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NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL E SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS AULA 1 Prof. Leonardo Mèrcher 2 CONVERSA INICIAL Negociação internacional: conceitos fundamentais Olá! Esta aula vai tratar de negociação internacional. Para dar início ao nosso conteúdo, vamos apresentar a você os principais conceitos de negociação. Entendemos negociação como uma comunicação entre partes que buscam um resultado satisfatório. Para tanto, a presente aula está dividida em: I) O que é negociação?, II) Etapas de uma negociação, III) Perfis de negociadores, IV) Estratégias de negociação e V) Ganhos absolutos e relativos. Esperamos que essa introdução possa auxiliá-lo em sua formação profissional no âmbito da negociação. Para isso, os objetivos gerais em sua aprendizagem nesse momento são: identificar e compreender os principais conceitos da negociação, identificar e compreender os principais perfis e estratégias de negociação e compreender a importância da negociação na diferenciação entre ganhos relativos e absolutos. Bons estudos! TEMA 1 – O QUE É NEGOCIAÇÃO? Negociação é comunicação! Com base nessa afirmação podemos compreender que a negociação é quando nos comunicamos em busca de algo desejado e que precisamos da participação de outro(s) para alcançar essa conquista. Ao percebermos a demanda de nossa instituição, precisamos compreender nossos interesses (sobre o produto, o serviço e as partes) e capacidades para que possamos traçar a melhor estratégia de negociação e resultados. No início é preciso ter conhecimento de nossos desafios e capacidades, bem como de nossa inteligência interpessoal – negociamos temas e objetos, não pessoas. Reconhecer o outro e buscar compreendê-lo pode gerar ganhos significativos no ato da negociação, enquanto que o uso da força, como uma imposição, prejudica a negociação desgastando as partes. Dessa forma, como Gutavo Iamin aponta em seu livro (2016), a negociação é uma comunicação que se estabelece como um processo de relações entre as partes e, portanto, torna- se uma construção coletiva (Iamin, 2016, p. 39). 3 TEMA 2 – ETAPAS DE UMA NEGOCIAÇÃO A negociação tem três etapas gerais: a elaboração da negociação, o processo de negociação e o cumprimento dos resultados da negociação. A primeira etapa concentra-se em perceber as demandas e buscar as partes para negociar, analisando-as e traçando a melhor estratégia para a hora da negociação. A segunda etapa está na comunicação como processo corrente de negociação em que as partes sentarão e negociarão posições, interesses e resultados. A última etapa é aquela na qual o que foi acordado deve ser cumprido. Contudo, caso desentendimentos aconteçam, é possível buscar soluções de controvérsias por meios que trataremos futuramente em mediação e arbitragem. Se você é o proponente da negociação, ou seja, aquele que inicia o diálogo com as partes para obter algo que deseja, deve se preocupar em identificar primeiramente o desejado; em seguida, a identificação das partes envolvidas e necessária para que você alcance um bom resultado; depois deve- se criar uma estratégia de comunicação de acordo com o perfil das partes e do tema negociado; iniciar o processo da negociação em si e apresentar seus interesses de forma estratégica; e, por fim, alcançar um acordo de ganhos (relativos ou absolutos) satisfatórios sem desgastar os envolvidos na negociação. Caso você seja a parte acionada deverá identificar os interesses do outro e agir estrategicamente para garantir seus ganhos ou sua defesa. Deve ter em mente que o outro lado quase sempre buscará ganhos absolutos, o que será preciso negociar para que todos os lados possam obter os ganhos relativos satisfatórios. Dessa forma, nenhum dos lados se sentirá em desvantagem final. No processo de negociação, cabe ressaltar que existem as dimensões cognitiva (conhecer, compreender e aplicar), moral, comunicacional e psicoemocional. Essas dimensões versam sobre as relações interpessoais e também sobre as escolhas que você fará como negociador. Todas elas atuam simultaneamente nos processos de negociação e devem ser estudadas com mais afinco. Uma sugestão é ler sobre o tema das dimensões no livro de Gustavo Iamin (2016, p. 103-151). TEMA 3 – PERFIS DE NEGOCIADORES 4 Para que possamos melhorar enquanto profissionais da negociação precisamos identificar nossas capacidades e desafios de acordo com as demandas da comunicação no processo de negociação. Existem perfis de negociadores tanto quanto a diversidade de indivíduos. Contudo, alguns estudos definem determinados perfis como os mais presentes nas negociações, sendo eles: competitivo, cooperativo, impaciente, perfeccionista e sedutor. Características competitivas favorecem resultados rápidos, mas podem desgastar as partes. Cooperativos tendem a firmar boas relações, mas podem ter dificuldades em dizer não. Impacientes são criativos e ágeis, mas podem se surpreender com detalhes importantes após o término da negociação. Já os perfeccionistas são cuidadosos, mas podem travar as negociações com burocracias e expectativas impraticáveis. Por fim, o sedutor, que se torna um grande conquistador de parcerias e vendedor de sua verdade, mas pode ter dificuldade em lidar com informações mais complexas de gestão e aplicação. Todos