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OBRAS DO AUTOR Livros Estatuto dos benefícios fiscais (esboço de um projeto), Lisboa, 1969 (em colaboração); Benefícios fiscais à exportação: limites e pers- pectivas, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1969; Port1tgal e a integração econômica européia, ed. Almedina, Coimbra, 1970; Política. orça-mental e economin de mei·caclo: a exper·iéncia americana elo após-guerra, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1970; Sitbsídios pctra mn.a lei de defesa dn concorn~ncia, Cadernos cie Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1970; .Aspecto.s fnndamentai.s do contencioso t·ributário, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1972; Goncecito e naturezn do acto tribittário, ed. Almedina, Coimbra, 1972 (dissertação de doutoramento em ciências jurídico-econômicas na Faculdaue de Direito da Universidade de Lisboa); Econont'ia de merendo e justiça social, ed. Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1973; 11fanital de Direito F·íscal, I, ed. Almedina, Lisboa, 197'1; Do 1n·ocerlimento allministraNvo, ed. José Bushatsky, São Paulo, 1976; Direito 'J.'ributário Internadonal elo Bnwil, ed. Resenha Tri- butária, São Paulo, 1977; Do Lançamento no Direito Tribntário B1·asileiro, ed. Resenha Tributária, São Paulo, 1977; Incorporação rl6 socieclades e imposto de renda, ed. Resenha Tributária, São Paulo, 1978. Estudos e Artigos A.s desigitaldades internacionai8 e a integração econômica, Separata da Revista da Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 1970; .A na- tureza jiirídicci da associação à 001nunidade Econômica Européia, ed. Almeóna, Coimbra, 1970; Portugal face ao Mercado Gommn E1tropeii, Separata da Revista do Instituto Econômico e Social de Évora, Évora, 1970; O negócio inclireto ern direito fiscal, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1971; Dir·igismo e livre empi·esa no munclo contempor·âneo, ed. Assembléia, Guimarães, 1971; A administração pública e a economia contrat1wl, in Revista do Insti- tuto Português de Ciências Administrativas, Lisboa, 1974; Il feno- meno dell'astratezza nell'atto cl'accertamento tributaria, Rivista di Diritto Finanziario e Scienza delle Finanze, Milão, ed. Giuffre, 1975; Tipicidacl y legalidad en eZ derecho tributaria, Revista de Derecho Financiero y de Hacienda Pública, Madrid, 1975, n. 120; O limite das despesas das socied(ides "holcling", Resenha Tributária, 1976, n. 29; Indedittibilidade de "royalties" e di8trib·uição de lucros, Resenha Tributária, 1976, n. 36; A re1mmeração dos administradores das S. A., Sociedades por Ações - Estudo n. 1, São Paulo, 1977; Problemas jurídicos da reserva para manittenção de capital de giro, Ltr, 1977; O regime tribiitário elas correções monetárias das pres- tações conti·atitais, Resenha Tributária, 1977, n. 16; .Aiitorização para importaçcio no entreposto aduaneiro, Resenha Tributária, 1978; Colaboração no Verbo (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura). ALBERTO XAVIER , OS PRIHCIPIOS DA LEGALIDADE E -DA TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO EDITORAm REVISTA DOS TRIBUNAIS SÃO PAULO -1978 Xl7p 178-0806 '-------·-·· CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Câmara Brasileira do Livro, SP Xavier, Alberto, 1942- 0s princípios da legalidade e da "tipici- dade da tributação / Alberto Xaviero - São Paulo : Ed. Revista dos Tribunais, 1978. 1. Poder de tributar - Brasil L Titulo. CDU-342: 336. 2. 023(81) -340.131.5:336.2(81) Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Poder de tributar : Limitações constitucionais Direito tributário 342:336.2.023(81) 2. Brasil : Tributação : Legalidade : Direito tributário 340.131.5:336.2(81) 3. Brasil : Tributação : Limítaçôes constitucionais Direito tributário 342: 336. 2. 23 (81) 010486 Os prjnçipios da. !eQalidade e dà t1p1cldade da H''lbutaca 336.21:342 X3p 1978 XAVIER, ALBERTO PINHEIRO 1111111111111111111 [ 818UOTEC.4 I T.J.E::.F1.J. 1G61 © desta edição da REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA. Rua Conde do Pinhal, 78 01501 - São Paulo, SP Agosto de 1978 A Geraldo Ataliba, Ao grande Amigo, Ao Mestre, Ao incansável Defensor do Estado de Direito. SUMÁRIO INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 CAPÍTULO I - O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE NO ESTADO DE DIREITO § l .º Do princípio da autotributação ao Estado de Di- reito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 § 2.0 Estado de Direito, igualdade e legalidade . . . . . . . . . 8 CAPÍTULO II - OS CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE NO DIREITO TRIBUTÁRIO § 1.º Preeminência da lei e reserva de lei . . . . . . . . . . . . . . 13 § 2.0 Reserva de lei formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 a) A proibição das fontes consuetudinárias e dos regulamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 b) O conceito de lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 e) Decretos-lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 d) Decretos regulamentares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 (i) O regulamento e os "elementos essen- ciais" do tributo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 (ii) O regulamento e os deveres instrumen- tais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 (iii) Limites do poder regulamentar:. o § 2.º do art. 153 da Constituição. como reserva relativa de lei formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 (iv) Regulamento e instituições . . . . . . . . . . . . . . 33 e) Resoluções do Senado e convênios . . . . . . . . . . . . 34 § 3.0 Reserva absoluta de lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 CAPÍTULO III - LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA § 1.0 A segurança jurídica no Direito Tributário e o prin- cípio da proteção da confiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 § 2.0 Os fundamentos da segurança jurídica . . . . . . . . . . . . 46 a) O direito à segurança jurídica . . . . . . . . . . . . . . . . 47 b) Segurança jurídica e economia de mercado . . . 50 SllNfAIUO C11PÍTULO IV ·- O PRINCÍPIO DA TIPICIDADE NA DOUTH.INA § 1.0 As orientações fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 a) Tipicidade e adequação típica . . . . . . . . . . . . . . . . 58 b) Tipicidade e obrigação de cobrança . . . . . . . . . . 59 c) Tipicidade e determinação normativa . . . . . . . . . 60 § 2.0 Observações críticas e reconstrutivas . . . . . . . . . . . . . 62 CAPÍTULO V - TIPICIDADE E NORl1vIA TRIBUTÁRIA § l.º A origem legal de tipicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 § 2.0 Objeto da tipificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 a) Tipicidade, hipótese de incidência e capacidade contributiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 b) Tipicidade e mandamento da norma tributária 77 (i) Fixação da medida do tributo . . . . . . . . . . . 77 (ii) Os fatores da medida do tributo: alíquo- ta e base de cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 CAPÍTULO VI - COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE § 1.º O princípio da seleção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 a) Seleção e tipologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 b) Seleção e cláusula geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 § 2.º O princípio do "numerus clausus" . . . . . . . . . . . . . . . . 86 a) Tipologia taxativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 b) Proibição da analogia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 § 3.G O princípio do exclusivismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 a) Exclusivismo e doutrina dos tipos . . . . . . . . . . . . 89 b) Implicação intensiva e conteúdo acessório do tipo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 § 4.0 O princípio da determinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 a) O princípio da determinaçãoe as "normas elásticas" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 b) Determinação da medida do tributo . . . . . . . . . . 95 c) A noção de conceito indeterminado . . . . . . . . . . 96 BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . 101 INTRODUÇÃO A Constituição do Brasil proclama no § 2'! do art. 153 que: "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". E, aplicando este princípio à matéria tribu- tária, determina, ainda dentro da lista dos direi- tos e garantias individuais, que "nenhum tributo será exigido ou aumentado sem que a lei o esta- beleça, nem cobrado, em cada exercício, sem que a lei que o houver instituído ou aumentado esteja em vigor antes do início do exercício financeiro, ressalvados a tarifa alfandegária e de transporte, o imposto sobre produtos industrializados e outros especialmente indicados em lei complemen- tar, além do imposto lançado por motivo de guerra e demais casos previstos nesta Constitui- ção" (art. 153, § 29, com a nova redação dada pela Emenda Constitucional n. 8 de 14. 4 .1977). Por sua vez o art. 19, inserto no capítulo V "Do Sistema Tributário", já havia estabelecido que "é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - instituir ou aumentar tributo sem que a lei o estabeleça, ressalvados os casos previstos nesta Constituição". Estes preceitos, que consagram o princípio da legalidade na ordem constitucional, foram sub- seqüentemente incorporados ao Código Tributário. 