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1 Curso de Capacitação em Psicologia Organizacional: Recrutamento e Seleção Se ainda não adquiriu o CERTIFICADO de 240 HORAS pelo valor promocional de R$ 57,00. 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........................................................................................ 20 1.2.6 A divisão dos trabalhos e a divisão do trabalho ............................................... 22 1.2 A dimensão ética do trabalho na empresa ......................................................... 24 1.3.1 A verdade possível ............................................................................................. 25 1.3.2 A verificação científico-experimental ................................................................. 27 1.3.4 A verdade e o relativismo ................................................................................... 28 1.3.6 As raízes das limitações ..................................................................................... 33 1.3.7 O gerente e a dimensão ética ............................................................................ 34 1.3.8 A intuição sai na frente ....................................................................................... 35 1.3.9 Construindo uma ética gerencial ....................................................................... 36 2.0 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL ............................................... 39 2.1 Outros percussores .............................................................................................. 41 2.2 Fortes influências internacionais na história da Psicologia Organizacional .... 51 3.0 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO BRASIL ................................................................................................................................. 54 3.1 Produção científica em Psicologia ...................................................................... 56 3.2 As quatro fases da psicologia organizacional no Brasil. ........................................ 58 4.0 CLIMA ORGANIZACIONAL ..................................................................................... 66 4.1 Clima organizacional: a história do construto .......................................................... 67 4.2 Momentos históricos na investigação do clima organizacional ............................. 70 5.0 O PAPEL DO PSICOLOGO NAS ORGANIZAÇÕES ............................................ 77 5.1 O Papel do Psicólogo Organizacional na Promoção da Qualidade de Vida no Trabalho ............................................................................................................................ 79 5.2 Produtividade no Ambiente de Trabalho ............................................................ 85 6.0 RECRUTAMENTO E SELEÇÃO ............................................................................. 87 6.1 Recrutamento ........................................................................................................ 87 6.2 Seleção .................................................................................................................. 97 3 7.0 O PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL E AS TÉCNICAS DE SELEÇÃO ............ 100 7.2.1 Métodos de seleção de pessoal: discussões preliminares sob o enfoque do behaviorismo radical .................................................................................................. 101 7.2.2 Análise de cargo ............................................................................................... 110 7.2.3 Observação em situação natural ..................................................................... 110 7.2.4 Questionários e entrevistas.............................................................................. 112 7.3 Seleção dos candidatos .......................................................................................... 115 7.3.1 Testes psicológicos .......................................................................................... 115 7.3.2 Entrevista analítico-comportamental ............................................................... 117 7.4 Técnicas de simulação ............................................................................................ 124 7.5 Entrevista ............................................................................................................. 127 7.6 Técnicas vivenciais ............................................................................................. 130 7.7 Testes psicológicos ............................................................................................ 131 8.0 OS 10 TESTES PARA RECRUTAMENTO E SELEÇÃO QUE TODO RH PRECISA CONHECER ....................................................................................................................... 135 8.1 Teste de escrita ................................................................................................... 136 8.2 Teste de trabalho em equipe .................................................................................. 137 8.3 Testes técnicos ............................................................................................... 138 8.4 Teste palográfico...................................................................................................... 139 8.5 Teste de atenção concentrada ............................................................................... 140 8.6 Teste DISC ............................................................................................................... 140 8.7 Teste ADT (Inventário de Administração de Tempo) ........................................... 141 8.8 Testes de QI ............................................................................................................. 142 8.9 Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI)..................................................... 143 8.10 Teste para medir o talento para apresentações ................................................. 143 9.0 TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO – T&D ............................................... 145 9.1 Objetivos .............................................................................................................. 146 9.2 Finalidade ............................................................................................................ 147 9.3 Tipos de treinamentos e desenvolvimento de pessoas................................... 148 9.3.1 Treinamento de integração ........................................................................ 148 9.3.2 Comunicação assertiva .............................................................................. 149 9.3.3 Liderança eficaz .......................................................................................... 150 9.3.4 Para manter a motivação ........................................................................... 151 9.3.5 Desenvolvimentode competências e habilidades ................................... 152 9.3.6 Treinamento comportamental .................................................................... 154 9.3.7 Treinamento técnico.................................................................................... 155 9.3.8 Treinamento de equipe ............................................................................... 155 10.0 SAÚDE MENTAL E TRABALHO .............................................................................. 157 4 10.1 A Saúde do Trabalhador e a Psicologia do Trabalho ......................................... 159 REFERÊNCIA .................................................................................................................... 168 5 1.0 O HOMEM E O TRABALHO Durante os anos 80, o prestígio da ética subiu muitos pontos. Depois de uma série de escândalos, compreende-se a urgência de revalorizar a ética dos negócios e de transmiti-la aos futuros managers. Tudo indica o nascimento de um novo humanismo. O homem que restou do fracassado projeto moderno precisa ser reconstruído a partir dos postulados de uma nova sensibilidade. Esse caminho é o que vem sendo trilhado no "Seminário Permanente Empresa e Humanismo", que reúne a Universidade de Navarra (Espanha), através do seu Instituto de Estudos Superiores da Empresa (IESE) - uma das cinco melhores escolas de negócios da Europa segundo a revista Fortune - com conhecidas empresas transnacionais como IBM, Pirelli, Coca-Cola, Nestlé, Xerox, Nixdorf, entre outras. No programa de apresentação do Seminário, encontram-se as seguintes palavras: "A Empresa é uma instituição decisina para o desenvolvimento econômico, para a dinamização da sociedade e a promoção das liberdades pessoais e públicas Sua vitalidade expressa a criatividade da trama social e a capacidade dos cidadãos para enfrentar os desafios econômicos, sociais e culturais do presente momento. As raízes da capacidade de empreender se encontram na pessoa humana. Hoje já sabemos que os problemas mais importantes da Empresa não são os tecnológicos, e sim os antropológicos e sociológicos. O atual dirigente empresarial não é só um expert em estratégia; tem que ser, sobretudo, um humanista capaz de conhecer com profundidade e rigor os homens e as suas circunstâncias sociais".1 Este trabalho procura apresentar um pequeno .mosaico do pensamento presente nesse Seminário e, principalmente, levar os dirigentes de recursos humanos a uma reflexão sobre a característica peculiar do objeto do seu trabalho: seres humanos. 