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4 24 24 24 24 2 Silva & Sobral Fº Velocidade e inclinação no protocolo em rampa na esteira ergométrica Arq Bras Cardiol 2003; 81: 42-7. Prontocor – Hospital do Coração e Atleticor – Medicina do Exercício. Correspondência: Odwaldo Barbosa e Silva - Prontocor Hospital do Coração – Rua da Creoulas, 133 CEP 52011-270 – Recife, PE - E-mail: odwaldo@cardiol.br Recebido para publicação em 21/05/02 Aceito em 29/07/02 Arq Bras Cardiol, volume 81 (nº 1), 42-7, 2003 Odwaldo Barbosa e Silva e Dário C. Sobral Filho Recife, Pernambuco Uma nova Proposta para Orientar a Velocidade e Inclinação no Protocolo em Rampa na Esteira Ergométrica Artigo Original O teste ergométrico (TE), teste de esforço ou ergometria, é um dos métodos complementares de diagnóstico não invasivos mais solicitados nas consultas cardiológicas. Pelas estatísticas norte-americanas, 8,2% dos pacientes são orien- tados a se submeter ao procedimento1. Está indicado no auxí- lio ao diagnóstico, estabelecimento de condutas, deter- minação do prognóstico e avaliação funcional do sistema cardiovascular. Era utilizado, inicialmente, na investigação da dor torácica em pacientes suspeitos de doença arterial coronariana, posteriormente, teve suas indicações ampliadas a outras situações clínicas e especialidades médicas. Master, em 1929, foi o primeiro autor a descrever uma metodologia para a realização do TE, utilizando o esforço em uma escada de dois degraus. A capacidade cardíaca era avaliada pelas respostas do pulso e da pressão arterial, não sendo reconhecido o valor do eletrocardiograma2,3. O uso da bicicleta ergométrica cresceu a partir dos estudos de Astrand e cols.4 em 1954, que estabeleceram as bases fisio- lógicas para o teste de esforço, correlacionando o consumo de oxigênio com a freqüência cardíaca ao nível sub-máximo do exercício. Bruce5 introduziu a esteira rolante para a realização do teste e descreveu o protocolo para a utilização deste novo tipo de ergômetro, marcando o início da moderna metodolo- gia do TE. Até hoje, este protocolo é o mais utilizado em todo o mundo, e é padronizado pela Organização Mundial de Saúde6. Em 1959, Balke e Were desenvolveram um novo protocolo de esforço, e estabeleceram uma fórmula para o cálculo do consumo de oxigênio baseados na velocidade e inclinação da esteira6. Ellestad e cols.7, publicaram um pro- tocolo do TE em esteira ergométrica, com inclinação fixa de 10% e velocidade de 1,7 milhas por hora (mph) por 3min, 2min a 3 mph, 2min a 4 mph e finalmente 5 mph por 3 mins, com acompanhamento do eletrocardiograma (ST e ritmo), freqüência cardíaca, pressão arterial e surgimento de dor torácica. Em nosso meio, um dos primeiros trabalhos publicados na área de ergometria foi de Eugênio do Carmo, do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, no Rio de Janei- ro, em 1962. Entretanto, a divulgação do método como exa- Objetivo - Sugerir critérios para orientar a prescri- ção do protocolo em rampa na esteira ergométrica, de acordo com o sexo e idade, baseados na velocidade, incli- nação e VO 2 max alcançados pela população estudada. Métodos - Trabalho prospectivo descritivo da fre- qüência cardíaca (FC), tempo, velocidade, inclinação e VO 2 estimado no esforço máximo de 1840 indivíduos de 4 a 79 anos, que realizaram o teste ergométrico (TE) segun- do o protocolo em rampa. O teste t de Student pareado foi aplicado para avaliar a diferença entre o VO 2 max previs- to e alcançado, calculados pelas fórmulas do “American College of Sports Medicine”. Resultados - A FC sub-máxima foi ultrapassada em 90,1% dos exames, com tempo médio de 10,0 + 2,0mins A velocidade e inclinação iniciais e no pico do exercício e o VO 2 max foram inversamente proporcionais à idade e maiores nos pacientes do sexo masculino. O VO 2 max pre- visto foi significativamente menor que o alcançado em todos