2 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO Nacional, ao qual - enquanto lei com-eficácia de lei complementar - compete regular "as limita- ções constitucionais ao poder de tributar" ( Const. art. 18, II, § l 9). Assim, o art. 99 do mencionado Código contém preceito análogo ao art. 19 da Constituição, deter- minando que "é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - instituir ou majorar tributo sem que a lei o estabeleça", tendo porém substituído a ressalva genérica do texto constitucional pela ressalva específica, "quanto à majoração, (d) a: disposto nos arts. 21, 26 e 65". Os preceitos ressalvados autorizam, aliás com base no art. 21 da Constituição, o Poder Executivo, nas condições e nos limites estabeleci- dos em lei, a alterar as alíquotas ou as bases de cálculo dos impostos sobre a importação, sobre a exportação e sobre operações de crédito, câmbio e seguro, a fim de ajustá-los aos objetivos da polí- tica cambial, e do comércio exterior e monetária. O art. 97 do Código Tributário Nacional, por sua vez, declara que "somente a lei pode estabe- lecer: I - a instituição de tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos ou sua redução, ressalvado o disposto nos arts. 21, 26, 39, 57 e 65; III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o dis- posto no n. I do § 39 do art. 52, e do seu sujeito passivo; IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos arts. 21, 26, 39, 57 e 65; V - a comissão de pena- lidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspen- são e extinção de créditos tributários, ou de dis- INTRODUÇÃO 3 pensa ou redução de penalidades." O § 19 determi- na que uequipara-se à majoração do tributo a modificação de sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso" e o § 29 esclarece que "não constitui majoração de tributo, para os fins do inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo". Conexos com o princípio da legalidade, mas dele autônomos, são os princípios - igualmente consagrados na Constituição - da anualidade, da anterioridade e da não retroatividade. Enquanto o princípio da legalidade se concentra na exigên- cia de lei para a regulação dos tributos, os demais princípios respeitam às características temporais de que se deve revestir a referida lei: o princípio da anualidade reporta-se à periodicidade de uma autorização de eficácia previamente conferida por lei orçamentária; o princípio da anterioridade) à posição temporal da lei face a um dado exer- cício financeiro; o princípio da irretroatividade à posição temporal da lei frente a um dado fato tributário. Por outras palavras: enquanto o princípio da legalidade cifra-se na exigência nullum tribu- tum sine lege, os demais princípios traduzem-se todos eles na proposição nullum tributum sine lege proevia, distinguindo-se entre si pela nature- za da "lei" a que se referem (lei orçamentária no princípio da anualidade, lei tributária material nos princípios da anterioridade e da irretroativi- dade) e pela realídade quanto à qual a lei deve ser considerada "prévia" (o exercfoio financeiro nos princípios da anualidade e da anterioridade, o fato tributário no princípio da irretroatividade). remotas e, reconhecido, mesmo em 1. Cf. Lóhlein, Die Zulüs:;ig!ceit !W- ckwirkender Steuergesetze, Munique, 1964, pp. 158-159. 2. Sobre a justiça de gabinete ou Administração condicio- nante, veja-se Max Vôlker, Der Grundsatz der Gesetzmassigkeit und die Leitsungsverwaltung, Munique, 1960, p. 2 e ss.; Von Myrbach-Rheinfeld, Précis de Droit F·inancier, pp. 103-104. J:i] TfPP.JIDl,,_DJ'.J 3. ~-O)uv u u1 l.ucano n:;J. 1Paa1111ad_e em matéria de :hnpostos Direito é ponto hoje assente na doutrina. Como bem diz Ottmar Bühler "no domínio do direito das prestações coativas, o princípio da legalidade - nenhu- ma pretensão tributária sem base legal - já era duiva- cão do princípio corporativo e só depois das exigências do constitucionalismo" CL Princípios de DÚecho Internacional Tri- butaria, p. 200; Hense1, Der Einfluss des Steuerrechts auf die Begriffsbildu.ng des offentliches Rechts, Zoe., cit. p. 77. Por outro l.ado, que o princípio da legalidade coexistiu com sistemas ju- rídicos não inspirados no Estado de Direito resulta de o próprio regime nacionaI-socialista tê-lo acolhido. V. Kruse, Gesetzmiis- sige Tlerwaltung, Tatbestanásmassige Besteuerung, Zoe. cit., p. 93 e ss. 4. Assim o demonstrou Drews, Die Steuerliche Herkunft des Grundsatzes der gesetzmassigen Verwaltung, Kiel, 1958; ver também Soares Martínez, Elementos para um Curso de Direito Fiscal, C. T. F. n. 139, 1970, p. 40; ID., Introdução ao Estudo das Finanças, Lisboa, p. 62 e ss. e 74 e ss.; Mitchell, Taxatíon in 1VJedieval England, New Haven, 1951, p. 158; Adams, Constitu- tional 1-Iistory of Englaná, Londres, 1951, p. 123 e ss.; Gabriel Ardant, Histoire ele l'lmpót, I, Paris, 1971, p. 493 e ss.; V. Uckmar, Principi comuni ài diriito costituzionale tributaria, Pádua, 1959, p. 7 e ss. lei que as autorize, o e a conceito de reserva de Pode, porém, afirmar-se ter sido no terreno da tributação que o Esta.do 5. Cf. Bartholini, Jl princzpzo di legalità dei tributi in ma- teria di imposte, Pádua, 1957, passim, mas espec. p. 49 e ss. 6. Cf. Berliri, Principii .. . , I, 2." ed., p. 36 e ss. 2 8 L,.EGA~LID/;_DE E 11_~1PICIDADE palavras: cialmente, concebido fim o Direi to e atua aquele que tem a justiça sua realização. 7. Na clássica formulacão de Friedrich Julius Stahl, "Der Staat soll die Bahnen und Grezen seiner Wirksamkeit wie die z~\veck die Sehaffung 1.st~ dessen rnit der Recht erfolgt11 • 1856; II_, p. 137. Sobre a. 1:or1r1al1 v" Afonso Queiró3 ção,. Coirnbra1 in der \\Teise des Rechts genau bestin:1- sichern soll" ( ... ) "der Staat dessen in des RechtsJ 3.ª de Direito em sentido discricionário da Administra~ também um conteúdo ma- formal do Est8.do d.e Direito, Lõhlein, Die Zultissigkeit ... , 154 a 157; Bühler- 8t:euerrechi: I, p. 124. aos vári.os conceitos sisternática é s danke im Bteuerrecht_, Salzwedel, Rechtstaat ini Steuerrecht, i.n Vom Steuerrecht, Düsseldorf, 1960, pp. 2 a 8. õito Tributário, Rechtsstaatsge- aindaRechtsschutz 8. Cf. A. Baleeiro, Limitações constitucionais ao poder de Forense, Rio, 1974, p. 254. Sobre o Willkilíverbot ver o recente estudo de Ernst IIõhn, ''Aspekte Verfassungsmassiger Besteuerung", Archiv filr Schweizerisches Abgaberecht, 1976, p. 226. A legitimidade dos critérios discriminadores, face ao prin- da iguaidade, foi objeto de :recente e brilhante ensaio de Celso Antônio Bandeira de Mello, O conteúdo jurídico do prin- cipio da igualdade, São Paulo, 1978. relações entre o pTinc1p10 da igllaldade,. da e da capacidade contributiva, veja-se o excelente de Pa.ulick . . Der GTundsatz der GlcichmJissigkeit der Bes- teuerung-sein Inhalt und Grenzen, p. 125 e ss.; ID., Lehrbuch des Steuerrechts; 5:3 e as ohservações de J<~ruses Steuerrecht_. I, P~ 34º Em Portugal: J. " Teixeira Ribeirot "Os princípios constitucionais da fiscalidade portuguesa", Bol. Fac. . Coimbra, 1966, 225 e ss.; Pessoa Jorge, Curso.,,, p. 94; Cardoso da Costa, . , , p, 77; All:Jerto P, Xavier, O negócio indireto em direito fiscal, Lisboa, 1971, p. 42 e ss. Sobre a igual- dade tributária: cL Salvatore La Rosa, Eguaglianza tributaria ed esenzioni Milão, 19G8, passim; V. Uckmar, Principii comuni di costituzionale tributaria, p, 45 e ss.; Liccardo, introduzione aZlo studio del Diritto Tributaria, p. 259 e ss.; Se- Linares Quintana, El poder impositivo y la Zibertad Buenos Aires, 1951, p. 195 e ss.; Jeze, "L'égaHté des devant l'impôt", Revue de Droit Public et de la Scíence Politíque, 1944, p. 158 e ss.; lVl:anuel Cortes Rosa, "Aplicação temporal das normas fiscais" C. T. F., 1961, p. 49 e ss., esp, 237 e ss. e 575 e ss. Sobre a capacidade contributiva, v infra, p, 313 e ss.; Giardina, Le base teoriche del princi@io di capacità contributiva, Milão, 1961; Gaffuri, L'attitudine alla cont- tribu.zíone, Milão, 1969; Maffezzoni, Il principio di capacità con- tributiva nel Diritto Finanziario, Turim, 1970; Manzoni, ll prin- cipio della capacità contributiva nell'ordinamento costituzio- nale italiano, Turim, 1965; Griziotti, "Il principio della capaci- Ui, contributiva e le sue applicazioni", R. D. F. S. F., 1949, I, p. 15 e ss.; Ramon Valdés Costa, Curso de Derecho Tributaria, I, Montevideo, 1970, p. 131 e ss. LEGALIDADE Terr1 sido n1ui"Lo fec-ündo o estudo deste tema aue deu rica bibliografia em Portugal: J. Carlos Morêira, "O da legalidade na administraçào", Bol. Fac. Dir. Coimbra, lS-±.9, p. 385 e ss.; J\fonso Queiró, O poder cliscricionário. cit. Rogério So'tres, Interesse público, legalidade e 1955, p. 43 e ss.; André Gonçalves Pereira, Erro e 14 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO O princípio da preeminência da lei (Vorrang des Gesetzes) , princípio da legalidade em sentido amplo, fórmula negativa ou regra da conformi- dade, traduz-se basicamente na proposição de que cada ato concreto da Administração é inválido se - ' e na medida em que contraria uma lei material; o princípio da reserva de lei (Vorbehalt des Ge- setzes), princípio da legalidade em sentido res- trito, fórmula positiva, ou regra da compatibili- dade, surgiu originariamente com o sentido de que cada ato concreto da administração que inter- vém na liberdade ou propriedade do cidadão - a chamada Freiheit-und-Eigentum Klause 2 - carece de autorização de uma lei material, mas veio mais tarde a evoluir no sentido de exigir a mesma autorização para todo e qualquer ato administrativo, ainda que diretamente não con- tendesse na aludida esfera privada dos particula- res. Se o princípio da preeminência da lei repre- senta muito mais a defesa da própria idéia de generalidade - da volonté générale - numa fase de evolução do poder administrativo concebido essencialmente como ampla esfera de autonomia ou mero âmbito de licitude, que a lei se limitava exteriormente a demarcar, já o princípio da reser- va a lei desempenha basicamente uma função de garantia dos particulares contra as interven- ilegalidade no ato administrativo, Lisboa, 1962, capítulo, I; Cas- tanheira Neves, Questão de fato - Questão de direito, Coimbra, 1967, pp. 351 a 422; veja-se ainda Marceílo Caetano, Manual de Direito Administrativo, I, n. 14. Na doutrina alemã, veja-se a excelerite exposição de Max