1.1 Fundamentos Antropológicos: discussões a respeito do homem 1.1.1 O que é o homem 6 Ocupar-nos do homem como ser vívente e racional, com historia e com cultura é, sobretudo, responder o que é ser homem. A antropologia projeta-nos urna luz sobre essas indagações sem propriamente as responder. Várias concepções, por vezes contraditórias, foram elaboradas, procurando elucidar o fenômeno humano. A teoria do conhecimento e a metodologia da ciência nos ajudam a perceber que o pensamento científico está determinado por concepções, consciente ou inconscientemente defendidas. Poderíamos até afirmar que para dar origem a uma antropologia é preciso ter previamente uma concepção antropológica. A neutralidade do pensamento é uma ficção. Gómez Pérez2, em seu estudo sobre antropologia política, assinala duas possíveis respostas para nossa pergunta: "A primeira: o homem é um ser natural, vívente superior, produto da Natureza e reintegrável ao natural orgânico, sem resíduo; a segunda: o homem é um ser natural, vívente superior, criado por Deus e dotado de uma alma que transcende imortalmente o natural orgânico".3 O que se entende ordinariamente por antropologia - veja-se, por exemplo, o trabalho de Claude Lévi-Strauss4 em seu livro Antropologia Estrutural - está compreendido na primeira resposta. É a antropologia natural. A segunda concepção recebe o nome de antropologia filosófica. 7 Antes que possamos fazer uma escolha entre uma concepção ou outra, convém aprofundar-se em seus aspectos essenciais. É possível formular algum juízo sobre o ser humano, incapaz de ser refutado? O bom senso nos faz admitir que o homem tem limitações: não consegue chegar a tudo a que se propõe. E ainda podemos dizer que há especialmente uma limitação que preocupa o ser humano como nenhuma outra: a temporalidade da sua existência, em outras palavras, a mortalidade do homem. É interessante observar que convive com essa comprovação de finitude uma aspiração a superar-se, a transcender-se. E o mistério e o fascínio da busca do sentido da vida. Surge, então, o impasse, e acaba o que poderia ser de consenso geral. Ao responder pelo sentido da vida deste homem geramos diversas respostas que Gómez Pérez5 sintetiza em quatro possibilidades: 1. o sentido da vida individual, finita, é a própria vida finita e individual; 8 2. o sentido da vida é a totalidade da história, a imortalidade da espécie, o insondável do espírito humano; 3. o sentido da vida é a realização da pertinência do homem a um gênero - o humano - chamado a reconciliar-se com a Natureza material; 4. o sentido da vida individual é a união com Deus, na história e, depois da história, na eternidade. Podemos distinguir claramente dois grupos nas respostas acima. As três primeiras implicam a negação do transcendente: Deus e a imortalidade do homem como realidade. Diferem na análise das dicotomías individualidade/comunidade e indivíduo/espécie que ao longo da história assumiram posturas agrupadas por Gómez Pérez6, como veremos a seguir. Antropologías da insuperável finitude individual Nascem de uma especial sensibilidade com o fenômeno vida: o movimento, o vir a ser, a impossibilidade de enquadrar o vivo em esquemas racionais e fixos... Modernamente, as possibilidades reais da ciência causaram certas derivações nestas posturas rumo ao positivismo. Antropologías políticas do homem-liberdade 9 Estas antropologías devem sua origem e desenvolvimento a Kant. Na base das posturas de eminentes filósofos como Hegel, Marx, Comte, Husserl, Heidegger e outros estão os pressupostos kantianos. O mais importante - ou, ao menos, o mais permanente - é a superioridade que reconhece a razão prática, e, nela, o descobrimento autônomo da lei moral do homem. A "Crítica da Razão Prática" leva Kant a postular a presença no homem da idéia do mundo, da alma e de Deus. Dessas idéias surgirá o que definia como liberdade criadora do homem no âmbito da imortalidade da espécie. A Razão é a religião. O imperativo da moralidade é descoberto pelo próprio homem em si mesmo. Antropologías do materialismo-dialético Hegel é o primeiro filósofo que não simplifica a experiência humana no sentido metafísico, uma vez que inclui tudo num sistema que é, para ele, o próprio desenvolvimento do real: desde a vida vegetal à liberdade, da família à moralidade, do demoníaco ao mistério da Trindade, tudo está incluido nos afãs e nas vicissitudes do Espírito, que é o Espírito de cada homem e o Espírito de Deus. Depois de Santo Agostinho, não se conhecia uma concepção semelhante de história como um único processo. No entanto, enquanto que o pensador de Hipona concebe a única história como a história do homem criatura de Deus, 10 Hegel entende a história como história de Deus imánente ao mundo, já que sem o mundo Deus não seria Deus. O rico e complexo pensamento de Hegel gerou seguidores aparentemente opostos, classificados em direita e esquerda hegeliana, e propriamente esta última dará origem à antropologia materialista histórico- dialética. Feuerbach começa a limpeza da escória espiritual hegeliana: o Espírito de Hegel não é outro que o espírito humano.Marx radicalizaria ainda mais as idéias de Feuerbach materializando o Espírito. A matéria feita homem tem um vir a ser dialético até a suprema reconciliação do homem com a natureza, da liberdade com a necessidade. Sintéticamente, a antropologia dialética materialista afirma que a existência do espírito depende da do corpo, sendo a natureza do homem matéria orgânica altamente evoluída como resultado da luta dos contrários. Só a luta dos contrários, que se excluem, tem caráter absoluto, como sucede com o movimento e a evolução; esta é a razão pela qual o materialismo deve ser dialético, isto é, deve negar-se a reconhecer qualquer essência imutável das coisas. Antropologia liberal 11 No âmbito das sociedades liberais costumam existir três correntes antropológicas, que têm como denominador comum o naturalismo. Gómez Pérez7 as denomina de otimista, pessimista e relativista. As três têm em conta o fazer-se histórico, o movimento social, porque superaram o fixismo do liberalismo - histórico. No entanto, diferem na interpretação desse movimento. A otimista sustenta que é sempre possível chegar a uma situação melhor que a anterior, já que há um progresso implícito no ser-homem, se ocorrerem determinadas condições sociais. Rousseau iniciou esta corrente: o homem é indefectivelmente bom quando encontra os pressupostos naturais do seu desenvolvimento. A antropologia pessimista sustenta que, por trás dos graves problemas sociais, observa-se uma possível regressão, quando não se previnem determinadas condições. A esperança sobre a perfeição da natureza humana é débil. A relativista não concede valor permanente aos termos progressão ou regressão, já que toma o presente como o único ponto de referência. Trata-se de uma antropologia resultante das duas anteriores e esconde um certo verniz de ceticismo frente às demandas sociais dos mais variados tipos. Na análise empreendida até o momento, apenas consideramos três das quatro respostas relacionadas por Gómez Pérez.8 Passaremos, então, a analisar a quarta possibilidade: o sentido da vida individual é a união com Deus, na história e, depois da história, na eternidade. Esta hipótese define um humanismo que denominaremos do homem-superior9, composto por duas inseparáveis e complementares antropologías. Antropologia empírica 12 A experiência da realidade humana colhida na natureza focaliza duas noções fundamentais: em primeiro lugar, o homem pertence ao reino animal pelo seu corpo, no entanto, representa uma espécie única em sentido zoológico, pois todas as "raças" humanas são capazes de se cruzarem ilimitadamente.10 A segunda noção que tomamos da antropologia empírica afirma que o homem é um ser provido de razão. O homem é homo faber, o único ser vivo que fabrica utensílios compreendendo a relação entre causa e efeito, graças à sua capacidade de abstração. Só o ser humano é capaz de determinar-se conscientemente na sua conduta. E o seu poder de conhecer e autode-terminar- se define-o como animal rationale et homo sapiens, distinguindo-o essencialmente do mundo animal.11 Antropologia metafísica Ao penetrar na essência do homem, podemos extrair outras duas noções. Primeiro, o homem possui um espírito, algo que não é simplesmente matéria. Em segundo lugar, e em conseqüência da sua natureza ao mesmo tempo corporal e espiritual, o homem é um ser social, isto é, um ser que só no seio da sociedade encontra o seu pleno desenvolvimento. 13 A metafísica fundamenta-se na experiência, seguindo a convicção de que só cumpre metodicamente a sua missão quando for capaz de relacionar as suas conclusões com todo o domínio da realidade experimental concernente ao seu objeto. Sabemos que nenhuma metafísica poderia pretender resolver todos os seus problemas com uma certeza indiscutível. Não é menos certo que, qualquer metafísica que se feche parcialmente à experiência, tentando preterir o esclarecimento de fatos da realidade, cai em dogmatismos de algum tipo. A antropologia metafísica sustenta que a alma humana é de natureza espiritual, livre e imortal, sendo também a sede da razão. Daí vem a distinção essencial entre corpo e espírito: o corpo é de natureza material, a alma, de natureza espiritual; nenhum dos dois pode se considerar uma resultante do outro. Em conjunto, ambos formam a unidade substancial da natureza humana, em que a alma é o princípio das ações especificamente humanas. Incorporando os princípios do cristianismo sobre a natureza humana, a antropologia do homem-superior adquire a sua dimensão mais profunda. Duas considerações são especialmente importantes: a primeira prende- se à realidade do pecado original, razão da possibilidade humana de errar, da perversidade da vontade e dos erros sucessivos que daí nasceram para a ordem da vida social. A segunda concerne ao fato do próprio Deus ter assumido a natureza humana para entrar no mundo, corroborando na alma do homem a semelhança com a divindade, a testemunhar que o valor da pessoa, com seu destino vinculado à alma espiritual - dignidade da pessoa - é superior a todo e qualquer valor terreno. Assim se explica que nem a sociedade, nem o Estado, nem a Nação, nem a raça, nem toda a criação se equiparam a esse valor. 