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1 2 DIREITO PROCESSUAL CIVIL TEORIA GERAL DOS RECURSOS 3 Sumário 1. Recursos – Teoria Geral .......................................................................................................... 4 1.1. Conceito de Recurso ............................................................................................................ 4 1.2. Os Recursos no Sistema dos Meios de Impugnação da Decisão Judicial ............................... 4 1.3. Classificação ........................................................................................................................ 5 1.3.1. Quanto à Extensão da Matéria: Recurso Parcial e Recurso Total ....................................... 5 1.3.2. Quanto à Fundamentação: Fundamentação Livre e Fundamentação Vinculada ................ 5 1.3.3. Ordinário ou Excepcional/Extraordinário .......................................................................... 5 1.4. Atos Sujeitos a Recurso ....................................................................................................... 6 1.4.1. Introdução........................................................................................................................ 6 1.4.2. Sistematização.................................................................................................................. 7 1.5. Desistência do Recurso ........................................................................................................ 8 1.6. Renúncia ao Direito de Recorrer e Aquiescência à Decisão .................................................. 9 1.7. Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito do Recurso ...................................................... 10 1.7.1. Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito: Distinção ..................................................... 10 1.7.2. Generalidades sobre o Juízo de Admissibilidade ............................................................. 10 1.7.3. Objeto do Juízo de Admissibilidade ................................................................................. 10 1.7.3.1. Introdução ................................................................................................................... 10 1.7.3.2. Cabimento. Princípios da Fungibilidade, Taxatividade e Singularidade Recursais .......... 11 1.7.3.3. Legitimidade (art. 996) ................................................................................................ 12 1.7.3.4. Interesse ..................................................................................................................... 13 1.7.3.5. Inexistência de Fato Impeditivo ou Extintivo do Poder de Recorrer .............................. 14 1.7.3.6. Tempestividade (art. 1.003, § 5º) ................................................................................. 14 1.7.3.7. Regularidade Formal. O Princípio da Dialeticidade dos Recursos .................................. 19 1.7.3.8. Preparo ....................................................................................................................... 21 1.7.4. Natureza Jurídica do Juízo de Admissibilidade ................................................................ 25 1.7.5. Juízo de Mérito ............................................................................................................... 25 1.7.5.1. Conceito de Mérito do Recurso.................................................................................... 25 1.7.5.2. A Causa de Pedir Recursal: o Error in Procedendo e o Error in Judicando ..................... 25 1.7.5.3. Cumulação de Pedidos no Recurso .............................................................................. 26 1.7.5.4. Julgamento Rescindente e Substitutivo. O Efeito Substitutivo dos Recursos ................. 26 1.8. Princípio do Ne Reformatio in Pejus. Vedação ao Benefício Comum do Recurso................. 27 1.9. Efeitos dos Recursos .......................................................................................................... 28 1.9.1. Impedimento ao Trânsito em Julgado ............................................................................. 28 1.9.2. Efeito Suspensivo ........................................................................................................... 28 1.9.3. Efeito Devolutivo: Extensão e Profundidade ................................................................... 30 1.9.3.1. Efeito Devolutivo: Possibilidade de Não Devolução para Tribunal ................................ 31 1.9.4. Efeito Translativo............................................................................................................ 32 1.9.4. Efeito Regressivo, Interativo, Diferido ou de Retratação ................................................. 32 1.9.5. Efeito Expansivo Objetivo ............................................................................................... 32 1.9.6. Efeito Expansivo Subjetivo .............................................................................................. 33 1.9.7. Efeito Substitutivo .......................................................................................................... 33 1.10. Recurso Adesivo e Recurso Independente ....................................................................... 34 1.10.1. Recurso Adesivo Cruzado .............................................................................................. 37 1.10.2. Recurso Adesivo no Processo Criminal .......................................................................... 39 4 1. Recursos – Teoria Geral 1.1. Conceito de Recurso Recurso é o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, invalidação, esclarecimento ou integração de decisão judicial que se impugna. O recurso prolonga o estado de litispendência, não instaurando processo novo. É por isso que não é recurso a ação autônoma de impugnação, já que dá origem a novo processo. O recurso é uma extensão do direito de ação, de obter a tutela jurídica do Estado. O direito de recorrer é um direito potestativo, já que a parte pode fazê-lo independentemente do agir da outra. Além disso, a desistência do recurso e sua renúncia independe de qualquer condicionante: Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos. Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte. São, pois, características dos recursos: a) Voluntariedade; b) Taxatividade; c) Não cria processo novo; d) Direito potestativo; e) Extensão do direito de ação. 1.2. Os Recursos no Sistema dos Meios de Impugnação da Decisão Judicial O sistema de impugnação da decisão judicial é composto dos seguintes instrumentos: a) Recursos: meio de impugnação voluntário da decisão judicial utilizado dentro do mesmo processo em que proferida; b) Ações autônomas de impugnação: instrumento de impugnação da decisão judicial, pelo qual se dá origem a um processo novo, cujo objetivo é o de atacar/interferir em decisão judicial; 5 c) Sucedâneo recursal: são todos os outros meios de impugnação de decisão judicial, como o pedido de suspensão de segurança e o pedido de reconsideração. 1.3. Classificação 1.3.1. Quanto à Extensão da Matéria: Recurso Parcial e Recurso Total Recurso parcial é aquele que, em virtude de limitação voluntária, não compreende a totalidade do conteúdo impugnável da decisão. Ele impugna apenas alguns capítulos dela. Porém, os capítulos acessórios não impugnados, se impugnados os principais, serão considerados impugnados. Os demais capítulos não impugnados ficam preclusos e, se tratarem do mérito,cobertos pela coisa julgada material. Recurso total é aquele que abrange todo o conteúdo impugnável da matéria recorrida (caso a lei somente permita que uma determinada matéria da decisão seja recorrida, e ela o seja, considera- se que o recurso foi total). Art. 1.002. A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte. 1.3.2. Quanto à Fundamentação: Fundamentação Livre e Fundamentação Vinculada De fundamentação livre é o recurso em que o recorrente está livre para, em suas razões, deduzir quaisquer argumentos contra a decisão, sem que isso influa na admissibilidade recursal. A causa de pedir não está delimitada pela lei. De fundamentação vinculada será o recurso em que a lei limita o tipo de crítica que se possa fazer contra a decisão impugnada: a fundamentação é típica. É o que ocorre, v.g., no embargo de declaração, no qual somente podem ser levantadas questões que versem sobre a omissão, obscuridade ou contradição. 