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CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO AO RESULTADO NATURALÍSTICO

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CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO AO RESULTADO 
NATURALÍSTICO 
 
Isabella Paula R. Xavier 
Nos crimes materiais, onde há sempre um resultado naturalístico, há um intervalo entre 
a ação e este resultado, podendo ser segundos, dias, semanas ou meses. Ex: Homicídio 
(art. 121), Lesão Corporal (art. 129) etc. 
Porém, nem todos os crimes possuem resultado naturalístico: 
Há também, no Brasil, os crimes formais e de mera conduta (por influência da doutrina 
e jurisprudência e italiana). 
Crimes formais: Nos tipos penais sempre encontramos verbos. Não há tipo penal sem 
verbo. No caso de um homicídio, a exigência do resultado naturalístico decorre da 
natureza do verbo empregado (art. 121 : “matar alguém” alguém precisa ter morrido para 
que se realize esse tipo penal). Nos crimes formais procede-se de maneira diferente: 
Nestes, em geral, a natureza do verbo empregado permite que haja um resultado 
naturalístico, mas não é a produção desse resultado naturalístico algo imprescindível. Ou 
seja, o verbo empregado pode dar margem à produção de um R.N., mas o tipo penal não 
exige a produção desse resultado naturalístico para que haja um crime. Ex: Um juiz pede 
para o advogado ou para o réu a quantia de R$: 500.000,00 para conceder um habeas 
corpus. Ele vai estar incorrendo no verbo “solicitar”, presente no art. 317 do C.P. que é a 
corrupção passiva: 
“Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda 
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou 
aceitar promessa de tal vantagem” 
Portanto, vê-se que o verbo solicitar estará realizado, a conduta estará perfeita e o crime 
estará acabado com o mero pedido. O juiz pode, eventualmente, receber ou não a quantia 
pedida. Desse modo, a natureza do verbo empregado não exige produção de nenhum 
resultado naturalístico (que seria o recebimento da quantia), mas ele pode vir a acontecer. 
Considera-se crime formal também aquele em que há o resultado naturalístico, o qual 
surge concomitantemente à pratica da ação. Ex: crime de falsidade documental. A pessoa 
escreve uma declaração com conteúdo falso. À medida que elabora este documento, ela 
está executando a ação de falsificação de documento. Ao terminar essa ação surge o 
documento falso. Então, não há intervalo entre a ação e o resultado pois a ação vai 
ocorrendo e o resultado vai surgindo. Ao termino da ação, o resultado se dá 
instantaneamente. Se a pessoa falsifica o documento ela escreverá a declaração falsa, o 
que configura o crime a medida que ela escreve. Esse documento contendo declaração 
falsa é uma modificação no mundo exterior e, portanto, é um resultado naturalístico. 
Crimes de mera conduta: São aqueles que empregam verbos cuja natureza indica falta 
de aptidão para produzir resultado naturalístico. Ou seja, o verbo empregado descreve 
uma ação que é inapta a geral modificação no mundo exterior. Ex: o crime de entrar ou 
permanecer no local contra a vontade do dono (violação de domicílio). Tal atitude, o 
verbo “permanecer” não indica modificação do mundo exterior, sendo um crime de mera 
conduta. Os crimes contra a honra, as ofensas proferidas oralmente, não têm aptidão para 
transformar o mundo exterior, configurando também o tipo penal supracitado. 
 
Nos crimes materiais, em que imprescindivelmente haverá resultado naturalístico, surge 
a necessidade de dizer quem vai responder por esse resultado. O crime de homicídio 
sempre exigira a morte de alguém para que o crime ocorra. Quem responde pela morte é 
quem deu causa à morte. Portanto, sempre que tiver um crime material, sempre haverá 
também o nexo casual como elemento do tipo, o qual indicará a pessoa que irá responder 
por aquele resultado. O Nexo causal é o vínculo, o liame entre o resultado naturalístico e 
uma ação. É a relação de dependência entre o RN e uma determinada conduta. 
Essa relação de dependência é descoberta fazendo uma operação (procedimento 
imaginário, hipotético) chamada Procedimento Hipotético de Eliminação, o qual 
consiste em investigar todas as ações que antecederam o RN e se perguntar: “Caso a ação 
não tivesse ocorrido, o resultado teria acontecido da mesma forma ou, na ausência dela, 
o resultado teria desaparecido?”. Por esse procedimento é possível verificar se há nexo 
causal entre um resultado e uma ação. Se for concluído que ausente uma determinada 
ação o resultado não ocorreria, essa ação tem nexo causal com o resultado e, portanto, 
deverá ser punida. 
João morreu com 4 tiros dados por Marcos. Se Marcos não tivesse atirado, João não 
morreria naquele momento. A atitude de dar os tiros é causa do resultado, pois se 
suprimida mentalmente, observa-se que o crime não ocorreria. Porém, Marcos não tinha 
a arma anteriormente. Ele contou a Tiago que precisava de uma arma para cometer o 
homicídio e João entrega a arma. Suprimindo mentalmente a ação de empréstimo da arma, 
João não teria morrido. Portanto, o empréstimo da arma é causa da morte de João, pois 
entre a morte e o empréstimo da arma há nexo causal. Quando a ação é causa do resultado 
é chamada de conditio sine qua non. Ou seja, é a condição sem a qual o resultado não 
teria ocorrido. 
Porém, se bastasse o procedimento hipotético de eliminação e a conditio sine qua non, a 
pessoa responderia no direito penal por mera responsabilidade penal objetiva, o que não 
pode ocorrer. Para evitar o regresso ad infinitum que pode ser causado por esse 
procedimento, temos que aliar esse processo à percepção de que é necessária uma 
barreira, a qual consiste na exigência de dolo ou de culpa. A mãe de um bandido não 
pode responder pelos crimes que ele praticou só pelo fato de ter dado a luz a ele. Ainda 
que exista nexo de causalidade neste caso, não existe possibilidade de condená-la pois ela 
não tinha dolo e nem culpa. Essa é a maneira de se limitar a responsabilidade penal a 
partir do que diz hoje no nosso código penal em seu artigo 13.: 
Art. 13: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem 
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria 
ocorrido” 
Desse modo, o CP exige que, na hipótese de um tipo penal que exige resultado, só 
responde por esse resultado quem deu causa a ele. Porém, esse artigo deve ser combinado 
com o artigo 19, que diz: 
Art. 19: Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o 
houver causado ao menos culposamente. 
Menos do que culpa, seria responsabilidade penal objetiva. Portanto, deve-se combinar a 
conditio sine qua non do artigo 13 com o artigo 19. 
Usando o exemplo anterior, Marcos responde pela tipicidade imediata de matar alguém. 
Tiago, que emprestou a arma, responde pelos artigos 14 (inciso II) e 29 do CP: hipótese 
de tipicidade mediata (precisa da combinação do artigo da parte especial do CP com o 
artigo da parte geral do CP para compreender que a pessoa também praticou uma conduta 
típica). 
Art 29: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
Desse modo, tanto Marcos quanto Tiago contribuíram para o crime de homicídio 
conforme a combinação do art. 121 com o art. 29. Os autores do crime serão autores 
(cometem a parte principal do crime) ou partícipes (atuam de forma secundária). 
Configura também a tipicidade mediata a tentativa, conforme ao art. 14, inciso II: 
Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à 
vontade do agente. 
Para tipificar a conduta dos partícipes e de quem comete a tentativa, não basta a parte 
especial do CP (art.121, art. 129). Deve-se combinar estes referidos artigos a outros da 
parte geral.

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