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Sobre Terras e Gentes_Ebook

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Prévia do material em texto

Prof. Me. Gil Barreto Ribeiro (PUC Goiás)
Diretor Editorial
Presidente do Conselho Editorial
Dr. Cristiano S. Araujo
Assessor
Larissa Rodrigues Ribeiro Pereira
Diretora Administrativa
Presidente da Editora
CONSELHO EDITORIAL
Profa. Dra. Solange Martins Oliveira Magalhães (UFG)
Profa. Dra. Rosane Castilho (UEG)
Profa. Dra. Helenides Mendonça (PUC Goiás)
Prof. Dr. Henryk Siewierski (UnB)
Prof. Dr. João Batista Cardoso (UFG Catalão)
Prof. Dr. Luiz Carlos Santana (UNESP)
Profa. Me. Margareth Leber Macedo (UFT)
Profa. Dra. Marilza Vanessa Rosa Suanno (UFG)
Prof. Dr. Nivaldo dos Santos (PUC Goiás)
Profa. Dra. Leila Bijos (UnB)
Prof. Dr. Ricardo Antunes de Sá (UFPR)
Profa. Dra. Telma do Nascimento Durães (UFG)
Profa. Dra. Terezinha Camargo Magalhães (UNEB)
Profa. Dra. Christiane de Holanda Camilo (UNITINS/UFG)
Profa. Dra. Elisangela Aparecida Pereira de Melo (UFT)
Reginâmio Bonifácio de Lima
Goiânia - Goiás
Editora Espaço Acadêmico
- 2020 -
1ª edição
SOBRE TERRAS E GENTES:
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
Copyright © 2020 by Reginâmio Bonifácio de Lima
Editora Espaço Acadêmico
Endereço: Rua do Saveiro, Quadra 15, Lote 22, Casa 2
Jardim Atlântico - CEP: 74.343-510 - Goiânia/Goiás
CNPJ: 24.730.953/0001-73
Site: http://editoraespacoacademico.com.br/
Contatos:
Prof. Gil Barreto - (62) 98345-2156 / (62) 3946-1080
Larissa Pereira - (62) 98230-1212
Editoração: Franco Jr.
Imagem da capa: do autor
CIP - Brasil - Catalogação na Fonte
L732s Lima, Reginâmio Bonifácio de.
Sobre terras e gentes : o terceiro eixo ocupacional de Rio Branco 
(1971-1982) [livro eletrônico]/ Reginâmio Bonifácio de Lima. – 1. ed. – 
Goiânia : Editora Espaço Acadêmico, 2020.
132 p. ; E-book.
Bibliografia
ISBN: 978-65-00-01088-6
1. Rio Branco (AC) - história. I. Título. 
CDU 93/99(811.2)
O conteúdo da obra e sua revisão são de total responsabilidade do(s) autor(es).
DIREITOS RESERVADOS
É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou 
por qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito dos autores. 
A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido 
pelo artigo 184 do Código Penal.
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
2020
Caminhando e cantando e seguindo a canção 
Somos todos iguais braços dados ou não 
Nas escolas nas ruas, campos, construções 
Caminhando e cantando e seguindo a canção 
(...)
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Vem, vamos embora, que esperar não é saber 
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
(Pra não dizer que não falei de flores) 
Geraldo Vandré
6SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO À SEGUNDA EDIÇÃO.............................................. 8
INTRODUÇÃO À PRIMEIRA EDIÇÃO ................................................ 10
Capítulo I: A OCUPAÇÃO AMAZÔNICA E A CONSTITUIÇÃO 
DE RIO BRANCO .......................................................... 16
1.1 As Relações de Poder .................................................................................. 16
1.2 Ocupação Recente da Amazônia ............................................................ 17
1.3 Abertura e Definição da Fronteira Acreana ........................................ 20
1.4 Sudhevea e Probor ....................................................................................... 26
1.5 Breve Histórico Riobranquense ............................................................... 27
1.6 Demografia da Capital ................................................................................ 33
Capítulo II: AS POPULAÇÕES RURAIS EXPROPRIADAS 
E A PERIFERIA ESTENDIDA ........................................ 37
2.1 A Expansão da Fronteira ............................................................................ 37
2.2 As Formações e Ampliações da Periferia ............................................. 43
2.3 Acerca de Governos e Jornais .................................................................. 48
2.4 A Igreja Católica e a Luta pela Terra ....................................................... 55
2.5 Conflitos no Campo e a Luta pela Sobrevivência ............................. 57
7
Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
Capítulo III: O TERCEIRO EIXO OCUPACIONAL DE 
RIO BRANCO ............................................................... 64
3.1 Aspectos Gerais ............................................................................................. 64
3.2 Saneamento Básico ..................................................................................... 77
3.3 Localidades a Serem Observadas ........................................................... 82
3.3.1 Salgado Filho .................................................................................... 83
3.3.2 Sobral .................................................................................................. 87
3.3.3 Floresta Sul ........................................................................................ 89
3.4 De Espaço Fronteiriço a Território Local ............................................... 90
3.4.1 Informações gerais ......................................................................... 90
3.4.2 Informações técnicas..................................................................... 94
3.4.3 Informações sobre as edificações ............................................. 95
3.4.4 Serviços urbanos ............................................................................. 96
3.5 Habitantes e Habitat ................................................................................... 97
3.5.1 Impressões iniciais.......................................................................... 97
3.5.2 Ambiência ocupacional ................................................................ 99
3.5.3 Sujeito-identidade-lugar ...........................................................112
3.5.4 Perspectivas das localidades ....................................................116
MEMÓRIA E HISTÓRIA ................................................................... 120
REFERÊNCIAS ................................................................................. 123
Livros .........................................................................................................................123
Periódicos ................................................................................................................128
Entidades .................................................................................................................129
8SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
Terras e Gentes, foi com essa expressão marcante que con-cluí minha Especialização em Cultura, Natureza e Movimen-tos Sociais na Amazônia pela Ufac. De forma geral e dinâmi-
ca podemos dizer que as terras são os ambientes, lugares, locais, espaços 
de vivências e convivências antrópicas. De igual modo, as gentes são pes-
soas indeterminadas e/ou entes com personalidade que habitam as locali-
dades e nelas produzem ações e modificações. Enfim, terras e gentes são 
humanos se relacionando no tempo, no espaço e na memória.
Quando publiquei a primeira edição desta obra em 2006, ainda de 
forma quase que artesanal, não imaginei que teria uma repercussão tão 
grande. Como era de se esperar, a obra foi muito mais lida e citada fora 
da terra de estudo que dentro dela – afinal, a velha política não gosta de 
assumir seus erros e desatinos. Tantos trabalhos a citaram – entre artigos, 
papers, dissertações e teses – que nos incentivaram a continuar trabalhan-
do na mesma vertente e, por conseguinte, outros foram escritos a partir 
desta. “Sobre Terras e Gentes” virou nome de Grupo de Pesquisa. A partir 
dos estudos realizados, publicamos outros livros como Habitantese Ha-
bitat (2007), que teve duas edições no mesmo ano; Habitantes e Habitat: 
a expansão da fronteira (2007), Memórias de Velhos (2008), Habitantes 
e Habitat: Vila do Incra e Porto Acre (2009) e Uma História do Acre em 
Retalhos (2014). 
Ao editar este livro, fui tomado por duas dúvidas que influencia-
riam diretamente a reedição da obra: atualizar ou não os dados para o con-
texto atual; e, adequar ou não a linguagem para um público mais amplo, 
transformando-a em obra mercadológica. Após meses de reflexões e, até 
de algumas reescritas, percebi que ao mexer nas bases fundantes elemen-
APRESENTAÇÃO À SEGUNDA EDIÇÃO
9
Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
tares do texto a obra seria reescrita e adaptada ao presente, mas destoa-
ria no propósito de ser reeditada com uma marcação de tempo e espaço. 
Não atualizamos dados. Não revimos os novos paradigmas que se apre-
sentam. Nem constituímos um texto dinâmico, salutar, incisivo. Optamos 
pela permanência para que a obra não se perdesse no tempo e no espaço – 
apenas atualizamos a escrita conforme o Novo Acordo Ortográfico e edi-
tamos algumas expressões para o contexto atual.
“Sobre Terras e Gentes” é um livro escrito em 2005 e publicado 
em 2006. Passaram-se 15 anos de sua escrita e seu conteúdo permane-
ce atual. As terras, as gentes, as andanças, as necessidades de melhorias, 
as expropriações, a expansão do cinturão de pobreza, as lutas, as interlo-
cuções entre os seres sociais constituintes das modificações antrópicas – 
tudo permanece em mobilidade e nesta, percebe-se que o avanço é para 
frente e em espiral. 
Este não é um livro sobre a cidade de Rio Branco apenas, mas so-
bre a luta cotidiana por sobrevivência e a luta por moradia que assolam 
populações andantes e populações migrantes brasileiras que todos os dias 
tentam a sorte se deslocando para as periferias das cidades em busca de 
melhores condições de vida.
10SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
Este livro é fruto de dois anos de pesquisa na Pós-Graduação em Cultura, Natureza e Movimentos Sociais na Amazônia, pela UFAC, nele estão contidos os resultados iniciais da pes-
quisa efetuada na área em que segue o caminho em direção ao antigo Ae-
roporto, próximo à Secretaria Estadual de Educação. Naquele local, hoje 
em dia estão formados os quinze bairros que compõem a terceira fase de 
expansão da cidade de Rio Branco. Nessa localidade moram atualmente 
mais de 33.908 pessoas, de acordo com o último censo do IBGE. 
Muito se ouve falar da Fazenda Sobral, PROBOR II, Aeroporto 
Guiomard Santos, assassinato de João Eduardo, “quatro bocas”, Palhei-
ral, hospital distrital, mas pouco ou quase nada se tem escrito a respeito. 