1.2 O homem e o trabalho 14 O trabalho, essencialmente, é uma ação própria do homem mediante a qual transforma e melhora os bens da natureza, com a qual vive historicamente em insubstituível relação. Nesse sentido, pode-se afirmar que o homem trabalhou sempre e que não existirá momento, na terra, em que não será necessário trabalhar. O primeiro fundamento do valor do trabalho é o próprio homem, seu sujeito, o trabalho está em função do homem e não o homem em função do trabalho. Conseqüentemente, o fundamento para determinar o valor do trabalho não é o tipo de trabalho que se realiza, e sim o fato de que quem o executa é uma pessoa. As fontes de dignidade do trabalho devem buscar-se, principalmente, não em sua dimensão objetiva, e sim na sua dimensão subjetiva. O valor do trabalho não reside no fato de que se façam coisas, mas de que são coisas feitas pelo homem. 1.2.1 O sentido do trabalho 15 Considerando a antropologia do homem-superior, a que nos referimos anteriormente, podemos acrescentar a consciência que tem o homem de desempenhar na vida uma tarefa concreta e pessoal, derivada do seu caráter de algo único e irrepetível, uma missão. O conteúdo dessa missão é duplo. Com efeito, a missão não muda apenas de homem para homem, em consonância com o caráter de algo único da pessoa. Muda também de hora a hora, em decorrência do caráter irrepetível de cada situação. Vejamos o que Scheler12 denominou "valores de situação". Estes valores funcionam como se estivessem à espera de que sua hora chegasse, à espera de que um homem aproveite a ocasião irrepetível de realizá- los, a ocasião que se deixa passar será perdida irremediavelmente e o valor da situação fica para sempre irrealizado - o homem desperdiçou-o. As teorias de Planejamento Estratégico, desde os anos 60, destacaram a importância de uma empresa definir claramente a sua missão e atuar em conseqüência. Se isso é verdade para uma empresa, muito mais para o homem, que é a razão de ser de uma atividade empresarial. 1.2.2 Evolução do Trabalho 16 Se o trabalho, em sua essência, permanece inalterado, o tipo de trabalho, contudo, transformou-se e continua transformando-se ao longo da história. Da primitiva colheita e caça, do trabalho industrial para o pós-industrial, as mudanças foram tão significativas que dificultam prever os novos rumos. Em qualquer caso, haverá trabalho, mesmo que seja simplesmente organizar o ócio. A modernidade recusa a idéia clássica de que a contemplação, a teoria - o simples olhar desinteressado - seja a mais alta atividade humana. A teoria é privada da suaposição dominante, para ser reduzida a uma função problematizadora e crítica, quase sempre negativa. 17 Ao perder a capacidade de distinção e orientação da teoria, as diversas atividades tendem a confundir-se entre si, a reduzirem-se em atividade transformadora do mundo físico: a técnica, o trabalho produtivo. Certamente, a técnica moderna é uma das mais fascinantes conquistas da humanidade. A sensatez não nos permite imaginar o retorno a um mundo bucólico, pré-tecnológico. Portanto, não se trata de prescindir da técnica e sim discutir a validade de tomá-la como algo absoluto, que pode obscurecer outras capacidades do homem empobrecendo a qualidade da vida humana. Sobretudo, há um esquecimento prático da prudência, a capacidade de compreender sabiamente as circunstâncias concretas da vida e, como conseqüência, de agir de um modo ético. A técnica sem prudência se converte em poder incontrolado que pode ser utilizado para o bem ou para o mal, a favor ou contra o homem. Esta redução antropológica, este estreitamento do horizonte humano, acabou por conduzir também a um empobrecimento da técnica, que perdeu seu impulso criativo e sua capacidade de resolução dos autênticos problemas sociais. A rigidez e a insuficiência do modo moderno de pensar e trabalhar requisitam uma superação. 1.2.3 As tarefas gerenciais e operacionais: um enfoque humanista O conceito de empresa sofreu um giro diametral nos últimos anos. A empresa era definida como uma estrutura de capital, organização e trabalho para a consecução de um fim árduo. Trata-se de uma definição causal que apresenta implicitamente um conflito entre o capital e o trabalho. O capital era o mais importante e se distinguia do trabalho como um elemento estrutural, mas diverso ou estranho ao próprio trabalho. A organização não objetivava coordenar o trabalho e o capital, para converter a estrutura num organismo. Sua aspiração era menor: tratava-se simplesmente de que a força de trabalho estivesse ordenada para obter os fins do capital. 18 A organização era o indicativo de como o capital determinava o modo de trabalhar: organizar era impor ou dispor, por parte do capital, a forma de trabalho. Marx apontou com razão - considerando esse aspecto analítico - que eram os trabalhadores que deveriam organizar-se, pois o capital não constituía o fator da empresa mais apropriado para fazê-lo: o capitalista, por definição, não era um trabalhador. 1.2.4 As transformações na dinâmica interna da empresa 19 Nos últimos vinte anos, estamos assistindo a importantes transformações na dinâmica interna da empresa. O capital passou a ser o fornecedor dos instrumentos de trabalho no seu sentido mais amplo, o que proporciona ao trabalho todo o ingente conjunto de condições externas para poder exercer sua ação transformadora no mercado, e sustentar os trabalhadores até que o ciclo renda as conseqüências econômicas pretendidas. Nessa estrutura, o capital continua sendo imprescindível, e até mais do que antes, mas não como caput, e sim como instrumento a serviço objetivo do trabalho, qualquer que seja a intenção subjetiva do capitalista. A organização já não se entende como alheia ao trabalho, ou dominadora dele, mas como resultado de um trabalho, ou uma modalidade de trabalho: o trabalho gerencial. A empresa é compreendida, então, como um conjunto de trabalhos gerenciais e de instrumentos que o facilitam. O sinal que distingue o trabalho gerencial é o fato de não apresentar regras fixas e produzir resultados incertos. Em contraposição, o trabalho operacional é aquele que segue regras fixas e conhecidas e apresenta resultados, pelo menos, estatisticamente seguros. Nos dois casos, não estamos diante de uma definição essencial ou causal , e sim diante de características diferenciais de um tipo ou outro de trabalho. Pensando na relação entre trabalho gerencial e operacional, a filosofia nos leva a uma consideração mais profunda. Uma vez diferenciadas as naturezas da direção ou gerência e da operação, a tendência administrativa tem sido também separar os que dirigem dos que operam, em outras palavras, que uns sejam os gerentes e outros os operadores. Evidentemente, essa distinção ou classificação de pessoas desconsidera o que a filosofia conseguiu saber sobre o homem. 20 Quando o homem é somente operador, isto é, quando não trabalha conforme as regras fixadas por ele mesmo ou assumidas como próprias, seu trabalho não se distingue do animal, que se conduz atavicamente por forças naturais, mas estranhas, no sentido de impostas, e inclusive compulsivas. A separação de diretores e operadores poderá animalizar os segundos em favor dos primeiros. O trabalho gerencial se assemelha, nestas circunstâncias, à domesticação. Em contrapartida, quando o homem é apenas gerente, tampouco trabalha como homem, porque impõe uma regra, normalmente a sua própria, sem que tenha regra a que submeter-se. Mais do que um gerente é um semi- deus. O exclusivo papel operacional faz o homem perder sua condição de racional, e o mesmo exclusivismo no papel gerencial pretende libertar o homem de sua condição de criatura com limites impostos pela sua própria natureza. 1.2.5 O trabalho de controle 21 Não podemos ignorar o prejuízo antropológico causado nos indivíduos quando separamos do seu agir dois aspectos que o integram essencialmente. É como dividir o próprio homem. A consciência do custo antropológico que acarreta essa divisão está ligada à consciência do custo utilitário: menor confiança e envolvimento por parte dos executores, impericia executiva por parte dos planejadores, surgimento de um antagonismo mútuo entre os dois grupos, situação disjuntiva, segundo a qual uns ganham e outros perdem. Este custo utilitário tem uma conseqüência relevante para a organização. No meio do trabalho gerencial, que assinala as regras, e do trabalho operacional, que procede conforme as regras assinaladas, aparece, necessariamente, o trabalho de controle que procura fazer com que os operadores se comportem conforme as indicações do gerente. À medida que o operador se faz mais homem, mais racional, adquire capacidade para questionar as regras assinaladas e pôr à prova a sua validade. O gerente não hesitará, a fim de manter a desejável ou inevitável separação dos trabalhos, em convocar os trabalhadores de "colarinho branco"com o inconveniente de que o controle não é produtivo por si mesmo: não deve confundir-se o contar o produzido, com produzir o que se conta. Desta forma, a organização do trabalho gera uma não desejada qualificação de pessoas: os gerentes, os operadores e os controladores, os quais, por força do antagonismo antes mencionado, consideram-se uns aos outros sábios, párias e espiões. 