os pacientes, exceto crianças e adolescentes (idade < 20 anos) do sexo feminino. Conclusão - A utilização da velocidade, inclinação e VO 2 max efetivamente alcançados, como critérios na prescrição da rampa, pode auxiliar na realização do TE na esteira ergométrica. O protocolo em rampa foi bem tole- rado em todas as faixas etárias e sexos, com tempo de esfor- ço dentro do programado (8 a 12mins). Palavras-chave: teste ergométrico, teste de esforço, pro- tocolo em rampa Arq Bras Cardiol 2003; 81: 42-7. Silva & Sobral Fº Velocidade e inclinação no protocolo em rampa na esteira ergométrica 4 34 34 34 34 3 me de rotina em cardiologia é creditada a Feher e Maga- lhães, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo6. Em 1981, a partir da descrição da resposta cardiovascu- lar ao teste em rampa num cicloergômetro, este protocolo passou a ser utilizado na realização do TE8,9. Vivacqua & Hespanha10, descreveram protocolos especiais para a estei- ra ergométrica adaptados à população brasileira, tendo como característica a aplicação de carga de forma semi-indi- vidualizada, permitindo ao paciente executar o exercício de maneira mais confortável e mais bem ajustada à sua condi- ção física atual. Myers e cols.11, publicaram o primeiro traba- lho comparando outros protocolos aos de rampa, servindo de base para os estudos que se seguiram sobre a utilização do protocolo em rampa na esteira ergométrica (PR). A escolha do protocolo está na dependência do ergô- metro disponível e do paciente a ser examinado. Protocolos escalonados, comumente utilizados na esteira, como os de Bruce, Ellestad, Sheffield e Naughton, apresentam aumen- tos de carga (inclinação e velocidade) a intervalos regulares de 2 ou 3min10,12,13. A intensidade do trabalho permanece constante durante alguns minutos e é então aumentada, subitamente. Pacientes com características diferentes, como idade, sexo e condicionamento físico, são submetidos a esforços pré-determinados de mesma intensidade, o que irá causar grande variação no tempo do exame, de acordo com as características de cada indivíduo examinado. O PR se caracteriza pela duração entre 8 e 12min, com aumentos pequenos e constantes da velocidade e inclina- ção, individualizados para sexo e idade do paciente, toman- do como base o VO2 max previsto 9,11,14,15, que pode ser esti- mado pelas fórmulas do ACSM14,16 [sexo masculino: VO2=1,11x (60–0,55x idade), sexo feminino: VO2=1,11x (48– 0,37x idade)] ou pelo questionário “VSAQ” (Veterans Self- Administered Questionnaire)17,18. Testes mais curtos mos- tram valores menores do VO2 max, possivelmente por limita- ção muscular pela maior intensidade do esforço. Da mesma forma, nos testes mais longos, também são encontrados menores valores de VO2 max, pelo aumento da temperatura corporal, maior desidratação, desconforto muscular ou pelos diferentes substratos energéticos envolvidos nos exercícios mais prolongados19. Atualmente, a maioria das clínicas brasileiras que rea- liza o TE utiliza a esteira, e o protocolo preferido ainda é o de Bruce. A tendência no entanto, é para a realização do PR, que individualiza o aumento do trabalho de acordo com o paci- ente e permite a realização do TE, independente da idade, sexo ou condicionamento físico prévio1. Como o VO2 max, estimado por fórmulas, superestima o VO2 quando comparado com o medido diretamente pelo teste de esforço cardiopulmonar20, a velocidade e inclinação suge- rida pelo sistema computadorizado, para a realização do TE em rampa, subestimam a duração do exame. A partir da obser- vação que os exames freqüentemente apresentavam um tempo superior a 12min, passou-se a utilizar valores maiores de velocidade e inclinação a serem alcançados no esforço máximo, para que o teste durasse entre 8 e 12 min. O presente trabalho tem o objetivo de descrever o tem- po médio do exercício, a velocidade e inclinação alcançadas