Vi:ilcker, Der Grundsatz der Gese- tzmassigkeit und die Leistungsverwaltung, p. 18 e ss. 2. Cf. Ernst Hi:ihn, Aspekte Verfassungsmiissiger Besteue- rung, Archiv für Schweizerisches Abgaberecht, 1976, p. 224. CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 15 ções do poder. Isto mesmo o revela a gênese do referido princípio que, tendo nascido no Direito Tributário, veio a alastrar para o Direito Penal e para todas as atividades administrativas, como a imprensa, a polícia, a emigração, que constituem as mais visíveis de todas as intervenções diretas ( unmittelbarer Eingriff e) na esfera dos particula~ res. É certo, já o vimos, que a conjugação de várias correntes tendentes a submeter rigidamente a Administração ao Direito levaram a que o prin- cípio da reserva de lei não se limitasse a abranger as aludidas intervenções diretas na liberdade e na propriedade dos cidadãos, antes tendesse a abarcar todo e qualquer comportamento do poder. A verdade, porém, é que em face de inegáveis exigências da vida moderna - sobretudo no domí- nio econômico e. social - imperativos esses subli- nhados por certas orientações políticas, levaram a que nos nossos dias se defenda uma administra- ção "livre da lei" (Gesetzesfreie Verwaztung) que, sem embargo do respeito devido à preeminência da lei, não carece de autorização legal para o desempenho das múltiplas intervenções a que se impôs, mormente quando realiza prestações patrimoniais em benefício dos particulares (Leis- tungsverwaltung). 3 As concepções do Estado- -Providência, do Estado-social de Direito, do Esta- do de Governo ou da Administração constitutiva conduzem assim a conceber a atividade de Admi- nistração mais como de realização de certos fins materiais, do que como mera execução do Direito; e, deste modo, se robustece a originária função 3. Cf. Vi:ilcker, Der Grundsatz der Gesetzmiissigkeit und die Leistungsverwaltung, passim. LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO d.e garantia da reserva de lei, ou seja, de tutela dos direitos subjetivos. Seja qual for a posição que se tome em face deste problema, cumpre, porém, reconhecer que para uma larga corrente da doutrina - em que enfileiram, entre outros, juristas como Peters, Huber, Wolff e Forsthoff - o princípio da legali- dade reveste no Direito Administrativo o seu conteúdo mínimo de urna simples regra de preemi- nência da lei. 4 O Direito Administrativo brasileiro apenas pa- rece exigir uma reserva de lei no que diga respeito à criação de deveres - de conteúdo positivo ou negativo, isto é, à "obrigação de fazer ou deixar de fazer alguma coisa" a que se refere o § 29 do art. 153 da Constituição. Donde se pode inferir que também entre nós a atividade administrativa que não se traduza na criação de limites à liberdade pessoal ou patrimonial dos subditos apenas se en- contra submetida à regra da preeminência da lei. Mesmo porém no terreno que lhe é privativo, importa sublinhar que o princípio da reserva da lei se reveste,• no Direito Administrativo em geral, de um sentido mais amplo do que o que assume no 4. A doutrina alemã que mais de perto se tem debruçado sobre o tema, encontra-se profundamente dividida. Assim, en· quanto uns continuam a defender a necessidade de autoriza- ção legal (Maunz, Turegg, Jesch, Imboden, Merkl, Antoniolli), outros sustentam que tal autorização só é exigível quanto às intervenções diretas na esfera dos particulares (Peters, Huber, Wolff, Forsthoff, Kruger), enquanto uma terceira corrente, em-- bora negue a reserva de lei, exige a vinculação aos princípios constitucionais do Estado social de Direito (Bachof, Hamann, Spanner, Stern e Reuss). Veja-se uma exposição detalhada destas doutrinas em Max Võlcker, Der Grundsatz der Gesetzmtis- siglceit ... , p. 86e ss. e Plõssl, Zusicherungen von Verwaltungs- behorden, Munique, 1964, p. 96 e ss.; refere-se ao problema Cas- tanheira Neves, Questão de fato - Questão de direito, p. 371. CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 17 Direito Tributário, revelando deste modo ser o princípio da legalidade menos exigente no âmbito da atividade administrativa em geral, do que no campo dos tributg§,,_'.tJom efeito, entre nós, enquan- to o princípio da legalidade da Administração, consagrada no § 2çi do art. 153, se traduz numa reserva relativa de lei formal, o princípio da lega- lidade, em matéria tributária, constante do § 29 do mesmo artigo revela-se como uma reserva abso- luta de lei formal. É o que demonstraremos adiante, ao examinar os limites do Poder regulamentar no que tange aos tributos. § 2. º. Reserva de lei formal O princípio da reserv~:i. de lei, na acepçào mais ampla que comporta, exprime - já o vimos ~ a necessidade de que toda a conduta da Adminis- tração tenha o seu fundamento positivo na lei, ou,. por outras palavras, que a lei seja o pressuposto necessário e indispensável de toda a atividade administrativa. O aludido princípio é ainda suscetível de mais amplo desenvolvimento, cumprindo distin- guir vários tipos de reserva, atendendo, por um lado, ao critério da fonte de produção jurídica e, por outro, ao critério do grau de determinação da conduta fornecido pela própria lei. Encarando a realidade sob o prisma da fonte de produção jurídica, a reserva de lei distingue-se em reserva de lei material e reserva de lei formal. J\fo primeiro caso, bf;lsta que a conduta da Admi- e a sua. 5. Gerd "\filº Rothmann adoia u:n conceito r.o.ais restrito de 1e1 formal, identificando-a com a lei proveniente do Poder Le- gislativo. Cf. O da legalidade, Direito Tributário, 5." Colçtânea, S. Paulo 1 1973, PP~ 153-154. 6. Trata-se da sentença proferida no célebre caso Me Cul- loe;h v. Maryland, 4 W. H. 316. Cf. Bernard Schwartz, A Commen- tary on ihe Constitution of United States, Part* 1: The Powers of Government, IVIac IVIilan, Ne-\v York, 1963, p. 47; c+risvvold, Fecleral Taxation: Cases and Materials, p. 24 e ss. CP..,RACTEf(.ES t7 º A do direito con.suetudinário urn.a das conseqüências típicas e imediatas do galidade. 1.l. Lõhlein, Díe Verfassungs.rechtliche pp. 160-1, Eckhardt-Hillebrecht, Problematik éJ com efeito, princípio da le- Zuldssigkeit ... , rückwirkender SteEer{)G~etztJ Co1-Dnia1 19GO, pp. 51-35; SpannerJ § 2, notas 27 e 32; Bühlei·-Strickrodt, Steuerrecht, I~ p. 55; Kruse, Gesetz~ -miissige TTerwaltung, Tatbestandsmêissige Besteuerung, loc. cit7 pp. 104 e ss. e 112, ID., Steuerrecht, I, p. 64; Paulick, Lehrbuch ... , p. 84; Jaime Basanta de La Peüa, "Las fue11tes DO escritas del Derecho Tributario y el derecho supletorio escrito", XIX Sema- nas de Estudios ele Derecho l'v'!:adri.d, 1972, p. 273 e ss. Vejam-se contudo as reservas de Jaenke, Rechtssicherheit im Steuerrecht, Zoe. cit., p. 52 e ss., invocando que o direito con- suetudinário não se opõe ao principio da segurança jurídica e retomando assim as considerações de Kruse, Ober Gewohneits- recht, S. W. 1959, p. 213. Na Alernanha tem-se também discutido da admissibilidade de outras fontes não legais do Direito Tribu- tário (Ungesetzes Recht), como o princípio da eqüidade (Billig- keit) e o princípio da boa fé (Treu und Glauben). A orientação dominante é no sentido de lhes recusar a natureza de fontes de direito, valendo apenas no âmbito das relações concretas entre as partes. Cf. Lõhlein, Die Verfassungsrechtliche Zulêis- sigkeit .. . , p. 190 e ss.; Kruse, Gesetzmassige Verwaltung .. . , cit., p. 101 e ss. Veja-se ainda estudo de Valentin Rodriguez y Vazquez de Pra.da, "La equidad como fuente del Derecho 'l"ri- butario", XIX Semanas de Estudios de Derecho Financiero .. rvradrid, 1972, p. 523 e ss. :G B. Sotn·e a regular.nento corí10 fonte Direitr) con1 os princípios do Estado de Di- poderes cf. Ermi?cchtigungen, zum Erlass Steuerlicher 1nstitut Finanzen uncl Sieuernj Heft 10, Bon3> 1951; KJein-Pau~ Hck, Das Steuerrechtliche V"erordnungsrecht gemiiass, § 12 Abs . . 1 Sat.z 1 AD", S. W. 1952, p. 430 e ss.; Paulick, De;· Grundso.tz der Gleicl1,rinâssigl':.eit der Zoe. cit., p. 146 e ss.; ID~, Lehr~ buch des ailgerneinen Steuerrechts) p. 55 e ssº e 81 e ss.; S-oan:ne1 in H.I-I.S.~ § 2i notas 1 a 22; Bühler-Stric: ~ 93 e ss., 102 e ss.; 213 e ss., e 293 e ss.; Salzwedel, Rechtstaat im Steuerrecht, Zoe. cit., p,. 13 e ss.; Kruse, Gesetz1niissige Verwal- tung, Tatbestandsrnassige Besteuerung, Zoe. cit., p. 108 e ss.; ID., Steuerrecht, I, p. 57; Meilicke, Steuerrecht, p. 59; Leca, "Le domaine de la loi et le don1aine du Teglement en matiêre fiscau 1e", Ann. de l'Universiié de Lyon, 1960, p. 221; V. Uckmar, "La potestà regolamentare in materia tributaria", Stucli in onore di A. D. Giannini, p. 930 e ss.; Bartholini, Il principio di legalità ... , p. 177 e ss.; Martin Oviedo, "La potestad reglamentaria en ma- te.ria fiscal", XIX Semanas de Estudios de Derecho Financiero, lviadri.d, 1972, p. 249 e ss. 9. Cf. Soares Martinez, Da personalidade tributária, Lisboa, 1969, 2.ª ed., p. 2'73 e ss. I~A 10~ Sobre o conceito de ªforca de lei" no sentido de forca de criar obrigações e, via de conseqüência, direitos e faculcÍa· des. Cf. Geraldo Ataliba, O Decreto-lei na Constiíuição de 1967, p. 20. " 1 . .1 rios ao 131-4. Sobre a crítica a esta expressão ver Yonne Dolacío de Legislação Tributária. Tipo legal Tributário, Comentá- Tributário Nacional, vol. 2.0 , S. Paulo, 1974, pp. 12. Cf. Gemido Ataliba. O Decreto-lei cit., p. 25. Aí se define "lei" neste sentido como a norma jurídica só subordina- da à Constituição, produzida pelo Poder Legislativo, com a co- laboração do Presidente da República, na forma do processo legislativo, com força vinculante geral, capaz de obrigar todas as pessoas submetidas à ordem jurídica brasileira a fazerem ou deixarem de fazer alguma coisa. Cf. A. Baleeiro, Direito Tri- butário Brasileiro, 6.ª ed., Forense, p. 356. 3 CfüS1-\.CTERES 1J"A. 1., LL Cf. Geraldo Atalib::i, op. cit., p. 66 e ss. DA 14. Cf. M. G. Ferreira Filho, Comentário à Constituição Bra- sileira, vol. 2.