1.3.3. Ordinário ou Excepcional/Extraordinário São ordinários os recursos cujo objeto imediato é a tutela do direito subjetivo, e excepcionais (ou extraordinários) aqueles cujo fim imediato é a tutela do direito objetivo. Encontram-se na primeira espécie recursos como apelação, agravo e embargos; na segunda, o recurso extraordinário e o especial. É bem de ver que no recurso ordinário pode-se discutir questões de fato e de direito, ao passo que no excepcional (ou extraordinário) somente se veiculam questões de direito, apesar de, evidentemente, a parte ter um interesse subjetivo em causa. É por essa razão que, em regra, não cabe a apreciação de questão fático-probatória em recurso especial e extraordinário, como se observa da Súmula 7 do STJ e da Súmula 279 do STF: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TERRENO DE MARINHA. ATERRO IRREGULAR. RECURSO DECIDIDO MONOCRATICAMENTE. POSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. NÃO OCORRÊNCIA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AUSÊNCIA DE 6 IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DE FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA 283/STF. RAZÕES RECURSAIS DEFICIENTES. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. 1. O art. 21-E, V, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça autoriza o Presidente do STJ a não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tiver impugnado especificamente todos os fundamentos da decisão recorrida, condição verificada na espécie dos autos, não havendo falar em violação ao princípio do Juiz natural. 2. A alteração das conclusões adotadas pela Corte de origem, tal como colocada a questão nas razões recursais, no sentido de asseverar que não foi oportunizada a devida defesa nos autos do processo administrativo, demandaria, necessariamente, novo exame do acervo fático-probatório constante dos autos, providência vedada em recurso especial, conforme o óbice previsto na Súmula 7/STJ. 3. O recurso especial não impugnou fundamentos basilares que amparam o acórdão recorrido, suficientes para a sua manutenção, o que impõe a aplicação do óbice da Súmula 283/STF. 4. A alegação recursal apresentada não tem o condão de infirmar o fundamento que foi adotado no acórdão a quo, de modo que incide também, na espécie, o disposto na Súmula 284/STF. 5. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 1476951/RJ, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/05/2020, DJe 07/05/2020) Súmula 7, STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”. Súmula 279, STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”. 1.4. Atos Sujeitos a Recurso 1.4.1. Introdução É com base no conceito de sentença que se saberá qual o recurso cabível. Deve-se entender sentença como o ato que encerra o procedimento nas fases de conhecimento ou de execução; ela encerra a primeira instância, fundando-se ora no art. 485, ora no 487 do CPC. Porém, deve-se ressalvar: a) A sentença nem sempre encerrará toda a fase do procedimento, quer porque pode haver recurso, quer porque sendo ato de competência originária de tribunal, o ato que porá fim ao procedimento será acórdão ou decisão monocrática; 7 b) Nem toda decisão que tiver por conteúdo uma das hipóteses dos arts. 485 e 487 terá por efeito a extinção do procedimento. V.g., decisão que indefere parcialmente a inicial, decisão que reconhece a decadência de um dos pedidos cumulados, decisão que exclui um litisconsorte por ilegitimidade. 1.4.2. Sistematização Somente as decisões judiciais podem ser alvo de recurso. Os despachos, atos não decisórios, são irrecorríveis. Também são irrecorríveis os atos praticados pelo escrivão por conta de delegação do magistrado. Art. 1.001. Dos despachos não cabe recurso. Porém, é importante lembrar que, na legislação especial, há alguns atos que, muito embora sem roupagem formal de uma decisão ou de uma sentença, são impugnáveis mediante apelação. É o caso, por exemplo, da recorribilidade da portaria editada com base no art. 149 do Estatuto da Criança e do Adolescente, contra a qual cabe apelação: Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável, em: a) estádio, ginásio e campo desportivo; b) bailes ou promoções dançantes; c) boate ou congêneres; d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão. II - a participação de criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios; b) certames de beleza. § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em conta, dentre outros fatores: a) os princípios desta Lei; b) as peculiaridades locais; c) a existência de instalações adequadas; d) o tipo de freqüência habitual ao local; 8 e) a adequação do ambiente a eventual participação ou freqüência de crianças e adolescentes; f) a natureza do espetáculo. § 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações de caráter geral. (...) Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149 caberá recurso de apelação. As decisões que podem ser proferidas pelo juízo singular são: a) Decisão interlocutória: toda decisão que não encerrar o procedimento em primeira instância, que é impugnada por apelação ou por agravo de instrumento; b) Sentença: decisão judicial que encerra a primeira instância, ultimando a fase de conhecimento ou execução, que é impugnada por apelação. 1.5. Desistência do Recurso Desistência é a revogação pelo recorrente. Ela pode ser parcial ou total, e PODE OCORRER ATÉ O INÍCIO DO JULGAMENTO. O recorrente pode desistir por escrito ou em sustentação oral. Não comporta condição nem termo. A desistência é ato dispositivo que independe de consentimento da parte adversária (art. 998) e de homologação judicial para a produção de efeitos. A ressalva, quanto aos efeitos imediatos dos atos das partes, fica por conta da desistência da ação, que requer homologação judicial. Art. 200. Os atos das partes consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade produzem imediatamente a constituição, modificação ou extinção de direitos processuais. Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeitos após homologação judicial. (...) Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos. Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte. 9 A desistência, que pressupõerecurso já interposto (caso contrário seria renúncia) é conduta determinante, só produzindo efeito em relação ao recorrente. No caso de litisconsórcio unitário, ela só será eficaz se todos os litisconsortes desistirem. De acordo com Barbosa Moreira, bem sistematizado ainda por Fredie Didier, as condutas podem ser determinantes ou alternativas. Conduta determinante é aquela que a parte pratica e que a coloca em uma situação desfavorável. O resultado é desfavorável. Podemos citar como exemplos a confissão, a desistência, a renúncia, não recorrer e não contestar. Conduta alternativa é aquela que a parte pratica com objetivo de melhorar a sua situação. A parte as pratica, mas não tem certeza se vai ou não melhorar a situação. Exemplos: não confessar, não desistir, produção de provas, recorrer, não renunciar, contestar, alegar. Neste regime de tratamento, há três regras: a) A conduta determinante de um litisconsorte não prejudica o outro litisconsorte. Se o litisconsórcio for simples, a conduta determinante vai prejudicar o litisconsorte que a praticou; no entanto, se o litisconsórcio for unitário, a conduta determinante de um só vai produzir efeito se todos a praticarem. b) No litisconsórcio unitário, a conduta alternativa de um beneficia os demais. Se um litisconsorte age para favorecer - como, por exemplo, um recurso - beneficia os demais. c) No litisconsórcio simples, a conduta alternativa de um não beneficia os demais. A desistência impede uma nova interposição do recurso de que se desistiu, mesmo se ainda dentro do prazo. Se renovado o recurso, ele deverá ser considerado inadmissível (preclusão lógica). 1.6. Renúncia ao Direito de Recorrer e Aquiescência à Decisão A renúncia é o ato pelo qual uma pessoa manifesta a vontade de não interpor recurso de que poderia valer-se contra determinada decisão. Ela é sempre anterior à interposição do recurso, NÃO SENDO ADMITIDA ANTES DO MOMENTO EM QUE O DIREITO DE RECORRER SEJA EXERCITÁVEL. Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte. 10 A aceitação é o ato pelo qual alguém manifesta a vontade de conformar-se com a decisão proferida, podendo ser por escrito ou tácita, quando ela pratica atos de concordância. Poderá ser parcial ou total. Havendo litisconsórcio unitário, para que a aceitação seja eficaz, todos os litisconsortes devem aceitar. 1.7. Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito do Recurso 1.7.1. Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito: Distinção O juízo de admissibilidade opera sobre o plano de validade dos atos jurídicos. Toda postulação se sujeita a um duplo exame do magistrado: primeiro, verifica-se a possibilidade do exame do conteúdo da postulação; após, e em caso de um juízo positivo naquele, examina-se a procedência ou não daquilo que se postula. No juízo de admissibilidade verifica-se a existência dos requisitos de admissibilidade. Ele é sempre preliminar ao juízo de mérito: a sua solução determina se o mérito será ou não examinado. 