Este livro tem a pretensão de falar de forma geral, sem generali-
zações, como se deu o processo expansivo da Capital acreana para aque-
la área, bem como de que forma os moradores desenvolveram ali, suas 
identidades, culturas e transformaram a ambiência ocupacional. É certo 
que nesse primeiro momento nos concentraremos no viés historiográfico 
social, contudo na continuação dos trabalhos, com a conclusão da segun-
da parte da pesquisa, desta vez na área de linguagens e identidades, pelo 
Mestrado em Letras da UFAC, pretendemos dar maior suporte para as re-
lações de memórias, culturas e interações da/na dinâmica social. 
Com o apoio da Secretaria de Planejamento Municipal que nos ce-
deu as fotos; do Setor de Georreferenciamento, que reconheceu a área e 
demonstrou interesse no setor; do Setor de Cadastro Imobiliário que for-
neceu os croquis de todas as residências do local, no período de estudo ca-
dastrado; da Prefeitura Municipal de Rio Branco que abriu seus arquivos 
à pesquisa; da Assessoria Jurídica da Câmara de Vereadores que cedeu as 
INTRODUÇÃO À PRIMEIRA EDIÇÃO
11
Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
leis postas no trabalho “texto”; bem como o auxílio da Procuradoria Ge-
ral do Estado, que auxiliou diretamente no aparato político, e aval jurídi-
co concernente à jurisprudência e legalidade dos documentos referentes à 
possíveis titulações públicas daquela área; conseguimos ampliar as pes-
quisas e chegar aos resultados que se seguem no decorrer de todo o livro.
A ocupação desses locais já foi feita a mais de três décadas, e não 
seria justo deixar que as histórias das relações sociais lá produzidas, bem 
como as modificações antrópicas naquela ambiência sejam esquecida co-
mo tantas outras, tão importantes quanto esta que se perderam nas fissu-
ras não lineares da geo-história riobranquense. Não se intenta aqui ser “o 
salvador da pátria”: apenas tornar público os traços e recortes das rela-
ções estabelecidas no Terceiro Eixo riobranquense. Relações estas nem 
sempre harmônicas, nem sempre causais, nem sempre intermitentes, mas 
sempre válidas, vívidas e bem vividas. São homens e mulheres, gentes 
como você e eu, em busca de melhores condições de vida, que habitam 
terras que embora há anos existam leis que lhes garantam o direito de ti-
tulação, muitos deles ainda são posseiros e moram numa terra que segun-
do os governos não é sua, porque a sua... essa foi tirada. Mas isso os go-
vernantes não viram. 
Então, vamos lá.
Em nome de uma pretensa integração do Acre ao espaço nacional 
de desenvolvimento capitalista, durante fins da década de 1960 e início da 
seguinte, as terras públicas foram vendidas, e, por conseguinte, as popula-
ções nelas residentes foram obrigadas a sair – o que resultou num intenso 
fluxo migratório na direção campo-cidade1. Com a emergência dos confli-
tos pela posse da terra, a realidade urbana surgia como desdobramento da 
expansão da fronteira agrícola. A trajetória dessa população no contexto 
regional, tanto quanto os laços de vínculo com os locais de onde migra-
ram, tornam clara a aglutinação de famílias na periferia urbana.
O “cinturão de pobreza” formado como expansão da periferia já 
existente não é um fenômeno exclusivo da história recente do Acre, em 
1 O Termo aqui é utilizado no sentido de rural-urbano; de colônias, seringais, colocações, 
chácaras à parte composta de cidade e suas ampliações.
12
Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
vários locais do Brasil e América Latina é perceptível a organização – ou 
falta de – nos bairros periféricos. O ajustamento cultural dos migrantes 
vai constituir novos contingentes de trabalhadores, mas também expor o 
sentimento de identificação com a terra como meio de produção e cons-
tituição de laços internos de solidariedade e defesa (OLIVEIRA, 1983, 
p. 86) – traços característicos ao processo de formação, que em geral es-
ses migrantes levam consigo para as cidades.
Ao falar de Eixo Ocupacional em Rio Branco é preciso ter em vis-
ta que “a compreensão do movimento de formação e transformações da 
cidade, em sincronia com as etapas e contradições da economia mercan-
til da borracha, torna-se então uma das chaves para desvendar os proble-
mas e conflitos surgidos agora com a aceleração do crescimento urbano” 
(OLIVEIRA, 1982, p. 32).
Nesse aspecto, identifica-se a formação, ainda que parcial, de uma 
localidade extensiva aos habitantes do que se chama Terceiro Eixo Ocu-
pacional de Rio Branco. Esse se constituiu na área próxima ao Centro de 
Treinamento, atual Secretaria de Educação, envolvendo os 08 bairros for-
mados a partir da expansão da cidade ocorrida na década de 1970 e início 
de 1980. Quanto à temporalidade, é certo que não tem uma data-marco de 
formação específica, tampouco uma data final de andanças populacionais. 
O que se percebe é que a área que compreende o Terceiro Eixo, teve o iní-
cio de sua formação “urbana” aproximadamente em 1971, e o desenvol-
vimento espacial com uma definição básica próxima ao que é atualmente, 
por volta de 1982. Sendo composto pelos bairros Aeroporto Velho,Pa-
lheiral, Bahia, Bahia Nova, Glória, Pista, João Eduardo I e João Eduardo 
II. Ao mesmo tempo que se observa, nesse mesmo território, uma plurali-
dade de identidades coletivas, envolvendo diversidades em relação a ori-
gens, aspectos culturais, trajetórias de vida, que aproximam e distinguem 
grupos de indivíduos entre si.
As gentes do Terceiro Eixo, provenientes da zona rural e de outros 
bairros periféricos da capital, tiveram na cidade o mesmo descaso com o 
qual foram tratados anteriormente. Ao ocuparem terras que não lhes per-
tenciam, as pessoas corriam o risco de serem expulsas, e assim ocorreu 
com os moradores de locais como Palheiral, João Eduardo e Bahia, sen-
do parte dessas terras utilizadas em benefício de especuladores urbanos. 
13
Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
O que se pode ver também, diante do contexto histórico, são as condições 
de vida, o excesso de mão-de-obra “desprovida de qualificação” para a in-
serção no mercado de trabalho, e as incertezas pairantes rodeadas de mi-
séria e desagregação social.
Em 1982, em sua obra “O Sertanejo, o Brabo e o Posseiro”, Olivei-
ra citou o Terceiro Eixo, afirmando:
Um Terceiro Eixo de crescimento da cidade é aquele que segue o 
caminho em direção ao antigo Aeroporto, desde o núcleo central 
através da Rua Rio Grande do Sul, a qual até 1970 era habitada só 
parcialmente, até o chamado Centro de Treinamento. Esta parte, 
inclusive, se estendia por uma grande superfície de áreas verdes 
naturais, as quais foram inteiramente derrubadas durante a década 
passada. (...). Nessa área pontificam os bairros do Aeroporto Ve-
lho, Terminal, Baia e Palheiral, habitados pela população pobre de 
origem rural e que já somam [em 1982] mais de 15.000 pessoas. 
Todavia, a invasão e a ocupação de áreas ainda prossegue nesse ei-
xo e os novos bairros vão se formando, como o bairro João Eduar-
do (...). (OLIVEIRA, 1982, p. 39).
A mobilidade é uma regra na atualidade, o movimento sobrepõe-se 
ao repouso e quando o homem muda, junto com ele mudam também as 
mercadorias, as imagens e as ideias (SANTOS, 2002). Ao estudar a for-
mação do Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco, envolto na perspec-
tiva da dinâmica das migrações, ou seja, da vida dos migrantes, chega-se 
à compreensão de que sempre as mudanças fazem parte da vida cotidia-
na, e essas afetam diretamente o ambiente por transformações sócio-es-
paciais – enquanto causa ou efeito, e, em grande parte, ambas correlatas 
– e que os fluxos dessas gentes para o local não são fatos isolados, uma 
vez que se inserem no contexto das migrações internas, decorrentes da 
política nacional da Marcha para Oeste, intensificada durante o período 
da Ditadura Militar.
As problemáticas levantadas buscam investigar a forma como se 
deram as relações entre as gentes que ocuparam as terras dando início à 
formação e ao crescimento do Terceiro Eixo Ocupacional no período de 
1971 a 1982, almejando explicitar o processo de ocupação pelo qual pas-
saram os referidos bairros, bem como as modificações antrópicas efetua-
14
Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
das no ambiente receptor da migração. Desta feita o presente trabalho tem 
como objetivo investigar e analisar o processo de ocupação e formação 
do Terceiro Eixo Ocupacional da cidade de Rio Branco – que compreen-
de os bairros Palheiral, Bahia, Bahia Nova, Aeroporto Velho, Glória, Pis-
ta, João Eduardo I e II –, desde 1971 até 1982. Especificamente objetiva: 
perceber o Terceiro Eixo de Ocupação como parte integrante do proces-
so de expansão de Rio Branco; compreender o movimento de formação 
e transformação da cidade, destacando a expansão do Terceiro Eixo Ocu-
pacional e seus conflitos; abordar a luta pela sobrevivência das gentes mi-
grantes expropriadas da periferia de Rio Branco, enquanto parte de um 
processo macroeconômico e social; analisar as modificações antrópicas 
efetuadas nas terras do ambiente receptor das migrações rural e urbana.
A pesquisa foi feita dentro de uma perspectiva historiográfica, ten-
do como apoio metodológico as formulações e a discussão social da pro-
pagação da experiência humana, como elemento fundante para constru-
ção de um modo de vida comunitário, embasado no pensamento estrutu-
ral de Paul Thompson. A vivência dos ex-seringueiros, ex-posseiros ru-
rais e o quadro geral de seus movimentos históricos constituem o foco de 
interesse do estudo, como matéria de investigação pertinente à compreen-
são específica das características assumidas; a acentuação urbana, devido 
à intensificação do êxodo rural, a luta pela terra e a ocupação dos espaços 
tornados urbanos. A pesquisa não se propôs a estudar a formação da pe-
riferia de Rio Branco a partir de um viés economicista, vinculado unica-
mente à expansão da frente capitalista na Amazônia, mas a caracterizar as 
complexidades que o processo de urbanização de Rio Branco apresenta 
no curso da sua história recente.