22 1.2.6 A divisão dos trabalhos e a divisão do trabalho Uma pergunta poderia ser feita nesse momento: como reparar o prejuízo antropológico causado pela separação das tarefas? Llano nos esclarece ao afirmar que a natureza distinta da direção e da operação não implica necessariamente que sejam praticadas por pessoas diferentes. Pois, por mais controles que se estabeleçam, os operadores acabarão por exercer algum tipo de função gerencial, isto é, estarão deixando a sua marca pessoal num trabalho, aparentemente, só operacional. Além disso, por mais que um gerente procure encastelar-se na sua torre de marfim, terminará mistificando a gerência com trabalhos operativos múltiplos. Se é inevitável, às vezes, sob certos aspectos mencionados, separar o gerencial do operacional, por força da organização, também é inevitável, por força da estrutura do ser humano, que essa separação conviva com uma mescla de ambos os tipos de trabalhos, seja querida ou não, desejada ou não, desde o ponto de vista estritamente administrativo e tecnológico. Poderíamos dizer que não existemsó dirigentes, nem só operadores, mas que todos dirigem e operam em seu nível. O trabalhador como homem deve exercer ambas dimensões do trabalho. 23 Como ainda adverte Llano16, "a divisão dos trabalhos, necessária para a eficaz dinâmica da sociedade, não nos autoriza a divisão do trabalho, que constitui a alienação radical. Esta não se realiza, como dizia Marx, quando o homem se projeta em seu produto e se subtrai ao convertê-lo em mercadoria. A alienação radical tem lugar quando se despoja o trabalho - pelo sistema ou pela organização - de sua dimensão gerencial. Porque o gerenciamento é a expressão da autonomia pessoal no trabalho, é reflexo de sua racionalidade, da qual o homem, em momento algum, poderia ser despojado". Há, no entanto, uma outra forma de reintroduzir o gerenciamento no trabalho operacional, mantendo sua distinção: não só alentando na pessoa um espaço para a autodireção do seu trabalho, mas procurando que faça suas as regras a que terá que sujeitar-se. Não necessariamente a melhor idéia é a própria. Pelo contrário, a prática tem demonstrado que as idéias vencedoras derivam de um trabalho de equipe, onde intervém muitas pessoas que sabem ceder nos critérios pessoais aceitando as regras indicadas por outro, na medida da racionalidade que contêm. Podemos acrescentar uma segunda dimensão na análise anterior, quando pensamos que a adesão a uma regra se encontra em função da consonância pessoal com as regras do jogo, e esta última consideração aponta para um maior domínio antropológico que tecnológico: o desenvolvimento de uma organização não se polarizará na busca e aplicação de sistemas operacionais adequados, mas, também, no crescimento da inteligência e da prudência das pessoas para que tenham a capacidade de fazê-los próprios, influenciando a natureza, desenho ou composição do sistema, que devem configurar atendendo à sua conexão técnica e também à possibilidade de ser apropriável por aqueles que devem operá-lo. Os operadores são pessoas concretas, dotadas de uma psique individual e de uma conformação moral determinada. A regra ou sistema, todo o aparelho organizativo da empresa, não é um mero assunto da tekné, e sim do ethos, do modo humano de ser da própria empresa. 24 1.2 A dimensão ética do trabalho na empresa A recente preocupação pela ética, e de um modo mais focalizado pela ética empresarial, pode ser considerada uma imposição decorrente da ruína dos sistemas de valores criados e cultivados pelo modernismo. Nos últimos decênios, estamos assistindo a grandes desilusões fáusticas. Desaparece gradualmente a confiança cega na técnica, no progresso sem limites. Esfumaça- se a esperança firme na história e na ciência. Igualmente se volatiza a fé no poder ilimitado de uma razão capaz de construir a sociedade perfeita. O doutor Fausto, símbolo goethiano de uma modernidade que não duvidava em pactuar com o demônio com o intuito de saciar sua sede de sabedoria e de domínio sobre o homem, agora se encontra desorientado, sem horizontes para as suas antigas motivações. Não é estranho que, diante dos perigos que trazem consigo um desenvolvimento selvagem da modernidade e do progresso, exista quem tente propor uma norma reguladora nos diversos campos do comportamento humano, uma espécie de pacto social que garanta a estabilidade frente às conseqüências não desejadas de um comportamento pessoal e social irresponsável. Podemos perguntar-nos: qual é o fundamento dessa espécie de pacto social? Poderemos denominá-lo de ética? É tarefa urgente aprofundar no próprio conceito de ética, uma vez que é lugar comum rotular posturas limites sem uma maior reflexão sobre as mesmas. 25 Por exemplo, tradicional e progressista, liberal e conservadora, direita e esquerda... A esse pretexto caberia reproduzir uma estorieta17 que pode nos ajudar a raciocinar analogicamente: Um garoto assiste todas as tardes a filmes de faroeste, e, quando chega uma visita, pergunta-lhe imediatamente: "Você é mocinho ou bandido?" Perplexa com a situação de "beco sem saída"a visita reflete um pouco e responde com uma ponta de ironia: "Olha meu filho, eu moro em outro país, nasci 200 anos depois e simpatizo com os índios." Em outras palavras, a realidade é muito mais rica do que os rígidos esquemas analíticos, e deve ser respeitada se quisermos evitar um lamentável reducionismo da natureza humana. O ético é algo que tem a ver com valores e tem sentido quando se pode recomendar que alguns valores sejam mais adequados que outros, para compor o comportamento. Mas isto seria insustentável, se partíssemos do princípio de que a verdade é algo só e exclusivamente subjetivo. Por isso, a primeira e fundamental questão a ser respondida no estudo da ética é a da possibilidade da verdade. 1.3.1 A verdade possível 26 O homem é um ser histórico e se, por vezes, assistimos a história condicionando o homem, não podemos ignorar que é o homem quem faz a história, isto é, há uma escolha de realização dentro de um sistema de exigências e possibilidades que lhe é dado.18 Os homens vivem num mundo e podemos defini-lo "como um sistema de crenças ordenadas numa perspectiva coerente". Por um lado, essa definição tem o caráter de clausura pela índole sistemática e total, por outro, o aspecto da liberdade do homem imprime nesse mundo um caráter essencialmente aberto. Falar do homem é falar de pretensões que podem ou não realizar-se. O sistema de vigências que constitui o mundo faz com que o homem saiba a que se ater, a respeito da sua situação, naquilo que ela tem de estável; diante dos problemas que essa situação propõe a cada inslanle, o homem reage vivendo, isto é, com sua própria ação vital, que é a solução normal e primária dos problemas. Esse sistema, entretanto, apresenta fissuras e, com certa freqüência, o homem sente-se perplexo e inseguro em relação a alguma coisa. A conseqüência imediata é que não saberá a que se ater diante dessa situação e surge nele a necessidade vital de algo que não possui e que podemos denominar verdade. As fissuras na mundivivência do indivíduo são geradoras de incerteza ou do não saber a que se ater. Se essas fissuras não existissem, e o homem estivesse sempre esclarecido sobre sua situação, não necessitaria da verdade. 27 Quando lemos no jornal "Toda a verdade sobre o caso de Paulo César Farias e o ex-presidente Collor", temos a intenção de inteirar-nos do que aconteceu na realidade. E, como premissa, assumimos que o jornalista que fez a matéria conhece a verdade e está capacitado para contá-la. E um fato que "funcionamos"continuamente com a verdade. Ninguém quer ser enganado ou, como diz o ditado popular, comprar gato por lebre. Pode-se vislumbrar que a verdade completa seja praticamente impossível. Ordinariamente chegamos a uma certa composição gradual, mais ou menos calculável, de verdade. Há coisas e situações cuja verdade provisória e contingente nos satisfaz porque nos basta para seguir vivendo, para sabermos a que nos ater. Há outras situações, nas quais não utilizamos o conceito de verdade porque são temas que variam conforme o gosto do indivíduo. Alguém poderia refutar a afirmação: "o abacaxi é uma fruta deliciosa"; pela simples razão de achá-la demasiadamente ácida, portanto, nada deliciosa. Há poucas verdades sobre o gosto. Além disso, grande parte das coisas em que o gosto intervém passa por verdadeira em determinadas épocas, por uma questão circunstancial, um modismo. 1.3.2 A verificação científico-experimental Não faz muito tempo, a Ciência era detentora das verdades definitivas e irreformáveis. A filosofia da Ciência acabou com esse mito. As ciências experimentais - aquelas que habitualmente são citadas quando se fala de 28 Ciência - avançam entre incertezas e provisoriedades. As verdades provisórias não deixam de ser verdades e demonstramsua eficácia quando são aplicadas. Porém, não há um cientista sério que sustente - como era pensamento comum no século XIX - que o homem conseguiu resolver os enigmas do Universo. O fato de que os resultados das ciências foram e são úteis à humanidade, não é um critério de verdade absoluta. As ciências conduzem às verdades, mas provisórias e incompletas, sem deixar de serem verdades. Algo semelhante ocorre no âmbito das ciências sociais, da história, da economia, da sociologia e outras mais diretamente ligadas ao estudo do homem. Existem constantes claras que permitem formular juízos e arriscar previsões. Porém, fica mais patente nessas ciências o caráter provisório e sobretudo incompleto das verdades. De uma forma vital funcionamos com o esquema de verificação: algo nos parece verdadeiro quando a hipótese pode ser confirmada ou, no dizer de K. Popper, quando algo "pode suportar, sem cair, as tentativas de demonstrar a sua falsidade''20. Entra em cena a especial relevância que adquire a tangibilidade. Algo seria verdadeiro quando pudesse ser expresso de forma tangível. 