1.7.2. Generalidades sobre o Juízo de Admissibilidade Quando o recurso é inadmitido, diz-se que o Poder Judiciário não o conheceu ou não o admitiu. Os recursos de apelação e recurso ordinário constitucional são interpostos perante o órgão que proferiu a decisão recorrida sem que se tenha a realização de juízo de admissibilidade. Os recursos extraordinários (RE e REsp) são interpostos perante o órgão que proferiu a decisão recorrida, porém, com a realização de juízo de admissibilidade no juízo recorrido. O agravo de instrumento é interposto diretamente no Tribunal, estando o juízo de admissibilidade e de mérito limitado ao Tribunal, sendo possível ao juízo recorrido a retratação. Por fim, é importante ressaltar que o juízo a quo exerce um exame provisório de admissibilidade, sempre cabendo recurso da decisão que não conhece um recurso. 1.7.3. Objeto do Juízo de Admissibilidade 1.7.3.1. Introdução O objeto é classificado em dois grupos: REQUISITOS RECURSAIS REQUISITOS INTRÍNSECOS REQUISITOS EXTRÍNSECOS Cabimento Preparo Legitimidade Tempestividade Interesse Regularidade formal Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer - Requisitos intrínsecos estão ligados à existência do direito de recorrer; os extrínsecos, ao seu regular exercício. 11 1.7.3.2. Cabimento. Princípios da Fungibilidade, Taxatividade e Singularidade Recursais Só podem ser considerados recursos aqueles meios de impugnação expressamente arrolados em lei. Um recurso somente é cabível quando a lei processual indicar-lhe, diante de determinada finalidade específica e certo ato judicial, como o adequado para extravasar a insurgência. Poderia esse pressuposto ser tomado por analogia, como a adequação da via, elemento da condição da ação denominado “interesse de agir”. a) Princípio da fungibilidade: é aquele pelo qual se permite a conversão de um recurso em outro, no caso de equívoco da parte, desde que não haja erro grosseiro ou não haja preclusão no prazo de interposição do recurso adequado. Erro grosseiro é aquele em que nada justifica a troca de um recurso pelo outro, não havendo dúvida objetiva razoável. O STJ exige a satisfação de três requisitos para a aplicação do princípio da fungibilidade: a) dúvida objetiva quanto ao recurso a ser interposto; b) inexistência de erro grosseiro; e c) observância do prazo do recurso cabível. Nesse sentido: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AUTOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO NA ORIGEM - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. IRRESIGNAÇÃO DO AGRAVADO. 1. A nulidade por inobservância do art. 437, § 1º, do CPC/15 (art. 398 do CPC/73) deve ser proclamada nos casos em que os documentos juntados pela parte adversa tenham sido relevantes e influenciaram o deslinde da controvérsia, caracterizando-se prejuízo à parte contrária. Incidência da Súmula 83/STJ. 2. O princípio da fungibilidade recursal somente se aplica quando preenchidos os seguintes requisitos: a) dúvida objetiva quanto ao recurso a ser interposto; b) inexistência de erro grosseiro; e c) observância do prazo do recurso cabível. Estando o acórdão recorrido em consonância com o entendimento desta Corte, é inafastável a aplicação da Súmula 83/STJ. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp 1479391/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 26/11/2019, DJe 27/11/2019) Além disso, o STJ tem entendido que o erro grosseiro em termos de procedimento também impede a aplicação do princípio da fungibilidade, como se observa, por exemplo, quando da interposição de agravo em recurso especial (AREsp) diretamente no STJ e não na instância ordinária: 12 AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO QUE INADMITE RECURSO ESPECIAL INTERPOSIÇÃO NO STJ. IMPOSSIBILIDADE. INOBSERVÂNCIA DO ART. 1.042, § 2º, DO CPC/2015. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Nos termos do § 2º do art. 1.042 do CPC/2015, a petição do agravo interposto de decisão que inadmite recurso especial será dirigida ao presidente ou vice-presidente do Tribunal de origem. Ademais, conforme especificado nos §§ 3º e 4º do mesmo dispositivo legal, o agravo será remetido ao Tribunal Superior competente após o prazo de resposta do agravado. 2. Havendo previsão legal expressa, não há que se falar em dúvida objetiva acerca da forma de interposição do agravo em recurso especial. Portanto, a interposição do agravo em recurso especial diretamente nesta Corte constitui erro grosseiro, desautorizando a aplicação do princípio da fungibilidade recursal. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp 1580887/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 20/04/2020, DJe 04/05/2020) b) Princípio da unicidade, unirrecorribilidade ou singularidade: não é possível, em regra, a utilização simultânea de dois recursos contraa mesma decisão; para cada caso, há um recurso adequado, e somente um. Trata-se de princípio implícito no sistema recursal brasileiro. A exceção é exemplificada no caso de interposição simultânea de RE e REsp, quando a decisão recorrida comporta fundamentos infraconstitucionais e constitucionais. c) Princípio da taxatividade: a enumeração dos recursos deve ser taxativamente prevista em lei, sendo o rol legal de recursos numerus clausus. Por isso que não se admite a apelação por instrumento. 1.7.3.3. Legitimidade (art. 996) Têm legitimidade para recorrer as partes, o MP e o terceiro juridicamente interessado (prejudicado e interveniente). Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual. 13 A caracterização do terceiro que é efetivamente prejudicado é dada pelo art. 996, parágrafo único, que exige a demonstração do nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial. Quando o juiz for “parte” em incidente processual (suspeição ou impedimento), tem legitimidade para recorrer do acórdão que der pela procedência da exceção. O recurso de terceiro deve ser preparado e deve ser interposto no mesmo prazo de que dispõe a parte. 1.7.3.4. Interesse A fim de que possa o interessado socorrer-se do recurso, é fundamental que possa antever algum interesse na utilização deste caminho. À semelhança do que acontece com o interesse de agir (condição da ação), que engloba a adequação da via eleita (cabimento, no caso dos recursos), é necessário que o interessado possa vislumbrar alguma utilidade na veiculação do recurso, utilidade esta que somente possa ser obtida através da via recursal (necessidade). A fim de preencher o requisito “utilidade”, será necessário que a parte (ou terceiro) interessada em recorrer, tenha sofrido algum prejuízo jurídico – sucumbido - em decorrência da decisão judicial, ou ao menos que esta não tenha satisfeito plenamente a pretensão exposta – (uma vez que, sendo vencidos autor e réu, ambos terão interesse em recorrer). O interesse é subjetivo; porém, é apurado pela sucumbência. Em relação à “necessidade”, esta estará presente se, por outro modo, não for possível resolver a questão, alterando-se ou suplantando-se o prejuízo verificado. Não há interesse recursal quando o recorrido puder, por meio mais rápido e mais fácil (contrarrazões de apelação), obter o resultado que pretende (a inadmissibilidade do recurso da parte contrária). TAMBÉM NÃO HAVERÁ, EM REGRA, INTERESSE EM RECORRER SE O RECORRENTE IMPUGNAR TÃO-SOMENTE O FUNDAMENTO DA DECISÃO, POIS O RECURSO DEVE ATACAR O DISPOSITIVO DO ATO JUDICIAL RECORRIDO. Isso porque a motivação não fica imutável pela coisa julgada material. Exceção a essa regra se verifica quando o fundamento é causa determinante do resultado da demanda, como, p. ex., a improcedência do pedido deduzido em ACP que, se for deficiência de prova, não será acobertada pela coisa julgada, podendo ensejar a repropositura da ação (LACP 16). Não é de ser exigido o requisito do interesse recursal quanto ao MP. Seu interesse processual e recursal deriva do poder (legitimidade) que o legislador lhe outorgou para o exercício da ação civil, ou seja, o interesse está pressuposto (in re ipsa) na própria outorga de legitimação. A razão de ser da atuação do MP no processo civil, seja como autor da ação civil (CR 129 III), seja como fiscal da ordem jurídica, é sempre o interesse público, do qual ele é tutor natural. Daí decorre a consequência de afirmar-se que o interesse recursal não se constitui para ele em pressuposto de admissibilidade do recurso. 14 1.7.3.5. Inexistência de Fato Impeditivo ou Extintivo do Poder de Recorrer Os Fatos extintivos do direito de recorrer são a renúncia e a aceitação ou aquiescência à decisão. Fatos impeditivos do direito de recorrer ou do seguimento do recurso. O interessado pode ter o direito de recorrer, mas esse direito estar inibido por alguma causa externa: a desistência e o não pagamento de algumas multas previstas pelo CPC. A desistência assemelha-se à renúncia, tendo como diferença básica em relação a esta última o fato de que se opera posteriormente ao oferecimento do recurso. Pode o recorrente desistir do recurso já interposto mesmo sem a anuência da parte contrária ou de seus litisconsortes, seguindo-se então o curso normal do procedimento no juízo a quo. Ocorrendo a desistência do recurso, impede-se o prosseguimento do respectivo processamento, ficando ao tribunal vedado conhecer da insurgência. 