Num primeiro momento foram trabalhadas as bibliografias exis-
tentes acerca da formação periférica da cidade de Rio Branco, buscando 
fazer o enquadramento historiográfico do objeto de pesquisa e dos su-
jeitos nele atuantes. Segundamente, os referenciais teóricos, conceitos e 
conjunturas sociais, foram estudados na pesquisa, com a devida contex-
tualização acerca da urbanização da cidade e do processo expansivo. Para 
tanto, foram consultados autores como Leandro Tocantins, Luiz Antônio 
Pinto de Oliveira, Carlos Alberto Alves de Souza e Leila Gonçalves da 
Costa, estudiosos das relações sociais ocorridas no Acre, especialmente 
15
Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
em Rio Branco. Em seguida foi aplicado um questionário sócio-econô-
mico e cultural com os moradores mais antigos dos bairros, procurando 
levantar informações sobre seu local de moradia e suas relações de con-
vivência. 
Foram aplicados questionários nos oito bairros, tendo como base 
os seguintes requisitos: os entrevistados precisavam morar, ininterrupta-
mente, no bairro há, pelo menos, 23 anos, ou seja, desde 1982, ou antes 
dessa data; ser o “chefe” ou um dos “chefes da casa” na atualidade; a ne-
cessária cobertura e abrangência de toda a localidade, com aplicação de 
maior quantidade de questionários nas áreas que, segundo a Prefeitura2 e 
entrevistas orais com os moradores, eram os locais com maior densidade 
demográfica no período de formação. 
É certo que o Terceiro Eixo não se formou a partir de um planeja-
mento territorial urbano, antes pelas migrações e andanças populacionais 
o espaço foi se transformando em lugar a partir da constituição da base 
territorial.
O espaço desconhecido, natural, incomensurável, foi e ainda é mo-
dificado, transformado e “reordenado” pela diversidade nas inserções an-
trópicas que o tornam um território de ordem cultural, conhecido aos que 
lá se assentaram e mensurável às relações sócio-culturais nele estabele-
cidas. Assim sendo, percebe-se, ainda que, às vezes, indiretamente, que 
o poder público opera e coopera no ordenamento territorial, através de 
ações de políticas públicas, estratégias de mudança social e organização 
do território ou falta delas. 
Essa transformação é ao mesmo tempo um assunto técnico e políti-
co, não é o foco deste trabalho engajar-se nos fatores de distanciamentos 
(por rupturas, fissuras e até mesmo no termo físico), tampouco de acessi-
bilidades (no viés geodésico). O que se busca é desenvolver a compreen-
são de como as terras foram modificadas antropicamente pelas gentes que 
produziram modificações, organizaram e ocuparam o território do Tercei-
ro Eixo desenvolvendo e estruturando esse habitat humano (ALMEIDA, 
2001) à partir das diferentes atividades e relações sociais estabelecidas.
2 BCIs, Cadastro imobiliário, Plantas Oficiais da Cidade de 1979, 1980, 1981, 1982.
16SOBRE TERRAS E GENTES:o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
C a p í t u l o I
A OCUPAÇÃO AMAZÔNICA E A 
CONSTITUIÇÃO DE RIO BRANCO
1.1 As Relações de Poder
O Brasil em seu subdesenvolvimento não galgou espaços co-mo as nações do Norte, chamadas de desenvolvidas. A ex-pansão do mercado no país teve nos mercados financeiros 
modernos a base garantidora da viabilidade modelada pelos países de-
senvolvidos para que se seguisse neste país. A produtividade e assimila-
ção das novas técnicas não conduziram à homogeneização social, antes, 
a difusão das novas técnicas deu-se em certas áreas, inicialmente qua-
se que exclusivamente pela aquisição de novos produtos via importação 
(FURTADO, 1992). Esse chamado processo produtivo causou uma mo-
dernização no Brasil, mas não conduziu à redistribuição dos bens, não 
houve a elevação do nível de vida da população.
Nesse contexto de subdesenvolvimento surgiu a industrialização 
tardia brasileira, que agiu com grande rapidez para reestruturar o sistema 
produtivo, ainda embasado no sistema substitutivo. A Amazônia troca-
va “pelas” de borracha por dinheiro, que não enriqueceu os seringueiros, 
mas formou grandes fortunas Brasil a fora. A modernização tardia imple-
mentada pela “industrialização substitutiva” levou o Estado a sustentar a 
sua modernidade com recursos provenientes dos meios ditos atrasados.
As transições ocorridas na Amazônia, principalmente a partir dos 
anos 1960, foram “pelo alto”, onde o governo agia procurando mecanis-
mos explícitos de incentivos empresariais, para atrair capital e empreen-
17
Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
dedores de diversos setores econômicos, enquanto as gentes que migra-
ram em direção a esse local, atraídos pela política de colonização, tiveram 
poucos recursos e o apoio do Estado foi reduzido. A tentativa de desen-
volvimento econômico deixa claro que há uma continuidade na formu-
lação da política, sendo priorizada a dinâmica econômica. Altvater apud 
Heller (1999, p. 138) afirma que “como ocorre com o trabalho na indús-
tria, a natureza também passa a ser ‘realmente subordinada’ ao capital, is-
to é, subjugada à lógica da acumulação, de uma forma mais eficiente do 
que nunca na história da humanidade”. Há uma fluência do monetarismo 
que não respeita fronteiras, antes a seu interesse constrói nacionalidades 
e as destrói, desconsiderando as territorialidades postas.
O desenvolvimento posto na Amazônia, fruto do predomínio dos 
países industrializados, não é socialmente justo, nem ecologicamente sus-
tentável. A Amazônia está inserida na lógica de dominação capitalista, on-
de esta lógica rompe fronteiras, fomentada pelo crédito de incentivos fis-
cais, que em meados do século XX moldou o processo de desenvolvimen-
to regional (SILVA, 1989); como consequência houve os conflitos pela 
posse da terra, contradições urbanas e rurais e continuação do estabele-
cimento de desigualdades na apropriação do espaço econômico, político 
e sócio-ambiental da região. Nesse mesmo período, a questão ambiental 
estava internacionalizada com fomentos para uma postura de desenvolvi-
mento – ainda não sustentável – onde se buscava construir cenários para 
a formação da base necessária para a atuação dos grupos ligados ao “pro-
gresso humano” em detrimento da “barbárie” na região. Contudo, esse de-
senvolvimento não chegava às classes trabalhadoras, como forma de me-
lhorias sociais, e ainda, “quando ficou óbvio, por volta de 1970, que a cor-
rida pelo desenvolvimento realmente intensificava a pobreza, inventou-se 
a noção de ‘desenvolvimento equitativo’ para reconciliar o irreconciliável: 
a criação da pobreza com a abolição da pobreza” (SACHS, 2000, p. 121).
1.2 Ocupação Recente da Amazônia
As políticas traçadas de expropriação e formação de mercados de 
reserva se deram tardiamente na Amazônia em relação ao restante do pa-
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
ís. Contudo, os efeitos foram vistos alardeadores das disparidades exer-
cidas pela “ditadura do grande capital” e pelas práticas governamentais 
voltadas aos interesses de uns poucos. As migrações da zona rural para a 
urbana e dos pequenos centros para as cidades fizeram ocorrer uma gran-
de explosão demográfica nas cidades, aumentando as periferias, levando 
esses trabalhadores expropriados a viverem à margem das cidades. Tudo 
isso, em grande parte, fruto das políticas públicas e atividades capitalistas 
implementadas no campo.
A política econômica adotada a partir de 1964 favoreceu os Es-
tados da Amazônia com uma participação de forma mais efetiva de for-
mação do capital e consequente integração à propaganda produzida pelo 
governo federal; a construção de rodovias como Belém-Brasília, Cuiabá- 
Santarém, Brasília-Acre; e, pouco depois, no Acre a especulação fundi-
ária, o crédito fácil e barato, as facilidades para a expansão da pecuária, 
acentuaram o desequilíbrio social, afetando diretamente as populações 
que passam a ocupar as periferias das cidades, principalmente da capital.
A forma de ocupação implementada na região acreana na primei-
ra metade do século XX era extrativista da borracha. Com a transferência 
das terras dos seringais falidos aos compradores do Centro-Sul, viu-se um 
acelerado crescimento das pequenas propriedades, embora a terra tenha 
continuado extremamente concentrada.
Já nos últimos anos da década de 1960 é perceptível uma ruptura 
no padrão de ocupação territorial nas capitais amazônicas. As alterações 
produzidas dão conta de um redimensionamento do quadro urbano com 
o amento da migração contínua para as cidades. O principal fluxo migra-
tório se deu mais intensamente para a banda oriental, com predominân-
cia de composição rural atingindo principalmente as cidades de Macapá, 
Porto Velho e Rio Branco.
Uma temática a ser abordada concernente a esse período específi-
co da ditadura militar e seus projetos para a Amazônia, é o caráter trans-
nacional da compreensão amazônica enquanto necessária aos interesses 
dos países de economia desenvolvida, não apenas com o intuito de uma 
economia predatória, mas também, pelas riquezas da biodiversidade, des-
cobertas científicas, a água potável para um mundo que já sente a escas-
sez deste produto, e, as alterações climáticas que a destruição da Amazô-
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
nia poderia causar nesses países. Por isso, o enfoque que deve ser dado, 
além da visão militar, precisa incorporar temas emergentes e complexos 
que superem a crise ecológica e ampliem o pensar reformulante que está 
ocorrendo dentro de uma atuação entre Estado, as forças do mercado e a 
sociedade civil, numa questão de segurança internacional.