º, p. 48; A. Baleeiro, Limitações constitucionais ao 11oder de Tributar, Forense, Rio, 1974, pp. 4.1 e 42. 15. A. Baleeiro, Limitações constituc'ionots ao voàer de Forense, mo, 1974, p. 41. 1G. Cf. Ylves .José de Ivrira,nda Guilnarães, Os princzpi-os normas constitucionais tributárias, S. Paulo, 1976, p. 41; Cézar Vieira de Rezende, Os decretos-leis nas constituições modernas, Prnjeção, n. 18, 1977. 17. Cf. 'Nalter Eberhard Streicher, "A República, o Decreto-lei e o princípio da legalidade tos", RDP, ano VI, n. 24, p. 110 e ss. da dos tribu- 13. G. W. Rothma1'n, 137. prínc1p10 da legalidade tributá- Coletânea, p. 163. {!Fontes de Direito Tributárion~ Fanu.cchi, Curso ãe Direito Tributário, Hamilton D'as de Sousa, "Conceituação de Tributo", Comentá- rios ao Código Tributário Nacional, vol. I, pp. 28 e 35. 3-B 1 28 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO dentro do campo dos "elementos essenciais" dos tributos. Deve ainda observar-se que esta margem de liberdade regulamentar só é admissível se a própria lei estabeleceu os respectivos limites - em especial o limite máximo - de tal sorte que se apenas tiver estabelecido limite mínimo não pode admitir-se a outorga da faculdade em causa. 21 (ii) O regulamento e os deveres instrumen- tais Para além do mencionado campo dos "ele- mentos essenciais" do tributo, onde o decreto do Poder Executivo pode excepcionalmente atuar, ele poderá intervir nas demais áreas do Direito Tri- butário, nos termos e limites que são próprios do regulamento de execução e que o art. 99 do Código Tributário Nacional sintetiza estabelecen- do que "o conteúdo e o alcance dos decretos res- tringe-se ao das leis em função das quais sejam expedidos, determinados com observância dasregras de interpretação estabelecidas nesta lei". Esta conclusão foi recentemente combatida pelo Doutor Roque Carraza 22 , em dissertação que em vários pontos retoma e desenvolve um ensaio, vigorosamente original, de Geraldo Ataliba 23• O 21. Fábio Fanucchi, Curso de Direito Tributário Bra- sileiro, vol. I, 3.ª ed., 1975, p. 127. 22. Cf. Roque Carraza, Contribuição para o estudo do Re- gulamento no Direito Tributário Brasileiro, dissertação de dou- toramento na PUC, inédita, 1978 .. 23. Cf. Geraldo Ataliba, Decreto regulamentar no sistema brasileiro, na Revista da Universidade Católica de São Paulo, vol. XXXVII. CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 29 ponto central da argumentação do autor traduz-se em negar que os regulamentos, no direito positivo brasileiro, tenham sequer aptidão para criar deve- res tributários instrumentais; e em afirmar que, mesmo cingidos à sua estreita faixa de atuação, vinculariam apenas a Administração, mas não assim os particulares. E isto basicamente pela in- terpretação conjugada de dois dispositivos da Constituição: o art. 153, § 2.0 , segundo o qual "nin- guém será obrigado a fazer ou deixar de fazer al- guma coisa senão em virtude de lei" e o art. 81, n. III, "in fine", nos termos do qual compete priva- tivamente ao Presidente da República "sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, expedir decretos e regulamentos para a sua fiel execução". A ponderação desta doutrina - que não po- demos aceitar - obriga-nos a desenvolver o nosso pensamento a respeito do verdadeiro significado da reserva de lei constante do § 29 do art. 153 da Constituição, bem como sobre a distinção entre regulamentos, em sentido próprio, e simples ins- truções. É o que fazemos de seguida. (iii) Limites do poder regulamentar: o § 2. 0 do art. 153 da Constituição como reserva relativa de lei formal Concordamos em que o Direito Constitucional brasileiro apenas acolhe a figura do regulamento de execução ( secundum Zegem), não admitindo os chamados regulamentos independentes ou autô- nomos (praeter legem) 24. Mas não vamos ao ponto 24. Cf. Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Princípios gerais de Direito Administrativo, vol. I, Forense, 1968, p. 313. # j 1 i " • ~ 1 1 1 i 1 ; ~ 1 i ·~ E TIPICIDADE r~P"- elos regulamentos conduziram a o da legalidade "reserva de material". têm o seu fundamento me- foram semelhante tem chegado a doutrina italiana interpretando expressão análo- TIPIC1DA.DE nem mesmo se a emanação prevê que ele e limitadamente a casos às normas dessa lei." Não se dizer melhor! nossa opinião, é necessária a existência de uma formal que explícita ou implicitamente 25. CL IVIicheli, Curso de Direito Tributário, trad. portu- guesa, S. Paulo, 1íJ78, p. 19. Cf. Berliri, Principii .. , I, 1967, pp. 36 e ss. .26. Cf. Principií .. , p. 61. CA.RA_CTERES DO natureza, o que o verdadeiros regulamentos, para as 99 tJU Com efeito, no Direito Brasileiro, como noutras ordens jurídicas, os regulamentos são verdadeiros atos normativos - embora secundários -- que, desde que nos limites da autorização legal - têm aptidão para criar direitos e obrigações para os particulares. Tais atos são, porém, privativos do Chefe do Executivo, única autoridade para editar 91. ,_} ~;;;:: LEGALIDilDE Duas no T.!PICIIt4..DE DA e comJênios regu- conse- 27. Cf. Oswaldo A. Bandeira de 11/fello, Princípios .. ., cit., p. 313. Não assim noutros ordenamentos, como na Itália em que é autorizado o regulamento ministerial. Cf. Berliri, Principii . .. , pp. 62 e ss. 28. Cf. Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Bra- sileiro, 6.0 ed., S. Paulo, 1978, p. 153. 29. Idem, pág. 34. 30. Sobre a natureza das como simples n1andamento de uma normci. está descrita na (''atc;s norrnativos , ver Geraldo Ataliba, de Direito Tributário", Interpretação de Direito Tributário", pp. 136-7. 31. Cf. José Souto Maior Borges, Lei complementar iri- S. Paulo, 1975, p. 168 o chega mesmo a falar num de reserva de (p. 169). 32. Cf. Souto Maior Borges, op. cit., p. 171; G. Ataliba, "Pontes de Direito tributário" in Interpretação do Direito tri- butário (Saraiva, p. 133). contra partida, a 1e1 nao tem que fornecer necessariamente o critério decisão no caso concreto, que o legisla- dor pode confiar à valoração do órgão de aplicação do direito - o administrador. 34 33. CL Geraldo Ataliba, op. cit., p. 137. 34. Cf. os autores citados supra-referidos. CARACTERr:s I_j!1~GALTD.AD.E e1n decisão no caso con- o mas 35. Cf. Kruse, Steuerrecht, I, p. 30; Sainz de Bu.janda, Ha- cienda ·y derecho, Madrid, 1963, III, p. 166; Linares Quintana, El poder impositivo y la libertad individual, p. 180; Bernardo Ribeiro de Morais, Sistema Tributário da Constituição de 1969, S. Paulo, 1973, p. 496. Em Itália, porém, o princípio da legalida- de, constante do arL 23.° da Constituição, segundo o qual nenhum tributo pode ser estabelecido "se non in base alla legge" parece limitar-se, segundo uns, a uma simples reserva relativa; cf. Michelli, Lezioni di Dirito Tributaria, p. 18 e ss.; Berliri., Frincipíi .. , 1952, I, p. 27 e ss.; M. S. Giannini, Le obbligazionni pubbliche, p. 66; Amatucci, L'interpretazione della norme di Di· ritto Finanziario, pp. 91-92. Contra: Liccardo, Introduzione allo studio del Diriito Tributaria, p. 34 e ss., esp., pp. 36, nota 32, e 253-4, baseado na necessidade de sua interpretação em função do fim de proteção da liberdade e da propriedade individual; Alessi-Stammati, Istituzioni .. . , p. 15; A. Dus, "Considerazioni sulla discrezionalità nel'accertamento tributario", R. D. F. S. F., 1960, p. 241; Cocivera, Principii .. ., I, p. 23 e ss. '~ E DA 35. Gerd W. Rothmann, O princípio da legalidade tributá· riap in Direito Tributário, 5~ª Coletânea, S. ::Paulo, 19'73, p. 154; Yonne Dolácio de Oliveira .. Legislação Tributária. Tipo leg-al Comentários ao CTN, vol. 2, S. Paulo, 1974, p. 138. Quar;to à proibição da analogia como conseqüência da especial formulação do princípio da legalidade no Direito dos Impostos V. Kruse, Gesetzmassige Verwaltung, Tatbestads· mêissige Besteuerung, Ioc. cit., p. llO, esp. p. 123 e ss.; ID., Steuerrecht, I, p, 71 e ss.; Paulick, Lehrbuch des allgemeinen Steuerrechts, p. 102 e ss.; Berliri, Principii . .. , I, 2." ed., p. 143 e ss.; ID., Corso istituzionale .. . , I, p. 19 e ss.; Cardoso da Costa, Curso ... , p. 197 e ss.; Soares Martinez, Direito Fiscal (lições policopiad.as), Lisboa, 1968, p. 110; Alberto P. Xavier, O negócio indireto em Direito Fiscal, Lisboa, 1971, p. 39 e ss. Todavia, para IVIicheli a proibição da analogia não resultaria do princípio da legalidade, concedido como mera reserva relativa de lei, mas da própria estrutura da norma jurídica tributária, verdadeira norma de fattispecie exclusiva, cuja rigidez a tornaria só raramente suscetível de aplicação analógica. Cf. Lezioni di Diritto Tribu- CARA_CTE!:\"ES 2L 38 tano, p. 54. Neste sentido também M. S_ zione e rintegrazione delle le;;rge 77-73. A favor da .h:::t.lvt:::,r...,a., corri : base e nello Amatucci, [,',fntr-:r-nrP.ta?.inv.P. , R.D.F.SºFi_} 1954~ I} P~ 139~ delle nornic di Diritto Finanzi.cr.rio; sua admíssibiJidade com a função relativa de lel formal desempenhada pelo arL italiana; Ingrosso, Diritto Finanziario, pp. p, 51 e ss., de sü11ples reserva 23.0 da 293-1. 33. CL sobre a proibição de discricionariedade, Alberto Xavierv J_)o lançaniento 110 Di;eito Tributário Brasileiro; S. Paulo~ 1977, pp. 157 e ss. 39. Cf. Flume1 Steueruiesen uncl Rechtsordnung, p. 31 e ss.; Günther Felix, Ermessensausübung im Steuerrecht, p. 16, que distingue as verpflichtenden Gesetzesbefehlen das Ermachti- gungsnormen. ,, 1 1 i l V l 1 l jl !! li 1 1 41 ··~.·] i; í, 4ü LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO na sugestiva imagem de Mont1esquieu, "les bouches qui pronuncent les paroles de la loi, des êtres inanimésqui n'en peuvent modérer--ni-1a-force ni la rigueur". O culto por uma estrita atividade lógico-sub- suntiva - que levou ao ponto da proibição de comentários e à pura interpretação literal - pode atribuir-se, como o fez o Prof. Afonso Queiró, ao "triunfo da mentalidade cartesiana da crença no poder dominador da lei geral e abstrata. isto é, na razão teorética como expressão da ordem con- tra o arbítrio" e que está na origem da célebre frase de Robespierre: "Ce mot de jurisprudence des tribunaux doit être reHacé de notre lan- gue". 