1.7.3.6. Tempestividade (art. 1.003, § 5º) Os recursos devem ser interpostos no prazo que a lei assinalar para tanto. Esse prazo tem termo inicial a partir da intimação da decisão, podendo ser contado da audiência, se prolatada decisão oral, ou da publicação do acórdão. A tempestividade é aferida pelo protocolo. O prazo recursal submete-se a regras especiais, decorrentes de certas circunstâncias subjetivas e objetivas específicas. Assim, em sendo parte a Fazenda Pública ou o MP, os prazos recursais serão computados em dobro; também havendo no processo litisconsortes com advogados distintos e de diferentes escritórios, os prazos para recurso são contados em dobro. Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância das exigências legais. Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. § 1º Os sujeitos previstos no caput considerar-se-ão intimados em audiência quando nesta for proferida a decisão. § 2º Aplica-se o disposto no art. 231, incisos I a VI, ao prazo de interposição de recurso pelo réu contra decisão proferida anteriormente à citação. § 3º No prazo para interposição de recurso, a petição será protocolada em cartório ou conforme as normas de organização judiciária, ressalvado o disposto em regra especial. § 4º Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será considerada como data de interposição a data de postagem. 15 § 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias. § 6º O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso. Art. 1.004. Se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado ou ocorrer motivo de força maior que suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem começará a correr novamente depois da intimação. Quanto ao tema pertinente ao feriado local, o STJ consolidou entendimento no sentido de que a sua comprovação deve ocorrer necessariamente no ato de interposição, não sendo possível a sanatória do ato com aplicação do art. 932, parágrafo único do CPC: Art. 932. Incumbe ao relator: (...) Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. TEMPESTIVIDADE. COMPROVAÇÃO. ATO DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO. I - Trata-se, na origem, de agravo de instrumento objetivando a reforma da decisão que entendeu pela ocorrência de coisa julgada em relação aos pedidos de indenização referentes à perda de uma chance e danos materiais,decidindo pelo prosseguimento da ação tão somente em relação ao pedido de indenização por danos morais e determinando a remessa dos autos ao Juizado Especial Federal. No Tribunal a quo, negou- se provimento ao agravo de instrumento. Nesta Corte, o agravo em recurso especial não foi conhecido. II - Aplica-se ao recurso o enunciado administrativo n. 3 da Súmula do STJ, segundo o qual: "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC." Mediante análise do recurso de Paulo Vinícius Lima da Silva, a parte recorrente foi intimada da decisão agravada em 8/1/2019, sendo o agravo somente interposto em 11/2/2019. O recurso é, pois, manifestamente intempestivo, porquanto interposto fora do prazo de 15 dias úteis, nos 16 termos do art. 994, VIII, c/c os arts. 1.003, § 5º, 1.042, caput, e 219, caput, todos do Código de Processo Civil. III - A Corte Especial, no julgamento do AREsp n. 957.821, em 20/11/2017, chegou à conclusão de que, na vigência do Código de Processo Civil de 2015, não é possível a pretensão de comprovação da tempestividade após a interposição do recurso. IV - Recentemente, a Corte especial decidiu que a regra da impossibilidade de comprovação da tempestividade, posteriormente à interposição do recurso, não deveria ser aplicada no caso em que se trate do feriado de segunda-feira de carnaval. Permite-se assim que a parte comprove, posteriormente à interposição do recurso, na primeira oportunidade, a ocorrência do feriado local, nessa hipótese. O entendimento foi fixado no REsp n. 1.813.684/SP e, posteriormente, ratificado no julgamento da Questão de Ordem no mesmo recurso, quando se explicitou que a mesma interpretação não poderia ser estendida para outros feriados, que não sejam o feriado de segunda- feira de carnaval. V - Assim, em se tratando de interposição de recurso em datas que não se referem ao feriado da segunda-feira de carnaval, é aplicável a jurisprudência desta Corte, no sentido já indicado acima, de impossibilidade de comprovação da tempestividade após a interposição do recurso. VI - Agravo interno improvido. (AgInt no AREsp 1477682/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/05/2020, DJe 11/05/2020) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. TEMPESTIVIDADE COMPROVADA EM AGRAVO REGIMENTAL. CABIMENTO PARA INTERPOSIÇÃO ATÉ 18/11/2019, CONSOANTE RESP 1.813.684/SP. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS COM EFEITOS INFRINGENTES. 1. Consoante se depreende do Recurso Especial 1.813.684/SP, julgado pela Corte Especial em 2/10/19, embora o art. 1.003, § 6º, do Código de Processo Civil - CPC estipule que o recorrente comprovará o feriado local no ato de interposição do recurso e a falta de comprovação seja considerada vício grave, não sanável com a incidência do art. 932, parágrafo único, do CPC, o entendimento de ser possível a comprovação 17 posterior de feriado local deve ser aplicado aos recursos interpostos até 18/11/2019. 2. Embargos de declaração acolhidos com efeitos infringentes. (EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp 1426168/TO, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 12/05/2020, DJe 19/05/2020) RECURSO PRAZO Embargos de declaração 05 dias Agravos internos, regimentais 15 dias Agravo de instrumento 15 dias Apelação 15 dias Embargos de divergência 15 dias Recurso especial 15 dias Recurso extraordinário 15 dias Recurso ordinário constitucional 15 dias 18 1.7.3.6.1. Recurso Interposto Antes da Publicação da Decisão Durante muitos anos, os tribunais superiores consideraram que o recurso interposto antes da publicação da decisão impugnada, deveria ser ratificado após a publicação do acórdão recorrido. Caso contrário, seria considerado um recurso prematuro e, portanto, intempestivo. Trata-se da tese da extemporaneidade do recurso prematuro. O “recurso prematuro” é aquele interposto antes da publicação da decisão recorrida. Isso ocorre quando a parte, antes mesmo de ser intimada da decisão, toma ciência do resultado do julgamento já proclamado e, então, se antecipa, interpondo o recurso. Sobre o tema, o STJ tinha editado a Súmula 418 do STJ: “É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação”. A súmula restou cancelada com a edição do CPC de 2015. O CPC tem regra permitindo a prática do ato antes da publicação ou do início da fluência do prazo: Art. 218. § 4º Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo. Art. 1.024. § 5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente de ratificação. Esse entendimento é confirmado pelo teor do Enunciado 22 do FPPC e pela Súmula 579 do STJ: Enunciado 22, FPPC: “O Tribunal não poderá julgar extemporâneo ou intempestivo recurso, na instância ordinária ou na extraordinária, interposto antes da abertura do prazo”. Súmula 579, STJ: “Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na pendência do julgamento dos embargos de declaração, quando inalterado o resultado anterior”. 19 Portanto, com o NCPC, plenamente legítima a prática de ato recursal antes da publicação ou intimação, não se podendo falar em extemporaneidade ou intempestividade do recurso prematuro. 1.7.3.7. Regularidade Formal. O Princípio da Dialeticidade dos Recursos O recurso somente será admissível se o procedimento utilizado pautar-se estritamente pelos critérios descritos em lei. Além disso, pelo princípio da dialeticidade, exige-se que todo recurso seja formulado por meio de petição na qual a parte não apenas manifeste sua inconformidade com ato judicial, mas também, e necessariamente, INDIQUE OS MOTIVOS DE FATO E DE DIREITO PELOS QUAIS REQUER O NOVO JULGAMENTO. Não basta que se interponha recurso pedindo reforma porque com a decisão não se concorda. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. ART. 932, III, DO CPC DE 2.015. INSUFICIÊNCIA DE ALEGAÇÃO GENÉRICA. 1. Indeferido o pedido de concessão de gratuidade judiciária formulado no agravo interno em exame, pois, da análise dos autos, verifica-se que uma das matérias de mérito constantes do recurso especial é justamente a concessão de assistência judiciária gratuita à parte ora agravante. Nesse sentido, tem-se que "(...) A orientação desta Corte consolidou-se no sentido da impossibilidade de análise do mérito do Recurso Especial quando esse sequer tenha ultrapassado a barreira do conhecimento. Precedentes das Turmas componentes da 1ª e 2ª Seções" (AgInt no AREsp 1278190/AC, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/10/2018, DJe 07/11/2018). 