Os movimentos políticos e econômicos que começaram a surgir no 
final da década de 1960, davam margem a grupos e ONGs que buscavam 
“proteger” a natureza para tornar em “meio ambiente” a localidade imple-
mentando o “desenvolvimento sustentável”, a natureza onde, por séculos 
os seus habitantes já viviam. Nesse período, qualquer processo de trans-
formação teria o aparato estatal e o fundo público como pressupostos. 
Além da criação de empresas e agências estatais de desenvolvimento, vi-
sando atrair grandes grupos de capitais privados. O poder público dotou, 
ainda que parcialmente, de infra-estrutura adequada, formulou políticas e 
incentivos fiscais e de crédito.
Como consequência dessa inicial atividade pública, foram implan-
tados grandes projetos agropecuários e dispositivos jurídicos excepcio-
nais, como os mecanismos de regulamentação adotados pelo estado. Esse 
período foi o que mais rápido convergiu terras públicas em propriedades 
privadas. A expansão capitalista na Amazônia resultou, além da desre-
gionalização da propriedade do capital, na predominância dos projetos 
agropecuários sobre os industriais, nos ganhos especulativoscom a terra, 
geração de violentos conflitos sociais decorrentes da luta pela terra e ex-
pulsão dos camponeses de sua terra, acelerando o processo de destruição 
ambiental (PAULA, p. 1991).
Em nome da integração nacional, e mais tarde, de uma integração 
com o mercado externo, o ambiente social foi modificado. As normati-
zações produzidas pelo jogo monetário regulado pelo sistema financeiro 
internacional, FMI e Banco Mundial, transformaram a dinâmica interna 
das convivências intra-nacionais, regulando-as através do controle estatal 
com políticas e ações coordenados por investimentos setoriais e fomento 
às “práticas de desenvolvimentos” na região. As regulamentações, tão ne-
cessárias em meados do século XX, tornaram-se carentes de modificações 
e desregulamentação na década de 1980. As leis executadas e a generosi-
dade do poder público concederam ao grande capital “salvo conduto” para 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
agir livremente na Amazônia. Mesmo com a aprovação da política nacio-
nal de meio ambiente, em 1981, o que se viu foram mecanismos que aju-
daram aos interesses estrangeiros em detrimento das populações locais. 
1.3 Abertura e Definição da Fronteira Acreana
As terras do Acre por vários séculos foram tidas como desconhe-
cidas ou “terras não descobertas” e assim permaneceram até meados do 
século XIX. O Tratado de Madri realizado em 13 de janeiro de 1750, re-
gularizou os limites entre as terras portuguesas e espanholas, mas não de-
limitou a área especificamente referente ao Acre; outros tratados foram 
produzidos e, de mesma feita, não estabeleceram, no terreno, a linha fron-
teiriça que abrange do Rio Madeira ao Javari.
A borracha amazônica era bem conhecida e utilizada pelos índios, 
eles faziam artefatos de borracha e brinquedos para os curumins, além de 
utilizá-la como impermeabilizante. Várias espécies de árvores que for-
necem o látex eram há muito utilizadas: como o caucho (castiloa ulei), a 
balata (chrysophyllum balata), a sorva (couma utilis), a mangaba (harni-
cornia speciosa) e a seringa (hevea basiliensis). 
É certo que em 1762, com o uso da terebintina, houve um avanço 
na qualidade da consistência da borracha e consequente avanço na pro-
dução. A Europa estava vivenciando o início da Revolução Industrial, 
enviando pesquisadores ao mundo inteiro em busca de novos produtos. 
O padre jesuíta João Daniel escreveu que “entre o Rio Madeira e o Javari, 
por mais de 200 léguas não há povoação nem de branco, nem de tapuias 
mansos ou missões”, isso em 1760, na época em que as missões estavam 
se estabelecendo na Amazônia (Revista Interior: 1978, p. 6).
Desde o descobrimento da América se conhecia a borracha, o pró-
prio Cristóvão Colombo presenciou, em sua segunda viagem à América, 
o “jogo da bola”, no Haiti. Muitos viajantes anunciaram essa “maravilha 
da América”, contudo, foi o pesquisador geógrafo e astrônomo francês 
Charles Marie de Lá Condamine, estudando as selvas do Equador, que 
comunicou à Academia de Ciências de Paris em 1736, notícia sobre a 
aplicabilidade da borracha.
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
O mundo em industrialização estava querendo usufruir as riquezas 
da Amazônia, várias foram as tentativas de conquista do território nacio-
nal brasileiro. Em 06 de julho de 1801 o Tratado de Badajós anulava o 
de Santo Idelfonso, ficando definidas as fronteiras da América do Sul. As 
Frentes de Expansão, muitas delas capitalistas, buscavam demarcar o ter-
ritório brasileiro.
Após a descoberta do processo de vulcanização da borracha em 
1844, por Thomas Hancock, na Inglaterra, e Charles Goodyear, nos Esta-
dos Unidos, foi possível dar outras utilidades à borracha. Essa se tornou 
indispensável para a civilização. O uso que antes era restrito, mas que já 
tinha mercado garantido em Boston, Nova York, Lisboa, Viena, Londres 
e tantos outros lugares, foi expandido. O preço do látex subiu considera-
velmente e iniciou-se a corrida para o Acre.
Serafim da Silva Salgado, Manuel Urbano, João Cunha Correa, 
Willian Chandless e, mais tarde, Euclides da Cunha, desbravam o territó-
rio acreano estabelecendo marcos. Nessas áreas foram descobertas várias 
tribos indígenas, grande quantidade de árvores para a coleta do látex, ri-
cas fauna e flora.
Abre-se uma Frente pioneira no Rio Acre e pouco depois no Purus, 
impulsionadas pelos interesses internacionais em adquirir a riqueza pro-
veniente da floresta. Antes, o comércio das drogas do sertão havia impul-
sionado o adentrar a floresta, agora a borracha fazia subir às cabeceiras 
dos rios. A introdução de barcos a vapor em 1853, bem como a aberturara 
do Rio Amazonas à navegação internacional, fizeram com que a comer-
cialização da borracha aumentasse em muito, a ponto de ainda no século 
XVIII superar a de cacau no porto do Pará. 
A relação entre os seringais e a cidade de Manaus era de compra 
da produção por parte desta, enquanto subsidiava aqueles. O drama inter-
nacional começou a se esboçar por os brasileiros transporem a fronteira 
entre seu país e a Bolívia, iniciando um rudimentar processo de “civiliza-
ção”. Os limites ainda não haviam sido fixados, nem os marcos coloca-
dos, daí a dificuldade; nem a Bolívia sabia que as terras lhe pertenciam. 
A linha limítrofe leste-oeste só existia nos tratados internacionais. Os bra-
sileiros eram os únicos a explorar a borracha, atendendo uma demanda 
existente desde 1839, mas que não havia sido suprida até a grande seca do 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
nordeste de 1877, onde sem condições de vida, levas de imigrantes che-
gavam às terras da Amazônia em busca de sobrevivência, e foram formar 
os seringais do Acre e seus primeiros núcleos populacionais, em busca do 
ouro negro.
A terra desconhecida, paisagem totalmente isolada do que se cha-
ma civilização, fora aos poucos sendo ocupada. O ciclo se completara, 
terras novas, produção e população. Havia um fluxo de relação entre es-
ses; então, Brasil e Bolívia resolveram demarcar as fronteiras delimitan-
do a linha Cunha Gomes a 10’ 20” de latitude. Portanto, o Acre pertencia 
oficialmente à Bolívia; no ano de 1897, um ano depois foi dada ordem ao 
governo amazonense para reconhecer essa linha. Contudo, pelo tratado 
de Ayacucho, o artigo segundo reconhecia o “uti possidetis”, para fixar a 
fronteira entre o Brasil e a Bolívia.
Casa Comercial da Vila Rio Branco, do Sr. Newtel Maia e Cia. Arma-
zéns dos Srs. Apolinário, Floguel e outros (em cima). Propriedade da 
firma Alves Braga e Cia. do Pará. Data: 1906-1907.
Fonte: FALCÃO, Emílio. “Álbum do Rio Acre”, p. 99 e 113. Acervo Digital: Memorial 
dos Autonomistas. 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
Seringal Nova Empreza (abaixo). Propriedade da firma Alves Braga e 
Cia. do Pará. Data: 1906-1907.
Fonte: FALCÃO, Emílio. “Álbum do Rio Acre”, p. 99 e 113. Acervo Digital: Memorial 
dos Autonomistas. 
Durante o período de 1890 a 1905, além do crescimento da de-
manda de matéria-prima gumífera, o que se vê é uma série de atividades 
acentuando as relações envolventes da prática vigente na expansão fron-
teiriça do oeste. De um lado, o Brasil busca se afirmar com a instalação 
do regime republicano, no intento de atingir o equilíbrio de sua economia 
que mesmo com a atuação do café, ainda era instável; de outro, a Bolívia 
liderada por seu representante advindo das frentes liberais, Manuel Pan-
do, procurava afirmar-se como Estado autônomo. Ao desenvolver essa 
análise, percebe-se que o leite extraído da hevea brasiliensis aparece co-
mo possibilidade concreta de ambos os países alcançarem seus objetivos. 
Com a ascensão de Pando ao poder, a instabilidade política, deficiência 
econômica e falta de unidade territorial na Bolívia vai eclodira “Questão 
do Acre”, e, mais tarde, o Bolivian Sindicate.
Luiz Galvez, Plácido de Castro e tantos outros “heróis” acreanos 
entre lutas, batalhas, tratados e diplomacia imputaram ao Acre status de 
pertencer ao Brasil. A fronteira foi definida oficialmente no dia 17 de de-
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
zembro de 1903, com o Tratado de Petrópolis, anexando as terras do Acre 
ao Brasil; um pagamento ao Bolivian Sindicate de 110 mil libras esterli-
nas; e à Bolívia, de dois milhões de libras esterlinas, além da construção 
da ferrovia Madeira-Mamoré.