40 A verdade, porém, é que tais concepções foram gradualmente perdendo o seu vigor inicial: mesmo no campo do Direito Público, as exigências de uma atuação administrativa pronta e flexível, para além de considerações de moralidade e eqüidade, vieram alargar progressivamente o âmbito do poder discricionário; e, no próprio Direito Penal - onde as reações ao subj<etivismo do juiz foram por- ventura maiores - cedo se substituiu o sistema de penas fixas, por outros que, atendendo à culpa- bilidade, voltavam a alargar o campo de livre ap11eciação do julgador. 40. Cf. Montesquieu, L'sprit des lois, Livro VI, Cap. II, Livro XI, Cap. VI; Afonso Queiró, O poder discricionário, pp. 21, 22, 45 e 154; Engisch, Introdução ao pensamento jurídico, 2.ª ed., Lisboa, 1968 (trad. de Baptista Machado), pp. 170-1. Os órgãos de aplicação de direito seriam Subsumptionsautomaten, na ex· pressão de Von Wallis-Spanner, H. H. S., § 2 Steueranpassungs- gesetz, nota 9. CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 41 Todavia, no Direito Tributário o princípio da reserva absoluta subsistiu para além da crise <lo iluminismo ·e;· em gerar, ae-:-toãas-·as concepções que viam na aplicação da lei -um -mero mecanismo automático de subsunção lógico-dedutiva. É que, neste ramo do Direito, o princípio da reserva de lei não sei limitava a espelhar um.a dada orienta- ção acerca do Direito em geral; antes tinha alicer·- ces mais fundos, radicados-=rta-.própria "essência- do sistema econômico a que~respeitava e a cujos princípios ordenadores repugnava a sua :violação. - -----..·,--;:'-:~-.~---= CAPíTULO iH LEGALIDADE E SEGURANÇA JURiDICA § 1. º. A segurança jurídica no Direito Tributá:do e o pl'indpio da proteção da confiança Vimos já que a curiccpção de um Estado de Direito atribui à lei a função de principal instru- mento da justiça material; mas à - essa mesma concepção é ainda inerente a idéia de que a lei deve garantir, na maior extensão possível, a segurança jurídica ou certeza do Direito. Se a justiça :material pode ser concebida essencialmente como uma rigorosa delimitação de esferas jurídi- cas e, sobretudo no campo do Direito Público, como uma estrita tutela dos direitos subjetivo~ privados - liberdade e propriedade - ela não poderia deixar de se apoiar num princípio que conf e:risse :estabilidade às esf e:ras assim delimita- das, subtraindo a atividade dos cidadãos das áleas do contingente e do arbitrário. O princípio da legalidade tributária, nos quadros do Estado de Direito, é essencialmente um critério de realização da justiça; mas é, do mesmo passo, um critério da sua realização em termos seguros--e certos. A idéia de segurança jurí- dica é, decerto, bem mais vasta do que a de lega- lidade; mas posta em contato com esta não pode deixar de a modelar, deJhe J111primir um con- :1 :1 1 44 LEGALIDADE E TlPICIDADE DA ... ·· .··········· iecessariamente revelar o grau segurilnça certez2t imposto, ou pelas con- cepções dumi:nantes, ou pelas ·peculiaridades do setor a que respeita. Ora, o Direito Tributário é de todos os ramos do Direito aquele em que a segurança jurídica assume a sua maior intensi- dade possível e é por isso que nele o princípio da legalidade se configura como uma reserva abso- luta de lei formal. 1 Compare-se com o que sucede, por exemplo, no ·Direito Administrativo e no Direito Penal: no primeiro, porque as considerações de segurança jurídica nunca consBguiram absorver as de opor- tunidade e conveniência, próprias da Administra~ ção, o princípio da legalidade contenta-se em estabelecer uma mera preeminência da lei ou - para a doutrina ainda hoje maioritária - uma reserva relativa de lei material; mas já no segun- do, em que, compreensivelmente, as razões de segu- rança jurídica são dominantes, o princípio da legalidade sempre se impôs como uma reserva absoluta de lei, lei essa que pode contudo - ao menos no campo das contravenções - ser uma simples lei material. Que no Direito Tributário o princípio da legalidade se tenha configurado .como uma reserva absoluta·· de lei formal atesta 1. Foi Hensel quem pela primeira vez falou num Postulat grosstmogliches Rechtssicherheit. Cf. Der Einflus~ des Steuer- rechts auf die Begriffsbildung des oftentliches Recht, loc. cit., p. 87. Cf. sobre as relações entre os princípios da legalidade e da segurança jurídica, na doutrina mais recente, o artigo de :Wiartin Oviedo, "El principio de seguridad jurídica en el dere- cho fiscal", C.T.F., n. 159, junho de 1971, p. 54 e ss. e também Liccardo, Introduzio??t? aUo studiÃi di:l Ditttto Tributário, p. 55, que se refere ao princípio da certeza como fundamento da le- galidade. Entre nós, ver Ruy Barbosa Nogueira, Da interpreta- ção e aplicação das leis Tributárias, S. Paulo, 1974, p. 24. LEGALIDADE E SECUl-:.AJ'TÇA JURÍDICA 45 que a idéia de segurança jurídica desempe~ nele um papel de primeiro plano. Sem embargo de se denotarem neste campo algumas imprecisões terminológicas, pode dizer-se que a doutrina dominante - especialmente a alemã - tende a ver a essência da segurança jurídica na susceptibilidade de previsão objetiva, por parte dos particulares, das suas situações jurídicas (Vorhersehbarlceit e Vorausberechen- barkeit), de tal modo que estes possam ter uma expectativa precisa dos seus direitos e deveres, dos benefícios que Jhe serão concedidos ou dos encargos que hajam de suportar. 2 Daqui resulta que a idéia geral de segurança jurídica se analise - como o observam Lohlein e Jaenke - num conteúdo formal, que é a estabilidade do Direito e num co·nte{uio rnaterial, que consiste na chama-- da "proteção da confiança" (Vertrauensschutz) .': Precisamente o conceito de "proteção da con- fiança" assume no Direito Tributário uma larga projeção. Na Alemanha, o Tribunal Constitucional 2. Cf. Eckhardt-Hillebrecht, Problematik rückwirlcendes .. . Steuergese.tze, p. 51; Lõhlei!l, Die Verfassungsrechtiche Zuliis- sigkeit . . ., pp. 163-164; Bühler-Strickrodt, Steuerrecht, I, p. 217 e ss.; Jaenke, Rechtssicherr.eit im Steuerrecht, loc. cit., p. 53; Kurt Friedlaender, "Der rechtstaatliche Gedanke der Rechtssicherheit bei Berichtigungsveranlagung nach § 222 Abs 1 ziff 1 oder 2 AO'', Die Auslegung der Steuergesetz in Wissenschaft und Praxis, Kõln-Marienburg, 1965, p. 59 e~ss.; Felix, Ermessensausübung im Steuerrecht, p. 17; Kruse, Steuerrecht, I, pp. 29 e 53 e ss.; Jacobs, Zum Problem der Rechtssicherheit und Tatbestandsmdssigkeit der Besteuerung . . ., pp. 633-4. Há quem entenda que os aludidos requisitos são da essência do conceito de segurança jmidi.ca em sentido rc::;tritc, o qual revestiria, porém, um conceito amplo que se não esgotaria na Gesetzssicherheit. GL Scholz, Die Rechts- sicherheit, Berlim, 1955, p. 59. 3. Cf. L&hlein, Die Verfassungsrechtliche ZuUissigkeit .. ., pp. 203-4; Jaenke, Rechtssicherheit im Steuerrecht, Zoe. cit., p. 44. , 1 • t·;' 1: \ :;, !' 1 i: ,, 1 !' ti. ~ ~ li. 46 LEGALIDADE E TIPICl.DADE DA TRIIHJ'í'AÇ;;_O procl.),n- ser um imperativo constitucio- nal de cf..taiqiiét · Estado de Direito aquilo a que chamou o "princípio da confiança na lei fiscal" (Vertrauengrundsatz bei Steuergesetzen; Ver- lâssichkeit des Gesetzes) e segundo o qual as leis tributárias devem ser elaboradas de tal modo: que garantam ao cidadáo a confiança de que lhe facultam um quadro completo de quais as suas ações ou condutas originadoras de encargos fis-cais. -i Como bem observa B&chmayr, o princípio da confiança na lei fiscal, como imposição do prin- cípio constitucional da segurança jurídica, _tra- duz-se praticamente na possibilidade dada ao con- tribuinte de conhecer e computar os seus encargos tributários com base ãireta e exclusivamente na lei. 5 ,>; ;) o il ,;;;,. . Os fundamentos da segurança jurídica O pdncípio da confiança na lei fiscal, de que fala a doutrina alemã, ou o direito do contribuinte à segurança jurídica, a que se refere Sainz de Bujanda 6 ·- que conduzem à configuração do • ? • ' ' 1 'd d t ., ; , . prmc1p10 aa 1ega!l a e rrnucana como reserva absoluta de lei formal - são corolários de certas concepções acerca da sociedade, do Direito e do Estado, a que a doutrina tributarista nem sempre tem dado o relevo que indubitavelmente merecem. 4. Vejam-se as referências em Spanner, in H, H. S., § 1, notas 14, 72 e ss. e 77. 5. CL Bachmayr, "Bestimmtheit und Berechenbarkeit von Steuerbelastung - eine Forderung des Grundgesetzes", Be- triebsterater, 1963, p. 239 e ss. - 6, Cf. Sainz de Bujanda, Hacienda y derecho, III, p, 313 e ss., LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA 47 Primeiramente reflexo, entre outros, das con- '::epções do iluminis:rno acerca da lei e da sua apli- cação, ganhou novo significado em face dos pos- tulados do Estado liberal Que, confiando a este ur.t1 círculo restrito de atribÜições, visava essencial- 1nente à delimitação precisa da esfera jurídica dos particulares-frente ao Pnder, tutelando assim a sua liberdade e a sua propriedade. Não se pen- se, porém, que os aludidos princípios eram ineren·· tes à forma específica de organização do poder político que teve o seu modelo mais acabado :i-10. Estado oitocentista. Com efeito, o reconhecimento de que ao Estado cabem mais vastas funções e de . que os seus fins não se limitam à tutela da liber- dade e da propriedade do cidadão, dando lugar à erise do tipo clássico de Estado liberal, nem por isso abalaram as preocupações de segurança jurí- dica no âmbito do Direito Tributário. Tais preo- cupações subsistiram, na verdade, quer por consi- derações mais amplas ligadas à segurança jurí- dica, em geral, quer pelo alcance que a certeza Direito, no terreno tributário, assume no âmbi- de um sistema econômico baseado na livre iniciativa. Importa, pois, analisar rnais de perto as ra- zões que conduziram as imposições de segurança jurídica, próprias do Estado de Direito, a expri- mirem-se, na sua máxima intensidade, no campo d.o Direito dos Impostos. a) O direito à segurança jurídica O princípio da legalidade tributária~ conce- bido como reserva absoluta de iei, decorre, como se viu, do relevo da segurança jurídica, na sua 4 . 