pelos pacientes no pico do exercício, distribuidos por sexo e idade. O VO2 max alcançado, calculado indiretamente pela fórmula do ACSM14,16 é comparado com o previsto para o paciente. Espera-se assim, poder contribuir com novos cri- térios para orientar a prescrição do exercíciona realização do PR. Não se pretende realizar comparações das variáveis entre idades e sexos, já que a diferença na tolerância ao exer- cício após a puberdade já está bem estabelecida21. Métodos De fevereiro de 1998 a dezembro de 2001, foram realiza- dos 15.589 testes utilizando-se o protocolo em rampa, em 3 laboratórios de ergometria, em pacientes com características semelhantes, cobertos pelos mesmos seguros de saúde, e encaminhados pelo mesmo grupo de médicos. Entre 1.966 exames realizados por um observador, de janeiro de 2000 a dezembro de 2001, foram selecionados 1.840 com idade entre 4 e 79 anos, 965 (52,4%) do sexo feminino e 875 (47,6%) do sexo masculino. Foram incluídos os indivíduos que concluíram o pro- tocolo, interrompido por fadiga, independente do diagnós- tico ou do uso de medicações. Foram excluídos aqueles com dados incompletos ou interrompidos por outras causas, antes de ultrapassar a freqüência cardíaca máxima (FC máx) prevista para a idade, calculada pela fórmula de Karvonen22, como: dor torácica, alterações eletrocardiográficas (seg- mento ST, distúrbios do ritmo, da condução intraventricular ou atrioventricular), comportamento anormal da pressão arterial ou outras anormalidades. Como crianças e adolescentes, foram considerados os indivíduos com idade < 19 anos, e idosos aqueles com idade > 60 anos. As variáveis analisadas, representadas pelas médias + desvio padrão, categorizadas por sexo e idade foram: veloci- dade e inclinação prescritas no inicio do exercício e alcança- das no esforço máximo, tempo de exercício, freqüência cardía- ca máxima alcançada, VO2 max previsto e alcançado no pico do esforço. Os valores do VO2 previsto e alcançado foram calculados pelas fórmulas do American College of Sports Medicine (ACSM)14,16 e a análise estatística pelo o teste t de Student pareado, com valor significativo para p<0,05. Os TE foram realizados utilizando-se esteira ergométrica Micromed/Inbramed modelos EM 200 e 10.400, controladas por um sistema computadorizado Micromed ErgoPC-13/ ErgoPC Elite, que comanda a velocidade e inclinação da esteira, estima o VO2 e sugere valores individualizados para a realização do esforço. Foi utilizado um sistema de registro eletrocardiográfico de 13 derivações (MC5 e as 12 derivações clássicas do ECG), com colocação dos eletrodos a partir da orientação de Mason e Likar modificada22. No protocolo em rampa, o sistema computadorizado sugere a velocidade e a inclinação que o paciente deverá alcançar aos 10min de exercício, para atingir o VO2 previsto para sexo e idade. A partir dos primeiros exames realizados, 4 44 44 44 44 4 Silva & Sobral Fº Velocidade e inclinação no protocolo em rampa na esteira ergométrica Arq Bras Cardiol 2003; 81: 42-7. observou-se que o VO2 max alcançado e o tempo de esforço eram geralmente superiores aos esperados. Para realizar o PR dentro dos 10min previstos, os valores da velocidade e incli- nação passaram a ser prescritos acima dos sugeridos pelo sistema. Para os pacientes mais jovens os parâmetros eram calculados para alcançar VO2 max 20 a 30% acima do previs- to e os mais idosos cerca de 10%. Posteriormente, o uso dos valores observados (inclinação, velocidade e VO2 max alcançado), passaram a servir como critérios na prescrição do protocolo. Resultados Dos 1.840 pacientes incluídos no trabalho, com idade entre 4 e 79 anos (45,8 + 16,9), 965 eram mulheres, com idade média de 48,2 + 15,6 e 875 homens, com 43,1 + 17,9 anos. Mais de 75% dos pacientes apresentavam idade entre 30 e 69 anos e 192 (10,4%) eram crianças e adolescentes. No sexo feminino, 52% tinham entre 