Definida a questão do Acre é necessário que se dê continuidade ao 
estudo da abertura da fronteira: as necessidades de excedente demográ-
fico foram, em grande medida, supridas pela corrente migratória para a 
Amazônia ocorrida a partir da grande seca do nordeste. De acordo com 
Lima (1982) a intensificação da migração nordestina para o Acre inicial-
mente se deu no período de 1877 a 1900. Nesses treze anos, cerca de cen-
to e sessenta mil imigrantes se estabeleceram nos seringais situados na 
bacia dos rios Madeira, Acre, Purus, Chandless e Juruá. Sendo possível 
traçar a concomitância da seca com o início do período mencionado, e o 
auge da produção gumífera com os últimos anos do século XIX. 
Essa expansão, aparentemente intensiva, não manteve seu fluxo 
proporcional ao aumento da produção do látex. As novas terras utilizadas 
mantinham uma estreita relação entre a atitude pioneira de “assentamen-
to” e produção e o modo de vida existente nas unidades produtivas. Assim 
a relação entre a terra da qual se retira a borracha (o seringal), o respon-
sável pelas terras, mantenedor do “modo de vida” implementado em suas 
propriedades (o seringalista) e o indivíduo diretamente responsável pela 
extração do leite da seringa e sua transformação em pélas (o seringueiro), 
se dá ora amistosamente e ora em conflito. 
É válido ressaltar que embora a relação vigente fosse de explora-
ção e que os seringueiros tenham sido expropriados, gradativamente se 
endividando e enriquecendo os donos dos seringais, era latente que mui-
tos seringueiros viam seus “patrões” como alguém que cuidava deles, não 
como pesarosos ludibriantes. A relação tida na penetração, ainda que com 
momentos de confusão implementou marchas e contra marchas, por con-
seguintes êxitos e fracassos, não necessariamente ligados às forças de re-
lações locais, mas prementes no âmbito do mercado de produção e na va-
lorização – ou falta dela – no produto gumífero explorado.
Os seringueiros ficavam anos sem ter a paga pelo fruto de seu pe-
noso trabalho. As dívidas a eles imputadas iam além do superfaturamento 
dos produtos; o patrão colocava na nota itens que não chegavam até su-
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
as colocações, aumentando ainda mais as dívidas dos seringueiros. Estes, 
para não verem aumentadas suas dívidas, pediam o estritamente necessá-
rio para a sobrevivência, e muitas vezes, pediam menos que isso, ficando 
vulneráveis a doenças e morrendo de desnutrição. Nessas relações sociais 
os seringueiros criaram várias formas de resistência, como colocar barro 
dentro das pelas, plantar grãos, fugir das colocações, não pagar as dívidas 
por ter consciência de que estavam maiores do que deveriam. Essas eram 
algumas das atividades consideradas ilegais, mas que ocorriam como for-
ma de resistência dos seringueiros na luta pela sobrevivência.
O seringal sempre foi uma empresa desvinculada da terra, con-
tendo em sua área as árvores necessárias para a retirada do “leite”, colo-
cações, “estradas de seringa” e barracão. O seringalista monopolizava o 
acesso ao seringal, praticando o “aviamento” dos produtos necessários 
aos seringueiros. Estes, por sua vez, trabalhavam até catorze horas por 
dia, moravam em tapiris, tudo o que consumiam era-lhes imputado como 
débito no barracão e comumente morriam de malária, febre amarela, ata-
ques de índios ou de animais selvagens.
As casas aviadoras situadas em Belém e Manaus abasteciam os se-
ringais, recebendo também os rolos de borracha produzidos nestes e ven-
dendo-os ao exterior. Elas financiavam quase cem por cento da produção, 
vendendo os víveres aos seringais por preços superfaturados e recebendo 
as “pélas” que vendiam ora com lucro, ora com prejuízo, dependendo das 
estimativas e preços no mercado. 
O sucesso de Henry Wickham ao embarcar setenta mil sementes 
da hevea brasiliensis, em 1876, e consequente início da produção de bor-
racha na colônia inglesa do Ceilão (no sul da Índia) e Indonésia, fez com 
que por sua seleção, disposição de plantio, e facilidade de coleta, a bor-
racha inglesa se tornasse mais barata e de melhor qualidade que as plan-
tações nativas, com isso quebrou o monopólio da região amazônica. Em 
1905, a produção brasileira de borracha era de 35 mil toneladas, e a in-
glesa de apenas 145 toneladas (SOUZA, 2002). No ano de 1913, a pro-
dução amazônica da goma elástica respondia por apenas quarenta e cinco 
por cento da produção mundial, menos de duas décadas depois, por ape-
nas cinco por cento. Era a decadência da borracha amazônica, mas não da 
Amazônia. O capital estrangeiro foi embora, contudo, viu-se um novo li-
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
miar de atividade nas terras acreanas. A interação com a sociedade central 
foi modificada e iniciou-se uma urbanização nas terras acreanas, não na 
escala das migrações de outras áreas do Brasil para o Acre, e sim, o fluxo 
interno das populações e a mudança de sua relação com a terra. 
1.4 Sudhevea e Probor
Com o aumento do consumo da borracha e o necessário suprimen-
to do mercado interno, a Superintendência do Desenvolvimento da Borra-
cha (SUDHEVEA) foi fortalecida pelas práticas políticas nacionais que, 
de acordo com o superintendente da SUDHEVEA, José Cesário Mendes 
Barros, em 1972 implantou “bases necessárias e irreversíveis para o to-
tal auto-abastecimento do país de borracha natural. No mesmo ano deu-
-se início ao primeiro programa-piloto destinado a implantar, consolidar 
a lavoura heveícola e modernizar a exploração da borracha nativa” (RE-
VISTA INTERIOR, 1978, p. 6). Para ele o objetivo foi atingido a pon-
to de em 1977, o Conselho Nacional da Borracha, lançar o segundo Pro-
grama de incentivos à produção de borracha natural (PROBOR II), tendo 
como fim principal a ampliação do primeiro, concessão de crédito rural, 
operacionalizado pela superintendência da borracha em ação coordenada 
com os agentes financeiros básicos do Sistema Nacional de Crédito Ru-
ral (Banco da Amazônia, no norte e centro-oeste, e Banco do Brasil, no 
sul da Bahia). Foi aprovado o plantio de seringueiras, num total de 07 mil 
hectares. Sendo assumido pelo superintendente, que no caso acreano, a 
implantação alcançou apenas um terço do planejado.
Em 1972 o Acre produziu cerca de seis mil toneladas de borracha, 
e em 1976 produziu seis mil e oitocentas toneladas. O Acre foi o maior 
produtor nacional de borracha no período, seguido do Amazonas e do 
Pará. A produção brasileira de borracha natural em 1978 representava 
apenas um terço da demanda nacional, sendo que em 1974 a produção 
foi de dezoito mil e seiscentas toneladas, sendo o país responsável por 
apenas 0,6% da produção mundial. No mesmo período, a borracha natu-
ral brasileira representava apenas 10% do consumo nacional (REVISTA 
INTERIOR, 1971, p. 4-31).
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
A produção não estava atendendo a demanda, o não atendimento 
da necessidade de tempo e cuidado necessários para a seringueira come-
çar a produzir, a falta de incentivos continuados e desacerto na política de 
implemento dos seringais, foram alguns dos fatores que contribuíram pa-
ra que os seringais cultivadosnão alcançassem o pleno desenvolvimento.
Pelas de Borracha – hevea basiliensis.
Fonte: Acervo digital - IBGE.
1.5 Breve Histórico Riobranquense
O local onde mais tarde seria a cidade de Rio Branco, era habita-
do por tribos Aquiris, Canamaris e Maneteris, pertencentes à família dos 
Aruaques, que dominavam a bacia do Purus. De acordo com Silva “os 
solos riobranquinos foram pisados por civilizados, pela primeira vez, em 
1861, quando uma expedição de caráter exploratório, chefiada por Mano-
el Urbano, sob os auspícios da Província do Rio Negro, por ali passara...” 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
(1981, p. 96). Em 1882, aportou às margens do Rio Acre, nas proximida-
des da gameleira, o cearense Newtel Newton Maia, dando início ao esta-
belecimento do seringal Empresa. 
Seringal Empreza. Propriedade da firma comercial do Pará, Lopes de 
Brito e Cia, à margem esquerda. Data: 1906-1907. Este barracão serviu 
de hospital de sangue durante o período revolucionário. 
Fonte: FALCÃO, Emílio. “Álbum do Rio Acre”, p. 103. Acervo Digital: Memorial dos 
Autonomistas.
Rio Branco está localizado no Nordeste do Estado do Acre, possui 
características geológicas e geomorfológicas com singularidade predomi-
nantemente horizontal no relevo, com grandes áreas de depósitos aluviais 
resultantes da erosibilidade das águas sobre as margens dos rios que o ba-
nham: Rio Acre, Rio Iquiri, Rio São Francisco, Rio Antimari, Rio Xipa-
mamu e Riozinho do Rôla, durante as enchentes cíclicas anuais. A cidade 
de Rio Branco está localizada às margens do Rio Acre, sendo que o Rio 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
São Francisco também faz parte do ambiente urbano desta. O clima rio-
branquense é classificado como equatorial, com uma estação chuvosa do 
mês de outubro a março, e uma de estio de abril a setembro. A temperatu-
ra média anual é de 25,5° C e a umidade relativa tem valores médios que 
ficam em torno de 85% (INMET/UFAC).