1 1 1 fi: ,,, iíl l,i J'.,, j i 1 1: ri i 1 4S LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO 1proteção da confiança (V ertra- .ndamen ta-se, por um Ja.do; nos valores da segurança jurídica em geral e, por outro, no papel específico que €Ste desempenha num sistema fiscal de uma economia de mercado. Um e outro destes aspectos têm sido, porém, postos em causa por certas orientações, cujo traço comum está em reputarem tais funda1nentos in- compatíveis com as novas taref;.:!,s que ao Estado moderno cumpre prosseguir. No que toca à certeza jurídica em .geral, e em especial no terreno do Direito Público, importa :referir a posição daqueles que - como Hesse e Forsthoff - vêem no princípio da proteção da confiança a pura expressão de uma idéia de segu- rança própria das conce:pções burguesas e rais, elaboradas como instrumento de proteção e tutela da esfera de liberdade e propriedade dos cidadãos, mas tornadas já incompatív~is com as novas formas do Estado - o Estado-providência ou o Estado-social. Mais do que a tutela dos puros interesses dos particulares frente ao arbítrio Administração, visar-se-ia a prossecução da jus- tiça social e esta impõe um intenso intervencionis- mo, porventura até um dirigísmo do poder, tenden- te à adaptação do Direito às particularidades do caso concreto, mediante critérios de eqüidade e de oportunidade. A segurança jurídica deveria assim ceder o passo a exigências mais fundas das sociedades modernas, como a justiça material, na sua forma de justiça social. A eqüitativa-distribui- ção da renda :suporia uma larga intervenção do poder público, o qual, sem uma ampla liberdade de apreciação e. decisão - cerceadas pelos prin- LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA 49 cipios da legalidade e da segurança jurídica - verta frustradas as suas f.unções mais essenciais. ·1 É evidente aue uma tomada de nosieão nesta & - • ~ matéria. depeTide de opções bem mais vastas quan- to à oxganização da vida em sociedade, que se tornaria agora impossível discutir. Mas não será decerto inoportuno sublinhar não serem admis- síveis quaisquer confusões entre o Estado de Direi- to e o Estado demo-liberal, que foi apenas um modelo histórico em que o primeiro se concreti- zou; e que à essência do Estado de Direito per- tence inegavelmente o princípio de segurança . 'd" B b t . F • ' , • JU:rl ica. em se sa e ser es e su:rcet:rve1 a.e varias graduações e que talvez seja. neste terreno, mais vago e impreciso, que a discussão deva ser coloca- da. l\ifas, posto o problema nestes termos, então força é reconhecer poder extrair-se conclusão bem diversa da preconizada pelos autores acima cita- dos. É que, se no Estado próprio do século XIX as preocupações de segurança jurídica revestiram extrema intensidade em face de um poder atro-~ fiado, essas preocupações não podem dei.~ar de se reforçar a..rn época de profundo intervencionismo estatal, o que - como bem observa vVerner Flume - leva ...J~. nov·o a co1-"""r o .-. ... ~;..1ema d.;; 1ihP.r-u!c: J. J:U\,,G J:l.!.Vl\J!. -'-'~·--··- -- dad.e e o do -Direito como tutela da livre esfera individual. ;s Foi precisamente à Juz deste condicionalismo criado pela hipertrofia das funções estatais que a doutrina da Igreja se pronunciou sobre o pro- 'l. Cf. sobre esta::: orientações Rogério Soares, Interesse público, legalid.ade e mérito, p. 76 e ss.; André Gonçalves Pe· refra, l!.'rro e il:egaliàaàe no ato administrativo, p. 26 e ss. 8. Cf. Werner Fi.ume, Steuerwesen und Rechtsordnung, p. 42 e nota 78. ~; 50 LEGALIDADE E Tl.PICIDADE DA TRIBUTAÇÃO jurídica, proclamando, pela '(pH> "..:l::i 0rfi.a z •'d· ~ -- _- ;,,.;j ..:,_~ v.._., .k -..wm J un lC(;I, quer ........ a por Deus nasce o inalienável Jiireito do homem à segurança jurídica e·, por ele, uma esfera con- creta do direito protegida contra todo o ataque arbitrário". 9 Mais tarde, João XXIII, na Encíclica Pacem in Terris, depois de reproduzir as palavras seu predecessor, acrescenta - sem margem para dúvidas - ser a segurança jurídica "direito fundamental da pessoa humana". Hl b) Segurança jurídica e economia de mercado O relevo da segurança jurídica no Direito Tributário não decorre apenas do atribuído à se- gurança jurídica, em ge:rãl, que - já o vimos - é suscetível de várias graduações, consoante a na- tureza dos interesses a que respeita. Reside ainda na sua necessária conexão com: o tipo de sistema econômico em que vigora. Com efeito, num sistema econômico que te- nha como princípios ordenadores a livre inicia.ti- "'ª a· co ..... ,.,..,.,,.E. .... c1·a e a prop~;,.,.darlo n~~v",;;" + ... ,·na f ' - A.S.VV.1.A.V.1..i. J.J.c;._ Uv .a. J.A. - C!AA.a, UVJ. -- -Se indispensável elir.ninar, no maior grau possí- vel, todos os fatores que possam traduzir-se em ince:rte'72.~ econômicas suscetíveis de prejudicar a expansão livre da empresa, designadamente a insegurança jurídica. E isto era o que inevitavel- mente sucederia se ao domínio claro da lei se sucedesse o "voluntarismo" da Administração. Posição diversa tem sido tomada por aqueles que, partindo, por um lado, do reconhecimento R. Rádio-mensagem do Natal de 1942, Cf. Colección de En· cíclicas y Documentos Pontijicios, ed. Acción Católie.a_ Espw..ola, Madrid, 1955, pp. 218·219.10. Ver Encíclica Pacem in Terris, § 26. LEGALIDADE E S:CGD""RANÇA JURÍDICA 51 de que o Direito é um instrumento da política econAnüea e, por outro, de que esta envolve obje- tivos de promoção do desenvolvimento econômi- co, do pleno emprego e da estabilização da ccm- juntura, concluem dever o sistema fiscal estrutu- rar-se em ordem à mais eficaz :realização daque- les fins. Ora, os referidos objetivos de política eco- nômica requereriam que os responsáveis pela sua consecução tivessem ampla liberdade de movi- mentos, que lhe permitisse adaptarem-se às con- tínuas alterações que sofrem os mercados. A agi- J.idade e a -comodidade na manipulação dos instru- mentos jurídicos da política ec~mômica - entre os quais o imposto - dificilmente se harmoniza- ria com a sua _rígida previsão em diplomas dota- dos de força de lei e que, por conterem ein si a regulamentação substancial do tributo, retiram à Ad.ministração a flexibilidade imposta pelas rápi- das variações da conjuntura. Uma ampla margem de livre apreciação e decisão, ou seja, um alarga- mento dos poderes discricionários em matéria fis- cal, seria assim exigido pelos princípios em que assentam a fiscal policy e as "finanças funcio- nais": sacrifica-se, certo, a segurança jurídica e a certeza do direito, mas obter-se-iam, em con- trapartida, resultados como o acréscimo do ren- dimento nacional, o pleno emprego e a estabili- zação das flutuações econômicas - que compen- sam largamente tal sacrifício. Uma eficaz intervenção do Esta.do através de instrumentos tributários aconselharia pois a subs- tituição do sistema de res-erva absoluta por outros que, o_u_p:rescindissem por completo de uma prévia instituição legal do tributo, ou nos quais à lei estivesse apenas confiado o papel de corrferir uma , ,, i i !! ,, ',, li' ~ i ! 1, ; ~ 1 IJ -.-· i .•.. 1 -i· ... l li •1 52 LEGALIDADE E TIPICIDADE D_à TRIBUTAÇÃO "pe...ra que a Administração :unstâncais - P~tabelecesse u1n imposto ou alterasse os seus elerrrentos essen- ciais. 11 Não pode deixar de reconhecer-se que a alu- dida orientação teve certo acolhi.."'l'lento nos países ocidentais, sobretudo no período imediato à gran- de depressão dos anos 30, dando origem a viola- ções, mais ou menos claramente reconhecidas, dos princípios tradicionais da legalidade e da se- gurança jurídica em matéria de tributos. Tufas também importa n5.o esquecer que nos anos mais recentes se depara com fortes correntes no senti- do de uma revisão dos pressupostos em que tal orientacão assenta. tentando demonstrar que não ~ -; - - só o princípio da legalidade é compatível com as modernas políticas econômicas, mas também re- presenta importante fator positivo de estímulo a uma expansão equilibrada das economias. Ganham, com efeito, cada vez mais relevo ~is orientações no sentido de nm regresso à char.aada "ortodoxia financeira", que envolvem não só a idéia de que o imposto não deve alhear-se dos seus objetivos tradicionais, de índole estritamente fisca,4_como aL-ida a de que na int.ervenção de es- tabilização conjuntural se deve recorrer predomi- nantemente às políticas monetárias, de utilização mais rápida e reversível, do que aos instrumen- tos tributários. Certo, estes não podem afastar-se do sistema econômico em que se inserem, nem dos -objetivos da política econômica, de que são 11. Anmaga de Navasqués, "El principio de.lega.lida.d y la fl.e:rlbilldad fiscal discrecional", XIX Semanas de Estudos de Derecko Financiero, Madrid, 1972, p. 473 e ss. LEGALIDADE E SEGüRANÇA JURÍDICA 53 subsidiários: só que essa correlação deve ser ten- tad-a na-o pe-la u~~.., ...... ;;::~ u-le porle:>"l"i::>>:! .-li;;:f•-;·i-r.:i-~na' -, !llJ.J..J..&J~~GU ......,_...,,....._ -----'-'---- rios, suscetíveis de se traduzir num·· decisionismo fiscal arbitrário, mas pela cor...strução de um sis- tema que comporte em si os automatismos ade- quados a uma política fiscal compensatória. Em vez de critérios administrativos de adap- tação dos instrumentos fiscais à conjuntura, ter- -se-iam critérios legais que, na definição do siste- ma tributário em conjunto e dos elementos es- senciais de cada tributo, deveriam_ter em conta a sua capacidade de _:reação au.to;m{itica enrsentidu inverso ao da conjuntura. É aquilo que off-autores anglo-saxônicos designam por built-in-flexibility.