1.3.4 A verdade e o relativismo 29 Vimos que, nem sequer nas ciências que mais controlamos, podemos falar de verdades completas e definitivas. Seguindo a mesma linha de raciocínio, não é difícil concluir que mais incompletas e mais imperfeitas e não definitivas serão as verdades daqueles temas cuja tangibilidade seja mais obscura e não se possa apalpar. As perguntas essenciais sobre o homem não seriam tema para uma verdade e sim para distintas e contrapostas opiniões. No entanto, existem argumentos contrários a essas conclusões, que analisaremos a seguir: • alguns temas como a liberdade, a imortalidade, a existência do absoluto preocuparam e seguem preocupando o homem como realidades de outra ordem, mas realidades, com as quais haveria algo a fazer; • esses temas são de tal modo cruciais que deles dependem atitudes e comportamentos que têm repercussões em quase todos os âmbitos da vida; • por que a verdade estaria proibida a esses temas se nos demais campos, ainda que de maneira incompleta e imperfeita, chega-se à verdade? Se a verdade é possível em muitos campos da experiência humana - e de fato "funcionamos"com ela - por que a investigação seria interrompida num determinado ponto, precisamente nos problemas de maior envergadura? Em qualquer caso, fica claro, ao admitir a liberdade, que a busca da verdade será 30 também uma atividade livre. Por isso, o fato de que, sobre questões humanas cruciais, existam posições distintas, não quer dizer, necessariamente, que tenham o mesmo valor e sim que a busca da verdade é algo livre. Considerando esse raciocínio, qual é a resposta para a pergunta: isso é verdade para você, mas será para mim? Em outras palavras, a verdade é relativa? A postura de quem afirma que algo é verdadeiro para um e não verdadeiro para outro poderá ser válida quanto à liberdade da busca da verdade. Mas, não é válida se existe a pretensão de que algo possa ser, ao mesmo tempo, verdadeiro e falso. Com esse critério não "funcionamos" nunca, nem na vida real, nem na atividade científica. O relativismo - a verdade depende de cada atitude, segundo cada qual a veja - não se sustenta. Julian Marias define a realidade como tudo aquilo que encontra-se e tal como se encontra e seu modo próprio de ser é estar oculta. "É função da verdade pôr a descoberto o que as coisas são, transcender toda a mera aparência e desvelar a própria realidade, arrancar o homem da sua subjetividade, do círculo mágico de suas impressões ou idéias para colocar à sua frente as próprias coisas, e permitir, desse modo, que ele saiba a que se ater, como tudo isto é função da verdade, o relativismo anula, se não a 'essência', pelo menos alguma coisa que lhe seria ainda mais penoso se ele fosse conseqüente consigo mesmo: a função vital da verdade. Com efeito, 'minha' verdade não me basta e para que ela seja efetiva e realmente 'minha', para que eu possa aderir a ela e nela me apoiar, é necessário que não seja 'minha' e sim das coisas". 1.3.5 Os reducionismos éticos e o formalismo moral Sem uma adequada definição de verdade não se pode esperar uma postura ética consistente. É freqüente encontrar entre os autores que escrevem sobre Business Ethics23 - de um modo especial nos Estados Unidos - um enfoque pragmático, uma carta de intenções com certas regras do que a empresa deve fazer, ou deixar de fazer. Em muitos casos, o critério decisivo para considerar uma decisão como ética ou não é determinado pela "aceitabilidade social" das conseqüências dessa 31 decisão. À exceção de certos casos em que ingenuamente se supõe estar perfeitamente claro o conceito de socialmente aceitável, grande parte da discussão está centrada precisamente nesse ponto: a análise da "aceitabüidade social", sem uma avaliação da eticidade da decisão em si. Por estas razões, as colocações intelectualmente mais rigorosas buscam sustentação nos postulados kantianos, aplicando o imperativo categórico e os princípios da Razão Prática, bem ao gosto norte-americano. O produto final dessas elaborações consiste num conjunto de "regras éticas", e a maior parte do trabalho dos especialistas concentra-se em como aplicá-las nas situações concretas. Essa aplicação não é fácil. O enfoque - com independência da racionalidade ou verdade das regras abstratas que com ele obtenham - tem duas limitações intrínsecas que podem invalidar sua utilidade prática . E o que observa a seguir López:24 "A primeira dessas limitações se refere aos motivos que levariam um gerente a aceitar a norma que lhe é proposta. Mesmo que essa norma buscasse garantir o valor social das decisões, em nenhum momento se lhe explica porque deve aceitá-la, quando é possível não fazê-lo. A consciência dessa debilidade leva não poucos teóricos a sustentar que as regras por eles deduzidas deveriam ser objeto de imposição coercitiva, via legal. Será interessante ver em que termina todo esse processo social porque, 32 uma vez mais, vamos assistir à velha tragédia de uns intelectuais bem intencionados advogando - sem ser conscientes disso - a tirania, em nome do bem comum. O problema de fundo é que, ao fixar-se unicamente no valor social (o valor para os outros) das ações com valor ético (o valor para o próprio decisor), prescinde-se de fato da Ética, optando por uma sociologia normativa sem fundamentação ética. A partir desse ponto, o que sucede não será mais que uma aplicação do velho teorema: da mesma forma que não pode haver Ética sem Liberdade, não é possível, tampouco, existi Liberdade sem Ética. A segunda frente de limitações refere-se à possibilidade de previsão, a priori, das distintas conseqüências de uma ação. Assim, como a primeira limitação afeta um problema motivational do decisor, esta afeta um problema cognoscitivo. Em síntese, o problema é o seguinte: a previsão das conseqüências externas de uma ação - suscetíveis de observação empírica - é impossível quando na execução da ação intervém decisores humanos. Somente seria possível se existissem as seguintes condições: • o previsor tem informação perfeita das regras de decisão que usarão todos e cada um dos decisores; 33 • essas regras de decisão não se alteram com a atuação dos decisores, isto é, não há aprendizagem no decorrer das decisões. É evidente que, salvo casos triviais, qualquer avaliação de uma ação baseada na previsão de suas conseqüências externas - e observáveis - será não só incompleta, como nada impede que seja absolutamente errada. A avaliação, a priori, das ações humanas é o eixo de qualquer elaboração normativa sobre o comportamento humano. Uma avaliação que pretenda fundamentar-se sobre as previsões das conseqüências externas dessas ações - como é o caso do enfoque que nos ocupa - está supondo uma teoriada decisão humana reducionista: ignora toda a delicada articulação do conhecimento humano no processo decisorio. O pior é que, além de reducionista é perigosa, pois está fechada ab initio à avaliação especificamente ética das ações humanas, uma vez que o valor ético de uma ação não depende de suas conseqüências externas, e sim das que causa no interior do próprio sujeito que a realiza." 1.3.6 As raízes das limitações Percebemos que estas duas limitações têm uma dupla raiz. A primeira - e mais danosa - vem da redução ética a seus aspectos sociológicos, dando lugar a elaborações normativas de caráter sociológico, sem um autêntico fundamento ético. A segunda raiz vem da simploriedade do modelo que manipula para a decisão humana. Falta fundamento antropológico. Juntas, geram enfoques equivocados que não ajudam, na prática, o exercício da ética. Por um lado, cai- se no formalismo moral que não passa de uma classificação abstrata de ações humanas corretas ou incorretas, lícitas ou ilícitas, que não explica o porquê da validade do esforço para obter um ideal ético, ou mesmo, o que motivaria um indivíduo a decicir pela ética. Faz falta mostrar, do modo mais prático possível, as conseqüências que o próprio sujeito padecerá ou desfrutará segundo a qualidade ética das suas ações. E tarefa importante da própria ética a busca de conclusões que permitam dar conteúdo empírico ao que significa para uma pessoa a carência ou a posse de qualidades morais. Abster-se dessa tarefa é dar um tratamento 34 unidimensional para uma realidade tridimensional. Implica um modo de fazer ciência que aborda separadamente a elaboração de critérios de racionalidade ética - o homem ético - de racionalidade sociológica - o homem social - e de racionalidade econômica - o homem econômico. 1.3.7 O gerente e a dimensão ética O outro lado da questão passa pela abordagem incompleta do que poderíamos chamar ética empresarial e se deve ao deficiente conceito de empresa a que já nos referimos ao tratar do trabalho gerencial e operacional: a empresa como um conjunto de pessoas que se esforça para conseguir, apenas, algum fim com valor econômico. Com uma definição tão elementar e abstrata não podemos conseguir chegar ao parâmetro ético essencial: o que é ser um bom gerente? Para podermos deduzir quais são as decisões próprias de um gerente enquanto tal, necessitamos de uma teoria autêntica sobre a empresa, porque as descrições das funções gerenciais depende da Teoria da Organização que se utilize para deduzi-las. Por outra parte, qualquer teoria implica - ou se fundamenta - uma concepção antropológica. 