A partir do povoamento desse seringal surgiu o que em 1904 seria 
elevada à categoria de Vila. Através do Decreto nº 5.188, de 07 de abril de 
1904, o Território acreano foi dividido em três Departamentos: Alto Acre, 
Alto Purus e Alto Juruá, tornando-se Rio Branco sede do Departamento 
do Alto Acre. Em 1908, várias mudanças significativas foram implemen-
tadas pelo então prefeito, Gabino Bezouro; como a transferência da sede 
do Departamento do Alto Acre para a margem esquerda do Rio Acre (BE-
ZERRA, 2002), a instalação de policiamento, justiça e fiscalização tribu-
tária, estruturação da Vila Penápolis, realização de construções públicas e 
criação da secretaria Geral do Departamento para fiscalização da limpeza 
pública (COSTA, 2003). Rio Branco teve sua constituição legal em 13 de 
junho de 1909, como sede da prefeitura do Departamento do Alto Acre, 
na época era chamada de Penápolis. No ano de 1912 recebeu o nome que 
possui até os dias atuais, em homenagem ao Barão do Rio Branco. 
Em 1909, a cidade de Empresa recebeu o nome de Penápolis, em 
homenagem ao presidente do Brasil Afonso Pena (...) em 1912 
os lados direito e esquerdo do antigo seringal Empresa foram 
chamados de cidade de Rio Branco, em homenagem ao Barão 
do Rio Branco, tornando-se capital do Acre em 1920 (SOUZA, 
1999, p. 36). 
Seguindo a prática de outras cidades amazônicas, Rio Branco de-
senvolveu-se às margens do rio, com casas de madeira e ruas de traçado 
irregulares. Todas as ruas de Penápolis, no “centro” do Primeiro Distrito 
do que veio a ser a Capital, foram planejadas, mas nem por isso têm seu 
traçado com paralelas e perpendiculares, antes, muitas delas seguem o de-
linear do curso do Rio Acre.
Inicialmente, Rio Branco era a sede do Departamento do Alto Acre, 
sua formação se deu para atuar como entreposto comercial avançado da 
economia mercantil da borracha. Ainda em 1909 planejou-se e executou- 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
se a construção de duas vias estruturais importantes: a Avenida Ceará, na 
direção oeste-leste, e a Avenida que mais tarde viria a ser chamada Getú-
lio Vargas, na direção sudeste-noroeste. 
O fato de Rio Branco se encontrar na Bacia Hidrográfica do rio 
Acre, estando esta inserida na Bacia Sedimentar do rio Amazonas, em 
função de sua topografia, percebe-se a origem do rio Acre decorrente da 
precipitação pluviométrica e do encontro das águas fluviais e pluviais 
com o tenro relevo litológico, resultante da erosão natural que esculpiu os 
rios da região e seus afluentes, bem como o chamado “regime das águas”, 
onde há enchentes que ocorrem em correlação estreitamente ligada à in-
tensidade das chuvas, e, à vazante no período de estio.
Durante as cheias, alguns locais são alagados e proporcionam ver-
dadeira calamidade às populações ribeirinhas que vivem nas margens 
próximas aos rios da região. Milhares de famílias são desabrigadas nesse 
período, principalmente as que vivem nos bairros Taquari, Seis de Agosto 
e Airton Sena. Em contrapartida, no período de estio, o lençol freático é 
rebaixado pela ausência de chuva, que ocorre em proporção 80% menor 
que no período chuvoso.
O município conta atualmente com uma área territorial de aproxi-
madamente 883.143 hectares, sendo sua população de 377 mil habitan-
tes. Limita-se ao sul com os municípios de Capixaba, Xapuri e Brasiléia; 
a leste com o município de Senador Guiomard; a oeste com o município 
de Sena Madureira; e ao norte com os municípios de Sena Madureira, Bu-
jari e Porto Acre.
Apenas na década de 1920 foram erguidas as primeiras constru-
ções em alvenaria e abertas ruas paralelas às margens do rio Acre. Na 
margem direita, em Empreza, foi aberta a rua Primeiro de Maio; na mar-
gem esquerda, em Penápolis, foram abertas as ruas paralelas Epaminon-
das Jácome e Benjamim Constant; e perpendiculares a aquelas, Marechal 
Deodoro e Getúlio Vargas. Craveiro Costa (1998), ao estudar a formação 
territorial do Acre, afirma que Rio Branco no início era formada por duas 
zonas distintas, separadas pelo rio Acre: Empreza, à margem direita, onde 
se situavam os principais hotéis, as diversões e os negócios de beneficia-
mento e transporte de produtos extrativos; e Penápolis, à margem esquer-
da, onde se situavam as repartições públicas.
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
Com o passar dos anos, Penápolis teve melhor constituição de ruas, 
praças, infra-estrutura em geral, não somente pela função de ser sede da 
administração pública, mas também pelo fato de as pessoas mais abastadas 
financeiramente se mudarem para lá, afastando-se da agitação de Empre-
za. Em 1920, Rio Branco havia suplantado as outras cidades. Com a ex-
tinção e unificação dos três Departamentos existentes, através do Decreto 
nº 14.383, de 01 de outubro de 1920, Rio Branco foi elevada à categoria 
de capital do Território Federal do Acre, nessa época tiveram as primeiras 
construções em alvenaria, além de planejamento e abertura das ruas.
Com a crise do sistema da borracha em 1920, ocasionado pela queda 
do preço no mercado internacional e diminuição da produção da borracha 
acreana, várias foram as mudanças ocasionadas na economia local. Ocorreu 
um redimensionamento da composição social urbana (OLIVEIRA, 1983, 
p. 82), com a queda do preço da borracha parte do grande contingente po-
pulacional ligado a essas atividades abandonou o Território acreano. A po-
pulação que ficou, estabeleceu-se em função da administração pública, do 
comércio e, parte, em atividades de produção extrativa e de beneficiamento.
As andanças das populações pelo território acreano vão se confi-
gurar como fruto dessa “liberação”. O trabalhador começa a arcar com 
o próprio provimento de víveres e custo de produção, através do cultivo 
em redor de seu tapiri. As forçasde trabalho não mais eram represadas e 
direcionadas para a produção da borracha. Dentre as alterações ocorridas 
nos seringais destacam-se a diversificação da produção, e o ritmo imple-
mentado. O tempo de trabalho e sua liberdade de movimento refletiram 
diretamente na migração para fora dos seringais, um sinal de excedente 
populacional; e mudança das relações de força de trabalho entre os que 
ficaram no seringal e os seringalistas. 
Não há grandes alterações na economia acreana até a década de 40, 
quando as atividades orientada pelo capital mercantil, em um novo esforço 
de produção extrativa, retomaram a extração da borracha. Nesse período, 
Rio Branco contava com cerca de onze mil e noventa e três habitantes, ou 
seja, metade do contingente populacional que havia nela na década de 1920.
A estrutura que antes era implementada de forma social rural “co-
letora”, representada pelos coletores de látex e castanha, no início do sé-
culo XX, foi modificada com o acréscimo da agricultura de subsistência, 
que não conseguia suprir sequer um terço do mercado interno. 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
Balsa de pélas de borracha da Casa Aviadora A Limitada. Década de 1950.
Fonte: Acervo Digital: Memorial dos Autonomistas.
A partir de 1940, com a crescente urbanização, várias foram as 
modificações ocasionadas pelas novas conjunturas político-econômicas 
que eclodiram no Acre. Os problemas do êxodo rural, a deficiência na as-
sistência sanitária e social, a falta de crédito para o desenvolvimento das 
atividades extrativistas da borracha e castanha foram fatores importantes 
que influíram na modificação do ambiente acreano e seus sistemas de fo-
mento, o que refletiu diretamente na Capital.
A luta pelo progresso levou o Brasil na década de 1960 a, teorica-
mente caminhar para a reforma agrária na Amazônia, onde pudesse haver 
um desenvolvimento das relações e resolução das tensões suscitadas pela 
mudança das estruturas industriais brasileiras e pelos equilíbrios sociais 
decorrentes do desenvolvimento – o que não ocorreu.
O crescimento de Rio Branco, capital do Estado do Acre, que já 
vinha alimentando-se do deslocamento populacional desde a década de 
1960, foi nutrido tanto pelas populações expropriadas dos seringais como 
pelas populações que, em face às condições difíceis vividas nos seringais, 
precisavam se deslocar de lá para sobreviver. Rio Branco tornou-se o cen-
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
tro receptor dos contingentes populacionais recentes do Acre, das gentes 
retirantes da zona rural que também foram obrigadas a sair por circuns-
tâncias como a interrupção do aviamento, a desistência dos responsáveis 
pelos seringais, as pressões dos credores, a queda do preço da borracha, 
dentre outros.
A reforma agrária teria um peso decisivo no modo de atuação do 
governo e das relações com o mercado, contudo a política aplicada per-
sistiu numa via de “modernização mais conservadora”, com a persistên-
cia do latifúndio e a configuração de um sistema político mais autoritário 
(PAULA, 1991). As políticas propostas para o projeto de desenvolvimen-
to foram principalmente para exportação. O mercado e o Estado buscaram 
compensar suas falhas pela intervenção mútua, sendo que as intervenções 
públicas do Estado foram no setor de comunicações e rodovias, aparatos 
básicos para a atuação do mercado gerador de lucros e dividendos.
No caso acreano da reforma agrária, Nascimento (1996) afirma que 
ela se deu ao contrário. Na década de 1980 havia maior quantidade de 
propriedades latifundiárias de grande porte que nas décadas proximamen-
te anteriores – o que leva a pensar a estruturação do governo para a ex-
pansão do capital. Não foi diferente no restante da Amazônia, o que hou-
ve foi uma subdivisão dos minifúndios em relação às décadas anteriores.
1.6 Demografia da Capital
A população riobranquense atualmente representa cerca de 46% da 
população total do Estado, sendo que, desse contingente, 89,4% concen-
tra-se na cidade. De acordo com o Censo Demográfico de 2000, a popula-
ção total do município é de 253.059 habitantes, o que representa um cres-
cimento populacional de 3,40% ao ano, no período de 1991 a 2000. Esse 
índice é muito elevado se comparado à taxa de crescimento demográfi-
co brasileira, que ficou em torno de 1,3% ao ano no mesmo período; mas 
também é representativo, quando comparado ao crescimento ocorrido na 
Capital durante a década de 1980, que era de 4,35% ao ano.
