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2009 Prática Educativa da Língua Portuguesa Ligia Regina Klein Maria Auxiliadora Cavazotti Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. © 2004-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza- ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. K672 Klein, Ligia Regina; Cavazotti, Maria Auxiliadora. / Prática Educativa da Língua Portuguesa. / Ligia Regina Klein, Maria Auxiliadora Cavazotti. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. p. 252 ISBN: 978-85-387-0374-7 1. Língua Portuguesa. 2. Prática Educativa. 3. Ensino-Aprendi- zagem. I. Título. CDD 808.0469 Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Jupiter Images / DPI Images Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein Pós-doutora na área de concentração: Filosofia e História da Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Uni- camp), doutora em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestre em Educação: Histó- ria, Política, Sociedade pela PUC-SP e graduada em Pedagogia e Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pesquisadora sobre a histori- cidade das práticas pedagógicas escolares e relações com as práticas so- ciais que as instituem. Maria Auxiliadora Cavazotti Doutora e Mestre em Educação, História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Graduada em Letras Português/Francês pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas (FAFI). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Fundamentos da Educação. Atuando principalmente nos seguintes temas: epistemologia genética de Jean Piaget, marxismo, construtivis- mo piagetiano. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sumário As quatro práticas do ensino da Língua Portuguesa ............................................................. 13 Leitura e interpretação de textos ....................................... 23 Texto com conteúdo mais explícito .................................................................................... 25 Texto que exige um nível mais profundo de interpretação ....................................... 26 Encaminhamentos importantes na prática de leitura e interpretação .................. 27 A prática de produção de textos ........................................ 35 Produção oral .............................................................................................................................. 35 Produção de texto escrito ...................................................................................................... 38 Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com representação ..................................................45 Trabalhando com as relações letra/fonema ................... 55 Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com o nome ..................................................... 65 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com discriminação de palavras ................. 75 Trabalhando com ditado e cópia ........................................ 85 Primeiros contatos com a escrita ........................................ 95 Primeiros contatos com o texto escrito ............................................................................. 95 Primeiras tentativas de escrita .............................................................................................. 96 Procedimentos a partir de um domínio mínimo da escrita pelos alunos ......................103 Prática de leitura ......................................................................................................................103 Prática de produção do texto escrito ...............................................................................104 Trabalhando com a direção da escrita, a segmentação e outros recursos gráficos ..................... 111 Direção da escrita ....................................................................................................................111 Segmentação ............................................................................................................................112 Recursos gráficos .....................................................................................................................112 Trabalhando com estrutura textual e unidade temática .................................................123 Estrutura textual ......................................................................................................................123 Unidade temática ....................................................................................................................126 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: coesão e coerência.................................................................135 Recursos de coesão referencial ..........................................................................................136 Recursos de coesão sequencial ..........................................................................................137 Coesão por conexão ...............................................................................................................138 Coerência ...................................................................................................................................140 Trabalhando com os elementos textuais: concordância e regência ......................................................149 Sintaxe de concordância.......................................................................................................149 Sintaxe de regência ................................................................................................................151 Trabalhando com os tipos de texto: textos literários ........................................................................163 Trabalhando com os tipos de texto: textos informativos e epistolares ......................................181 Textos informativos ................................................................................................................181 Textos epistolares ....................................................................................................................185 Trabalhando com os tipos de texto: textos publicitários ................................................................193 Propaganda ou anúncio .......................................................................................................195 Cartaz e folheto ........................................................................................................................196 Classificados ..............................................................................................................................197 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com narração, descrição e dissertação ........................................................205 Narração .....................................................................................................................................205Descrição ....................................................................................................................................207 Dissertação ................................................................................................................................208 Trabalhando com o erro do aluno: reescrita do texto....................................................................219 Sistematização do gráfico ....................................................................................................225 Gabarito .....................................................................................231 Referências ................................................................................245 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Apresentação A prática educativa do ensino de Língua Portuguesa, desde as séries iniciais, cons- titui um tema bastante extenso, seja pela sua própria complexidade, seja pelas várias perspectivas atualmente em debate. Sem pretender esgotar o assunto, este livro apresenta um conjunto de princípios norteadores da prática, sob o ponto de vista do letramento. A prática pedagógica apoia-se, em última instância, no tipo de resposta que se dá a uma questão de fundo: qual é o objetivo do ensino da Língua? A aborda- gem que se propõe neste material parte da seguinte resposta: produzir o leitor/ escritor competente, capaz de fazer o uso adequado dos recursos discursivos – nas modalidades oral e escrita – para, de forma fluente, interagir linguistica- mente com outros sujeitos. As unidades que constituem esta proposta tomaram tal objetivo como norte, bus- cando orientar o professor na realização de práticas educativas que não se limitem ao domínio técnico do código, mas contemplem a compreensão dos mecanismos e recursos da estrutura textual em cada situação discursiva, isto é, considerando o contexto interno ao texto e o contexto mais amplo de produção do texto. A proposta, que se constitui em dezenove capítulos, trata, num primeiro momen- to, das questões mais específicas do trabalho com o código e, em seguida, desen- volve conteúdos relativos à estrutura e à articulação textual. Cabe lembrar, entre- tanto, que tal apresentação em nenhum momento pretende sugerir um trabalho que possibilite a dissociação de ambos os aspectos da produção escrita. Tanto é assim, que o primeiro tema já estabelece, como fundamento, que toda unida- de pedagógica seja constituída por quatro práticas integradoras, a saber: leitura/ interpretação de textos, produção de textos, análise linguística e atividades de sistematização de conteúdos específicos. Não se trata, evidentemente, de um manual de receitas. Antes, buscamos oferecer um conjunto de reflexões, com sugestões práticas, visando incentivar o professor a criar as suas próprias estratégias de ensino–aprendizagem. Esperamos que este material contribua para sua formação teórico-prática, subsi- diando de modo satisfatório suas atividades pedagógicas. Ligia Regina Klein e Maria Auxiliadora Cavazotti Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein Ao iniciarmos esta lição sobre “As quatro práticas do ensino da Língua Portuguesa” vale a pena procedermos a uma pequena reflexão sobre a unidade teoria e prática. No exercício pedagógico – assim como em outras áreas – é muito comum verificarmos que se faz presente certo embate entre teoria e prática. Não raro ouvimos expressões do tipo “a teoria, na prática, é outra” ou “na teoria está tudo muito bonito, mas, na prática é muito diferente”. Essas expressões revelam uma compreensão de que teoria e prática são áreas autônomas, independentes uma da outra. Tal compreensão provavelmente se origina da frustração dos professores em situações em que a teoria não orientou devidamente a atividade prática e, por consequência, não se obteve o resultado esperado. Essa diferença entre o resultado esperado e o resultado realmente alcançado pode estar localizada em diferentes variantes da relação teoria e prática, entre as quais poderíamos citar – sem esgotar as possibilidades – a inadequação (total ou parcial) da teoria formulada, a inadequação entre a teoria proposta e as atividades propostas ou realizadas, a não compreensão suficiente, pelo professor, da teoria proposta ou, ainda, a não consideração, na proposta teórica, de variantes presentes na situação prática. A frustração quanto aos resultados esperados deveria levar a uma consistente e adequada análise da relação teoria e prática naquele contexto concreto. Entretanto, é mais frequente uma posição de repulsa em relação à teoria, como se esta necessariamente fosse produto de alguém que não conhece “a prática”. É evidente que há formulações teóricas descabidas, bem intencionadas, mas inadequadas, bem direcionadas, mas incompletas. Enfim, algo que alguém produz como teoria não necessariamente dará conta das situações práticas. De todo modo, é essa a função da teoria: analisar exaustivamente os objetos e situações práticas, apreendê-los nos seus elementos e rela- ções mais relevantes e formulá-los teoricamente, para que outros sujeitos não precisem – necessariamente – passar pela experiência empírica de realizar o mesmo percurso de descoberta de um determinado caminho. Vamos exemplificar de uma forma bem simples: se alguém já conhece o As quatro práticas do ensino da Língua Portuguesa Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 14 Prática Educativa da Língua Portuguesa trajeto para um determinado lugar, porque já realizou a experiência empírica de – “quebrando a cabeça”, indo e vindo, perguntando aqui e acolá, errando, reco- meçando etc. – encontrar o tal lugar, é muito generoso que ele elabore um mapa do trajeto e, assim, facilite a vida dos que precisam chegar ao mesmo lugar. Esse “mapa” é uma formulação teórica, abstrata, do caminho a ser seguido. Munido dessa “teoria” – que nada mais faz que expressar a experiência prática do outro – qualquer pessoa terá mais facilidade de realizar o percurso, podendo livrar-se da perda de tempo e dos incômodos de percurso feito às cegas. É óbvio que a paisagem em que se desenvolve o percurso poderá sofrer pequenas ou grandes alterações. Como os elementos dessa paisagem foram utilizados como referên- cias, no suposto mapa, essas alterações – se pequenas – em nada prejudicarão a eficácia orientadora do mapa; se, no entanto, tais alterações forem de certa relevância poderão exigir algumas adaptações naquele instrumento orientador; ou ainda se ocorrerem, não meras alterações, mas substancial transformação do espaço, o mapa terá perdido seu objetivo e haverá necessidade de produção de um novo mapa. Observemos que o mapa (teoria) – que nasceu da experiência prática de um sujeito – presta-se a orientar a ação de outro sujeito, o qual, por sua vez, livrar-se-á das dificuldades de enfrentar um caminho desconhecido. O percurso (prática) desse segundo sujeito será enormemente facilitado pelo auxí- lio da experiência alheia, teorizada – nesse exemplo – em forma de um mapa. Do que foi dito acima, é possível constatarmos que há uma união indissolúvel entre teoria e prática, uma vez que toda teoria é “formulação teórica sobre uma experiência prática” que visa orientar a atividade prática de outros sujeitos. Por isso pode-se dizer a expressão: a relação prática-teoria-prática. Evidentemente,toda elaboração teórica tem a prática como ponto de parti- da. A prática, por sua vez, tanto pode realizar-se por descoberta empírica, sem a orientação da teoria, como pode apoiar-se na teoria e, desse modo, evitar pro- blemas que já foram resolvidos por outro sujeito. Alertemo-nos, entretanto, que as condições práticas nem sempre são as mesmas, sofrem variações e, às vezes, transformações profundas. Daí porque as formulações teóricas precisem, no primeiro caso, sofrer adaptações em relação a determinadas situações concretas. Essas formulações oferecem orientações gerais que nos auxiliam no enfrentamento prático das situações cotidianas, mas não é um manual, com regras rígidas, fechadas e que se aplicam igualmente a qualquer contexto. No segundo caso, em face de transformações profundas, as formulações teóricas devem ser reelaboradas à luz dos novos elementos e con- dições postos pela nova configuração da realidade concreta. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br As quatro práticas do ensino da Língua Portuguesa 15 Recomenda-se, pois, que a leitura dessas formulações sobre encaminhamen- tos práticos não seja desconectada das teorizações sobre o objeto do ensino da língua portuguesa e, também, que o professor esteja atento à necessidade de adaptações em cada situação concreta. Uma importante preocupação do professor é conhecer bem (teórica e pra- ticamente) cada objeto do processo de ensino-aprendizagem e dele extrair o objetivo e a orientação prática necessários à realização exitosa desse processo1. O objetivo do ensino da língua é propiciar ao aluno, o domínio mais amplo e rico da linguagem verbal, como um recurso fundamental de interação humana. Uma vez que o uso da linguagem verbal realiza-se na forma de discursos, cuja unidade material denominamos de “texto”, tal objetivo implica promover a ca- pacidade do aluno em elaborar textos de qualidade – seja na modalidade oral, seja na escrita – explorando ao máximo os recursos linguísticos para atingir seu intento comunicacional em diferentes contextos. Considerando que para a elaboração de um bom texto não basta identificar os recursos linguísticos, é necessário entender como eles se articulam no inte- rior do texto, no processo de constituição de sentido. Somente no contexto do texto (em duplo sentido, ou seja, no contexto interno ao texto e no contexto em que o texto é produzido) é possível observar e compreender a função e as possibilidades de emprego desses recursos. Em outras palavras, os textos têm a faculdade de apresentar os recursos da língua (recursos do código, recursos semânticos, recursos de articulação) em situação real de uso. Somente a análise desses recursos em situação de uso real permite sua com- preensão contextualizada, promovendo um processo de ensino-aprendizagem que supera a improdutiva memorização de regras gramaticais abstratas, característica do ensino dito tradicional. Por essas razões, o texto é o ponto de partida e de chega- da do processo de ensino da língua, em qualquer momento da educação básica. Para trabalhar com o texto desde o início do processo de aquisição da escrita até as séries finais da Educação Básica, propõe-se o desenvolvimento articulado de quatro práticas, a saber: leitura e interpretação de textos (orais e escritos), produção de textos (orais e escritos), análise linguística de textos e, finalmente, atividades específicas de sistematização de conteúdos específicos. Por meio da repetição sistemática dessas quatro práticas é possível desen- volver qualquer conteúdo do ensino da língua. Cabe ressaltar que tal repetição 1 A reflexão acima foi extraída, na íntegra, de KLEIN, L. R. Considerações Sobre a Unidade Teoria-Prática. Curitiba: UFPR, 2008 (artigo elaborado para fins didáticos, para o Curso de Pedagogia da UFPR). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 16 Prática Educativa da Língua Portuguesa deve ser realizada para diversificar constantemente as estratégias, situações e materiais para sua realização, a fim de evitar uma possível monotonia nas ativi- dades pedagógicas. No caso da leitura e interpretação (lembrando que se faz, também, interpre- tação de textos orais), bem como da produção de textos (orais e escritos), a va- riação pode se dar pela escolha e proposição de diferentes tipos de textos (cor- respondências, receitas, histórias, diários, anedotas, poemas, letras de música, informações científicas, informações em geral, contos, lendas, fábulas etc.), de diferentes porta-textos e diferentes modalidades de discurso oral (livros, jornais, revistas, panfletos, placas, filmes, debates, narrativas, dissertações etc.), de dife- rentes situações e modalidades (individual, coletiva etc.), com diferentes objetivos (fruição, informação, em situação de jogo, de pesquisa, de estudo, de registro mnemônico, de correspondência etc.). No caso da análise linguística e das atividades de sistematização, além da variação dos conteúdos enfatizados em cada momento, também é possível (e necessário) diversificar as estratégias empregadas. Nesse caso, os jogos e ativi- dades lúdicas vão desempenhar um importante papel, permitindo a repetição de conteúdos em contextos diferentes e sempre motivadores. É importante frisar que as quatro práticas apontadas realizam-se de forma articulada de tal maneira que a abordagem dos conteúdos não se faça de modo esquemático ou por etapas. Embora em determinados momentos um ou outro conteúdo seja abordado de forma mais destacada, isso não significa que uma atividade exclua o trabalho com outros aspectos da língua escrita. Na verdade, as quatro práticas mencionadas foram eleitas justamente porque permitem tra- balhar, ao mesmo tempo, vários conteúdos articulados no texto: a oralidade, a noção de representação, a relação oralidade/escrita, o reconhecimento e as si- tuações de uso dos recursos básicos da escrita (tais como grafia, nome e valor fonético das letras e suas diferenças, direção da escrita, nome e função no texto dos sinais de pontuação e acentuação e dos demais recursos gráficos), os recur- sos de estruturação do texto (coesão, unidade temática etc.), as determinações do contexto de produção do texto e de leitura deste na constituição dos signifi- cados, entre outros. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br As quatro práticas do ensino da Língua Portuguesa 17 Lembrando algumas orientações fundamentais: o objetivo do ensino da língua, desde as séries iniciais, é tornar o aluno � cada vez mais capaz de produzir textos (orais ou escritos) com qualidade, isto é, adequados àquilo que melhor realiza sua intenção ao dizer algo para alguém em determinada situação, bem como trabalhar sua capaci- dade de interpretar a intenção do autor em um texto lido ou ouvido; o texto é o elemento articulador de todas as atividades de ensino da língua; � o trabalho com o texto não significa a ausência de trabalho com elementos � menores do texto (parágrafos, períodos, orações, palavras, sílabas e letras). Significa que cada um desses elementos deverá ser trabalhado no contex- to do texto, com atividades complementares de sistematização, quando for o caso; não se trata de ir do texto à frase, ou do texto à palavra ou, ainda, do texto � à letra ou à sílaba, mas de: na leitura e interpretação de um texto, analisar os recursos linguísticos � de que o autor lançou mão; na produção de um texto, analisar os recursos linguísticos disponíveis � para a produção do significado pretendido; para poder desenvolver várias possibilidades de uso dos recursos linguís- � ticos, é necessário trabalhar com diferentes tipos de textos; para esse trabalho de contextualização textual, são fundamentaisquatro � práticas pedagógicas, a saber: leitura e interpretação, produção de textos, análise linguística e atividades de sistematização de conteúdos específicos; as quatro práticas fundamentais acima mencionadas constituem uma gran- � de unidade pedagógica e devem ser desenvolvidas de forma articulada; a prática de sistematização dos conteúdos específicos – que é muito im- � portante – também deve ser contextualizada e, por isso, derivar de situa- ções-problema que emergirem das três outras práticas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 18 Prática Educativa da Língua Portuguesa Texto complementar Leitura, fala e escrita: velhas atividades num horizonte novo (FARACO; KLEIN; VIRMOND, 1989) O texto [...] será o nosso material verbal; não apenas um tipo de texto – normalmente a escola propõe uma linguagem única, a literária – mas todos os que concretizam um determinado discurso. Esta pluralidade deverá estar presente nos diversos tipos de linguagem (a informativa, a dissertativa e a literária) mas, sobretudo, no interior da mesma linguagem. É a partir do con- fronto de textos que tratam do mesmo tema diferentemente que podemos construir os nossos pontos de vista. A leitura e a análise contrastiva, assim, são um pressuposto básico para o trabalho de argumentação. Ao mesmo tempo em que desmontamos ou desvelamos as ideias conti- das num texto, é importante perceber como as partes do mesmo se amar- ram. Este trabalho de estrutura é chamado, por alguns autores, de análise linguística. Significa, em outras palavras, localizar e compreender a função dos elementos (pronomes, advérbios, conjunções etc.) que servem para costurar frases a frases, parágrafos a parágrafos etc. Vale notar, aqui, que es- taremos sempre trabalhando com a gramática da língua – mesmo porque uma não existe sem a outra – porém, na perspectiva da funcionalidade dos seus elementos. Este trabalho de reconhecimento e análise servirá de base para a produção de textos dos alunos. Eles deverão ter em mente duas pers- pectivas essenciais na sua produção: a unidade temática – o tratamento do mesmo tema ao longo do texto – e a unidade estrutural – a amarração entre as partes do texto. As questões da forma (grafia, pontuação etc.) deverão ser trabalhadas sempre em subordinação a um trabalho mais amplo: o domínio da escrita. Vale relembrar que sempre escrevemos para alguém ler. Nesse sentido, o aluno, antes da sua produção, deverá ter claro aquilo que vai dizer, para quem vai dizer, e como vai dizer, sempre na busca de adequar melhor o seu discurso, para melhor realizar suas intenções. No que se refere à leitura, nunca é demais reafirmar que todos os textos são objetos de consideração. Para alcançar maturidade na leitura, é preciso Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br As quatro práticas do ensino da Língua Portuguesa 19 alargar nossa experiência com ela. Assim, com o tempo, e com uma orienta- ção adequada, os alunos perderão a “ingenuidade” diante do texto escrito, no sentido de percebê-lo como um objeto carregado de intenções. Resta ainda tecer algumas considerações sobre a proposta de conteúdos de Língua Portuguesa. Como nas outras áreas do conhecimento, o domínio da língua não se dá por etapas, mas numa perspectiva de continuidade. Dessa forma, não é possível separar a fala da leitura ou da escrita, por exemplo. Essas práticas linguísticas, que se constituem no conteúdo da língua, deverão sempre ser trabalhadas juntas ao longo da escolarização do sujeito. O que se espera é que o professor crie um grau de complexidade cada vez maior na escolha dos textos e no trabalho com eles, na medida em que as experiências dos alunos se aprofundem. Dicas de estudo GERALDI, João Wanderley. Unidades Básicas do Ensino de Português. In: O Texto em Sala de Aula: Leitura & Produção. Campinas/Cascavel: Unicamp/Assoeste, 1984. p. 49-69. Esse artigo serviu de base para nossas próprias elaborações teóricas voltadas ao ensino da língua portuguesa. Apresenta, de forma muito pertinente e clara, três das quatro práticas que propomos nessa lição, a saber: a prática da leitu- ra de textos, a prática da produção de textos e a prática da análise linguística. Não aborda, como se pode observar, a prática que denominamos atividades de sistematização de conteúdos específicos. Ocorre que o artigo de Geraldi está orientado para o ensino de 5.a a 8.a séries e, portanto, pressupõe um aluno que já domina minimamente a leitura/escrita. Uma vez que nossa produção orienta-se inclusive para o período dito de alfabetização, incluímos essa quarta prática, em resposta às especificidades do processo de alfabetização. KLEIN, L.R.; SCHAFASCHEK, Rosicler. Alfabetização. In: Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná. Curitiba: SEED, 1990. p. 35-49. Esse capítulo inclui a primeira sistematização sobre as unidades básicas do ensino de português contemplando a especificidade do processo de alfabetiza- ção. A primeira publicação dessa sistematização, elaborada por Klein encontra- -se no Currículo Básico de Santa Catarina (1989), de difícil acesso atualmente, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 20 Prática Educativa da Língua Portuguesa por ter se dado na forma de jornal, do qual não houve reedição recente, daí indi- carmos o livro da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, que pode ser en- contrado através do site <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/portal/> ou nas bibliotecas da Secretaria de Educação do Paraná e Secretaria de Educação de Santa Catarina. Atividades 1. Assinale a alternativa que corresponde à relação teoria-prática: A teoria e a prática são independentes uma da outra, configurando, )( cada qual, uma área autônoma. A formulação da teoria antecede a atividade prática, norteando a ação )( educativa. Teoria e prática são intimamente relacionadas: ora a prática oferece os )( elementos para a construção da teoria, ora a teoria orienta a atividade prática. A teoria não se aplica à prática, porque, na prática os processos são )( muito diferentes daquilo que se vê na teoria. 2. Quanto à validade e eficácia de uma teoria, é correto afirmar que: Uma teoria bem elaborada constitui uma verdade imutável que jamais )( deverá ser objeto de adaptações ou transformações. Uma teoria, ainda que bem elaborada, deverá ser reformulada sempre )( que a realidade concreta, a que essa teoria se refere, sofrer modificações substanciais. Mesmo que a teoria seja adequada, sua aplicação às situações concretas )( deverá levar em conta as variantes específicas daquelas situações, caso existam. A teoria é importante porque, quando bem formulada, orienta a prática )( sem que o sujeito precise refazer inteiramente, por si mesmo, o percurso concreto de produção de um dado conhecimento. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br As quatro práticas do ensino da Língua Portuguesa 21Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein As atividades de leitura e interpretação constituem, ao mesmo tempo, um conteúdo e um recurso da aprendizagem da língua escrita. Por intermé- dio da leitura – desde as primeiras tentativas – o aluno mergulha no mundo da escrita, vai tomando contato com seus recursos e apreendendo as situa- ções e possibilidades de emprego destes. Com essa finalidade pedagógica, a prática de leitura e interpretação deve acontecer de forma integradacom atividades de produção de textos, de análise linguística e de sistematização de conteúdos específicos. Por outro lado, a leitura e a interpretação consti- tuem, elas próprias, um dos campos de conteúdo do ensino-aprendizagem da língua. A leitura e a interpretação se complementam, acontecem de forma arti- culada, mas não são redutíveis uma à outra. Enquanto a leitura pode limitar- -se a simples decodificação (leitura compreensiva) – ou seja, à passagem do código escrito para a oralidade –, a interpretação requer, além da com- preensão do que está escrito, também a interpretação do conteúdo das ideias do texto e a interpretação das intenções do autor do texto. Ocorre que, muitas vezes, essas ideias não se encontram expressas literalmente, situando-se em um nível mais profundo que o nível da literalidade. Nesses casos, a interpretação depende de uma reflexão mais profunda. Do que dissemos acima, percebe-se que a leitura pode limitar-se à compreensão do texto, no seu nível de literalidade, enquanto a interpre- tação exige que se apreenda o conteúdo do texto, e este, muitas vezes, pode estar situado em um nível mais profundo, não literal. Vamos dar um exemplo tomando como referência o ditado popular: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. A mera decodificação nos permite apreender essa frase, em sua literalidade, ou seja, compreender cada palavra, até a composição completa da frase. As questões, para verifi- car se o aluno realizou a decodificação (isto é, a apreensão literal do texto), provavelmente seriam: Leitura e interpretação de textos Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 24 Prática Educativa da Língua Portuguesa P: A quem se refere o texto? R: O texto refere-se àquele que fere com ferro. P: O que acontece com quem fere com ferro? R: Será ferido com ferro. Ao responder a essas perguntas, o aluno apenas demonstraria que conseguiu ler o texto em sua literalidade; isto é, conseguiu reconhecer as palavras lidas e, até, compreender a frase toda. A interpretação, por outro lado, busca compreender a intenção de quem formulou esse discurso e, por isso, responde a outro tipo de pergunta: O que o autor quer dizer com esta frase? A resposta a essa questão nos remete a algo que não está literalmente escrito: a ideia de que quem fere (isto é, faz mal, prejudi- ca, magoa) alguém, pagará pela maldade feita, na mesma proporção do dano que causou ao outro. Observemos que a frase não menciona, explicitamente, a maldade, muito menos a proporção em que se paga a maldade cometida. Entre- tanto, ao interpretarmos, ou seja, ao nos interrogarmos sobre o que o autor quer dizer com essa frase, apreenderemos facilmente tal ideia: ao apreendê- -la, realizamos uma leitura interpretativa. Concluímos, assim, que o tipo de pergunta que fazemos ao texto determina o nível de leitura: compreensiva ou interpretativa. É importante, pois, que, ao propor atividades de leitura e interpretação, o professor tenha em mente a distinção e, ao mesmo tempo, a relação que existe entre compreensão e inter- pretação do texto. Evidentemente, as atividades de decodificação deverão ser objeto de um tra- tamento especial no período de alfabetização, quando o aluno (criança ou adulto) ainda não tem fluência na leitura das palavras. De fato, o traço característico (mas não o único) da alfabetização é justamente o aprendizado da codificação/deco- dificação da escrita. Após a alfabetização, a leitura ou a decodificação não mais será objeto de ensino-aprendizagem, uma vez que sua aprendizagem já terá sido efetivada e consolidada; entretanto, é evidente que tal atividade continuará sendo uma prática permanente, pois ela constitui uma condição para a interpretação. Cabe ressaltar que mesmo no período da alfabetização, as atividades de lei- tura compreensiva (decodificação) devem ser articuladas à interpretação, daí a opção pelo trabalho com o texto desde o início do aprendizado da escrita. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Leitura e interpretação de textos 25 Para as atividades de leitura e interpretação, o professor pode alternar o tra- balho com textos, cujo conteúdo é mais explícito e requer um nível mais profun- do de interpretação. Passaremos, a seguir, a exemplos dessas modalidades de textos, bem como de questões que se limitam à literalidade e outras que aprofundam os níveis de interpretação. Texto com conteúdo mais explícito Esse tipo de texto é recomendado para atividades de decodificação, uma vez que seu conteúdo é literal, não demandando muito esforço de inter- pretação. Lembramos, entretanto, que as atividades de leitura, mesmo no período de alfabetização, não devem limitar-se à decodificação, havendo a necessidade de se trabalhar, também, com textos cuja interpretação é mais complexa, sob pena de se retardar muito o aprendizado da interpretação de nível mais profundo. CONVITE DE ANIVERSÁRIO Queridos amigos, Espero vocês na minha festa de aniversário. Quando: dia 12 de março, a partir das 16h. Onde: Rua Carlos Cavalcanti, 116, ap. 112. Luís César Questões para avaliar a capacidade de decodificação: O texto é um convite para que tipo de festa? � Quem é o aniversariante? � Quando será a festa? � Onde será a festa? � Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 26 Prática Educativa da Língua Portuguesa Texto que exige um nível mais profundo de interpretação Este tipo de texto exige dois níveis de leitura: a compreensiva e a interpretati- va. Nesse caso é necessário que se inicie pela leitura compreensiva do texto para depois interpretá-lo. Continho Paulo Mendes Campos Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho, do sertão de Per- nambuco. Na soalheira danada de meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho, imaginando bobagem, quando passou um gordo vigário a cavalo: – Você aí, menino, para onde vai essa estrada? – Ela não vai não: nós é que vamos nela. – Engraçadinho duma figa! Como você se chama? – Eu não me chamo não, os outros é que me chamam de Zé. Leitura compreensiva: O texto se refere a duas pessoas: um menino e um vigário. Como era o menino? Como era o vigário? � De onde era o menino? � O que o menino estava fazendo quando o vigário passou por ele? � O que o vigário estava fazendo? � O que o vigário perguntou para o menino? � Leitura interpretativa: O que o menino respondeu para o vigário? � O que você entendeu das respostas que o menino deu ao vigário? � Você acha que as respostas do menino foram inteligentes? Por quê? � Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Leitura e interpretação de textos 27 Finalmente, lembramos que é preciso que a criança perceba que não é só o texto escrito que pode ser interpretado. Cartazes, gestos, mímicas, ilustrações etc. também podem, pois são formas de textos presentes na sociedade. Reco- menda-se que o professor desenvolva atividades com esses tipos de recursos comunicacionais. Encaminhamentos importantes na prática de leitura e interpretação desenvolver as diferentes linguagens utilizando símbolos, sua importân- � cia e aplicabilidade; leitura interpretativa de avisos, desenhos e propagan- das e ainda jogos teatrais utilizando a mímica. Para que a criança perceba os diferentes tipos de texto escrito e a função social da leitura é importante que na alfabetização sejam trabalhados textos como: receitas, listas, rótulos, calendários, postais, escritos de embalagens, con- vites, verbetes de dicionários, fascículos, livros de consulta, crônicas, contos, his- tórias infantis, correspondências (avisos,cartas etc.), notícias jornalísticas, textos didáticos, bulas de remédio, manuais etc. Indica-se: explorar esses textos, buscando conferir sentido aos mesmos; � realizar com as crianças consulta em calendário, agenda, lista telefônica etc. � Atribuir sentido às narrativas ouvidas também faz parte do processo de leitu- ra na alfabetização. Sugere-se, então: levar os alunos a ouvir textos veiculados pelo rádio ou pela televisão; � criar condições para o aluno emitir opiniões a respeito do texto ouvido; � promover situações que permitam aos alunos atribuir sentido a relatos de � emoções, experiências, situações diárias, sonhos, contos ou de suas pró- prias histórias, do professor ou de familiares. As crianças devem ser levadas a estabelecer a relação entre o texto e o con- texto de produção e de leitura, procurando pistas que permitam antecipar ou verificar o sentido que foi conferido ao texto. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 28 Prática Educativa da Língua Portuguesa É fundamental, na alfabetização, a leitura de diferentes tipos de narrativas. Para tanto, aconselha-se: desenvolver atividades que envolvam leitura de jornais, textos produzidos � na oralidade pelos alunos, revistas, textos retirados de livros didáticos, tex- tos de Ciências, História ou Geografia. Convém lembrar, ainda, que os objetivos a serem alcançados determinam o tipo de texto a ser escolhido. Assim, propõe-se: apresentar o texto às crianças, auxiliando-as a resolver questões referen- � tes aos conceitos, às expressões e ao vocabulário; elaborar com os alunos questões que ajudem no levantamento das infor- � mações; sugerir a releitura do texto visando a uma melhor compreensão dos fatos � e das ideias; levar as crianças a ler procurando descobrir os valores implícitos no texto. � Partindo da leitura crítica, ou seja, da análise profunda dos textos, o professor pode solicitar aos alunos que produzam novas atividades como: dramatizar e ilustrar o texto com desenhos ou colagens; � recriar o texto, em narrativa oral ou escrita, na forma de poema etc. � É importante, após a leitura aprofundada dos textos, levar os alunos à análise linguística. Sugere-se, então: esclarecer as dúvidas manifestadas pelas crianças durante a leitura; � realizar o estudo do vocabulário, partindo sempre do contexto apresenta- � do (o aluno deverá buscar no conjunto do texto o significado dos vocábu- los, esgotando todas as possibilidades antes de recorrer ao dicionário ou à ajuda do professor para confirmar ou constatar o significado do vocábulo em questão). O professor pode ainda: estimular comentários sobre o texto lido, de forma espontânea; � Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Leitura e interpretação de textos 29 levar as crianças a refletirem sobre os fatos, as ideias e as personagens � do texto; ampliar o sistema de referência das crianças, levando-as a ampliar o texto � com concordância ou discordância, questionamentos e posicionamentos. Convém lembrar que a extrapolação do texto propicia: a interação com o outro; � a análise crítica; � o aprofundamento e a compreensão mais significativos das ideias e fatos. � O professor deve sempre: estabelecer o contraponto entre os pontos de vista das crianças e as ideias � do texto; apresentar às crianças diferentes avisos e comunicados, mostrando a utili- � dade e a praticidade desse tipo de leitura para obter informações concer- nentes à vida diária. Na alfabetização é muito importante a leitura de fruição, envolvendo qua- drinhas, narrativas da literatura infantil, contos de fadas, mitos, lendas, fábu- las, poemas, parlendas, canções, sem desprezar outros gêneros literários como textos teatrais, humorísticos, satíricos, diários de viagem e folhetos de cordel. Esse tipo de leitura tem o objetivo, principalmente, de levar o aluno a conferir novo sentido à realidade, liberar as emoções e desenvolver o prazer e o gosto pela leitura, de modo que esta deva fluir livre. Nesse caso, sugere-se: procurar não interferir na seleção da leitura efetuada pelas crianças; � oportunizar acesso a diferentes obras da literatura infantil e outros gêne- � ros literários; criar bibliotecas volantes, com livros diversos para percorrer todas as salas; � incentivar o comentário das obras lidas; � trabalhar o ritmo, a sonoridade e a beleza dos poemas e textos. � Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 30 Prática Educativa da Língua Portuguesa Texto complementar Breves considerações sobre critérios para seleção de textos de literatura infantil (KLEIN, 2003) Ao selecionar textos para o trabalho pedagógico, uma pergunta que sempre se coloca para o professor é sobre quais critérios utilizar para garantir uma seleção cuja qualidade garanta uma boa inserção no universo letrado e, ao mesmo tempo, desperte o interesse e a motivação da criança, de modo a suscitar nela o desejo de, espontaneamente, buscar novas leituras. Sem a pretensão de esgotar o assunto, aliás bastante complexo e profun- do, arriscamos, aqui, algumas considerações que talvez ajudem o educador neste momento. Os critérios abaixo não são os únicos, nem estão hierarqui- camente ordenados pelo grau de importância, o que significa que o pro- fessor deverá complementá-los à vontade e, pela sua própria experiência e bom senso, ordená-los segundo as demandas concretas de cada turma. Dadas as considerações acima, sugerimos, como ponto de partida, os se- guintes critérios: Levar em conta o objetivo do texto no processo pedagógico. A escolha 1. será diferente se, por exemplo, o texto for para leitura de fruição; ou para divulgação de informação; ou suporte para uma atividade pedagógica específica. Levar em conta os leitores – a faixa etária, o tipo de assunto que mais 2. desperta interesse etc. A qualidade linguística do texto. Ao escolher um texto, há de se veri-3. ficar se trata de um texto bem escrito, com boa estrutura textual, or- ganização lógica das ideias, uso adequado dos recursos linguísticos, estilo, qualidade semântica, riqueza vocabular etc. A qualidade do conteúdo do texto. Nesse caso, observar-se-á se o con-4. teúdo do texto é relevante, interessante, original, capaz de prender a atenção do leitor a que se destina e despertar-lhe a imaginação; se não Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Leitura e interpretação de textos 31 está marcado por moralismos ou deturpações ideológicas; se suscita interrogações e incita à análise, à busca de respostas etc. A qualidade estética do livro. Esse critério nos orienta para a análise da 5. apresentação do livro, tais como diagramação, tipo de letra utilizado, qualidade e pertinência das ilustrações. Como já afirmamos acima, esses critérios são um modesto ponto de parti- da. O professor, ao longo de sua experiência docente, certamente desenvolve- rá um conjunto de critérios mais amplo e rico. Dicas de estudo MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura. São Paulo: Brasiliense, 2003. (Coleção Primeiros Passos). Esse livro, da Coleção Primeiros Passos, constitui excelente leitura de iniciação no tema. A linguagem é clara, sem perder o rigor. Foi escrito pela professora com base na significativa prática na área do ensino de leitura. Segundo a própria autora, esse livro recebeu forte contribuição da experiência da Salinha de Leitura, projeto extra escolar criado e desenvolvido pela própria professora Maria Helena Martins. CADERMATORI, Ligia. O que é Literatura Infantil. São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção Primeiros Passos). O problema da escolha de textos, sobretudo paraleituras de fruição, nas pri- meiras fases do processo escolar, é objeto de preocupação constante dos profes- sores. Esse livro da Coleção Primeiros Passos, oferece uma boa introdução sobre a literatura infantil no Brasil, discorrendo sobre características desse gênero lite- rário e sua importância na escola. Além disso, apresenta comentários de autores brasileiros e estrangeiros, o que é de muita valia para orientar o professor na escolha de títulos com os quais pode trabalhar em sala de aula. Atividades 1. Comente as diferenças entre a leitura compreensiva e a leitura interpretativa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 32 Prática Educativa da Língua Portuguesa 2. Explique o que é e qual a importância da “leitura de fruição” na prática edu- cativa de Língua Portuguesa, indique algumas sugestões relevantes para o encaminhamento do professor nessa modalidade de leitura. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Leitura e interpretação de textos 33 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Maria Auxiliadora Cavazotti O texto oral ou escrito consiste em um processo de comunicação com um interlocutor real ou virtual. A enunciação se realiza por meio de um código (letras e recursos como: pontuação, acentuação e parágrafo) e contém elementos para articulação do sentido do texto (unidade temá- tica, estrutura, coerência, coesão, concordância, regência, entre outros). Os recursos da língua não têm uma função em si mesmos, mas são de- terminados pelo contexto do texto. Este, por sua vez, está inserido no contexto de interlocução, que determina situações diferentes para um mesmo recurso. A produção oral deve levar em conta as diferentes formas de expressão que os alunos trazem de sua comunidade, enquanto falantes da língua materna. Produção oral Objetivos da produção oral Oferecer ao aluno a possibilidade de aquisição da linguagem formal, também na oralidade, para efetivo domínio da Língua Portuguesa. Propiciar o ensino-aprendizagem do uso de diferentes recursos da lin- guagem oral, adequando-os às diversas situações, ao grau de formalidade necessária, aos objetivos pretendidos, ao interlocutor. Adequar a linguagem ao grau de formalidade requerida pela situação de comunicação. Produzir o aluno como um sujeito capaz de dotar sua fala de argumen- tos que deem conta de estabelecer uma conversa, responder a uma entre- vista, participar de um debate. A prática de produção de textos Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 36 Prática Educativa da Língua Portuguesa Ampliar a experiência linguística, tendo em vista que a oralidade da maio- ria dos alunos é adquirida em contextos comunicativos informais, coloquiais ou familiares. Propiciar situações diversificadas de prática da oralidade como: debates, con- versas, relatos, contos, que proporcionam oportunidades de praticar formas de oralidade diferentes daquelas exercitadas no ambiente familiar. Possibilitar o enriquecimento, a ampliação e o aperfeiçoamento do discurso, para tornar o aluno um usuário competente da língua oral. Ouvir atentamente a fala do professor e dos colegas para aprender a esperar a vez de falar, bem como respeitar a fala do outro. Encaminhamentos metodológicos O exercício de produção de um texto requer a definição prévia dos obje- tivos do texto e do interlocutor a quem é dirigido. Essa definição preliminar estrutura o conteúdo e a forma do texto: quanto ao tipo de texto, à linguagem adequada, à argumentação e às informações necessárias, entre outras. A produção oral demanda promover contato reiterado do aluno com a lin- guagem formal, incorporando expressões, pronúncia, construções alheias à linguagem coloquial, de forma não agressiva, mantendo respeito pelos valores culturais da comunidade da qual é oriundo. Promover atividades de produção de textos orais, como comentários, dis- cussões, apresentações etc., contribui para o enriquecer das possibilidades de expressão oral. Para isso, cabe ao professor selecionar conteúdos e organizar es- tratégias adequadas à composição oral, individual ou coletiva. Sugestões de estratégias Narrar falas em sequência temporal e/ou casual. � Fazer exposição oral autonomamente ou com a ajuda de perguntas feitas � pelo professor. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br A prática de produção de textos 37 Descrever objetos. � Descrever cenários e personagens de histórias lidas (pelo professor ou � pelo próprio aluno). Realizar dramatizações de histórias lidas ou escritas coletivamente pelos � alunos (autonomamente ou com a ajuda do professor). Dramatizar textos, poemas e músicas tendo em vista o aprimoramento da � entonação, dicção, gesto, postura etc. Relatar de maneira clara e ordenada ideias, opiniões, sentimentos e ex- � periências. Ouvir e reproduzir oralmente textos da tradição oral popular como: trava- � -línguas, quadrinhas, parlendas, adivinhações, canções, lendas e causos. Produzir textos orais em situações de intercâmbio verbal como: recados, � instruções, saudações, diálogos, entrevistas, pesquisas, debates, diálogos com autoridades etc. Explanar temas científicos. � Debater assuntos de opinião. � Ouvir e interpretar textos de rádio e televisão, como propagandas, entre- � vistas e notícias. Conversar com uma autoridade, solicitando a realização de um serviço; � telefonar para um amigo convidando-o para um passeio, ou para alguém, cumprimentando-o pelo aniversário; conversar com o vendedor de um estabelecimento comercial do bairro ou da localidade em que vive, utili- zando-se da formalidade exigida em cada interlocução. Responder oralmente aos problemas apresentados pelo professor. � Contar filmes assistidos, histórias relatadas na família ou fatos vivenciados. � Recriar histórias, compondo oralmente o início ou final incompletos, alte- � rando-os, inventando ou retirando personagens, acrescentando falas aos personagens. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 38 Prática Educativa da Língua Portuguesa Produção de texto escrito Para que os alunos adquiram competência como escritores, isto é, sejam capazes de escrever com qualidade verbal e correção linguística, o ensino da Língua Portuguesa pressupõe a realização de atividades de produção do texto escrito desde o início da aprendizagem. Portanto, essas não devem ser poster- gadas para quando eles já souberem escrever de forma independente. Desse modo, o professor, reportando às condições de uso real da escrita, que configura sua principal preocupação metodológica, realiza atividades práticas de produ- ção de texto com os alunos em sala de aula de modo sistemático, contemplando estratégias adequadas de ensino. Objetivos da produção de texto escrito O objetivo da produção do texto escrito é tornar o aluno capaz de escrever um bom texto, expressando suas ideias de modo claro e adequado, segundo seus objetivos, e levando em conta o interlocutor e o contexto. Também, ser capaz de escrever com qualidade verbal e correção linguística. Encaminhamentos metodológicos As atividades de escrita podem articular-se às atividades da prática da ora- lidade já descritas. Cabe ao professor julgar a pertinência ou não de dar con- tinuidade a um exercício de produção oral, com uma atividade de exercício escrito desse texto. Ele definirá com os alunos as condições de produção do texto escrito.É muito importante organizar um trabalho de produção de textos narrativos, descritivos, narrativos/descritivos, escritos com finalidade definida previamente com os alunos, como: livro de história, mural das produções, cordel de anedotá- rio, diário da turma. Essas produções, organizadas a partir de textos elaborados pelos alunos e registradas pelo professor ou escritos pelos próprios alunos, podem ser publi- cadas periodicamente (bimestre, semestre, ano letivo). Pressupõe a escolha co- letiva, sob a orientação do professor, do assunto (história do nome, de animais, fantásticas, textos humorísticos etc.) e do interlocutor, dos objetivos, mediante resposta às perguntas: Como? Quem? Quando? Onde? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br A prática de produção de textos 39 Além da produção de textos, o professor poderá propor atividades de regis- tro de palavras que, embora isoladas, sejam significativas em decorrência de de- terminado contexto, como: nomes de pessoas; � legendas; � etiquetas de objetos, animais, brinquedos, comidas, lugares desenhados; � calendário com nome dos dias da semana, meses do ano, feriados e ou- � tros dados. Finalmente, articulando procedimentos de produção de textos orais com atividades de leitura e de registro dos textos dos alunos, o professor promo- ve o desenvolvimento da compreensão do que representa a escrita, seus usos, formas e recursos. O domínio do gráfico (codificação/decodificação), por sua vez, faz-se por meio de atividades de produção e leitura de textos, complementadas por ati- vidades específicas de estudo das relações oralidade/escrita, inclusive letras/ fonemas e sílabas, a partir de palavras e frases significativas, oriundas dos textos produzidos. É importante salientar que para se produzir bons escritores na escola é cabível permitir que os alunos realizem tentativas de escrita que, inicialmente, podem apresentar muitos erros. A ideia de que elas só deverão escrever textos quando forem capazes de não cometer mais erros traz consequências negativas para o aprendizado, como: retardar-se-á demasiadamente o exercício da escrita em situações de uso � real, de modo que os alunos provavelmente se desinteressarão pelo seu aprendizado e desconsiderarão a noção dos usos reais da escrita; os alunos tenderão a valorizar mais a forma do que o conteúdo dos seus � textos, que resultarão em textos estereotipados, cujo conteúdo não é re- levante; textos sem originalidade, com vocabulário pobre, pois provavel- mente usarão apenas palavras e estruturas frasais que já dominam perfei- tamente. Possivelmente, distorcerão o conteúdo pensado, pois terão de limitar as ideias, palavras e frases, cuja grafia dominam. O fato de ser aceitável o aluno errar ao escrever não significa, entretanto, que seus erros sejam ignorados, pois serão objetos de reflexão, a fim de serem supe- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 40 Prática Educativa da Língua Portuguesa rados por sua aprendizagem progressiva no momento da prática de produção da escrita, denominada reescrita do texto. Mas, antes disso, é preciso que os alunos sejam encorajados a registrar suas ideias em tentativas de escrita, para depois, reformular os erros com o objetivo de produzir uma exposição de melhor qualidade. O princípio que norteia seu aprendizado é de que não se trata de escrever gramatical e graficamente correto, sendo o texto vazio de conteúdo. Pelo con- trário, o objetivo do ensino-aprendizagem da composição escrita é que o aluno seja capaz de escrever um bom texto, com boas ideias expressas de modo claro e adequado. Dito de outra forma, a correção gráfica e gramatical está a serviço do conteúdo que se quer expressar. Sugestões de estratégias A produção de texto deve iniciar com atividades que contribuam para a com- preensão do conteúdo a ser escrito. Esse momento é importante porque nin- guém escreve com propriedade sobre o que não sabe. Assim, antes de escrever, o aluno deverá conhecer o assunto sobre o qual escreve. Propiciar, portanto, ati- vidades que lhe ofereçam informações, debates, opiniões e reflexões sobre o tema do texto que será desenvolvido. Incentivar a pesquisa em livros, revistas, jornais, relatos; a observação, a realização de entrevistas, enfim, tantas e quantas atividades forem possíveis, que oportunizem ao aluno conhecer e pensar sobre o assunto em pauta, tema. Organizar discussões e debates entre eles sobre o assunto em pauta, permitindo-lhes refletir, trocar ideias e elaborar uma opinião sobre as questões que serão abordadas. Para o momento da elaboração do texto, é necessário promover uma dis- cussão sobre sua organização. Essa reflexão incide sobre os elementos, anterior- mente mencionados, que orientam a produção do texto: o interlocutor, seja ele real ou virtual; o tipo de texto e de linguagem, formal ou informal, mais adequa- do para os objetivos estabelecidos e para o interlocutor selecionado. Poder-se-á nortear a discussão com perguntas como: O texto será lido na sala de aula? Irá para o mural da escola, para leitura de todos? Integrará o material da classe? Será publicado no jornalzinho da escola? Será encaminhado para as famílias lerem? É uma solicitação dirigida ao diretor da Escola, ao Secretário de Educação ou a outra autoridade? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br A prática de produção de textos 41 Também é desejável avaliar algumas possibilidades de organização estrutu- ral do texto, procurando equacionar os limites da introdução, desenvolvimento e conclusão. Texto complementar Em terra de surdos-mudos Um estudo sobre as condições de produção de textos escolares (BRITTO, 2006, p. 118-119) É próprio da linguagem seu caráter interlocutivo. A língua é o meio privile- giado de interação entre os homens. Em todas as circunstâncias em que se fala ou se escreve há um interlocutor. “Toda a enunciação é, explícita ou implicita- mente, uma alocução – ela postula um alocutário” (BENVENISTE, 1976, 2 v.). O monólogo não é mais que uma situação comunicativa em que o locutor elege a si mesmo interlocutor; “é um diálogo interiorizado (falado em ‘linguagem in- terior’) entre um locutor e um ouvinte” (BENVENISTE, 1976, 2 v.). Está claro que esta relação não é mecânica. O interlocutor pode ser real ou imaginário, individual ou coletivo, pode estar mais ou menos próximo, muda em cada situação concreta. O interlocutor ativo da oralidade, fisi- camente materializado e que pode a qualquer momento intervir no dis- curso do locutor (invertendo papéis como este, inclusive), está distante na escrita e, num primeiro nível de análise, interferindo e interpelando indiretamente o locutor. Mesmo dentro da escrita podem-se identificar diferentes tipos de interlo- cutor: ele pode ser preciso, definido, como numa carta, numa petição; pode ser genérico ou num determinado segmento social, como num jornal; pode ser virtual, como na ficção literária. A presença desse interlocutor no discurso de um indivíduo não é algo neutro, sem valor. Ao contrário, em alguma medida, está sempre interferindo no discurso do locutor: “se num primeiro nível de análise é o locutor que se coloca em evidência, num nível mais profundo, é possível observar que é Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 42 Prática Educativa da Língua Portuguesa um agente por tabela do discurso, na medida em que é nele que se justifica o próprio discurso. É do tipo de relação entre locutor e ouvinte que decorre o tipo de ação a ser empreendida pelo locutor através de seu discurso. Um eu não define, por si só, a ação a ser empreendida: é preciso queele tenha a imagem do tu ou que o tu forneça essa imagem” (OSAKABE, 1979, p. 53). É curioso, nesse sentido, que a maioria dos trabalhos sobre redação esco- lar ou não toquem na questão da interlocução ou falem na ausência de in- terlocutor, identificando aí uma das dificuldades maiores do estudante: falar para ninguém ou, mais exatamente, não saber a quem se fala. Dicas de estudo Para aprofundar a reflexão sobre a produção de textos você pode ler o artigo de. GERALDI, João Wanderley Escrita, Uso da Escrita e Avaliação. In: GERALDI, João Wanderley (Org.). O Texto na Sala de Aula. 4. ed. São Paulo: Ática, 2006. p. 127-131. O artigo, escrito em linguagem clara e acessível para o professor, reafirma a importância da prática da produção de texto na sala de aula com o objetivo de produzir o aluno como escritor competente, capaz de se inserir na sociedade le- trada. Explicita que, uma prática educativa da língua portuguesa voltada para o ensino de qualidade, tem como pressupostos a concepção da linguagem como interação e a educação como ato político. Atividades 1. Com base na reflexão sobre produção de textos, escreva um roteiro de traba- lho para aplicação do estudo desta aula em uma aula prática com alunos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br A prática de produção de textos 43Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 44 Prática Educativa da Língua Portuguesa Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Maria Auxiliadora Cavazotti O domínio da língua escrita pressupõe a capacidade de dizer alguma coisa de forma clara e correta, utilizando-se de um código específico que é a escrita alfabética. Assim, ao lado do aprendizado dos elementos que constituem a textualidade, o ensino-aprendizagem da leitura e da escrita demandam a apropriação dos conteúdos relativos à codificação/decodifi- cação. No que se refere a tais conteúdos, a compreensão da escrita como representação se configura numa importante aquisição conceitual, por se tratar de um princípio que fundamenta o desenvolvimento dos demais conteúdos da sistematização do código. A ideia de representação fundamenta o princípio alfabético da nossa língua, no sentido que a escrita obedece a um sistema fonético, isto é, os sinais que são utilizados na escrita representam os sons da fala. A apreensão desse princípio pode ser realizada pela reflexão que se inicia pela representação por meio do gesto, do desenho, passando à “leitura” de símbolos, de logotipos, da escrita dos números até alcançar a relação oralidade/escrita. A representação, entendida como a ação ou o efeito de se apresen- tar algo na consciência, referido a um objeto real ou ideal, existente ou não existente, presente ou não, é apoiada em elementos codificados que mantêm ou não alguma semelhança com a coisa representada. O desenho, por exemplo, ao tentar reproduzir a imagem visual do objeto representa- do, guarda alguma similitude visual com ele, permitindo sua interpreta- ção de maneira mais ou menos imediata. A fala, que se realiza por meio do código oral, não guarda qualquer relação perceptível visualmente com o objeto representado assim como a escrita, utiliza código próprio, o qual não guarda qualquer semelhança com o objeto nem com o desenho que o representa. Compreendendo as relações oralidade/ escrita: trabalhando com representação Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 46 Prática Educativa da Língua Portuguesa Objetivo do trabalho com representação Assim, para compreender o sistema de representação próprio da nossa Língua Portuguesa, o sistema fonético, segundo o qual os sinais utilizados na es- crita representam os sons da fala, os alunos serão levados à reflexão por meio de variadas formas de representação que lhes permitirão exercitar a interpretação por meio do exercício de decodificação/codificação, observando os elementos próprios de cada sistema simbólico e sua relação com o objeto representado. O objetivo desse trabalho é mostrar para o aluno que a escrita é o “desenho” da fala humana. Para “desenhar” a fala, utilizamos as letras e os sinais gráficos próprios do código. Isso quer dizer que para decodificar os sinais da escrita, precisamos conhecer a sua relação com os fonemas e demais sinais do código. Ou seja, preci- samos identificar a relação existente entre oralidade e escrita (KLEIN, 2003). Encaminhamentos metodológicos Para a apropriação e consolidação da ideia de representação é essencial a re- alização de atividades que proponham diferentes formas de representação e sis- temas de codificação. É importante lembrar que nos primeiros contatos com a escrita, quando o aluno domina minimamente sua decodificação, as atividades são realizadas de forma predominantemente oral, propiciando-lhe oportunidades de comentar, nomear, relatar etc. Será necessário, ainda, que o professor leia as orientações para o aluno, comente-as, explique-as e acompanhe a realização das tarefas. Outro procedimento pedagógico relevante, e que se deve levar em conta, é que, dependendo das experiências anteriores, o aluno pode ter maior ou menor conhecimento da língua escrita e, portanto, certa compreensão de que a escrita “representa” alguma coisa, de que existem sinais próprios da escrita. No entanto, independentemente do seu grau de conhecimento, é importante retomar e sis- tematizar a noção de representação que contribuirá sobremaneira nos encami- nhamentos pedagógicos que visam à apreensão da relação oralidade/escrita. Sugestões de estratégias Será sugerido, a seguir, um conjunto de atividades elaboradas com base na adap- tação da proposta intitulada Subsídio Teórico-metodológico da Língua Portuguesa, Se- cretaria de Estado da Educação de Mato Grosso do Sul (MATO GROSSO DO SUL, 2000). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com representação 47 As atividades descritas a seguir poderão ser ampliadas e, ainda, complemen- tadas por outras que, mantendo os mesmos objetivos, sejam adequadas ao grau de progressão alcançado pelos alunos de cada turma. Representação gestual, gestual/desenho, gestual/verbal Procedimentos para atividades com mímica Explicar, inicialmente, que a mímica é uma forma de representação de dado significado por meio de gestos. Propor que os alunos interpretem o que significam determinados gestos que o professor executa: gesto de despedida, gesto indicativo de positivo, de nega- tivo etc. Estimular os alunos a representarem alguma ideia por mímica, que deverá ser interpretada pelos colegas. Apresentar desenhos com gestos usuais e pedir aos alunos que os interpretem: IE SD E Br as il S. A . Procedimentos para atividades de dramatização Solicitar que um aluno relate uma cena interessante, que seja engraçada ou inusitada, e convide outro(s) aluno(s) para representá-la. Reafirmar a noção de que o que está acontecendo na sala de aula não é o fato propriamente dito, mas uma representação do ocorrido. Pedir que cada aluno escolha uma atividade bem característica de algumas pessoas ou profissionais (mãe, filho, bebê, padre, médico, professor etc.) para serem representadas e que os demais colegas possam identificar. Selecionar figuras relacionadas a atividades profissionais e propor aos alunos: identificar as atividades profissionais; � Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 48 Prática Educativa da Língua Portuguesa escolher uma delas e representar para a classe;� escrever na forma de legenda a identificação de cada uma. � Representação por meio do desenho Apresentar uma sequência de desenhos com traços bem definidos e pedir � aos alunos que façam a “leitura”, interpretando-os. Introduzir a noção de direção da escrita por meio dos seguintes procedimentos: noção de direção/sequência na organização do caderno – colar cada � figura numa página do caderno em sequência, orientando seu manu- seio na forma correta; noção de direção na sequência de desenhos em uma única página – � proceder repetidas “leituras” dos desenhos na direção utilizada para a leitura do texto: da esquerda para a direita, de cima para baixo. Reafir- mar a noção de que o desenho representa algum objeto. Apresentar desenhos num cartaz, pedir aos alunos que identifiquem os � objetos representados e, na presença deles, escrever o nome do objeto na forma de legenda. Solicitar que os alunos pronunciem com clareza o nome do objeto e reafirmar que vai “desenhar” a palavra pronunciada. Solicitar que os alunos representem alguma coisa ou fato por meio de um � desenho livre. Pedir que eles nomeiem objetos conhecidos e os representem por meio � de desenho. Apresentar diferentes figuras de homens (no mínimo quatro) na forma de � esboço, figura preenchida, retrato etc., reafirmando a noção de que tra- tam-se de desenhos diferentes para representar a mesma coisa. Selecionar figuras que possam representar provérbios e pedir aos alunos � que observem, discutam e identifiquem o que elas significam. Escrever os provérbios em tiras de papel, na presença dos alunos, e solici- � tar que indiquem a figura que corresponde ao conteúdo da tira. Promover um jogo para que os alunos casem figuras e tiras. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com representação 49 Apresentar charges ou caricaturas de personagens bastante conheci- � dos e pedir aos alunos que os identifiquem. Reafirmar a noção de que se tratam de desenhos nos quais se acentuam alguns aspectos característi- cos da personagem retratada. Escrever o nome de cada personagem na forma de legenda. Outras representações Símbolos convencionais Apresentar bandeiras e pedir aos alunos que digam o que representam. Mostrar alguns sinais de trânsito, identificando os diferentes símbolos que utilizam, tais como: cores utilizadas no semáforo para veículos motorizados e seus significa- � dos: vermelho: PARE, amarelo: ATENÇÃO e verde: SIGA; cores utilizadas no semáforo para pedestres: vermelho: PARE e verde: SIGA; � mensagens em placas de trânsito; � IE SD E Br as il S. A . Parada obrigatória Área escolar Proibido trânsito de veículos de carga Proibido trânsito de bicicletas Proibido estacionar Proibido trânsito de veículos automotores Proibido trânsito de pedestres identificar outras mensagens da vida cotidiana inscritas em placas e re- � gistrar em forma de desenhos: silêncio (hospital), proibido fumar, mate- rial tóxico, local perigoso etc.; identificar símbolos que portam significados de domínio universal, como � masculino e feminino, por exemplo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 50 Prática Educativa da Língua Portuguesa Marcas e logotipos Explicar, inicialmente, o que são logotipos. Apresentar logotipos e solicitar que os identifiquem. Pedir aos alunos que pesquisem logotipos em jornais e revistas e busquem identificar seus significados e, depois, registrá-los na forma de legenda. Emblemas Identificar emblemas de equipes esportivas ou times de futebol e registrar na forma de legenda. Rótulos Identificar rótulos de produtos e registrar na forma de legenda. Reconhecer escrita de numerais em diferentes tipos. Reproduzir numerais em cédulas, preços em etiquetas, numerais romanos em relógios etc. IE SD E Br as il S. A . Diferentes tipos de letra Reproduzir letreiros com diferentes tipos de letra: cursiva;1. caixa alta;2. fantasia.3. 1. Trabalhando com representação 2. TRABALHANDO COM REPRESENTAÇÃO 3. Trabalhando com representação Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com representação 51 Texto complementar A pré-história da linguagem escrita (VYGOTSKY, 1998) Até agora, a escrita ocupou um lugar muito estreito na prática escolar, em relação ao papel fundamental que ela desempenha no desenvolvimento cul- tural da criança. Ensina-se as crianças a desenhar letras e construir palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o que está escrito que acaba-se obscurecendo a linguagem escrita como tal. [...] Esse entusiasmo unilateral pela mecânica da escrita causou impacto não só no ensino como na própria abordagem teórica do problema. Até agora a psicologia tem considerado a escrita simplesmente como uma complicada habilidade motora. Notavelmente, ele tem dado muito pouca atenção à lin- guagem escrita como tal, isto é, um sistema particular de símbolos e signos cuja denominação prenuncia um ponto crítico em todo desenvolvimento cultural da criança. Um aspecto fundamental desse sistema é que ler constitui um simbolis- mo de segunda ordem que, gradualmente, torna-se um simbolismo direto. Isso significa que a linguagem escrita é constituída por um sistema de signos que designam os sons e as palavras da linguagem falada, os quais, por sua vez, são signos das relações e entidades reais. Gradualmente, esse elo intermediário (a linguagem falada) desaparece e a linguagem escrita se converte num sistema de signos que simboliza diretamente as entidades reais e as relações complexas entre elas. Parece claro que o domínio de um sistema complexo de signos não pode ser alcançado de maneira puramente mecânica e externa; ao invés disso, esse domínio é o culminar, na criança, de um longo processo de desenvolvimento de funções comportamentais complexas. A única forma de nos aproximarmos de uma solução correta para a psicologia da escrita é através da compreensão de toda a história do desenvolvimento dos signos na criança. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 52 Prática Educativa da Língua Portuguesa O simbolismo na escrita [...] É fácil perceber que, [...], os sinais escritos constituem símbolos de primeira ordem, denotando diretamente objetos ou ações e que a criança terá que evoluir no sentido do simbolismo de segunda ordem, que compre- ende a criação de sinais escritos representativos dos símbolos falados das palavras. Para isso a criança precisa fazer uma descoberta básica – a de que se pode desenhar, além das coisas, também a fala. Foi essa descoberta, e somente ela, que levou a humanidade ao brilhante método da escrita por letras e frases; a mesma descoberta que conduz as crianças à escrita literal. Do ponto de vista pedagógico, essa transição deve ser propiciada pelo des- locamento da atividade do desenhar coisas para o desenhar a fala. É difícil especificar como esse deslocamento ocorre, uma vez que somente pesqui- sas adequadas a serem feitas poderão levar a conclusões definitivas, e os métodos geralmente aceitos do ensino da escrita não permitem a observa- ção dessa transição. No entanto, uma coisa é certa, o desenvolvimento da linguagem escrita nas crianças se dá, [...], pelo deslocamento do desenho de coisas pelo desenho de palavras. De uma maneira ou de outra, vários méto- dos existentes de ensino de escrita realizam isso. Muitos deles empregam gestos auxiliares comoum meio de unir o símbolo falado ao símbolo escrito; outros empregam desenhos que representam os objetos apropriados. Na verdade, o segredo do ensino da linguagem escrita é preparar e organizar adequadamente essa transição natural. Uma vez que ela é atingida, a criança passa a dominar o princípio da linguagem escrita, e resta então, simples- mente, aperfeiçoar esse método. Dica de estudo Para aprofundar a reflexão sobre o importante conceito da linguagem escrita como representação leia o estudo de LURIA, A.R. O Desenvolvimento da Escrita na Criança. In: VYGOTSKY, L.S; LURIA, A.R; LEONTIEV, A.R. Linguagem, Desenvolvimen- to e Aprendizagem. Tradução de: VILLALOBOS, Maria da Penha. São Paulo: Ícone, 2001. p. 143-189. Esse artigo compõe uma coletânea de textos selecionados, dentre a vasta obra dos principais representantes da psicologia soviética, pelas psicólogas brasileiras Maria Thereza Fraga Rocco e Marta Kohl de Oliveira com o objetivo Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com representação 53 de oferecer aos nossos professores os estudos avançados sobre pensamento e linguagem. Trata-se de conhecimentos indispensáveis para os professores, pois são fundamentos necessários para o ensino da língua portuguesa nas séries iniciais. Atividade 1. Escolher atividades que demandam participação ativa dos alunos como, por exemplo, a mímica, a dramatização do relato de uma cena interessan- te, engraçada ou inusitada, que possa ser representada e identificada pelos espectadores. Descrever qual vai ser o procedimento/desenvolvimento da atividade e quais seus objetivos. A atividade pode ser registrada na forma de um texto coletivo dos alunos ou individualmente, devidamente ilustrado. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Maria Auxiliadora Cavazotti A Língua Portuguesa escrita está organizada com base no princípio al- fabético, ou seja, para se escrever palavras que portam os significados é empregado um conjunto de 26 letras ou grafemas, que representam os 33 fonemas ou sons articulados que utilizamos na linguagem oral. Assim, ao constatarmos que a Língua Portuguesa falada em nosso País apresenta um número maior de fonemas do que o número de letras de que dispõe o alfabeto (nele, incluídas as letras K, W ,Y) concluímos que os conjuntos são desiguais, que não se verifica, portanto, uma relação biuní- voca entre letras e fonemas. Ao contrário, as relações letra/fonema podem se estabelecer sob várias possibilidades, como nos indica Klein (2004): há letras que representam um único e mesmo fonema; � há letras que representam mais de um fonema, a depender da posi- � ção que ocupam na palavra; há letras que representam mais de um fonema, independentemen- � te da posição que ocupam na palavra; há fonemas que podem ser representados por mais de uma letra ou � grafema; há letras que não representam nenhum som. � As relações indicadas obedecem à classificação a seguir: Relações regulares ou biunívocas � , que compreendem as letras que representam sempre um único e mesmo fonema. São regulares as letras B, F, P, T, V. Obedecer ao princípio da regularidade significa, por exemplo, que o fonema / b / só pode ser sempre representado pela letra B, da mesma forma que a letra B só pode ser representada pelo fonema / b /. Trabalhando com as relações letra/fonema Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 56 Prática Educativa da Língua Portuguesa Relações de valor posicional � referem-se às letras que têm dois valores, de- pendendo de sua posição na palavra. É o caso, por exemplo, das letras L, M, N, que apresentam um valor fonético antes da vogal (lata, medo, nota) e outro depois dela (alto, campo, canto). Relações arbitrárias � , que dizem respeito às letras que apresentam múlti- plos valores, ou aos fonemas que podem ser escritos por meio de diferen- tes letras. Vejamos, alguns exemplos: o fonema / z / pode ser grafado com S (casa), Z (azar) ou X (exato); a letra X pode corresponder aos fonemas / z / (exato), / x / (enxada), / ks / (táxi) ou / s / (exceto, expresso). Objetivos Desenvolver atividades específicas que auxiliem a compreensão das rela- ções entre letras e fonemas: regulares, de valor posicional e arbitrárias. Identificar letras e seus diferentes valores fonéticos no interior das palavras. Reconhecer a exigência de uma única forma de grafia para uma dada pa- lavra, não obstante a variedade de letras que possam representar alguns de seus fonemas. Encaminhamentos metodológicos As leituras e a produção oral e escrita de textos realizadas na sala de aula fornecem as palavras que contêm material gráfico que pode ser explorado na sistematização das relações letra/fonema. Nas atividades de comparação de palavras, a análise será baseada na pronún- cia e na grafia. Portanto, é recomendado aproximar palavras cuja semelhança gráfica corresponda a uma semelhança sonora. Quando a semelhança for me- ramente gráfica, chamar a atenção dos alunos para essa compreensão, pronun- ciando as duas palavras e a parte das palavras comum a ambas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com as relações letra/fonema 57 Sugestão de estratégias Reflexão sobre semelhanças entre palavras Organizar um repertório de palavras que aparecem com frequência nos textos para que possam ser trabalhadas na forma de leitura referencial dentro de frases, registrando-as ao lado da ilustração correspondente ou em pequenas fichas que serão utilizadas em jogos. Preparar previamente o material que será utilizado na realização do estudo: providenciar um envelope grande ou uma caixa, em que se registre, em � letra caixa alta, uma palavra que será objeto de reflexão, por exemplo a palavra cachorro; distribuir aos alunos pequenas tarjas com palavras diferentes e algumas � que tenham, no seu interior, as sílabas que compõem a palavra em estudo, no caso, cachorro. Desenvolver os seguintes procedimentos: escrever a palavra � cachorro no quadro de giz e pedir para os alunos ob- servarem bem suas palavras e selecionar aquelas que têm alguma coisa em comum com ela – alguma coisa parecida na pronúncia ou na escrita, explicando qual seria a semelhança; escrever a palavra escolhida pelo aluno no quadro de giz, logo abaixo de � cachorro, para que se possa observar a semelhança gráfico-sonora: CACHORRO CACHORRO CACHORRO CACHORRO CACHORRO CACHO CACHAÇA GORRO COALHO MORRO Ao final do estudo, colocar as palavras encontradas e observadas no envelope ou caixa com o título cachorro. Proceder da mesma maneira com outras palavras de tal forma que se organize um bom repertório de palavras estudadas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 58 Prática Educativa da Língua Portuguesa Reflexão sobre o valor fonético das letras Pesquisar palavras que contenham determinada letra, como, por exemplo, a letra S, classificando-as em grupos, conforme o modelo já iniciado, segundo: a posição que a letra tem na palavra; � o som que a letra tem na palavra. � a) b) c) d) e) f) g) Saco Casaco Tosse Casca Descansar Celso Urso Subida Mesa Passa Poste Pensar Pulso Curso Soco Camisa Missa Pés Pensão Valsa Dorso Essa reflexão propicia a oportunidade de sistematizar algumas regras: a) A letra S com som de / s /: no início e no final da palavra; � no final de sílaba; � depois das letras � N, L, R. b) A letra S comsom de / z /: entre as letras A, E, I, O, U. Texto complementar A terceira etapa: as partes arbitrárias do sistema (LEMLE, 1988, p. 31-34) Esta terceira etapa dura a vida toda. Ninguém escapa de um momento de insegurança sobre a ortografia correta de uma palavra rara. Quando mais de uma letra pode, na mesma posição, representar o mesmo som, a opção pela letra correta em uma palavra é, em termos puramente fo- nológicos, inteiramente arbitrária. Pelas regras de distribuição de sons e de letra em português, rosa que se escreve com s, poderia ser igualmente aceita Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com as relações letra/fonema 59 com z; do mesmo modo, exame tem x, mas poderia igualmente ser escrita com s, ou com z e hora tem h, mas ora não, apesar da identidade fonética. [...] O nosso alfabetizando já passou pela decepção de ver que não funciona a teoria do casamento monogâmico entre sons e letras [relações regulares ou biunívocas], e já se conformou com a necessidade de reformulá-la para a teoria de poligamia com restrições de posição [relações de valor posicional]. Entretanto, é obrigado manter aberta a questão e organizar suas ideias de maneira a atender, também, os casos idiossincráticos [relações arbitrárias] [...]. Nesses casos ele deverá resignar-se a memorizar a escolha certa da letra, individualmente para cada palavra. No fim dessa tortuosa aventura intelectual, o alfabetizando terá constru- ído uma teoria sobre a correspondência entre sons e letras em português, do tipo: Para cada som numa dada posição, há uma dada letra. A cada letra numa dada posição, corresponde um dado som. Em certos ambientes, certos sons podem ser representados por mais de uma letra. [...] Que pode fazer o alfabetizador para ajudar o alfabetizando a integrar em seu conhecimento ortográfico os fatos resumidos (...)