2. À luz do princípio da dialeticidade, que norteia os recursos, compete à parte agravante, sob pena de não conhecimento do agravo em recurso especial, infirmar especificamente os fundamentos adotados pelo Tribunal de origem para negar seguimento ao reclamo. 3. O agravo que objetiva conferir trânsito ao recurso especial obstado na origem reclama, como requisito objetivo de admissibilidade, a impugnação específica aos fundamentos utilizados para a negativa de seguimento do apelo extremo, consoante expressa previsão contida no art. 932, III, do CPC de 2.015 e art. 253, I, do RISTJ, ônus da qual não se desincumbiu a parte insurgente, sendo insuficientealegações genéricas de não aplicabilidade do óbice invocado. 20 4. Esta Corte, ao interpretar o previsto no art. 932, parágrafo único, do CPC/2015 (o qual traz disposição similar ao § 3º do art. 1.029 do mesmo Código de Ritos), firmou o entendimento de que este dispositivo só se aplica para os casos de regularização de vício estritamente formal, não se prestando para complementar a fundamentação de recurso já interposto. 5. Agravo interno não provido. (AgInt nos EDcl no AREsp 1605852/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 11/05/2020, DJe 13/05/2020) Deve-se dizer exatamente os motivos que embasam a discordância. Pelo princípio da dialeticidade, sob pena de não conhecimento do recurso, as razões da insurgência devem impugnar especificamente os fundamentos da decisão recorrida. E, não sendo o caso de apelação, em que há o efeito devolutivo em profundidade, a impugnação deve alcançar todos os fundamentos: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA A UM DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 182/STJ E DOS ARTS. 932, III, E 1.021, § 1º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO. I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015. II - Razões de agravo interno que não impugnam especificamente um dos fundamentos da decisão agravada, o que, à luz do princípio da dialeticidade, constitui ônus do Agravante. Incidência da Súmula n. 182 do STJ e aplicação do art. 932, III c/c art. 1.021, § 1º, do Código de Processo Civil. III - Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de Processo Civil de 2015, em razão do mero desprovimento do Agravo Interno em votação unânime, sendo necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso. IV - Agravo interno não conhecido. (AgInt no AREsp 1515531/CE, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/05/2020, DJe 15/05/2020) Sobre o princípio da dialeticidade, o STJ tem duas importantes súmulas: 21 Súmula 182: “É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada”. Súmula 126: “É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário”. 1.7.3.8. Preparo É o adiantamento das despesas relativas ao julgamento do recurso, cuja não realização se chama deserção. Ele há de ser comprovado no momento da interposição (art. 1.007), mediante juntada aos autos da Guia de Recolhimento. Porém, a ausência de preparo pode ser sanada dentro do prazo de 05 dias fixado pelo magistrado. Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. § 1º São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. § 2º A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, implicará deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias. § 3º É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em autos eletrônicos. § 4º O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção. § 5º É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4º. § 6º Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção, por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo. § 7º O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida 22 quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias. Nos Juizados Especiais, é possível efetivar o preparo recursal contra a sentença em até 48 horas após a sua interposição. Há recursos que dispensam o preparo, como, por exemplo, embargos de declaração e recursos no ECA que são interpostos no interesse da criança e do adolescente. Acrescente-se, por oportuno, que a isenção de custas e emolumentos prevista na Lei 8.069/1990 somente é deferida às crianças e aos adolescentes quando partes, autores ou réus, em ações movidas perante a Justiça da Infância e da Juventude, não alcançando outras pessoas que eventualmente participem dessas demandas. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. APELAÇÃO. RECURSO MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DE PREPARO. REGRA DE ISENÇÃO DE CUSTAS E EMOLUMENTOS DISPOSTA NOS ARTS. 141, § 2º., E 198, I DO ECA É DE APLICAÇÃO RESTRITA ÀS CRIANÇAS E AOS ADOLESCENTES QUANDO PARTES, AUTORAS OU RÉS EM AÇÕES MOVIDAS PERANTE A JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. NÃO CABE AO STJ A DISCUSSÃO A RESPEITO DE LEGISLAÇÃO ESTADUAL, ATO NORMATIVO E REGIMENTO INTERNO DE TRIBUNAL (SÚMULA 280/STF). ARTS. 129 DA LEI 8.069/1990, 3o. E 175, I DA LEI 5.172/1966 NÃO PREQUESTIONADOS (SÚMULA 211/STJ). ISENÇÃO DE CUSTAS E EMOLUMENTOS PREVISTA NA LEI 8.069/1990. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE (SÚMULA 83/STJ). AGRAVO REGIMENTAL DOS PARTICULARES DESPROVIDO. 1. De início, cumpre ressaltar que, nos termos do que decidido pelo Plenário do STJ, aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (Enunciado Administrativo 2). 2. No que se refere aos arts. 36, II e VII da Lei Estadual Goiana 14.376/02; 147 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás e art. 404, II e VII da Consolidação dos Atos Normativos da Corregedoria-Geral de Justiça/GO, cumpre dizer que não cabe a esta Corte analisar discussão a respeito de legislação estadual, a teor da Súmula 280/STF, bem como exame de eventual ofensa a ato normativo e Regimento Interno de Tribunal, uma vez que a hipótese constitucional de cabimento do Recurso Especial é restrita à violação de tratado ou lei federal, segundo o art. 105, III da Carta Magna. 23 3. Os temas insertos nos arts. 129 da Lei 8.069/1990, 3o. e 175, I da Lei 5.172/1966, não foram analisados pelo Tribunal de origem. Ausente, assim, o prequestionamento da matéria tratada nos referidos dispositivos, atraindo a incidência da Súmula 211 do STJ. 4. O acórdão recorrido encontra-se em consonância com a jurisprudência desta Corte Superior, que consolidou o entendimento de que a isenção de custas e emolumentos prevista na Lei 8.069/1990 somente é deferida às crianças e aos adolescentes quando partes, autores ou réus, em ações movidasperante a Justiça da Infância e da Juventude, não alcançando outras pessoas que eventualmente participem dessas demandas. Nesse sentido: AgRg no AREsp. 538.722/DF, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 9.10.2014 e AgRg no REsp. 996.558/RJ, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJe 2.2.2010. 5. Não há falar em justo impedimento na hipótese (art. 519 do CPC/1973), uma vez que a questão da indefinição a respeito da obrigatoriedade ou não do preparo já estava pacificada na época em que julgada a apelação. A propósito: AgRg no AREsp. 672.687/DF, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe 27.5.2015. 6. Agravo Regimental dos particulares desprovido. (AgRg no AREsp 66.306/GO, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 28/03/2017, DJe 05/04/2017) Caso o preparo seja insuficiente, o recurso não será considerado deserto. Deve o juiz determinar a sua complementação no prazo de 05 dias, após o que, sem o complemento, será deserto. A comprovação do preparo deve ser realizada com a juntada da guia de recolhimento e do comprovante de pagamento, não sendo, em razão da correta identificação da destinação dos recursos, suficiente o mero comprovante de pagamento. PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DE PREPARO. INTIMAÇÃO PARA RECOLHIMENTO EM DOBRO (ART. 1.007, § 4º, CPC). JUNTADA DE COMPROVANTE DE PAGAMENTO DESACOMPANHADO DE GUIA DE RECOLHIMENTO DA UNIÃO. INSUFICIÊNCIA. NOVA OPORTUNIDADE PARA REGULARIZAÇÃO. INCABÍVEL. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. A prova do recolhimento do preparo demanda não só a juntada do comprovante de pagamento, mas também a da guia de recolhimento de custas, que indicará se o pagamento foi efetuado na rubrica correta e teve a destinação pretendida pela lei. Por esse motivo, a jurisprudência desta Corte assentou que "é insuficiente para comprovação do preparo a apresentação somente do comprovante de pagamento das custas 24 processuais, pois é indispensável a juntada das respectivas guias de recolhimento da União" (AgRg nos EAREsp n. 562.945/SP, Relator Ministro João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 15/6/2015). 