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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância CIÊNCIAS SOCIAIS Metodologia e Prática do Ensino da Sociologia II SEMESTRE 5 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância CIÊNCIAS SOCIAIS Créditos e Copyright Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários. A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos. Copyright (c) Unimes Virtual É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato. HARDAGH, Claudia. Metodologia e Prática do Ensino da Sociologia II. Claudia Hardagh. Santos: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2015. 99p. (Material didático. Curso de ciências sociais). Modo de acesso: www.unimes.br 1. Ensino a distância. 2. Ciências Sociais. 3. Ensino de sociologia. CDD 300 http://www.unimes.br/ UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PLANO DE ENSINO CURSO: Licenciatura em Ciências Sociais COMPONENTE CURRICULAR: Metodologia do Ensino de Sociologia II SEMESTRE:5º CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas EMENTA: Apresenta reflexão sobre a atividade de ensino e o processo de aprendizagem e análise do currículo para a disciplina de Sociologia no Ensino Médio, discutindo alternativas. Estudo e pesquisa dos recursos didáticos para a prática do professor e a elaboração de projetos interdisciplinares. Apresentação da dimensão histórica do ensino de sociologia no contexto escolar brasileiro, seus fundamentos teóricos e metodológicos. Solidificação das concepções teóricas sociologias e sua relação com questões sociais importantes, como Mobilidade Social, Estratificação Social, Papéis Sociais, Classe social e Desigualdade Social. Discute o processo de socialização e sua relação com as instituições sociais, como a família, a igreja e a própria educação. Retoma questões sociais relacionadas ao processo de Globalização e à Cultura, ao Consumo, à Mídia e ao Poder. OBJETIVO GERAL: Aprofundar a reflexão sobre conteúdos e práticas do ensino de sociologia na educação básica. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância CIÊNCIAS SOCIAIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Unidade I - A Sociologia no currículo Objetivos da Unidade Ampliar e aprofundar as contribuições da disciplina Sociologia no currículo do Ensino Médio e propor a Sociologia Crítica. Unidade II - Teorias Sociológicas I Objetivos da Unidade Ampliar os conhecimentos sobre as concepções sociológicas de Durkheim e Marx. Unidade III - Teorias Sociológicas II Objetivos da Unidade Ampliar os conhecimentos sobre as concepções sociológicas de Weber, Gramsci, Bourdieu e Florestan. Unidade IV - Conceitos importantes para a Sociologia em sala de aula I Objetivos da Unidade Ampliar os conhecimentos acerca dos conceitos de: Estratificação Social, Mobilidade Social, Papéis Sociais, Classes sociais e Desigualdade Social. Unidade V - Conceitos importantes para a Sociologia em sala de aula II Objetivos da Unidade Ampliar os conhecimentos acerca dos conceitos de: Ideologia, Cultura de Massa e Indústria Cultural; Como apresentar sociologicamente as instituições: familiar, escolar e religiosa. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: UNIDADE I: A Sociologia no currículo escolar UNIDADE II: Teorias Sociológicas I UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância CIÊNCIAS SOCIAIS UNIDADE III: Teorias Sociológicas II UNIDADE IV: Conceitos importantes para a Sociologia em sala de aula I Objetivos da Unidade UNIDADE V: Conceitos importantes para a Sociologia em sala de aula II Objetivos da Unidade Bibliografia Básica: ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro, Zahar, 1996. BOURDIEU, Pierre. A miséria do mundo. Petrópolis, Vozes, 1999 BAUMAN, Zygmunt. Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 2010. Bibliografia Complementar: DOWNING, John D.H. Mídia Radical. Rebeldia nas Comunicações e Movimentos Sociais. São Paulo, Ed. Senac, 2002. GRARESCHI, Pedro. Sociologia crítica: alternativas de mudança. Porto Alegre, Mundo Jovem, 1984. IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996. LAKATOS, Eva Maria. Sociologia Geral. São Paulo, Atlas, 1990. SANTOS, Boaventura. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo, Cortez, 1995. METODOLOGIA: A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas, envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo ensino/aprendizagem. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância CIÊNCIAS SOCIAIS AVALIAÇÃO: A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados tanto na parte teórica como na prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente. A Avaliação Presencial, está prevista para ser realizada nos polos de apoio presencial, no entanto, poderá ser realizada em home seguindo as orientações das autoridades da área da saúde e da educação e considerando a Pandemia COVID 19. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância CIÊNCIAS SOCIAIS Sumário Aula 01_ Dimensão Histórica da Sociologia. ................................................................................ 