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Indaial – 2019 Escrita dE sinais Prof.a Mariana Correia Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.a Mariana Correia Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C824e Correia, Mariana Escrita de sinais. / Mariana Correia; Cristian Hernando Sardo da Cunha. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 260 p.; il. ISBN 978-85-515-0427-7 1. Libras. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 371.903 III ApresentAção Livro didático Escrita de Sinais Apresentação Acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Escrita de Sinais. Neste material, estudaremos as formas de registro e leitura utilizando a escrita de sinais pelo sistema SignWriting e questões relacionadas à alfabetização em escrita de sinais e à literatura surda. Desse modo, o livro didático que você tem em mãos é dedicado à aprendizagem da Escrita de Sinais de modo que você seja capaz de compreender como se dá o registro dos parâmetros fonológicos que estruturam a Libras e como eles são escritos com o uso do sistema SW. Contudo, antes de delimitar cada uma das unidades que compõem o estudo a ser iniciado, é necessário destacar brevemente alguns aspectos importantes em relação à escrita, à SW e à importância da escrita. A escrita surgiu da necessidade de registro das ações do homem, tendo sido desenvolvida a partir de situações em que o registro das quantidades de animais, produtos e alimentos se tornaram necessárias devido ao aumento do volume de negócios em que as pessoas começaram a ser envolvidas após o crescimento do comércio entre os povos. Desse modo, podemos dizer que a escrita surgiu de uma necessidade matemática de controle e anotação das quantidades envolvidas numa negociação. Inicialmente, foi utilizada a proporção de um para um, ou seja, uma marca, nós, pedra ou fichas diferentes para cada tipo; contudo, esse modo de organização começou a não dar conta do volume de coisas envolvidos. Após, começaram a ser feitos os registros de equivalência entre uma certa quantidade e um tipo de envelope que tinha dentro de si o número de fichas correspondentes, por exemplo, as bullae em que cada uma delas tinha registrado do lado de fora símbolos que expressavam a quantidade de fichas e o tipo de fichas, a partir deste momento, começou a ser possível “ler” um símbolo. Com o tempo, essa forma de representação simbólica também se tornou ineficaz, pois dependia de inúmeras referências e representação. Então, os povos começaram a desenvolver um sistema que levava em consideração o som dos símbolos, o que acabou por dar origem aos sistemas de escrita utilizados pelos povos do Egito e do Vale do Rio Indo. Partindo deste conhecimento, os gregos elaboraram o sistema de representação fonético em que cada fonema teve sua representação escrita IV expressa, possibilitando o registro da escrita a partir da combinação de um número limitado de símbolos fonéticos, dando origem, assim, ao alfabeto que utilizamos no Ocidente. Logo, a escrita nasceu e se desenvolveu a partir da necessidade de registro das ações humanas, e, com o tempo e o desenrolar da História da Humanidade, tornou-se a principal forma de estabelecer as relações comerciais, armazenar e difundir o conhecimento, estruturar o pensamento e validar as negociações e contratos, ou seja, adquiriu o status e o poder para ser o modo mais importante de comprovar, validar, apresentar, manter e difundir o conhecimento humano. Devido a essa importância, estudiosos das línguas de sinais criaram ao longo do tempo diferentes modos registro das línguas de sinais, passando por descrições, desenhos, fotos em sequência e/ou alteadas por elementos para demonstrar o movimento, registros em vídeo e glosas; através de diferentes suportes, como papel, CDs e, mais recentemente, a internet. Além disso, diferentes formas e sistemas de notação e escrita foram desenvolvidos, tais como: a notação Mimographie, a notação de Stokoe, o HamNoSys, o Sistema D’Sign, a Notação de François Neves e o ELiS. Porém, nenhum deles teve o alcance, a divulgação e a aceitação mundial que o SignWriting obteve desde seu desenvolvimento a partir do DanceWriting. O Dance Writing foi criado por Valerie Sutton para o registro de movimento do balé clássico, ao terem contato com esse sistema, pesquisadores dinamarqueses a convidaram para adaptar o sistema para o registro da sinalização de surdos. A partir daí, Valerie Sutton se envolveu com o desenvolvimento da escrita de sinais, a divulgação da cultura e a ampliação dos materiais em SW. As características que fizeram do SW aceito entre a comunidade surda são as mesmas que tornaram o sistema alfabético tão aceito entre os ouvintes, é um modo fácil e intuitivo formado a partir de um conjunto delimitado de grafemas que permite o registro de todas as partes que compõem os sinais, sendo possível a escrita e a leitura das línguas de sinais de forma clara e objetiva. Além disso, tem a característica de que, como todo o registro vivo de uma língua, estar em constante adaptação e modificação a partir de um núcleo básico de princípios que compõem o SW. Este livro didático parte, basicamente, desses aspectos de importância da escrita e do desenvolvimento da SW. Na Unidade 1, serão estudadas as formas de registro da ES através do Sistema de Escrita SW, serão vistas as questões sobre perspectiva, locações, registro de grafemas, movimento, marcas não manuais e os modos como o registro com o uso do SW pode ser feito à mão ou através de meios digitais. Na Unidade 2, este material apresentará aspectos relevantes em relação aos princípios de alfabetização e construção do raciocínio semiótico; aos modos como a ES é utilizada na alfabetização e letramento de surdos, além disso, serão discutidas estratégias para a alfabetização em ES a partir de projetos, exemplos e instituições, bem como estarão postos princípios e exemplos de adaptação de atividades de V alfabetização para o ensino e aprendizagem de ES. Por fim, na Unidade 3, serão discutidos tópicos relacionados à literatura surda e ao uso da ES para o desenvolvimento de materiais para a divulgação, registro e desenvolvimento de diferentes materiais utilizando a ES como forma de apresentação das diferentes apresentações, tipologias e usos da literatura de ficção e de pesquisa no Brasil e no mundo. Bons estudos! Prof.a Mariana Correia Prof. Esp. Cristian Sardo Neste livro didático serão utilizadas as abreviaturas ES para fazer referência à Escrita de Sinais pelo sistema SignWriting. Entretanto, quando importante para aquilo que está sendo explicado, será usado SW para fazer referência específica ao sistema SignWriting. NOTA É recomendada a consulta ao Livro Didático de Introdução à Escrita de Sinais para maior aprofundamento dos aspectos apontados de modo breve na Apresentação. NOTA VI Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-locom versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VII VIII Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE IX UNIDADE 1 – ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING.....................................................................1 TÓPICO 1 – ESTRUTURA E PERSPECTIVA .......................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 ESPAÇO DE ARTICULAÇÃO/SINALIZAÇÃO ...............................................................................5 3 PERSPECTIVA EXPRESSIVA E RECEPTIVA ...................................................................................9 4 ESCRITA EM COLUNAS ....................................................................................................................11 5 ESCRITA DO GRAFEMA DE MÃO .................................................................................................13 5.1 ORIENTAÇÃO DA MÃO ...............................................................................................................14 5.2 ORIENTAÇÃO DE PALMA DA MÃO .........................................................................................15 5.3 CONFIGURAÇÕES DE MÃO........................................................................................................17 6 ALFABETO MANUAL .........................................................................................................................20 7 PRÁTICA DE LEITURA ......................................................................................................................21 7.1 TEXTO ...............................................................................................................................................22 7.2 GLOSSÁRIO ....................................................................................................................................23 7.3 TRADUÇÃO .....................................................................................................................................23 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................24 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................26 TÓPICO 2 – REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO .............29 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................29 2 LOCAÇÕES ...........................................................................................................................................31 2.1 FACE E CABEÇA .............................................................................................................................34 2.2 PESCOÇO, OMBROS E PEITO ......................................................................................................37 3 GRAFEMAS DE MOVIMENTO I .....................................................................................................39 3.1 PLANO DE MOVIMENTO ............................................................................................................40 3.2 DINÂMICA E DURAÇÃO DE MOVIMENTO ...........................................................................48 4 PRÁTICA DE LEITURA ......................................................................................................................50 4.1 TEXTO ...............................................................................................................................................51 4.2 GLOSSÁRIO .....................................................................................................................................52 4.3 TRADUÇÃO .....................................................................................................................................52 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................53 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................55 TÓPICO 3 – GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO ..................................57 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................57 2 GRAFEMAS DE MOVIMENTO II ...................................................................................................57 2.1 MOVIMENTO DOS DEDOS ..........................................................................................................58 2.2 MOVIMENTO DE ANTEBRAÇOS ...............................................................................................61 2.3 MOVIMENTO DE PULSO .............................................................................................................65 3 TIPOS DE CONTATO ..........................................................................................................................67 3.1 TOCAR E BATER .............................................................................................................................68 3.2 ESCOVAR ..........................................................................................................................................69 3.3 ESFREGAR EM CÍRCULO E LINEAR .........................................................................................70 3.4 PEGAR ..............................................................................................................................................71 3.5 GRAFEMAS DE CONTATO ENTRE PARTES DO CORPO ......................................................71 sumário X 3.6 GRAFEMAS DE SUPERFÍCIE .......................................................................................................72 4 PRÁTICA DE LEITURA ......................................................................................................................74 4.1 TEXTO ...............................................................................................................................................75 4.2 GLOSSÁRIO .....................................................................................................................................76 4.3 TRADUÇÃO .....................................................................................................................................76 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................77 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................80AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................82 UNIDADE 2 – GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS ............................................................85 TÓPICO 1 – GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS ...............................................87 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................87 2 EXPRESSÕES VINCULADAS AO ROSTO ....................................................................................89 2.1 OLHOS E DIREÇÃO DO OLHAR ................................................................................................90 2.2 BOCA, DENTES, LÁBIOS E LÍNGUA ..........................................................................................93 2.3 NARIZ, BOCHECHA E RESPIRAÇÃO........................................................................................97 2.4 SOBRANCELHAS ...........................................................................................................................98 3 EXPRESSÕES VINCULADAS AO CORPO ..................................................................................100 3.1 TRONCO, VISTA DE CIMA ........................................................................................................100 3.2 CINTURA ........................................................................................................................................102 4 PRÁTICA DE LEITURA ....................................................................................................................103 4.1 TEXTO .............................................................................................................................................103 4.2 GLOSSÁRIO ...................................................................................................................................105 4.3 TRADUÇÃO ...................................................................................................................................105 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................106 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................107 TÓPICO 2 – ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS ....109 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109 2 ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ........................................................................111 3 EDUCAÇÃO BILÍNGUE NO ENSINO DA ESCRITA DE LIBRAS .........................................114 4 PROCESSOS EDUCACIONAIS SOBRE ESCRITA DE SINAIS ..............................................117 4.1 PRODUÇÃO ESCRITA .................................................................................................................117 4.2 LEITURA DE TEXTO ....................................................................................................................119 5 PRÁTICA DE LEITURA ....................................................................................................................120 5.1 TEXTO .............................................................................................................................................121 5.2 GLOSSÁRIO ...................................................................................................................................122 5.3 TRADUÇÃO ...................................................................................................................................126 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................127 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131 TÓPICO 3 – ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS ...............131 2 PROCESSO SEMIÓTICO .................................................................................................................132 3 ETAPAS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS .......................134 4 ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES EM ESCRITA DE SINAIS .................................................138 4.1. MATERIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA EM SW ...................................146 4.2 ADAPTAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DE ATIVIDADES PRONTAS ..................................152 5 PRÁTICA DE LEITURA ....................................................................................................................158 5.1 TEXTO .............................................................................................................................................158 5.2 GLOSSÁRIO ...................................................................................................................................160 5.3 TRADUÇÃO ...................................................................................................................................160 XI LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................161 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................168 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................170 UNIDADE 3 – REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA ..............................................................................................173 TÓPICO 1 – REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS ...................................................175 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................175 2 REGISTRO EM ESCRITA DE SINAIS ...........................................................................................176 2.1 REGISTRO COMPLETO OU REGISTRO PADRÃO ................................................................178 2.2 REGISTRO SIMPLIFICADO OU REGISTRO MANUAL ........................................................180 3 ESCRITA DIGITAL ............................................................................................................................182 4 ESCRITA DE CLASSIFICADORES ................................................................................................199 5 REGRAS ORTOGRÁFICAS .............................................................................................................200 6 PONTUAÇÃO NA ESCRITA DE SINAIS .....................................................................................204 7 PRÁTICA DE LEITURA ....................................................................................................................207 7.1 TEXTO .............................................................................................................................................208 7.2 GLOSSÁRIO ...................................................................................................................................209 7.3 TRADUÇÃO ...................................................................................................................................209 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................210 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................211TÓPICO 2 – TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA ..............................................................215 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................215 2 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA ..........................................................................................215 NA CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA .................................................................................................215 3 A LITERATURA EM LP E A REPRESENTATIVIDADE SURDA .............................................218 4 TEORIA LITERÁRIA COMO CAMPO DE ESTUDO .................................................................221 5 PRÁTICA DE LEITURA ....................................................................................................................222 5.1 TEXTO .............................................................................................................................................223 5.2 GLOSSÁRIO ...................................................................................................................................226 5.3 TRADUÇÃO ...................................................................................................................................226 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................228 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................230 TÓPICO 3 – LITERATURA SURDA ..................................................................................................233 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................233 2 LITERATURA EM LIBRAS/ESCRITA DE SINAIS......................................................................234 3 PESQUISA EM ESCRITA DE SINAIS ...........................................................................................240 4 ENCAMINHAMENTOS FUTUROS NO CAMPO ......................................................................241 DE ESTUDOS EM LITERATURA SURDA ......................................................................................241 5 PRÁTICA DE LEITURA ....................................................................................................................242 5.1 TEXTO .............................................................................................................................................243 5.2 GLOSSÁRIO ...................................................................................................................................247 5.3 TRADUÇÃO ...................................................................................................................................249 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................251 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................254 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................255 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................257 XII 1 UNIDADE 1 ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a diferença entre as modalidades faladas/sinalizadas e escritas de uma língua; • apresentar as bases estruturais do registro da ES; • compreender as perspectivas receptiva e expressiva; • examinar as diferentes formas de registro de locações, movimentos e tipos de contato; • assinalar os modos de reconhecimento e escrita das marcas não manuais; • discutir os modos de registro digital e manual da ES; • expressar brevemente a elaboração da escrita de classificadores em ES. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ESTRUTURA E PERSPECTIVA TÓPICO 2 – REGISTRO DE LOCAÇÕES E GRAFEMAS DE MOVIMENTO I TÓPICO 3 – GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ESTRUTURA E PERSPECTIVA 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, neste tópico, estudaremos os elementos básicos envolvidos na escrita da Libras, dessa maneira, serão analisados os pontos importantes de serem observados quando se dá a transposição da expressão falada (ou seja, sinalizada) para expressão escrita. Isso porque fala e escrita são intimamente relacionadas, mas, ao mesmo tempo, apresentam características particulares que às distinguem. Assim sendo, cada uma dessas formas de expressão da língua tem características distintas, porém, complementares, pois se de um lado a fala/ sinalização é mais ágil em relação às modificações regionais, vocabulares e invenções de novas palavras e sinais; de outro lado, a escrita é menos ágil, pois, para proporcionar o registro, a divulgação e o estudo das línguas de modo mais amplo e permanente, ela necessita de regras e normatizações que possam ser utilizadas, para a escrita, e decodificadas, para a leitura, de modo mais padronizado do que a estruturação utilizada na fala/sinalização. Entretanto, isso não quer dizer que a fala/sinalização não siga as regras internas da língua utilizada, nem que a escrita seja rígida a ponto de não se alterar de forma alguma, porque ambas espelharão tanto as normas implícitas quanto as mudanças que ocorrem com o uso da língua pelos falantes. Ou seja, as modificações da língua vão aparecer tanto na fala quanto na escrita, mas esta última assimilará as mudanças da língua de modo mais lento e gradual do que a fala/sinalização devido à necessidade de se manter mais estável para que seja possível de compreensão por um maior número de pessoas. Por exemplo, durante a sinalização podem ser feitas referências, voltas na história, repetição caso a pessoa não tenha compreendido um sinal, dentre outras coisas. Já na escrita é necessário que tenhamos os elementos que possibilitem a leitura do sinal de modo independente em relação à pessoa que escreveu o sinal. Desse jeito, não podemos suprimir fonemas importantes, mas também não podemos sobrecarregar a escrita de informações irrelevantes que irão, também, dificultar a leitura, assim sendo, é imprescindível que sejam estudados os elementos que compõem a ES para que seja possível uma escrita de sinais eficiente, clara e útil. UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 4 Em sua maioria os pesquisadores das línguas de sinais utilizam a mesma nomenclatura conceitual Linguística para as línguas orais e para as línguas de sinais, embora, ao longo do tempo, alguns pesquisadores tenham tentado elaborar um vocabulário conceitual linguístico específico para as línguas de sinais, como o conceito de quirema em oposição à fonema. A decisão dessa utilização de mesmo conceito independentemente da modalidade oral-auditiva ou visual-espacial está vinculada à compreensão de que as línguas são todas semelhantes em seus princípios básicos mentais, logo, não faria sentido adotar nomenclaturas diferentes para o mesmo objeto. Por exemplo, o conceito de fonema como unidade mínima de expressão das diferenças da língua, mesmo que tenha em sua base o radical fono (som), tem uma compressão que não está obrigatoriamente ligada ao som, mas às partes mínimas que diferenciam as palavras, logo, como conceito atende plenamente tanto às línguas orais quanto às línguas de sinais não sendo necessário ouso da palavra quirema (radical quiro que significa mão), porque a diferença seria apenas de nome e não de conceito. Observe os exemplos em que são colocadas em oposição palavras cuja diferença de fonemas altera o significado. NOTA QUADRO 1 – OPOSIÇÃO FONÉTICA ARTICULATÓRIA: F X V FONTE: Os autores faca X vaca FIGURA 1 – OPOSIÇÃO FONÉTICA ARTICULATÓRIA: SÁBADO X APRENDER FONTE: Os autores TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 5 No Quadro 1 e na Figura 1 o fenômeno linguístico observado é o mesmo, o ponto articulatório mudou o fonema. No Quadro 1, o modo como a língua, os lábios e os dentes obstruem o ar faz com que seja produzido o som de /f/ ou de /v/, ou seja, o lugar desses elementos na boca muda o tipo de consoante emitida. Já na Figura 1, o lugar em que a mão está modifica o tipo de sinal produzido. Assim, o fenômeno