2. Além disso, este Tribunal Superior tem entendido ser inadmissível a realização de uma nova intimação para regularização do preparo, se desatendida a anterior. Precedentes: AgInt no AREsp n. 1.544.635/MG, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Quarta Turma, julgado em 26/11/2019, DJe 19/12/2019; AgInt no RMS n. 58.874/PR, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, Segunda Turma, julgado em 21/11/2019, DJe 29/11/2019; AgRg nos EREsp n. 1.578.487/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, terceira Seção, julgado em 11/9/2019, DJe 27/9/2019. 3. Situação em que a parte recorrente, embora intimada para sanar a deficiência verificada no preparo do recurso ordinário em mandado de segurança, limitou-se a juntar aos autos comprovante de pagamento desacompanhado da respectiva guia de recolhimento da União, impossibilitando a verificação da regularidade do pagamento das custas. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no RMS 62.474/PA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 28/04/2020, DJe 30/04/2020) Como preceitua o § 4º do art. 1.007, do CPC, o recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção. Há precedentes do STJ no sentido de que, tanto na ausência do recolhimento como no de insuficiência do preparo, impõe-se a regra do recolhimento dobrado: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PREPARO NÃO RECOLHIDO. CONDENAÇÃO AO RECOLHIMENTO EM DOBRO. NÃO ATENDIDA NO PRAZO PREVISTO. DESERÇÃO. ENUNCIADO SUMULAR N. 187/STJ. DECISÃO DA PRESIDÊNCIA MANTIDA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. I - No caso, restou demonstrado que o recorrente, mesmo intimado pela Presidência desta Corte Superior para proceder ao recolhimento do preparo em dobro, não atendeu ao comando. II - Depreende-se dos autos que o agravante, em razão da insuficiência no valor do preparo, foi devidamente intimado para realizar o recolhimento em dobro no prazo de 5 (cinco) dias (fl. 125), contudo, quedou-se inerte, deixando transcorrer in albis o referido período, conforme certidão de fl. 127. Destaca-se que foi juntado aos autos o comprovante de complementação das custas (fl. 135), recolhida, 25 entretanto, somente em 31/1/2020, após findo o prazo anteriormente estipulado. Agravo regimental desprovido. (AgRg no RMS 62.478/GO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 13/04/2020, DJe 17/04/2020) Estão dispensados do preparo: a) MP; b) Fazenda Pública; c) Defensoria Pública; d) Beneficiário da justiça gratuita (Lei 1.060/50, art. 3º, I e 9º); e) Na Justiça Federal, a União, suas autarquias e fundações, salvo entidades autárquicas representantes de categorias profissionais (Lei nº 9.289/96); f) Outras entidades que forem isentas mediante lei. 1.7.4. Natureza Jurídica do Juízo de Admissibilidade O juízo de admissibilidade, de acordo com a corrente majoritária, se positivo ou negativo, possui NATUREZA JURÍDICA DECLARATÓRIA, isso porque o juiz apenas dirá se o recurso deve ou não ter regular processamento, seguindo para o tribunal. 1.7.5. Juízo de Mérito 1.7.5.1. Conceito de Mérito do Recurso O mérito do recurso é sua causa de pedir e seu pedido (pretensão), que pode ser de invalidação, reforma, integração ou esclarecimento. O mérito, diferentemente da admissibilidade, em regra, é sujeito a uma única apreciação, feita pelo órgão ad quem, existindo casos, entretanto, em que se admite o juízo de retratação pelo órgão a quo. É possível que uma questão seja de admissibilidade da causa e, ao mesmo tempo, de mérito do recurso. V.g.: o juiz indeferiu liminarmente a inicial por considerar a parte ilegítima. O recurso terá como mérito a legitimidade da parte para figurar na ação. Sendo provido, a ação continua no juízo a quo. 1.7.5.2. A Causa de Pedir Recursal: o Error in Procedendo e o Error in Judicando A causa de pedir recursal compõe-se do fato jurídico apto a autorizar a reforma, invalidação, integração ou esclarecimento da decisão recorrida. O error in judicando e o error in procedendo são os fatos jurídicos capazes de, respectivamente, gerarem a reforma e a invalidação da decisão. 26 Error in judicando (vício de juízo) é o equívoco de juízo, a má apreciação da questão de direito ou da questão de fato, ou ambas; o juiz decide mal aquilo que lhe foi submetido. Isso não quer dizer que a matéria não possa ser processual, já que este tipo de matéria pode ser exatamente o mérito recursal. Error in procedendo (vício de atividade) ocorre quando há imperfeição formal na decisão, quando o juiz desrespeita norma de procedimento provocando gravame à parte ou quando sua decisão não é devidamente fundamentada. O vício de atividade quase sempre implica em anulação da sentença ou do processo, a partir de determinado ponto, com o retorno dos autos ao juízo a quo, salvo quando se puder aplicar a teoria da causa madura. 1.7.5.3. Cumulação de Pedidos no Recurso Ambos os tipos de erros podem ser alegados simultaneamente no recurso. O vício de atividade deve ser alegado de início, sendo seguido do vício de juízo. Isso porque o acolhimento do primeiro gera a sua anulação. O pedido de reforma só será analisado se não tiver sido acolhido o de nulidade. 1.7.5.4. Julgamento Rescindente e Substitutivo. O Efeito Substitutivo dos Recursos Julgamento rescindente é o que acolhe o error in procedendo, determinando que o juízo a quo profira nova decisão. Porém, em algumas hipóteses, o próprio tribunal corrigirá o erro, sem devolver os autos ao juízo a quo, como ocorre na sentençaultra petita e nas hipóteses de aplicação da Teoria da Causa Madura, prevista no art. 1.013, §§ 3º e 4º, do CPC: Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. § 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. § 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. § 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I - reformar sentença fundada no art. 485 ; II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. 27 § 4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. Trata-se de aplicação da regra do aproveitamento dos atos processuais válidos. Julgamento substitutivo é o que, acolhendo ou não o error in judicando, ou não acolhendo o error in procedendo, opera a substituição da decisão recorrida pela decisão que julgou o recurso exatamente porque não podem subsistir duas decisões com o mesmo objeto. Evidentemente a decisão somente substituirá o que tiver sido objeto de recurso, prevalecendo a parte não recorrida, se o recurso tiver sido parcial: Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso. SÓ SE PODE FALAR EM JULGAMENTO SUBSTITUTIVO QUANDO O RECURSO FOR CONHECIDO E QUANDO NÃO FOR ACOLHIDA A PRETENSÃO PURAMENTE ANULATÓRIA da decisão do juízo a quo. Neste último caso, em havendo anulação, o acórdão não substitui, justamente porque a decisão anterior foi rescindida, como se não mais existisse. Assim, não haverá o que substituir. 1.8. Princípio do Ne Reformatio in Pejus. Vedação ao Benefício Comum do Recurso Caso um dos litigantes parcialmente vencido impugne a decisão, a parte desta que lhe foi favorável transitará normalmente em julgado, não sendo lícito ao órgão ad quem retirar, no todo ou em parte, a vantagem obtida com o julgamento inferior, nem ao menos sobre ela exercer atividade cognitiva. A reformatio in pejus ocorre quando o órgão ad quem, no julgamento de um recurso, proferir decisão mais desfavorável ao recorrente, sob o ponto de vista prático, do que aquela contra a qual se interpôs o recurso. Essa vedação é explicitada na Súmula 45 do STJ: Súmula 45, STJ: “É vedado ao tribunal agravar a situação da Fazenda Pública em reexame necessário”. A vedação da reforma para pior advém do efeito devolutivo. Por limitar a cognição a ser exercida pelo órgão ad quem ao que foi objeto de impugnação, tal efeito da interposição do recurso faz presente o princípio da personalidade dos recursos. Isto significa dizer que o recurso só aproveita ao recorrente, não podendo beneficiar a parte que não o interpôs. Porém, tratando-se de matéria de ordem pública, a qual a instância recursal possa decidir de ofício, é possível, em situações extremamente excepcionais, a reforma para pior, ainda que em recurso 28 exclusivo da parte. Há diversos julgados do STJ sobre o tema, muito embora a Corte negue tratar- se de reformatio in pejus, especialmente nos casos de consectários legais: PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA DO SALDO REMANESCENTE. APLICAÇÃO DA TR. INOCORRÊNCIA DE REFORMATIO IN PEJUS. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. AGRAVO INTERNO DOS SERVIDORES A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A alteração dos índices de correção monetária e juros de mora, por se tratar de consectários legais da condenação principal, possuem natureza de ordem pública, cognoscível de ofício, motivo pelo qual não prospera a alegação de ocorrência de reformatio in pejus. Precedentes: AgRg no AREsp. 288.026/MG, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 20.2.2014; EDcl no AgRg no AREsp. 