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Ensaio Vidas Secas - BEATRIZ QUINTÃO

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INSTITUTO SUPERIOR ANÍSIO TEIXEIRA
GRADUAÇÃO EM LETRAS – PORTUGUÊS/INGLÊS
BEATRIZ QUINTÃO 
 ENSAIO ACADÊMICO: Vidas Secas e o regionalismo
SÃO GONÇALO
2020
BEATRIZ QUINTÃO 
ENSAIO ACADÊMICO: Vidas Secas e o regionalismo
Ensaio apresentado no curso de graduação em Letras – Português/Inglês do Instituto Superior Anísio Teixeira como obtenção parcial de nota para a P1.
Professora: Dr. Simone Guerreiro
SÃO GONÇALO 
2020
ENSAIO SOBRE O LIVRO VIDAS SECAS E O REGIONALISMO
Beatriz de Almeida Quintão
Resumo: Este ensaio tem por finalidade evidenciar, explicar e informar o leitor sobre os problemas sociais enfrentados em uma determinada região do Brasil, o Nordeste, além dos recursos estilísticos utilizados para expor tais condições. Para isso, será usado o livro intitulado Vidas Secas, romance publicado em 1938 e escrito por Graciliano Ramos. A temática propõe, assim como o título já apresenta uma pista, o problema da seca na vida dos nordestinos, em particular, na vida da família de Fabiano.
Palavras-chave: seca. regionalismo.sertão
O enredo de Vidas Secas retrata a realidade miserável de uma família que, fugindo da seca, se instala em uma fazenda aparentemente abandonada. Lá viveriam durante um tempo até serem forçados a partir novamente. Levavam uma vida de nômades não por opção, mas uma questão de sobrevivência. Graciliano Ramos faz uso de um discurso forte, real; na intenção de mostrar de forma bem clara como essas pessoas lidam com o problema. Nesta temática regionalista dramática então, temos um narrador em 3ª pessoa. O autor tudo vê, sabe o que os personagens estão sentindo e pensando, está em todo lugar. Os capítulos são curtos e independentes, dessa forma, não há necessidade de seguir uma ordem de leitura, principalmente pois nem mesmo o autor segue um tempo cronológico. Ele procura o distanciamento do tempo normal, já que nada na vida dessas pessoas acontece de forma linear.
Ao longo da leitura, é possível perceber que cada personagem tem um capítulo próprio. Tais capítulos analisam e caracterizam os mesmos, no entanto, os capítulos curtos não possibilita uma descrição mais delicada e sensível de cada um, visto que os personagens são postos como não merecedores de qualidades. Uma das grandes marcas dessa obra é a valorização dos substantivos em detrimento dos adjetivos. O autor busca, incansavelmente, estampar na imaginação do leitor a seca, o clima árido e o ambiente sujo. Este espaço externo atinge os personagens de forma cruel, atribuí-los com adjetivos não se faz necessário pois o meio em que estão inseridos os descaracteriza como pessoas.
Fabiano é o homem da casa, pai de família e, de certa forma, personagem que ganha mais destaque na obra, embora esse destaque não lhe caracterize com coisas boas. A família de Fabiano é constituída por ele, a esposa Sinhá Vitória, o menino mais velho e o menino mais novo, além da cachorra Baleia que, em um dado momento, acaba por morrer. Não é preciso uma analise profunda para notar a ironia no fato das crianças não terem nome, mas a cachorra sim. Essas quatro criaturas se acostumaram a viver em condições desumanas, como se fossem animais lutando para sobreviver. A fome e falta da chuva os corrói lentamente, os proíbe de sentir e pensar coisas boas. Quando o fazem, acreditam que estão errados pois não merecem tal sensação. Fabiano se descontrói como homem e ser humano a cada minuto: 
Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
- Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades. (RAMOS, 1938, p. 8)
Culpa de uma cruz miserável que carrega sem saber porque pois é um bom homem e não pensa em fazer mal ao próximo. Acredita que essa mesma cruz é transmitida de pai para filho, assim como foi com seu pai e avô e assim como seria para seus filhos. Não existe esperança de um futuro diferente, o que se enxerga é a constante batalha para ter o que comer. Os sofrimentos e as injustiças da vida fizeram de Fabiano um ignorante, grosseiro, de educação limitada, mas sabia que era uma pessoa de bom coração. Nem ele, nem a esposa e os filhos queriam muito; Sinhá Vitória, por exemplo, queria apenas uma cama mais confortável para dormir. Um desejo simples e digno a qualquer ser humano. 
A cachorra Baleia tinha destaque na história, ela era querida, parte da família. Tinha um nome e à ela eram atribuídos sentimentos e sensações. Velha e doente, Fabiano tentou tirar-lhe o sofrimento, mas o amor pela cadelinha não deixou e apenas conseguiu feri-la. Do mesmo modo, Baleia não suporta os ferimentos e morre, mas mesmo nos minutos que antecederam sua morte, o autor permite que a cachorrinha visualize um mundo melhor, algo que lhe traz paz. Esse contraste colocava a cachorra como um ser humanizado ao contrário dos outros.
A obra traz uma leitura pesada pelo contexto social abordado, o vocabulário não é rebuscado, contudo, devido a época em que foi publicada, algumas palavras necessitam de pesquisa de significado, outras são difíceis de ler pois possuem muitas sílabas. O vocabulário regional do nordeste é marcado fortemente nesse livro. Um dos aspectos importantes encontrados no regionalismo é o fato de poder aprender e tomar conhecimento sobre diferentes questões.
O autor também denuncia a falta de oportunidades de trabalho para o pobre, assim como posição social de cada um perante a sociedade. Fabiano não sabe fazer mais nada além de cuidar de bichos no sertão e servir ao fazendeiro, apesar de trabalhar muito. As crianças não iam para escola e a educação que ainda restava, era mérito dos pais, pobres coitados que tentavam ensinar algo que prestasse a eles. Por isso, idas a cidade e aglomerações deixava toda a família desconfortável. Não sabiam o que falar, como se portar. Aliás, não sabiam conversar. Eles mesmos mal conversavam entre si, não havia diálogo. A falta de contato com a outra parte da sociedade causava deboche e olhares tortos. Tinham medo das pessoas, principalmente das autoridades. Fabiano uma vez acabara preso e maltratado por uma autoridade por não saber se comunicar:
Porque tinham feito aquilo? Era o que não podia saber. Pessoa de bons costumes, sim senhor, nunca fora preso. De repente um fuzuê sem motivo. Achava-se tão perturbado que nem acreditava naquela desgraça. Tinham-lhe caído todos em cima, de supetão, como uns condenados. Assim um homem não podia resistir. (RAMOS, 1938, p. 16)
	Numa obra na qual a tragédia nordestina ganha espaço e o sofrimento é mostrado de forma a fazer com que o leitor sinta cada detalhe desse drama ficcionado mas carregado de verdade, podemos perceber o descaso descarado não só das autoridades, como também da sociedade que vive fora dessa realidade. Vidas Secas se baseia em uma temática cujo aspectos se fundam no regionalismo nordestino, visando denunciar a opressão sofrida pelos pobres em uma divisão de classes gritante junto de uma descriminação cultural. A seca não tem fim, e para aqueles que sofrem dela, apenas resta buscar refúgio em outro lugar até começar tudo de novo. 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 45. ed. Rio de Janeiro, São Paulo, Record, 1980.

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