· 12 O princípio da legalidade, como reserva abso- luta de lei, não só não se revela incompatível com as modernas políticas econômicas, como é o que melhor se coaduna com os princípios em que as- senta uma livre economia de mercado. Com efeito, a livre iniciativa, exerce-se atra- vés de planos econômicos elaborados pelos empre- sários para um dado período e nos._quai~ se reali- za uma previsão, mais ou menos empírica, dos custos da produção, do volume dos investimentos adequados à obtenção de dado produto e da ca- pacidade de absorção do mercado. Tsl previsão não pode deixar de ·assentar na presunção de um mínimo de condições de -estabilidade, dentro do que a normal margem dos riscos e incertezas ra- zoavelmente comporte para o horizonte de plane- 12. Cf. sobre estas orientações Alberte P. Xavier, Política orçamental e economia d.e mercado: a experiência americana do após-guerra, Lisboa,. Hl70; Saira: de Bujanda, "El Dereeho, instrumento de política económica: defensa del principio de legalidad tributaria", Hacienda y derecho, :h/f...ad:rid, 1962, II, p. 166 e ss. 1ler Pi.mbém vol. !, Madrid, 1962, p, 430 e ss. i:,:; '''I i 1_.i! ... · 1 il li u ' !t-i m ; V· ii 1 54 LEGALIDADE E TIPIC!D"A.DE DA TRIBUTAÇÃO ~&11a.. O planejamento empresa- rl.al po'.I"·· ~;"" "' .fm'n..:;..;..,+1·..,.., "'r1·varl::i sF> "'-r.-r-'-~.,.- ---' -i ""1--'Ç; iQr,.' --\J.i.~U Vr.e;.4,i> .P ..!"-~-..:--~._, ____ ._.u .... 1t: ..... e_t.l.::.:-Z..1:,. i:)U- põe assim uma possibilidade de-previsão objetiva e esta exige, por seu turno, uma segurança quanto aos elementos que a afetam. É sabido que o volu- me dos tributos - dado o papel que assumem na economia global·--- representa para a empresa -não só elevada percentagem dos seus custos de pro- dução, como determina as dispmübilidades que, no mercado, representam procura para os seus produtos. Um sistema que autorizasse a Adminis- tração a criar tributos ou a alterar os elementos essenciais de tributos já existentes, viria do mes- mo passo a criar condições adicionais de insegu- rança jurídica e econômica, obrigando a uma constante. revisão dos planos individuais, à qual a livre iniciativa não poderia resistir. Pelo contrá- rio, um sistema alicerçado numa reserva absoluta de lei em matéria de impostos confere aos sujeitos econômicos a capacidade de prever objetivamente os seus encargos tributários, dando assim as in- dispensáveis garantias requeridas por nma inicia- tiva econômica livre- o responsável. 13 De outra parte, a concorrência pressupõe a igualdade em face da lei, e esta não pode obvia- mente ser garantida se a Administração fiscal dispuser nas suas mãos de poderes de clecisão que lhe permitam uma aplicação "individualizadora" da lei de imposto. Por esta forma ainda se aliam, 13. Nissen, "Die Steuerliche Vorschriften des Gesetzes zur Forderung der Stabilitãt und des Wachstuxns der Wirtschait", Betriebsberater, li166, p. 787 e ss. (apud Spanner, H. H. S., § 1, nota 14); Sainz de Bujanda, Hacienda y derec-ho, III, p. 378 e ss. LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA 55 em estreita relação, os princípios da segurança jurídica, da legalidade e da igualdade .. 14 A lógica de uma economia de mercado conduz assim a uma reserva absoluta da lei-no ten1:::no tributário, posto que uma livre apreciação admi- nistrativa d'as situações tributáveis e do grau de sua tributação não se revela compatível com as instituições fundamentais daquele t.ipo de econo- mia: a propriedade privada, que importa delimitar "rigorosamente, frente às pretensões fiscais do Es- tado; a iniciativa privada, que supõe t. .. Tffia rígida fixação legaldos elementos essenciais do tributo, em ordem a uma previsão &imp-ies e objetiva dos encargos tributários da empresa; e ainda a con- corrência, que pressupõe uma igualdade que -só a lei pode facultar. 14. Cf. Alberto P. Xavier, Subsídios para uma lei de defesa da coru::orri;n;:;'w,, Lisboa, 1970, pp. 25-26. ;:1 : 1 1 ! : j li 1 ! CAPÍTULO TV O PRil'fCíPIO DA TIPICIDADE NA DOUTRINA § 1. 0 • As orientações fundamentais Devem-se à doutrina a1emã as primeiras f A • 0 ? • d t• 0 "d - t ºb re erenc1as a"'" pr1nc1p10 a 1p1c1 ade na ri u- tação (Grurutsatz der Tatb~standsmêissigkeit der Besteuerung), normalmente relacionado ou mes- mo confundido com o principio da legaiidade tri- butária (Grundsatz der Gesetzmiissigkeit der Besteuerung). As aludidas referências tiveram, de resto, a sua origem na própria formulação li~ teral do § 3 da Steueranpassungsgesetz, cuja alí- n .. o:i nr1"me1·ra estah,,,tor>o ri"~ " ..:i~~~-,,_ de ivnpn~tn ... J..;..- ..... - ""''-'·&;\..,\,,.rV 'i u..c ~_1 ___ \,_ll V,J,l,_J~ .... _..,..... vu-vv nasce logo que se realizam os pressupostos aos quais a lei prende o tributo: "Die Steuerschuld entsteht, sobald der Tatbesta:nd verwirklicht ist, a.n den das Gesetz die Steur knüpft". Mas, se a expressa menção da lei a um Tat- bestaru:i legal levou os autores a entrever a exis- tência de um princípio da tipicidade no Direito Tributário, a verdade é que debalde se procurarão desenvolvimentos do princípio expresses num cor- po coeso da doutrina, lacuna esta tanto mais gra- ve quanto noutros ramos do Direito--como o Di- reito Criminal e o Direito das Coisas - o princípio da tipicidade- já foi obj_eto de ampla elaboração 58 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO Importa, pois, traçar. preld.amente um breve quadro das principais correntes da doutrina, de modo a que dele se possam recolher as bases neces-· -sárias à construção científica de um princípio in- dispensável à plena compreensão do papel ocupa- do pela vontade na aplicação da norma tributá- ria, ou seja., .à plena compreensão do conteúdo do ato administrativo em que o lançamento se traduz. a) Tipiciàade e adeqitação típica Fai, como se sabe, Albert Hensel quem pela primeira vez atribuiu ao Tatbestand tributário lugar de -relevo na dogmática do Direito Fiscal, definindo-o como o conjunto dos pressupostos abstratos contidos nas normas tributárias mate- riais, euja verificação concreta desencadeia efei- tos jurídicos determinados. 2 1. Cf. Kruse, Gesetzmassige Verwaltung, Tatbestandsmiis- sige Besteuerung, "Vom Rechtsschutz im Steuerrecht", Düssel- dorf", 1960, p. 97. 2. Cf. Hensel, Steuerrecht, 2.• ed., Berlim, 1927, p. 43: "Als Steuertatbestand bezeichnen wir die gesamtheit ãer in dem ma- teriellen Steuerrechtsnormen enthalten abstrakten Vorausset- zungen, bei deren konkreten Vorliegen (Tatbestandsverwirkli- chung) bestimmte Rechtsfolgen eintreten sollen". Cf. também Diritto Tributo.rio (trad. it.). p. 72 e ainda "Der Einfluss des Steuerrechts auf die Begriffsbildung des õffentlichen Recht", Veroffentlichung des vereinigung des Deutschen -Staatsrechts- lehre, Helft 3, Berlim e Leipzig, .1927, p. 90. PRINCÍPIO DA TIPICIDADE G9 Definido assim o 1'atbestand, natural se tor- nou-ser a tipicidade· (Tatbestandsmassigkeit) _pre~ dominantemente concebida- como um atributo do fato ou fatos da viàa, que exp.L'.im.iria a sua con- formidade ·com o modelo·alnstr·ato descrito na nor- ma e que seria indispensável para a produção do efeito jurídico mais.-característico da norma tribu- tária: a constituição da obrigação de impoato .. -E daí que certos autores, como Von Wallis, enten- dam por tipicidade da tributação o princípio - basicamente contido no § 39 da lei alemã de adap- tação iiscal - se_gµndo o qual a.dívida de imposto só nasce quando se preenche integralmente o mo- delo, tipo ou Tatbestand previsto na iei. 3 b) Tipicidade e obrigação de-cobrança Outros autores, porém, encarando o mesmo fenômeno .sob um ângulo diverso, não concebem já a tipicidade como um atributo do fato - tri- butável - mas como uma característica da ativi- dade da Administração de aplicação da norma tributária e de cobrança do :ilnposto, que assim se aproxima -ou se confunde com o mais tradicional princ-fpio da legalidade. A tipicidade seria, J>Ois, o princípio pelo _qual os tributos só pr-..r.!erão ser oobrados quando a lei o ·autm.ize e, portanto,. quando se concretiza a hipótese (Tatbestand) des- sa mesma iei. Dentro desta linha de orientação, alguns, co- mo Wacke, confundem-no pura e simplesmente com o princípio da legalidade, 4 enquanto outros, 3. Cf. V"on Wallis, H. H. S., § ~sungsgesetz, nota 6. 4. Cf. Wacka..--Gesetzmãssigkeit und Gleichmassigkeit, S. W. 1947, p. 26 e ss. '): '' ' ,, ít 1· i '- -l li'_J , - __ ;_·_-. __ r_·._-__ 1 m 1 '. j - __ - J li li l -J:!- --- _ _J r J-;-; ,:f" _j 'j<--j 60 LEG.ALID~4..DE E DA TRIBUTAÇÃO ele é apenas um __ --~2~:~:~~T;Pnncípio da legalidade se des- dobra, póf este:"âbranger não só a regra de <me os impostos não poder.a ser cobrados sem funda- mento legal, mas ainda a de que a Administra- ção_ está vincuJada a cobrar o ilnposto Quando se preencheu a previsão legal e portanto se consti- tuiu a dívida de imposto. 5 1vfas já para outros autores o princípio da ti- picidade não seril!- identificável com o principio da legalidade, nem se reconduziria a um mero aspecto deste: se a tipicidade é a característica pela qual os impostos só podem ser cobrados quando a lei o autorize, o princípio da legalidade seria substancialmente diverso, reportando-se para Lademann à exigência constitucional de uma reserva de lei formal 6, exprimindo para Kruse e Hõppner a obrigação de cobrança de im- posto por parte da Administração, estabelecida :no § 204 da Abgabenordnung. 7 e) Tipicidade e determinação normativa Depara-se ainda. na doutrina alemã com uma terceira corrente, pa1·a a qual o princípio da tipi- cidade não i-espeita a uma ca:racter:fstica dos fatos tributários, nem tão pouco a um atributo da vidade admirlistrativa fiscal; antes traduziria uma exigência a que deveriam obedecer as pró- prias normas tributárias materiais, imposta - a 5. Cl. Tipke, art. in S. W., 1958, p. 744. 