52.739/RS, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 5.12.2013; EDcl nos EDcl no Ag 1.074.207/RS, Rel. Min. ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA, DJe 4.9.2013. 2. Agravo Interno dos Servidores a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1575087/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/10/2018, DJe 19/11/2018) Assim, tem-se que é proibida é a reformatio in pejus, ou seja, a reforma para pior. Porém, no caso de consectários legais (juros, correção, honorários etc.), o STJ tem admitido a possibilidade de que sejam reconhecidos em instância recursal, mesmo que prejudique o recorrente. 1.9. Efeitos dos Recursos 1.9.1. Impedimento ao Trânsito em Julgado A interposição do recurso prolonga a litispendência, impedindo o trânsito em julgado da sentença, agora em nova instância. Qual o momento, entretanto, em que ocorre o trânsito em julgado? a) Quando o recurso for conhecido, da data do trânsito em julgado da última decisão; b) Quando o recurso não for conhecido, de acordo com o STJ, na data do trânsito em julgado da sentença ou do acórdão. Nesse caso, é como se o recurso não tivesse sido interposto. Porém, isso não ocorrerá no caso de embargos de declaração, já que se não forem conhecidos, eles interromperão do mesmo modo o prazo para interposição de outros recursos. Isso é muito importante, já que influencia na contagem do prazo de ajuizamento da ação rescisória, na contagem do prazo prescricional da pretensão de execução da sentença etc. 1.9.2. Efeito Suspensivo A interposição do recurso prolonga o estado de ineficácia em que se encontrava a decisão, impedindo que produza efeitos. Na verdade, ocorre apenas o prolongamento da ineficácia, e não a suspensão em si, já que a decisão não é eficaz enquanto sujeita a recurso, ela já nasce não 29 exequível, somente adquirindo essa qualidade após seu trânsito em julgado (salvo caso de execução provisória). Logo, o efeito suspensivo resulta da mera recorribilidade do ato. Esclareço: enquanto for cabível recurso, a decisão se encontra automaticamente suspensa. Havendo recurso, a suspensividade é confirmada, salvo nos casos em que se permite a execução provisória e no caso do RE e do REsp, que não têm efeito suspensivo. Pela literalidade do disposto no art. 998 do CPC, tem-se que a regra é a inexistência de efeito suspensivo, só ocorrendo tal quando a lei ou a decisão judicial assim determinar: Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso. Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. Um dos fatores de importância da tutela antecipada é, exatamente, ainda que concedida na sentença, retirar o efeito suspensivo do recurso. O CPC, no que se refere à apelação, traz regras importantes que afastam o efeito suspensivo, havendo, como efeito automático, apenas o efeito devolutivo: Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo. § 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: I - homologa divisão ou demarcação de terras; II - condena a pagar alimentos; III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V - confirma, concede ou revoga tutela provisória; VI - decreta a interdição. §2º Nos casos do § 1º, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório depois de publicada a sentença. § 3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1º poderá ser formulado por requerimento dirigido ao: I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; 30 II - relator, se já distribuída a apelação. § 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. Porém, mesmo nos casos do §1º do art. 1.012, poderá o órgão competente, diante das particularidades do caso concreto, atribuir efeito suspensivo à apelação. 1.9.3. Efeito Devolutivo: Extensão e Profundidade A interposição do recurso transfere ao órgão ad quem o conhecimento da matéria impugnada. Esse é um efeito comum a TODOS os recursos, ainda que o julgamento seja feito por outro ou pelo mesmo julgador. A extensão do efeito devolutivo determina o que se submete, por força do recurso, ao julgamento do órgão ad quem. Determina-se pela extensão da impugnação, pela parte do dispositivo e da fundamentação que foi guerreada pelo recorrente. Trata-se do tantum devolutum quantum appellatum. O recurso só devolve a matéria apelada, não devolve o conhecimento de matéria estranha ao âmbito do julgamento. A extensão do efeito devolutivo determina o objeto litigioso, a questão principal do recurso. Trata-se de sua dimensão horizontal. Exemplo simples: se na sentença o juiz concedeu os pedidos A, B e D ao autor, recorrendo o réu só do A e D, não poderá o tribunal conhecer sobre o pedido B e reformar a decisão para conceder o pedido C ao autor, por não ter sido pedido. Já a profundidade recursal determina com qual material o tribunal deverá trabalhar para julgar. Trata-se da dimensão vertical, o que alguns denominam de efeito translativo. Em profundidade, é amplíssima a devolução das questões, abrangendo as questões determináveis de ofício, as questões acessórias, incidentais e todos os fundamentos do pedido e da defesa, ainda que não examinados pela decisão do juízo a quo. Assim, no exemplo dado acima, o tribunal poderá analisar todos os fatos, fundamentos e questões de direito invocáveis de ofício acerca dos pedidos A e D, não se limitando aos fundamentos invocados no recurso. Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. § 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. § 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. 31 O EFEITO DEVOLUTIVO EM SUA DIMENSÃO HORIZONTAL LIMITA O EFEITO TRANSLATIVO, já que o tribunal poderá apreciar todas as questões que se relacionem somente àquilo que foi impugnado. O efeito devolutivo relaciona-se ao objeto litigioso do recurso, enquanto o efeito translativo relaciona-se ao objeto de conhecimento, às questões que devem ser examinadas como fundamentos do objeto litigioso recursal. 1.9.3.1. Efeito Devolutivo: Possibilidade de Não Devolução para Tribunal O STF considera válida e devidamente recepcionada pela CR/88 regra que, a exemplo do art. 34 da Lei 6.830/80 [“Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50 (cinqüenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se admitirão embargos infringentes e de declaração. (...) Ouvido o embargado, no prazo de 10 (dez) dias, serão os autos conclusos ao Juiz, que, dentro de 20 (vinte) dias, os rejeitará ou reformará a sentença”], considera incabível a interposição de recurso para o tribunal de segundo grau. NOUTRAS PALAVRAS, NÃO É INCONSTITUCIONAL NORMA QUE, EM DETERMINADAS SITUAÇÕES, INIBE O ACESSO AO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. Assim, fora embargos, o único recurso cabível dessa decisão, como se trata de uma decisão de única instância, é o recurso extraordinário, se satisfeitos seus requisitos. Aqui, temos um curioso caso em que cabível um recurso extraordinário de decisão de juiz de primeiro grau. Sobre o tema, segue importante julgado do STF: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE APELAÇÃO EM CASOS DE EXECUÇÃO FISCAL CUJO VALOR SEJA INFERIOR A 50 ORTN. PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO. 1. A jurisdição foi prestada pelo Tribunal de origem mediante decisão suficientemente fundamentada. 2. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE nº 637.975/MG- RG (DJe de 1º/9/11), com repercussão geral reconhecida, de relatoria do Ministro Cezar Peluzo, entendeu que a norma que afirma ser incabível apelação em casos de execução fiscal cujo valor seja inferior a 50 ORTN não afronta os princípios constitucionais da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório, da inafastabilidade da prestação jurisdicional e do duplo grau de jurisdição. 3. Agravo regimental não provido. 32 (ARE 639448 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 19/06/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-155 DIVULG 07-08-2012 PUBLIC 08-08-2012) 1.9.4. Efeito Translativo Diferentemente do efeito devolutivo, o efeito translativo não possui origem no princípio dispositivo, mas sim no princípio inquisitório. Destarte, tem-se que neste instituto o órgão destinatário do recurso não precisa se ater apenas ao pedido de nova decisão. Isto decorre de casos em que O SISTEMA PROCESSUAL AUTORIZA O ÓRGÃO AD QUEM A JULGAR FORA DAS RAZÕES OU CONTRARRAZÕES SUSCITADAS PELAS PARTES, O QUE, DIGA-SE DE PASSAGEM, NÃO CONSISTIRÁ EM JULGAMENTO EXTRA, ULTRA OU CITRA PETITA. Acompanhando os ensinamentos de Barbosa Moreira, Nelson Nery Jr. identifica o efeito translativo como a profundidade do próprio efeito devolutivo, aduzindo que sempre que o tribunal puder apreciar uma questão - geralmente de ordem pública - fora dos limites impostos pelo recurso, estar-se-á diante de uma manifestação desse efeito. Para Fredie Didier Jr., o efeito translativo determina os limites verticais do recurso, delimitando o material com o qual o tribunal ad quem trabalhará para decidir a questão que lhe foi submetida, se relacionando diretamente com o objeto de conhecimento do próprio recurso, ou seja, às questões que devem ser examinadas pelo órgão destinatário do mesmo, como fundamentos para a solução do objeto litigioso recursal. Vislumbra-se ser atualmente o efeito translativo aceito como um efeito autônomo dos recursos, na medida em que o mesmo permite que o tribunal ad quem, sempre que possível, aprecie questões que estejam até mesmo fora dos limites impostos pelos recursos (no STJ, exige-se o prequestionamento), mas ligadas aos fundamentos. 