilo. Revista da Academia Cearense de Letras, 
Fortaleza, v.3, p.233-238, 1898.
QUEIRÓS, Pedro de. O Simas, de Pápi Júnior. Revista 
da Academia Cearense de Letras, Fortaleza, v.3, 
p.238-243, 1898.
SODRÉ, Nélson Werneck. O Naturalismo no Brasil. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
STUDART, Guilherme. Pequeno dicionário 
biobibliográfico cearense. Revista da Academia 
Cearense de Letras, Fortaleza, v.4, p.25-72, 1899.
CURSO literatura cearense 79
Realização
Apoio
Patrocínio
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
João Dummar Neto Presidente
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Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes 
e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
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Editorial e Estabelecimento de Texto
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Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico
Miqueias Mesquita Diagramador
Carlus Campos Ilustrador
Luísa Duavy Produtora
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-28-2 (Fascículo 5)
Este curso é parte integrante do programa 
Circuito de Artes e Juventudes 2019, Pronac nº 190198, 
processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a 
Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.
Todos os direitos desta edição reservados à:
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Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
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AUTOR
José Leite Jr.
É licenciado em Letras pela Universidade Estadual 
do Ceará (Uece), com mestrado pela Universidade 
Federal do Ceará (UFC), doutorado pela Universidade 
Federal da Paraíba (UFPB) e pós-doutorado pela 
Universidade de São Paulo (USP). Ensinou na Uece 
e na Universidade de Fortaleza (Unifor). Desde 2006 
é docente do Departamento de Literatura da UFC, 
participando do quadro efetivo do Programa de Pós-
Graduação em Letras. Coordena o Grupo de Estudos 
de Semiótica Literária, ligado ao Grupo de Estudos 
Semióticos da UFC (Semioce). É autor de obras entre 
poesias e ensaios. É ilustrador e artista plástico, 
tendo realizado exposições individuais e coletivas, 
participado de salões e de curadorias.
ILUSTRADOR
Carlus Campos 
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a 
carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. 
Na construção do seu trabalho, aborda várias 
técnicas como: xilogravura, pintura, infogravura, 
aquarelas e desenho. Ilustrou revistas nacionais 
importantes como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro 
da produção gráfica ganhou prêmios em salões de 
Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

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