linguístico observável é o mesmo. O material-base para a elaboração desta Unidade 1 é o livro Escrita de sinais sem mistérios, escrito pelo casal Madson e Raquel Barreto, esse livro traz o resultado do estudo feito ao longo de muitos anos pelos autores. Sempre que forem feitas citações diretas ou indiretas serão feitas as referências completas no texto, contudo, é interessante que você conheça o material feito por eles. ESCRITA DE SINAIS SEM MISTÉRIO DICAS FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 3) 2 ESPAÇO DE ARTICULAÇÃO/SINALIZAÇÃO Espaço de sinalização UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 6 O espaço de articulação/sinalização é de extrema importância para as línguas de sinais, pois é através dele que os sinais são formados, as sentenças construídas e as relações sintáticas estabelecidas, ou seja, as línguas visuais- espaciais existem a partir do espaço de articulação/sinalização. O espaço de articulação ou espaço de sinalização compreende os eixos de Altura ou Plano Parede (Z), Largura (X) e Profundidade ou Plano Chão (Y), conforme estão demonstrados na Figura 2, inserida a seguir, que demonstra as possibilidades de realização da sinalização para expressão das línguas de sinais, como a Libras: FIGURA 2 – ESPAÇO DE ARTICULAÇÃO/SINALIZAÇÃO FONTE: Quadros (2008, p. 49) Numa sinalização ao vivo ou gravada em vídeo, as pessoas conseguem processar as informações dos sinais feitos como um todo, percebendo e fazendo o processamento daquilo que está sendo sinalizado de maneira completa. Isso quer dizer que, numa conversa em Libras, é possível perceber os sinais de forma integral, sem fazer a decomposição nas partes que estruturam os fonemas e estruturam a sua posição nas sentenças. Por isso, entre pessoas proficientes em Libras a conversa flui de modo contínuo e a ênfase maior é dada àquilo que está sendo o sentido da conversa e não como cada parte de sinal ou sentença é feito, pois o cérebro processa rapidamente as informações que compõem cada sinal ou sentença. Para que uma escrita das línguas de sinais seja eficiente, ela também precisa ser capaz de colocar as partes que constituem um sinal ou sentença de forma que o leitor proficiente em ES seja capaz de compreender o que está escrito sem ter que decompor o sinal em pedaços. Ou seja, a ES necessita ter modos de demonstrar claramente o uso do espaço de articulação durante o uso de cada um desses sinais na formação das sentenças. Na escrita de sinais a partir do SW, existem diferentes grafemas que são utilizados para escrita dos componentes espaciais envolvidos na ES, tais como: TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 7 De acordo com Dubois et al. (1973), os grafemas são as letras no sistema de escrita alfabético, assim sendo, na ES os grafemas correspondem às unidades gráficas que compõem o sistema de escrita, tais como as setas, asteriscos, pontos, configurações de mão etc. NOTA • Setas: possuem o papel de indicar como se dá a movimentação do sinal, demonstrando o modo como o sinal é articulado no espaço de articulação, em relação ao plano da parede, ao plano do chão ou ao plano diagonal e às possíveis interações entre eles. Por exemplo, no sinal de ENCONTRAR, colocado a seguir, as setas simples indicam que o movimento acontece num paralelo ao chão, as cores da cabeça da seta mostram o movimento realizado tanto com a mão direita (preenchida) quanto com a esquerda (não preenchida): Encontrar • Preenchimento: a forma como os grafemas são ou não preenchidos serve para indicar o modo como ele se posiciona no espaço, por exemplo, no sinal de CARRO, os quadrados representam as duas mão fechadas, por eles não estarem preenchidos, é possível saber que as mão estão posicionadas com as palmas viradas na direção do falante; o tipo de flecha indica que o movimento é feito no plano da parede, com a mão Direita (cabeça de seta preenchida) e com a mão Esquerda (cabeça de flecha sem preenchimento) por três vezes: Carro • Corte: serve para indicar o modo como a palma da mão está posicionada no espaço de sinalização, quando não apresenta corte ela está na vertical e quando tem uma interrupção na altura dos dedos é porque está na horizontal, por exemplo, os sinais de CASA e LIVRO. No primeiro, a configuração de mão está de lado para o falante e na vertical, no segundo, a configuração de mão está de lado para o falante na horizontal: UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 8 Casa Livro • Referência e destaque corporal: são utilizadas escritas específicas para delimitar ponto específico do corpo do falante em que são realizados os morfemas, no sinal de AMIG@ o traço forte em destaque indica o peito do falante e os asteriscos indicam dois toques nesta parte do corpo, já no sinal de SURD@, aparece um círculo representando a cabeça, a configuração de mão marcando a posição inicial da mão na lateral da cabeça e o asterisco identificando a posição final do movimento. Surd@ Amig@/amizade A partir dos elementos gráficos apresentados anteriormente, ficam em evidência as possibilidades que os grafemas da ES trazem para o registro e delimitação do espaço de articulação/sinalização das línguas de sinais. Cabe salientar que, de acordo com Barreto e Barreto (2015, p. 121): “por definição, sinais escritos sem nenhuma identificação do tronco (regras especiais para o centro do peito), braços, cabeça ou pescoço ocorrem no espaço neutro, isto é, à frente do tronco. Cada uma destas partes será escrita somente quando necessária ao entendimento do sinal”. Essa orientação para que sejam escritos apenas os elementos imprescindíveis para que o sinal seja entendido está de acordo com o princípio de economia das línguas, em que os detalhamentos que possam ser compreendidos pelos leitores proficientes não são colocados para evitar o excesso de informações, por exemplo, a escrita do sinal de SURD@: Capovilla et al. (2017, p. 2643) Barreto e Barreto (2015, p. 5) Embora os dois sinais sejam corretos, é perceptível que o sinal escrito por Capovilla et al. (2017) apresenta mais elementos descritivos de posicionamento do que aquele escrito por Barreto e Barreto (2015). Isso porque o primeiro coloca as informações referentes à orelha como ponto inicial através do desenho dela, bem como dois asteriscos que indicam o início e final do sinal. Já o segundo pressupõe TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 9 que a informação quanto à lateral da cabeça basta por si própria sem a necessidade de especificar a orelha, tendo em vista que anatomicamente a orelha está nesta posição, além disso, não coloca a necessidade de toque inicial, apenas de toque final na parte inferior do rosto e não necessariamente na boca. Ambos os registros estão corretos, porém o modo como Barreto e Barreto (2015) escrevem o sinal está de acordo com o princípio de economia que os autores destacam em seu livro. De acordo com Stumpf (2008a, p. 9): “chegará o momento que uma das formas será estandardizada por uma determinada língua de sinais, mas no momento podemos encontrar e ler o sinal em qualquer uma das cinco grafias”. Todas as línguas escritas se desenvolveme modificam ao longo do tempo, contudo, como a escrita das Línguas de Sinais ainda está em processo de fixação das normas de escrita e de padronização da escrita das palavras, é normal existirem diferentes grafias corretas para as mesmas palavras. Apenas com o tempo, a divulgação, a pesquisa e a circulação de materiais escritos em ES é que estas diferenças gráficas serão diminuídas pela estabilização da escrita da Libras. Isso não quer dizer a diferença entre sinais que significam a mesma coisa, mas grafias diferentes para os mesmos sinais, por exemplo, em LP, as grafias assobio e assovio são reconhecidas como corretas e fazem referência ao mesmo significado e à mesma palavra. NOTA Os sinais escritos em SW foram feitos ou retirados com o uso do SignPudlle Online 2.0, disponível no endereço: http://www.signbank.org/signpuddle2.0. Ao longo deste livro didático serão apresentados mais alguns detalhes sobre seu uso e acesso. NOTA 3 PERSPECTIVA EXPRESSIVA E RECEPTIVA Ponto de vista UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 10 Segundo Barreto e Barreto (2015), o primeiro elemento importante para o estudo da ES é a compreensão da perspectiva adotada para a escrita, ainda de acordo com os autores, existem duas perspectivas possíveis: a perspectiva da pessoa que recebe/vê o sinal ser feito pelo falante (receptiva ou de observação) e o ponto de vista do falante que está se expressando/realizando o sinal (expressiva). Os autores mencionam que para a Escrita de Sinais pelo sistema SW, deverá ser adotada sempre a perspectiva de quem está realizando o sinal, ou seja, a perspectiva expressiva é aquela que será utilizada para a escrita dos sinais em ES. Além disso, destacam que, mesmo a sinalização corrente sendo feita com a mão direita ou esquerda, de acordo com a característica do falante, o consenso entre os diversos materiais consultados é que a dominância na escrita seja da perspectiva expressiva destra, ou seja, com predominância da mão direita. FIGURA 3 – PERSPECTIVA RECEPTIVA FIGURA 4 – PERSPECTIVA EXPRESSIVA FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 121) FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 121) Normalmente, quando são utilizadas fotos alteradas digitalmente, a perspectiva adotada é a perspectiva receptiva, ou seja, o ponto de vista oposto ao utilizado na ES. A fim de observarmos essa diferença de registro, foram colocadas, a seguir, as fotos dos autores deste livro didático juntamente com a ES correspondente ao sinal pessoal de cada um deles, um dos autores, a professora Mariana Correia, que também escreveu os livros de Sintaxe da Libras e Introdução à Escrita de Sinais; o outro, é o professor Cristian Sardo. FIGURA 5 – SINAL DO AUTOR, FOTO E ES FIGURA 6 – SINAL DA AUTORA, FOTO E ES FONTE: Os autores FONTE: Os autores TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 11 Observe que as fotos alteradas digitalmente levam em consideração o modo como você, leitor, percebe o sinal feito, logo, demonstram a perspectiva receptiva como se os autores e você estivessem frente a frente numa conversa. Já a escrita de sinais demonstra o ponto de vista dos autores ao sinalizarem seus sinais, por isso, por exemplo a mão em M da professora Mariana aparece na foto com o dorso voltado para você e, na escrita, aparece com a palma virada para a professora quando faz seu sinal (como vimos antes, não preenchido significa palma da mão). 