1.9.4. Efeito Regressivo, Interativo, Diferido ou de Retratação Trata-se do efeito que autoriza o juízo a quo a rever a decisão recorrida antes de remetê-lo ao tribunal, exercendo ou o juízo de retratação ou o juízo de sustentação. É o que ocorre nos seguintes recursos: a) Agravo de Instrumento (1.018, §1º); b) Agravo Interno (1.021, §2º); c) Apelação contra sentença terminativa (485, §7º); d) Apelação interposta em face de julgamento de improcedência liminar do pedido (332, §3º); e) Apelação em causas propostas no âmbito do ECA (198, VII, ECA). 1.9.5. Efeito Expansivo Objetivo Tem nítida vinculação com a própria noção dos atos processuais e do tema das nulidades no processo civil. Como se sabe, é característica natural do ato processualsua interdependência. Vale 33 dizer que um ato processual é praticado no processo por decorrência de outro, anteriormente praticado, determinando a realização de outros, que lhe seguem formando o procedimento. Por conta dessa vinculação necessária entre os atos do processo, o CPC, ao tratar da matéria das nulidades, deixa evidenciado que os atos dependentes do ato nulo se reputam de nenhum efeito. Se assim acontece no exame horizontal dos atos processuais, naturalmente essa interdependência deve mostrar-se também em matéria de recursos. Assim, a modificação ou mesmo a anulação de uma decisão judicial, pode determinar, em cadeia, o desfazimento de outros tantos atos – dependentes do primeiro na sequência do procedimento. Dessa forma, por exemplo, se for anulada, no exame do agravo, uma decisão judicial que admita, para fins civis, a interceptação telefônica, certamente essa decisão contaminará a prova colhida com base nessa interceptação e, ainda, a eventual sentença prolatada com fulcro nessa prova. ENFIM, TODOS OS ATOS JUDICIAIS QUE DEPENDAM DO ATO JUDICIAL ATACADO NO RECURSO (E QUE NÃO TENHAM SIDO MODIFICADOS OU ANULADOS EM DECORRÊNCIA DESSE RECURSO) PODEM TER SUA EFICÁCIA TAMBÉM CASSADA OU AO MENOS ALTERADA. Efeito expansivo objetivo interno refere-se a capítulos não impugnados da decisão recorrida que serão atingidos pelo julgamento do recurso. Somente ocorrerá com os capítulos não impugnados que tenham relação de prejudicialidade com os impugnados. Por exemplo, numa demanda em que um particular busca anular um contrato administrativo que celebrou com a União, do qual adveio a aplicação de multas ao contratado, caso seja provido o pedido de declaração de nulidade, efeito necessário seria o reconhecimento da desconstituição das multas aplicadas. Efeito expansivo objetivo externo se verifica sempre que o julgamento do recurso atinge outros atos processuais que não a decisão recorrida. 1.9.6. Efeito Expansivo Subjetivo É uma regra própria do litisconsórcio unitário, aplicável no âmbito recursal, pela qual a interposição de recurso por um dos litisconsortes aproveita aos demais. 1.9.7. Efeito Substitutivo Faz com que a decisão do juízo ad quem, qualquer que seja ela, substitua a decisão recorrida. O efeito vem expressamente previsto no art. 1.008 do CPC, que prevê que “o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso.”. ASSIM, AINDA QUE A DECISÃO DO TRIBUNAL CONFIRME A DECISÃO RECORRIDA SEM NADA ALTERAR EM SUA ESSÊNCIA, POR ESSE EFEITO, UMA VEZ JULGADO O RECURSO, NÃO MAIS EXISTIRÁ A DECISÃO RECORRIDA, MAS APENAS A DO TRIBUNAL. A noção desse efeito é relevante, seja para efeitos de interposição de ação rescisória, seja ainda para a impugnação da decisão por outras vias autônomas (mandado de segurança, reclamação, etc.), determinando-se, em todos esses casos, a competência para a apreciação da nova insurgência. Por substituir, a natureza jurídica de decisão que decide o recurso será a mesma da decisão recorrida. Assim, embargos declaratórios contra decisão interlocutória terão natureza jurídica de decisão interlocutória. O mesmo recurso contra acórdão deverá ser julgado por acórdão etc. 34 LEMBRAR QUE NÃO OCORRE O EFEITO SUBSTITUTIVO SE O RECURSO NÃO FOR CONHECIDO, OU, SENDO CONHECIDO, A DECISÃO IMPUGNADA FOR TOTALMENTE ANULADA. 1.10. Recurso Adesivo e Recurso Independente Recurso adesivo é aquele contraposto à parte adversa por aquela que se dispunha a não impugnar a decisão, por ter ficado satisfeita com a decisão, e só veio a impugná-la porque o fizera o outro litigante. Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância das exigências legais. § 1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir o outro. § 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo- lhe aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte: I - será dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder; II - será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial; III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele considerado inadmissível. Recurso independente é aquele interposto autonomamente por qualquer das partes, sem qualquer relação com o comportamento adversário. SOMENTE É POSSÍVEL COGITAR DE INTERPOSIÇÃO ADESIVA EM CASO DE SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA, razão pela qual não se admite, v.g., recurso adesivo do réu contra sentença que julgou totalmente improcedente o pedido do autor (por flagrante falta de interesse recursal). O recurso adesivo não é espécie de recurso, tratando-se de forma, técnica de interposição recursal. NÃO CABE RECURSO ADESIVO NOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS E ESTADUAIS. O recurso adesivo deve atender a todos os requisitos de admissibilidade exigidos para os respectivos recursos, inclusive o preparo. O prazo para sua interposição é o prazo que dispõe a parte para contra-arrazoar o recurso principal. Logo, deve-se, além de contra-arrazoar, oferecer recurso em peça distinta. 35 Assim, vê-se que o prazo recursal acaba por ser ampliado, já que, havendo sucumbência recíproca, se a parte ex adversa interpor apelação no 15º dia, a outra apresentará contrarrazões e recurso adesivo. São pressupostos do recurso adesivo: a) Sucumbência recíproca; b) Recurso de uma parte e SILÊNCIO DAQUELA QUE INTERPORÁ O ADESIVO. Assim, se ambas as partes recorrem e uma desiste de seu recurso, ao ser intimada para contra- arrazoar o recurso da outra, poderia ela interpor o adesivo? Não, porque ela recorreu. E se o recurso desistido era parcial, poderá ela recorrer adesivamente da parte não recorrida? Não, porque ela recorreu. O recurso adesivo não serve para complementar recurso já interposto. Há preclusão consumativa. E se a parte interpôs um recurso e ele foi intempestivo, pode haver recurso adesivo do recurso da outra parte? Não, pois ela recorreu, ainda que o tenha feito mal. VALE, AQUI, A REGRA SEGUNDO A QUAL O ACESSÓRIO SEGUE O PRINCIPAL. ASSIM, O EXAME DO RECURSO ADESIVO FICA CONDICIONADO AO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO PRINCIPAL, ENQUANTO SEU MÉRITO SÓ PODERÁ SER ANALISADO SE O PRINCIPAL FOR CONHECIDO (AINDA QUE IMPROVIDO). É importante lembrar que o recurso adesivo não pode ser interposto pelo Ministério Público quando atuar como fiscal da ordem jurídica ou por terceiro prejudicado, apenas por quem foi parte no processo, submetendo-se, portanto, aos efeitos da sucumbência. No que se refere às hipóteses de cabimento, tem-se que será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial. Não é cabível recurso adesivo de reexame necessário, pois este instituto não é recurso. Em regra, é possível, livremente, que a parte desista do recurso principal, situação que prejudicará o recurso adesivo. Porém, não há possibilidade de se desistir do recurso principal quando houver antecipação dos efeitos da tutela recursal à parte que recorreu de forma adesiva, pois possibilitar, em tal caso, a desistência do recurso principal é burlar a própria efetividade da decisão proferida em antecipação de tutela, fraudando o princípio da inafastabilidade da jurisdição e a boa-fé processual. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO EM DECORRÊNCIA DE ACIDENTE DE TRÂNSITO. PEDIDO JULGADO PROCEDENTE APENAS QUANTO AOS DANOS MORAIS. 1. INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO PELO RÉU E RECURSO ADESIVO DA VÍTIMA. CONCESSÃO DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA RECURSAL DETERMINANDO O PAGAMENTO DE PENSÃO MENSAL À AUTORA. FORMULAÇÃO DE PEDIDO DE DESISTÊNCIA DO RECURSO PRINCIPAL PELO RÉU. INDEFERIMENTO PELO RELATOR NO TRIBUNAL DE 36 ORIGEM. APLICAÇÃO