6. Cf. Lactemann, H. H. s., § 1, nota 15. 7. Cf. Kruse, Gesetzrr..li:;;;ige Verwaltung, Tatbestandsmi:í,,,. sige Besteuerung, loc. cit., p. 99 e ss.; ID., Steuerrecht, L, pp. :n e 138; Hõppner, Steuergeheimnis und Gesetzmttssigkeit der Bes-teuerung, Ioc. cit., p. 205 e ss. PRINCÍPIO DA TIPICIDADE U.!. par do princípio da legalidade - por qualquer Estado de Direito. O prirrcívio -da legalidade es- -gotar"'-se-ia na afirmação de que os impostos de- vem ser criados por fontes revestidas da natureza de lei formal. O principio da tipicidade já não respeitaria, porém, à legitimidade formal da nor- ma tributária, mas ao seu conteúdo material. Assim, para Bühler, s seguido por vários auto- res, 9 ele traduzir-se-ia no princípio de que aj\g- ministração fiscal não deve ter em mãos cláusulas gerais para a exigência de impostos, antes as cir- cunstâncias de fato de que depende o tributo de- vem estar fixadas o mais rigorosarnente possível numa formtilação legal - o Taibestand. Desta sorte, deveria o legislador deixar expressos os pres- supostos da obrigação tributária mediante unia formulação precisa de cada um àos seus ele:men~ tos, com a co:nseqüência da ilegiti..-rnidade consti- tucional não só das cláusulas gerais vagas - tão freqüentes no Direito da polícia - como também da concessão de uma margem de discriciona.rieda- de em matérie. tributária. De igual modo para Spanner o princípio da tipicidade funcionaria como um i1:_11perativo diri- 8. Cf. Bühler, Steuerrecht, I, p. 122; !D., Princípios de De· recho Internacional Tributaria (traduç?c0 castelhana), Madrid, 1968, pp. 144-145. 9. Cf. Pa.ullck, "Der-Gru..11dsatz der gleichmãssigkeit der Bestaueru..TJ.g, sein Inhalt und seine Grenzen", Problemdes Fi- nanz- und Steuerrecht, Festschfrit für Ottmar Bühler, Colônia, 1954, pp. 144-1455; ID., Lehrbuch des allgemeinen Steuerrechts, pp~ 54 e 110; Felix, Ermessensausübung im Steuerrecht, p. 20; Meilicke, Steurrecht, p. 49; Hartz, Gesetzliche Generalklauseln und Richterrecht im Steuerrech.t, S. W., 1968, p. 245; Jacobs, "Zwn Problem der Rechtssicherheit und Tatbestandsmãssígkeít d.es Besteuerung bei der Bilanzie:rung in der Ertragsteuerbfümz", S. W., 1969, p. 633 e ~s. ! ·; 62 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO >:f, impondo-lhe que as nonnas insti~~~ tnoutos devam ser formula-das de modo tão claro e inequívoco, que o seu conteú- "''"' .ç;.,,.,.. " aAmb1"to (Inhalt '7A .. ~~1ft M~~7 ·AO~~,.,,..,--\ u.v, ~il.l;. ;e; , .LIW\#l..-1\! tkll/Ú .ii U;::;f-fvtil8-Ü) ""'~.,m ta-0 ri .. +,,,rrn.;TI<1...:i:n~ "' ,.:i~H ...... ;T..,,.;i,..,,.. "'"!» 0 "---u\,,,j{N-L """v"""'°"" .......... .:. .... J..tA;Q~:....---~--\..~C-..:,.=...i.J.j..i.Vi:.w~v~ \.f;..;.- "Vll- tribuinte possa prever e medir objetivamente o encargo que para si representa o tributo. rn Como princípio__respeitante ao próprio conteúdo dasnor- mas, a tipicidade, com as características atrás apontadas, represenb:iria não só um comando di- rigido ao legislador, m.as ainda um ditame ao próprio intérprete: como .nhservam Bühler--Stri- ckrodt, a aplicação da norma tributária não deve respeitar aos rnotivos1 mas à clara expressão da lei, pois ao contrário do que sucederia noutros ramos do Direito - onde não vigora a aludido princípio - não pode a vontade da lei ser deduzi- da da ordem jurídica, antes cada norma de tri- butação contém rem si mesma uma providência singular, cujo sentido e alcance se encerra na sua estrita e rigorosa formulação iegaL 11 § 2. º. Observações críticas e reconstrutivas Este breve quadro da doutrina ___ a,cerca do princípio da tipicidade no Direito Tributário re- vela com nitidez o ainda fraco grau decccelaboração científica de que tem sido objeto e que o tem im- pedido de ocupar na dogmática deste ramo do Di- reito o lugar já conquistado noutros setores, on- de porventurase revela com menor vigor e inte11- 10. Cf. Spanner, H. H. S., § 1, notas 60, 61, 62 e 70. 11. Cf. Bühler·Strickrodt, gteuerrecht, !, pp. 194-5. PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 63 "d d . " d , , , . s1 a e. a verem e, porem, e que as varias C.:.)rren- tes da doutrina atrás referidas - se bem que isoladamente não sejam suscetíveis de explicar unitariamente o fenômeno - fornecem já um amplo manancial àe elementos indispensáveis a uma rigorosa construção_ jurídica do princípio. Não é tarefa fácil o deslindar do intrincado "carrossel de conceitos", a que aludia Kruse; e para tal inegavelmente concorre-uma imprecisão terminológica, resultante em parte dos vários sen- tidos revestidos pelo princípio da legalidade-e, em parte, dos vários ânguios por que pode ser oàser- vada a construção de uma tipologia. A tipicidade, como observa Oliveira. Ascensão, pode ser encarada partindo-se da vida para a norma e exprime nesse caso a conformidade do fato ao tipo; mas também pode ser observada partindo-se da norma para a vida, significando então um atributo da norma, pelo qual esta es- pecifica um conceito numa tipologia. 12 O primei- ro oonto de vista é o adotado por Von Wallis; o segundo, o que está na base das consràerações de Blli11ler e de Spanner. Partindo embora de perspectivas igualmente válidas, certo é que qualquer dos referidos auto- res se limitou a sublinhar aspectos parciais do fe- nômeno da tipicidade, sem curar da sua integrs:i,- ção no conceito de tipo que a teoria geral do di- reito elaborou. Assim, Von Wallis, ao afirmar que a tipicida- de da tributação consiste na conformidade aos pressupostos constitutivos da previsão legal, ne- 12. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade dos direitos reai.s, Lisboa, 1968, pp. 37·39. 5 r --'~·--~ 1 -l'l -·1·.· .. 1 ·"~-:~ 64 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO . cdado fato dê orie:em a u..rna obri- gação dé @pomo, está afu1al de contas a salientar um fenômeno que não é específico do Direito Tri- butário, antes comum a toda a ordem jurídica: a necessária adequação do fato à norma para que o efeito jurídico se produza; e, simultaneamente, a atribuir à no~ão de tipo o seu sentido mais gerat de previsão ou hipótese legal, ou seja; o conjunto de pressupostos de que a lei faz depender uma certa conseqüência jurídica. 13 Ora, se a tipicidade , . , . .,, t e um pr1nc1p10 que apenas se m:imies .a em cer- tos setores da ordem jurídica, entre os quais o tributário, força é descobrir o traço que lhe iln- prime a sua especificidade no Direito dos Impostos. Bühler e Spanner vê.em essa especificidade no fato de as normas tributárias deverem revestir tal configuração lógico-jurídica que, pela determina- ção rigorosa dos conceitos nela abrangidos, se li- mite a livre valoração e decisão dos órgãos de apli- cação do direito. Cumpre reconhecer que a tipici- dade nos outros ramos do Direito sempre foi construída em ordem a demarcar precisamente os limites da vontade humana no tocante à pro- dução dos efeitos jurídicos: no Direito Privado - como no antigo direito dos contratos e nos di- reitos reais - visa-se a delimitação da autonomia privada; no Direito Público - como é o caso do Direito Penal - a vontade funcional do juiz ou do administrador. Mas, se o aspecto sublinhado pelos referidos autores já estabelece uma analo- . t t' . 'rl d d t 'b t - + • gia en re a 1p1c1 ..... a e a ri u açao e a ,,ecrm 13. Sobre o conceito geral de tipo, v. Oliveira Ascensão,...A típicidade .. , p. 19 e ss.; Mezger, Derecho Penal, I, p. 364 e ss.; Betti, Teoria general deZ negocio jurídico (trad. esp.), p. 152; Grispigni, Diritto Penale lialiww, II, p. 10. PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 65 geral da tipicidade, ele revela-se, porém, insufi- ciente para explicar, mesmo de um ponto de vista normativístico, todo o com.plexo mecapJsmo da ti- pologia legal. Existirá um -tipo geral de imposto? vigorará no Direito tributário a regra do nume- rus clausus? qual o objeto da tipificação? Tudo perguntas a que os referidos autores não dão res- posta. Demais, qualquer das correntes a. que se alu- diu dei.-xa por inteiro na penumbra uma relação que se impõe como evidente: a que intercede en- tre o priricípio da tipicidade e o já mais burilado princípio da legalidade. Este último princípio criou-se no campo do Direito Publico, para que à função executiva: do Estado - jurisdição e admi- nistração - se estabelecessem indispensáveis li- mites jurídicos; e daí que o estudo da tipicidade,. volvido primeiro para as realidades do Direito Privado·- os contratos, os direitos reais, as socie- dades - nem sequer abordasse os problemas sus- citados pela __ necessária preeminência e reserva da lei. ·É que (e volta a insistir-se neste ponto) se a tipicidade no Direito Privado visa à construção de um quadro limitativo da autonomia da vonta~ de, no Direito Público o abjeto da limitação é a conduta do poder, a vontade àas órgãos de apli- cação do direito; e essa conduta, e essa vontade são precisamente limitadas por via da submissão à lei. Por isso, de há já muito tempo, a doutrina do Direito Penal soergueu toda uma construção jurídica da tipicidade assente na idéia de legali- dade: nullum crim~n sine lege é brocardo que na sua singeleza condensa sinteticamente a co-rrexãG dos aluàldos princípios. Também no Direito Ad- 1 1 11H .. 1 . .t.-=.~ H' 1 ~ i ~ 1i _ljf 11 !!:· 1 1 1 66 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO :mi~~~·:_:';1'i~ver-se-á que menos justificada- mente ::.:··k terlí-procurado ligar a regra da lega- lidade da Administração com a da tipicidade, ora fazendo da primeira espécie da segunda, ora transformando esta em corolário daquela. 14 Ivíé- rito é, pois, da corrente representada por Wacke, Tipke, Kruse e Lademann, o ter expresso idéia semelhante no âmbito do Direito Tributário: pois aqui legalidade e tipicidade andam de mãos dadas.
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