4 ESCRITA EM COLUNAS Escrever em colunas Inicialmente, o registro escrito em SW seguiu a lógica estrutural da escrita das línguas orais e se estruturou em linhas que deveriam ser lidas da esquerda para a direita, por isso, muitos textos em ES ainda são encontrados em linhas. Contudo, com o uso e a evolução do registro das línguas de sinais percebeu-se que a forma mais eficiente de escrita e leitura seria em colunas lidas de cima para baixo e da esquerda para a direita. De acordo com Barreto e Barreto (2015), dos países estudados pelos autores, apenas a Alemanha utiliza o registro em linhas e não em colunas devido à prioridade que as políticas públicas dão ao estudo da língua oral alemã. A ES em colunas proporciona maior velocidade de leitura e a estruturação dentro dos espaços definidos, segundo Barreto e Barreto (2015, p. 301): “a Coerência e Coesão Visual das LS [Línguas de Sinais] tornam-se evidentes utilizando-se a escrita de Sinais. Esse sistema registra o uso de referentes dêiticos e sua retomada (anáfora) de forma visual direta por meio do posicionamento de seus grafemas e da escrita em colunas”. A escrita em colunas permite que os elementos de articulação simultânea, que caracteriza as línguas se sinais, sejam colocados de forma clara e de fácil compreensão, ainda segundo Barreto e Barreto (2015), existem dois processos vinculados às características das línguas de sinais que são contemplados pela escrita vertical: (1) o corpo humano está naturalmente na vertical. Podemos usar a simetria da linha central da ELS (trilha 0) posicionando sinais de forma mais natural. Os olhos lerão os sinais com mais facilidade, como na vida real; (2) é mais fácil registrar e retomar as alterações de posição do corpo e também os referentes estabelecidos (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 173). UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 12 Dessa forma, os grafemas estão posicionados de maneira mais orgânica, ou seja, mais relacionada ao posicionamento dos sinais ao serem realizados no espaço de articulação/sinalização do corpo humano, o que facilita a escrita, a leitura e a compreensão dos sinais escritos em colunas. De acordo com Barreto e Barreto (2015), cada coluna de escrita em ES é dividida por linhas imaginárias que são utilizadas para guiar a escrita dos sinais de modo a demonstrar as diferentes posições ocupadas pelas partes do corpo envolvidas na sinalização, nesta representação, a posição neutra central é indicada pela faixa 0; já a faixa 1 é usada quando a cabeça e o corpo ficam no centro, mas as mãos se posicionam à Direita ou à Esquerda; por fim, a faixa 2 é utilizada quando o corpo sai da posição neutra central e as mãos são movidas para a faixa 2. FIGURA 7 – DIVISÃO IMAGINÁRIA DAS COLUNAS EM ES FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 174) Agora, para observar o uso das faixas imaginárias que dividem as colunas em ES, será feita a análise do Texto 1. TEXTO 1: Três Crianças Uma porta à esquerda Uma porta à direita Uma das crianças saiu pela porta da direita Duas das crianças sairam pela porta da direita FONTE: Barreto e Barreto (2015, p.174) TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 13 No texto, escrito em ES, podemos observar o uso das faixas imaginárias para demonstrar o posicionamento das portas e de quantas crianças saíram por cada uma das portas, como especificado na Figura 8 a seguir, o deslocamento das mãos, algo extremamente comum nas línguas de sinais para estabelecimento das posições espaciais ocupadas pelos sinais, é possível de ser escrito de forma clara através da ES. Logo, as relações sintáticas estabelecidas no espaço de articulação são nitidamente escritas de maneira exata. FIGURA 8 – DEMONSTRAÇÃO DAS FAIXAS DE POSICIONAMENTO INTERNAS DAS COLUNAS FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 174) 5 ESCRITA DO GRAFEMA DE MÃO O grafema que representa a forma como a mão do sinalizante está posicionada é um dos mais importantes para a Escrita dos Sinais através do Sistema SW, tendo em vista que os sinais nas Línguas de Sinais são formados, prioritariamente, por fonemas realizados pelas mãos do sinalizante. Dessa forma, é de grande importância o estudo das formas que a ES se utiliza para registrar o posicionamento espacial das mãos do sinalizante durante a feitura de cada um dos sinais ou as mudanças de disposição manual que ocorrem neste momento de enunciação. Ou seja, os grafemas de mão são aqueles que servirão para a escrita dos fonemas manuais da Libras. Assim, serão estudados os grafemas referentes aos grafemas de relativos à: Orientação de Mão palmar, dorsal ou lateral D ou E; Orientaçãode Palma em relação ao Planos Parede ou Chão; Configurações de Mão e, por fim, será estudada a escrita dactilológica específica do Alfabeto Manual. UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 14 5.1 ORIENTAÇÃO DA MÃO A ES utiliza formas específicas para demonstrar a orientação da mão para a feitura dos sinais, ou seja, a orientação de palma demonstra a posição da palma da mão em relação ao falante na perspectiva expressiva, como já vimos anteriormente, sendo dividida em palma, dorso e lado da mão. O quadro a seguir resume o que Barreto e Barreto (2015) mencionam sobre as diferentes orientações de mão: QUADRO 2 – ORIENTAÇÃO DE MÃO FONTE: Os autores Palma da mão Dorso da mão Lado da mão Mão direita Mão esquerda As orientações de mão laterais podem ser giradas para qualquer posição, na Figura 9, colocada a seguir, aparece a relação entre as posições da mão e a escrita delas em ES: FIGURA 9 – ROTAÇÃO DE MÃO FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 124) Assim sendo, a rotação da mão vai seguir a mesma lógica existente entre dorso e palma em que a parte que representa a palma não é preenchida e a parte que escreve o dorso é preenchida. TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 15 5.2 ORIENTAÇÃO DE PALMA DA MÃO Orientação de palma da mão Além do modo de orientação de mão, também é importante conhecer as formas como a ES representa as orientações de palma, esta escreve a posição em que a palma se encontra em relação aos planos da parede ou do chão. Ou seja, demonstram se a palma da mão está posicionada horizontal ou verticalmente. Quando a palma da mão está na vertical, ou seja, no plano paralelo à parede, o grafema é escrito sem nenhuma interrupção no traçado, como representado na Figura 10 colocada a seguir, em que a orientação de mão indica o dorso dela virado para o falante e a orientação de palma verticalmente colocada e configuração de mão pertencente ao grupo do dedo indicador (1) em D: FIGURA 10 – ORIENTAÇÃO DE PALMA VERTICAL FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 128) Observe os sinais escritos a seguir, eles apresentam diferentes orientações e configurações de mão, mas todos têm a mesma orientação vertical de palma: Comunidades Avó/avôFamília Rezar OM: dorso OP: vertical CM: C OM: dorso OP: vertical CM: F OM: lateral com dorso para fora OP: vertical CM: mão esticada OM: palma OP: vertical CM: S UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 16 As abreviaturas utilizadas anteriormente indicam o seguinte: • OM: Orientação de Mão. • OP: Orientação de Palma. • CM: Configuração de Mão. Neste momento, utilizaremos as referências das configurações de mão das letras. NOTA No momento em que a palma da mão está na horizontal, ou seja, paralela ao plano do chão, ela é escrita com uma interrupção no traçado, na posição em que está a escrita dos dedos. De acordo com Barreto e Barreto (2015, p.128): “quando a mão está na horizontal é representada como se você estivesse olhando suas próprias mãos por cima. Para isso utilizamos um pequeno espaço na altura dos dedos”. Não importando a altura da mão, pois se essa informação for necessária ela será colocada através da escrita das partes do corpo correspondentes. Na Figura 11, inserida a seguir, está demonstrada a orientação horizontal de palma: FIGURA 11 – ORIENTAÇÃO HORIZONTAL DE PALMA FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 128) ou escreve-se: Nos sinais escritos a seguir, são utilizadas diferentes orientações de mãos e configurações, mas todos com semelhante orientação horizontal de palma: Também Crianças OM: dorso OP: horizontal CM: D OM: dorso OP: horizontal CM: mão esticada Porque OM: lateral com dorso para fora OP: horizontal CM: D TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 17 Assim como na orientação de mão, os grafemas de orientação de palma podem ser girados em qualquer sentido: FIGURA 12 – ROTAÇÃO DA ORIENTAÇÃO DE PALMA FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 128) 5.3 CONFIGURAÇÕES DE MÃO Configuração de mão Cada grafema que escreve as mãos do falante em ES carrega em si, no mínimo, três informações descritivas: orientação de mão, orientação de palma e configuração de mão. Assim, mesmo que sejam analisadas em separado, essas três informações estão escritas através de um único grafema. As configurações de mão na ES têm uma compreensão semelhante às configurações de mão estudadas para o uso da modalidade falada/sinalizada, ou seja, são as formas como a mão e os dedos são posicionados para a feitura de cada sinal. Segundo Barreto e Barreto (2015), existem 111 configurações de mão em Libras, essas configurações são divididas em dez grupos baseados nas configurações dos números de 1 a 10 em American Sign Language (ASL): UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 18 FIGURA 13 – GRUPOS DE CONFIGURAÇÃO DE MÃO FONTE: Nobre (2011, p. 93) Ainda segundo os autores, nessa organização todas as configurações que utilizam os dedos envolvidos em cada grupo são inseridas dentro de cada um destes conjuntos, por exemplo, todas as configurações que envolvem o dedo indicador estendido estão organizadas no Grupo 1. Essa informação será muito importante para a escrita e localização de sinais com o uso do SigPuddle 2.0, pois cada configuração estará dentro de seu grupo específico. Por exemplo, a configuração 15 faz parte do Grupo 2, nela estão envolvidas as configurações em que os dedos indicador e médio são utilizados como protagonistas da sinalização. Acadêmico, na Leitura Complementar serão apresentados os dez grupos de configurações de mão da Libras de acordo com Barreto e Barreto (2015). ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 19 FIGURA 14 – CONFIGURAÇÃO DE MÃO 15 FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 307) Refrigerante Na Figura 14, é possível a percepção de que todos os possíveis posicionamentos de mão e de palma estão inseridos dentro da mesma configuração de mão, pois são modificações quanto ao posicionamento no espaço físico e não configurações de mão diferentes. Em relação à direção dos dedos para a realização dos sinais, Barreto e Barreto (2015) destacam que as configurações de mão podem ser escritas de forma inclinada ou não, de acordo com o desejo de quem está escrevendo sendo, pois, usos equivalentes do mesmo grafema: FIGURA 15 – DIREÇÃO DOS DEDOS FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 166) UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 20 6 ALFABETO MANUAL Assim como na sinalização, a escrita por soletração via alfabeto manual será utilizada nas situações em que um sinal específico não possa ser usado, como nomes de lugares ou pessoas que não têm um sinal, ou que o sinal será antes que será utilizado a partir daquele momento do texto. A escrita do alfabeto em Libras está colocada na Figura 16 a seguir: FIGURA 16 – ESCRITA DO ALFABETO DE SINAIS FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 220) O Texto 2 faz parte do início de uma história mencionada por Barreto e Barreto (2015) como modo de treinamento da escrita e da leitura de sinais. TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 21 TEXTO 2: FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 159) Após o momento em que o sinal é estabelecido no texto, não se faz mais necessário colocar a soletração do nome, logo, será usado apenas o sinal pessoal daquela personagem. 7 PRÁTICA DE LEITURA Exercitar a leitura O aprendizado de uma língua escrita necessita de contato com textos para que tenhamos cada vez mais agilidade na leitura dos materiais em ES. Tendo isso em vista, neste livro didático serão colocados ao final de cada tópico, além do resumo e das autoatividades, um texto com glossário para o desenvolvimento de sua proficiência em ES. A metodologia que coloca atividades de leitura ao final das unidades do livro, foi adaptada de Barreto e Barreto (2015) que colocam ao longo de seus capítulos de estudo da ES partes de uma história escrita apenas em ES. Porém, neste material, optou-se por colocar também o texto em Língua Portuguesa para melhor compreensão do vocabulário utilizado.Não esqueça que qualquer tradução é sempre uma versão, pois duas línguas diferentes também terão modos diversos de expressão das mesmas informações. Olá eu Sinal de Sávio S-Á-V-I-O { UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 22 É recomendável que você aproveite para treinar a escrita de sinais através da cópia do texto e a leitura de ES, tentando incialmente, compreender o máximo possível do texto apenas com o auxílio do vocabulário e, apenas depois, conferindo o que você entendeu com o texto em LP. Dessa forma, você poderá estudar de forma mais eficiente sua leitura e escrita em ES. Boa leitura! 7.1 TEXTO TEXTO 3: DEDICATÓRIA FONTE: Barreto e Barreto (2015, p.5) TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA 23 7.2 GLOSSÁRIO Livro Educação Profissional Brasil Bilíngue Família 7.3 TRADUÇÃO DEDICATÓRIA “Às comunidades surdas brasileiras, aos tradutores intérpretes de Libras, educadores, pesquisadores da Libras e familiares de surdos por sonharem e lutarem pela educação bilíngue para surdos” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 5). 24 Neste tópico, você aprendeu que: • Fala e escrita são intimamente relacionadas, mas, ao mesmo tempo, apresentam características particulares que às distinguem. • Cada uma dessas formas de expressão da língua tem características distintas, porém complementares. • O espaço de articulação/sinalização é de extrema importância para as línguas de sinais, pois é através dele que os sinais são formados, as sentenças construídas e as relações sintáticas estabelecidas. • Numa conversa em Libras, é possível perceber os sinais de forma integral, sem fazer a decomposição nas partes que os estruturam fonemas e estruturam a sua posição nas sentenças. • Na escrita de sinais a partir do SW, existem diferentes grafemas que são utilizados para escrita dos componentes espaciais envolvidos na ES. • Todas as línguas escritas se desenvolvem e modificam ao longo do tempo, contudo, como a escrita das Línguas de Sinais ainda está em processo de fixação das normas de escrita e de padronização da escrita das palavras, é normal existirem diferentes grafias corretas para as mesmas palavras. • O registro escrito em SW seguiu a lógica estrutural da escrita das línguas orais e se estruturou em linhas que deveriam ser lidas da Esquerda para a Direita, por isso, muitos textos em ES ainda são encontrados em linhas. • A forma mais eficiente de escrita e leitura é em colunas lidas de cima para baixo e da esquerda para a direita. • Apenas a Alemanha utiliza o registro em linhas e não em colunas devido à prioridade que as políticas públicas dão ao estudo da língua oral alemã. • A ES utiliza formas específicas para demonstrar a orientação da mão para a feitura dos sinais, ou seja, a orientação de palma demonstra a posição da palma da mão em relação ao falante na perspectiva expressiva. RESUMO DO TÓPICO 1 Resumo 25 • Cada grafema que escreve as mãos do falante em ES carrega em si, no mínimo, três informações descritivas: orientação de mão, orientação de palma e configuração de mão. Assim, mesmo que sejam analisadas em separado, essas três informações estão escritas através de um único grafema. • As configurações de mão na ES têm uma compreensão semelhante às configurações de mão estudadas para o uso da modalidade falada/sinalizada, ou seja, são as formas como a mão e os dedos são posicionados para a feitura de cada sinal. • O aprendizado de uma língua escrita necessita de contato com textos para que tenhamos cada vez mais agilidade na leitura dos materiais em ES. 26 Exercícios AUTOATIVIDADE 1 De acordo com Barreto e Barreto (2015), sobre as diferentes orientações de mãos utilizadas na ES. Relacione, de forma correta, Coluna I, orientação de mão, à Coluna II, identificação em ES: Coluna I Coluna II (1) Palma da mão ( ) (2) Dorso da mão ( ) (3) Lado da mão ( ) (4) Mão direita ( ) (5) Mão esquerda ( ) Marque a alternativa que apresenta a CORRETA numeração da Coluna II: a) ( ) 4, 5, 3, 2 e 1 b) ( ) 3, 2, 5, 1 e 4 c) ( ) 3, 1, 4, 2 e 5 d) ( ) 3, 1, 5, 2 e 4 e) ( ) 4, 5, 3, 1 e 2 2 Em ES por SW é importante que o leitor conheça as formas como são registrados os textos e como são feitas as diferentes marcações dos sinais em ES. Baseadas em Barreto e Barreto (2015): I- A escrita da Locação de Mão (LM) ou ponto de articulação (PA) só será escrita se ela for diferente do local de sinalização neutro à frente do sinalizante, caso contrário, não será desenhada. II- A CM é representada com a perspectiva da mão Direita como dominante, com as orientações de palma representadas com asteriscos. 