40 aos 59 anos e no sexo mas- culino, 58,7% estavam na faixa dos 30 aos 59 anos. Em 90,1% a FC máx alcançada foi > à FC sub-máx pre- vista para a idade (teste eficaz) - sexo feminino 88,8% e mas- culino 91,4%. Entre as crianças e adolescentes, 95,3% do sexo feminino e 90,6% do sexo masculino realizaram teste eficaz. Os idosos apresentaram um menor número de testes eficazes (78,7%). O tempo médio do esforço foi de 10,0 + 2,0 min, com 9,5 + 1,8 min para as mulheres e 10,6 + 1,9 min para os homens. Quando distribuída por sexo e idade, a velocidade ini- cial média corresponde aproximadamente à metade da velo- cidade máxima alcançada, e a inclinação sofre variação de cerca de 10% entre os valores iniciais e máximos, conforme pode ser observado nas tabelas I e II. O VO2 max médio alcançado foi superior ao previsto em ambos os sexos e todas as faixas etárias, sem diferença significativa apenas nas crianças e adolescentes do sexo feminino (tab III). Tabela I - Distribuição das pacientes do sexo feminino, que realizaram o TE segundo o protocolo em rampa conforme a freqüência, a velocidade e a inclinação no início do exercício e no esforço máximo (média e desvio padrão) – Recife / PE Faixa etária Freqüência Velocidade inicial Velocidade máxima Inclinação inicial Inclinação máxima n Média DP Média DP Média DP Média DP 05 |—| 19 64 3,4 ± 0,3 7,5 ± 0,8 4,9 ± 1,2 14,9 ± 1,8 20 |—| 29 57 3,4 ± 0,3 7,1 ± 0,8 5,7 ± 0,9 15 ± 2,2 30 |—| 39 111 3,2 ± 0,3 6,6 ± 0,9 5,4 ± 0,6 14,8 ± 1,9 40 |—| 49 236 3 ± 0,2 6,1 ± 0,7 5,2 ± 0,6 14,5 ± 1,8 50 |—| 59 266 2,8 ± 0,3 5,8 ± 0,7 4,3 ± 1 13,8 ± 2,2 60 |—| 69 174 2,5 ± 0,3 5,2 ± 0,7 2,5 ± 1,3 11,8 ± 2,4 70 |—| 79 57 2,1 ± 0,3 4,7 ± 0,8 0,4 ± 0,9 9,6 ± 2,7 Tabela II - Distribuição dos pacientes do sexo masculino, que realizaram o TE segundo o protocolo em rampa conforme a freqüência, a velocidade e a inclinação no início do exercício e no esforço máximo (média e desvio padrão) – Recife/PE Faixa etária Freqüência Velocidade inicial Velocidade máxima Inclinação inicial Inclinação máxima n Média DP Média DP Média DP Média DP 04 |—| 19 128 3,8 ± 0,6 8,7 ± 1,4 5,3 ± 1,6 16,2 ± 2,9 20 |—| 29 70 3,7 ± 0,3 7,9 ± 1,2 6 ± 1,6 15,9 ± 2 30 |—| 39 140 3,5 ± 0,4 7,8 ± 1,1 6 ± 1,2 16 ± 2,6 40 |—| 49 200 3,4 ± 0,6 7,4 ± 1 5,5 ± 0,7 16 ± 1,8 50 |—| 59 174 3,1 ± 0,4 6,6 ± 0,9 5 ± 0,7 15,7 ± 2,1 60 |—| 69 98 2,7 ± 0,3 6 ± 0,7 3,3 ± 1,4 14,4 ± 2,5 70 |—| 79 65 2,4 ± 0,3 5,4 ± 0,9 1,0 ± 1,3 11,5 ± 3 Tabela III - Distribuição dos pacientes que realizaram o TE segundo o protocolo em rampa conforme o sexo e faixa etária, VO 2 max previsto e alcançado e valor de p – Recife/PE Sexo feminino Sexo masculino Idade VO2 max previsto VO2 max alcançado Teste t Idade VO2 max previsto VO2 max alcançado Teste t Média DP Média DP p* Média DP Média DP p* 05 |—| 19 48,1 ± 1,5 49,8 ± 7,9 0,11 04 |—| 19 58,3 ± 2,2 60,9 ± 12,8 0,031 20 |—| 29 42,5 ± 1,2 47,9 ± 9 < 0,001 20 |—| 29 50,5 ± 1,6 54,9 ± 10,9 0,001 30 |—| 39 38,4 ± 1,2 44 ± 8,6 < 0,001 30 |—| 39 44,8 ± 1,7 54,4 ± 11,8 0,000 40 |—| 49 34,5 ± 1,1 40,9 ± 7,2 < 0,001 40 |—| 49 39,1 ± 1,8 51,8 ± 10,5 0,000 50 |—| 59 30,8 ± 1,2 37,6 ± 7,6 < 0,001 50 |—| 59 33,2 ± 1,8 46,3 ± 09,2 0,000 60 |—| 69 26,6 ± 1,2 31,4 ± 7,2 < 0,001 60 |—| 69 27,2 ± 1,6 40,3 ± 08,3 0,000 70 |—| 79 23,1 ± 1,1 25,5 ± 6,9 0,008 70 |—| 79 21,7 ± 1,4 32,1 ± 08,3 0,000 * Diferença não significativa para p > 0,05. Arq Bras Cardiol 2003; 81: 42-7. Silva & Sobral Fº Velocidade e inclinação no protocolo em rampa na esteira ergométrica 4 54 54 54 54 5 Discussão A primeira descrição do protocolo em rampa em estei- ra, foi publicada por Myers e cols.11 em 1991, que apresenta- ram 44 pacientes. Um ano depois, os mesmos autores17, estudaram 200 pacientes, aparentemente sadios. Aksut e cols23, avaliaram as respostas hemodinâmicas em 30 pacien- tes jovens e saudáveis (11homens e 19 mulheres), compa- rando o protocolo de