os perfis têm qualidades positivas e negativas a depender do cenário de negociação. Muitas das vezes um negociador pode ser um conjunto de dois ou três perfis, prevalecendo um de acordo com cada situação. Por isso, recomendamos que busque identificar em si as características em capacidades e também em desafios. TEMA 4 – ESTRATÉGIAS DE NEGOCIAÇÃO Assim como perfis, existem diversos padrões de estratégias em negociações. Os mais comuns são os incisivos ou ofensivos, defensivo e cooperativo. Estratégias incisivas demandam autoconfiança e preparo dos que a exercerão, bem como ciência de que poderão desgastar as partes – mas se for uma negociação mais conflitante e competitiva pode ser que seja uma das melhores estratégias. A defensiva, geralmente, é quando o outro precisa mais de você do que você dele e, por isso, você pode aumentar exigências e defender o melhor ganho final para si. Contudo, essa estratégia também pode desgastar as partes pelo cansaço e grande custo de encontros e transações. Por fim, a cooperativa é quando ambos percebem que poderão ganhar se agirem em conjunto, fomentando ações em parcerias e em diálogo franco. Mas antes de aplicar as estratégias, quando ainda não tivemos contato com as demais partes, é importante “quebrar o gelo”, ou seja, interromper o silêncio e o constrangimento do primeiro encontro para iniciar a comunicação 5 que de fato importa. Em situações iniciais é preciso “quebrar o gelo” entre desconhecidos para, só então, praticar a negociação do tema/objeto em si. Após “quebrar o gelo” com perguntas amenas, o negociador ou seu grupo define se usarão estratégias mistas (cada um assume um posicionamento estratégico distinto) ou se será uma estratégia homogênea em que a ação de todos da equipe será semelhante. A estratégia de negociação, portanto, torna-se uma estratégia de comunicação com as partes. Vale ressaltar ainda que as estratégias precisam levar em consideração o perfil individual dos negociadores. Todos os envolvidos em uma equipe devem traçar uma estratégia em conjunto e evitar amadorismos e improvisos no processo da negociação. TEMA 5 – GANHOS ABSOLUTOS E RELATIVOS Nossas motivações em negociações quase sempre são alimentadas por desejos de ganhos absolutos, ou seja, de alcançar o melhor resultado. Muitas vezes, contudo, os ganhos absolutos significam a perda ou o desgaste das partes envolvidas. Por isso, deve-se pensar nos ganhos relativos, que seriam alcançados quando todas as partes envolvidas ganham algo satisfatóriona negociação final. Entretanto, isso significa abrir mão dos interesses absolutos, ou seja, não se contentar apenas com o melhor resultado para a equipe. Outro ponto importante é que ganhos absolutos podem não ser cumpridos pela parte que se sinta lesada ou forçada com um resultado que não lhe agrada, enquanto que os ganhos relativos tendem a ser mais cumpridos. Veja este exemplo: meu irmão e eu temos um pacote de pão. Se eu comer todos os pães do pacote, esse será o meu ganho absoluto. No entanto, se eu o fizer meu irmão ficará sem nenhum pão (não terá nenhum resultado positivo e poderá ficar chateado e abalar nossa relação). Dessa forma, em uma negociação, poderemos cada um comer um pão e meio ou, então, eu como dois e ele um, o que não trará ganhos absolutos, mas, sim, ganhos relativos. Todos terão algum tipo de ganho. Entretanto, caso meu irmão fosse mais forte e eu decidisse comer os pães, ele poderia não aceitar o resultado e utilizar de seus recursos de poder para não cumprir e ainda me prejudicar. Por isso, ganhos absolutos tendem a ser negociados até se alcançar ganhos relativos para todas as partes. 6 NA PRÁTICA Chegou o momento de fixar e praticar o conteúdo da aula. Para compreender um pouco mais sobre negociação, tente exercitar a sua capacidade de negociar respondendo às questões a seguir. Suponha que você vai à feira comprar 100 gramas de ervilha e o preço é bem mais caro do que se você fosse comprar 1 kg de ervilhas. I. Por que o preço de um produto vendido em menor quantidade (ou unitário) é mais caro do que se comprado em grandes quantidades? II. Qual é a importância de se ter uma margem de lucro ao ofertar/negociar a venda de um produto a um cliente diante dos ganhos relativos? Observe que para negociar o feirante precisa de uma margem negociável de preço – não pode cobrar abaixo do preço que comprou a mercadoria para revender em sua quitanda (preço de custo), mas também não pode cobrar um preço absurdo de você, cliente. FINALIZANDO Nesta aula apresentamos os preceitos e conceitos fundamentais da negociação enquanto prática. Negociação é comunicação estratégica e previamente definida diante do perfil das partes. Nesse sentido, observamos perfis, estratégias e etapas gerais da negociação para que fique claro ao futuro profissional como se preparar para o processo da negociação internacional. Procure ler a bibliografia indicada, como de Gustavo Iamin (2006) e Henrique Costa (2013). Até a próxima aula! 7 REFERÊNCIAS ANONNI, D. Introdução ao direito contratual no cenário internacional. Curitiba: InterSaberes, 2012. COSTA, H. S. G. Negociando para o sucesso. Curitiba: InterSaberes, 2013. IAMIN, G. Negociação: conceitos fundamentais e negócios internacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. VANIN, J. A. Processos da negociação. Curitiba: InterSaberes, 2013.