Na década de 1970, 42,3% da população riobranquense residia na 
área urbana; na década de 1980, esse percentual passou para 79,38%; e, 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
na década de 90, até os dias atuais, as estimativas dão conta de que a po-
pulação urbana seja 89,4%. As justificativas apresentadas para esse incre-
mento populacional são as de que: houve a incorporação na zona urbana 
de áreas que em censos anteriores eram consideradas rurais; há um êxodo 
quase constante em direção à cidade; e o próprio crescimento vegetativo 
nas áreas urbanas de Rio Branco. 
Populações de Rio Branco e do Acre - Censos de 1940 a 2000.
Ano
Rio Branco Acre Participação de 
Rio Branco em relação 
à população total (%)Urbano Rural Total Urbano Rural Total
1940 4.945 11.093 16.038 14.138 65.630 79.768 20,09
1950 9.371 18.875 28.246 * * 114.755 24,613
1960 17.104 30.333 47.437 17.620 63.753 158.852 29,86
1970 35.578 48.399 83.977 59.307 155.992 215.299 39,00
1980 87.646 29.467 117.113 132.174 169.432 301.605 38,82
1991 167.882 19.287 187.169 258.520 159.198 417.718 44,81
1996 201.347 27.510 228.857 351.271 168.322 438.593 47,33
2000 226.298 26.761 253.059 370.672 187.259 557.931 45,36
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
* Não foram encontrados dados precisos, motivo da omissão.
Na década de 1970 a população riobranquense era predominante-
mente jovem, seguindo a característica brasileira da época, com altos ín-
dices de fecundidade. As crianças e adolescentes (de 0 a 14 anos) repre-
sentavam 44,82% da população do município; a população jovem e adul-
ta (de 15 anos acima) representava 55,18%.
De acordo com o último Censo (IBGE - 2000), a população de 
crianças e adolescentes era de 34,7%, enquanto a de jovens e adultos re-
presentava 65,13%, o que representou um aumento na parcela de jovens 
e adultos. A estabilização e a diminuição de fecundidade levaram a um 
amadurecimento na população riobranquense.
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
Evolução dos grupos de idade em Rio Branco - 1970/2000.
Ano
Grupos de Idade %
0-14 15-64 65 e +
1970 44,82 52,82 2,36
1980 43,71 53,59 2,70
1991 44,11 52,74 3,15
2000 34,87 61,36 3,77
Fonte: IBGE.
Outro dado que não pode passar despercebido é a relação por gru-
po de idade e sexo entre 1970 e 1991, é o fato do envelhecimento popu-
lacional estar intimamente ligado ao fato de as mulheres também estarem 
vivendo mais. Com exceção da faixa entre 60 anos ou mais, em todas as 
outras, a quantidade de mulheres tornou-se maior em relação a número de 
homens, na década de 1990; quadro invertido se analisado e comparado 
em relação aos apresentados nas décadas de 1970 e 1980 onde os homens 
eram a maioria em todas as categorias.
População por grupo de idade e sexo - 1970/1991.
Grupo de 
Idade
1970 1980 1991
Homem Mulher Total Homem Mulher Total Homem Mulher Total
0-19 26.018 23.551 49.569 32.337 32.247 65.584 47.379 48.480 95.859
20-59 16.456 14.586 31.042 23.823 23.495 47.318 40.052 41.896 81.948
60 e + 1.381 1.087 2.468 2.663 2.305 4.968 4.860 4.502 9.362
Total 43.855 39.224 83.079 58.954 58.149 117.713 92.291 94.878 187.169
Fonte: IBGE.
Durante todo o trabalho se falará em bairro e em bairros, mas é 
certo que não existem bairros em RioBranco, ao menos de acordo com a 
conjuntura para constituição legal dos mesmos, com necessidades de de-
limitação formal, decreto de criação e formalização. Todavia, para que 
não seja preciso “inventar” um nome ou outra designação que não seja 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
corriqueira ou acertada para a realidade vigente, se falará de onde há ha-
bitações, convivências, sociabilidades e, enfim, a transformação do espa-
ço em local como sendo o “bairro”, com a consciência de que, nas pala-
vras de Marco Antônio Otsubo:
Rio Branco tem hoje uma particularidade, que não existem bair-
ros na sua forma legal. Um bairro sob o ponto de vista legal, tem 
que ter delimitações físicas, preferencialmente, e que essas delimi-
tações estejam embasadas em algum documento. No caso de Rio 
Branco, a gente não tem bairros definidos com seus limites físicos. 
O que existe hoje dentro da cidade como um todo, são as defini-
ções populares convencionadas e criadas pelos próprios morado-
res. A partir de uma criação de um loteamento, seja ele oficial ou 
não, regular ou irregular. O morador tende a tratar aquilo como seu 
bairro. Então, às vezes, um loteamento que faria parte de um bair-
ro, que é um contexto maior, uma região que tem característica se-
melhante em torno, ele passa a ser considerado um bairro. Dessa 
forma, Rio Branco tem esse número de bairros, considerado absur-
do para muitas capitais (OTSUBO, 2005).
Vista aérea da área central de Rio Branco - 1980.
Fonte: Acervo digital IBGE.
37SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
C a p í t u l o I I
AS POPULAÇÕES RURAIS EXPROPRIADAS 
E A PERIFERIA ESTENDIDA
2.1 A Expansão da Fronteira
A localidade está contida em um lugar maior e esse passa por conjecturas políticas, econômicas, interesses mercantis e pro-jeções de analogias com fins, ora especulativos, ora cogniti-
vos, em grande parte, oscilando conforme os grupos que estão no controle. 
Deve-se ressaltar que qualquer atividade conflituosa ou ainda, que condu-
za a um êxodo, impelindo a uma migração afeta não apenas o local de saí-
da, mas também, o curso, o motivo, as circunstâncias e o local de chegada.
As migrações constituem-se em marcos na vida dos indivíduos, à 
medida que estabelecem mudanças que provocam rupturas e conflitos. Ao 
mesmo tempo, apontam para a perspectiva de novos horizontes. É preci-
so estar atento para o fato de que a mudança espacial implica em outras 
mudanças na vida das gentes migrantes, relacionadas a novas dinâmicas 
sociais, diferenças culturais e alteração de hábitos no cotidiano, mudan-
ças que também ocorrem na esfera das relações interpessoais, além das 
rupturas, distanciamentos e traumas decorrentes de situações desse tipo.
Ao ter em comum situações de mudanças em suas trajetórias de 
vida, essas pessoas passam por rupturas, adaptações e resistência aos 
novos espaços e culturas, modificando no próprio processo de mudan-
ça espacial, impregnado de rupturas, a reconstrução de sua identidade 
individual e coletiva, formando-se gradativamente uma memória social 
(FENTRESS, WICKHAM, 1992). Todo este processo envolve laços afe-
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
tivos, alegrias, tristezas, conquistas, perdas e, sobretudo, vivências, não 
mais da mesma forma que dantes, mas em um outro espaço, em um ou-
tro tempo, em uma outra perspectiva, circunstanciados no desenvolver de 
afinidades e divergências do que se faz no constituir do local.
Para os migrantes, a relação entre o passado e o presente remete a 
ganhos e perdas vivenciados em suas trajetórias. O passado que muitas 
vezes está associado, em parte, a dificuldades, limitações, escassez e es-
tagnação, considerando o quadro cristalizado em seus locais de origem, 
também representa aspectos positivos, envolvendo laços familiares, há-
bitos e práticas do cotidiano, tradições e manifestações populares, a vida 
comunitária, o lazer e a diversão, a riqueza da cultura local. No sentido 
dado por Carlos E. Reboratti: Fronteira é “a área de transição entre o terri-
tório utilizado e povoado por uma sociedade e outro que, em um momen-
to particular do desenvolver dessa sociedade e de seu ponto de vista, não 
tenha sido ocupado de forma estável, ainda que já tenha sido utilizado” 
(REBORATTI, 1990, p. 4) e sua expansão se dá quando a terra, já quase 
totalmente ocupada, transforma-se de um simples elemento de produção 
em mercadoria, e como uma das consequência aparece uma imigração 
que não apenas ocupa os espaços vazios, como também “obriga” os pio-
neiros dessa área a migrar (REBORATTI, 1990, p. 22).
Há uma imensidão de postulações representativas nas vozes desses 
homens e mulheres. Os discursos interagem entre si, ora por intertextuali-
dades, ora por interdiscursividade (BAKHTIN, 1992). E a tentativa de fa-
zer algum tipo de análise, por si só já leva o historiador a mudar a si e ao 
conteúdo que se propõe a estudar porque, segundo Thompson:
A natureza da memória coloca muitas armadilhas para os incautos 
[...] oferece[m] também recompensas inesperadas para um historia-
dor que esteja preparado para apreciar a complexidade com que a 
realidade e o mito, o “objetivo” e o “subjetivo”, se mesclam inex-
tricavelmente em todas as percepções que o ser humano tem do 
mundo, individual e coletivamente (THOMPSON, 1992, p. 179).
A expansão da fronteira acreana está intimamente ligada ao au-
mento populacional e aos problemas por ele produzidos; o nascente mer-
cado de terras aos poucos foi se estruturando.
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
 Essa expansão é problemática, envolta em violência e dor; as áreas 
cultivadas pelos antes extratores e agora colonos é apropriada pelos go-
vernantes para produção que tenha maior rendimento, uma vez que poucas 
eram as pessoas que tinham o título das terras. Assim, não apenas os “es-
paços vazios” são retomados e preenchidos, mas há a expulsão dos velhos 
pioneiros que os obriga a migrar. Com a presença do médio e grande capi-
tal agropecuário no Acre, a população expulsa do interior, ou que abando-
nava as terras ocupadas, procurava oportunidades de emprego e negócios, 
indo para a periferia das cidades. Para se ter em conta, segundo o Anuário 
Estatístico Estadual (1977), a renda produzida pela pecuária superava a da 
borracha. Mesmo os seringais mais produtivos sofriam as constantes pres-
sões para serem transformados em fazendas de criação de gado. 