Bruce com um protocolo individualiza- do em rampa. No mesmo ano, Yokoyama e cols.24, também compararam a resposta entre estes dois protocolos em 17 homens e 5 mulheres. Um número mais significativo, de 698 pacientes de ambos os sexos, foi apresentado por Kamin- sky & Whaley25, com o protocolo de Bruce rampeado. Bader e cols26 observaram o comportamento de 24 indiví- duos com idade > 60 anos submetidos ao protocolo em ram- pa e McInnis e cols.27, em 25 mulheres obesas. No mesmo ano, Will & Walter28 compararam o protocolode Bruce com Bruce rampeado em 23 pacientes. Observa-se portanto, que o número de pacientes ava- liados no presente trabalho, foi superior aos diversos estu- dos prospectivos publicados sobre o protocolo em rampa. Não foram considerados o uso de medicações ou a associa- ção de doenças nesta população, pois as principais variá- veis analisadas foram o tempo de exercício, a velocidade e a inclinação alcançada e o VO2 max calculado em relação ao previsto (pelas fórmulas do ACSM16). Em 90,1% dos pacien- tes a FC máx alcançada foi > 85% da FC máx prevista pela fórmula de Karvonen22. Apenas os pacientes com idade > a 60 anos, em uso mais freqüente de medicações, que pudes- sem interferir no cronotropismo, tiveram a freqüência relati- va de exames ineficazes < 80%. Esta população de idosos alcançou em média 91,4 + 11,9% da FC máx prevista, contra 83 + 10% dos pacientes estudados por Bader26 em 1999. Na faixa etária dos 20 aos 39 anos quase 100% dos indivíduos alcançaram a FC sub-máx prevista. A duração média do exercício de 10 + 2 min, indepen- dente da idade e sexo, ficou entre o tempo de 8 e 12min, de acordo com o sugerido pelas últimas diretrizes do ACC/ AHA29 em 1997 e do ACSM30 em 2000 e também com as publicações que descrevem a metodologia e interpretação do TE e que afirmam que o tempo ótimo para o exercício deve ser entre 8 e 12min8,9,11,15,17,18,31. Os programas de computa- dor desenvolvidos para individualizar o teste objetivam al- cançar o VO2 max previsto dentro deste tempo ideal 11,32. O tempo de exercício no protocolo de Bruce é significativa- mente menor que os de Balke e rampa, e os protocolos com tempo mais curto causam maiores discrepâncias entre o VO2 e a carga de trabalho 11. Testes com duração maior que 15min podem se tornar monótonos para indivíduos normais ou cardiopatas, além de comprometer uma adequada avalia- ção do consumo de oxigênio. O tempo de exercício e a ade- quação às condições hemodinâmicas de forma individuali- zada tornam o teste mais agradável, seguro e com melhor acurácia diagnóstica18. Revisão da literatura publicada por Myers & Bellin8 reforça as afirmativas anteriores que no TE em rampa o exercício deve ser individualizado, para alcançar o VO2 max previsto em 9 a 10min. No presente estudo, apenas as pacientes com idade abaixo dos 20 anos não mostraram diferença significativa quando comparados os valores do VO2 max previsto e alcançado, calculado pela fórmula do ACSM, de acordo com o sexo e faixa etária. Em todos os outros, independente do sexo e da idade, o consumo de oxigênio alcançado foi significativamente superior ao previsto, em concordância com a referência de Araújo20 que o VO2 estimado por fórmu- las superestima o VO2 quando comparado com o medido através de análise dos gases expirados. Os valores médios da velocidade e inclinação alcançadas no esforço máximo foram superiores àqueles estimados na prescrição da rampa individualizada, utilizando como padrão o VO2 max previsto. Myers e cols.11, em 1991, publicaram o primeiro traba- lho que comparou outros protocolos aos de rampa. Subme- teram 41 pacientes a 6 diferentes protocolos, 3 em esteira (Bruce, Balke e rampa) e 3 em cicloergômetro (25 Watts, 50 Watts por estágio e rampa). Observaram as respostas hemo- dinâmicas e trocas de gases e desenvolveram programas de computador para individualizar a rampa, baseada