27 III- As linhas na escrita de sinais são divididas em três linhas imaginárias, a posição média é marcada pela “Posição 0” que marca o centro do corpo; a “Posição 1” é aquela utilizada quando a cabeça e o corpo ficam no centro e as mãos se movem para a “Posição 2”. IV- A visão de registro é pela perspectiva receptiva, ou seja, os sinais são escritos na visão de quem observa. V- Quando o sinal é realizado apenas na “Posição 0”, devemos primeiro observar o fonema que representa a Configuração de Mão, após, a Localização do Sinal ou Ponto de Articulação e, por fim, o Movimento (M). Dentre estas afirmações, quais estão CORRETAS? a) ( ) I, II, III e IV. b) ( ) I, II, III e V. c) ( ) II, III, IV e V. d) ( ) I, III, IV e V. e) ( ) I, II, IV e V. 3 Identifique na expressão a seguir, a Orientação de Mão (OM), a Orientação de Palma (OP) e a Configuração de Mão (CM) utilizadas: 4 Após o nome de um personagem ser estabelecido por soletração, como ele será identificado no decorrer de um texto em ES? 28 29 TÓPICO 2 REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No tópico anterior, foram apresentadas as formas básicas da estrutura da ES: a Orientação de Mão (OM), a Orientação de Palma (OP) e as Configurações de Mão (CM), e também a forma como o alfabeto de sinais é escrito e utilizado na produção de textos em ES. Desse modo, foram estudados os grafemas que são a base para a compreensão da ES, pois a compreensão da estrutura vertical da E para a D e os modos como o posicionamento e configuração das mãos serão escritos são imprescindíveis para o entendimento de como se dá a escrita das Línguas de Sinais, como a Libras, através do sistema SW. Antes de continuarmos o estudo dos demais grafemas em ES, é interessante fazer a retomada dos parâmetros das línguas de sinais mencionadas por Brito (1995, p.14): “a estrutura sublexical [ordenação interna aos sinais] da LIBRAS [sic], assim como a de outras línguas de sinais, é constituída a partir de parâmetros (KLIMA; BELLUGI, 1979) que se combinam, principalmente com base na simultaneidade”. Essa simultaneidade está na base da apresentação da ES em colunas, como os diferentes elementos que servem para escrita dos parâmetros, ou seja, aspectos que são estruturantes das línguas de sinais e que ocorrem ao mesmo tempo. Dessa maneira a combinação dos parâmetros que compõem as línguas de sinais são partes em que os sinais podem ser decompostos porque não apresentam significado sozinhos (QUADROS; KARNOPP, 2004). Sobre quais seriam os parâmetros das línguas de sinais, Brito (1995) e Quadros e Karnopp (2004) mencionam que eles são basicamente três, acrescidos da Orientação de Mão, aspecto ainda polêmico à época em que o livro de Brito (1995) foi publicado, mas mais aceito no momento da publicação de Quadros e Karnopp (2004) devido ao seu caráter de distinguir sinais: • Configuração de Mão (CM). • Movimento (M). • Ponto de Articulação (PA) ou Locação de Mão (L). • Orientação de Mão (OM). UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 30 O caráter de distinguir sinais está vinculado à possibilidade de comparação entre dois sinais em que apenas a mudanças de um dos parâmetros acarrete, também, mudança de significado. Na Figura 17, a diferença entre os sinais de PARA CIMA e PARA BAIXO é feitaapenas com a alteração da Orientação de Mão (OM) o que comprova o caráter distintivo da OM e sua possibilidade concreta como parâmetro das Línguas de Sinais. NOTA FIGURA 17 – DISTINÇÃO DE OM FONTE: Quadros e Karnopp (2004, p. 54) PARA CIMA PARA BAIXO Na Figura 18, a imagem demonstra os parâmetros de CM, M, PA e OM, com as marcações que identificam cada um dos elementos, a fim de observar como a ES dá conta da representação destes aspectos, foi feita a comparação entre duas formas de registro do mesmo sinal REFRIGERANTE com a marcação dos parâmetros correspondentes: FIGURA 18 – PARÂMETROS DAS LÍNGUAS DE SINAIS: REFRIGERANTE FONTE: Os autores TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO 31 Assim sendo, na Figura 18, podem ser vistos os parâmetros relacionados por Brito (1994) e Quadros e Karnopp (2004), de modo a perceber o modo como a ES apresenta elementos que conseguem escrever todos os parâmetros das Línguas de Sinais de forma, por vezes, mais detalhado do uso das fotos digitalmente alteradas. Para escrita dos sinais em ES, os grafemas, ou seja, as formas de representação dos parâmetros fonológicos para o uso específico da escrita, são divididos em sete categorias que estão intimamente relacionadas a eles e entre si. Isso quer dizer que, para poder representar na escrita os parâmetros fonológicos das Línguas de Sinais foram necessários o estabelecimento de sete categorias de formas gráficas de representação, os grafemas. Segundo Sutton (2011 apud BARRETO; BARRETO, 2015) os grafemas utilizados na Escrita de Sinais pelo sistema SW são divididos em sete categorias: Mãos, Movimentos, Dinâmica e tempo, Cabeça e Face, Corpo, Locação Detalhada e Pontuação. Ainda de acordo com a mesma autora, a locação detalhada é utilizada para os registros específicos de pesquisa e dicionário. No tópico anterior, foram estudados os elementos gráficos básicos para a escrita dos grafemas de mão, no Tópico 2, veremos como são feitos os registros referentes às Locações, à Cabeça e à Face, aos Movimentos e à escrita do plano e da dinâmica dos movimentos em ES. 2 LOCAÇÕES As Locações (L) ou Pontos de Articulação (PA) são os lugares específicos em que os sinais se localizam dentro do espaço de articulação, em ES eles serão especificados na escrita dos sinais quando forem imprescindíveis para a compreensão do léxico específico. Ou seja, caso o Ponto de Articulação (PA) possa ser depreendido pelo leitor, ele não será escrito pois o leitor proficiente será capaz de compreender qual o PA a partir dos demais grafemas utilizados na escrita dos sinais. Esta é uma característica de escrita de todas as línguas sejam elas orais- auditivas ou de sinais, isso porque: Quase todos os textos que lemos ou ouvimos exigem que façamos uma série de inferências para podermos compreendê-lo integralmente. Se assim não fosse, nossos textos teriam que ser excessivamente longos para poderem explicitar tudo o que queremos comunicar. Na verdade [,] é assim: todo texto assemelha-se a um iceberg – o que fica à tona, isto é, o que é explicado no texto, é apenas uma parte daquilo que fica submerso, ou seja, implícito. Compete, portanto, ao receptor ser capaz de atingir os diversos níveis de implícito, se quiser alcançar uma compreensão mais profunda do texto que ouve ou lê (KOCH; TRAVAGLIA, 1990 apud WANDERLEI, 2012, p. 141). Assim, tanto a leitura quanto a compreensão dos enunciados falados/ sinalizados pressupõem uma série de conhecimentos sobre a língua cujo registro está sendo lido, por exemplo, cada letra utilizada no sistema alfabético pode UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 32 corresponder a mais de um fonema (som) assim como os diferentes grafemas em ES podem trazer em si indicações que demonstram mais de um parâmetro. Como exemplo, Stumpf (2008b) coloca que foi decidido na Dinamarca há alguns anos que os contatos só seriam escritos quando absolutamente necessários para o entendimento do sinal, observe os modos de escrita do sinal SURD@: FIGURA 19 – EXEMPLOS DE ESCRITA: SURD@ a b c d e f FONTE: Adaptado de Capovilla et al. (2017, p. 2643) e Stumpf (2008b, p. 9) Ao fazermos a análise das diferentes grafias para o sinal de SURD@, podemos observar o seguinte em relação a elas: • Em a, o sinal foi escrito com o sinal de contato (*) na orelha (delimitada claramente) e na boca. • Em b, o sinal foi escrito com um grafema que indica onde a CM toca na lateral da cabeça (semicírculo) e o sinal de contato (*) que indica um toque na lateral da cabeça e um toque à altura do queixo. • Em c, o sinal de contato (*) foi colocado na lateral da cabeça e próximo ao semicírculo à altura da lateral do queixo. • Em d, o sinal foi escrito com dois semicírculos marcando os toques na lateral da cabeça e na lateral do queixo, além disso, foram colocados os sinais de contato (*) nos dois lugares. • Em e, o sinal foi simplificado a ponto de marcar o lugar de início com a escrita da CM e o sinal de contato (*) marcando o final do sinal, sem a necessidade de indicação do local específico de toque com um semicírculo. • Em f, foram colocados dois sinais de contato (*) um no início do sinal (lateral da cabeça) e um no lugar em que o sinal termina. Dessa maneira, pode-se concluir que todos as formas de grafia do sinal SURD@ estão localizadas na cabeça e com a mesma CM , mas a escolha de registro varia na quantidade de detalhamento do lugar de contato do sinal. Mesmo com estas variações todas as formas de escrita estão corretas, porém, o uso atual da ES recomenda a escrita mais clara possível, desde que se mantenha a possibilidade de leitura correta do sinal. Neste caso, a ES exemplificada em e. A seguir, veremos como se dão as marcações gráficas para a escrita das locações de face, cabeça, pescoço e ombros. TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO 33 Lembre-se de que o “berço” da ES foi a parceria entre a Universidade de Copenhagem com Valerie Sutton (1974) após os pesquisadores terem acesso ao DanceWriting criado por ela para o registro dos movimentos do balé. NOTA A tese de Stumpf (2005) é muito interessante para os profissionais que atuarão na área de ensino das línguas de sinais, nela, a autora apresenta de que modo o sistema SW pode ser utilizado como ferramenta pedagógica para o ensino da escrita das línguas de sinais e letramento dos surdos, tendo em vista ser um sistema que permite o completo registro de todos os níveis da Libras (morfológico, sintático, semântico etc.) sem a intermediação