? Primeiro, ele pode fornecer aos perguntadores as respostas corretas às perguntas que lhe são feitas. Assim, se algum aluno perguntar porque sino começa com s e cinco começa com c, o professor deverá responder que há casos, na nossa língua, em que duas letras diferentes fazem o mesmo trabalho de representar o mesmo som. Seria conveniente dar um pouquinho de infor- mação histórica. Por exemplo: isso é explicado pela história da nossa língua. Antigamente, nossa língua era bem diferente da que nós falamos hoje. Ela era falada na Itália, e chamava-se latim. Em latim, os sons do c de cinco e do s de sino não eram iguais e, por isso, essas palavras eram escritas com letras dife- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 60 Prática Educativa da Língua Portuguesa rentes. Com a passagem de muitas gerações de falantes, as pessoas alteraram a pronúncia das palavras, e o som da palavra cinco, que se articulava com [k], foi mudando. O [k] mudou para [ts] e o [ts] acabou mudando para um som de [s], igual ao de sino. Entretanto, como a língua escrita guarda um pouco a memória do passado, nós ainda retemos em nossa escrita a lembrança dessas duas pronúncias que antigamente eram diferentes. Então, essas irregularida- des da nossa língua escrita são explicadas pela memória da história. Nossa língua carrega na escrita, a tradição do passado que ela tem. Explicações desse tipo consolarão um pouco os alunos pelo esforço a ser investido na memorização da escrita das palavras. Se bem dadas, tais expli- cações poderão, até, despertar certo brio pela historicidade da língua e da comunidade que a usa. Em segundo lugar, o alfabetizador pode conduzir o alfabetizando, orga- nizadamente, a saber exatamente quais são os contextos em que duas ou mais letras concorrem na representação do mesmo som. Isso também pode ser feito pelo método da pesquisa. Um papel grande, cola, tesoura e muitos materiais impressos. Vamos repartir, segundo suas diversas representações ortográficas, todas as palavras pronunciadas com o som [s] no meio de duas vogais, como em coisa. Algumas vezes esse som é escrito com s, outras vezes com z e outras, ainda, com x. Resultado: um cartaz tripartido, uma coluna com coisa, casa, rosa, asilo, resumo, usar etc., uma coluna com azul, azar, co- zinha, cozido, rezando, azeite, etc., uma coluna com exame, exato, exemplo, exército, exercício, etc. Outro procedimento que se pode adotar para ajudar a fixação desse tipo de conhecimento é depreender palavras das letras de músicas ou de poesias conhecidas, procurando saber com que letras essas palavras são representa- das na escrita. Tomemos, por exemplo, A Banda, de Chico Buarque: Eu estava à toa na vida O meu amor me chamou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor Nesses versos, quais palavras são faladas com um som [s] no meio das vogais? Passar! Escreve-se com ç ou com ss? Com ss! Quais palavras são fala- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com as relações letra/fonema 61 das com um som de [z] no meio de duas vogais? Coisas! Escreve-se com s ou com z? Com s! Que palavra começa com o som [x]? Chamou! Escreve-se com x ou com ch? Com ch! E, finalmente, a mais importante das recomendações: o professor não deve dar muita importância a erros de escrita dessa espécie. Gradativamente, com a prática da leitura e da escrita, tais erros diminuirão. A preocupação com a ortografia não deve crescer a ponto de inibir a expressão escrita do aluno. Dica de estudo Para aprofundar o estudo sobre as relações letra/fonema você pode se valer do livro do professor FARACCO, C.A. Escrita e Alfabetização. Características do sistema gráfico do português. São Paulo: Contexto, 2001. O livro é fruto de um estudo valioso, resultado da contribuição de um espe- cialista que oferece, de forma clara e didática, ao professor-alfabetizador os fun- damentos da Linguística necessários ao ensino da língua portuguesa, nas séries iniciais. Conceitos e informações, próprios de uma área muito especializada, são selecionados, explicados e exemplificados ao alcance do alfabetizador, de tal forma que este não poderá se eximir de sua responsabilidade de aplicá-los na sua prática de ensino. Atividades 1. Com base na reflexão sobre relações letra/fonema, escolha uma poesia e se- lecione algumas palavras para análise propondo questões para serem res- pondidas. Como por exemplo: a) Que palavras têm o som de [s]? b) Que palavras com som de [s] são escritas com a letra S ? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 62 Prática Educativa da Língua Portuguesa c) Que palavras com som de [s] são escritas com a letra C ? d) Que palavras com som de [s] são escritas com a letra Ç ? Registre as respostas no quadro de giz, organizando uma tabela com a clas- sificação das palavras segundo as relações letra/fonemas. Solicite aos alunos que pesquisem mais palavras com as mesmas relações letra/fonemas para serem acrescentadas à tabela. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com as relações letra/fonema 63Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Maria Auxiliadora Cavazzoti O processo de aquisição da língua escrita pressupõe que as práticas pe- dagógicas da leitura e da escrita, em qualquer situação em que se realizem em sala de aula, devem sempre ser sistema tizadas valendo-se de contex- tos discursivos que portem significado para a compreensão dos alunos. Por essa razão, o trabalho com o nome próprio dos estudantes se inscreveem um contexto de significação muito importante para eles pelo fato de se tratar do reconhecimento de sua identificação pessoal, oferecendo, ainda, a oportunidade de refletir sobre a relação dos registros oral e escrito. Objetivo O objetivo da atividade de registro dos nomes no crachá é oferecer aos alunos a compreensão de que a fala pode ser registrada de forma gráfica, estabelecendo-se, assim, a relação oralidade/escrita. A atividade de registro da história dos nomes, por sua vez, evidencia para o aluno o princípio de que sempre escrevemos para alguém ler, a fim de constituir algo significativo para nós e para nosso interlocutor. Esses primeiros momentos de escrita têm a finalidade de produzir fa- miliaridade com o texto escrito, com as convenções de sua organização e produção, em suma, com os princípios que regem a escrita. Encaminhamentos metodológicos O trabalho com o nome dos alunos poderá ser organizado a partir dos primeiros dias de aula, iniciando-se com a confecção de crachás para identificação de cada um dos alunos da turma e, também, do professor. A realização dessa atividade requer um conjunto de procedimentos que possibilitem aos alunos a reflexão sobre a relação oralidade/escrita do próprio nome. Compreendendo as relações oralidade/ escrita: trabalhando com o nome Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 66 Prática Educativa da Língua Portuguesa Em primeiro lugar, os alunos devem sentar-se em círculo, para que todos vejam e sejam vistos pelos colegas e pelo professor, ao pronunciar seu nome e relatar sua história. O professor inicia pelo registro de seu próprio nome no crachá. Escreve-o na presença dos alunos, pronunciando-o, pausadamente, de forma bem audível, buscando chamar a atenção para a relação da oralidade com o registro escrito do nome. Registra em letra caixa alta na tira de papel, previamente preparada, com um traçado da letra em tamanho legível a alguma distância. Em seguida, relata porque recebeu esse nome, o que ele significa e se está relacionado com algum fato de sua vida que merece ser mencionado. Da mesma forma, cada aluno declama seu nome em voz alta, que será regis- trado no crachá pelo próprio aluno, desde que ele domine o traçado legível em caixa alta e no tamanho indicado. No caso dos alunos que não estão seguros de que sabem registrar, o professor poderá realizá-lo para eles. Cada aluno explica a origem de seu nome e narra acontecimentos ou histórias a ele relacionados. Também os apelidos serão mencionados e, ainda, sua criação será alvo de explicações. Se for consenso da turma, o apelido poderá ser registrado no verso do crachá. Após a atividade de registro dos nomes e relato de suas origens, poderá ser organizada uma coletânea de textos com a breve história de cada nome ou, so- mente, com a produção escrita das histórias consideradas mais significativas pela turma. Elabora-se assim o “Livro dos Nomes”, que poderá, posteriormente, ser lido pelos alunos das outras turmas, pelos próprios pais e familiares. Os relatos poderão ser registrados pelo professor ou pelos próprios alunos, dependendo do nível de apropriação da escrita dos mesmos. No caso do registro pelos alunos, os textos passarão pelo processo de reescrita, prática que articula a produção de texto à análise linguística e à reflexão sobre a sistematização do código. A leitura, por sua vez, também será incentivada, tendo em vista que se trata do processo inicial de compreensão da relação oralidade/escrita, no qual se objetiva o reconhecimento de que a escrita é o “desenho” da fala. No caso dos alunos serem iniciantes na leitura, será solicitado a eles que apontem palavras indicadas nos textos sobre os nomes, a fim de que procedam ao reconhecimen- to das mesmas. Assim, os alunos desenvolverão a observação do desenho das palavras e sua função de unidade no texto. Entretanto, se os alunos apresentam algum domínio de leitura, pode-se pedir a eles que leiam frases completas e re- alizem com certa autonomia as reflexões propostas sobre a escrita. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com o nome 67 Esses procedimentos de leitura e escrita que viabilizam a reflexão sobre a relação oralidade/escrita podem ser desdobrados em estratégias, como as que se seguem. Sugestões de estratégias Solica. itar aos alunos que disponham os crachás no centro do círculo e os separem em dois conjuntos: um conjunto com os nomes registrados com maior número de letras e, outro, com os nomes registrados com menor número de letras. Perguntar aos alunos sobre o que eles observaram com relação ao núme- ro e às letras dos nomes que compõem cada conjunto. Estimular e ajudar os alunos a desenvolver observações e formular consi- derações, propondo-lhes questões. Registrar os comentários relevantes e pertinentes no quadro de giz, à pro- porção em que forem sendo apresentados pelos alunos, justificando sua importância. Elaborar um texto com a participação dos alunos, destacando as observa- ções significativas sintetizadas. Pedir a um aluno para registrar seu nome no quadro de giz, pronuncian-b. do-o em voz alta. Perguntar aos colegas se há alguém cujo nome comece igual àquele regis- trado no quadro de giz. À medida que os alunos forem se manifestando, pedir que registrem seu nome no quadro de giz, um embaixo do outro, como no exemplo: MARCELO MARTA MARCOS MARIA MARLENE MAURO MERCEDES Chamar a atenção para o mesmo som e mesma escrita inicial. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 68 Prática Educativa da Língua Portuguesa Propor a observação quanto à semelhança da sílaba inicial: alguns nomes têm em comum a sílaba MAR. Lembrar que essa sílaba escrita sozinha re- presenta a palavra MAR. Realizar a mesma atividade com outros nomes. Agrupar os crachás de acor- do com a letra inicial igual e, ainda, com mesma sílaba inicial igual. Da mes- ma forma, agrupar os nomes que terminam com a mesma letra ou sílaba. Exercitar a reflexão sobre a relação letras/sons, com base na observação das palavras faladas e escritas. Organizar um quadro com o alfabeto para que os alunos preencham ao c. lado da letra que corresponde à inicial do próprio nome. A ANTÔNIO B BEATRIZ C CARLA D DENISE E ELZA F G H I As letras que não correspondem a nenhum nome da turma poderão ser preenchidas com nomes sugeridos pelos alunos. Se surgirem nomes que não correspondem à letra determinada, registrar no quadro e solicitar aos alunos que analisem a situação e concluam sobre a forma correta. Escrever um nome no quadro de giz várias vezes, sempre com a falta de d. uma letra, segundo o exemplo a seguir: TEREZA TEREZ_ T_EREZA _EREZA TE_EZA Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com o nome 69 TERE_A TER_ZA Solicitar aos alunos que observem e preencham a letra faltante, para que o nome fique registrado corretamente. Uma variação da mesma reflexão é o registro de nomes variados nos quais e. falta sempre a mesma letra, que deverá ser preenchida para que os nomes fiquem completos. Os alunos devem indicar qual letra é faltante. No exem- plo, a seguir, falta a vogal A: _P_RECID_ F_TIM_ M_RI_ C_RLOS M_RIO J_IR Registrar, em uma folha de papel, os nomes dos alunos, dispondo-os em f. posições diferentes: AUGUSTO MARIA MARCELO PEDRO ANA MAURÍCIO JOÃO FATIMA JOANA Solicitar para o aluno: circular o seu nome; � marcar todas as vogais do seu nome; � contaras letras de cada nome e registrar o numeral correspondente � ao lado; organizar uma lista com os nomes masculinos e outra com os nomes � femininos; observar e refletir sobre a terminação dos nomes masculinos e nomes � femininos, registrando sua conclusão. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 70 Prática Educativa da Língua Portuguesa Dizer um nome, seguido de um conjunto de palavras, rimando com a ter- minação do nome pronunciado. Solicitar que os alunos digam outras palavras com a mesma terminação. Exemplo: JOÃO SABÃO MAMÃO PÃO ANÃO Registrar no quadro de giz as palavras encontradas e incentivar os alunos a comporem coletivamente uma quadrinha com as rimas. Registrar a quadrinha elaborada no quadro de giz ou em um cartaz para ser afixado na sala de aula. Não deixar de proceder à reescrita do texto com os alunos, antes do registro final no cartaz a ser exposto. O professor poderá elaborar exercícios semelhantes aos sugeridos, adequan- do-os aos objetivos e aos conteúdos da aula. Texto complementar Nomes de gente (AZEVEDO; ROCHA, 1983) Tem muito nome de gente Muito significado Prudêncio que é prudente Tito que é honrado Hugo que é previdente Reinaldo que é ousado Tem muito nome de gente Muito significado [...] Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com o nome 71 Ataulfo é nobre lobo Arnaldo águia potente Arnulfo é águia e lobo Arlindo águia e serpente Leandro, homem leão Leonardo é leão forte Catulo, um pequeno cão Bernardo urso forte [...] Dulce quer dizer que é doce Lia, que é trabalhadora Olga, que é nobre moça Berenice a vencedora Bárbara é estrangeira Estela, que é estrela No meio de todas belas É Vera que é verdadeira [...] Natalício e Natalino Nasceram os dois no Natal Domingos foi num Domingo Na Páscoa nasceu Pascoal Genaro foi em janeiro Em março nasceu Marçal Aurora porque nasceu Na hora que nasce o sol [...] Tem muito nome e a gente Cantou somente um bocado É muito nome de gente Prum verso de pé quebrado A gente fica contente Se ninguém ficar zangado Se nesse quase repente Seu nome não foi cantado Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 72 Prática Educativa da Língua Portuguesa Dica de estudo Para você se familiarizar com poesias infantis, sendo que muitas delas envol- vem de forma lúdica e poética nomes de pessoas, leia o livro de MEIRELES, C. Ou Isto ou Aquilo. 6. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. O livro de poesias de Cecília Meireles é uma fonte fecunda de textos para a leitura e interpretação. Professora e poetisa, a autora oferece a nós, professo- res, e aos nossos alunos, o ensinamento de como lidar com as palavras, com os nomes, com os significados, com as rimas, enfim, com a linguagem. Suas poesias são para serem lidas, relidas e refletidas! Atividades 1. Há muitas poesias feitas utilizando nomes de pessoas, tendo em vista a im- portância do tema na convivência social. Essa produção constitui material literário rico para ser usado na sala de aula. Assim, é uma atividade pedagógica muito proveitosa ler e comentar com os alunos poesias sobre os nomes de pessoas e estimular a produção de textos a partir de seus próprios nomes. Entretanto, é preciso cuidar para que sejam evitadas atitudes de caçoadas sobre os nomes dos colegas ou outras brincadeiras de mau gosto muito co- muns na vida cotidiana, mas que não cabem na escola, cujo objetivo é o trabalho pedagógico. Tome como exemplo a poesia abaixo e crie um roteiro de atividades que podem ser aplicadas com os alunos: Teu nome Vinicius de Moraes Teu nome, Maria Lúcia Tem qualquer coisa que afaga Como uma lua macia Brilhando à flor de uma vaga. Parece um mar que marulha Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com o nome 73 De manso sobre uma praia Tem o palor que irradia A estrela que desmaia. É um doce nome de filha É um belo nome de amada Lembra um pedaço de ilha Surgindo de madrugada. Tem um cheirinho de murta E é suave como a pelúcia É acorde que nunca finda É coisa por demais linda Teu nome, Maria Lúcia... Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Maria Auxiliadora Cavazotti Todas as práticas para o ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa: (produção de textos orais e escritos, leitura e interpretação, análise lin- guística e sistematização do código) têm seu eixo norteador no trabalho com o texto. Entretanto, a produção de textos escritos comporta, ainda, o registro de palavras isoladas, desde que significativas em decorrência de determinados contextos em que são necessárias, como: nomes, de pessoas; � legendas; � etiquetas de objeto, animais, brinquedos, comidas, lugares dese- � nhados; calendário com nome dos dias da semana, meses do ano, feriados e � outros dados. Essas palavras, como também aquelas selecionadas dos textos de lei- tura ou dos textos produzidos pelos alunos, serão objetos de reflexão com a finalidade de oferecer a ele a compreensão do princípio da relação orali- dade/escrita, que preside o sistema gráfico da nossa língua. Cabe lembrar que palavras selecionadas de textos lidos ou produzidos serão, ainda, ana- lisadas sob o ponto de vista das relações letra/fonema, tratando-se, assim, de prática específica de sistematização do código. Objetivos O objetivo do trabalho com discriminação de palavras selecionadas dos textos escritos e de leitura é ensejar a reflexão sobre o código escrito, compreendendo o princípio de que ele se organiza de maneira diferente da fala. Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com discriminação de palavras Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 76 Prática Educativa da Língua Portuguesa Na fala, o código é sonoro, na escrita, o código é visual. Isso determina dife- renças bem acentuadas entre um e outro sistema de codificação. Entretanto, por outro lado, a escrita tem a finalidade de registrar visualmente a sonoridade da fala. Por essa razão, podemos dizer que existe uma relação entre a língua falada e a língua escrita, entre a oralidade e a escrita, pois a segunda é a representação da primeira, que se vale de um código regido por princípios próprios. Assim, um aspecto importante do processo de aquisição da escrita, desde seu momento inicial, é o reconhecimento de que “a escrita é o desenho da fala”. Quando esse princípio é internalizado, o aluno tem a possibilidade de compreender as rela- ções letra/fonema, sistematizando, dessa forma, o aprendizado do código escrito. É importante reafirmar que a compreensão de relações letra/fonema pressupõe o reconhecimento de identidades e de diferenças, como será explicitado na lição específica, o que exige um trabalho sistematizado para sua apreensão. Encaminhamentos metodológicos As palavras a serem trabalhadas no desenvolvimento desta prática são sele- cionadas dentre aquelas que figuram com frequência nos textos dos alunos, e estão registradas em cartazes afixados na sala de aula. As sugestões de estratégias a seguir demandam ampliação, variação e acrés- cimo de outras atividades, desde que mantidos os objetivos acima propostos. As atividades sugeridas podem ser retomadas tantas vezes quanto for necessá- rio, variandoas listagens de palavras, embora sua seleção obedeça aos mesmos princípios. As atividades sugeridas, cuja realização se faz no quadro de giz e com os car- tões entregues aos alunos, podem ser, também, apresentadas em folha de papel, para que cada um realize seu trabalho individualmente. Nesse caso, recomenda- -se selecionar outras palavras e, ainda, analisar em conjunto com a turma as res- postas dadas pelos alunos, a fim de não descuidar do objetivo de se proceder a reflexão sobre a representação oralidade/escrita. A apropriação da língua escrita exige, ainda, que o aluno discrimine sons que têm valor fonético diferenciado, capacitando-o para distinguir palavras que apresentam semelhanças sonoras. Os especialistas em Língua Portuguesa indicam um conjunto de fonemas que são facilmente confundidos pelos alunos. A discriminação auditiva de tais Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com discriminação de palavras 77 fonemas resulta na aprendizagem da grafia correta dos mesmos, razão pela qual deve ser trabalhada em sala de aula. Sugestões de estratégias a) Escrever no quadro de giz o nome de cinco alunos, escolhendo nomes que guardam alguma semelhança entre si. Solicitar aos alunos que apon- tem qual é o seu nome. b) Selecionar um conjunto de palavras e escrevê-las em cartões, distribuin- do-os aos alunos. Registrar três palavras, num conjunto de outras que se assemelham, conforme o exemplo a seguir: CACHORRO CACHORRA CACHOLA CACHAÇA CACHIMBO CACHO MORRO MORRA Escrever no quadro de giz as palavras dos cartões e solicitar a cada aluno que identifique as palavras iguais: a que está escrita no cartão que rece- beu e a palavra escrita no quadro de giz. Conferir se o aluno sabe o que está escrito no quadro e no cartão. Em caso de dificuldade de decodificação, pede-se auxílio aos colegas e, em última instância, o professor faz a leitura. Pedir aos alunos que selecionem e recortem em jornais e revistas pala- vras iguais àquelas registradas no quadro de giz e nos cartões. Solicitar que cada aluno circule no quadro de giz a palavra registrada no seu cartão e, depois, leia a palavra em voz alta. Se o aluno tiver dificulda- de, pode recorrer aos colegas. Pedir que os alunos troquem os cartões entre si, recomendando que leiam a palavra registrada para o colega com quem vai fazer a troca. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 78 Prática Educativa da Língua Portuguesa Repetir os procedimentos das atividades anteriores, focalizando palavras que ainda não foram suficientemente trabalhadas no quadro de giz. c) Escrever no quadro de giz uma ou mais palavras e, ao lado delas, regis- trar, em coluna, um conjunto de palavras semelhantes. Nessa listagem, incluir a mesma palavra registrada à esquerda, conforme o exemplo: BANANA BATATA BACANA BANANAS BANANA BANANADA Registrar as palavras da coluna à direita em cartões e distribuí-los para os alunos. Solicitar a um aluno, no quadro de giz, que ligue a palavra registrada à esquerda com uma igual a ela, escrita na coluna à direita. Pedir ao estudante que estiver com a palavra que foi indicada, que mos- tre-a no cartão e, depois, leia a palavra em voz alta. d) Escreva diversas vezes palavras iguais e, dentre elas, uma palavra com pouca diferença, conforme o exemplo: SAPO SAPO SAPO SAPA SAPO Registrar as palavras no quadro de giz e, também, uma palavra da lista- gem em cada cartão, para distribuí-los aos alunos. Solicitar a um aluno que assinale, no quadro de giz, a palavra diferente da listagem. Convidar o aluno que está com o cartão com a palavra assinalada que se identifique e, depois, leia a palavra em voz alta. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com discriminação de palavras 79 e) Apresentar um conjunto de palavras cuja pronúncia requer atenção para discriminar suas diferenças. O professor pronuncia com bastante clareza cada palavra da listagem se- lecionada e solicita que os alunos repitam, individualmente, prestando bastante atenção na diferença indicada. Empregar as palavras selecionadas em frases para que as diferenças se- jam ressaltadas por meio dos significados e solicitar o aluno que as iden- tifique, por exemplo: João lambuzou o queixo com queijo. Empregar as palavras selecionadas em frases interrogativas a fim de que o aluno, ao responder, seja obrigado a empregá-las, sem substituir por sinônimo, como por exemplo: Como a linda menina lida na terra? Selecionar palavras segundo os critérios de dificuldade abaixo e empre- gá-las em exercícios: palavras que apresentam ponto de articulação muito próximo: � VEIO/FEIO CARA/CALA QUEIJO/QUEIXO palavras que requerem discriminação acústica: � SA/BÃO COS/TELA A/MOR DOI/DO palavras agrupadas em função de terminações, flexões ou sufixos: � CADEIRA/CHALEIRA/FEIRA/ASNEIRA MIMOSO/CHEIROSO/GOSTOSO/FORMOSO Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 80 Prática Educativa da Língua Portuguesa palavras que apresentam fonemas que são confundidos com frequência: � PATO/BATO CATA/CADA PACA/PAGA FEIO/VEIO ACEITE/AZEITE QUEIXO/QUEIJO BELA/VELA DATA/NATA CARO/CARRO CARO/CALO MAL/MAU SEIO/CHEIO ZELO/GELO FILA/FILHA MANHA/MANHÃ palavras cujas consoantes surdas, como � P / T / K / F / S são confundidas com a sonora do mesmo ponto de articulação, ou seja, com B / D / G / V / Z. Essa troca de fonema resulta em erro de grafia: QUARTARROPA / GUARDA-ROUPA ALECRE / ALEGRE PRINCAR / BRINCAR FOU / VOU ADIROU / ATIROU PREZENDES / PRESENTES VICOU / FICOU DIVISEL / DIFÍCIL BOBRE / POBRE JEGOU / CHEGOU palavras nas quais a nasalização das vogais não é articulada, omitindo- � -se com frequência o N, M e o til: PERGUTO / PERGUNTOU ECOTREI / ENCONTREI CHORADO / CHORANDO CAPO / CAMPO BOBA / BOMBA TEPO / TEMPO MAI / MÃE POI / PÕE MAO / MÃO Com base nas sugestões apresentadas, o professor organizará outros exercí- cios adequados ao conteúdo específico da aula e aos objetivos previstos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com discriminação de palavras 81 Texto complementar Escrita e alfabetização (FARACO, 2001, p. 9-11) O professor alfabetizador precisa, entre outras coisas, ter um bom conhe- cimento da organização do nosso sistema gráfico para melhor sistematizar seu ensino; para entender as dificuldades ortográficas de seus alunos e para auxiliá-los a superá-las. [...] A língua portuguesa tem uma representação gráfica alfabética com memória etimológica. Dizer que a representação gráfica é alfabética significa dizer que as unidades gráficas (letras) representam basicamente unidades sonoras (consoantes e vogais) e nas palavras (como pode ocorre na escrita chinesa) ou sílabas (como na escrita japonesa). Além disso, a escrita alfabética tem como princípio geral, a ideia de que cada unidade sonora será representada por uma determinada letra e de que cada letra será representada por uma unidade sonora. Dizer, por outro lado, que o sistema gráfico admite também o princípio da memória etimológica significa dizer que ele toma como critério para fixar a forma gráfica de certas palavras não apenas as unidades sonoras que a compõem, mas também sua origem. Assim, escrevemos monge com g (e não com j) por ser uma palavra de origem grega; e pajé com j(e não com g) por ser uma palavra de origem tupi. Escrevemos homem com h não porque haja uma unidade sonora antes do o em português, mas porque em latim se grafava homo como h (resquício de um tempo na história do latim em que havia uma consoante antes do o). Ao operar também com a memória etimológica, o sistema gráfico rela- tiviza o princípio geral da escrita alfabética (a relação unidade sonora/letra Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 82 Prática Educativa da Língua Portuguesa não será 100% regular), introduzindo (para o usuário) uma certa faixa de re- presentações arbitrárias. Serão essas representações que trarão dificuldades especiais não só para o alfabetizando, mas igualmente para o já alfabetizado. Nos casos em que a memória etimológica se faz presente, não outra alterna- tiva: somos obrigados a decorar a forma gráfica da palavra (temos que saber de cor, por exemplo, que excelente se escreve com xc e que essência se es- creve com ss, embora a unidade sonora seja a mesma nas duas palavras); e no caso de dúvida, temos de ir, pela vida afora ao dicionário. Em consequência disso, uma das coisas essenciais que o aluno deverá aprender, no processo de apropriação da grafia, é que, embora grande parte das representações gráficas seja perfeitamente previsível pelo princípio da relação unidade sonora/letra, há uma certa dose de representações arbitrá- rias, as quais exigem estratégias cognitivas próprias. [...] Felizmente para todos nós, o que predomina no sistema não são as repre- sentações gráficas arbitrárias, mas as regulares. Dica de estudo Para aprofundar o estudo sobre as relações oralidade/escrita você pode ler o livro de LEMLE, M. Guia Teórico do Alfabetizador. 16. ed. São Paulo: Ática, 2005. O livro expõe conceitos da linguística, que fundamentam as práticas da língua portuguesa nas séries iniciais, em um estilo bem humorado, com exem- plos da vida cotidiana, que ajudam a compreensão e memorização do leitor. É um livro indispensável para o professor-alfabetizador que pretende desenvolver uma prática pedagógica fundada em bases teóricas sólidas, superando práticas tradicionais dos métodos das cartilhas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com discriminação de palavras 83 Atividades 1. Com base no estudo realizado, elabore um roteiro para sua aplicação em uma aula prática. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Maria Auxiliadora Cavazotti O ensino da língua escrita desenvolve-se através das práticas de leitura e interpretação, produção de textos orais e escritos, análise linguística e atividades de sistematização do código, práticas essas devidamente arti- culadas entre si. Dessa forma, a prática de leitura e interpretação realiza-se concomitan- temente à sistematização da produção de textos escritos, que podem ser elaborados coletivamente, com a contribuição de todos os alunos e sob a direção do professor ou, então, pelos alunos individualmente. O trabalho de revisão linguística, por seu turno, enseja a reflexão no que se refere à gramática e aos demais aspectos discursivos, norteada pelos problemas e questões concretas que aparecem nos textos dos alunos. Após o desenvolvimento dos procedimentos relativos às práticas de leitura e interpretação e análise linguística, serão destacadas uma ou mais frases do texto que serão objeto da reflexão sobre o gráfico. Também são selecionadas palavras que, decompostas em sílabas e letras, servirão para os alunos compreenderem as relações letra/fonema, percebendo a exis- tência de relações permanentes, cruzadas e arbitrárias, identificando as letras e seus diferentes valores fonéticos, reconhecendo a exigência de uma única forma de grafia para uma dada palavra, não obstante a varie- dade de letras que possam representar alguns de seus fonemas. Dentre as atividades de consolidação da aprendizagem do código, ins- crevem-se o ditado e a cópia, empregados no ensino tradicional, mas que se revestem de outras caraterísticas em razão da concepção metodológica em que se baseia a prática pedagógica proposta neste estudo. Trabalhando com ditado e cópia Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 86 Prática Educativa da Língua Portuguesa Objetivos Consolidar a aquisição do sistema gráfico da Língua Portuguesa. Promover a fixação das relações entre letras e fonemas, percebendo as rela- ções regulares, de valor posicional e arbitrárias. Reconhecer a exigência de uma única forma de grafia para uma dada palavra. Desenvolver atividades que demandam manter a atenção e desenvolver a reflexão sobre as questões relativas ao sistema gráfico. Encaminhamentos metodológicos Primeiramente, em lugar da cópia mecânica, tradicionalmente utilizada, pro- põe-se a realização de atividades que demandam atenção e reflexão por parte do aluno. Nessa perspectiva, sugere-se a realização de registros escritos que normalmente são exigidos na vivência cotidiana como: copiar os endereços dos colegas da turma; endereçar correspondências; copiar letras de música, poesias e provérbios apreciados etc. Também são objeto de cópia as atividades desenvolvidas em sala de aula que, em dado momento de sua realização, demandam ser registradas individu- almente pelo aluno no seu próprio caderno, como o caso da cópia do texto ela- borado coletivamente no quadro de giz. Após a reescrita refletida e coletiva do texto, os alunos o copiam em seus cadernos, para que possam ser utilizados nas atividades de sistematização do código. O ditado, por sua vez, também assume novo sentido no interior das práti- cas pedagógicas propostas, ao ser empregado para fixação da aprendizagem do código, em lugar de ser destinado a surpreender o aluno com a avaliação do registro de palavras que ele não domina ou está em processo de consolidação de sua apropriação. Nessa perspectiva, pode-se conferir caráter lúdico ao ditado, com o objetivo de despertar o interesse do aluno pelo exercício de grafar corre- tamente as palavras. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com ditado e cópia 87 Sugestões de estratégias Ditado de palavras e frases com consulta à grafia correta Selecionar do texto – que previamente foi objeto de análise linguística e de reflexão sobre o código – palavras e frases e escrevê-las no quadro de giz. Após esse procedimento, ditá-las numa sequência diferente daquela registrada no quadro para que os alunos as escrevam no caderno. Em seguida, escrevê-las no- vamente no quadro de giz na sequência em que foram ditadas. Essa forma de ditado atende à necessidade de fixação das palavras cujo regis- tro os alunos ainda não dominam com segurança, pois podem recorrer à consul- ta da grafia correta registrada no quadro de giz. Ditado de figuras Preparar duas caixas, contendo em uma delas as figuras de objetos, animais, plantas diversas e, na outra, os nomes correspondentes às figuras selecionadas. Solicitar que um aluno retire uma figura da caixa e a mostre aos colegas para que registrem a palavra correspondente no caderno. Para conferir a palavra re- gistrada, um aluno escreve-a no quadro de giz e outro a seleciona na caixa de palavras, comparando-a com o registro no quadro. Ditado de palavras registradas na “folha do caderno dobrada” Escrever, no quadro de giz, palavras que foram anteriormente objeto de refle- xão nos textos lidos e produzidos. Após fazerema leitura de todas as palavras registradas no quadro, os alunos copiam-nas numa parte da folha do caderno, uma embaixo da outra e, em segui- da, dobram a folha do caderno “escondendo” as palavras copiadas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 88 Prática Educativa da Língua Portuguesa O professor faz então um ditado das mesmas palavras copiadas, e os alunos vão escrevendo em uma nova lista na folha dobrada. Finalmente, os alunos desdobram a folha e comparam a grafia das palavras copiadas com a lista de palavras registradas segundo o ditado. Ditado de palavras com o alfabeto móvel Utilizar o cartaz de pregas e o alfabeto móvel para propor a codificação de palavras. Confeccionar cartões com figuras e desenhos que correspondam às palavras a serem codificadas. O cartaz fica situado em um ponto visível para toda a classe e os alunos se re- vezam na codificação de palavras, após terem retirado os cartões com as figuras que correspondem às palavras a serem compostas. Pode-se propor diferentes situações-problema para codificação de palavras com o alfabeto móvel: palavras que iniciam com determinada letra ou sílaba; � palavras que contenham em seu interior determinada letra ou sílaba; � apresentar palavras com a ordem trocada para que sejam rearranjadas � corretamente. Forca Desenhar no quadro de giz a forca com o boneco pendurado. Dividir a classe em dois times e distribuir para cada um deles um saquinho contendo cartões com palavras registradas. Um aluno de cada time sorteia uma palavra, que deverá ser lida em voz alta e escrita no quadro. O time, ao qual o aluno pertence, pode contribuir com orien- tações para a leitura e grafia da palavra sorteada. Quando o time não consegue acertar, é apagada uma parte do boneco. O time vencedor será aquele que concluir a rodada com o boneco mais completo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com ditado e cópia 89 Jogo com palavras Registrar no quadro de giz uma palavra retirada de um texto estudado como, por exemplo, cobra. Verificar junto aos alunos a identificação da primeira sílaba da palavra e solicitar-lhes que digam outras palavras que começam com o mesmo fonema. Registrar no quadro de giz as palavras encontradas. Providenciar uma bola e iniciar o jogo arremessando a bola para um aluno, dizendo: Fui à chácara e encontrei uma � cobra. O aluno, que recebeu a bola, repete a frase e, em seguida, troca a palavra cobra por outra que comece com o mesmo fonema, enquanto arremessa a bola para um colega. Continuar o jogo nessa sequência até se esgotarem as palavras que come- çam com a mesma sílaba/fonema. Pode-se recomeçar a rodada com palavras que contenham a sílaba final da palavra cobra, por exemplo. Caça-palavras Traçar, no quadro de giz, um quadro quadriculado que contenha palavras estudadas nos textos e mais algumas letras isoladas. Distribuir as palavras nas colunas horizontais ou verticais e acrescentar outras letras aleatoriamente como o exemplo a seguir: peteca, árvore, bola, casa, cobra e letras isoladas. C A B C D E P E T E C A O H A G Z X R O P Q F B B Á R V O R E N L M G O R E A F C A S A K P H L A D B C S T U V J E I A Solicitar aos alunos que, um de cada vez, encontrem as palavras “escondidas” e as escrevam no quadro de giz. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 90 Prática Educativa da Língua Portuguesa Bingo Confeccionar cartelas com 16 quadrados nos quais estão registradas palavras retiradas dos textos estudados e distribuir uma cartela para cada aluno. Anunciar em voz alta as palavras, uma por vez, enquanto os alunos vão assi- nalando com um feijão, na sua cartela, a palavra “cantada”. O aluno que assinalar primeiro uma sequência de quatro palavras ganhará o jogo. Cópia de frases montadas com palavras recortadas Recortar palavras de revistas, jornais, bulas de remédio, pacotes de manti- mento e guardá-las em envelopes. Distribuir os envelopes aos alunos e solicitar-lhes que montem frases e até pequenos textos e, em seguida, copiem-nos no caderno. Jogo de sílabas Registrar sílabas já estudadas no quadro de giz e solicitar que os alunos formem palavras, que serão registradas no quadro por um aluno de cada vez. Em seguida, eles fazem a leitura das palavras codificadas em voz alta e as copiam no caderno. Bloco de dúvidas Organizar, num bloco de papel, o registro de palavras que apresentam di- ficuldade de escrita, sequenciando-as segundo a proximidade fonética que apresentam. Deixar o bloco à disposição dos alunos para consultas, sempre que se fizer necessário. Acrescentar gradativamente novas palavras que forem sendo apontadas pelos alunos como de difícil grafia. Minidicionário Organizar, em folhas de papel de desenho arquivadas, o registro de palavras em ordem alfabética, escrevendo seu(s) significado(s) ao lado de cada uma delas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com ditado e cópia 91 Os alunos poderão ilustrar o minidicionário, desenhando algo sobre o signi- ficado da palavra. Acrescentar novas palavras ao minidicionário sempre que forem incorpora- dos outros termos ao vocabulário utilizado nos textos lidos e produzidos oral- mente ou por escrito. Ressalta-se que todo tipo de atividade proposta deve ser equacionada no sentido de sua adequação ao conteúdo que comporta ser reiterado e ao proces- so de aprendizagem progressiva que se verifica junto aos alunos. Texto complementar Ditado e avaliação (CAGLIARI, 2008, p. 295-305) Na escola, algumas vezes, são feitos ditados apenas para controlar a disci- plina, castigar a classe ou simplesmente ocupar um tempo ocioso, que o pro- fessor não sabe como aproveitar. Tal atitude é tão absurda que nem merece comentários. Na alfabetização, a prática comum de ditados tem como finalidade real avaliar o desempenho dos alunos para constatar se já dominaram o que foi ensinado. Dado os problemas e as dificuldades apresentados acima, fica claro que o ditado não é uma boa forma de avaliação, mesmo para os alunos que são alfabetizados através do ba-bé-bi-bó-bu. Na verdade, os ditados são usados para dar notas. Alguns professores contam os erros e calculam a nota e o conceito. Como a escola não consegue se livrar da nota, tampouco con- segue se livrar do ditado. Um professor mais bem-humorado pode usar os ditados como uma forma de jogo: os meninos ditam para as meninas e vice-versa, para saber quem escreve mais palavras corretamente. Pode-se até fazer um campeo- nato. Nesses casos, como o enfoque muda, o significado da atividade muda. Aquele ditado fonético que só serve para avaliar se o aluno já dominou a lição é lamentável, inútil e deveria ser totalmente abolido da prática escolar. Entretanto brincar de fazer ditado pode ser uma atividade interessante. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 92 Prática Educativa da Língua Portuguesa A cópia como punição A escola tem consciência de que alguns exercícios de cópia não passam de pura repetição mecânica. Por essa razão, utiliza-se dela, às vezes, para punir alunos indisciplinados. A punição consiste em copiar inúmeras frases de cunho moral, se o problema for de indisciplina, ou algo específico de uma lição, se o aluno não presta atenção às explicações do professor. Um profes- sor deve ser também um educador e há maneiras mais inteligentes e efica- zes de educar uma criança que não punindo. Na escola, uma das atividades mais comuns de escrita consiste em copiar informações do quadro-negro, de livros,de apontamentos etc. Copiar infor- mações, textos, passar a limpo acaba parecendo para alguns alunos uma forma de punição e, por isso, eles demonstram relutância em executar esse tipo de tarefa, prejudicando-se muito nos estudos. A própria escola tem muito pouco senso crítico para sair de sua incompetência e ver o mal que causa aos alunos com certos comportamentos punitivos. Dica de estudo Para aprofundar o estudo sobre a cópia e o ditado na perspectiva pedagógica você pode ler o capítulo 11 do livro de CLAGLIARI, L.C. Ditado e cópia. In: Alfabe- tizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 2008. p. 285-310. O autor reconceitua ditado e cópia, propondo a superação dos procedimen- tos mecânicos e punitivos adotados nas práticas tradicionais. Sob uma concep- ção que enseja atenção e reflexão do aluno, o ditado e a cópia empregadas de forma lúdica; articuladas aos fundamentos da linguística que presidem a apren- dizagem da escrita alfabética, têm lugar entre as práticas educativas da língua portuguesa nas séries iniciais, é o que o autor objetiva demonstrar nesse rico capítulo de considerações e exemplos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com ditado e cópia 93 Atividades 1. Exercite a aplicação dos conteúdos estudados e elabore sugestões de uma aula prática tendo como objetivo consolidar a aquisição do sistema gráfico da Língua Portuguesa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Maria Auxiliadora Cavazotti O ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa fundamenta-se no prin- cípio de que toda unidade pedagógica é constituída por quatro práticas integradoras: leitura e interpretação de textos, produção de textos, análi- se linguística e atividades de sistematização de conteúdos específicos do código, com base nos textos de leitura e nos textos produzidos. Com base nesse pressuposto, a prática pedagógica, por sua vez, está centrada na compreensão dos mecanismos e elementos textuais, o que demanda desenvolver o trabalho com o texto desde o início do processo pedagógico. Consequentemente, faz-se necessário explicitar os encami- nhamentos metodológicos e sugestões de estratégias relativos aos pri- meiros contatos com o texto escrito e primeiras tentativas de escrita por parte do aluno. Primeiros contatos com o texto escrito Objetivos Desenvolver contato com o texto escrito desde os primeiros momen- tos do processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Compreender os mecanismos e elementos textuais próprios da produ- ção do texto escrito. Encaminhamentos metodológicos Os encaminhamentos metodológicos e sugestões de estratégias, a seguir desenvolvidos, foram adaptados da proposta elaborada pela pro- fessora Ligia Regina Klein (2004). Primeiros contatos com a escrita Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 96 Prática Educativa da Língua Portuguesa Nos primeiros contatos do aluno com o texto escrito, o papel do professor é muito importante, porque, como alguém que já domina a leitura e a escrita, cabe a ele a responsabilidade de demonstrar cuidadosamente como se realiza essa inicia- ção. Portanto, são recomendados alguns procedimentos pedagógicos para o de- senvolvimento inicial do processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita. Em primeiro lugar, é fundamental que o professor, ao registrar um texto em cartaz, no quadro de giz ou no caderno, faça-o sempre na presença dos alunos, de modo a ser observado por eles. Além disso, deve repetir em voz alta as pala- vras que escreve, pois por meio dessa atividade, estará proporcionando ao aluno a oportunidade de observar vários aspectos do procedimento de escrita, como a direção da escrita, a relação oralidade/escrita, a segmentação, entre outros. Na leitura de textos, o professor deverá ir apontando cada palavra lida, de maneira que o aluno possa acompanhar o processo da leitura, estabelecendo as relações entre a oralidade e a escrita. Sugestões de estratégias O contato inicial do aluno com o texto escrito ocorre por meio das seguintes atividades: manuseio de abundante material impresso, particularmente, de livros e � revistas; leitura de textos variados; � registro escrito, de texto oral produzido pelos alunos; � registro escrito, de nomes ou legendas em desenhos elaborados pelo aluno; � registros escritos variados em avisos, cartazes etc. � Primeiras tentativas de escrita Objetivos Desenvolver tentativas de escrita desde os primeiros momentos do processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Primeiros contatos com a escrita 97 Compreender os mecanismos e elementos textuais próprios da produção do texto escrito. Refletir sobre o código e seus mecanismos, buscando encontrar soluções com base nos elementos que lhe são próprios. Encaminhamentos metodológicos Cabe aqui enfatizar procedimentos que são próprios da prática pedagógica de produção de textos. É importante que o professor estimule o aluno a tentar escrever suas ideias, mesmo que ele não domine o código. Nessas tentativas, ele será levado a pensar sobre o código e começará a entender seu mecanismo. Não é o caso de nos preocuparmos, neste momento, com o acerto: o que vale é a situação de desafio que se apresenta ao aluno, obrigando-o a encontrar soluções com base nos ele- mentos que já lhe foram apresentados. Outro aspecto importante é que o professor deve mostrar-se sempre disponível para ajudar e fornecer a resposta quando o aluno não conseguir encontrá-la por si mesmo, dizendo-lhe, por exemplo, como se escreve determinada palavra ou sílaba. Na produção do texto oral, o professor empreenderá a correção textual no que se refere aos elementos de articulação, dialetais, intervocabulares, estrutu- rais, de coesão, estilo, sintaxe, entre outros. Essa correção poderá ser feita para- lelamente ao registro ou após um primeiro registro literal, dependendo da ex- tensão do texto. O registro escrito do texto oral formulado pelos alunos será realizado pelo professor no quadro de giz ou em cartaz, contemplando os mesmos elementos trabalhados na oralidade: elementos dialetais, intervocabulares, estruturais, de coesão, de estilo, de sintaxe etc. Essa correção, que poderá ser feita paralelamente ao registro ou após um pri- meiro registro literal, dependendo da extensão do texto, será complementada pela leitura e comentário do texto até a satisfatória absorção pelos alunos da ideia geral do texto e a identificação de algumas palavras. Nesse sentido, será dado destaque às palavras do texto com bom teor referencial. Posteriormente, desenvolve-se um trabalho diversificado com essas palavras através de jogos, composição e decomposição, comparação, ilustração etc., tanto com palavras, como com letras e sílabas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 98 Prática Educativa da Língua Portuguesa Sugestões de estratégias As primeiras tentativas de escrita, pelos alunos, poderão ser na forma de cópia, de produção escrita e de trabalho com palavras. Na forma de cópia: cópia do próprio nome; � cópia de palavras selecionadas em textos trabalhados, em exercícios de � composição e decomposição, valendo-se de sílabas e/ou palavras já do- minadas; cópia de frases ou pequenos trechos selecionados em textos já trabalhados. � Na forma de produção escrita, tomando-se por base o domínio de um conjunto mínimo de sílabas e palavras: registro de palavras e frasessimples; � registro de textos breves; � produção e registro de textos breves. � Na forma de trabalho com palavras: escolher no texto uma ou mais palavras com bom teor referencial– a mais � repetida, a que chamou mais a atenção dos alunos, a que faz parte do título; apresentar essa(s) palavra(s) em vários contextos– no quadro de giz, em � cartaz, em fichas; insistir na apresentação das palavras até perceber que os alunos já fazem � uma leitura globalizada, isto é, já identificam que aqueles grafismos cor- respondem àquelas expressões orais; propor a decomposição das palavras em sílabas e fazer a relação oralida- � de/escrita com cada uma delas; propor vários jogos para fixação tanto das palavras quanto das sílabas e � letras– memória, bingo etc; promover atividades de formação da sílaba com alfabeto móvel; � promover atividades de escrita com as sílabas estudadas; � Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Primeiros contatos com a escrita 99 promover atividades de composição de novas palavras pela combinação das � sílabas estudadas; promover atividades de identificação da relação oralidade/escrita. � Finalmente, é necessário ressaltar que as atividades explicitadas devem ser feitas em duas direções: da oralidade para a escrita e da escrita para a oralidade. Em ambos os casos aparecerão tanto os registros e valores fonéticos idênticos, como os posicionais e arbitrários. Assim, se for solicitado ao aluno que pesqui- se palavras com o som /s/, eles poderão apresentar palavras como sala e cedo, o que permite explicar que, em Língua Portuguesa, podemos grafar esse som de duas maneiras, com S e com C. Nesse caso, é necessário escrever as duas palavras e mostrar que as duas letras, embora diferentes, correspondem a um mesmo som. A observação poderá ser ampliada com a exemplificação de outras palavras com a mesma relação letra/fonema. Texto complementar A produção de textos na alfabetização (CAGLIARI, 2008, p. 209-210) Se o professor alfabetizador deve trabalhar, sempre que possível com textos, os alunos também devem estar sempre envolvidos com a proble- mática da linguagem, analisando-a dentro de um contexto real de uso ou dentro da própria linguagem, como é o caso do estudo das relações entre letras e sons. Isso faz com que os alunos passem da habilidade de produzir textos orais para a habilidade de produzir textos escritos; da habilidade de produzir textos da fala do dia a dia para a habilidade de produzir textos se- gundo exigências escolares e culturais. Essa liberdade de usar uma língua que o aluno já domina para estudar permite que ele escreva sem medo de dizer o que ele pensa e sem medo de errar. O que os alunos fazem produzin- do textos serve, ainda, para mostrar para o professor o que eles já sabem e o que eles precisam aprender no processo de aquisição da leitura e da escrita. Desse modo, acompanhando o desenvolvimento de cada um e da classe nas suas necessidades gerais, o professor pode programar melhor suas aulas e conduzir adequadamente o processo de ensino e de aprendizagem. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 100 Prática Educativa da Língua Portuguesa [...] Dentro dessa visão de produção de textos na alfabetização, logo se vê que os alunos farão apenas pequenos textos no começo, com uma ou duas frases. Depois irão tentando escrever mais, à medida que ficarem mais fluen- tes na escrita. Certamente os primeiros textos vêm sobrecarregados de erros de todos os tipos. O que vale é o trabalho, não o resultado em si. Por isso, o professor não irá corrigir esses primeiros textos. Irá simplesmente analisá-los, discuti-los com os alunos, mostrando algumas coisas interessantes e guar- dá-los no dossiê de material de cada aluno. Algumas anotações serão feitas tendo em vista a programação de aulas futuras. Dica de estudo Para aprofundar o estudo sobre o texto escrito e primeiras tentativas de escri- ta você pode ler CAGLIARI, L.C. A produção de textos espontâneos. In: Alfabeti- zando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 2008. Capítulo 9. p. 196-240. O autor inicia o capítulo retomando a concepção de texto. Reafirma as limita- ções do método de alfabetização pela cartilha em relação à aquisição pelo aluno do domínio da produção de textos; ressalta a importância da centralidade da prática pedagógica da produção de textos orais e escritos na alfabetização; ana- lisa diferenças de qualidade discursiva nos exemplos de textos espontâneos de alunos e textos das cartilhas. Atividades 1. A partir do texto a seguir, desenvolva uma proposta de trabalho com pala- vras em uma classe em que os alunos estão fazendo as primeiras tentativas de escrita. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Primeiros contatos com a escrita 101 Caixinha de música Henriqueta Lisboa Pipa pinga pinto pia. Chuva clara como o dia – de cristal. Passarinhos campainhas colherinhas de metal. Tamborila tamborila uma goteira na lata. Está visto que é só isto. não preciso de mais nada. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Maria Auxiliadora Cavazotti O ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, norteado pelas práticas pedagógicas integradas de leitura e interpretação, produção de texto, análise linguística e sistematização dos conteúdos do código, objetivam a formação do leitor/escritor competente, capaz de fazer o uso adequado dos recursos discursivos necessários à produção da interação linguística com outros sujeitos. As práticas educativas referentes ao domínio do código e da compreen- são dos mecanismos e recursos da estrutura textual se desenvolvem desde o início da aprendizagem escolar, sendo propostas práticas de leitura e de produção de texto escrito, com base em procedimentos pedagógicos sis- tematizados a partir de um domínio mínimo da escrita pelos alunos. Prática de leitura Encaminhamentos pedagógicos Os encaminhamentos metodológicos e sugestões de estratégias, a seguir desenvolvidos, foram adaptados da proposta elaborada pela pro- fessora Ligia Regina Klein (2004). Desde os momentos iniciais de contato com o texto escrito, o pro- fessor deve proceder à prática de leitura abundante e variada, de textos diversificados, de boa qualidade quanto à forma e ao conteúdo, com ob- jetivo de fruição. Também, as práticas de leitura, interpretação e análise de textos diver- sificados são orientadas pelo professor. Os casos de interpretação e análise de textos, posto que constituem atividades especiais, não devem ocorrer em toda atividade de leitura, pois esta deverá ter, inúmeras vezes, apenas caráter de aproveitamento. Procedimentos a partir de um domínio mínimo da escrita pelos alunos Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 104 Prática Educativa da Língua Portuguesa Os textos que apresentam problemas de conteúdo e de forma, bem como aqueles que resultam de tentativas dos alunos de realizarem suas produções escritas, serão apenas objeto de análise linguística e com perspectiva de reescri- ta. Essas práticas se realizam exclusivamente sob a orientação do professor, em razão de que se prestem à sistematização de questões pertinentes aos recursos textuais e ao estudo do código. Prática de produção do texto escrito Encaminhamentos metodológicos O professor deverá, tanto quanto possível, definir junto aos alunos a desti- nação do texto escrito, e isso deverá estar claro antes mesmo da realizaçãodo exercício de produção textual. A atividade de conclusão de produção do texto escrito será, nesse caso, a própria veiculação do texto. Essa veiculação, obvia- mente, está determinada pela definição anterior do destinatário. Ela poderá, então, dependendo dessa definição, ser: exposta em sala de aula, em cordel ou no pátio da escola; � reproduzida em mimeógrafo ou xerox; � integrada num livro da classe; � enviada, se for correspondência, ao destinatário; � encaminhada de outras formas. � No que diz respeito à correção do texto, o professor deverá apresentar a frase que contém o problema e interrogar os alunos sobre a forma mais adequada de dizer aquilo. Eles muitas vezes têm uma sugestão de correção, mas se ela não foi feita, o professor mesmo deve apresentá-la. É necessário discutir a correção e explicar pormenorizadamente as razões das mudanças que serão realizadas no texto. Sugestões de estratégias Produção de texto com base em situações diversificadas, como comentá- rios sobre: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Procedimentos a partir de um domínio mínimo da escrita pelos alunos 105 algum fato que despertou o interesse da turma; � uma situação corriqueira; � um texto lido; � um filme; � um desenho; � reconto de história. � Correção coletiva da produção de texto que se refere aos elementos: de articulação, dialetais, intervocabulares, estruturais, de coesão, de estilo, � de sintaxe, entre outros. Correção coletiva do texto nos aspectos gráficos: segmentação, ortografia, pontuação, acentuação etc. � Trabalho diversificado, com registro escrito concluído, considerando os elementos: de articulação, dialetais, intervocabulares, estruturais, de coesão, de estilo, � de sintaxe, entre outros. Trabalho diversificado de ampliação do léxico, noções textuais mais elaboradas, trabalho diversificado de leitura, interpretação e análise crítica do texto escrito. As correções poderão ser feitas paralelamente ao registro ou após um primei- ro registro literal, dependendo da extensão do texto. Texto complementar Conclusões: algumas considerações didáticas (FARACO, 2001) Defende-se [...] a ideia de que a ordem de apresentação sistemática dos elementos da grafia é bastante relativa, cabendo ao professor a elaboração da Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 106 Prática Educativa da Língua Portuguesa ordem mais adequada a partir do saber que ele tem do sistema gráfico e da situação concreta dos seus alunos. Posto isso, pode-se acrescentar que as decisões do professor quanto à ordenação do ensino dos diferentes aspectos do sistema gráfico deverão levar em conta a articulação de dois critérios: o grau de regularidade do fe- nômeno (primeiro os mais regulares e produtivos; depois os irregulares) e sua frequência (primeiro os mais frequentes; depois os mais raros; deixando os raríssimos para as outras séries do Ensino Fundamental). Não deve ser difícil perceber, pela exposição do sistema gráfico, que a escola tem criado certos mitos em torno das facilidades/dificuldades gráficas. Acreditamos (e já vimos vários professores procedendo desta forma) que o pro- fessor pode ter diferentes pontos de partida e criar diferentes ordenações (e ele fará isso necessariamente se trabalhar com a leitura e produção de textos desde o início). Suas opções, em cada caso, aproveitarão, no começo, as muitas regula- ridades do sistema, assumindo que é mais simples (e mais produtivo) aprender primeiro situações previsíveis e depois as imprevisíveis. Se tomarmos isoladamente a grafia de cada palavra, não faz muito senti- do falar em grafias fáceis e difíceis. Podemos, nessa perspectiva, concordar com Luiz Carlos Cagliari quando diz que para a criança “tudo é igualmente difícil no começo; portanto, escrever ‘peixes’, ‘trens’, ‘pata’, ou ‘macaco’ apre- senta o mesmo grau de dificuldade, em princípio, o que significa, em outras palavras, que (deixando de lado os métodos) qualquer criança pode escre- ver ou aprender a escrever qualquer palavra, desde que queira fazer isso, uma vez que não faz sentido dizer que há letras mais difíceis do que outras para se aprender a escrever.” Contudo, aprender a grafar palavra por palavra – embora possa ser visto como uma estratégia didática plausível – seria uma tarefa onerosa, conside- rando que podemos simplificar o processo, aproveitando as muitas regularida- des do sistema gráfico em suas relações com o sistema fonológico da língua. Assim, aprendendo que /ka/ se grafa com CA (sílaba que ocorre em inúmeras palavras da língua), podemos abreviar a tarefa de ensinar e aprender a grafar. Nessa perspectiva, faz um certo sentido, falar em dificuldade e facili- dade. As dificuldades maiores emergem justamente dos casos em que o Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Procedimentos a partir de um domínio mínimo da escrita pelos alunos 107 sistema tem duas ou mais grafias e nenhum (ou quase nenhum) grau de previsibilidade. Assim, não nos parece inadequado iniciar a sistematização da grafia por casos de relações biunívocas. O aluno criará uma hipótese generalizante de que cada letra representa um som, o que é, em parte, correto num sistema alfabético. Inadequado será permanecer nessa hipótese e, pior, não encon- trar no professor o auxílio necessário para superá-la. O aluno deverá relativizar essa hipótese, percebendo aos poucos que o sistema tem algumas representações arbitrárias para cujo domínio ele deve memorizar a forma gráfica global da palavra. Para isso, podem ser bastan- te úteis certos recursos mnemônicos (por exemplo, relações de parentesco entre palavras), alguns dos quais exploramos no corpo do texto. Cabe, é claro, ao professor avaliar o momento mais propício (e a forma de lingua- gem mais adequada) para passá-los aos alunos. Em qualquer situação, o que o professor não deve esquecer é que ele é um construtor de andaimes que criam condições para que os alunos inter- nalizem o novo saber. É preciso, portanto, trabalhar na alfabetização, sempre com elementos verbais plenos de significado para a criança e em meio a ati- vidades significativas com a leitura e a escrita. Como nos mostra Vygotsky, a internalização de um saber qualquer é um processo ativo que emerge de formas de vida coletiva, de interação entre o aprendiz, seus pares e membros mais experientes de sua comunidade. Nessa perspectiva, os “erros” observados na grafia dos alunos devem ser encarados como parte do processo de internalização do sistema. Em geral, esses “erros” são perfeitamente previsíveis e decorrem, em boa parte, das próprias características do sistema gráfico (como procuramos mostrar em vários pontos de nosso texto) e da hipótese generalizante de que há corre- lações uniformes e biunívocas entre letras e sons (o aluno, ao orientar-se por esse critério, transfere diretamente para a grafia as características de sua fala, o que, como vimos, nem sempre é possível). Cabe ao professor criar novas situações, utilizar diferentes estratégias para que os alunos possam superar progressivamente essas dificuldades. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 108 Prática Educativa da Língua Portuguesa Dica de estudo Para aprofundar o estudo sobre procedimentos a partir do domínio mínimo de escrita do aluno você pode ler CAGLIARI, L.C. As hipóteses por trás dos erros. In: Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 2008. Capítulo 10. p. 241-286. Esse capítulo do livro é dedicado à reflexão sobre a importância dos proce- dimentos necessários diante dos erros ortográficos que a criança apresentano seu processo de aquisição da escrita e da leitura. Na condição de linguista e de educador, o professor Cagliari oferece ao professor elementos da linguística para compreender questões as quais estão por trás dos “erros” que as crianças come- tem nas suas produções escritas e, ao mesmo tempo, pressupostos pedagógicos devem nortear o processo de intervenção pedagógica da sala de aula. Atividades 1. Proponha uma aula prática, fornecendo os procedimentos a serem realiza- dos a partir de um domínio mínimo de escrita. Neste roteiro deve ser propos- ta aos alunos a prática espontânea de texto, com base em um texto lido em sala de aula. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Procedimentos a partir de um domínio mínimo da escrita pelos alunos 109Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Maria Auxiliadora Cavazotti A aquisição básica do código da escrita configura um conjunto de con- teúdos específicos, cujo domínio tem lugar desde o início do aprendizado da Língua Portuguesa. Assim, integradas às práticas pedagógicas de leitura e interpretação, produção do texto oral e escrito e análise linguística, desenvolvem-se práticas pedagógicas específicas de codificação/decodificação que com- portam, além daquelas relativas aos conteúdos já abordados (a escrita enquanto representação; o sistema fonético como referência do sistema escrito; as relações letra/fonema fixas, posicionais e arbitrárias; o princí- pio do registro fixo dos vocábulos), encaminhamentos metodológicos e sugestões de estratégias para o ensino-aprendizagem de outros recursos gráficos necessários à representação de determinados fenômenos da ora- lidade. São eles: direção da escrita, segmentação, notações léxicas, pontu- ação, maiúscula e minúscula, tipos de letra e disposição do texto. Direção da escrita Os sinais gráficos da escrita se organizam numa sequência espacial, convencionada sua direção, na nossa Língua Portuguesa, sempre da es- querda para a direita. Essa noção, aparentemente simples para o professor que domina a es- crita, constitui enorme dificuldade para o aluno porque ele exercita, na oralidade, a sequência temporal dos signos sonoros que não serve de referência para o registro gráfico-visual dos escritos, organizados numa cadeia articulada espacialmente. Assim, cabe ao professor informar ao aluno sobre a direção da escri- ta, reafirmando a importância da convencionalidade desse princípio do código escrito, evitando assim, por desinformação, entre outras causas, a “escrita espelhada” manifestada por alguns alunos. Trabalhando com a direção da escrita, a segmentação e outros recursos gráficos Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 112 Prática Educativa da Língua Portuguesa Segmentação A segmentação na escrita também exige sistematização do processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista que na oralidade o texto é segmenta- do apenas em orações ou períodos, quando na escrita ocorre a segmentação por palavras. Por isso, observamos que o aluno comete erros de segmenta- ção nas suas tentativas de escrita, em razão de que toma sua própria oralida- de como referência do registro escrito. Segundo Maria Bernadete Abaurre (2004, p. 208): Não é nem um pouco óbvio que as crianças vejam a escrita como nós a vemos, muito menos que a segmentem, analisem e interpretem à nossa maneira. Elas parecem, isto sim, estar sempre em busca de pistas que as ajudem a delimitar porções significativas para os recortes que fazem do material escrito, recortes com os quais possam trabalhar. Portanto, é fundamental que o professor explique as diferenças de segmen- tação que regem a oralidade e o sistema da escrita: a segmentação na oralidade faz-se por pausas, enquanto, na escrita, ela se realiza por espaçamento. A refle- xão sistemática sobre o texto produzido pelo aluno, orientado pelas informa- ções prestadas pelo professor, desenvolve a compreensão e a apropriação do princípio de segmentação na escrita. Recursos gráficos Pontuação A escrita recorre à pontuação para representar as várias entonações e pausas das quais, na oralidade, lançamos mão para a constituição de significados. A importância dos sinais de pontuação advém de que, além de contribuírem para a segmentação do texto, constituem recurso gráfico capaz de acrescentar elementos de significação, indicando determinadas situações contextuais ou es- tados que, na oralidade, são construídos pela entonação. Notações léxicas Além das letras, a escrita se vale de outros recursos complementares para representar determinadas situações ou nuances na pronúncia dos fonemas. Re- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com a direção da escrita, a segmentação e outros recursos gráficos 113 cordemos quais são e o que representam, reportando-nos às explicações da pro- fessora Ligia Regina Klein (2004, p. 53). Sinais de acentuação Em primeiro lugar, indicam o timbre aberto ou fechado dos fonemas ou a sílaba tônica da palavra como, por exemplo, em você, café. Também são empregados na escrita para a constituição de sentido, como é o caso da indicação do singular e do plural em alguns verbos: Ele tem, eles têm; ele contém, eles contêm. Nesse caso, seu emprego é independente da sua relação com a fonetização oral dessas palavras. Demais notações léxicas Til � – emprega-se sobre o a e o o para indicar a pronúncia nasalizada des- sas vogais. Exemplos: sabão, caixões, maçã. Acento grave � – ou crase emprega-se nos casos de registro da ocorrência de fusão da vogal a. Exemplo: Eu vou à escola. Apóstrofo � – usado para indicar a supressão de um fonema. Exemplos: pau-d’alho, galinha-d’água. Cedilha � – utilizado para o registro do fonema /s/ com uso de C em situa- ção na qual se confundiria com o fonema /k/. Exemplos: cabeça, começo, açúcar. Hífen � – cita-se os que são utilizados mais frequentemente, portanto em- prega-se: para ligar os elementos de palavras compostas. Exemplos: beija-flor, � guarda-chuva; para unir pronomes átonos a verbos. Exemplos: ofereceram-me; cha- � mei-o; para, no fim da linha, separar uma palavra em duas partes. Os usos do � hífen não têm referência na oralidade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 114 Prática Educativa da Língua Portuguesa Maiúsculas e minúsculas O emprego de letras maiúsculas e minúsculas é recurso gráfico que tanto serve para organizar o texto, indicando o início do parágrafo, como também para indicar sentido, ao diferenciar nomes próprios e comuns. Tipos de letras As letras do sistema gráfico classificam-se em manuscrita e mecânica. Na lin- guagem da escola, a letra manuscrita também é chamada de letra cursiva. A letra mecânica, por sua vez, é a letra impressa ou de imprensa, sendo, as maiúsculas, conhecidas como “caixa-alta”, em razão de, nas antigas oficinas de impressão, os tipos usados para imprimir letras eram dispostos em duas caixas: na caixa supe- rior ficavam as letras maiúsculas e, na inferior, as minúsculas. Na nossa prática pedagógica, ao nos perguntarmos que tipo de letra deve- mos ensinar aos nossos alunos, relembramos a proposta da professora Ligia R. Klein (2004, p. 36), que nos recomenda: Propomos que o professor trabalhe, na leitura, com todos os tipos de letra, mas, para efeito do ato de escrita pelo aluno, se restrinja à letra caixa-alta. Essa proposta se fundamenta no fato de que, nos dias atuais, a letra cursiva perdeu sua utilidade: esse tipode letra foi produzido para permitir que as pessoas escrevessem textos muito longos, cansando menos. Entretanto, hoje ninguém mais escreve à mão longos textos; quando precisam fazê-lo recorrem à escrita mecânica, até mesmo porque ninguém mais se dispõe a ler um texto longo manuscrito. Todas as situações reais de necessidade de escrita manual com as quais deparamos hoje em dia, como preencher cheques, escrever bilhetes, listas de compras, redigir pequenas notas ou registrar endereços, aceitam muito bem a letra caixa-alta. Deste modo, parece descabido impor aos alunos um esforço extra que se configura inútil. Porém, se o aluno já teve alguma experiência anterior com a escrita cursiva e já domina minimamente seu traçado, também não há razão para que o professor imponha uma mudança de registro para “conformá-lo” à turma. Cabe, no entanto, reforçar o fato de que o aluno deve aprender a ler todos os tipos de letra (inclusive os tipos de fantasia), pois esses tipos, mesmo na escrita mecânica, estão presentes. Disposição do texto A depender do tipo de texto, sua disposição no papel obedece a modelos próprios respeitando as regras gerais de direção da escrita e segmentação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com a direção da escrita, a segmentação e outros recursos gráficos 115 No trabalho de produção de texto escrito, é importante destacar que a cor- respondência pressupõe determinados modelos em função do seu destinatário e veiculação e que, portanto, sua disposição deve ser previamente definida com os alunos sob orientação do professor. Sugestões de estratégias Registrar o texto no quadro de giz e fazer uma leitura em voz alta para os a. alunos, dramatizando a fala dos “mineiros”. Historinha mineira “Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomando uma pincumel e cuzinhando um kidicarne com mastumate pra fazer uma macarronada com galinha assada. Quascaí de susto, quando ouvi um barui vindidentoforno, parecendo um tidiguerra. A receita mandopô midipipoca dentro da galinha prassá. O forno isquentô, misturo e ucu da galinha ispludiu! Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí denda- pia! Fiquei sensabê doncovim, pronconvô, oncotô. Oiprocevê quelucura! Grazadeus ninguém simaxucô!” Pasquim 21. n. 50, 11 fev. 2003. Verificar junto aos alunos o que eles compreenderam do texto com base na leitura do professor. Confrontar a compreensão do texto pelos alunos e o que o texto quer dizer. Explicar que, na linguagem oral, a segmentação não se faz entre as palavras. Além disso, variedades dialetais, como o falar dos “mineiros”, omitem sílabas e fonemas das palavras. Proceder à reescrita das frases, com o emprego da segmentação padrão entre as palavras e acrescentando a elas as sílabas e fonemas omitidos, conferindo- lhes sentido completo. Ler a poesia a seguir em voz alta para os alunos, destacando bem a ento-b. nação dos versos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 116 Prática Educativa da Língua Portuguesa Canção de garoa Mario Quintana Em cima do meu telhado, Pirulin lulin lulin, Um anjo, todo molhado, Soluça no seu flautim. O relógio vai bater: As molas rangem sem fim. Fica olhando na parede Fica olhando para mim. E chove sem saber por quê... E tudo foi sempre assim! Parece que vou sofrer: Pirulin lulin lulin... Fazer a interpretação do sentido da poesia, buscando compreender, além do enredo, o tema da poesia, numa conversa com a participação de todos os alunos, sob a direção do professor. Estimular as contribuições por meio de perguntas. Proceder à compreensão do vocabulário. Solicitar aos alunos que marquem no quadro de giz, com cores diferentes, as marcas da entonação e do sentido dos versos, identificando os sinais de pontu- ação e demais notações léxicas: vírgula, ponto final, ponto de exclamação, dois- -pontos, reticências. Discutir com os alunos a intenção de constituição de sentido do autor verifi- cada no uso da pontuação e demais notações léxicas. Os alunos copiam a poesia no caderno para a realização posterior de outros exercícios. Registrar os textos no quadro de giz e fazer uma leitura em voz alta para c. os alunos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com a direção da escrita, a segmentação e outros recursos gráficos 117 Mistério de amor José Paulo Paes É o beija-flor que beija a flor ou é a flor que beija o beija-flor? Tempos de vida B. Mellonie e R. Ingpen, tradução de José Paulo Paes As árvores que são altas e fortes crescem devagar, ao sol e à chuva. Algumas vivem de fato muito tempo, até cem anos ou mais. Esse tempo é o seu tempo de vida. Fazer a interpretação do sentido das poesias, buscando compreender além do enredo, o tema da poesia, numa conversa com a participação de todos os alunos, sob a direção do professor. Estimular as contribuições por meio de perguntas. Solicitar aos alunos que assinalem nos textos as palavras que contêm os sinais de acentuação e as notações léxicas: crase, til, hífen. Justificar a escolha. Identificar os versos que começam com letra maiúscula e justificar a escolha. Os alunos copiam as poesias no caderno para a realização posterior de outros exercícios. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 118 Prática Educativa da Língua Portuguesa Texto complementar A segmentação na escrita infantil (CAPISTRANO, 2007) A segmentação constitui um recurso ligado ao aspecto gráfico-visual do enunciado escrito que possibilita, de diferentes maneiras, a divisão do fluxo textual em porções menores – recursos como os espaços em branco entre palavras, espaços em branco referentes a parágrafos, unidades de escrita de- limitadas por sinais de pontuação, entre outros. [...] Silva (1994) realiza uma análise preliminar com vistas a levantar algumas hipóteses sobre aspectos da fala possivelmente envolvidos nos critérios de segmentação utilizados pelas crianças na elaboração de seus textos. À luz dos critérios utilizados por Silva (1994) em sua análise, e das conclu- sões a que chega a respeito das decisões sob segmentação tomadas pelas crianças em suas produções textuais, é possível afirmar que o estudo levado a efeito por esse autor foi mais amplo que seu objetivo inicial. Em outros termos, mais do que levantar algumas hipóteses sobre os aspectos da fala possivelmente envolvidos nos critérios de segmentação utilizados pelas crianças na elaboração de seus textos, sugere uma outra série de hipóteses sobre as tentativas de escrita infantil que não se baseariam exclusivamente em aspectos da enunciação oral. Logo de início, o autor ressalta, acertadamente, que a criança, de seu ponto de vista, formula e reformula hipóteses sobre a escrita não só por projetar as- pectos do conhecimento que adquiriu em suas práticas de linguagens orais, mas também por envolver-se em situações de interação com a escrita – em casa ou na escola, através de observação espontânea ou treinamentos. Ressalta também que, durante o processo de construção da escrita, esta se apresentaria à criança como muito mais complexa do que uma simples transcrição da fala. Entretanto, por desconhecer os critérios ortográficos de segmentação – a criança, segundo Silva, ignora que a separação em espaços Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com a direção da escrita, a segmentação e outros recursos gráficos 119 em branco do nosso sistema de escrita é feita com base em unidades mor- fológicas – e,por isso, não consegue detectar o término de uma palavra e o início de outra – já que, no fluxo da linguagem oral, as palavras soam como encadeamentos indiferenciados –, a criança, quando segmenta seu texto, utiliza critérios diferentes, baseados em possibilidades virtuais do nosso sis- tema de escrita que denotariam não só percepções da fala, como também hipóteses fundadas em percepções da própria escrita. Dito de outra manei- ra: “Além de representações gráficas baseadas, provavelmente, na percepção da pronúncia de unidades da linguagem oral, é possível identificar a presen- ça de elementos que pressupõem a incorporação de modelos convencionais escritos” (SILVA, 1994, p.22) [...] Entre as conclusões desse autor, a sua principal contribuição é a observa- ção do caráter de movimento da escrita: nos textos analisados por Silva, as crianças recorrem, quando propõem segmentação para seu texto, ora a seus conhecimentos acerca da linguagem oral, ora a seus conhecimentos acerca da linguagem escrita – particularmente os mais convencionais, ou institucio- nalizados – e, ainda, a uma convivência entre esses dois fatores. Dica de estudo Para aprofundar a reflexão sobre a importância de compreender a dificulda- de da aprendizagem da segmentação do texto você pode ler o livro da pesqui- sadora CAPISTRANO, C.C. Segmentação na Escrita Infantil. São Paulo: Martins Fontes, 2007. O livro da autora é resultado de uma pesquisa desenvolvida com crianças em processo de alfabetização, observando e explicando dificuldades e problemas na aquisição da habilidade de segmentação no texto escrito. O trabalho é signi- ficativo e instiga a leitura porque revela ao professor a importância conferida à questão da segmentação no texto da criança. A aprendizagem da segmentação se torna, assim, algo a ser levado a sério pela prática pedagógica, superando a falsa ideia de mera desatenção da criança, e oferecendo ao professor procedi- mentos consistentes e fundamentados em pressupostos da linguística. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 120 Prática Educativa da Língua Portuguesa Atividades 1. Elabore uma atividade para realizar com os alunos uma prática de produção de texto. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com a direção da escrita, a segmentação e outros recursos gráficos 121Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein Uma das dificuldades do aluno, na produção textual, é a articulação das partes estruturantes do texto, de modo a dar-lhe uma unidade adequada. Estrutura textual Em primeiro lugar, cabe lembrar que os textos apresentam, via de regra, três partes estruturantes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Claro que há determinados tipos de textos que não se estruturam assim, como é o caso, por exemplo, da agenda telefônica, das listas em geral (lista de compras, lista de atletas de um time) etc. Para desenvolver a noção dessa estrutura composta por introdução, desenvolvimento e conclusão é muito importante a atividade de leitura de textos bem estruturados. Por ocasião da leitura, o professor pode co- mentar a estrutura do texto e indicar bem claramente o trecho correspon- dente a cada uma dessas partes, como no seguinte exemplo: Trabalhando com estrutura textual e unidade temática A bailarina Cecília Meireles Esta menina Tão pequenina Quer ser bailarina. Não conhece nem dó nem ré Mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem mi nem fá Mas inclina o corpo para cá e para lá. Não conhece nem lá nem si, Mas fecha os olhos e sorri. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 124 Prática Educativa da Língua Portuguesa Roda, roda, roda com os bracinhos no ar E não fica tonta nem sai do lugar. Põe no cabelo uma estrela e um véu E diz que caiu do céu. Esta menina Tão pequenina Quer ser bailarina. Mas depois esquece todas as danças, E também quer dormir como as outras crianças. Na primeira parte do poema, Esta menina Tão pequenina Quer ser bailarina. Aqui, a autora introduz o tema, apresentando a personagem e seu desejo. Na segunda parte, Não conhece nem dó nem ré Mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem mi nem fá Mas inclina o corpo para cá e para lá. Não conhece nem lá nem si, Mas fecha os olhos e sorri. Roda, roda, roda com os bracinhos no ar E não fica tonta nem sai do lugar. Põe no cabelo uma estrela e um véu E diz que caiu do céu. Nesse momento, a autora desenvolve o tema, recorrendo a uma sequência de ideias contrastivas que indicam, ao mesmo tempo, uma qualidade e uma difi- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com estrutura textual e unidade temática 125 culdade que, respectivamente, aproximam e distanciam a menina do seu desejo. Vale observar que, nas três primeiras estrofes da segunda parte, a autora estabe- lece uma relação entre a música e a dança, referindo-se às notas musicais (que a menina não conhece) e aos movimentos e alegria próprios da dança (que ela consegue realizar). Nas duas últimas estrofes do desenvolvimento, a autora leva a alegria da dança ao clímax. Na terceira parte, Esta menina Tão pequenina Quer ser bailarina. Mas depois esquece todas as danças, E também quer dormir como as outras crianças. A autora conclui o poema recolocando o desejo da menina, agora, entretan- to, vencida pelo sono. Outra estratégia importante é demarcar essas partes por ocasião da atividade de análise e reescrita dos textos dos próprios alunos, como no exemplo: Era uma vez meu amigo que gostava de brincar na chuva. A mãe dele ficava muito brava com ele, porque ele ficava com a roupa toda molhada e suja. Um dia, ele escorregou na lama e caiu e daí os amigos deram muita risada dele. Depois desse dia ele nunca mais brincou na chuva. Nesse texto, temos uma estrutura bastante adequada, com introdução (em que a personagem é apresentada); desenvolvimento (em que o autor leva a nar- rativa a um certo clímax) e, finalmente, a conclusão (a narrativa se encerra com uma mudança na atitude da personagem). Além de recorrer às atividades de leitura e produção de texto, é possível de- senvolver algumas atividades específicas para promover uma boa noção de es- trutura textual, como proporemos a seguir: propor que os alunos inventem um final ou início diferente para uma � narrativa; Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 126 Prática Educativa da Língua Portuguesa apresentar aos alunos o desenvolvimento e o final de uma história e pro- � por que eles criem a introdução; apresentar aos alunos a introdução e o desenvolvimento de uma história � e propor que eles criem o final; apresentar aos alunos a introdução e o final de uma história e propor que � eles criem o desenvolvimento; registrar as partes de um texto, em fichas diferentes, e propor que os alu- � nos coloquem-nas na ordem adequada; propor a produção de textos, recomendando atenção com a estrutura; � promover a análise linguística e reescrita dos textos dos alunos, em ativi- � dade coletiva. Unidade temática A unidade temática consiste na ligação de todas as ideias a uma ideia central, ou tema. Para alcançar um bom índice de unidade temática, é importante que o autor evite ser prolixo, isto é, evite incluir, no texto, ideias ou informações desne- cessárias, irrelevantes ou dispersas em relação ao tema. Paraque os alunos aprendam a buscar e selecionar as ideias relevantes e ne- cessárias para a construção do tema, e também aprendam a ligá-las adequada- mente, são muito importantes as atividades de leitura/interpretação, produção e reescrita de textos, a exemplo do que já afirmamos acerca da estrutura textual. Essas atividades, entretanto, também neste tópico podem ser complementa- das por alguns exercícios específicos como, por exemplo: descobrir a ideia que não combina com o texto – apresentar aos alunos � um texto, como o abaixo, em que se encontra inserida uma ideia que não se articula com o tema e propor que a identifiquem e retirem; Uma vez o macaco Simão estava passeando na floresta e encontrou uma caixa fechada por um cadeado. Como ele era muito curioso, logo tentou abri-la. Quando finalmente conseguiu, um palhaço de mola saltou de dentro da caixa. Os meninos preferem jogar futebol. O macaco Simão levou o maior susto e ficou curado de sua curiosidade exagerada. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com estrutura textual e unidade temática 127 devolver a frase ao seu texto – apresentar aos alunos dois textos distintos, � nos quais encontram-se frases trocadas e propor a eles que reescrevam os textos, devolvendo a cada um a frase que lhe pertence. Era uma vez um ratinho pequenino Também dei muitas risadas com os macacos que faziam malabarismos. E os dois se encontravam todo dia Num buraquinho de um ralo na esquina. No domingo passado meu pai me levou ao circo. Do que eu mais gostei foi dos trapezistas e dos palhaços. Que namorava uma ratinha pequenina Quero que meu pai me leve ao circo de novo. orden � ar a história. Recortar as cenas de uma história em quadrinhos e acrescentar um ou dois quadrinhos de outra história. Propor aos alunos que ordenem os quadrinhos segundo a ordem da história; construindo uma história coletiva. Escrever, no quadro de giz, uma frase � inicial de uma narrativa e pedir aos alunos que vão sugerindo outras frases para continuar. No processo, ir comentando a possibilidade ou não de as frases sugeridas se articularem de modo a constituírem um tema; completar o diálogo. Apresentar os enunciados de apenas um dos interlo- � cutores e propor que os alunos elaborem os enunciados do outro; “Triiim! Triim!” — Alô! — — Quem é? — — Tudo bem, e você? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 128 Prática Educativa da Língua Portuguesa — — Fale... — — Tá, vou pedir pra minha mãe. — — Então tá, tchau. — ... propor a produção de textos, recomendando atenção com a unidade te- � mática; promover a análise linguística e reescrita dos textos dos alunos, em ativi- � dade coletiva. A partir dessas sugestões, acreditamos que o professor, com sua experiência e criatividade, construirá um acervo bastante rico de estratégias para o desen- volvimento desses conteúdos. Texto complementar Roteiro para um bom texto (MANDRYK; FARACO, 1987) Estes pontos estão aqui para servir como um roteiro de opções que você deve usar antes de se pôr a escrever um texto. Para que um conjunto de frases constitua um bom texto, é fundamental que haja: unidade temática (tratar do mesmo assunto);a. unidade estrutural (boa sequência de ideias e boa costura entre as b. partes). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com estrutura textual e unidade temática 129 Para planejar um texto, é importante responder com clareza às seguintes questões: sobre o que vou escrever? (assunto)a. para quem vou escrever? (destinatário)b. com que finalidade? (objetivo)c. Depois disso: Tendo em vista meu(s) destinatário(s), meu(s) objetivo(s) e tudo o que sei sobre o assunto: quais as informações mais relevantes que devem estar em meu texto? � (seleção de ideias); qual a melhor sequência para essas ideias? (o que colocar na abertura � do texto; como dar continuidade ao texto; o que reservar para o fecha- mento do texto?). Ao escrever: cuidar para que todas as partes estejam harmonicamente costuradas. � Dica de estudo GONÇALVES, Dayse. Língua Escrita em Classes de Ciclo 2 (6 a 8 anos) - 2.a Série – Tarde. In: CAVALCANTI, Zélia (Coord.). Alfabetizando: textos da Equipe Pedagó- gica da Escola da Vila. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 118-137. Embora não se refira especificamente à estrutura textual e unidade temática, esse artigo relata a experiência pedagógica em sala de aula da professora Dayse Gonçalves, da Escola da Vila, no trabalho com diversas modalidades de textos. Ao longo do relato, evidenciam-se estratégias que são claramente pertinentes ao trato da temática da unidade que compõe a presente lição. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 130 Prática Educativa da Língua Portuguesa Ou isto ou aquilo Ou se tem chuva ou não se tem sol, ou se tem sol ou não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares. É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo em dois lugares! Ou guardo dinheiro e não compro doce, ou compro doce e não guardo dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro! Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo. Atividades 1. “Ou isto ou aquilo” é um poema de Cecília Meireles, que serve de título para um de seus livros. Leia o poema e identifique o tema desenvolvido pela poe- ta. Justifique sua resposta. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com estrutura textual e unidade temática 131 Corujinha Toquinho e Vinicius de Moraes Corujinha, corujinha, Que peninha de você. Fica toda encolhidinha Sempre olhando não sei quê. O seu canto de repente Faz a gente estremecer. Corujinha, pobrezinha, Todo mundo que te vê Diz assim, ah, coitadinha, Que feinha que é você. Quando a noite vem chegando Chega o teu amanhecer. E se o sol vem despontando Vais voando te esconder. Hoje em dia andas vaidosa, Orgulhosa como o quê. Toda noite tua carinha Aparece na TV. Corujinha, corujinha, Que feinha que é você. a) O mote desse poema – que serve de letra a uma canção – é a feiura da coruja. Na penúltima estrofe, os autores afirmam que a corujinha anda vaidosa, o que sugere uma incompatibilidade com o tema. No entanto, o texto se constrói de forma coerente, garantindo a unidade temática. Explique o recurso utilizado pelos autores. 2. “Corujinha” é a letra de uma música composta por Toquinho e Vinicius de Moraes. Leia o texto e depois responda à questão proposta. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 132 Prática Educativa da Língua Portuguesa b) A terceira estrofe apresenta uma aparente contradição, ao afirmar que a chegada da noite é o amanhecer para a corujinha. Comente o caráter apenas aparente dessa contradição e a ideia implícita na estrofe. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com estrutura textual e unidade temática 133Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein Dois aspectos bastante importantes na construçãode um bom texto são a coesão e a coerência. A aprendizagem da língua oral, anteriormente ao ingresso do aluno na escola, já contempla um grau bastante elevado de domínio dos recursos de coesão e de coerência textuais, mas vale lembrar que as práticas de lei- tura e interpretação, produção e reescrita de texto, são atividades funda- mentais para consolidar esse domínio e inclusive ampliá-lo. Por outro lado, o professor pode, ainda, desenvolver atividades específicas para o trata- mento de ocorrências mais complexas desses dois aspectos do texto. Para o desenvolvimento das atividades de ensino-aprendizagem relati- vas à coesão, é necessário relembrar que ela consiste na adequada articu- lação entre palavras, orações, períodos e parágrafos. Existem três modali- dades básicas de coesão: referencial, sequencial e por conexão. A coesão referencial diz respeito ao uso de elementos coesivos que remetem (ou se referem) a termos já mencionados no texto (O professor lembrou que amanhã é feriado. Por isso, ele adiou as atividades para a próxima semana). A coesão sequencial compreende o uso de recursos coesivos para estabele- cer, no texto, a ordenação sequencial das informações (Organizei o material e depois comecei o trabalho). A coesão por conexão resulta do encadeamen- to de segmentos textuais (orações e períodos); é obtida pelo emprego de conectores ou operadores discursivos, isto é, por palavras ou expressões que estabelecem relações entre aqueles segmentos dos textos. No caso do tratamento desses conteúdos em atividades de leitura e interpretação, o professor poderá ressaltar a função coesiva de determina- dos recursos utilizados pelo autor do texto. Para tanto, o professor poderá optar por trabalhar apenas os recursos relativos a uma das modalidades de coesão (referencial ou sequencial). Trabalhando com os elementos textuais: coesão e coerência Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 136 Prática Educativa da Língua Portuguesa Recursos de coesão referencial Era uma vez um jovem chamado Gulliver que decidiu viajar pelo mundo. Ele iniciou sua aventura com uma viagem pelo mar. Um dia, durante uma tempestade, seu barco afundou e ele conseguiu nadar até uma praia. Quando acordou, estava sendo espetado por peque- nos dardos atirados por homenzinhos muito pequenos. Feito prisioneiro, Gulliver foi levado até o imperador dos pequenos solda- dos, que falou: — Aqui em Liliput, enfrentamos um terrível inimigo: o povo que vive em uma ilha vizinha. Precisamos de sua ajuda para derrotá-lo. Se você nos ajudar, ganhará, em troca, comida e abrigo. O jovem aventureiro decidiu ajudar os liliputianos e arquitetou um plano. À noite, atravessou o estreito de mar e, aproveitando-se da escuridão, destruiu os barcos dos inimigos, que também eram homens muito pequenos. Os liliputianos, agradecidos, ajudaram Gulliver a retornar à Inglaterra, sua terra natal. Todas as expressões em negrito fazem referência ao mesmo termo, inicial- mente mencionado, no caso, “um jovem”. Os recursos coesivos permitem ligar as ideias a essa expressão, sem a necessidade de repeti-la cansativamente. Se não fosse possível recorrer aos recursos coesivos, o texto precisaria ser escrito mais ou menos assim: “Era uma vez um jovem o nome do jovem era Gulliver e o jovem decidiu viajar pelo mundo. O jovem iniciou a aventura do jovem com uma viagem pelo mar”. Do mesmo modo, as expressões em itálico se referem todas ao mesmo elemento do texto, homenzinhos muito pequenos: “os liliputianos”, “pe- quenos soldados”. Para chamar a atenção dos alunos sobre os recursos coesivos, o professor poderá recorrer a perguntas dirigidas que permitam estabelecer a relação entre os termos assim ligados: Como era o nome do jovem? Qual palavra indica isso? Quem decidiu viajar pelo mundo? Qual palavra mostra isso? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: coesão e coerência 137 Recursos de coesão sequencial No mesmo texto, é possível observar elementos coesivos que “costuram” a sequência do texto. Vejamos: Era uma vez um jovem chamado Gulliver que decidiu viajar pelo mundo. Ele iniciou sua aventura com uma viagem pelo mar. Um dia, durante uma tempestade, seu barco afundou e ele conseguiu nadar até uma praia. Quando acordou, estava sendo espetado por peque- nos dardos atirados por homenzinhos muito pequenos. Feito prisioneiro, Gulliver foi levado até o imperador dos pequenos sol- dados, que falou: — Aqui em Liliput, enfrentamos um terrível inimigo: o povo que vive em uma ilha vizinha. Precisamos de sua ajuda para derrotá-lo. Se você nos ajudar, ganhará, em troca, comida e abrigo. O jovem aventureiro decidiu ajudar os liliputianos e arquitetou um plano. À noite, atravessou o estreito do mar e, aproveitando-se da escuridão, des- truiu os barcos dos inimigos, que também eram homens muito pequenos. Os liliputianos, agradecidos, ajudaram Gulliver a retornar à Inglaterra, sua terra natal. Os termos em negrito são expressões que indicam a sucessão temporal em que ocorreram os fatos. Por meio dessas expressões, o autor constrói a coesão sequencial do texto. Também nesse caso, o professor poderá recorrer a perguntas dirigidas para des- tacar a sequenciação e os elementos coesivos empregados para ordená-la: Depois que decidiu viajar pelo mundo, o que fez Gulliver? Qual palavra indica isso? O que aconteceu após o início da viagem e o que fez o aventureiro? Qual palavra ou ex- pressão indica isso? Após chegar à praia, o que aconteceu com Gulliver? Qual pala- vra indica isso? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 138 Prática Educativa da Língua Portuguesa Outras sugestões de atividades Pedir para que os alunos mostrem, no texto, as expressões que indicam a � passagem para cada nova situação. Solicitar para que os alunos produzam ilustrações observando a sequên- � cia temporal das situações na história. Apresentar aos alunos um conjunto de ilustrações de uma história já lida � ou conhecida e solicitar-lhes que as ordenem sequencialmente, conforme o desenrolar da história e, após essa disposição ordenada das imagens, pedir a produção de um texto empregando sempre termos ou expressões diferentes para se referir a algo (às personagens, por exemplo), de forma que busquem expressões referenciais coesivas. Após a leitura oral de um texto curto, apresentá-lo aos alunos na forma � escrita, mas modificado de tal forma que uma determinada expressão ou termo apareça repetido várias vezes, e solicitar que eles procedam à rees- crita propondo outros termos ou expressões referenciais em substituição ao termo repetido. Coesão por conexão Talvez essa seja a modalidade de coesão mais complexa e, portanto, tende a apresentar mais dificuldade. Para trabalhar com as noções de coesão por cone- xão, é importante lembrar os principais tipos de conectores. que indicam a disposição gradativa de uma série de argumentos, orien-a. tada para uma conclusão: até, mesmo, até mesmo, inclusive, quando muito, ao menos etc.; que articulam argumentos em favor de uma mesma conclusão: b. e, inclusi- ve, não só, também, ainda, nem, tanto... como, além disso etc.; que introduzem argumentos que levam a conclusões opostas: c. quer... quer, caso contrário, ou... ou, seja... seja etc.; que indicam uma relação de conclusão:d. pois, portanto, por conseguinte, logo etc.; que ese. tabelecem comparação entre dois elementos: tão... quanto, tanto... quanto, mais... que, menos... que; Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: coesão e coerência139 que indicam uma explicação ou justificativa ao conteúdo do enunciado f. anterior: pois, porque, que, já que, uma vez que etc.; que contrapõem enunciados: g. mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto, embora, ainda que, apesar de que, mesmo que etc.; que introduzem um argumento decisivo: h. ademais, além disso, aliás, além de tudo etc.; que indicam generalização do conteúdo do enunciado anterior: i. realmen- te, de fato, aliás, também etc.; que introduzem exemplificações do conteúdo do enunciado anterior: j. como, por exemplo etc.; que introduzem uma retificação ou esclarecimento:k. isto é, quer dizer, ou melhor, ou seja, em outros termos etc.; que ilustram o conteúdo do enunciado anterior: l. desse modo, dessa ma- neira etc. Nesse caso, o professor deve ressaltar o conteúdo da conexão produzida: conclusão, explicação, contraposição, ilustração etc. Entretanto, cabe enfati- zar que não se trata de submeter os alunos a exercícios de classificação dos tipos de coesivos, ou seja, não é o caso de apresentar um quadro da clas- sificação das conjunções para os alunos memorizarem. Trata-se de levá-los a pensar no tipo de relação significativa que aquele determinado termo ou expressão introduz no texto. Também, para esse conteúdo, são essenciais as atividades de leitura/inter- pretação, produção e reescrita de texto, complementadas por alguns exercícios específicos. Como atividades específicas, sugerimos: Propor enunciados incompletos, para que os alunos estabeleçam a rela- � ção pertinente entre o elemento coesivo e o complemento do enunciado. Por exemplo: Ele estudou muito, � porque... Ele estudou muito, � entretanto... Ele estudou muito, � ademais... Ele estudou muito, � pois... Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 140 Prática Educativa da Língua Portuguesa Ele estudou muito, � dessa maneira... Propor enunciados semelhantes, porém, com elementos coesivos distin- � tos, para que os alunos os interpretem, percebendo a diferença de sentido produzida pela coesão. Por exemplo: Eu não gosto do calor, � mas sempre vou à praia para acompanhar minha família. Eu não gosto do calor � e nunca vou à praia, embora goste de acompa- nhar minha família. Ler, para os alunos, um pequeno texto rico em elementos coesivos, � depois, entregar-lhes o mesmo texto com lacunas no lugar dos coesi- vos e solicitar a eles que o completem, mantendo o conteúdo do texto inalterado. Incentivá-los a usarem elementos coesivos diferentes, da mesma ordem. Por exemplo: O “superpai” não existe de verdade, pois é aquele que sempre pode participar de todos os momentos da vida dos seus filhos. Sabemos, entre- tanto, que isso é muito difícil, principalmente nos dias atuais, uma vez que, hoje em dia, os pais são obrigados a trabalhar cada vez mais. Por isso pro- curo entender quando meu pai não está comigo, embora às vezes fique triste pois gosto muito da sua companhia, tanto quanto sei que ele gosta da minha, e seria muito bom se ele sempre estivesse comigo. Propor a produção de textos, recomendando atenção com os aspectos � de coesão. Promover a análise linguística e a reescrita dos textos dos alunos, em ativi- � dade coletiva, observando especialmente os aspectos de coesão. Coerência Como já sabemos, enquanto a coesão se refere à articulação dos elementos linguísticos presentes no texto, a coerência diz respeito às relações de sentido. Há coerência quando o texto não apresenta sentidos contraditórios, permitindo a atribuição de um sentido unitário ao texto. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: coesão e coerência 141 É importante lembrar que a coerência tanto pode se dar no âmbito intratex- tual, ou seja, no interior do texto, como no âmbito extratextual, isto é, entre as ideias do texto e as ideias consensualmente aceitas pelas pessoas. Para trabalhar esse conteúdo, o primeiro passo é fazer com que os alunos entendam claramente em que consiste a coerência. Dada uma atitude ou afir- mação inicial, a coerência consiste em manter rigorosamente a mesma posição nas atitudes e afirmações posteriores. Um outro importante aspecto a ser considerado é o de que o processo de ensino-aprendizagem sobre os mecanismos de coerência/incoerência não deve, em hipótese alguma, assumir uma dimensão moralista, de condenação ou re- provação generalizada de situações de incoerência, pois esta nem sempre é um erro ou um comportamento antiético. A incoerência pode resultar de falta de conhecimento sobre uma situação ou assunto, de uma situação de opressão ou mesmo de uma escolha perfeitamente justificável. Enfim, a incoerência pode ser consciente ou inconsciente, escolhida ou imposta, sobretudo na infância e na adolescência, quando as “certezas” são mínimas, e as dúvidas, inúmeras. É pre- ciso que o professor, ao invés de arrogar a si uma atitude condenatória, procure ajudar os alunos a entenderem as causas de suas dúvidas e de suas incoerências e a se posicionarem o mais coerentemente possível. Algumas sugestões de atividades Lembrando que as práticas de leitura/interpretação, produção, análise e rees- crita de texto são as práticas mais completas para quaisquer conteúdos, sugeri- mos algumas atividades complementares específicas: analisar, num texto dado, a coerência dos argumentos incluídos para sus- � tentar a ideia principal; analisar, num texto dado, a coerência dos exemplos incluídos para esclare- � cer ou reforçar a ideia principal; propor temas polêmicos para debates e posterior produção de texto, ob- � servando a coerência das ideias sob pontos de vista contraditórios; analisar histórias, filmes, contos etc., que envolvam situações polêmicas � e propor aos alunos que analisem as opiniões contrárias e destaquem os argumentos coerentes, segundo cada ponto de vista envolvido; Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 142 Prática Educativa da Língua Portuguesa propor-lhes que desenvolvam enredos contrários (o “outro lado” da histó- � ria) para histórias conhecidas, de modo a exercitar o desenvolvimento de contra-argumentos; propor temas polêmicos para a realização de júri simulado; orientar os alu- � nos para estudarem o assunto e arrolarem argumentos, informações, exem- plos coerentes com o ponto de vista que desejam defender ou criticar; propor a produção de textos, recomendando atenção com os aspectos de � coerência interna e externa; promover a análise linguística e a reescrita dos textos dos alunos, em ativi- � dade coletiva, observando especialmente os aspectos de coerência. Exemplos de desenvolvimento de atividade Apresentamos, abaixo, dois excertos de texto que expressam duas versões diferentes sobre o mesmo fato relativo à história da Branca de Neve: a versão da Rainha e a versão da própria Branca de Neve. Em cada versão, há argumen- tos diferentes para o procedimento de cada personagem. Promova, entre seus alunos, um debate sobre os argumentos que sustentam cada ponto de vista, propondo que, ora eles defendam a versão da Rainha, ora a versão da Branca de Neve. Estimule os alunos a proporem novos argumentos. Se você não atua como professor(a), desenvolva essa atividade em conjunto com algum(a) colega de curso que já exerce a docência. Minha versão da história: pela Branca de Neve e pela Rainha (DISNEY, 2004) Branca de Neve Por que eu não pareço uma princesa? O principal motivo para eu não parecer uma princesa é o fato de passar todo o tempo esfregando e varrendo o palácio. Eu não me importo de fazer a limpeza. Na verdade, eu até gosto. Bastante. Mas o trabalho acaba com as minhas roupas. Elas estão todas rasgadas.Eu não ganhei um vestido novo desde que o papai morreu, há muitos anos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: coesão e coerência 143 Sempre que eu peço para a Rainha ela diz: “Não seja boba, Branca de Neve! Você ainda é uma menina!” A rainha é minha madrasta, meu único parente agora que o papai se foi. Ela é muito bonita, mas tem lá o seu gênio, e de vez em quando não consigo deixar de pensar que ela não gosta muito de mim. Sempre que me vê, ela faz cara feia e me dá mais trabalho. Na semana passada ela me fez esfregar a escada do calabouço três vezes. Ela me disse que era um bom exercício. E ontem, quando me viu comer um pedaço de bolo, ela o arrancou da minha mão. — Doces – ela disse de maneira áspera – não são adequados a meni- nas em crescimento. Volte para a sua dieta de casca de pão e mingau, está ouvindo? Eu voltei. Nessa manhã, enquanto tirava água do poço, comecei a pensar se as coisas um dia mudariam. — Será que a Rainha vai gostar mais de mim algum dia? – eu perguntei para os meus amigos, os pombos do castelo. – Será que ela vai me deixar ter algum tempo livre e comer alguma coisa gostosa? Eles levantaram a cabeça suavemente, como se estivessem pensando na resposta. — E será que ela me deixaria ter um vestido novo? – perguntei, suspiran- do. — Eu espero que sim... Rainha Não é fácil ser uma madrasta Vamos esclarecer as coisas: eu adorava a Branca de Neve. Eu ainda adoro. O que quer que você tenha ouvido – que eu era uma “madrasta diabólica” que tentou fazer mal a ela – é tudo mentira. Tudo o que eu fiz foi para o bem dela e, quando eu contar a minha versão da história, tenho certeza de que você vai acreditar em mim. Em primeiro lugar, a não ser que você mesmo já tenha criado uma ado- lescente, você não tem ideia de como isso é desgastante. As adolescentes Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 144 Prática Educativa da Língua Portuguesa são preguiçosas. São mal-educadas. Elas só comem porcarias. Usam umas roupas ripongas e precisam de vigilância constante, porque não podem ver um menino na frente. Branca de Neve era uma adolescente típica. Talvez você tenha ouvido diferente. Mas se tem uma coisa que eu faço bem é pegar as coisas no ar. Em segundo lugar, eu era a madrasta dela. Madrastas têm uma má repu- tação. Elas são sempre chamadas de “cruéis” ou “bruxas”. Por alguma estranha razão, o mundo inteiro as odeia. Por quê? Não tenho a menor ideia. O que eu sei é que uma mãe “verdadeira” pode ser implicante o tempo inteiro, mas ninguém olha torto para ela. No entanto, se a madrasta perde a paciência uma única vez, sai na primeira página da Folha da Floresta. Para completar, eu sou uma viúva. Não estou tentando fazer você ficar com pena de mim, pode estar certo disso. Mas, quando meu marido morreu, eu tive que cuidar da Branca de Neve – e sozinha! Eu era uma mãe trabalha- dora e solitária que não recebia nem um tiquinho de ajuda de ninguém. E quando as coisas saíam errado, era sempre eu quem levava a culpa... Texto complementar Reestruturação de textos (KLEIN, 1990, p. 45-46) Quando a criança faz seus primeiros ensaios de produção de texto por escrito, o mais importante é garantir a fluência do ato de escrever. Assim sendo, neste momento o professor não terá como preocupação a correção formal do texto, mas a elaboração e explicação das ideias. Não se trata de um “vale tudo” de um anarquismo ortográfico, mas do espaço de liberdade necessária para que a criança faça suas tentativas de escrita. É importante respeitar os “erros” da criança como parte do processo de apropriação do código escrito. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: coesão e coerência 145 Ao invés de corrigir ortograficamente o texto escrito da criança, o profes- sor vai lhe oferecer, através de estratégias adequadas, [...] condições para a compreensão da representação alfabética escrita. Na medida em que a criança avança nessa compreensão, o professor também começa a dirigir atenção para as questões relativas à clareza do texto (como já vinha fazendo ao registrar o texto da criança), ou seja, o texto deverá se capaz de deixar claro o que se pretende dizer, sem a necessidade de completar as ideias com explicações orais. Assim, gradativamente o professor irá interferir na sequência do texto escrito pela criança, discutindo com ela as possibilidades de complementar informações, eliminar redundâncias, separar as ideias com o auxílio de pon- tuação ou recursos coesivos e organizá-los em parágrafos adequados. Convém lembrar que com a alfabetização através das cartilhas, os alunos produziam sentenças isoladas, porque este era o modelo de linguagem es- colar que viam à sua frente. Agora o problema que se coloca é outro: se o objetivo do ensino de língua é a produção de texto (coesos e coerentes) o trabalho do professor não se limitará aos erros ortográficos, mas consis- tirá em reestruturar o texto, desmembrando as sentenças que as crianças produzem – como uma espécie de “amálgama”, mais ou menos caótico – e mostrando-lhes no quadro como suas ideias podem ser adequadamente apresentadas. Para tanto consideramos válida a sugestão de trabalho do prof. Geraldi ao propor que o professor: Leia os textos produzidos pelos alunos. � Selecione, dentre eles, um texto para se trabalhar a reestruturação. � Coloque o texto original na lousa (de forma ortograficamente correta, � uma vez que o objetivo, no caso, é o trabalho específico de reestrutu- ração e não de correção ortográfica). Proponha à classe questões que visem: � complementação das informações do texto (O quê? Onde? Quem? � Quando?) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 146 Prática Educativa da Língua Portuguesa eliminação da redundância (Que palavras, expressões e ideias se � repetem? Fazem falta? Podemos substituí-las? Como?) pontuação adequada (Que ponto se coloca aqui? Por que?) � Discuta com os alunos a importância das informações obtidas para a � clareza e compreensão do texto. Depois que o texto está reestruturado será lido, e todos os alunos podem copiar o texto que ajudaram a organizar. Nesse sentido, a cópia é uma ativi- dade significativa, fruto da interação e da construção do conhecimento, a partir dessa interação. Dica de estudo PADOVAN, Daniela. Intervenções do professor em uma escrita de autoria. In: CA- VALCANTI, Zélia (Coord). Alfabetizando: textos da equipe pedagógica da Escola da Vila. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 92-100. Esse texto relata o trabalho prático da professora Daniela Padovan, desenvol- vido com uma turma de 1.a série do Ensino Fundamental. Apresenta de forma muito detalhada e rica a intervenção do professor no texto dos alunos, enfocan- do vários aspectos linguísticos, entre os quais a coesão e a coerência. Atividades 1. Explique a distinção entre coesão e coerência. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: coesão e coerência 147 2. Por que a cartilha não é útil para a compreensão dos aspectos de coesão e coerência textual? 3. Cite um recurso muito relevante para o trabalho pedagógico com os aspec- tos de coesão e coerência textual. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein Sintaxe de concordância A sintaxe de concordânciaé um mecanismo que expressa a adequada associação entre elementos da frase. Ela pode ser nominal ou verbal. A concordância nominal refere-se à apropriada relação entre os termos do chamado grupo nominal (substantivo, adjetivo, pronomes, artigos e nu- merais), levando em conta o gênero (masculino e feminino) e o número (singular e plural). A concordância verbal diz respeito à adequada associa- ção entre o sujeito e o verbo da oração, observando número e pessoa. Talvez a questão da concordância seja a que mais se destaca na compa- ração entre a linguagem dita padrão e as variedades dialetais. De fato, nos dialetos populares, sobretudo no discurso oral, é comum verificarem-se construções que se distinguem da variedade padrão no que diz respeito à concordância, principalmente à concordância de número (por exemplo: Os guri saíram). Entretanto, além das diferenças ditadas pelas formas dialetais, existem situações de inadequação de concordância devido a dificuldades próprias da língua, sobretudo relativas a termos pouco usuais ou expressões com- postas, cuja concordância é pouco conhecida ou mais complexa. Metodologicamente, vale lembrar que os alunos, mesmo os das séries iniciais, já vêm para a escola com um repertório gramatical, adquirido no uso da oralidade, que lhes permite o emprego adequado da concordância na maior parte das vezes. Evidentemente, eles podem desconhecer os termos técnicos do fenômeno (concordância, gênero, número, masculino, feminino, singular, plural etc.), mas reconhecem, na prática, as diferenças de gênero e número, sabem flexionar os verbos quanto à pessoa do discurso etc. Assim, é recomendado que o professor dialogue com esse conhecimen- to já realizado e torne esse saber empírico em saber refletido. Por meio de Trabalhando com os elementos textuais: concordância e regência Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 150 Prática Educativa da Língua Portuguesa perguntas dirigidas, é possível fazer o aluno refletir sobre a razão pela qual ele formula de modo diferente os enunciados, conforme esteja se referindo a uma coisa ou a mais de uma coisa, a algo de gênero masculino ou feminino, a uma ou a outra pessoa do discurso. A partir das conclusões a que os alunos vão chegan- do, ao refletirem sobre suas próprias respostas, vai-se articulando a explicação gramatical, utilizando inclusive os termos técnicos. Não se trata, evidentemente, de ensinar o óbvio, ou seja, aquilo que os alunos já sabem (nenhum aluno chega à escola falando “o mulher” ou “a menino”), mas proporcionar-lhes condições de conhecerem os casos da Língua Portuguesa que, pela infrequência ou pela com- plexidade, costumam apresentar dificuldade. Sugestões de atividades Lembrando sempre e incansavelmente que as práticas de leitura/inter- � pretação, produção, análise e reescrita dos textos são práticas essenciais para qualquer conteúdo da língua, recomendamos que nessas atividades, sempre que possível, o professor ressalte os casos mais complexos de con- cordância de gênero, número ou pessoa do discurso. Na medida em que os casos complexos vão aparecendo (nas leituras e � produções de textos), deve-se organizar com os alunos e expor na sala de aula, um quadro contendo os tipos de concordância que costumam apresentar dificuldade (exemplo de concordância de sujeito composto: “O amor e a amizade verdadeira conhecem-se na adversidade”; expres- sões pouco usuais: “Eu estou quite com você e eles estão quites comigo”; expressões compostas: “Qual será a quantidade de livros solicitada?” etc.), derivando daí algumas regras básicas da concordância. Deve-se alterar alguns elementos de um texto e solicitar aos alunos que � o reescrevam observando a concordância adequada às alterações feitas como no exemplo a seguir. Texto original: As Olimpíadas surgiram na Grécia. O lugar onde se realizavam as competições atléticas gregas chamava-se palestra. De quatro em quatro anos celebravam-se os Jogos Olímpicos, que tinham competições também de música e poesia. Para os gregos, o homem perfeito deveria ser inteligente e manter um físico bonito e proporcional. As esculturas que faziam eram, com frequência, frutos da admiração que sentiam pelos atletas que participavam da Olimpíada. (PERIS; VERGÉS, 1990) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: concordância e regência 151 Texto para reescrita: A competição olímpica [surgiram] na Grécia. O lugar onde se realizavam os jogos [atléticas gregas] chamava-se palestra. De quatro em quatro anos [celebravam-se] a Olimpíada, que [tinham] competições também de música e de poesia. Para o grego, os homens perfeitos [deveria ser inteligente e manter] um físico bonito e proporcional. As esculturas que faziam eram, com frequência, frutos da admiração que sentiam pelos atletas que participavam da Olimpíada. Propor a produção de textos, recomendando atenção com os aspectos de � concordância. Promover a análise linguística e reescrita dos textos dos alunos, em ativi- � dade coletiva, observando especialmente os aspectos de concordância. Selecionar, dos textos elaborados pelos alunos, as construções que apresen- � taram dificuldade de concordância e discuta cada caso, explicando a corre- ção feita. Após o estudo de todos os casos, organizá-los com a colaboração dos alunos, de modo a exemplificar as várias regras de concordância. Sintaxe de regência A sintaxe de regência também pode ser nominal e verbal. A regência no- minal refere-se à adequada associação entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por ele. A regência verbal refere-se à relação entre os verbos e os termos que os complementam (objeto direto ou indireto) ou que os caracterizam (adjuntos adverbiais). Cabe lembrar que tais associa- ções são estabelecidas por meio da exigência ou não de preposições e que, a depender do seu sentido, o nome ou o verbo são regidos por determinadas preposições, rejeitando outras. Para entender a regência, o aluno precisa reconhecer se determinados termos exigem ou não complemento e, no caso de exigirem, qual (ou quais) pre- posições são aceitas para estabelecer a ligação entre eles. Por exemplo, quando digo Tenho fome, o enunciado é suficiente para expressar uma ideia; mas, se digo Tenho necessidade..., o enunciado soa incompleto e “pede” uma complementa- ção: “Tenho necessidade de um esclarecimento”. Observe-se que o termo com- plementar foi ligado ao anterior por uma preposição “de”. O mesmo ocorre no caso dos verbos: em Hoje choveu, temos um enunciado completo, mas em Hoje tomei..., observamos a necessidade de um complemen- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 152 Prática Educativa da Língua Portuguesa to: “Hoje tomei um suco de abacaxi”. Nesse caso, entre o verbo e o termo comple- mentar (suco de abacaxi), não há necessidade de uma preposição, daí dizer-se que se trata de um objeto direto (isto é, diretamente ligado ao verbo). Entre- tanto, no enunciado Eu gosto de suco de abacaxi temos o complemento (suco de abacaxi) ligado ao verbo pela preposição “de”, tratando-se, portanto, de um objeto indireto (pois foi indiretamente ligado ao verbo, ou seja, ligado por meio da preposição). Quando o enunciado apresentar um termo que exija complemento, é necessário: verificar se o complemento é direto ou indireto (isto é, se exige ou não � preposição); no caso de exigir preposição, qual é a preposição adequada para o sentido � proposto naquele enunciado. Atenção, também é conteúdo relativo à regência o emprego adequado dos pronomes oblíquos átonos, que utilizamos no lugar de termos que cumprem a função de objeto direto (o,a, os, as) ou de objeto indireto (lhe, lhes). Observe: Informo � os preços (objeto direto). Logo: Informo-os. Informo � aos clientes (objeto indireto). Logo: Informo-lhes. Perdoei � a ofensa (objeto direto). Logo: Perdoei-a. Perdoei � ao agressor (objeto indireto). Logo: Perdoei-lhe. Também no caso dos conteúdos relativos à regência, vale o lembrete já men- cionado no item sobre a concordância, ou seja, que os alunos, antes da experi- ência escolar, já adquiriram, por meio da prática oral da língua, um repertório gramatical que lhes permite o emprego adequado da regência na maioria das vezes. Também aqui, eles provavelmente desconhecem as regras formais e os termos técnicos do fenômeno, não obstante consigam exercitar a regência com grande margem de acerto. As inadequações aparecem, portanto, em situações pouco usuais, sobretudo com termos que apresentam mais de um significado, em diferentes contextos. Assim, o trabalho com esse conteúdo não deve realizar-se na forma de uma cantilena de regras abstratas, mas por intermédio da análise e explicação sempre que surgir um caso real de emprego (leitura/interpretação ou produção de texto) de um termo cuja regência se mostre mais complexa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: concordância e regência 153 Sugestões de atividades Como atividade específica, podem-se desenvolver as seguintes sugestões: conduzir os alunos, com perguntas dirigidas, a refletirem sobre a razão � pela qual os enunciados são formulados de formas diferentes, conforme se esteja empregando dado termo em um ou em outro sentido (Ele aspi- rou o perfume da flor/Ele aspira ao cargo); a partir das conclusões a que os alunos vão chegando, ao refletirem sobre � suas próprias respostas, é possível construir um quadro dos termos que mais oferecem dificuldade de regência. O quadro poderá permanecer ex- posto em sala de aula e será complementado cada vez que a necessidade de uso de um novo termo criar uma situação em que precise o reconheci- mento das suas possibilidades de regência, como no exemplo abaixo; Aspirar: � – encher o pulmão de ar – Aspiro o ar. – desejar alguma coisa – Aspiro ao primeiro lugar. Agradar: � – mimar, acariciar – Agradou o menino. – causar prazer – A festa agradou ao menino. desenvolver atividades de composição de enunciados “vivos”– organizar � várias orações com predicados diferentes (com verbo intransitivo, com verbo transitivo e objeto direto, com verbo transitivo direto e indireto e respectivos complementos); escrever as orações em fichas e recortá-las, separando os termos das orações; distribuir as fichas aos alunos e organi- zá-los em quatro grupos: o grupo dos alunos cujas fichas contêm o a. sujeito de alguma das orações; o grupo dos alunos cujas fichas contêm o b. verbo de alguma das orações; o grupo dos alunos cujas fichas contêm o c. complemento verbal de algu- ma das orações; o grupo dos alunos cujas fichas contêm d. preposições. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 154 Prática Educativa da Língua Portuguesa em um mesmo lado da sala de aula, deve-se separar os grupos com os su- � jeitos e os verbos. Em outro canto, situar o grupo dos complementos e, em outro, o grupo das preposições. Propor aos alunos que componham um enunciado; os portadores das fichas se organizam lado a lado, na ordem dos termos da frase. Estimular os alunos a observarem se foi preciso “pedir socorro” a alguém do grupo dos complementos (para verificar se o verbo era intransitivo ou transitivo) e a alguém do grupo das preposições (para verificar se o complemento era direto ou indireto); realizar a mesma atividade anterior, acrescentando um grupo de prono- � mes átonos e propor aos alunos a substituição do complemento pelo pro- nome adequado; apresentar um texto com os complementos destacados e solicitar que os � substituam por pronomes átonos. Exemplo: Eu disse a ele que comprei o livro. Esclareci a ele que não entreguei o livro para ela porque ainda não en- contrara ela [Eu lhe disse que comprei o livro. Esclareci-lhe que não o entre- guei para ela porque ainda não a encontrara]; propor a produção de textos, recomendando atenção nos aspectos de re- � gência; promover a análise linguística e a reescrita dos textos dos alunos, em ativi- � dade coletiva, observando especialmente os aspectos de regência. Exemplo de uma atividade: apresentar, aos alunos, o texto a seguir, com as palavras indicadas devida- � mente ressaltadas (sublinhadas, em negrito ou impressas em outra cor); preceder a leitura do texto de uma breve contextualização, narrando sin- � teticamente o enredo; ler o texto, de forma dramatizada; � proceder a uma discussão interpretativa do texto, procurando captar seu � tema e as ideias que o constroem; permitir que os alunos se manifestem à vontade, comentando as ideias � do texto; comentar, com os alunos, a linguagem coloquial utilizada em partes do � texto, ressaltando seu emprego como um recurso literário que dá graça à crônica; Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: concordância e regência 155 promover uma reflexão coletiva sobre as variedades dialetais e seu uso � em diferentes contextos; dividir a sala em grupos e propor que cada grupo proceda – com o auxílio � do professor – à reescrita de um dos “ofícios” citados no texto, observando a forma padrão, especialmente nos casos de concordância e regência. Dois times sem jogo (SIQUEIRA; BERTOLIN, 2004) Certa vez, o União da Barra do Catimbó recebeu o seguinte ofício: Ilmos. Srs. Do União da Barra do Catimbó. Nós viemos por essa mal-traçada linha, chamar vocês pra jogar no campo da gente uma partida de futebol, no domingo, pois a gente só joga nesse dia, que nos outro a gente trabalha. Se vocês quiser vim, podem responder ao ofício dizendo que vem, que é pra gente avisar a turma no boteco do Almeida. Se na hora vocês ficar com medo e não vierem, os sócios vão ficar pegando no pé da gente e dizendo que nessa diretoria não tem ninguém que sabe tratar jogo. Agora, se vocês não tão a fim de encarar a gente, isso é problema de vocês. O Flor do Ó não tem medo de ninguém. Assinado: Olavo Silva Diretor Esportivo do Flor do Ó Assim que recebeu o ofício, o Seu Azulão, presidente do União da Barra do Catimbó, se picou de raiva. Convocou a Diretoria do seu time, leu o ofício do adversário e, de imediato, todos toparam o jogo com o Flor do Ó, e como foi solicitado pelo desafiante, mandaram a resposta num ofício caprichado: Ilmos. Srs. Diretores do Flor do Ó Nós recebeu o ofício marcando o jogo e responde por essa mal-traçada linha que aceita. Não samos de enjeitar parada. Se a gente tivesse medo de homem, não saía na rua vestindo calça. A gente vai, pode anunciar. Mas tem um problema, que é o seguinte: Nós damos o juiz e vocês que são os dono do campo, dá a bola. Domingo tamos aí na Freguesia do Ó pro que der e vier. Respondam logo se aceitam dar a bola. Se tiverem medo de nós, é só dizer que a gente não vai. Assinado: Eldócio Pereira (Azulão) Presidente do União da Barra do Catimbó Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 156 Prática Educativa da Língua Portuguesa De posse do ofício do União da Barra do Catimbó, o pessoal da diretoria do Flor do Ó se alterou e, rápido e rasteiro, mandou um pivete levar outro ofício, com novas bases. Ilmos. Srs. Diretores do União da Barra do Catimbó Nós recebemos seu ofício que veio cheio de mumunha. E passamos a responder nessa mal-traçada linha. Vocês quer moleza,já vi tudo. Mas a gente não ta a fim de criar caso. Só queremo jogar. Vocês pode trazer juiz. Com nós ele não vai ter vida mansa. Se afanar a gente, nosso capitão do time toma o apito dele e dá pra outro. Nós sabemos que na Barra do Catimbó só tem juiz ladrão. Não samos otário. Mas aceitamos nessa base. Vocês traz a bola. Nós damo o campo e vocês a bola. Cada um dá uma coisa. Se quiser assim, tá combinado. Assinado: Olavo Silva Diretor do Flor do Ó Mal o Azulão conseguiu ler o ofício do adversário, segurou o pivete men- sageiro e fez com que ele esperasse para levar outro ofício de volta. Ilmos. Srs. Diretores do Flor do Ó Juiz ladrão tem é no bairro de vocês. Tudo abafadores. Nós manjamo a turma daí. E não adianta vim com grupo para cima da gente, que a gente não é trouxa e não vai entrar em truque de papagaio enfeitado da Freguesia do Ó. Juiz que a gente leva pra apitar o jogo apita até o fim e não adianta estrilo de capitão fajuto. Se nós levamos o homem é porque é de garantia. Nisso vocês pode botar fé. E no negócio da bola, não tem o que discutir. Vocês dá a bola. Agora, se vocês quer arranjar desculpa para não jogar é problema de vocês. Nós fomo convidado. Aceitamos porque não tem medo de ninguém. Na bola e no pau nós samos mais nós. Assinado: Eldócio Pereira (Azulão) Presidente do União da Barra do Catimbó Ao tomar conhecimento do novo ofício do União, a turma do Flor do Ó, sem demora, mandou mais um ofício: Ilmos. Srs. Diretores do União da Barra do Catimbó Nós vem, por meio desta mal-traçada linha avisar que não aceita pouco caso de ninguém. Ladrão é vocês. Nós aqui samos trabalhador. E dentro do campo quem fala mais alto, o único que chia é o capitão do time. E se ele resolver tirar o pilantra que vocês Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: concordância e regência 157 botaram pra apitar, pode contar que ele tira, porque a gente dá a maior moral para ele. No negócio da bola, vocês tem que trazer a de vocês que a bola da gente ta com bexiga e pode estourar. Assinado: Olavo Silva Diretor do Flor do Ó Diante desta resposta, Azulão mandou o ofício definitivo: Ilmos. Srs. Diretores do Flor do Ó Nós não vai porque não vai deixar os ladrão daí roubar nossa bola. Mas quando vocês quiser dar a bola, a gente vai. Quanto ( ) esse negócio de engolir desaforo de vocês, nós duvida e faz pouco. Tamos aqui pra qualquer coisa. Se vocês tem medo de vim aqui, pode esperar que a gente se encontra nas quebrada. Assinado: Eldócio Pereira (Azulão) Presidente do União da Barra do Catimbó E, por essas e outras, o União da Barra do Catimbó e o Flor do Ó ficaram sem jogo! Texto complementar Prática de análise linguística ou reestruturação de texto (KLEIN, 1996) Para que a criança expanda sua capacidade de produzir e interpretar textos, torna-se necessário realizar atividades de análise linguística, aqui compreendida como atividade de reflexão sobre a própria língua. Isto ocorre quando a criança é levada a pensar e falar sobre a linguagem em si mesma. A criança só entenderá como a linguagem funciona se tomá-la para aná- lise no conjunto das relações sociais. Isso é fundamental para que ela se torne um sujeito letrado, pois só é considerado letrado aquele que, além de Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 158 Prática Educativa da Língua Portuguesa todas as atividades que lhe é possível realizar com a língua, consegue, ainda, pensar e falar sobre a própria língua. Assim, em relação aos aspectos gramaticais, o professor deve desenvolver com as crianças primeiramente atividades metalinguísticas, ou seja, realizar reflexão sobre a linguagem para procurar reconhecer as diferentes possibi- lidades que a língua nos oferece para nos expressarmos, para, a partir dessa reflexão entender e superar as dificuldades gramaticais. A prática de análise linguística pode partir do texto da própria criança ou de um texto qualquer selecionado pelo professor. No seu próprio texto a criança pode encontrar, com a mediação do pro- fessor, as pistas que lhe permitam entender as variedades linguísticas e as diversas possibilidades de expressão que lhe darão condições de estabele- cer comparação entre as diferentes formas de dizer a mesma coisa. Torna-se possível, desse modo, a compreensão das características da variante padrão na sua forma escrita, o que representa uma condição importante para que o aluno se aproprie desse código linguístico. Na escrita, a variante padrão é aquela considerada como legítima pela sociedade. As pessoas que não a utilizam podem ser discriminadas e muitas vezes não são bem sucedidas socialmente. Convém explicar às crianças que na oralidade, a variante padrão com- porta as modalidades formal – utilizada em situações mais formais, quando interagimos com pessoas menos íntimas ou detentoras de alguma função ou cargo de autoridade e prestígio – e coloquial ou informal, que utiliza- mos diariamente nas situações menos formais, no contato com pessoas com as quais temos certa intimidade ou familiaridade. Há, também, varian- tes orais que são desprestigiadas socialmente porque são utilizadas prin- cipalmente pelas pessoas oriundas de grupos que sofrem algum grau de exclusão social. [...] A revisão do texto, aqui entendida como reescrita, é um fator essencial de análise e reflexão sobre a língua, pois objetiva melhorá-lo, explicá-lo, torná- -lo mais legível para o leitor. Sua importância se deve ao fato que o aluno fará a reflexão sobre as normas da língua numa situação real de uso, e não como uma “regra” com valor intrínseco. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: concordância e regência 159 Nesse processo de revisão de texto as crianças, com a ajuda do professor, podem retirar, acrescentar ou alterar a posição de elementos em seu próprio texto, sempre buscando torná-lo mais compreensível para o outro. Essa ativi- dade de reescrita ajuda a criança a se firmar como um sujeito que se produz e se afirma ao produzir seu texto para o outro ler, entender, questionar, acei- tar ou recusar, como afirma Gustavo Bernardo: Escrever para o outro, ou para outros continua representando o ato de afirmar-se, firmando no papel as próprias ideias. Além disso, implica considerar atentamente a existência alheia. E a consideração da existência alheia passa pelo esforço de facilitar o acesso geral às ideias próprias em questão1. A atividade de revisão de texto é melhor compreendida pela criança quando é feita coletivamente, com a mediação do professor. Esse é um pro- cesso importante de reflexão sobre a ordenação das ideias, a ortografia, a pontuação e os elementos de coerência e coesão, de concordância e regên- cia. Só dessa forma a gramática tem razão de ser, isto é, enquanto tomada com o objetivo de melhorar a qualidade da produção escrita, e não através de exercícios repetitivos e descontextualizados de memorização. Fica claro, assim, que o professor não precisa dar aulas expositivas sobre tópicos da gra- mática, uma vez que ela só tem sentido, de fato, dentro do contexto de uma mensagem. Isso não quer dizer que o professor “não vai ensinar gramática”, mas que vai fazê-lo proporcionando seu entendimento, pelo aluno, através do esforço permanente de produzir seus próprios textos buscando expressar com clareza e qualidade aquilo que ele deseja dizer. É para atingir esse obje- tivo – clareza e qualidade do texto – que o aluno vai recorrer aos elementos gramaticais, em situações sempre contextualizadas em face do que se quer dizer, para quem se quer dizer e como se quer dizer. 1 BERNARDO, Gustavo.Redação Inquieta. 3. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1988. Dica de estudo MAGALHÃES, Lucinha. 1.a Série – Tarde. In: CAVALCANTI, Zélia (Coord). Alfabeti- zando: textos da equipe pedagógica da Escola da Vila. Porto Alegre: Artes Médi- cas, 1997. p. 81-91. Esse artigo apresenta um conjunto articulado de atividades realizadas pela professora Lucinha Magalhães, da Escola da Vila. Ao expor as atividades, a autora comenta variados aspectos do processo de ensino-aprendizagem da língua es- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 160 Prática Educativa da Língua Portuguesa crita. A recomendação desse artigo deve-se, entre outras razões, à exemplificação prática da abordagem simultânea desses aspectos, em um processo que supera o ensino cartilhesco e o trato isolado e fragmentado dos conteúdos textuais. Atividades 1. Estabeleça a distinção entre sintaxe de concordância e sintaxe de regência. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os elementos textuais: concordância e regência 161 2. Qual é a relação observada entre os mecanismos de concordância e as varie- dades dialetais? 3. Por que a produção e reestruturação de texto são recursos importantes para a abordagem desses conteúdos? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein Para introduzirmos a discussão metodológica do trabalho com textos literários, é necessário, em primeiro lugar, ressaltar que nesse tipo de texto prevalece a função estética (diferentemente do texto não literário, no qual predomina a função utilitária que pode ser informar, explicar, documentar, registrar, convencer etc.). Dada a função estética, a primeira característica do texto literário é a relevância do plano da expressão (o modo de dizer, de expor as ideias). Na verdade, no texto literário, o plano da expressão se articula com o plano do conteúdo, de modo a desempenhar um papel também na significação geral do texto. Ganham relevância, no plano da expressão, recursos como ritmo, sonoridade, repetição de palavras, repetição de sons, sequenciação (por oposição ou simetria), repetição de situações ou descrições. A segunda característica do texto literário decorre da primeira, isto é, decorre da relevância da expressão: é a intangibilidade, ou seja, o cará- ter intocável desse tipo de texto. De fato, se o sentido do texto literário é construído também pela forma, alterá-la implica em alterar o próprio sentido do texto. A terceira característica é a prevalência do sentido conotativo. Ao pro- duzir um texto literário, o autor recorre amplamente às figuras de lingua- gem (metáfora e metonímia), pois seu uso estético requer enunciados ori- ginais, com associações inusitadas entre as palavras. Essas associações inusitadas concorrem para a construção de outra ca- racterística importante do texto literário: a desautomatização da lingua- gem, isto é, a presença da construção ou solução inesperada. Uma última característica determinada pela função estética é o atri- buto da plurissignificação: um mesmo enunciado pode sugerir múltiplas imagens ou ideias. Trabalhando com os tipos de texto: textos literários Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 164 Prática Educativa da Língua Portuguesa Em razão dessas características especiais, os textos literários valem-se dos re- cursos da língua de forma às vezes especial, distinta dos textos utilitários, não literários. Assim, por exemplo, a ambiguidade, que pode constituir uma inade- quação em um texto científico, poderá revelar-se um importante recurso estéti- co em um texto literário. Metodologicamente, o trabalho com os textos literários pode não apenas proporcionar condições para o estudo de qualquer recurso linguístico, como, ainda, tem a função de levar os alunos a compreenderem as características que lhes são próprias e a observarem e reconhecerem quais recursos o autor utilizou na elaboração de seu texto para produzir uma função estética. Assim, além de explorar os textos literários relativamente a qualquer con- teúdo da língua, é importante que se trabalhe, em algumas ocasiões, especifi- camente com suas características. Para tanto, deve-se, inicialmente, apresentar aos alunos textos em que essas funções sejam bem marcantes, conforme pro- pomos nas sugestões que seguem. Antes da apresentação das sugestões, entre- tanto, relembramos que as práticas de leitura/interpretação, produção e análise de textos são fundamentais para todos os conteúdos linguísticos e, portanto, também para o aprendizado e o domínio dos conteúdos relativos aos textos lite- rários. Feita essa ressalva, passemos às sugestões de atividades. Sugestões de atividades Atividades para incremento da prática da leitura em sala de aula. Organizar uma minibiblioteca ou textoteca em classe, contemplando va- � riados tipos de textos literários (poemas, contos, crônicas, relatos de via- gem etc.). Estimular os alunos a ampliarem a minibiblioteca/textoteca, sugerindo � textos que leram em situação extraescolar. Instituir a � hora da leitura, como um momento exclusivamente destinado à leitura de fruição, isto é, à leitura pela leitura, de modo a produzir, nos alunos, o gosto por ela. Instituir o � clube de leitura, estimulando os alunos a organizarem as seguin- tes atividades: a) troca de textos entre si; b) organização de um fichário, com registro dos dados bibliográficos e resenha comentada dos livros/tex- tos; c) organização de um fichário de crítica literária, para que cada aluno, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos literários 165 após a leitura de um livro ou texto, registre resumidamente sua opinião; d) organização de pesquisas e exposições sobre autores e ilustradores. Promover visitas dirigidas e estimular outras autônomas à biblioteca da � escola e às da cidade (se houver). Instituir o � Júri literário, no qual um aluno defenderá a leitura de um de- terminado texto literário, de sua escolha, explicando aos demais as ra- zões pelas quais aquele texto merece ser lido. Estimular os alunos a manterem seu próprio “fichário de leitura”, com o � registro dos dados bibliográficos e resenha comentada dos livros ou tex- tos lidos. Sugestões de atividades de estudo das características do texto literário. No estudo de textos literários, fazer os alunos observarem atentamen- � te todos os recursos expressivos empregados (organização estrutural do texto; linguagem conotativa – figuras de linguagem e de estilo – ritmo, métrica etc.) e como esses recursos contribuem para a construção dos sentidos do texto. No poema a seguir, o autor se valeu de uma terminologia própria da Mate- � mática, mas a utiliza metaforicamente, de modo figurativo, atribuindo-lhe uma significação bastante original e inusitada na construção de seu texto literário. Juntamente com uma minuciosa interpretação das ideias e da te- mática do poema, promova, com os alunos, uma reflexão sobre o sentido denotativo e o conotativo (atribuído pelo poeta) a cada uma das expres- sões do poema. Leve-os, também, a observarem a organização métrica do poema. Estimule-os a identificarem o critério da métrica utilizada em cada verso, relacionando-o à ideia que ele expressa. Poesia matemática Millôr Fernandes Às folhas tantas do livro matemático, um quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma incógnita. Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do ápice à base. Uma figura ímpar olhos romboides,boca trapezoide, corpo ortogonal, seios esferoides. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 166 Prática Educativa da Língua Portuguesa Fez da sua uma vida paralela a dela até que se encontraram no infinito. “Quem és tu?” – indagou ele com ânsia radical. “Eu sou a (raiz quadrada da) soma dos quadrados dos catetos, mas pode me chamar de hipotenusa”. E de falarem descobriram que eram o que, em aritmética, corresponde a almas irmãs, primos entre si. E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas, curvas, círculos e linhas senoidais. Nos jardins da quarta dimensão, escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas e os exegetas do universo finito. Romperam convenções Newtonianas e Pitagóricas e, enfim, resolveram se casar, constituir um lar mais que um lar, uma perpendicular. Convidaram os padrinhos: o poliedro e a bissetriz, e fizeram os planos, equações e diagramas para o futuro, sonhando com uma felicidade integral e diferencial. E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos e foram felizes até aquele dia em que tudo, afinal, vira monotonia. Foi então que surgiu o máximo divisor comum, frequentador de círculos concêntricos viciosos, ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum. Ele, quociente percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade. Era o triângulo tanto chamado amoroso desse problema, ele era a fração mais ordinária. Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade e tudo que era espúrio passou a ser moralidade, como, aliás, em qualquer sociedade ... No texto seguinte, o autor utiliza o mesmo recurso verificado no texto an- � terior, lançando mão da terminologia própria da gramática, atribuindo- -lhe novo significado. Deve-se propor aos alunos que estabeleçam uma comparação entre ambos os poemas, como exemplificação dessa carac- terística do texto literário. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos literários 167 Pausa poética Paulo César Souza Sujeito sem predicados Objeto Sem voz Passivo Já meio pretérito Vendedor de artigos indefinidos Procura por uma subordinada Que possua alguns adjetivos Nem precisam ser superlativos Desde que não venha precedida De relativos e transitivos Para um encontro vocálico Com vistas a uma conjugação mais que perfeita E possível caso genitivo. No texto abaixo, o autor produz uma interessante analogia entre o carna- � val e a agitação da floresta. Solicitar que os alunos apontem os aspectos mais característicos do carna-a. val e, em seguida, que procurem identificar os mesmos no poema. Estimular os alunos a observarem o uso da maiúscula no início dos versos b. e explicar que se trata de um uso especial no texto literário, especialmente nos poemas. Promover uma leitura bem ritmada do poema, sobretudo da terceira estro-c. fe, de modo que os alunos possam perceber a maneira como o autor dispôs as palavras para estabelecer um ritmo que se assemelha a uma batucada. Carnaval Cassiano Ricardo Todas as árvores que moram na floresta Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 168 Prática Educativa da Língua Portuguesa ficaram surdas com tamanha festa: numa algazarra enorme os papagaios endomingados em seus fraques verdes gritam cousas absurdas! Sapos, intanhas, pererecas, rãs e pipas tocam matracas, pararacas. uma araponga louca dá o sinal para o começo do Carnaval. E eis que começa, de improviso, a dança do tangará: pula pra lá, pula pra cá, pra lá... pra cá... pralápracá. Um punhado de insetos multicores brilha numa clareira em meio dos bambus, Como confete esplêndido de luz. Um texto literário caracteriza-se pelo inusitado, pela desautomatização � das relações de sentido entre as palavras, pela desautomatização ou ines- perado das situações, das ideias, do desfecho. Propor que os alunos iden- tifiquem e comentem essa característica no texto abaixo: O boateiro Stanislaw Ponte Preta Diz que era um sujeito tão boateiro, que chegava a arrepiar. Onde hou- vesse um grupinho conversando, ele entrava na conversa e, em pouco tempo, estava informando: “Já prenderam o novo Presidente”, “Na Bahia, os comunistas estão incendiando as igrejas”, “Mataram agorinha o Cardeal”, enfim, essas bossas. O boateiro encheu tanto, que um coronel resolveu dar-lhe uma lição. Mandou prender o sujeito e, no quartel, levou-o até um paredão, colocou um pelotão de fuzilamento na frente, vendou-lhe os olhos e berrou: “Fo- gooooo!!!”. Ouviu-se aquele barulho de tiros e o boateiro caiu desmaiado. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos literários 169 Sim, caiu desmaiado porque o coronel queria apenas dar-lhe um susto. Quanto o boateiro acordou, na enfermaria do quartel, o coronel falou pra ele: — Olhe, seu pilantra. Isto foi apenas para lhe dar uma lição. Fica espalhan- do mais boato idiota por aí, que eu lhe mando prender outra vez e aí não vou fuzilar com uma bala de festim não. Vai daí, soltou o cara, que saiu meio escaldado pela rua e logo na primeira esquina encontrou uns conhecidos: — Quais são as novidades? – perguntaram os conhecidos. O boateiro olhou pros lados, tomou um ar de cumplicidade e disse baixinho: — O nosso Exército está completamente sem munição. As figuras de linguagem são um dos mais importantes recursos para a pro- � dução de textos literários. Observar, neste poema, a riqueza de compara- ções com as quais o poeta identifica um nome de menina: Teu nome Vinicius de Moraes Teu nome, Maria-Lúcia tem qualquer coisa que afaga como uma lua macia brilhando à flor de uma vaga. Parece um mar que marulha de manso sobre uma praia tem o calor que irradia a estrela quando desmaia. É um doce nome de filha e um belo nome de amada. Lembra um pedaço de ilha surgindo na madrugada. Tem um cheirinho de murta e é suave como a pelúcia é acorde que nunca finda Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 170 Prática Educativa da Língua Portuguesa Apresentar aos alunos um texto literário (poesia, conto, crônica) e propor � que identifiquem nele a presença dos aspectos de plurissignificação e desautomatização. Com as sugestões anteriores, pretendemos demonstrar que é possível des- tacar, em um texto literário, uma característica marcante para trabalhá-la com os alunos. Entretanto, o fato de, nas sugestões, estarmos nos limitando a essas características, não significa que o professor não deva, ao abordar o texto, de- senvolver outras questões relativas a outros conteúdos linguísticos. Cabe ressaltar que a leitura de bons textos, bem como oportunidades de ten- tativa de produção de textos literários, constituem a melhor estratégia para os alunos consolidarem esses conteúdos e irem se produzindo como leitores/escri- tores fluentes. Sugestão de atividades de produção de textos literários: estimular a escrita de diário pessoal; � instituir o � Clube da Criação Literária, estimulando os alunos a fazerem ten- tativas de escrita de textos literários de diferentes tipologias, bem como de ilustração, e divulgá-los no Clube; promover a leitura de paródias e estimular os alunos a criarem uma paró- � dia de algum texto literário conhecido. A título de ilustração, apresenta- mos dois exemplos de paródias, ambos bastante conhecidos. “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias é um dos poemas que, talvez, na literatura bra- sileira, maistenha sido tomado como tema de paródia, constituindo-se um raro fenômeno de intertextualidade. Aqui citaremos apenas algumas, entre as muitas existentes. Por sua vez, o poema “À minha irmã”, de Joa- quim Manuel de Macedo, foi objeto de uma paródia bastante conhecida: o poema “Teresa”, de Manuel Bandeira. é coisa por demais linda teu nome, Maria-Lúcia... Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos literários 171 Canção do exílio (texto original) Gonçalves Dias Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras Onde canta o Sabiá. 1.o exemplo: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 172 Prática Educativa da Língua Portuguesa Nova canção do exílio (paródia) Carlos Drummond de Andrade Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. O céu cintila sobre flores úmidas. Vozes na mata, e o maior amor. Só, na noite, seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe. Onde é tudo belo e fantástico, só, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e voltar para onde tudo é belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe. Canção do Exílio facilitada (paródia) José Paulo Paes lá? ah! Texto I Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos literários 173 sabiá... papá... maná... sofá... sinhá... cá? bah! Canto de regresso à pátria Oswald de Andrade Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase tem mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que eu veja a rua 15 E o progresso de São Paulo Texto II Uma canção Mario Quintana Minha terra não tem palmeiras … E em vez de um mero sabiá, Cantam aves invisíveis Nas palmeiras que não há. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 174 Prática Educativa da Língua Portuguesa Minha terra tem refúgios, Cada qual com a sua hora Nos mais diversos instantes … Mas onde o instante de agora? Mas a palavra “onde”? Terra ingrata, ingrato filho, Sob os céus de minha terra Eu canto a Canção do Exílio. À minha irmã Joaquim Manuel de Macedo Mulher, Irmã, escuta-me: não ames, Quando a teus pés um homem terno e curvo Jurar amor, chorar pranto de sangue, Não creias, não, mulher: ele te engana! As lágrimas são galas de mentira E o juramento manto da perfídia. Teresa Manuel Bandeira Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você E te jurar uma paixão do tamanho de um Bonde Se ele chorar Se ele se ajoelhar Se ele se rasgar todo Não acredita não Teresa É lágrima de cinema É tapeação Mentira CAI FORA 2.o exemplo Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos literários 175 Propor a produção de textos literários a partir de temas diversos. Sempre � que possível, ilustrar com bons textos, ressaltando como diferentes autores desenvolveram, de forma criativa e original, os mais diferentes temas. A tí- tulo de exemplo, apresentamos, a seguir, o tema do transcurso da vida, tra- tado por Vinicius de Moraes e Machado de Assis, sob diferentes enfoques: Poética Vinicius de Moraes De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo. . . . . . . . . . . . . . . . . “O homem é uma errata pensante [...] Cada estação da vida é uma edição que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes”. (Machado de Assis) Essas sugestões, evidentemente, não esgotam as inúmeras possibilidades de trabalho com o texto literário. Com elas pretendemos, tão somente, oferecer al- gumas alternativas que, esperamos, possam servir como inspiração para a cria- ção de inúmeras outras atividades envolvendo textos literários. Texto complementar Introdução para uma indicação bibliográfica (DALLA STELLA, 1989, p. 43-45) Entre tantos atos praticados pelo homem, o da leitura é um dos mais ínti- mos. Esse ato, que exige silêncio e solidão, permite que um outro, longe do lugar em que estamos e distante do nosso tempo, nos fale, não através de Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 176 Prática Educativa da Língua Portuguesa sua voz humana, mas daquela constituída por sua capacidade de pensar e sentir. Ao contrário do que costuma acontecer no dia a dia, ouvimos atenta- mente o que o outro tem a dizer, pouco importa que ele utilize uma lingua- gem metafórica, que fale através de personagens e que esses personagens pareçam incoerentes. Não perdemos a esperança de ouvir mais do que o autor acredita estar dizendo. Parece que, tolerantes, descobrimos um con- tentamento: ouvir. A partir desse momento, tudo o que o outro diz dá corpo à sua visão de mundo – na verdade tudo o que ouvimos, já que não somos capazes de incorporar a voz do outro senão a partir do que somos. O ato da leitura, no seu extremo de consciência, parece ser isto, duas visões de mundo que, ao auscultarem, se perguntarem e por fim acabarem enamora- das ou indiferentes uma à outra, dão prosseguimento a um processo infinito de compreensão do mundo. Em cada um desses momentos de significação ouvem-se as vozes dos homens, que exprimem suas simpatias, que discor- dam entre si, que tentam trapacear, que contam uma história, que confes- sam, que omitem, e agridem, mas que nunca calam. A leitura não só revela vários momentos dessas falas, apontando, não raro, suas ambiguidades e contradições, como participa ativamente desse diálogo, de várias formas às vezes resgatando “argumentos” consagrados, às vezes insistindo na inclusão de “argumentos” raramente lembrados, às vezes introduzindo “argumentos” novos, e etc. Embora ninguém esteja completa- mente excluído dessa participação, sem dúvida o ato de ler, assim como o ato de escrever, quase sempre decorrente do primeiro, talvez seja a forma mais fácil de interferir nesse diálogo universal, e sem dúvida uma das mais eficien- tes. Nesse sentido, cada vez que alguém abre um livro, está dando continui- dade a um projeto arquitetônico maior do que qualquer homem sozinho foi capaz de sonhar: a construção de uma nova Torre de Babel, resultado de um projeto coletivo que, ao invés de excluir a dúvida e a individualidade do ser humano, faz delas elementos indispensáveis à viabilidade da construção. Se esse emaranhado de falas que a leitura desvenda à primeira vista parece caótico, e o destino de tal Torre de Babel parece o mesmo da parábola bíblica, é porque todo diálogo confronta, em última instância, duas opções de vida, ou dois destinos se preferir. A continuidade desse diálogo depende mais das particularidades de cada visão de mundo do que do fatodelas se oporem. Daí a densidade desse ato íntimo, a leitura, capaz de preservar a complexida- de humana ao invés de reduzi-la a um punhado de mandamentos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos literários 177 Além de refletir sobre o ato da leitura, é fundamental que o aluno leia, e se para isso fosse suficiente a indicação de alguns títulos as escolas esta- riam formando milhares e milhares de leitores todos os anos, tal é a profusão de listas anexadas a currículos, distribuídas ao final de palestras, seminários, cursos. Como a maior parte das escolas da rede pública parece, até o mo- mento, estar trabalhando em sentido contrário, qualquer lista, desvinculada de uma prática pedagógica relativa à leitura distinta da atual, por mais com- pleta que seja, não aumentará o número de leitores e muito menos acres- centará algo à discussão sobre o ato de ler. Dica de estudo ECO, Humberto; BONAZZI, Mariza. Mentiras que Parecem Verdades. 5. ed. São Paulo: Summus, 1980. Esse livro constitui um clássico na bibliografia educacional. Os autores ana- lisam os textos literários constantes de um amplo conjunto de livros didáticos usuais, na Itália, desenvolvendo uma crítica extremamente rica e cuja leitura é muito recomendável aos educadores em geral, em especial àqueles dedicados ao ensino da língua materna. Uma parte dessa obra encontra-se acessível no seguinte endereço virtual: <http://books.google.com.br/books?id=dks6h7YzbIIC>. Atividades 1. Enumere e explique as principais características do texto literário Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 178 Prática Educativa da Língua Portuguesa 2. Quais são as principais formas de abordagem desses conteúdos do texto literário? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos literários 179Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein Textos informativos Os textos informativos, via de regra, são textos não literários. Para co- mentar o encaminhamento metodológico com esse tipo de texto, é re- comendável relembrar suas características. Eles se distinguem por uma função utilitária, que pode ser: informar, explicar, documentar, registrar, convencer, esclarecer, orientar etc. Para realizar essa função, esse tipo de texto deve apresentar certas características: o plano do significado se so- brepõe ao expressivo; a linguagem é predominantemente denotativa e busca um sentido único para os enunciados; finalmente, o texto informati- vo é passível de ser modificado formalmente (no plano da expressão), sem prejuízo do conteúdo ou, dizendo de outro modo, é tangível. Nos quadros abaixo, é feita a distinção entre os textos literários e os textos não literários, cuja comparação facilita a compreensão de cada tipo. Texto literário: – prevalência da função estética; – relevância do plano da expressão; – intangibilidade (caráter intocável da organização linguística do texto); – prevalência da conotação; – plurissignificação. Trabalhando com os tipos de texto: textos informativos e epistolares Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 182 Prática Educativa da Língua Portuguesa Texto não-literário: – prevalência da função utilitária; – relevância do plano da informação; – tangibilidade (permite alterar a organização linguística); – prevalência da denotação; – unidade de sentido. As características do texto não literário – nesse caso, do texto informativo – determinam o emprego dos recursos linguísticos (pontuação, concordância, regência, paragrafação, repertório semântico etc.) de modo bastante diverso do que ocorre com os textos literários. Por outro lado, dada a enorme diversidade de textos informativos, observam- -se diferenças de organização estrutural conforme o tipo de texto em questão. O trabalho com textos informativos visa produzir no aluno a compreensão da diversidade de textos existentes, das características próprias de cada tipo, do repertório de recursos linguísticos disponíveis na nossa língua para a construção dos textos e das possíveis especificidades de uso de certos recursos, determina- das pelo tipo de texto que se está produzindo. Visa, enfim, tornar o aluno um fluente e competente escritor de qualquer tipo de texto. Lembrando que as práticas de leitura/interpretação, produção e análise de textos permitem desenvolver qualquer tipo de conteúdo da Língua Portuguesa; trataremos, em seguida, de algumas estratégias específicas de estudo da tipolo- gia textual não literária. Sugestões de atividade Trabalhar com os mais diversos tipos de textos informativos (manuais, re- � ceitas, notícias, texto didático, bulas, recados, listas, agendas etc.). No trabalho com os textos informativos, comparar diferentes tipos de tex- � tos e ressaltar as características próprias de cada tipo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos informativos e epistolares 183 Analisar, com os alunos, os recursos linguísticos empregados e seu papel � na constituição do sentido do texto e das características do próprio tipo de texto. Criar constantemente situações de uso real de textos informativos (por � exemplo: quando possível, repassar informações e orientações por escri- to, ao invés de fazê-lo oralmente). Organizar, na classe, um � Mural da Informação, ou um Jornal da Classe, em que o professor e os alunos podem registrar notícias, avisos, recados, re- ceitas etc. e, também, pequenos textos literários. Propor aos alunos que elaborem um manual de uso de algum equipamen- � to ou instrumento que conheçam bem. Sugerir-lhes que realizem pequenas reportagens e publiquem, em forma � de notícia, no jornal da escola. Promover a análise linguística e a reescrita de textos informativos produzi- � dos pelos alunos. Sugestões de análise de texto informativo (notícia) Falta de bibliotecas públicas exclui 280 mil da leitura no Paraná Brasileiro lê menos de dois livros por ano. Pouca leitura compromete o desempenho intelectual (GAZETA DO POVO, 8 ago. 2004) Cerca de 280 mil paranaenses de 47 municípios, ou 3% da população do estado, não têm acesso à leitura – ou têm acesso precário – por falta de bi- bliotecas públicas. Num balanço nacional, o problema é ainda mais grave: o déficit de acervo público de livros impõe obstáculos ao aprendizado a 14 mi- lhões de pessoas (8,2% da população do país) em mil municípios. O quadro paranaense é menos crítico do que a média nacional, mas nem por isso é menos triste. A falta de leitura, decorrente da falta de interesse ou ausência de livros, compromete o desempenho intelectual. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 184 Prática Educativa da Língua Portuguesa O Brasil foi o último colocado entre os 32 países cujos estudantes fizeram a prova de leitura do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). A avaliação ocorreu há três anos, mas representa o retrato atual da educação no país. O índice de leitura no Brasil é de 1,7 livro por habitante por ano, 13 vezes menos do que a média na França. A falta de bibliotecas e acervo desa- tualizado são as principais causas do desestímulo. Proposta de análise de texto informativo (notícia): proceder à leitura compreensiva, destacando os termos ou expressões� desconhecidos ou capazes de gerar ambiguidade; se necessário, proceder ao estudo ou à revisão dos conteúdos de Matemá- � tica exigidos para à compreensão do texto; se for o caso, proceder ao estudo da localização geográfica da França; � estimule o estudo comparativo de aspectos da situação socioeconômica, � cultural e política entre o Brasil e a França; propor aos alunos que organizem gráficos que permitam a melhor visuali- � zação dos dados e a comparação das diferentes situações (comparativo da porcentagem da população sem acesso a bibliotecas no estado e no país; comparativo do índice de livro/leitor no Brasil e na França etc.); promover uma leitura interpretativa, analisando o tema geral da notícia, � as informações, as afirmações e os argumentos; identificar e analisar a manchete e o subtítulo da notícia; � localizar e comentar o argumento utilizado para justificar a afirmação de � que “a falta de leitura, decorrente da falta de interesse ou ausência de livros, compromete o desempenho intelectual”. Além da interpretação, o estudo do texto pode proporcionar rica oportuni- dade de estudo da língua. Nesse caso, o professor pode eleger um ou alguns recursos linguísticos empregados no texto para análise (por exemplo, o uso da vírgula, ou casos de concordância etc.). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos informativos e epistolares 185 Textos epistolares As correspondências em geral são denominadas textos epistolares. Enqua- dram-se nessa categoria cartas, bilhetes, recados e, agora, com o advento da internet, também o e-mail. O texto de correspondência apresenta uma estru- tura própria, geralmente constituída pelas seguintes partes: data, invocação (nome ou termo empregado para invocar o interlocutor), desenvolvimento e assinatura. A correspondência pode ser de caráter particular ou oficial (aquela que envol- ve funções públicas ou instituições). A correspondência oficial obedece a certas regras de apresentação, de caráter protocolar, sobretudo visando facilitar a tra- mitação e a leitura. A correspondência de caráter particular tem regras menos rígidas, a depender, evidentemente, do grau de intimidade entre os missivistas. Sugestões de atividades Organizar o � Correio da Escola, estimulando a troca de correspondência en- tre os alunos das diversas classes, ou ainda com alunos de outras escolas. Organizar um � Mural de Recados na classe ou na escola. Promover, periodicamente, leitura e comentário da seção de cartas dos � leitores de jornais e revistas. Promover a pesquisa, em bibliografia especializada, bem como a leitura e � o estudo de correspondências que marcaram a História e a Cultura. Na leitura/interpretação dessas correspondências, levar os alunos a iden- � tificarem e analisarem as características do texto epistolar, bem como os recursos linguísticos empregados pelos autores. Promover a análise linguística e a reescrita de textos epistolares produzi- � dos pelos alunos. Selecionar textos epistolares (bilhete, telegrama, carta, e-mail), textos de � notícia de jornal, textos informativos de manuais, receitas etc. e organizar uma atividade de estudo comparativo entre eles, procurando destacar as características próprias de cada tipo de texto. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 186 Prática Educativa da Língua Portuguesa Como sugestão de uma estratégia de motivação para introduzir o estudo de textos epistolares, apresentamos alguns textos literários que tratam do tema. Texto 1 Pobre Manuel Jorge Miguel Ziraldo Chico “Mão Leve”, Ibraim Dital e Manuel assaltaram um supermercado no subúrbio e fugiram pro interior do Brasil, uma cidade bem pequena, onde ninguém podia botar a mão neles. Chico era carioca, Ibraim Dital não era, e Manuel tinha vindo de Trás-os-Montes. Acontece que o delegado da região onde eles praticaram o assalto era um homem muito vivo, muito exigente, muito detalhista e não ia deixar as coisas ficarem assim. Em poucos dias, tinha descoberto o paradeiro dos assaltantes e mandou um telegrama para o delegado da cidadezinha solicitando a prisão dos três malandros. Dois dias depois, ele recebeu um telegrama do colega: “Prazer informá nós prendeu os ladrão.” O delegado ficou muito satisfeito com a eficiência do outro, mas passou-lhe um telegrama nos seguintes termos: “Parabéns pelo trabalho pt Corrija português pt.” Dizem que o pobre Manuel está apanhando até hoje. Texto 2 Correspondência Millôr Fernandes Aquele rapazinho escreveu esta carta para o irmão: Querido mano, ontem futebolei bastante com uns amigos. Depois cigarrei um pouco e nos divertimos montanhando até que o dia anoitou. Então, des- montanhamos, nos amesamos, sopamos, arrozamos, bifamos, ensopadamos e cafezamos. Em seguida, varandamos. No dia seguinte, cavalamos muito. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos informativos e epistolares 187 Abraços do irmão, Maninho Para concluirmos, é relevante lembrar que todas as atividades sugeridas devem estar articuladas às quatro práticas – leitura/interpretação, produção de textos, análise linguística e atividades específicas de sistematização de con- teúdos específicos - norteadoras de todo o trabalho pedagógico no ensino da língua. Destaque-se que o texto é o elemento articulador dessas práticas. Texto complementar Língua Portuguesa (STELLA, 1997, p. 68-69) Desde o primeiro semestre, temos feito um uso muito peculiar da nossa lousa, registrando em local visível todas as informações que serão úteis ao longo do período em que permaneceremos juntos, como, por exemplo, quando es- crevemos a rotina das atividades que serão realizadas em determinado dia ou quando anotamos recados importantes que não podemos esquecer [...]. No princípio, a iniciativa de usar o espaço do quadro negro para esse tipo de registro partia das professoras [...]. Hoje em dia, as próprias crianças já assumem a posição daquele que tem mensagens a serem divulgadas, as quais, por isso, são registradas na lousa, a fim de que sejam lidas pelos colegas. [...] Pode-se imaginar que nas ocasiões em que usamos a lousa com essa finalidade, além de aproveitarmos essas situações para que as crianças ponham em jogo o que já sabem sobre como a escrita representa a fala e com o intuito de que troquem informações sobre isso, ainda de- sejamos fazer com que observem e abordem questões ligadas aos usos e funções sociais da língua escrita. No caso, conversamos sobre a utilidade do registro como apoio para a memória e também sobre a comunicação que se pode estabelecer por escrito. Outras situações foram planejadas e realizadas principalmente para que as crianças fossem incentivadas a fazer uso da escrita enquanto instrumento Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 188 Prática Educativa da Língua Portuguesa de comunicação, aprendendo a estabelecer uma correspondência com indi- víduos não presentes na situação em que um texto é produzido e adequan- do progressivamente a mensagem à circunstância em que ela será utilizada. Uma proposta que se encaixa nessa categoria consistiu na carta que es- crevemos ao final do semestre passado para o Túlio, um menino que inte- grava nosso grupo, mas precisou voltar a morar no Ceará. Desde que nos separamos dele, havíamos nos proposto a enviar pelo correio notícias do que estávamos fazendo em nossa classe. Após o acampamento, sugeri que escrevêssemos a carta relatando sobre esse evento e sobre o que estáva- mos estudando naquela ocasião. A proposta foi prontamente aceita,e em segundos começaram a ser ditas perguntas que poderiam estar contidas na missiva, e informações que gostariam que nela constassem. Também o início e a finalização da carta foram sugeridos e fartamente discutidos pelas crian- ças. O passo seguinte foi o de organizar as inúmeras ideias que foram dadas, blocando-as por assunto e optando por uma ordem de apresentação dos mesmos. Na sequência, a tarefa proposta às crianças nessa atividade coleti- va, que era apenas coordenada por mim, foi a de que ditassem exatamente o que eu deveria escrever sobre cada tópico selecionado (acampamento, estudo sobre os gregos, aprendizagem da leitura e da escrita, perguntas en- dereçadas ao colega, ...). Por fim, a carta foi revisada a partir das colocações feitas pelas próprias crianças sobre o resultado inicial de nossa produção, passada a limpo e caprichosamente assinada por todos os alunos do grupo. A seriedade com que o texto foi produzido com vistas a portar notícias e veicular questões que expressavam carinho pelo colega distante só foi supe- rada pela alegria com que as crianças entraram em contato com a resposta que receberam. Dica de estudo FARACO, C.A.; TEZZA C. Texto de informação. In: Oficina de Texto. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 179-207. Nesse texto, que constitui um capítulo do livro, Faraco e Tezza articulam com muita clareza a teoria sobre o texto informativo e a prática do ensino da língua. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos informativos e epistolares 189 São apresentados os conceitos, aos quais seguem-se textos exemplificadores e sugestões de atividades. Atividades 1. Quais aspectos você destacaria, nos textos abaixo, para introduzir o aluno na reflexão sobre as diferenças entre o texto informativo e o texto epistolar? Texto 1: Matinada Em outros tempos, a matinada – ou seja, a sessão de cinema que aconte- cia pela manhã – era um programa comum, muito apreciado pelos meninos e meninas. Hoje, talvez muitas crianças nem sequer saibam o que essa pa- lavra significa. Porém, ao que tudo indica, a matinada voltará a ser um pro- grama interessante. Na esperança de aumentar o número de clientes, o Cine Ouro Verde, da cidade de Amoras, vai realizar matinadas, aos sábados, no período das férias escolares. O ingresso, nessas sessões, custará a metade do valor normalmente cobrado nas sessões da tarde. Trata-se de uma ex- periência provisória que poderá vir a tornar-se definitiva, se os resultados forem bons para o proprietário do cinema. Para a meninada é mais uma oportunidade de lazer. A primeira sessão será no dia 4 de janeiro. Texto 2: Querido Papai Noel. Eu tenho 9 anos e sou muito estudioso. Eu queria ganhar uma bicicleta, mas meu pai está desempregado e não pode me dar. Por isso, estou fazendo este pedido para você. Obrigado, Papai Noel. Assinado: Luís Carlos Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 190 Prática Educativa da Língua Portuguesa Texto 3: Sopa instantânea (creme de cebola e queijo parmesão) Modo de preparo: 1) Despeje o conteúdo do envelope numa caneca média. 2) Acrescente 200ml de água fervente e misture bem. Sirva com uma fatia de torrada. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos informativos e epistolares 191Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein Em uma sociedade regida pelo mercado, como a contemporânea, a compreensão dos recursos de produção dos textos publicitários tem uma importância destacada e, não raro, conflitante entre aquele que produz o texto publicitário e para aquele a quem o texto se dirige. O primeiro visa promover a venda e o consumo de determinado serviço ou produto, a todo custo. Empenhar-se-á, portanto, para produzir um texto envolven- te, sedutor, provocativo que torne o desejo de consumir tão irresistível quanto possível. Ao segundo, isto é, àquele que se constitui como o leitor do texto, que será instigado, provocado, atingido pelo texto, interessa ter condições de exercer sua autonomia e, se for o caso, resistir à pressão para o consumo de algo que, na verdade, não lhe será útil ou cuja aquisição não é prioritária em certo momento da sua vida. Há, também, situações em que os interesses dos sujeitos – opostos na condição de vendedor e de consumidor – se harmonizam: alguém precisa adquirir alguma coisa e as informações prestadas pelo texto publicitário podem facilitar-lhe a localização, escolha do produto ou serviço e, eventualmente, ao fornecer antecipadamente as informações, permitir que o consumidor avalie suas possibilidades financeiras e, também de antemão, possa elaborar uma contraproposta ou sugerir condições mais adequadas de aquisição. O leitor do texto publicitário, portanto deve, nos dias atuais, desenvol- ver uma boa capacidade de interpretação para, mesmo diante do texto mais envolvente, apresentar-se em uma condição de julgamento capaz de melhor orientar-se na sua decisão. Os textos publicitários são construídos em uma linguagem fortemen- te apelativa, pois seu objetivo é convencer o consumidor a adquirir um determinado produto, uma determinada mercadoria. Os argumentos em- pregados na publicidade relacionam-se com expectativas e ansiedades próprias da sociedade do consumo; ao mesmo tempo, produzem certas necessidades e apresentam-se como respostas a elas. Trabalhando com os tipos de texto: textos publicitários Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 194 Prática Educativa da Língua Portuguesa A capacidade de interpretação crítica dos textos publicitários pode tornar as pessoas menos reféns de impulsos consumistas deflagrados pela sedução dos apelos publicitários. Via de regra, os textos publicitários vêm acompanhados de elementos icôni- cos, isto é, de ilustrações, imagens que realçam o produto ou complementam, ampliando o significado do texto. Pelas suas peculiaridades, é importante que tais textos sejam objeto do tra- balho pedagógico, ao menos tanto quanto outras modalidades textuais. Inicialmente, cabe observar que há uma tipologia variada de textos publici- tários, os quais compõem dois grupos principais: a propaganda e a publicidade. Sobre essa terminologia, Carlito Maia esclarece: A palavra [propaganda] vem do gerúndio da palavra latina propagare, isto é, coisas que devem ser propagadas. Já Publicidade, do francês publicité, é a qua- lidade do que é público. Mais: “a arte de exercer uma ação psicológica entre o público com fins comerciais ou políticos”. Publicidade vende produtos, serviços, ideias, dos quais dou exemplos: carros, bancos, seguros de vida. Largamente empregada no mundo dos negócios como arma de mercadologia, ou seja, de marketing, ela é característica do capitalismo sob a economia de mercado: “sistema em que os meios de produção são de propriedade privada, sem intervenção do Estado na economia, e em que cada entidade age em função das oscilações de preços, conforme o Aurélio. (MAIA, 1991) O material de Propaganda, uma vez que objetiva propagar, difundir, dar a conhecer, mas não se caracteriza pela agressividade mercadológica própria da publicidade, tende a ser mais simples, na forma de anúncios, cartazes, folhetos, classificados, por exemplo. O material de Publicidade, tende a ser mais elabora- do e sofisticado. Analisemos alguns materiais para ilustrar essas tendências. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos publicitários 195 Propaganda ou anúncio D iv ul ga çã o Re vi st a M ar ie C la ire . Observemos o material de publicidade da figura. Ele se estrutura articulan- do três elementos apelativos. Os dois primeiros, presentes no corpo do texto principal, são a vaidade feminina e a comodidade. Movida pela vaidade, a mulher empenha-se em conseguir manter ou recuperar uma pele firme, jovial. Os exercícios físicos – como o levantamento de peso – são uma forma já con- sensualmente aceita de possibilidade de enrijecimento muscular. O anúncio oferece o mesmo resultado com muito mais comodidade: basta usar, como- damente, no banho, um sabonete que pesa apenas 100 gramas. O outro ele- mento apelativo é o argumento de autoridade construído com o emprego de uma terminologia técnico-científica: o sabonete em questão é “o único” com “micropartículas de colágeno”. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 196 Prática Educativa da Língua Portuguesa Todos esses elementos apelativos são “resumidos” pela imagem que apresen- ta o sabonete servindo de apoio ao peso, ou seja, como algo ainda mais forte que o peso. Cartaz e folheto IE SD E Br as il S. A . O cartaz e o folheto apresentam uma menor elaboração textual e gráfica, devido à característica de concentrar muita informação. No exemplo acima, além de enunciados apelativos (“para o mais belo bebê do mundo: o seu bebê”), o texto também apresenta um conjunto de enunciados enaltecendo os produtos oferecidos (“produtos de primeiríssima qualidade”, “pagamen- to a prazo”, “não deixe para a última hora”), bem como informações práti- cas como endereço e telefone da empresa. A limitação característica desse tipo de porta-texto não raro dá margem ao emprego de jargões, expressões desgastadas, que não apresentam a mesma força de convencimento própria dos sofisticados recursos da Publicidade. O folheto acima também recorre ao emprego de uma imagem para reforçar o intuito de chamar a atenção do leitor. Porém, diferentemente do texto publicitário anterior, essa imagem é Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos publicitários 197 óbvia e encontra-se semi-oculta pelo texto, uma vez que se pretendeu expor muitas informações em um porta-texto de extensão reduzida. Essa imagem, por isso, acaba não contribuindo significativamente para atuar no convenci- mento do consumidor. Classificados CLASSIFICADOS AGÊNCIA BABÁ OU DOMÉSTICA LIGUE: 041-11111111 NOSSO LEMA: CONFIANÇA CELULARES CONSERTAMOS TODAS AS MARCAS. O MELHOR PREÇO DA PRAÇA. LIGUE: 041-22222222 MANICURE PRECISAMOS COM PRÁTICA LIGUE: URGENTE PARA 041-33333333 SHIFT CURSO DE INGLÊS Todas as opções de horário Fone: 041-44444444 OFICINA DO DUDU Mecânica e parte elétrica. Qualquer marca Rua Tenório Brasamora, 26 Fone: 041-55555555 COSTUREIRA CONFECÇÃO E CONSERTOS SERVIÇO RÁPIDO E DE QUALIDADE FONE: 051- 66666666 Ocupando, comumente, páginas especializadas de jornais e revistas, os anún- cios classificados são organizados – como o nome o diz – por ramo de atividade ou tipo de produto. No exemplo acima, os anúncios estão agrupados em dois conjuntos: “beleza” e “cursos”. Como é possível observar no exemplo, os anúncios classificados são mini-fo- lhetos: concentram muita informação em uma pequena extensão de porta-tex- to. Dirigem-se a leitores que, espontaneamente, procuram determinado produ- to ou serviço. Embora sejam textos publicitários, não raro a função informativa prevalece sobre a apelativa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 198 Prática Educativa da Língua Portuguesa O trabalho pedagógico com os textos publicitários ou de propaganda visa, num primeiro momento, familiarizar o aluno com as características que lhes são próprias. Também nesse caso são recursos fundamentais as quatro práticas pe- dagógicas, articuladas pelo texto. Isso significa que os alunos deverão ter atividades de leitura/interpretação, sendo colocados em situação de contato, observação, análise, comparação, in- terpretação, do conteúdo explícito e o conteúdo implícito desse tipo de texto, com a mediação do professor. Nas atividades de produção de textos publicitários e propagandísticos, é im- portante observar um planejamento. Esse planejamento contemplaria alguns elementos essenciais, a saber: Os dados e informações básicos necessários à elaboração do material:1. as características do produto ou serviço;a. o público-alvo e seu perfil;b. o foco motivador, ou seja, o aspecto do produto ou serviço que será c. destacado (utilidade, praticidade, beleza etc.); as estratégias e táticas capazes de despertar o interesse do público.d. Os componentes da mensagem:2. o tema: aquilo que se quer fazer acreditar;a. a distribuição espacial gráfico-visual dos elementos que comporão a b. mensagem: título, corpo do texto, slogan, ilustração etc. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos publicitários 199 Sugestões de atividades D iv ul ga çã o Re vi st a M ar ie C la ire Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 200 Prática Educativa da Língua Portuguesa Sugestões de trabalho com textos publicitários: Conversar com os alunos sobre os materiais de publicidade e propaganda � que eles conhecem, considerando, por exemplo: de quais peças publicitá- rias eles mais gostam, porque; e de quais não gostam, porque etc. Suscitar sua atenção para a apreensão das estratégias e recursos de sedu- � ção das publicidades e seu objetivo. Estimular os alunos a terem uma atitude mais analítica e crítica diante dos � textos de publicidade. Promover a análise de textos publicitários, observando: � os elementos apelativos do texto; � os recursos de linguagem de cunho conotativo; � a articulação entre o texto e os elementos icônicos (imagens, ilustra- � ções etc.); a veracidade ou não dos argumentos apresentados. � Propor a escolha de algo (um brinquedo, um dentifrício, uma mochila, por � exemplo) ou um serviço para ser o objeto de uma campanha publicitária. Estimule os alunos a produzirem textos publicitários, procurando promo- � ver algum produto ou serviço, atendendo tanto quanto possível o plane- jamento sugerido. Acompanhar a elaboração dos textos, sugerindo vez ou outra a observa- � ção das características do texto publicitário. Propor aos alunos que comentem os recursos que utilizaram na constru- � ção de seu apelo publicitário. Promover a análise linguística e a reescrita coletiva dos textos produzidos � pelos alunos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos publicitários 201 Texto complementar A mensagem codificada no anúncio (MARTINS, 1997, p. 147-149) [...] Para desempenhar sua função de veicular informações, a mensagem publicitária, na forma de anúncio, aparece, em geral, em dois registros: Registro linguístico– textos, títulos, slogans, frases, em geral muito ri-1. cos em conotações e denotações. Registro icônico– desenhos, fotos, imagens, quadrinhos, faixas, gravu-2. ras etc. Além disso, fazem parte do anúncio os signos não codificados que são valores referentes a ideias secundárias (conotações) que despertam sentimentos. As informações veiculadaspela mensagem destinam-se: a descrever ou apresentar o produto ou serviço – é a sua função refe- � rencial; a provocar emoções, atraindo a atenção, sugestionando e convencen- � do o destinatário – é a sua função emotiva. Os apelos da mensagem publicitária, por essa razão, são centrados no produto e no indivíduo. Entre seus apelos, um dos mais explorados nos anúncios, segundo Yve- line Baticle (1973), é “o mito moderno” do erotismo. Segundo esse autor, o erotismo é fenômeno presente em toda parte. Encontra-se nos anúncios e nas publicações, no rádio e na TV, nos filmes. Todos os artifícios são utiliza- dos para destacá-lo nos prazeres imediatos, nas emoções, nas sensações, nas formas do rosto, no corpo, na cultura física, nos gestos, nas roupas íntimas, nos cosméticos, nos movimentos etc. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 202 Prática Educativa da Língua Portuguesa Dica de estudo MARTINS, Jorge S. Redação Publicitária: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 1997. Escrita por um professor de publicidade, essa obra não só trata da elabora- ção do texto publicitário como também explicita os objetivos e intenções desse tipo de texto. Atividades Observe a peça publicitária (Herbarium p. 69 – Marie Claire, agosto) e respon- da às questões abaixo: 1. Qual é o elemento mais fortemente apelativo do texto? 2. Em que se baseia a força desse argumento (o elemento apelativo)? 3. Explique como esse argumento é construído na manchete do anúncio. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com os tipos de texto: textos publicitários 203 4. O texto transmite a ideia de que a natureza é o remédio. Justifique essa afirmação. 5. Observe a imagem que ilustra o anúncio e explique como ela reproduz visual- mente a mesma ideia contida na manchete. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein Não é comum encontrarmos um texto exclusivamente narrativo, ou exclusivamente descritivo ou dissertativo. Um texto, via de regra, vai apresentar características pertinentes às três modalidades discursivas. Classifica-se o texto pela predominância dos recursos de uma dessas mo- dalidades. Para efeito da formação do leitor/escritor fluente, é menos im- portante classificar um texto quanto a essas características, mas entender como funcionam os recursos narrativos, descritivos e dissertativos. Esclareça-se, pois, que as considerações que se seguem referem-se a características preponderantes num dado texto. Narração Denominamos narrativa todo texto que apresenta os seguintes ele- mentos: enredo (uma sequência de acontecimentos ordenados); perso- nagens (seres reais ou fictícios que participam do desenvolvimento do enredo, envolvendo-se nas ações relatadas); ambiente (lugar ou espaço onde as ações ocorrem); narrador (que relata a história). Quando o narra- dor participa da história, como personagem, o foco narrativo ocorre na primeira pessoa (“eu”, “nós”), caso contrário, o foco narrativo ocorre na ter- ceira pessoa (“ele”, “ela”, “eles”). Pode ocorrer de a narração ser construída apenas com o diálogo dos personagens, dispensando o narrador. A citação do discurso dos perso- nagens pode ocorrer na forma de discurso direto ou indireto. A principal característica da narrativa é o movimento, ou seja, a suces- são de ações. Observemos o seguinte texto: Trabalhando com narração, descrição e dissertação Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 206 Prática Educativa da Língua Portuguesa 26 de fevereiro, quarta-feira (PERISSÉ, 2003) Di, fui comida pelos mosquitos essa noite. Cara, que roubex. Fiquei deses- perada. E o calor! Fala sério. Ontem a noite foi bem mais tranquila, mas tudo bem, aventura é aventura e tem seu lado maneiro. Acabamos levantando às 5h30 da manhã porque ninguém aguentava mais ficar dentro das barracas. Aí saímos em busca de alimentos. Adivinha o meu café da manhã? Manga. Ainda bem que eu gosto de manga. Comi três mangas. Aliás, só eu não, todo mundo comeu manga de café da manhã. Já é o terceiro dia que estamos aqui. Estamos aproveitando bem as férias. Daqui a pouco as aulas vão começar, e a gente vai ter um monte de coisas para contar. Isso que adolescente deve fazer na vida: aventura. As escolas deveriam re- volucionar seus métodos de ensino e a gente deveria partir pra prática. Seria muito melhor aprender física ao ar livre, matemática ao ar livre, geografia viajando... cara... tá sendo demais. No almoço comemos banana. O Maurinho disse que ia se embrenhar pelos matos que tem aqui atrás do camping pra ver se ele achava alguma caça, tipo assim, algum animal mais ou menos selvagem. Se embrenhou, mas não achou nada, aí jantamos manga. Na verdade eu nem jantei, porque como eu sei que o que eu vou tomar de café da manhã é manga, eu guar- dei a vontade para amanhã. Eu não me arrependo de termos doado nossas comidas, afinal de contas, aventura é aventura... e cara, é isso aí... meu estô- mago roncou alto agora. Vou dormir, porque amanhã com certeza tem mais aventura. Sinistro! Trata-se de uma narrativa, pois relata uma sucessão de ações ordenadas e apresenta os elementos essenciais desse tipo de discurso: enredo (a sequência de acontecimentos ocorridos em certo período das férias); personagens (“Di”, ou seja, o diário; a própria narradora e seus companheiros de acampamento); am- biente (o camping, onde os personagens passam as férias); narrador (nesse caso, a narradora é também personagem da narrativa). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com narração, descrição e dissertação 207 Sugestão de atividades com narrativas: Propor produção de narrativas a partir de relatos de histórias familiares, � de notícias, de filmes ou capítulos de novelas, de imagens, de histórias em quadrinhos, de uma primeira ação narrada. Desenvolver atividades lúdicas de completar narrativas, a partir de uma � ação inicial proposta por um dos alunos ou pelo professor. Desenvolver atividades de elaboração de histórias, empregando certo � conjunto de verbos (ações). Examinar, na leitura de narrativas diversas, a forma de citação do discurso � das personagens. Analisar, na leitura e na interpretação de narrativas, os recursos emprega- � dos pelo autor do texto na construção do enredo e na ambientação. Avaliar, na leitura de narrativas, os recursos utilizados pelo autor para or- � denar logicamente as ações. Comentar, no estudo de textos narrativos, o foco narrativo. � Promover a análise linguística e a reescrita – individual ou coletiva – dos � textos de narrativa produzidos pelos alunos. Descrição O texto descritivo se caracteriza pelo relato de características de uma pessoa, de um objeto, de uma cena ou situação qualquer. Na descrição não se verifica uma sucessão de tempo: se há referência a ações, elas ocorrem simulta- neamente, não se observando uma progressão temporal, o que permite alterar a ordem dos enunciados sem prejudicar o sentido ou a lógica do texto. Observemos um exemplo de texto descritivo: Meu irmão, com seus oito anos, é uma criança integral, olhar vazio de ex- periência, rosto rechonchudo e lisinho, sem caráter fixo, sem malícia, a pró- pria imagem da infância. Eu, tão menor, tenho esse quê repulsivo do anão. Pareço velho. E o que é mais triste, com uns sulcos vividos descendo das abas Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br208 Prática Educativa da Língua Portuguesa Como se pode observar, o texto trata de características dos personagens situ- ados simultaneamente, ou seja, em um mesmo tempo. O excerto que apresentamos a seguir pode, à primeira vista, sugerir uma nar- rativa, pois se refere à sequência de idades. Entretanto, uma análise mais atenta permite afirmar que se trata de um texto descritivo, pois apresenta característi- cas de cada idade e não apresenta uma sequência cronológica de ações: Cara, dizem que ser adulto é difícil porque tem muita responsabilidade, num sei quê, num sei que lá, mas na boa, ser criança é pior ainda e ser adoles- cente, então, nem se fala, porque você não é nem adulto nem criança. Resu- mindo, você não é nada. (PERISSÉ, 2003) Sugestões de atividades: Propor produção de textos descritivos a partir de fotografias, ilustrações, � cenários, pessoas, objetos, ambientes etc. Analisar, na leitura de textos diversificados, os trechos em que prevalece a � modalidade descritiva, observando os recursos empregados pelo autor. Compor personagens, descrevendo suas características pertinentes a di- � ferentes dimensões: constituição física, caráter, temperamento, hábitos, condição social, linguagem etc. Promover a análise linguística e a reescrita coletiva dos textos descritivos � produzidos pelos alunos. Dissertação A dissertação é o tipo de texto que expõe a análise e a interpretação de dados da realidade, valendo-se de conceitos abstratos, diferentemente das modalidades nar- rativa e descritiva em que se empregam, predominantemente, termos concretos. voluptuosas do nariz e da boca larga, entreaberta num risinho pérfido. Meus olhos não olham, espreitam. Fornecem às claras, com uma facilidade teatral, todos os indícios de uma segunda intenção. (ANDRADE, 1989) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com narração, descrição e dissertação 209 O texto dissertativo é a modalidade típica do discurso científico e filosófico. Observamos o exemplo: Dói porque dói Médicos aprofundam o conhecimento e melhoram o tratamento da dor neuropática, causada por lesões no sistema nervoso (MEDICINA & BEM-ESTAR, ago. 2004) Há males conhecidos desde os tempos bíblicos, como a lepra. Mas há outros que passaram a ser estudados pela ciência apenas nos últimos anos. Um deles é a dor neuropática, sintoma causado por alguma lesão ou disfunção do sistema nervoso. É tão pouco notória que o paciente pode rodar por diversos consultórios até obter o diagnóstico correto. Expandir o conhecimento a respeito dessa condição dolorosa e crônica é um dos pro- pósitos da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, na sigla em inglês). Recentemente, a entidade realizou um congresso sobre o tema, em Madri, para discutir as condições de tratamento desse problema, que não tem cura. Mais de 15 milhões de pessoas na Europa e nos Estados Unidos padecem dessa dor. No Brasil, não existem estimativas. Danos no sistema nervoso podem causar alteração na forma de transmissão e recepção das mensagens de dor. E os nervos se tornam sensíveis demais. Desse modo, um estímulo que normalmente não é entendido pelo organismo como doloroso – o roçar de um tecido na pele, por exemplo – é capaz de gerar pontadas terríveis ou sensação de queimação insuportável. Às vezes, o desconforto pode surgir do nada, o que leva muitos médicos a julgar que a queixa do paciente tem fundo psicológico. O objetivo desse texto é a exposição de uma análise sobre dados relativos a uma determinada doença. Para essa exposição, a autora apoia-se largamente em con- ceitos abstratos. Trata-se, portanto, de um exemplo típico de texto dissertativo. Sugestões de atividades com textos dissertativos Sempre propor, como atividade conclusiva de estudo de tópicos das di- � versas áreas do conhecimento, a produção de um texto dissertativo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 210 Prática Educativa da Língua Portuguesa Nas atividades de estudo das diversas áreas do conhecimento, promover � a leitura interpretativa e o debate de textos dissertativos. Nas atividades de leitura interpretativa, analisar os conceitos abstratos sob � um ponto de vista científico, superando as opiniões de senso comum. Nas atividades de leitura interpretativa e análise de textos dissertativos, � analisar atentamente os tipos de argumentos empregados pelo autor. Propor temas para pesquisa e produção de textos dissertativos. � Sugerir a produção de textos dissertativos, de opinião, a partir de frases � interessantes ou célebres, ditos populares etc. Promover a análise linguística e a reescrita de textos dissertativos produ- � zidos pelos alunos. Selecionar textos de diferentes tipos (narrativos, descritivos e dissertati- � vos), adequados ao desenvolvimento e interesse da turma de. Analisá-los antecipadamente, procurando apreender qual forma discursiva é predo- minante em cada um ou, em caso de textos que combinam as várias for- mas, destacar trechos característicos da narrativa, da descrição e da disser- tação. Desenvolver atividades comparativas com os alunos. Texto complementar Novas exigências para a formação de novos professores1 (TORNAGHI, 2009) Para fazer os comentários a respeito da visão alternativa na questão da formação de professores, vou começar por citar a minha experiência recente, como professor da Escola de Professores. [...] Fiquei muito feliz de ser convidado a trabalhar na Escola de Professores, porque fui para uma escola em que os profissionais estudam muito, param para pensar, o que hoje em dia é uma raridade. 1 Trata-se de depoimento, por isso as marcas de linguagem coloquial no texto. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com narração, descrição e dissertação 211 A Escola de Professores nasceu para formar bons professores, e nós tive- mos duas turmas iniciais em 1994. Uma turma de adultos, que já terminaram o secundário, e outra turma de meninas de 14 anos. A intenção dos profissionais que nela trabalham é fazer uma super escola. Mas é compreensível que os alunos de 14 anos, 15 anos, que estão terminando o 1º Grau, dificilmente leiam tudo que nós professores estamos lendo e reco- mendamos. Inocentemente, no começo achávamos que eles iam querer ler. Desse modo, surge uma peculiaridade interessante. A Escola dos Pro- fessores é uma escola em que os professores aprendem realmente com os alunos. A gente erra e aprende junto. Eu, por exemplo, nessa escola, dou aula de didática especial para o ensino de ciências e dou aula de computador. No primeiro ano da minha experiência, meu programa de didática especial do ensino de ciência mudou 4 vezes. Uma vez a cada bimestre. Com isso, nós aprendemos que um plano de ação pode mudar em função da necessidade do grupo. Minha turma sabia menos ciência do que eu ima- ginava, sabia menos matemática também. Na hora em que se percebe isso, você tem que mudar seu programa e fazer uma outra coisa. A Escola dos Professores é uma escola em que se pode mais do que mudar um programa. É um lugar onde se pode também buscar a paixão pela educação. Já o outro espaço em que trabalho, o colégio Santo Inácio, aparentemen- te é mais tradicional. Mas só aparentemente. Na verdade, foi uma surpresa para mim encontrar lá gente que estuda e busca novos caminhos também alternativos. Muita gente abandonando as suas cartilhas e experimentando novas propostas pedagógicas. Achei que ficaria lá muito pouco tempo, mas já estou no terceiro ano nesse colégio. No Santo lnácio, recentemente, pedi à direção para me tirar de sala de aula. Lá, penso em fazer outra coisa, além de simplesmente dar aulas decomputador. Eu quero inventar maluquices para os professores fazerem. Fazer coisas normais, todos fazemos. Eu gosto de inventar as loucuras. Aliás, no Santo lnácio, qualquer experiência nova é loucura. São cerca de 320 a 350 alunos. Cada série é um colégio inteiro. Então é arriscado. Mas o que discuto com a diretoria é que tenho emprego por muito pouco tempo se continuar dentro de sala de aula, dando aula de computador. É como ensinar a apontar lápis. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 212 Prática Educativa da Língua Portuguesa Como o Santo lnácio é um colégio de gente muito rica, alguns alunos inclusive têm 2 ou 3 computadores ligados em rede em casa. Sabem montar BBS, sabem muito mais de computador do que eu. Muito mais. Há inclusive o caso de um aluno que, em toda aula, ele preparava o sis- tema para fazer a rede cair, e eu tinha até o final da aula para descobrir qual era o recado que ele tinha posto. No Santo lnácio que eu imaginava existir antes de dar aula lá, esse aluno seria expulso de sala. Uma segunda vez, seria suspenso. E a terceira, expulso do colégio, porque ele estava atrapalhando o trabalho de 320 outros alunos. Mas nesse caso, dei uma gargalhada e pedi a ele para me ensinar. Então, ele cada vez me dava uma aula diferente sobre computador. Deixei de ser o sujeito que leva a informação e passei a ser o sujeito que disputo com ele alguma coisa, brinco e o estimulo até a construir uma multimídia. Com esse aluno, meu trabalho foi descobrir essa nova forma de construção de linguagem. Em vez de construir uma redação, construir uma hipermídia. Eu me envolvi com ele, trabalhei com ele a linguagem. Por sua vez, ele me ensinou uma porção de coisas de rede. Como, por exemplo, usando a gíria, fazer uma rede “crashar”, ou como fazer uma rede parar de fun- cionar, que eu não sabia, e portanto aprendi como fazê-lo voltar a funcionar. Surge assim um novo papel, tanto para escola, quanto para educadores e alunos. Surgem novas funções para todos trazidas pela informática. E essas novas questões trazem uma nova forma de acesso ao conhecimento. Anti- gamente, ele estava na boca do professor. Hoje está numa porção de outros lugares. Está, por exemplo, até mesmo no computador que a criança brinca. No jogo que o meu filho brinca, ele teve que descobrir como é que era a bateria que Thomas Edson fez no século passado, para resolver o problema, que era botar uma máquina do tempo para funcionar. Há também novas formas de comunicação. O computador exige uma co- municação mais formal, mais estruturada. Com isso, mudam as formas de re- lação interpessoal. Eu trabalhei durante um ano e meio com um sujeito que era coordenador brasileiro da rede Kidlink. Para ele, eu era o coordenador de programa de teleinformática do Santo lnácio. Era assim que ele me via, era assim que eu o via. Nós nos encontramos um ano e meio depois, e ele tomou um susto. Olhou para mim e disse: “Eu pensei que você fosse padre.” Tínhamos uma intimidade muito grande do ponto de vista intelectual e que a princípio onde teve como, via e-mail, ser expressa de uma maneira mais informal. Pedro Falcão mora em Maceió e eu moro no Rio de Janeiro. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com narração, descrição e dissertação 213 Até que um dia nos encontramos em um congresso em Recife. E o senhor Pedro era um guri de 22 anos de idade. Mas afinal, para que pode servir a informática em educação? Particular- mente, veio o computador como uma máquina de produzir, uma máquina de fazer coisas. Ele é uma possível extensão do nosso ato de pensar e da nossa inteligência. Nesse sentido, é o mesmo que lápis e papel. O sujeito consegue pensar melhor quando escreve. Se o computador for uma máquina de produzir, ele traz a possibilidade que a gente busca há muito tempo em educação, que é o ensino centrado na ação do aluno, o aluno como sujeito da ação. O computador é uma má- quina de fazer, como o computador ligado em rede é uma máquina de fazer com, fazer junto. E se a gente vai começar a usar, não há dúvida, vai ter que trabalhar novos conteúdos. Entre outras coisas, teremos que ensinar o que é formatação de texto, por exemplo. Tem “computês” para ser aprendido. E se pensarmos, mais complexamente, na nova prática pedagógica que a presença da informática impõe, precisamos necessariamente refletir na for- mação de professores em Informática Educativa. Pensar inclusive que, futura- mente, para ser um cidadão pleno e ter direito de cidadania, o aluno precisa- rá dominar uma nova linguagem. Se não souber, não consegue emprego no banco, não consegue usar a maquininha do banco e provavelmente, daqui a poucos anos, não vai poder ser gari, porque a máquina de varrer rua vai ser automatizada. No princípio do século, controlar um forno era uma tarefa simples. Hoje não. Hoje controlar um forno é uma coisa mais sofisticada. Eu acho que esses novos professores devem ser formados para comandar o processo de transformação que a informática traz, ou que a tecnologia traz. O processo vai transformar a escola, e quem deve estar senhor da situação em cada escola é o professor. Como formar esse professor? Quais conteúdos esse professor deve apren- der? Que programas ele deve aprender? Vamos ser todos professores de informática? As perguntas são muitas e, confesso, não saberia dar todas as respostas. Depende em que momento. O que é Importante é ter a clareza de que não se pode mais parar de aprender. Isso muda muito rápido. Quando eu comecei a fazer mestrado pela primeira vez em Física, em 1980, eu usava um computador que era um monstro enorme, que eu não podia ver. Havia um terminal na minha sala e que eu não podia ver, porque ele ocupava um Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 214 Prática Educativa da Língua Portuguesa prédio inteiro. Em 1984, eu começo a dar aula com computador com um PC. Quando comecei a fazer minha rede em 1990, o Windows era uma promes- sa. Quando eu terminei, era uma realidade na vida de todo mundo, todo usuário. Então, o que a gente vai aprender, não sei. Se vamos ser todos pro- fessores de informática, não sei. Mas eu acho que vamos ter que ser todos professores de tudo. A informática traz isso? Não. Ela pode trazer. Ela é um instrumento que nos ajuda a repensar e, enfim, nos dá a deixa pra fazer coisas que nós que- ríamos. Não é só a educação, o mundo produtivo, capitalista, que começam a caminhar, nós também estamos começando a caminhar para uma direção diferente. E não tem nada de bonzinho nisso. É que o capitalismo está preci- sando de pessoas generalistas que consigam ter visão de várias coisas e ser rapidamente aprendizes. Aprenderem coisas novas para poder refazer seu trabalho. Com a informática, estamos tendo a oportunidade de poder fazer uma coisa que na escola a gente quis durante muito tempo e não tinha res- paldo no setor produtivo. Agora a gente começa a ter. Para encerrar, cito um exemplo do que posso chamar de uma visão alter- nativa do ensino que, de certa forma, serve de parâmetro para a discussão da nova formação de professores que se faz necessária. Isso aconteceu no Santo lnácio. Tínhamos dois professores de português dando aula de redação, e eu sugeri a eles fazer uma experiência dessas doidas, com 320 alunos, que era escrever redação no computador. Mas a gente tentou fazer uma coisinha a mais. Em vez de escrever uma redação no computador, propomos interferir no planejamento da própria matéria para o ano letivo. Naquele ano, os professores de português tinham que trabalhar resumo, conto, narrativa e descrição. Eu disse: “Vamos pegar aqui o resumo, a narrativa, a descrição, botar no primeiro semestree vamos escrever um roteiro de filme?” Os professores toparam e reunimos grupos de três alunos para ter confli- to. Para ter conflito e não evitar o conflito. Os alunos sentaram no computa- dor e escreveram a sinopse de um filme, de um roteiro. A sinopse deveria ter pelo menos três personagens, estivemos trabalhando a questão do resumo. Deram uma nota para os seus próprios trabalhos de sinopse. A nota era de 0 a 4. Alguns deles deram 4, outros 3. Nós, professores, demos outra nota. Às vezes coincidia, às vezes não. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com narração, descrição e dissertação 215 Em seguida, cada aluno saiu para individualmente descrever o seu perso- nagem e o ambiente em que ele vivia. De posse desse segundo momento, que era individual, eles voltavam com o seu personagem debaixo do braço, reuniam-se de novo e criavam a narrativa da história. Ao invés de ter vários momentos isolados, tivemos um programa que durou um semestre inteiro. A cada momento, cada aluno avaliava a si, o trabalho que ele produziu, a contribuição dos colegas e a contribuição dele. Havia sempre uma avaliação de processo e uma avaliação de produto. E aí, quando eles diziam, por exemplo, na sinopse, “Não, a sinopse tá boa. Dou 4 pra mim”, eu dizia: “Olha, eu dei 2, porque eu não vi aí muito claro onde é que esses personagens estão, nem se é masculino. E vai dar proble- ma. “Bom, não vai dar, e a gente tá satisfeito.” Então a nota deles foi 4, a minha foi 2 e nenhuma dessas foi para o boletim. Demos um passo adiante. Cada um foi construir seu personagem, indivi- dualmente. No caso daqueles alunos, a história era do conflito de dois caras que estavam querendo namorar uma menina e saíam no tapa. Um botou o cara no avião, outro botou o cara no navio. Não especificaram previamente. Aí voltei a dizer: “Olha, a sinopse não estava clara.” E eles: “Ah, legal. Então agente muda a sinopse e a nota passa de 2 pra 4”. Tudo bem. A nota não tinha mais uma função de ser instrumento eletivo, ou de valorizar o trabalho, mas sim de dar guia para continuidade do trabalho. O que o computador tinha a ver com essa história? Podia fazer à mão? Podia. Só que feito no computador, trivialmente se reescrevia, mudavam algumas coisas, imprimia de novo e estava arrumadinho o negócio. Com o computador ganhamos tempo, agilidade na correção ortográfica, a chance de facilmente ilustrar os trabalhos e de fazer uma coisa contínua. O compu- tador foi a desculpa que permitiu ao professor de Português, que não sabia nada de computação, nada de informática, que morria de medo de encostar na máquina, fazer isso e ter outras relações. Esses garotos estavam escrevendo em rede de 386 e 486, em que o aluno escrevia e o professor salvava o trabalho dele em disquete, ia para o seu pró- prio computador, lia alguns trechos, voltava e comentava com o menino. O professor aprendia com isso um novo processo de discussão do conteúdo da matéria. E na avaliação final da turma, os alunos estavam dispostos a fazer a mesma coisa no próximo semestre. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 216 Prática Educativa da Língua Portuguesa A produção deles foi uma produção absolutamente assustadora, incom- parável com tudo que se teve antes. E o que eles mais gostavam foi poder, depois de ter escrito a história, ler e descobrir que algumas coisas estavam faltando. Colocar algumas coisas que não estavam boas, tirar, e principal- mente poder mudar toda a ordem da história. Isso só se faz no computador. Faz com lápis e papel também. Mas dá um trabalho, que o aluno não se permite a isso. Permite-se sim, de pensar sobre ele, de refletir sobre como pensava inclusive. Por que é que eu escrevo isso aqui? Por que é que eu es- crevi essa outra coisa? E esse grupo, em conjunto, reescreve as suas histórias, reescreve cada uma de suas coisas, traçando, quem sabe, as novas exigên- cias para a formação de novos professores. Dica de estudo Ler os capítulos “A descrição no texto narrativo: a linguagem dos gestos” (cap. 13); “A linguagem da fisionomia” (cap. 14); “A linguagem da moda“ (cap. 15) do livro FARACO, C.C. Trabalhando com Narrativa. São Paulo: Ática, 1992. p. 112-134. O autor desenvolve, nesses três capítulos, uma interessante conexão entre a descrição e a narração, através de exercícios que, por um lado, ajudam a enten- der o conteúdo e, por outro, servem como sugestão de atividade prática, com a devida adequação ao nível de cada turma. Atividades 1. Enumere os elementos necessariamente presentes no texto narrativo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com narração, descrição e dissertação 217 2. Identifique, no texto abaixo, os trechos que correspondem a características narrativas e a descritivas. Chegou à fazenda quando o dia ainda amanhecia. Para não acordar ninguém, acomodou a bagagem e pôs-se a observar a plantação: uma planície inter- minável, dourada pela coberta de trigo que se estendia homogeneamente pelo terreno. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Ligia Regina Klein O ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa se realiza com base no princípio de que toda unidade pedagógica é constituída por quatro prá- ticas integradoras, a saber: leitura e interpretação de textos, produção de textos orais e escritos, análise linguística e atividades de sistematização de conteúdos específicos. A produção de textos requer aprofundamento por meio da reescrita do texto, que se constitui numa prática indispensável para a aprendizagem da língua escrita em razão de que seu desenvolvimento propicia a inte- gração entre todas as práticas pedagógicas propostas. Vejamos quais os encaminhamentos metodológicos para sua realização. Encaminhamentos metodológicos A produção escrita, iniciada pela ampla discussão do tema do texto a ser produzido e elaborado oralmente com a contribuição dos alunos e registrado no quadro de giz pelo professor, oferece a oportunidade de trabalhar a análise linguística e a sistematização do código, com base no texto registrado. O texto produzido pode não apresentar muitas dificuldades de grafia porque foi registrado pelo professor, diferentemente de quando o texto é escrito pelo próprio aluno, que evidencia muitos problemas relativos ao domínio do código. Por outro lado, o texto registrado certamente apresenta problemas tex- tuais de concordância, coesão, pontuação e emprego da norma-padrão, que estão presentes na oralidade dos alunos. Logo, o primeiro trabalho que será empreendido sob a orientação do professor é a análise dos as- pectos textuais e, num segundo momento, será desenvolvido o trabalho com a sistematização de conteúdos específicos do código. Trabalhando com o erro do aluno: reescrita do texto Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 220 Prática Educativa da Língua Portuguesa Inicialmente, é necessário proceder à identificação do texto, com o objetivo de torná-lo bem conhecido pelos alunos. O professor, que fez o registro no quadro de giz diante dos alunos, faz a leitu- ra do texto e convida os alunos a fazerem suas próprias tentativas de leitura. Em seguida, o professor promove a interpretação do texto, propondo ques- tões orais para os alunos sobre algumas frases ou parágrafos que não estão claros, desenvolvendo-se, assim, uma primeira análise do texto. A análise linguística versa simultaneamente sobre aspectos intervocabulares (re- lações entreas palavras) e intravocabulares (relações letra/fonema no interior das palavras), procedendo-se à correção de todos os problemas verificados no texto. Pode-se privilegiar primeiro os aspectos que são mais evidentes no texto, como por exemplo, um problema de pontuação ou as marcas da oralidade. A análise será feita com base na observação do professor, questionando os alunos e solicitando-lhes sugestões para substituir adequadamente aquela ex- pressão, com o intuito de instigar a reflexão sobre o problema verificado. Se a resposta não emergir do grupo, ela será dada pelo professor, sempre acompanhada de uma explicação clara sobre a necessidade de se alterar a ex- pressão analisada. É fundamental a apresentação de textos de boa qualidade, para que os alunos tenham referência na linguagem formal, valendo-se dela para questionar e su- perar dificuldades. Esses textos são lidos e interpretados no momento da discussão que antece- de à produção oral da redação ou apresentados como complemento da ativida- de de análise linguística do texto produzido pelos alunos, cuja escolha privilegia a abordagem do tema em questão. É o caso da poesia, a seguir, que versa sobre o tema do texto do aluno a ser analisado: Dia de palhaço Fernando Paixão Acordo gigante nesta quarta-feira espreguiço longe a perder de vista. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com o erro do aluno: reescrita do texto 221 ... Ontem acordei elefante de circo. Semana passada fui bailarino e crocodilo amanhã quem sabe serei mosquito! Só na hora de dormir volto a ser eu mesmo: fecho os olhos de passarinho pio quieto no meu ninho! Sugestões de estratégias O texto produzido pelo aluno permite empreender a análise de vários proble- mas, com o objetivo de reescrita: Texto do aluno Circo MUNDO DAS ESTRELAS EU JÁFUI NO OTRO CIRCO MAS NÃO FOI A QUI EN CURITIBA FOI LA EN PINHAIS. E TANBEN NÃO TINHA ANIMAIS MAS NESSE CIRCOEU VO IR SABE PORQUE QUE MINHA MAMÃE VAI ME LEVAR NO CIRCO. José Luís EU JAFUI NOa. Quando o aluno começa a fazer suas primeiras tentativas de escrita pode-se verificar a ausência de segmentação entre as palavras, em razão de que toma a oralidade como referência. Assim, é preciso chamar a atenção para que os alunos percebam a diferença entre a fala e a escrita, pois é necessário separar cada pa- lavra para que possamos entender o que escrevemos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 222 Prática Educativa da Língua Portuguesa Outra questão a ser enfocada é o uso da acentuação, cuja noção o professor vai introduzindo ao apresentar os sinais e explicar sua função nas palavras. No texto analisado, convém enfatizar que o JÁ é monossílabo com uma vogal aberta. Também no que se refere ao “NO” (OUTRO CIRCO), o professor precisa expli- car que significa dentro de. “A UM” (Outro Circo) corresponde melhor à ideia de movimento para algum lugar. A informação do professor nesse caso é funda- mental, explicando o uso das preposições em diversos exemplos. Reescrita: EU JÁ FUI A UM OTRO CIRCOb. O aluno registra uma vogal ao invés de duas, porque na oralidade é assim que ele se expressa. Portanto, o professor pronuncia várias vezes a palavra tal como ela deve ser articulada, para que os alunos percebam a presença da outra vogal. A articulação correta da palavra norteia sua grafia correta. Reescrita: OUTRO CIRCO MAS NÃO FOI A QUIc. Forçada pela acentuação tônica em aqui, pode ocorrer a segmentação incor- reta da palavra. O professor deve explicar que, embora na fala isso possa aconte- cer, na escrita, trata-se de uma única palavra. Reescrita: MAS NÃO FOI AQUI EN CURITIBA FOI LA EN PINHAIS. E TANBENd. Percebe-se o uso da letra N em lugar do M nas palavras nas quais é necessá- rio indicar o registro da nasalização. Embora o aluno tenha noção da relação letra/ fonema, ele precisa ser informado pelo professor sobre o uso do M em lugar do N. É importante observar que nesse caso o aluno não cometeu três erros, mas apenas um, que se repetiu de forma coerente nos mesmos contextos de oralidade/escrita. Também a necessidade de acentuação do LÁ, corresponde ao monossílabo com uma vogal aberta, como anteriormente já foi visto na palavra JÁ. Trata-se, portanto, do mesmo erro e não de outro. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com o erro do aluno: reescrita do texto 223 Quanto à pontuação, o professor pode explicar que o uso do recurso da vírgu- la pode separar adequadamente duas ideias, tornando o texto mais claro. Dessa forma, é importante chamar a atenção dos alunos para esse recurso da língua escrita, que na fala acontece quando fazemos as pausas normais. Reescrita: EM CURITIBA, FOI LÁ EM PINHAIS. E TAMBÉM NÃO TINHA ANIMAIS MAS NESSE CIRCO EU VO IRe. A leitura da frase sugere a necessidade de fazer a pontuação, empregando a vírgula e o ponto final. A supressão da vogal U e o uso do verbo composto VO IR é uma marca da linguagem coloquial, na qual a flexão do verbo no tempo futuro é menos usada. É necessário explicar aos alunos que o emprego de um só verbo diz a mesma coisa, segundo a linguagem formal da escrita. Reescrita: NÃO TINHA ANIMAIS, MAS NESSE CIRCO EU VOU SABE PORQUE MINHA MAMÃE VAI ME LEVAR NO CIRCOf. O período apresenta ao mesmo tempo problemas de pontuação, de su- pressão de palavras, uso inadequado da preposição, falta de segmentação e repetições. O emprego da pontuação permite que o texto seja melhor estruturado. Em decorrência, o acréscimo da resposta à pergunta formulada, que obriga o uso do pronome, confere maior clareza à ideia comunicada. A ausência da segmentação entre o artigo A do pronome MINHA revela marca da oralidade e sua necessidade precisa ser enfatizada junto aos alunos. Também, os alunos precisam ser informados sobre o emprego da contração AO em lugar de NO, explicando-lhes a diferença e apresentando exemplos eluci- dativos: Minha mãe vai me levar ao cinema. Meu pai me carregou no colo. Por fim, por uma questão de estilo, pode-se suprimir a repetição da palavra Circo ao final do texto. Reescrita: SABE POR QUÊ? PORQUE MINHA MÃE VAI ME LEVAR. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 224 Prática Educativa da Língua Portuguesa Ao final, o texto reestruturado, com base na análise empreendida, terá a se- guinte redação: Texto reescrito Circo MUNDO DAS ESTRELAS EU JÁ FUI A UM OUTRO CIRCO MAS NÃO FOI AQUI EM CURITIBA, FOI LÁ EM PINHAIS. E TAMBÉM NÃO TINHA ANIMAIS, MAS NESSE CIRCO EU VOU, SABE POR QUÊ? PORQUE MINHA MAMÃE VAI ME LEVAR. Cabe enfatizar a importância de alguns procedimentos pedagógicos concer- nentes à prática de reescrita do texto: É fundamental que os alunos saibam o porquê das alterações realizadas � no texto. Não é suficiente dizer que existem erros e serão modificados. São necessárias várias explicações para que eles entendam as razões das mudanças, apropriando-se progressivamente dos recursos linguísticos. O professor deve considerar que não é recomendável enfocar todas as � dificuldades em uma única vez no mesmo texto e, sim, reestruturá-lo ob- servando apenas os problemas mais evidentes a serem modificados. As questões não abordadas serão objeto de estudo em outros textos e assim sucessivamente. Cada texto comporta mais de uma forma de reestruturação. O professor � pode orientar a reestruturação de acordo com seu entendimento, mos- trando aos alunos diferentes possibilidades de dizer a mesma coisa. Ao final da reestruturação, os alunos copiam o texto já reelaborado no � caderno. Este materialé parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com o erro do aluno: reescrita do texto 225 Sistematização do gráfico Após a reescrita, é necessário sistematizar o código escrito, selecionando palavras cujo teor referencial decorre de sua importância no texto, de fácil identificação, como aquelas palavras que fazem parte do título ou de sua re- petição pelos alunos. Promover a identificação das palavras selecionadas em diferentes contex- tos: no interior do texto, em frases ou isoladamente. Solicitar aos alunos o registro das palavras no quadro de giz, no caderno, e sua composição no alfabeto móvel. Após a identificação segura das palavras pelos alunos, propor-lhes a decom- posição em sílabas e a composição de novas palavras, com as mesmas sílabas. Proceder à comparação de palavras com sílabas ou letras, observando-se as relações letras/fonemas. A reflexão sobre as relações letras/fonemas selecionadas pode ocorrer por meio de jogos como memória, dominó, víspora etc. É importante salientar que da reescrita de cada texto, resulte um cabedal de sílabas com as quais os educandos possam escrever novas palavras, apro- priando-se gradativamente da escrita, de forma a produzir seu texto com maior autonomia. Síntese da sugestão de procedimento de escrita Selecionar um texto elaborado pelos alunos (individualmente ou em conjun- to), registrá-lo no quadro de giz e proceder a sua reestruturação, aproveitando as sugestões de estratégias abaixo e, se possível, enriquecendo a atividade com outras estratégias complementares: Analisar, em cada frase do texto ou partes dele, os problemas de pontuação, a. repetições ou redundâncias, de segmentação, de grafia, concordância etc. Explicar aos alunos os princípios de textualidade ou do código que exi-b. gem mudanças. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 226 Prática Educativa da Língua Portuguesa Pedir sugestões de reformulação aos alunos e só quando esgotarem todas c. as observações deles, deve-se apresentar as suas. Reescrever o texto no quadro de giz paulatinamente, após a reflexão em-d. preendida sobre cada problema apontado. Proceder uma leitura final do texto e solicitar aos alunos que também o e. leiam. Propor aos alunos que copiem o texto reescrito no caderno.f. Selecionar algumas palavras que serão objetos de sistematização do código.g. Síntese da sugestão de procedimento de sistematização do gráfico Após selecionar as palavras que apresentam forte teor referencial ou que contém as características nas quais os alunos apresentam mais dificuldade (acen- tuação, dígrafos, grafia arbitrária etc.) desenvolver as atividades de sistematiza- ção do gráfico, aproveitando as sugestões de estratégias abaixo e, se possível, enriquecendo a atividade com outras estratégias complementares: Promover a identificação das palavras selecionadas, em diferentes con-a. textos, tais como: no interior do texto, em frases registradas em fichas ou isoladamente. Solicitar aos alunos o registro das palavras no quadro de giz, no caderno, b. na caixa de areia, bem como compor a palavra com o uso do alfabeto mó- vel ou do alfabeto. Após a identificação segura das palavras pelos alunos, propor-lhes a de-c. composição em sílabas e a composição de novas palavras, a partir das mesmas sílabas. Levar os alunos à comparação de palavra com sílabas ou letras ou fone-d. mas iguais, chamando sua atenção para as relações letra/fonema. Utilizar atividades lúdicas o mais intensamente possível, com o objetivo e. de reconhecimento das letras, das palavras, das relações letra/fonema, tais como jogos de memória, dominó, víspora etc. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com o erro do aluno: reescrita do texto 227 Orientações metodológicas (KLEIN, 1997) Os trabalhos de revisão linguística, relativos à gramática e ortografia, assim como todos os outros aspectos discursivos, devem ser trabalhados em função dos problemas e erros que aparecem nas produções de textos. Dessa forma torna-se totalmente desnecessário e improdutivo o ensino de regras gramaticais totalmente descontextualizadas. A reescrita do texto da criança é indicada, então, como forma de análise linguística. Recomenda-se a utilização de um texto que apresente dificulda- des comuns a maioria dos alunos para efetuar a reflexão e análise, objetivan- do a reescrita do mesmo. A criança como sujeito do processo de produção deve participar ativamente da reescrita. Deve-se trabalhar simultaneamente os recursos empregados para pontu- ar, eliminar redundância, garantir a clareza do texto e completar informações nas atividades de reflexão em sala de aula. Sugere-se, então: ler os textos dos alunos; � separar aquele que apresenta dificuldades comuns a maioria dos alu- � nos; escrever o texto na lousa e efetuar com os alunos a correção orto- � gráfica; apresentar questões aos alunos, solicitando ao autor esclarecimentos, � se necessário; anotar as respostas dos alunos na lousa a fim de colocar elementos � coesivos como – tempos verbais adequados, pronomes, advérbios e conjunções; Texto complementar Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 228 Prática Educativa da Língua Portuguesa procurar a sequência lógica cronológica– o que aconteceu antes? e de- � pois...? procurar a fidelidade quando se tratar de reprodução de texto; � levar os alunos a evitar redundâncias– palavras e ideias que se repe- � tem; procurar outras informações para completar o texto: o quê? quem? � como? onde? quando?; pontuar adequadamente; � procurar expandir ideias objetivando o enriquecimento do texto– por � quê? como? reescrever o texto no quadro de giz, com as crianças observando os � critérios acima; solicitar que as crianças copiem o texto que foi reescrito. � Dica de estudo KLEIN, L.R. Alfabetização de Jovens e Adultos: questões e propostas para a prá- tica pedagógica na perspectiva histórica. Brasília: Universa, 2003. O livro em questão apresenta uma fundamentação teórica articulada a su- gestões de encaminhamento prático. Embora elaborado para EJA, seu conteú- do traz questões relevantes ao processo de prática do ensino-aprendizagem da língua portuguesa em geral, sem prejuízo para a especificidade das turmas que não se enquadram na modalidade EJA. Atividades 1. Qual é a função da reescrita do texto? Corrigir os erros dos alunos? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Trabalhando com o erro do aluno: reescrita do texto 229 2. Na atividade de reescrita qual deve ser a atuação do professor? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br As quatro práticas do ensino da Língua Portuguesa 1. Resposta correta: (c) 2. Resposta correta: (d) Leitura e interpretação de textos 1. A leitura compreensiva refere-se à decodificação, isto é, permite que o leitor identifique as palavras escritas. A leitura interpretativa contém a leitura compreensiva, mas vai além, pois requer, além da compre- ensão do que está escrito, também a interpretação do conteúdo das ideias do texto, vale dizer, a interpretação das intenções do autor do texto. Ocorre que, muitas vezes, essas ideias não se encontram expres- sas literalmente, situando-se em um nível mais profundo que o nível da literalidade. Nesses casos, a interpretação depende de uma refle- xão mais profunda. Concluindo, a leitura pode limitar-se àapreensão do texto, no seu nível de literalidade, enquanto a interpretação exige que se apreenda o conteúdo do texto e este, muitas vezes, pode estar situado em um nível mais profundo, não literal. 2. Nesse tipo de leitura incentiva-se a criança a ler por puro prazer, ou seja, a usufruir o prazer de ler, sem nenhuma cobrança escolar. É im- portante porque visa levar a criança a conferir novo sentido à realida- de, a liberar as emoções e a desenvolver o prazer e o gosto pela leitura, fundamental no processo de conhecimento, em qualquer idade. Para que a leitura de fruição ocorra, sugere-se que o professor (e a escola) procure não interferir na seleção da leitura efetuada pelas crianças; oportunize acesso a diferentes obras da literatura infantil e outros gê- neros literários; crie bibliotecas volantes, com livros diversos para per- correr todas as salas; incentive o comentário das obras lidas; trabalhe o ritmo, a sonoridade e a beleza dos poemas e textos. Gabarito Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 232 Prática Educativa da Língua Portuguesa A prática de produção de textos I. Etapa da produção oral: Proponha aos alunos um debate de opinião sobre o programa de televisão mais interessante. a) Promover a troca de ideias sobre programa de TV que os alunos apreciam como mais interessante e as justificativas que apresentam a respeito de sua opinião. Para facilitar a reflexão, relembre aos alunos que há diferentes programas destinados à transmissão de: desenhos e brincadeiras de crianças; � notícias nacionais e internacionais; � acontecimentos esportivos; � fatos culturais e educativos; � quadros humorísticos; � telenovelas. � b) Dividir o quadro de giz em duas colunas e anotar na primeira coluna as manifestações do grupo, respeitando o consenso da maioria sobre pon- tos positivos e negativos que o programa de TV escolhido apresenta. Levar em conta, também, opiniões divergentes, desde que submetidas às considerações dos colegas, pois é importante estimular a apreciação de diferentes pontos de vista. II. Etapa da produção escrita: a) Escrever na segunda coluna do quadro de giz, com ajuda dos alunos e com base nas anotações registradas, o texto O programa de televisão mais interessante. O texto terá uma estrutura composta de: Introdução– descrição do programa eleito pelos alunos para ser objeto do texto, apresentando um conjunto de informações: qual o gênero do Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 233 Gabarito programa (conforme a classificação acima mencionada); qual o nome; do que trata; como é feito; se tem personagens; qual o horário e a frequên- cia em que é transmitido etc. Desenvolvimento– em seguida, argumentar quais os aspectos positivos que o tornam um programa interessante, e que aspectos negativos que de alguma forma atrapalham a transmissão televisiva. Concluir com uma observação geral apreciativa sobre a importância do programa para a formação das crianças ou algo semelhante que os alu- nos possam sugerir. b) Copiar o texto em um cartaz ou em folha de papel para ser fixado no mu- ral da sala de aula. O texto poderá ser utilizado para realização de práticas posteriores de análise linguística e sistematização do código. Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com representação O objetivo dessa atividade é demonstrar as relações existentes entre a orali- dade e a escrita. Ao solicitar a dramatização ou mímica, deve-se demonstrar aos alunos que eles representam, por meio da oralidade, gestos e ilustrações, a escrita. Quando solicitado aos alunos a elaboração dos textos, a represen- tação é feita por meio da escrita. Assim, ao término da atividade, reafirmar junto aos alunos, na forma de uma conversa com a participação deles, a no- ção de que o que está acontecendo na sala de aula não é o fato propriamen- te dito, mas uma representação do ocorrido. Trabalhando com as relações letra/fonema A menina e as asas Fernando Paixão Marcolina sabia muitas histórias, Aquelas que mamãe contava outras que lera nos livros também as de sua imaginação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 234 Prática Educativa da Língua Portuguesa Mas agora torce o nariz quando percebe a repetição: o cavalo de asas, o peixinho de asas, o burro de quatro asas e até as asas de um herói grego derretendo no calor do sol. PALAVRAS ESCRITAS COM S PALAVRAS ESCRITAS COM C PALAVRAS ESCRITAS COM Ç sabia torce imaginação sua percebe repetição sol Compreendento as relações oralidade/escrita: trabalhando com o nome A partir da poesia de Vinicius de Moraes trabalhe com os seguintes questio- namentos: leia a poesia em voz alta com boa entonação, valorizando as rimas dos versos; � explique o sentido das palavras desconhecidas � vaga– onda; palor– pali- dez; murta – arbusto, árvore pequena. faça perguntas aos alunos a fim de que eles manifestem sua apreciação a � respeito das comparações que o autor faz ao nome Maria Lúcia: “algo que afaga como uma lua macia”; � “que brilha à flor de uma onda”; � “parece um mar que marulha de manso sobre uma praia”, e assim, por � diante. solicite que os alunos tentem propor uma imagem poética sobre seu pró- � prio nome, que podem escrever no caderno ou ser registrada no quadro de giz pelo professor; faça as considerações necessárias para ajudá-los a aprimorar a produção, � oferecendo exemplos de frases que possam rimar com seus nomes; ao final, pode-se organizar uma coletânea da produção da classe, intitula- � da “O Livro dos Nomes”. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 235 Gabarito Compreendendo as relações oralidade/escrita: trabalhando com discriminação de palavras Trace no quadro de giz uma tabela para ser preenchida com palavras es- � critas com as letras G ou J . Solicite aos alunos que pesquisem em revistas e jornais as palavras para � serem registradas na tabela. G J Viagem Berinjela Algema Jejum Agito Sujeira Proponha aos alunos, organizados em equipe, a elaboração de jogos com � as palavras que foram registradas na tabela, por exemplo: bingo, jogo de memória, com o objetivo de estimular a reflexão oralidade/escrita de for- ma lúdica. Ao final os alunos podem jogar com o material elaborado. � Trabalhando com ditado e cópia Proponha aos alunos a realização do Jogo de Sílabas. a) Registre no quadro de giz um conjunto de sílabas e solicite aos alunos que as observem: BE CE DE FE GE LE ME NE PE RE SE TE VE ZE b) Solicite aos alunos que escrevam palavras que terminem com essas sílabas. COME BEBÊ TAPETE PELE CAFÉ ... c) Corrija as palavras coletivamente, reescrevendo-as no quadro de giz me- diante reflexão sobre as relações letra/fonema e as possibilidades de ter diversas palavras com a mesma terminação. Com isso os alunos podem enriquecer seu vocabulário. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 236 Prática Educativa da Língua Portuguesa b) Proponha que os alunos leiam as palavras em voz alta e as copiem no caderno. Primeiros contatos com a escrita Após ler e interpretar o texto na sala de aula, escolha algumas palavras � que os alunos já reconhecem e leem globalmente. Apresente no quadro de giz a palavra da poesia em que a letra L aparece � no início da sílaba: lata, e proponha a decomposição da palavra em síla- bas, buscando fazer a relação oralidade/escrita. Proponha a formação de novas palavras pela combinação das sílabas es- � tudadas, utilizando o alfabeto móvel(tala, fala, bala...) Promova a escrita das novas palavras no quadro de giz, acrescentando ou- � tras sugeridas pelos alunos, sempre com a mesma relação letra/fonena. Refaça os mesmos procedimentos com a palavra da poesia em que a letra � L aparece no final da sílaba: metal. Não esqueça que a reflexão deve ser realizada em duas direções: da orali- � dade para a escrita e da escrita para a oralidade Procedimentos a patir de um domínio mínimo da escrita pelos alunos a) Escolha um texto da literatura infantil que os alunos, em geral, conhecem e apreciam como a história da Bela Adormecida, que você pode reler para os alunos, na versão que encontrar disponível na biblioteca da escola. b) Promova uma conversa sobre o texto, destacando personagens, elemen- tos que chamam a atenção dos alunos, a sequência dos acontecimentos etc. c) Em seguida os alunos devem escrever de forma espontânea e individu- al seus textos, propondo uma revisão dos mesmos, realizando a prática de reescrita. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 237 Gabarito Faça o registro literal do texto de algum(ns) aluno(s) no quadro de giz e proceda gradativamente a correção coletiva dos mesmos, desenvolven- do a reflexão sobre questões linguísticas e aspectos gráficos. Ex.: Texto 9 – Elizângela Era uma vez uma bela adormecida tava dormindo na calçada é o princepe chegou e deu um beijo na boca e ela acordou. (In: CAGLIARI, L.C. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. 2008. p. 227) d) Por fim estabeleça com os alunos, a destinação final dos textos, por exemplo, ir para o mural da sala de aula ou da escola. Trabalhando com a direção da escrita, a segmentação e outros recursos gráficos a) Levar para a sala de aula um cartão-postal ou fotografia de sua cidade e elaborar coletivamente o texto a ser registrado nele. b) Definir previamente o destinatário do cartão-postal, a fim de selecionar o assunto a ser escrito, o grau de formalidade necessário, as informações que serão registradas e a concisão do texto, dada à brevidade que com- porta esse tipo de correspondência. c) Escrever no quadro de giz e reescrevê-lo, cuidando da adequação textual e linguística. Verificar a correção gráfica quanto ao registro e segmentação correta das palavras, o uso das notações léxicas e das letras maiúsculas. e) Observar a disposição do texto requerida pelo cartão-postal ou fotogra- fia, cuidar do endereçamento correto e da legibilidade da letra. Não esquecer de encarregar alguém de colocá-lo no correio. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 238 Prática Educativa da Língua Portuguesa Querida prima, Esta é a cidade onde eu moro. Veja como é bonita! Convido você para me visitar e conhecer a minha cidade. Um abraço, Maria Ponta Grossa, 2 de fevereiro de 2009. Ana Luisa Souza Rua Pasteur, 28 Bairro Água Verde Curitiba , PR CEP 8 0 2 4 0 1 0 0 Trabalhando com estrutura textual e unidade temática 1. O tema que se desenvolve ao longo do texto é a dificuldade da escolha, de- corrente de sua dupla face: sempre que se escolhe algo, abre-se mão de al- guma outra coisa. 2. a) Os autores afirmam que a coruja anda vaidosa, embora feinha, porque sua imagem aparece na TV. Ou seja, explicam a vaidade da coruja. Ao explicarem a razão da vaidade da coruja, mantêm válida a afirmação de sua feiura, sem desvincular a estrofe do tema desenvolvido. b) Os autores valem-se do hábito natural da coruja para tornar coerente a ideia de que a chegada da noite é o amanhecer para a corujinha. Ao mes- mo tempo, constroem a ideia implícita, de natureza poética, de que a coruja só se mostra à noite, podendo, assim, esconder sua feiura. Trabalhando com os elementos textuais: coesão e coerência 1. A coesão se refere à articulação dos elementos linguísticos presentes no tex- to (como, por exemplo, a correta relação entre um substantivo e um prono- me pessoal). A coerência diz respeito às relações de sentido. Há coerência quando o texto não apresenta sentidos contraditórios, permitindo a atribui- ção de um sentido unitário ao texto. 2. A cartilha não é útil para a compreensão dos aspectos de coesão e coerência textual porque na tentativa de simplificar os textos, elimina as relações lin- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 239 Gabarito guísticas e de sentido, trabalhando com palavras isoladas ou com frases iso- ladas. Por essa razão, é importante, para o desenvolvimento desse conteúdo, trabalhar com textos reais. 3. A reescrita do texto dos próprios alunos permite trabalhar simultaneamente com todos os aspectos textuais e é bastante relevante para o trabalho peda- gógico com os aspectos de coesão e coerência textual. Trabalhando com os elementos textuais: concordância e regência 1. A sintaxe de concordância é um mecanismo que expressa a adequada asso- ciação entre elementos da frase. Ela pode ser nominal ou verbal. A concor- dância nominal refere-se à adequada relação entre os termos do chamado grupo nominal (substantivo, adjetivo, pronomes, artigos e numerais), levan- do em conta o gênero (masculino e feminino) e o número (singular e plural). A concordância verbal diz respeito à adequada associação entre o sujeito e o verbo da oração, observando número e pessoa. A sintaxe de regência refere-se à adequada associação entre um nome – substantivo, adjetivo ou advérbio – e os termos regidos por esse nome (re- gência nominal) ou entre os verbos e os termos que os complementam – ob- jeto direto e objeto indireto – ou que os caracterizam – adjuntos adverbiais – (regência verbal). Essas associações são estabelecidas através da exigência ou não de preposições. Por outro lado, quando o termo exige preposição, ocorre que, a depender do seu sentido, ele será regido por determinadas preposições, rejeitando outras. 2. Observa-se que a questão da concordância é uma das que mais se desta- ca na comparação entre a linguagem dita padrão e as variedades dialetais. Nos dialetos populares, sobretudo no discurso oral, é comum verificarem-se construções que se distinguem da variedade padrão no que diz respeito à concordância. 3. Porque são práticas que propiciam a reflexão sobre os mecanismos da língua em uso concreto. Essas práticas permitem que se evidenciem as funções des- ses recursos textuais, superando o ensino gramatical como mera memoriza- ção de nomes e de regras. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 240 Prática Educativa da Língua Portuguesa Trabalhando com os tipos de texto: textos literários 1. A primeira característica do texto literário é a relevância do plano da expres- são (o modo de dizer, de expor as ideias). Nesse plano, são relevantes recursos como ritmos, sonoridades, repetição de palavras, repetição de sons, sequen- ciação (por oposição ou simetria), repetição de situações ou descrições. A segunda característica do texto literário é a intangibilidade, o caráter in- tocável desse tipo de texto, em razão de que o sentido do texto literário é construído também pela forma, de modo que alterá-la implica em mudar o próprio sentido do texto. A terceira característica é a prevalência do sentido denotativo, ou seja, o am- plo uso de linguagem (metáfora e metonímia), enunciados originais e asso- ciações inusitadas entre as palavras. A quarta característica é a desautomatização da linguagem, isto é, a presen- ça da construção ou da solução inesperada. A quinta característica determinada pela função estética é o atributo da plurissignificação: um mesmo enunciado pode sugerir múltiplas imagens ou ideias. 2. A leitura/interpretação e a produção de textosliterários. Trabalhando com os tipos de texto: textos informativos e epistolares 1. Destacaria: a) Que os textos se caracterizam pelo objetivo que têm. b) Embora todos os três textos contenham informação, apenas os textos 1 e 3 têm a informação como objetivo principal. O texto 2 objetiva apresen- tar um pedido. Nesse texto, as informações funcionam como argumen- tos para reforçar o pedido. c) Quanto à estrutura, os três textos são diferentes: o texto 1 é construído de forma bem fluente, com muitos recursos de coesão. O texto 2 também é rico em elementos coesivos, mas difere do anterior porque apresenta a estrutura própria da correspondência: contém invocativo, desenvolvi- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 241 Gabarito mento e saudação, mas em um deles, o objetivo principal não é infor- mar, mas fazer um pedido. O texto 3 é informativo, mas distingue-se do primeiro porque apresenta uma forte característica instrucional, própria das receitas, dos manuais, das orientações técnicas. Essa característica requer períodos simples, pois estes tornam mais fácil para o leitor seguir a sequência das orientações. Trabalhando com os tipos de texto: textos publicitários 1. A ideia de um medicamento natural, não resultante de um processo de indus- trialização. A natureza aparece relacionada à beleza, à sabedoria e à saúde. 2. Baseia-se na noção de que os produtos para consumo humano (remédios, alimentos, bebidas, por exemplo), que resultam de um processo de indus- trialização, contém elementos nocivos à saúde e também afetam o meio am- biente, ou seja, a natureza. 3. O produto vendido na farmácia mantém todas as virtudes dos elementos naturais e está destituído de qualquer nocividade comum aos produtos in- dustrializados. 4. Os problemas ambientais e de exaurimento dos recursos naturais têm pro- duzido uma contraposição entre a natureza e a condição urbana de vida. Cria-se a ideia de que a natureza só contém virtudes e a condição humana só apresenta nocividade. Daí a natureza ser o remédio para tudo. 5. Na imagem, o único elemento industrializado é o recipiente, a embalagem. As embalagens não são consumidas. Por outro lado, o conteúdo, aquilo que vai ser consumido é exclusivamente composto por elementos da natureza (a terra e a planta). Assim, o anúncio pretende induzir ao convencimento de que tal medicamento é absolutamente seguro, tão saudável quanto a natureza. Trabalhando com narração, descrição e dissertação 1. Os elementos presentes no texto narrativo são: o enredo, que consiste numa sequência de acontecimentos ordenados; os personagens, que são seres re- ais ou fictícios que participam do desenvolvimento do enredo, envolvendo- -se nas ações relatadas; o ambiente, lugar ou espaço onde as ações ocorrem; e, por fim, o narrador, que é quem relata a história. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 242 Prática Educativa da Língua Portuguesa 2. Os trechos que apresentam características de narrativa, porque indicam ação, movimento, mudança na situação, são: “Chegou à fazenda quando o dia ainda amanhecia. Para não acordar ninguém, acomodou a bagagem e pôs-se a observar a plantação”. O trecho que corresponde à descrição é: “uma planície interminável, dourada pela coberta de trigo que se estendia homogeneamente pelo terreno”. Trabalhando com o erro do aluno: reescrita do texto 1. Não, a função da reescrita do texto não é corrigir os erros dos alunos, mas criar uma situação de reflexão sobre os recursos de produção de texto escrito. 2. O professor terá, em primeiro lugar, que preparar a atividade, avaliando os tex- tos escritos e selecionando aquele ou aqueles que melhor atenderão ao ob- jetivo da aula. Depois, o professor atuará como coordenador da atividade co- letiva de análise linguística do texto, chamando a atenção dos alunos para os aspectos a serem aprofundados e fornecendo esclarecimentos necessários. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 244 Prática Educativa da Língua Portuguesa Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br ABAURRE, M. B. M. Posfácio: a aquisição da escrita em português: conside- rações sobre diferentes perspectivas de análise. In: ROJO, R. (Org.). Alfabe- tização e Letramento. Campinas: Mercado de Letras, 1998. Andrade, Mario de. No tempo das camisolinas. In: MIGUEL, J. Curso de Língua Portuguesa. São Paulo: Harbra, 1989. ANDRADE, Mário de. No tempo das Camisolinhas. In: Contos Novos. São Paulo: Martins Fontes, 1947. ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova canção do exílio. In: A Rosa do Povo. S.l., s.n., 1945. ANDRADE, Oswald de. In: Pau-Brasil. S.l., s.n., 1925. AZEVEDO, G.; ROCHA, R. Advinha o que é. Intérprete: MPB4. In: Adivinha o que é. São Paulo: Ariola, 1983. BANDEIRA, M. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. BANDEIRA, Manuel. Teresa. In: MIGUEL, Jorge. Curso de Língua Portu- guesa. São Paulo: HARBRA, 1989. p. 3. BRITTO, L.P.L. In: GERALDI, J.W. (Org.). O Texto na Sala de Aula. 4. ed. São Paulo: Ática, 2006. p. 118-119. CAGLIARI, L.C. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. 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