na capacidade de exercício na esteira ou bicicleta, para obter um tempo ótimo de exercício de 9 a 10min. O VO2 max na esteira foi 16% maior que no cicloergômetro. Não houve diferenças significativas na freqüência cardíaca, pressão arterial ou VO2 max entre os protocolos em esteira e em bici- cleta ergométrica (usando o mesmo ergômetro). Em todos os protocolos, rampa ou não, o VO2 max previsto foi maior que o medido. O erro em predizer o VO2 pela carga de traba- lho foi menor com os protocolos em rampa, que tem uma relação mais linear entre estes parâmetros. Usando protoco- los com curtos e pequenos aumentos de carga entre os estágios ou o protocolo em rampa, o VO2 max alcançado através de análise dos gases expirados tem valores mais próximos do VO2 max previsto. Myers e cols.17 afirmaram que a escolha do protocolo do teste pode influenciar na avaliação das variáveis. As causas da interrupção (segmento ST, FC e VO2) podem sofrer variações com o protocolo. A individualização do teste, com reduzido aumento da carga de trabalho e duração adequada (8 a 12min) são recomendações para aperfeiçoar a prova. Yamamoto e cols.33, desenvolveram um programa de computador para controlar o aumento da velocidade e incli- nação da esteira ergométrica, a fim de permitir o aumento linear do VO2 com o indivíduo caminhando até o final do exercício, de acordo com o tempo do exame. Para Myers & Froelisher31, o protocolo de exercício deve ser individualizado, com aumento progressivo, peque- no e constante da inclinação e velocidade, de modo a permi- tir realizar o teste em 8 a 12 min. A comparação do resultado entre exames diferentes pode ser feita pela carga de traba- lho realizada, ao invés do tempo de exercício, como no pro- tocolo de Bruce. Fletcher e cols32, observaram as desvantagens do pro- tocolo de Bruce: grande aumento da carga de trabalho entre os estágios; no quarto estágio o paciente pode andar ou correr, o que leva a diferenças na determinação do VO2; o teste pode ser interrompido por desconforto nos membros 4 64 64 64 64 6 Silva & Sobral Fº Velocidade e inclinação no protocolo em rampa na esteira ergométrica Arq Bras Cardiol 2003; 81: 42-7. inferiores ou inabilidade em tolerar o grande aumento na intensidade com a mudança do estágio. Concluíram que o protocolo em rampa, individualizado para o paciente testa- do, com pequeno aumento de carga com menor intervalo de tempo e duração de 9min, mostra maior acurácia no VO2 max alcançado. Mastrocolla e cols22, no Consenso Nacional de Ergome- tria, do Departamento de Ergometria e Reabilitação Cardio- vascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, comentam que, recentemente, tem havido maior interesse clínico por protocolos de teste de esforço que atendam às características de linearidade nas respostas do consumo de oxigênio. Esses protocolos, conhecidos genericamente pelo nome de rampa, ao invés de estágios de duração definida, utilizam uma razão de incremento constante para a intensidade do esforço, per- mitindo uma maior individualização e adaptação do protocolo às condições do paciente, podendo ser realizados tanto em cicloergômetros como em esteiras rolantes. Aksut e cols23, compararam o protocolo de Bruce com um protocolo em rampa individualizado, em homens e mu- lheres sadias. Não foram observadas diferenças significati- vas entre os protocolos quanto à freqüência cardíaca, à pressão arterial, função ventricular ou VO2 medido. Outra metodologia do TE com protocolo contínuo de cargas crescentes foi utilizada por Mahseredjian e cols34, num estudo comparativo de métodos (teste ergométrico com medida direta do VO2 e teste de campo com determina- ção indireta do VO2) para a predição do consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio em atletas: velocidade inicial de 9 km/h com aumento de 1 km/h por minuto até 15 km/h e, a partir daí, aumento da inclinação