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G a b r i e l a G o m e s d a S i l v a P s i c o l og i a P e r i n a t a l | 1 Há direitos autorais sobre este material, portanto é proibida a sua distribuição em qualquer meio de comunicação. Luto perinatal Período perinatal Vai da 22ª semana de gestação até o 7º dia após nascimento. Mudanças físicas se intensificam a partir do 3º trimestre da gestação, o que gera uma restruturação na vida da mulher, que vai repensar o seu papel na sociedade, já que deixa de ser somente filha e passa a ser mãe. Vínculo mãe-bebê Assim que a mulher descobre a gravidez, se inicia o vínculo mãe-bebê. O bebê até então é imaginário, não real. Para a psicóloga perinatal, é importante observar também o vínculo estabelecido pelos outros membros da família com o bebê. Conforme o bebê anuncia a sua existência como real, o vínculo aumenta, por volta da 15ª, 20ª semana. A partir do período perinatal, o vínculo já está fortalecido. Se ao comer uma maçã, o bebê chuta, a mãe já supõe que ele gostará da fruta. Isso mostra que ela espera uma continuidade da vida dele. Quando essa mulher se depara com a interrupção dessa gestação, toda a representação construída não poderá mais se concretizar (sonhos, planos, felicidade). Óbito perinatal Pode acontecer em decorrência de acidentes, traumas e doenças inesperadas, síndromes genéticas, etc. Se uma mãe sabe que a gestação é de risco e que há poucas chances de o bebê sobreviver, ela não sabe se cria expectativas ou não. "Qual vai ser o nome?", "qual o sexo?". Ela carrega vida e morte em seu ventre. Luto não reconhecido A sociedade tem um papel importante na psique, e a mulher não sabe o que dizer às outras pessoas, e nem como encarar o óbito – afinal é um luto não reconhecido, porque a maioria das pessoas não compreende o sofrimento, já que “o bebê mal nasceu”, e “é só engravidar de novo”. Como esse bebê não foi apresentado socialmente, as pessoas acabam inutilizando-o, o que intensifica a dor dessa mulher; ela acaba se isolando e não falando com ninguém. A não aceitação de rituais de despedida (como velório) também é comum. A mulher questiona a própria fertilidade, não consegue falar do próprio luto, e com isso os casais acabam passando por crises. Falar sobre morte é um tabu na nossa sociedade, e com o luto perinatal isso se intensifica, pois nós não sabemos como lidar com esse luto já que é tão inesperado. Consequências não lineares do luto Isolamento, culpa, desesperança, solidão, raiva, tristeza; Ela não consegue realizar os rituais fúnebres; "Será que esse diagnóstico (de que o bebê pode falecer) não é porque eu fiz tal coisa durante a gestação?"; Quando essa mulher já tem algum filho, ela tem ao que se agarrar, mas quando é o primeiro filho há uma desesperança muito grande, ela duvida da própria fertilidade; Raiva de Deus, raiva do corpo, raiva do bebê (porque às vezes o médico diz "agora só depende do bebê"). Rituais de despedida É comum que realizem os rituais fúnebres só com pessoas próximas e em número pequeno, já que não se tem o acolhimento necessário por parte da sociedade. Às vezes a mulher nem pode ir ao ritual por estar hospitalizada, "então para quê levar o corpo?" – ela desiste da ideia de realizá-lo. Há equipes hospitalares que conseguem prolongar o período em que o bebê fica no necrotério, até que a mãe saia do hospital. Existem grupos no Facebook de mães enlutadas G a b r i e l a G o m e s d a S i l v a P s i c o l og i a P e r i n a t a l | 2 Há direitos autorais sobre este material, portanto é proibida a sua distribuição em qualquer meio de comunicação. A psicóloga Nós psicólogas mediamos tanto a equipe que atendeu aquela gestante quanto a sua família. Quando há risco de morte, a gestante participa de um planejamento para decidir se vai querer ver o bebê ou não, se ficará um tempo com ele ou não, etc, e a equipe pode mostrar fotos de como o bebê pode nascer para preparar essa mãe. Poucos hospitais e maternidades tem psicólogas na equipe; Acolher toda essa situação é muito difícil para nós psicólogas, às vezes os pais não podem tocar no bebê devido a alguma patologia, então o amparo é muito necessário para essa família; Sabendo de uma gestação de risco, devemos trabalhar todas as possibilidades com a mãe para "amortecer" um possível óbito, conversando com ela, percebendo quais são as expectativas dela sobre a gestação e parto; Podemos acolher também profissionais da equipe (fisioterapeuta que acompanhou a mãe, por exemplo); A equipe pode acolher bem a psicóloga ou não; Quem comunica o óbito é o médico, mas o psicólogo pode estar junto; A mãe pode guardar uma mecha de cabelo, um carimbo do pé, etc. Construção de significados É importante que a psicóloga observe e investigue o que essa morte representa na vida da mãe e da família, sempre ofertando espaço e respeitando o tempo e desejos da mulher. O processo dual do luto Nós trabalhamos com duas possibilidades: Orientação para a perda: a mãe se nega, fica triste, chora, enfim, sente a dor (trabalho do luto, intromissão da dor, quebra dos laços, negação e evitação, anseio por proximidade, vivenciar a perda, ruminação – querer o bebê de volta, pensar como seria ter o bebê); Orientação para a restruturação: as mães começam a pensar como será o futuro sem o bebê, o que ela vai fazer com as coisas que comprou para o bebê, vai voltar ao trabalho, sair para se distrair, enfim, voltar à vida. A mulher atenderá as mudanças, as novas funções, irá procurar distração da dor, evitamento da dor, retomará atividades, planejará seu futuro e irá rever sua identidade O ideal é que a mãe oscile entre esses modelos, é fundamental que isso aconteça. Não existe um tempo esperado do luto, mas é preciso observá- lo para percebê-lo enquanto um luto normal ou luto patológico. Referências Curso livre de Atribuições do Psicólogo no luto perinatal com a psicóloga Aryana Faria Calissi | CRP 06/148970. www.psicologaaryanafaria.com.br É importante que todas essas decisões partam da mulher http://www.psicologaaryanafaria.com.br/
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