35 É interessante notar que este enfoque é essencialmente distinto do que se aplica quando se reduz a ética da empresa à análise de certas decisões freqüentes entre os homens de empresa. Isto ocorre, em grande parte, porque a maioria dos problemas sociais não tem sua origem no que esses homens fazem mal e sim naquilo que eles deixam de fazer, isto é, nas suas omissões. Não é que resolvam mal - modo não ético - os problemas. É que são mal colocados - parcialmente, de forma míope, com horizontes estreitos - os problemas que se resolvem. Por exemplo, um êxito econômico pode ter sido conquistado com o desprezo das conseqüências sociais e ecológicas. Sem desconsiderar a validade dos resultados econômicos, interessa-nos perguntar, será que o custo social não foi alto demais?25 1.3.8 A intuição sai na frente 36 Nota-se, nesse início de década, um vislumbre de que transformações radicais se avizinham. São muitos os homens de empresa que verificam que as realidades éticas - talvez nem denominem assim, pois atuam mais por intuição - pertencem ao núcleo mais profundo e determinante das tarefas das organizações humanas que dirigem. São conscientes de que, a longo prazo, os próprios benefícios econômicos dependem mais diretamente da qualidade ética dos seus homens, do que do ambiente não controlável. Cada vez fica mais evidente que construir uma organização, ignorando as realidades éticas, é algo tão suicida como construir um edificio ignorando as propriedades e resistências dos materiais que se utilizam na construção. É fundamental que a teoria avance substancialmente, uma teoria que analise as decisões humanas atendendo as dimensões - as conseqüências - éticas, psi-cossociológicas e econômicas da ação. Esse tratamento unificado das decisões deve ajudar a própria ética a avançar na melhor compreensão do seu objeto de estudo. 1.3.9 Construindo uma ética gerencial 37 Inicialmente temos que pensar na empresa como um sistema aberto, que recebe influências e influencia, e que López sintetiza da seguinte forma: "a. o êxito das metas e objetivos econômicos dependem da adaptação da empresa às condições ambientais. O parâmetro que determina que ações conjuntas da empresa se pode prever, produzindo sua adaptação, denominaremos estratégia; b. aquilo que determina as ações conjuntas que é capaz de realizar uma empresa num dado momento é o que constitui seu objeto ou competência específica, cujo fundamento são as capacidades operacionais das pessoas que formam parte da empresa; c. o valor real que a empresa almeja realizar no mercado - clientes ou consumidores dos seus produtos ou serviços - é o que constitui a sua missão externa. A missão externa vem definida pelas necessidades humanas que a empresa procura satisfazer no seu ambiente; d. sem uma clara consciência da missão, não é possível o desenvolvimento de um objeto - de uma competência específica -e as estratégias não serão mais que tentativas oportunistas de respostas aos parâmetros fixados externamente; 38 e. a missão externa implica necessariamente uma missão interna, que inclui a satisfação de certas necessidades e o desenvolvimento de certas capacidades tanto operacionais como afetivas nas pessoas que constituem a empresa." Essas conclusões pressupõem a necessidade de sistemas informais para conseguir atingir os objetivos - inclusive econômicos - das empresas. A resistência prática, para aceitá-las, é fruto de uma postura vital, cuja irracionalidade é patente: a possibilidade de obter qualquer coisa do meu interesse, de outras pessoas, através da simples aplicação do poder coercitivo. Na realidade, as metas coletivas podem ser obtidas: 1. através de uma coordenação formal que explicite todos os aspectos das ações individuais que são significativos para essa obtenção, unida ao suficiente poder coercitivo para motivar os sujeitos que se comportem do modo explicitamente requeido; 2. aceitando os limites práticos de qualquer sistema de controle externo e supondo que, ao menos uma parte dos resultados, se conseguirá obter através do autocontrole dos sujeitos. A primeira possibilidade é muito mais lógica do que real. Curiosamente é o paradigma da ação humana que está implícito em todos os desenvolvimentos científicos dos últimos anos. Trata-se da hipótese mecanicista. A segunda possibilidade gera infinitas alternativas práticas, das quais a maioria não é viável a não ser que se dê um determinado conjunto de condições. Um caso particular de alternativa inviável, na maioria das situações, é, 39 precisamente, a alternativa ótima: aquela em que o êxito das metas coletivas se consegue na base do autocontrole. O grau de necessidade do controle externo vem determinado pela qualidade do sistema informal, que, por sua vez, é determinado pela qualidade ética dos sujeitos. E ela determina o valor social -o valor para os outros - das ações que o sujeito informalmente decide executar. 2.0 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL Sena e Silva (2004) remonta a história da Psicologia Organizacional, de como ela se formou e quais foram seus passos antes de se tornar a Psicologia Organizacional que conhecemos hoje em dia. Duas revoluções mudaramo mundo, principalmente no tocante as relações de trabalho, foram elas a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, uma para firmar o modo capitalista e a segunda por questões políticas. Nesse momento também estava começando a desestruturação do sistema feudal e assim surgindo trabalhadores independentes, que criavam seus trabalhos com suas ferramentas. Entretanto foi necessário que alguém fizesse a ponte entre o trabalho e o mercado, ou seja, que alguém pudesse vender o produto no https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-organizacional/psicologia-organizacional https://psicologado.com.br/psicologia-geral/introducao/o-que-e-psicologia 40 mercado. Assim o trabalhador, tido como independente, começa lentamente a sumir. Com o surgimento da industrialização, os trabalhadores agora começam a ser empregados, eles ainda “tinham” certo controle sobre o produto, que só surgiria dependendo do ritmo de trabalho desse trabalhador. Entretanto com o surgimento das máquinas, essas interferências foram acabando, já que não era mais o homem que ditava o ritmo de trabalho, mas agora era a máquina. O homem tinha agora que obedecer ao ritmo da produção maquinal. Antes do surgimento da Psicologia Industrial, os trabalhadores também estavam se tornando mecânicos, uma vez que as empresas detinham o conhecimento científico e o utilizava de uma forma que controlasse os trabalhadores. Eles, por sua vez, deixavam de pensar e agiam como se fossem máquinas também. Sena e Silva (2004) mostra que assim como muitos saberes psicológicos, a psicologia industrial se forma no período das duas grandes guerras mundiais. Ela começa a obter seu reconhecimento no ano de 1924. Neste mesmo período foram feitas pesquisas para saber as condições de trabalho e foi nesse ínterim que começou a se pensar em novas formas de se trabalhar. https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-organizacional/psicologia-industrial https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-organizacional/psicologia-industrial 41 A partir dos anos 50 a denominação de Psicologia Organizacional começa tomar corpo, a junção dos saberes da sociologia e a antropologia com o da psicologia, influenciaram para o crescimento da psicologia social. Antigamente a Psicologia Industrial se preocupava com a seleção e recrutamento de trabalhadores e soldados e hoje em dia ela também tem esse papel na instituição, todavia, agora, se busca dar consciência ao trabalhador, que ele tenha noção da sua força de trabalho e quanto ela vale. Tenta acabar com essa visão de que o trabalhador é mecânico, que vem desde a revolução industrial. 2.1 Outros percussores Segundo Sector (2005, p. 7) “psicologia é a ciência do comportamento humano (e não humano), da cognição, da emoção e da motivação”. Ela pode ser dividida em várias especializações, algumas delas se preocupam somente com o próprio conhecimento da psicologia como ciência, enquanto outras se voltam também para a aplicação daquela ciência. A psicologia organizacional está inserida nesta última categoria ocupando-se tanto da ciência psicológica como com a sua aplicação aos problemas das pessoas nas organizações. O campo da Psicologia Organizacional possui duas divisões principais: a industrial (de recursos humanos) e a organizacional. Apesar destes dois conteúdos se sobreporem e não poderem ser facilmente separados, tradicionalmente eles têm origens diferentes. https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-social/psicologia-social-um-compromisso-social 42 A parte industrial, que deu início a este campo de atuação é a mais antiga e busca gerenciar a eficácia organizacional por meio do uso adequado dos recursos humanos. Ela se preocupa com a questão de eficiência no projeto de tarefas, seleção e treinamento de funcionários e avaliação de desempenho. A parte organizacional se desenvolveu a partir do movimento das relações humanas nas empresas. Seu foco no trabalhador como indivíduo é maior do que a existente na parte industrial. Ela se preocupa em entender e compreender o comportamento individual e aumentar o bem-estar dos colaboradores no ambiente de trabalho. Os aspectos organizacionais abordam o comportamento e as atitudes dos funcionários, o estresse no trabalho e práticas de supervisão. Como podemos observar a área industrial e organizacional não podem ser distinguidas com clareza, e juntas elas sugerem toda a amplitude da psicologia organizacional (SPECTOR, 2005). Aguiar (2002) coloca que “a psicologia organizacional no seu processo de desenvolvimento histórico enquanto ciência aplicada, tem se dedicado à adequação dos indivíduos membros da organização aos fins por ela definidos”. Isto caracteriza uma razão técnica identificada pela utilização dos indivíduos como meio para atingir objetivos determinados pela organização. A psicologia organizacional utiliza técnicas e instrumentos que atuam desde a seleção a partir de critérios pré-determinados pela empresa como características de personalidade, valores e sentimentos. O verdadeiro papel da seleção é atender a demanda da organização, admitindo pessoas que se moldem a ela e que se integrem à sua cultura e filosofia, sem questionamentos. O desenvolvimento da psicologia organizacional e o do trabalho no Brasil acompanharam as ocorrências mundiais relativas à área. Seu aparecimento está associado a crescente industrialização que ocorreu nos principais países do cenário Ocidental, no fim do século XIX e início do século XX (ZANELLI & BASTOS, 2004). 