9 Aula 02_ O Ensino da Sociologia no Contexto Escolar Brasileiro. ............................................13 Aula 03_ Fundamentos Teóricos e Metodológicos. ....................................................................15 Aula 04_ A Escolha pela Sociologia Crítica. ................................................................................17 Resumo Unidade I .........................................................................................................................19 Aula 05_Concepções sociológicas de Karl Marx. .......................................................................20 Aula 06_Concepções sociológicas de Émile Durkheim. ............................................................22 Resumo Unidade II ........................................................................................................................24 Aula 07_Concepções sociológicas de Max Weber. ....................................................................25 Aula 08_Concepções sociológicas de Antonio Gramsci. ...........................................................27 Aula 09_Concepções sociológicas de Bourdieu. ........................................................................30 Aula 10_Concepções sociológicas de Florestan Fernandes. ....................................................32 Resumo Unidade III .......................................................................................................................34Aula 11_Estratificação social ........................................................................................................35 Aula 12_Mobilidade social. ............................................................................................................37 Aula 13_Papéis sociais. ................................................................................................................39 Aula 14_ Classes sociais e desigualdade social. ........................................................................41 Resumo Unidade IV .......................................................................................................................43 Aula 15_O processo de Socialização e as Instituições Sociais. ................................................44 Aula 16_ Instituição familiar. .........................................................................................................45 Aula 17_ Instituição escolar. .........................................................................................................47 Aula 18_Instituição religiosa. ........................................................................................................48 Resumo Unidade V ........................................................................................................................50 Aula 19_ Cultura e a Indústria Cultural. .......................................................................................51 Aula 20_ Sociedade de consumo: individualismo, competição e concorrência. ......................53 Aula 21_ Poder, Política e Ideologia. ...........................................................................................55 Aula 22_Propaganda e mídia........................................................................................................57 Aula 23_ Poder Político e Mídia. ..................................................................................................59 Aula 24_ Movimentos sociais........................................................................................................61 Aula 25_ Multiculturalismo. ...........................................................................................................63 Aula 26_ Globalização. ..................................................................................................................66 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância CIÊNCIAS SOCIAIS Resumo Unidade VI .......................................................................................................................68 Aula 27_ A questão ambiental. .....................................................................................................69 Aula 28_ Organizações Não Governamentais. ...........................................................................71 Aula 29_Metamorfoses do mundo do trabalho. ..........................................................................73 Aula 31_Desenvolvimento sustentável e consumo. ...................................................................77 Aula 32_Síntese reflexiva da disciplina. .......................................................................................79 CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 9 Aula 01_ Dimensão Histórica da Sociologia. Estamos numa nova etapa de nossa disciplina e, nesta unidade, vamos aprofundar nossos estudos nos conceitos de Sociologia que podem ser usados na sala de aula. Procuraremos relacionar a parte teórica de Sociologia com a parte prática de Pedagogia, ao longo do curso, refletindo sobre a contribuição da Sociologia para a educação. A disciplina Sociologia procura mostrar como o sistema capitalista passou por constante transformação e como as formas de produção, distribuição e opressão se aprimoraram e sofreram metamorfoses para a sobrevivência desse sistema. Isso implica novas formas de olhar, compreender e atuar socialmente, consequentemente as inquietações dos sociólogos não cessa com o intuito de entender essas metamorfoses. Podemos afirmar que essas inquietações foram as mesmas da época da revolução industrial por alterar toda a infra e superestrutura existente. No contexto do século XVIII, a Sociologia, para assumir o status de ciência, ficou no rastro do pensamento positivista, vinculada à ordem das Ciências Naturais. O caráter científico, tão buscado e valorizado na época (século XIX), estava ligado à lógica das ciências ditas “experimentais”. Ou seja, para ascender ao estatuto de ciência, deveria atender a determinados pré-requisitos e seguir métodos “científicos” que pretendiam também a neutralidade e o estabelecimento