em 5% por minuto até a exaustão. O VO2 max determinado pelo método direto não mostrou correlação com o determinado pelo teste de pista. Para Vivacqua35, o protocolo de rampa, com cargas progressivas, tem permitido determinar com mais precisão o limiar isquêmico na estratificação de pacientes com dor torácica, em testes executados na maioria das vezes, entre 12 e 24h após a entrada da emergência. Segundo esse autor, o protocolo em rampa permite melhor adaptação ao ergôme- tro, com maior desempenho durante o exercício, maior con- fiabilidade na determinação das variáveis hemodinâmicas, eletrocardiográficas, do consumo de oxigênio no pico do esforço e dos limiares ventilatórios. O tempo do exercício e a adequação às condições biomecânicas dos indivíduos tor- nam o teste mais agradável, seguro e de melhoracurácia diagnóstica. McInnis e cols27, estudaram 25 mulheres obesas para comparar os valores do consumo máximo de oxigênio pre- visto com o determinado pela medida direta usando dois protocolos de exercício na esteira ergométrica: protocolo de Bruce e um protocolo individualizado em rampa. O resulta- do desse estudo sugere que a rampa e o protocolo escalo- nado têm capacidade semelhante na avaliação da capacida- de funcional em mulheres obesas. Will & Walter28 estudaram as respostas hemodinâmi- cas, duração do teste e o conforto dos pacientes que realiza- ram o protocolo de Bruce convencional e um protocolo de Bruce rampeado. Não demonstraram diferença significativa nos valores da freqüência cardíaca, pressão arterial e ava- liação subjetiva do esforço percebido (escala de Borg) no final do esforço. O tempo de exercício e o VO2 max foram sig- nificativamente maiores e os pacientes referiram maior fa- cilidade e conforto na realização do protocolo de Bruce rampeado. O Colégio Americano de Medicina do Esporte30 pre- coniza que “qualquer que seja o protocolo escolhido, deve ser individualizado, com velocidade (se esteira) baseada na capacidade individual e incrementos da carga de modo que o teste dure de 8 a 12min”. Historicamente, o protocolo para o exercício foi baseado em tradição, conveniência ou ambos. A partir dos anos 90, estudos sugeriram que proto- colos que têm grandes e desiguais incrementos da carga de trabalho, não mantêm uma relação linear entre o VO2 e o tra- balho realizado, com um VO2 previsto superestimado 8. O protocolo em rampa se aproxima das orientações das dire- trizes, que propõem que o protocolo seja individualizado para o paciente a ser examinado29. A tendência atual é para a utilização dos denominados protocolos em rampa individualizados, com incremento da intensidade do esforço de acordo com o paciente, de modo que a duração do teste fique entre 8 e 12min, o que torna mais fácil a análise do comportamento das variáveis hemo- dinâmicas e ventilatórias ao esforço1. Concluindo, apesar da utilização de variações da velo- cidade, inclinação e esforço máximo acima do previsto pelo sistema computadorizado, o protocolo em rampa foi bem tolerado pelos pacientes, independente do sexo, idade, uso de medicações ou doenças pré-existentes, com tempo médio de exercício de 10,0 + 2,0min, dentro do limite sugerido por diversos autores. A utilização da inclinação e velocidade, efetivamente alcançadas pelos pacientes, distribuídas de acordo com o sexo e idade, pode servir como um critério a mais na orientação dos parâmetros para a realização do pro- tocolo em rampa na esteira ergométrica. O uso do VO2 máxi- mo calculado, significativamente maior que o VO2 previsto para quase todos os pacientes de ambos os sexos, também pode ser útil na prescrição da velocidade e inclinação do protocolo em rampa individualizado. Arq Bras Cardiol 2003; 81: 42-7. Silva & Sobral Fº Velocidade e inclinação no protocolo em rampa na esteira ergométrica 4 74 74 74 74 7 Referências 1. 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