Nas décadas que se seguiram ao pós-guerra são vistas as muitas 
facetas dos interesses políticos e econômicos do Centro-Sul para com a 
Amazônia, e para com o Acre especificamente. O sistema de comunica-
ções foi melhorado, as rodovias abertas, o Território Federal do Acre foi 
transformado em Estado, no ano de 1962, o que deu mais autonomia a 
ele. A própria política de colonização oficial, na década de 1970, produziu 
impacto decisivo sobre o isolamento em que o Acre ainda se encontrava, 
dando continuidade a uma política de integração, para beneficiar ao capi-
tal que estava se estabelecendo no Acre.
Grileiros, “paulistas” e especuladores compraram terras a um pre-
ço extremamente baixo. O termo “paulistas” é utilizado nesta obra para 
designar os migrantes do Centro-Sul do país que adquiriram grande parte 
das terras acreanas para transformá-las em fazendas de criação de gado. 
Quando das primeiras expulsões em algumas áreas, ao perguntar aos en-
trevistados quem os retirara das terras, estes respondiam que havia sido 
os paulistas. Com o passar do tempo o termo “paulistas” passou a ser uti-
lizado para designar os migrantes envolvidos em conflitos nos seringais 
acreanos durante a segunda metade do século XX.
A expansão territorial do Acre se deu de forma diferenciada entre 
os Vales do Juruá e Purus. Enquanto neste as BR’s 364 e 317 favoreciama intensificação do contato com frentes demográficas externas; naque-
le pairou o isolamento, falta de estradas, e a inacessibilidade para imi-
grantes, isso fez com que o aumento populacional e a concentração de 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
novas fontes de produção permanecessem estreitamente aglutinadas no 
leste acreano.
O propagandeado futuro fator de desenvolvimento do Acre, a pe-
cuária extensiva, não alcançou seu objetivo, o governador Wanderlei 
Dantas e seus auxiliares não conseguiram enriquecer o Acre com o pro-
gresso e o desenvolvimento. Antes, a concentração de terras nas mãos 
de uns poucos, a crescente derrubada das florestas para transformar em 
pastos, a venda das toras por madeireiras vindas ao Acre e o êxodo rural, 
são mais visíveis como consequência da política implementada e do ca-
pital especulativo, que do alardeado progresso acreano. Em conseguin-
te, as gentes foram migrando na direção campo-cidade, e assim vão se 
firmando os “bolsões” populacionais ao redor das cidades e às margens 
das rodovias. 
Nas cidades os comércios e as indústrias tiveram a mão-de-obra 
necessária para produzir, embora não “qualificada”. É certo que durante 
a década de 1970 e início da de 1980, houve um aumento substancial da 
quantidade de indústrias e casas de comércio acreanas, além de o Esta-
do tornar-se o principal empregador. Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Sena 
Madureira, Xapuri e outras cidades, na década de mil novecentos e vinte 
experimentaram uma urbanização por causa da borracha, tiveram ao fim 
dos anos cinquenta um aumento considerável em suas populações e nos 
anos oitenta, viram o inchamento de suas periferias pelos que foram ex-
pulsos de suas terras.
Analisando os dados do IBGE nos censos de 1960 e 1970, percebe- 
se que a população quase que dobrou se comparada ao número de habi-
tantes. Na década de 1960 eram 47.437 habitantes, na década de 1970 a 
população riobranquense era formada por 48.399 habitantes na zona rural 
e 35.578 habitantes na zona urbana, totalizando 83.977 habitantes.
Na década de 1970 a população riobranquense era formada por 48. 
399 habitantes na zona rural e 35.578 habitantes na zona urbana, totali-
zando 83.977 habitantes. A população quase que dobrou se comparada ao 
número de habitantes na década de sessenta que era de 47. 437 habitantes 
(IBGE - Censos 1960 e 1970).
Nesse período de andanças das populações amazônicas, com cerca 
de 77% da população migrando, ocorreu também um fluxo populacional 
41
Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
para a capital acreana. De acordo com estudos realizados pela SUDAM, 
a migração interna de Rio Branco na década de 60/70 foi marcada pela 
procedência regional e local, com cerca de 60% da população migrante; e 
os outros 40% provenientes de outras localidades do país, com predomi-
nância nordestina – 14% provenientes do estado do Ceará (SUDAM apud 
OLIVEIRA, 1983). 
Migrações em Rio Branco entre as décadas de 1960 e 1970.
Fonte: SUDAM. 
A população que foi atingida pela penetração do capital sulista nos 
anos de 1970, já residia há várias décadas nas terras acreanas. Os dados 
obtidos em uma pesquisa efetuada pelo Centro de Desenvolvimento e 
Planejamento Regional (CEDEPLAR) no ano de 1978, em Rio Branco, 
revelaram que 45% dos chefes de família que migraram para Rio Branco 
chegaram a menos de 10 anos, sendo a intensidade do fluxo migratório 
expressa em concomitância com as políticas públicas de acumulação de 
capital. Ou seja, o próprio CEDEPLAR vincula a migração dos chefes de 
família e as andanças populacionais às políticas públicas implementadas 
no período (OLIVEIRA, 1983, p. 91). 
De acordo com dados levantados pela SUCAM, a relação entre a 
quantidade de bairros e número de moradores fora do núcleo central nos 
anos de 1975 e 1979, demonstra a expansão fronteiriça ocorrida em Rio 
Branco; em 1975 existiam apenas 19 bairros fora do núcleo central, e, 
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Reginâmio Bonifácio de Lima
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o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
quatro anos depois, em 1979, já se contabilizavam 26 bairros. Quanto à 
população desses locais, o número era de 18.176 pessoas em 1975, e, em 
1979, passou para 53.935, o que totalizava um acréscimo de 296,7% em 
apenas quatro anos.
Cidade de Rio Branco - Bairros e Número de Moradores
Bairros 
(fora do Núcleo Central)
Número de Moradores
1975 1979
Aeroporto 455 2.219
Abraão Alab 603 1.438
Aprendizado (Palheiral) 476 3.935
Bahia 1.240 3.059
Baixa da COHAB 473 1.093
Castelo Branco - 1.882
Cadeia Velha I - 547
Cidade Nova 2.055 5.245
Estação Experimental 435 1.227
Guiomard Santos 2.033 3.304
Iniciação II 460 1.073
Vila Ivonete 448 698
Jardim Tropical - 766
Jardim São Francisco - 385
Mascarenha de Moraes 511 1.551
Nemmaia - 427
Olaria João Vila 1.122 3.020
Quinze 1.707 4.055
Quarto Batalhão Especial de Fronteira 220 1.089
Redenção 1.407 2.471
Santa Terezinha 1.393 4.043
Seis de Agosto 1.806 4.926
Santa Quitéria - 723
São Francisco 861 2.358
Triângulo 471 1.387
Oito Placas - 1.017
Fonte: Levantamento SUCAM/Acre, apud OLIVEIRA, 1983, p. 90.
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
Em 1976 ao analisar o contingente e as condições de existência da 
população urbana em Rio Branco, Fernando Garcia de Oliveira registrou 
a existência de oito bairros pobres, “que diferem dos demais bairros da 
cidade” (OLIVEIRA, 1978). Para ele, o fluxo migratório contribuiu para 
o crescimento da cidade, afirma ainda que o incremento desse fluxo foi 
grande se comparadas às proporções com que se deu e os níveis popula-
cionais amazônicos em específico, uma vez que se a população riobran-
quense no período fosse de quinhentos mil habitantes não se teria sentido 
de forma tão incisiva o fluxo migratório. Dentre os bairros pobres citados 
encontram-se os loteamentos não totalmente normalizados: Vila Reden-
ção, Papouco, São Francisco e Aeroporto Velho, além de quatro outros 
resultantes da intervenção direta das populações chegantes à capital, que 
são: Cadeia Velha, Cidade Nova, Bahia e Palheiral.
A cidade se distribuiu espacialmente nas diversas direções e os 
bairros periféricos são parte desse processo de alargamento do períme-
tro urbano.
As Colônias Agrícolas do Aviário e São Francisco formaram-se a 
partir de bolsões pobres. Como eles, os bairros mais antigos como Base e 
Papouco (Dom Giocondo) tiveram um crescimento acelerado no número 
de seus habitantes, bem como, o surgimento do bairro Cidade Nova, na 
outra margem do rio, em terras pertencentes à Marinha. Também, como 
uma espécie de continuação do tradicional bairro Quinze, apareceram os 
bairros do Triângulo Velho e Triângulo Novo, junto com a Cidade Nova e 
bairros adjacentes. O que na década de 1970 era um alagado da Marinha, 
foi povoado e dado o nome de Cidade Nova, este tornou-se o bairro mais 
populoso da cidade. É provável que seu excepcional crescimento deva-se, 
em parte, a sua localização próxima às rodovias que dão acesso a Brasi-
léia, Xapuri, Porto Velho, localidades onde a expulsão dos trabalhadores 
rurais foi crítica e incisiva.
2.2 As Formações e Ampliações da Periferia
O inchamento da cidade de Rio Branco se deu como resultado da 
urbanização acentuada, intensificando as ampliações dos bairros periféri-
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Reginâmio Bonifácio de Lima
SOBRE TERRAS E GENTES: 
o Terceiro Eixo Ocupacional de Rio Branco (1971-1982)
cos e os problemas sociais na área urbana. Como consequência do acele-
rado crescimento, os problemas sociais se acumularam, já que Rio Bran-
co não teve suporte para absorver o contingente populacional que se des-
locava da zona rural. Marginalidade, desemprego, falta de moradia, den-
tre outros, foram constatados como desdobramentos tão palpáveis quanto 
dramáticos da realidade urbana desencadeada pelas mudanças sensíveis

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