43 Segundo Zanella & Bastos (2004) a busca de critérios e procedimentos para atender as demandas de avaliação e seleção de pessoal para as indústrias em grande expansão e de militares para o exército fez com que os métodos e teorias tivessem seus primórdios na área. O desempenho e eficiência no trabalho constituíram, desde o começo, preocupações que orientam as atividades dos psicólogos nas organizações. Dois psicólogos são considerados os principais fundadores da área: Hugo Munsterberg e Walter Dill Scott eram psicólogos experimentais e professores universitários que se envolveram na aplicação de técnicas da psicologia para resolver problemas em organizações. 44 Munsterberg estava mais interessado na seleção de pessoal e no uso de novos testes psicológicos, mas por falta de apoio dos colegas da universidade ele acabou mudando para a nova área da psicologia industrial. Scott também tinha os mesmos interesses de Munsterberg, assim como na Psicologia da Publicidade. Cada um deles escreveu um livro sobre esses tópicos, incluindo The Theory of Advertising, de Scott, e Munsterberg escreveu o primeiro compêndio sobre Psicologia Organizacional, com o título Psychology and Industrial Efficiency (SPECTOR, 2005). De acordo com Spector (2005, p. 14): A principal influência sobre o campo foi o trabalho de Frederick Winslow Taylor, um engenheiro que estudou longamente a produtividade de funcionários em sua carreira. Taylor desenvolveu o que ele chamava de administração científica como uma abordagem para manejar os operários de produção em fábricas. (Spector, 2005, p.14). Ainda segundo este autor, a administração científica inclui diversos princípios para orientar as práticas organizacionais. Em seus escritos Taylor sugeriu o seguinte: 1. Cada trabalho deve ser análise com atenção, para que o modo otimizado de executar as tarefas possa ser especificado; 2. Os colaboradores devem ser contratados de acordo com as características relacionadas ao desempenho do trabalho. Os gerentes devem estudar os funcionários para descobrir quais características pessoais são importantes; 3. Os funcionários devem ser treinados para executar suas tarefas; 4. Os funcionários devem ser recompensados por sua produtividade para incentivar melhor desempenho. 45 Podemos observar que apesar de mudanças eajustes ocorridos ao longo dos anos, estas ideias ainda são consideradas importantes nas organizações até hoje. Para Zanelli & Bastos (2004) as raízes que vinculam a Psicologia com o trabalho, são encontradas no final do século XIX, fora dos Estados Unidos da América. Em 1889, Patrizi fundou o Laboratório da Psicologia do Trabalho em Moderna, Itália. Kraeplin, na Alemanha e Mosso, na Itália, nos anos 90, investigaram aspectos psicofisiológicos ligados à fadiga e a carga de trabalho. Partindo das ideias de Taylor, Frank e Lilian Gilbreth passaram a investigar a forma pela qual as tarefas são realizadas pelas pessoas, desenvolvendo o que veio a ser chamado estudo do tempo e movimento. Estes estudos, cerne de uma perspectiva taylorista para potencializar a eficiência do desempenho no trabalho, estiveram na base do campo denominado Fatores Humanos, voltado para analisar e projetar ambientes de trabalho e tecnologias que levassem em consideração as características humanas. Depois o avanço desta área ocorreu de modo tão rápido quantos as exigências dos acontecimentos do mundo impuseram, como nas grandes guerras na primeira metade do século XX, quando os testes psicológicos tiveram longo uso e desenvolvimento, para atender as seleções de recursos humanos (ZANELLI & BASTOS, 2004). Durante as décadas entre as duas guerras mundiais, a psicologia organizacional cresceu para a maioria das áreas nas quais é utilizada hoje. À medida que as organizações foram ficando maiores, elas começaram a contratar psicólogos organizacionais para atender a muitos de seus inúmeros problemas funcionais, principalmente aqueles que eram relevantes para a produtividade. 46 Em 1921, a Penn State University concedeu o que muitos consideravam o primeiro título de Ph.D chamado naquele tempo de Psicologia Industrial, a Bruce V. Moore. Os psicólogos organizacionais começaram a montar empresas de consultoria que podiam oferecer serviços às empresas mediante remuneração. A mais conhecida destas consultorias foi a Psychological Corporation, fundada em 1921 por James Mckeen Cattell, e que se mantêm ativa até hoje. Um dos mais importantes eventos desse período foram os estudos de Hawthorne, que duraram por mais de dez anos na Western Eletric Company, nos Estados Unidos (SPECTOR, 2005) . Segundo Zanelli & Bastos (2004, p 468) “as investigações de Elton Mayo na Western Eletric Company, marcaram as décadas de 20 e 30 e revelaram a importância de considerar fatores sociais ligados às situações de trabalho”. As ciências do comportamento atingiram relevância no mundo dos negócios. Mayo divulgou The human problems of industrial civilization, em 1933, um livro que sintetizou as descobertas daqueles estudos e deu impulso à Era das Relações Humanas. O campo de aplicação até meados da década de 30 estava direcionado a estudos e intervenções juntos aos incentivos financeiros, como treinamento, fadiga e monotonia, luminosidade e ventilação, testes de admissão, estudos de tempo e movimentos, turnos de trabalho, segurança e disciplina. Nas décadas seguintes, cresceu também para outros países industrializados, além dos EUA, as atividades dos psicólogos e de outros profissionais ligados à Ciência do Comportamento, dirigiram-se para os 47 incentivos financeiros como liderança e supervisão, relações interpessoais, comportamentos e atitudes, moral, avaliação de executivos, relação homem- máquina, entrevistas e aconselhamentos (ZANELLI & BASTOS, 2004). A segunda guerra mundial provocou um efeito estimulador sobre o desenvolvimento da disciplina, com muitos psicólogos de todas as áreas e especialidades contribuindo para o esforço de guerra. Com o resultado da guerra, as portas da psicologia aplicada se abriram, e criou uma divisão para a Psicologia Comercial e Industrial em 1944 e hoje conhecida com SIOP (Sociedade de Psicologia Industrial e Organizacional). Com o final da guerra, as duas áreas da Psicologia Organizacional continuaram a crescer, e por demonstrar seu valor à sociedade, as empresas privadas passaram a ter interesse cada vez maior no campo, implantando muitos procedimentos como os testes psicológicos (SPECTOR, 2005). Segundo Spector (2005) outro acontecimento que ajudou a formar o campo da psicologia organizacional foi a aprovação de da Lei dos Direitos Civis de 1964 nos Estados Unidos, colocando em movimento as forças que causaram um grande impacto na forma das organizações contratarem e lidarem com seus colaboradores, sendo necessário a mudança de muitas práticas antes discriminatórias. Os psicólogos foram chamados a elaborar procedimentos que pudessem eliminar a discriminação no ambiente de trabalho. Em 1991, houve a criação da lei que beneficia as pessoas inválidas e deficientes e outra vez os psicólogos 48 foram chamados para encontrar meios de eliminar mais este problema envolvendo a discriminação. Até agora estudamos a Evolução Histórica da Psicologia Organizacional nos Estados Unidos que é onde foi iniciada. Agora falaremos um pouco sobre este processo no Brasil e nos demais países do mundo. Segundo Zanelli & Bastos (2004, p. 473): Até quase o final do século XIX, a economia brasileira era essencialmente escravocrata. Com o aumento do fluxo migratório e a chegada dos imigrantes europeus, deu-se início ao cultivo do café foram incrementadas as manufaturas e pequenos negócios, sobretudo nas regiões sul e sudeste. (Zanelli & Bastos, 2004, p. 473). Uma figura importante neste período foi o Visconde de Mauá, cuja diversidade nos setores de atuação e sucesso nos negócios fez atrair o capital estrangeiro. Mais estrangeiros buscaram o país nas primeiras décadas do século XX. Antunes (1998, apud ZANELLI & BASTOS, 2004 p. 473) coloca que psicologia aplicada ao trabalho surge nesta época, ligada às tentativas de racionalização e à procura de um caráter científico e inovador no controle dos processos de produção, exigindo assim maior eficiência econômica sob o argumento de melhoria das condições de trabalho dos operários. Nesta mesma época Léon Walther trouxe a psicotécnica para o país que foi colhido como um instrumento para colocar em práticas as teorias de Taylor. Posteriormente Henri Piéron iniciou os estudos dos testes psicológicos, também em curso sobre Psicotécnica, ministrado na Escola Normal de São Paulo. As primeiras aplicações de testes foram em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob direção do Roberto Mange. 