da escrita oral. A leitura deste material é importante! DICAS TEXTO 4: TÍTULO DA TESE DE STUMPF (2005) EM ES: APRENDIZAGEM DE LÍNGUA DE SINAIS PELO SISTEMA SIGNWRITING: LÍNGUAS DE SINAIS NO PAPEL E NO COMPUTADOR UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 34 2.1 FACE E CABEÇA Neste subtópico, serão apresentados os principais grafemas para representar a face e a cabeça quando a escrita destas for necessária para a compreensão de qual sinal está sendo realizado. Importante destacar que estes não são os grafemas referentes às expressões não manuais que são realizadas a partir da face. Ou seja, os grafemas que representam, na escrita, a face e a cabeça são aqueles que indicam o local de realização do sinal, desse modo, são as formas utilizadas para escrever a face e a cabeça quando estas estão relacionadas à Locação (L) / Ponto de Articulação (PA) do sinal a ser grafado. O grafema utilizado para a escrita da face é composto por um círculo, conforme pode ser visto a seguir: GRAFEMA DE FACE Assim como nas línguas orais as letras são combinadas para a escrita das palavras, na escrita das línguas de sinais os grafemas são combinados para que os sinais possam ser corretamente escritos. Desse modo, ao serem acrescentados os grafemas referentes ao Movimentos e à CM ao grafema da face será possível realizar a escrita dos sinais, por exemplo, para fazer a escrita do sinal de URS@ é acrescentada ao grafemade face a configuração de mão 45 no local específico em que a CM é realizada, na lateral superior da cabeça do sinalizante: FIGURA 20 – ESCRITA SINAL DE URS@ E CONFIGURAÇÃO DE MÃO CORRESPONDENTE FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 180) Contudo, de acordo com Barreto e Barreto (2015), às vezes, também é necessário o acréscimo de um semicírculo que delimita com exatidão o local em que a CM é realizada e facilita a compreensão nos casos em que a colocação da CM no lugar específico poderia causar confusão ou dificuldade de leitura. Para exemplificar essa situação, os autores colocam o sinal de QUINTA-FEIRA, na figura a seguir aparece o comparativo entre a escrita com uma CM colocada sobre a face e a escrita de QUINTA-FEIRA com a utilização de semicírculo indicando a localização exata e a CM sendo escrita de modo claro e sem sobreposição de grafemas: TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO 35 FIGURA 21 – COMPARATIVO ENTRE CM SOBRE A FACE E ESCRITA COM CM E INDICAÇÃO DE LUGAR FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 147) Quinta-feira A seguir, estão colocados mais alguns exemplos de sinais em que a utilização do semicírculo em conjunto do grafema da face com a finalidade de evitar a sobreposição de grafemas e facilitar a leitura dos sinais: Todo dia Esperto Alemanha Verde Segundo Barreto e Barreto (2015), quando for necessária a escrita de um sinal em que a Locação for atrás da cabeça, serão colocadas duas linhas em semicírculo à direita e à esquerda do grafema da face: GRAFEMA PARTE DE TRÁS DA CABEÇA Como exemplo do uso desse grafema, os autores trazem os seguintes sinais, é interessante notar que a OM continua sendo grafada em relação à perspectiva expressiva, logo, nestes sinais, à exceção de IMPLANTE COCLEAR, estão com o dorso voltado para a frente, ou seja, para a posição que o sinalizante enxergaria caso virasse o rosto em direção a sua mão: Implante coclear Costas Meningite Falar mal pelas costas UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 36 FIGURA 21 – FACE E GRAFEMAS RELACIONADOS FONTE: Stumpf (2005, p. 84) Como pode ser visto na figura anterior, existem muitos elementos que podem ser utilizados para o uso da ES, lembrando que essas locações específicas deverão ser usadas apenas quando importantes para a leitura do sinal, ou seja, sem elas o sinal fica confuso ou incompreensível. Além disso, é preciso termos em mente que, com o tempo, as LS também terão um vocabulário mais estabilizado em relação à forma gráfica de seu léxico, como acontece com a escrita das línguas orais. Ainda em relação às grafias relacionadas à face e à cabeça, Stumpf (2005, p. 85) coloca os seguintes movimentos: FIGURA 22 – MOVIMENTOS DA CABEÇA FONTE: Stumpf (2005, p. 85) Cabeça virada para baixo Movimento da cabeça para cima e para baixo Cabeça projetada para as laterais Cabeça virada para cima Movimento da cabeça para as laterais Cabeça projetada para frente e para trás Face Pescoço Queixo Queixo para cima Orelha Atrás da cabeça Cabelo TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO 37 Neste subtópico, foram colocados os grafemas que correspondem diretamente à face e à cabeça, mais adiante, no Tópico 3, serão detalhados mais aspectos referentes às expressões faciais, tais como, olhos, direção do olhar, sobrancelhas, boca, lábios, dente, língua e respiração. ESTUDOS FU TUROS 2.2 PESCOÇO, OMBROS E PEITO O grafema do pescoço é utilizado quando a mão encosta ou se aproxima do pescoço do sinalizante, ou seja, quando o pescoço é um Ponto de Articulação (PA) necessário para a correta compreensão do sinal escrito. De acordo com Barreto e Barreto (2015, p. 121, grifo nosso): “por definição, sinais escritos sem nenhuma identificação do tronco (regras especiais para o centro do peito), braços, cabeça ou pescoço ocorrem no espaço neutro, isto é, à frente do tronco. Cada uma destas partes serão [sic] escritas somente quando necessárias ao entendimento do sinal”. O grafema que deve ser escrito da seguinte maneira: GRAFEMA PESCOÇO O uso desse grafema pode ser observado na escrita dos sinais colocados a seguir: Pescoço Nuca Morrer Gostar/adorar Minas Gerais Observe que os sinais de PESCOÇO e NUCA têm grafado o grafema de contato e os sinais de MORRER, GOSTAR/ADORAR e MINAS GERAIS apresentam o grafema indicando um contato que desliza na direção indicada pela seta. UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 38 Em relação ao ombro, Barreto e Barreto (2015, p. 283) destacam que este grafema é utilizado quando “[...] é importante indicar a distância entre as mãos e o corpo, os movimentos em direção ao corpo e ainda os sinais feitos na parte superior da cabeça ou em frente ao rosto”. O grafema usado deverá indicar o posicionamento dos ombros, podendo ser colocado reto ou girado para o lado que for necessário: Grafema de ombro Desse modo, esse grafema indica vista de cima, esta forma de visão do sinal será usado apenas quando estritamente necessário para a correta compreensão do sinal. Para exemplificar esta utilziação, Barreto e Barreto (2015, p. 283) colocam os seguintes sinais: FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 283) Em relação ao PA que está localizado no peito, segundo (Barreto e Barreto, 2015): • Quando o sinal for feito no centro do peito o grafema de contato será feito logo abaixo do grafema que representa a mão do sinalizante: Ter Meu/minha Influenza A (H1N1 - gripe suína) Porto batendo ao longe (CL) Uma onda gigante está vindo (CL) TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO 39 • Já quando o sinal tiver seu PA na lateral do peito será utilziada uma linha grossa representando os ombros vistos de frente: Amig@ • Nas situações em que o ponto de contato se localize nas duas laterias do peito ao mesmo tempo, não é colocado o grafema indicativo do peito: Orgulho Você deve ter percebido que não foi adotado neste livro um tamanho padrão para a ES, isso acontece porque, diferente das letras da escrita das línguas orais, a ES ainda é feita como uma imagem, ou seja, ela não tem um padrão exato. Por isso, ao utilizar a ES, devemos cuidar para que os sinais sejam escritos de modo claro e proporcional, quando a escrita for feita à mão isso é um pouco mais complicado, mas quando é feita via SignPudlle (um site específico) fica mais fácil deixar os textos mais bem proporcionados. NOTA 3 GRAFEMAS DE MOVIMENTO I Segundo Barreto e Barreto (2015), o grande trunfo da escrita criada por Valerie Sutton foi exatamente a capacidade do sistema criado por ela de registrar com eficiência o movimento, um dos aspectos mais complexos e, ao mesmo tempo, mais importantes das línguas de sinais. Além disso, os autores chamam atenção para o fato de que, quando foi convidada pelos pesquisadores de Copenhagem para transcrever vídeos em LS, Sutton não tinha conhecimento algum das línguas de sinais, mas “isso não a impediu de escrever estas línguas, Sutton estava escrevendo os movimentos do corpo ao realizar os sinais” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 72, grifo nosso). Desse modo, “quando [Sutton] aplicou isto [o registro dos movimentos elaborados por ela para o Dance Writing] para registrar Línguas de Sinais, foi que percebeu que registrar o movimento é também registrar a língua” (MARTIN, UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING 40 2001 apud BARRETO; BARRETO, 2015, p. 72). Foi um marco muito importante dentre as diferentes tentativas de registro das línguas de sinais, porque o movimento é exatamente o aspecto que tornava mais complexo o registro delas, porque, os desenhos com setas, as descrições, os vídeos, as anotações em glosas e os demais sistemas de notação e de escrita não haviam conseguido establecer um modo claro, prático, rápido e eficiente de registro dos movimentos que faziam parte dos sinais nas LS. Na ES pelo Sistema SW, os movimentos são grafados com diferentes grafemas que indicam o plano e a
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