49 A partir daí houve a expansão da aplicação de testes psicológicos na seleção de pessoas. Em 1930 foi criado o Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT) para atender as expectativas dos empresários, treinando profissionais para a aplicação do Psicotécnico, que passou a ter considerável penetração nas empresas. O IDORT teve grande participação e importância para a aplicação da Psicologia do Trabalho no Brasil (ZANELLI & BASTOS, 2004). Podemos observar que a inserção da psicologia no mundo do trabalho acompanhou as mudanças industriais e veio se tornando uma necessidade dentro das grandes empresas, um trabalho que tinha um foco inicial somente na seleção de funcionários foi se expandindo e ganhando seu espaço o que a tornou essencial para as organizações do mundo moderno. Segundo Zanelli & Bastos (2004) em um estudo importante realizado na década de 80 o Conselho Federal de Psicologia traçou uma descrição da atuação do psicólogo no Brasil, pontuando dificuldades que envolviam a atuação profissional e sinais de que as transformações ocorridas estavam começando a traçar novos afazeres ou novas práticas nos diversos campos da psicologia. A este núcleo também se agregam outras funções clássicas da gestão de pessoas: treinamento e avaliação de desempenho. É perceptível também o aparecimento de algumas atividades que podem ser consideradas modernas e 50não vinculadas tão estritamente ao modelo tradicional do psicólogo organizacional, entre elas: planejamento e execução de projetos, os diagnósticos situacionais e as funções de assessoria e consultoria. Tais atividades mostram um tipo de inserção profissional diferente por ampliarem o nível de intervenção frente aos problemas organizacionais, levando o psicólogo a lidar com problemas mais complexos e globais das organizações. A pesquisa mostra ainda, o aumento de psicólogos em atividades administrativas, de planejamento, consultoria, supervisão e assessoria. A crítica de diversos autores e profissionais da área sobre o modelo clássico de atuação do psicólogo organizacional ajudou a consolidar linhas de atuação inovadoras. Linhas estas que nascem das transformações no mundo do trabalho decorrentes do aumento do mercado interno e da competitividade entre as empresas que passam a exigir novas competências e formas de trabalho. Com relação à prática da psicologia organizacional, podemos dizer que ela muda de acordo com o país e região. Nos Estados Unidos a psicologia organizacional dedica sua atenção para a parte industrial e menos para parte organizacional. No Canadá e na Europa, a prática concentra-se um pouco mais na direção organizacional. Em partes isso ocorre devido ao forte movimento dos sindicatos nesses lugares, que depositam mais atenção nos direitos dos funcionários. Desse modo, boa parte da pesquisa sobre atitudes dos funcionários, saúde, segurança e bem-estar vem do Canadá e da Europa. 51 2.2 Fortes influências internacionais na história da Psicologia Organizacional Segundo as ideias de Peiró (2011), não é simples demarcar a data inicial de um campo profissional e/ou de uma disciplina. Ao decorrer dos anos, encontram-se inúmeros estudiosos interessados com o mundo do trabalho e com as pessoas nele envolvidas. Deste modo, nomes importantes merecem ser destacados, como, Patrizi, em Modena, que em 1899 criou um laboratório para pesquisar a fadiga; Kraeplin, na Alemanha e Mosso, na Itália, que nos anos 90 estudaram aspectos psicofisiológicos relacionados à carga de trabalho; Lahy, na França, que foi um dos precursores na utilização de testes na seleção de trabalhadores e Scott que, em 1903, publicou o livro The teory of Advertising, sobre a psicologia da publicidade (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2014). Entretanto, está no trabalho Psychology and Industrial Efficiency, em 1913, de Münsterberg o marco principiante mais reconhecido. Este marca o nascimento da psicologia industrial e traz as principais preocupações centrais da época e do novo campo, como a seleção de trabalhadores, os fatores que afetam a eficiência do trabalhador e as técnicas de venda, publicidade e marketing, 52 representando, respectivamente, a busca pelo melhor sujeito para o trabalho, o melhor trabalho e o melhor efeito possível, onde, neste sentido, elaboraram-se testes psicológicos com o intuito de ajustar as pessoas aos cargos (MÜNSTERBERG, 1913). Em 1933, Mayo divulgou, em The Human Problems of Industrial Civilization. Os resultados de seus estudos, em 1920 na Western Electric Company, revelaram a importância de se considerar os fatores sociais implicados em uma situação de trabalho. Essa pesquisa ficou muito conhecida pelo nome Hawthorne (bairro da cidade de Chicago) e deu impulso à era das relações humanas (MAYO, 1933). Na sequência, elementos do contexto macrossocial, político, econômico e cultural impuseram desafios e oportunidades para o surgimento de respostas neste meio, tais como: o processo de industrialização no período da Segunda Revolução Industrial, com a criação de máquinas novas, requisitando padronização no trabalho; a coação por reformas sociais e contra a exploração do trabalho em 1998; a Primeira Grande Guerra, demandando a solução de problemas derivados da sobrecarga de trabalho; a grande depressão na década de 1930 e a Segunda Grande Guerra. Cabe ressaltar que o binômio avaliação psicológica e ajuste homem/máquina/trabalho instituiu o grande componente definidor desse período inicial (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2014). 53 De acordo com as ideias de Shimmim e Strein (1998), as respostas aos desafios que surgiram nesse período que perdurou até 1945, foram o surgimento de psicotécnicas, testes psicológicos como ferramenta para a seleção de pessoas e o humano que se refere à elaboração de equipamentos para o uso. Por este viés, abordagens e métodos também surgiram, como a já citada psicologia industrial, a psicometria, os processos seletivos, análise e intervenção com foco em pequenos grupos e métodos de treinamento. Por conseguinte, de 1945 a 1960 instaura-se o período denominado “expansão e consolidação pós- guerra”. Este caracterizou-se pela reconstrução da economia, das cidades e da vida social em geral, sendo uma fase de expansão e crescimento. Assim, na Europa e nos Estados Unidos emergem as entidades específicas e o psicólogo passa a trabalhar com uma gama de problemas organizacionais, como elaboração de postos de trabalho, seleção, treinamento, inserção de novas tecnologias, aquisição de habilidades, motivação e desenvolvimento organizacional. Dessa forma, a psicologia industrial é substituída pela organizacional (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2014). Além disso, a Teoria X (tradicional) e a Teoria Y (emergente) de McGregor, divulgada em 1960, na obra The Human Side of Enterprise, merece relevância. Neste estudo vê-se dois modos divergentes de encarar o trabalhador. Na Teoria X, a ênfase é dirigida às metas da organização, administrando seus recursos humanos de modo autoritário. Por outro lado, na Teoria Y a atenção é dirigida à valorização do empregado, estimulando-o a alcançar suas metas e satisfazer suas necessidades (PÉREZ-RAMOS, 1990). Conforme Shimmim e Strein (1998), dentre os anos de 1960 e 1970 surge uma temporada de incertezas, onde a Guerra Fria espalhou conflitos em todo o mundo. Um modelo novo de relações de trabalho surge, ampliando-se a competição devido aos avanços na tecnologia, a busca de lucros e os conflitos nas organizações, apesar do nascimento do discurso da qualidade de vida no trabalho (QVT). No que diz respeito à psicologia, cresceram as críticas aos testes psicológicos e o desafio de ir além do âmbito individual da análise. Em contrapartida, manifesta-se a concretização de programas de QVT, a mudança de modelos de gestão de controle para compromisso e envolvimento, o foco não mais em pequenos grupos e cresce o debate sobre questões éticas. 54 Fenômenos como o aumento do estresse, assédio moral ou violência psicológica têm sido foco de investigação de diversos autores, como Bernal (2010) e Zanelli et al. (2010). Ademais, com o aumento do desejo de equilibrar a vida profissional e familiar, embasado sob ética, transparência, justiça e refletindo a aposentadoria, houve um acentuado interesse de inúmeros profissionais por questões referentes à saúde do trabalhador (SILVA, 2007). 3.0 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO BRASIL O desenvolvimento da psicologia organizacional e do trabalho no Brasil acompanhou as mudanças mundiais, destacando-se inicialmente em um nível mais genérico, a psicologia geral. Seu aparecimento está associado à crescente industrialização dos principais países do cenário ocidental, no fim do século XIX e início do século XX. A partir do processo de regulamentação da profissão de psicologia na década de 1960, foi possível incluir fatos, eventos e estudos, os quais mencionam a POT (BORGES, 2010). 55 Apesar do ingresso da psicologia organizacional nos estudos de psicologia, essa passava uma visão de compromisso com setores ideologicamente conservadores, fazendo com que pesquisadores criassem certa distância de pesquisas voltadas para a área. Contudo,
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