de regras fechadas que engessavam o pensamento sociológico. Os representantes desse pensamento são: Augusto Comte (1798-1857) e Émile Durkheim (1858-1917), o primeiro a usar o termo Sociologia, relacionando-o com a ciência da sociedade; e Émile Durkheim que adotou conceitos elaborados por Comte, especialmente o de ordem social, para delinear uma das correntes representativas do pensamento sociológico. Ambos os pensadores tiveram em comum a busca de soluções para os graves problemas sociais gerados pelo modo de produção capitalista; isto é, a miséria, o desemprego e as consequentes greves e rebeliões operárias. Cada um desses sintomas sociais foi analisado por esses pensadores como desvios ou CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 10 anomalias da sociedade, que poderiam ser corrigidos ou mesmo solucionados pelo resgate de valores morais – como a solidariedade – os quais restabeleceriam relações estáveis entre as pessoas, independentemente da classe social a que pertencessem. Um dos mecanismos responsáveis por essa tarefa seria a educação, capaz de adequar devidamente os indivíduos à nova sociedade. Tais pensadores a analisaram sob determinado ponto de vista e preconizaram a manutenção do status quo, da ordem estabelecida e, de alguma forma, pelo elogio à sociedade capitalista. Apesar de ter nascido com a missão de amparar o sistema vigente, a sociologia desenvolveu também um olhar crítico e questionador sobre a sociedade. O pensador alemão Karl Marx (1818-1883) trouxe importantes contribuições ao pensamento sociológico porque desnudou as relações de exploração que se estabeleceram a partir do momento em que uma determinada classe social apropriou-se dos meios de produção e passou a deter e conduzir os mecanismos (as ações) da sociedade. De acordo com o pensamento de Marx, não há soluções conciliadoras numa sociedade cujas relações se baseiem na exploração do trabalho e na crescente espoliação da maioria. Para Marx, a teoria apenas tem sentido se transformada em práxis, ou seja, em ação fundamentada politicamente para transformar as estruturas de poder vigente e construir novas relações sociais, fundadas na igualdade de condições a todos os indivíduos. Para Marx, a única possibilidade de superar a desigualdade e a opressão está na construção de uma nova sociedade, que pressuponha a inexistência de classes sociais e, portanto, de dominação de uma minoria sobre uma maioria. Outra importante contribuição ao pensamento sociológico crítico – Ver aula 4 e revolucionário pode ser encontrada nos escritos do italiano Antonio Gramsci (1891-1937), cujas análises foram incorporadas principalmente às pesquisas sociológicas e educacionais. Criados por Gramsci, os conceitos de hegemonia, intelectual orgânico e escola única auxiliam no processo de repensar as estruturas educacionais. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 11 No Brasil, tanto as ideias conformistas quanto as revolucionárias exerceram forte influência na formação do pensamento sociológico brasileiro.Autores como Silvio Romero (1851-1914), Euclides da Cunha (1866-1909) e Oliveira Vianna (1883-1951), considerados conservadores, configuraram uma tradição ensaísta – sem uma preocupação especificamente científica– preocupada em pensar o que seria a identidade cultural nacional. Os estudos históricos, literários e as análises sociológicas das três primeiras décadas do século XX, realizados por esses e outros autores, problematizaram a nação brasileira no contexto da chamada modernização. Temas como raça e cultura eram o foco desses estudos. A grande questão era construir, delinear e definir a brasilidade. Já na década de 1930, temos as contribuições de Gilberto Freyre e Fernando de Azevedo que, em suas obras, analisaram com maior rigor científico a realidade brasileira e procuraram estabelecer sínteses explicativas do Brasil. Gilberto Freyre (1900-1987): formado pela Sociologia norte- americana, recebeu forte influência teórica da chamada escola culturalista. Sua obra mais conhecida, “Casa-Grande & Senzala”, problematizou a questão étnico-racial e assumiu como positiva para a cultura brasileira a miscigenação entre brancos de origem europeia e negros de origem africana. Essa obra e suas teses repercutiram intensamente no cenário intelectual brasileiro e tornaram-se referências nos estudos sociológicos. Apesar da importância de sua obra, Freyre foi considerado um pensador conservador, devido à ausência, em seus trabalhos, de uma crítica mais profunda das estruturas econômicas que determinavam a existência do sistema escravista. Fernando de Azevedo (1894-1974): um dos principais representantes do pensamento escola novista no Brasil e redator do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) contribuiu para o tratamento científico que a educação passaria a receber por meio da ciência sociológica. Na sua obra, a educação foi considerada, pela primeira vez, um problema social e, como tal, mereceria também um tratamento analítico especial. Caberia à Sociologia não somente esta tarefa, mas, também, a atribuição de “salvar a educação” e, consequentemente, a sociedade. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 12 Por sua vez, como forma de pensar e explicar a sociedade capitalista, o marxismo teve fortes repercussões no Brasil, notadamente a partir de 1930, com a criação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (1933), da Universidade de São Paulo (1934) e da Universidade do Distrito Federal (1935). Esses novos institutos universitários tornaram se centros aglutinadores de intelectuais importantes, tais como: Caio Prado Júnior (1907-1980); Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982); Florestan Fernandes (1920-1995); Otávio Ianni (1926-2004). Esses intelectuais apresentaram uma produção sociológica significativa que, somada à presença de professores estrangeiros convidados, sobretudo os da chamada Missão Francesa – o primeiro grupo de professores contratados para inaugurar, em São Paulo, os cursos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em 1934 –, contribuíram para que a Sociologia no Brasil se firmasse. Uma nova geração de sociólogos definiria os rumos desse conhecimento. A produção sociológica desses e outros autores posteriores esteve atenta aos grandes problemas sociais decorrentes das mudanças econômicas e políticas da sociedade brasileira, como os movimentos sociais agrários e urbanos, os movimentos estudantis, as mudanças na organização do mundo do trabalho. As questões das minorias – indígenas, mulheres, negros, homossexuais – passaram a ter mais atenção e as instituições sociais passaram a ser estudadas em sua dinâmica social e histórica. Muitas destas questões mencionadas acima serão temas de nossas próximas aulas e teremos como objetivo mostrar a importância em estudar, refletir e debater estes temas que são polêmicos em nossa sociedade. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 13 Aula 02_ O Ensino da Sociologia no Contexto Escolar Brasileiro. Ao estudar a história do ensino de Sociologia no Brasil fica clara a sua descontinuidade nas grades curriculares das escolas de ensino secundário, demonstrando a dificuldade em firmar-se como área do conhecimento fundamental para a formação humana, e sua instabilidade ligada a interesses e vontades políticas. Apesar de não haver formação de professores em nível superior nessa área, a adoção da disciplina nos cursos secundários ocorreu no início da República (1891). Em 1901, o Decreto n.º 3890, de 1.º de janeiro, retirou a disciplina oficialmente dos currículos escolares. Retornou somente em 1925, na escola secundária Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, e em 1928 passaria a ser ministrada nas escolas de formação de professores e no chamado ciclo complementar para quem desejasse frequentar cursos superiores nas áreas de Direito, Ciências Médicas, Engenharia e Arquitetura. Conforme foi visto na aula anterior, em 1930, com a criação dos Cursos Superiores de Ciências Sociais, ocorreu um rápido desenvolvimento da pesquisa sociológica e na formação de quadros intelectuais e técnicos para pensar o país e dar suporte às políticas públicas em expansão, durante o Estado Novo. Após a instalação do Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas, várias medidas educacionais foram tomadas para reforçar as ideias de nacionalismo. A chamada Reforma Capanema (1942) retirou a obrigatoriedade do ensino de Sociologia nas escolas secundárias; como consequência, a disciplina praticamente desapareceu dos currículos escolares. A constante retirada da Sociologia do currículo escolar mostra que somente através da obrigatoriedade era feita sua adoção, configurando a falta de entendimento de sua importância na formação educacional. Em 1950 e início da década de 1960, o clima de democracia política que o país viveu favoreceu a disseminação das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras pelo Brasil. No período da ditadura militar, na década de 1970, a Sociologia continuou excluída das grades curriculares dos cursos secundários e permaneceu apenas nos CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 14 cursos de formação para magistério e, constantemente, substituída pela disciplina de Fundamentos da Educação. Nos programas de políticas públicas educacionais implementados no mesmo período, pela Lei 5692/71, que instituía a obrigatoriedade do ensino profissional no chamado 2.º grau, outras disciplinas foram criadas: Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política Brasileira e Ensino Religioso. Essas disciplinas foram marcadas por um acentuado caráter moral e disciplinador. Percebe-se a volta para sua missão inicial de embasar teoricamente o momento histórico que se vivia. A sociedade atual não concebe mais a neutralidade do discurso e a Sociologia tem a função de ir além da leitura e da interpretação teórica da sociedade. A sua missão inicial de adaptar o indivíduo ao seu meio, justificar as mazelas do sistema e enquadrar via educação o homem no regime vigente e paramos simplesmente na crítica, não é viável neste contexto em que a sociedade se intitula por conhecimento e as verdades estão todas sendo questionadas. Os grandes problemas vividos hoje são provenientes do acirramento das forças do capitalismo mundial e do desenvolvimento industrial desenfreado, dentre outras causas, exigindo sujeitos capazes de refutar a lógica neoliberal da destruição social e planetária. É tarefa inadiável da escola e da Sociologia a formação de novos valores, de uma nova ética e de novas práticas que indiquem a possibilidade de construção de novas relações sociais.·. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 15 Aula 03_Fundamentos Teóricos e Metodológicos. Nesta aula estudaremos como a Sociologia construiu seu referencial teórico e metodológico e suas concepções de sociedade de acordo com os teóricos clássicos e contemporâneos. É importante chamar a atenção dos alunos para as diferentes linhas teóricas e metodológicas adotadas pela sociologia e seus pesquisadores, como se constituíram e buscaram dar respostas aos problemas da realidade na qual foram concebidas. Como ciência, a sociologia contribui duplamente: aumenta o conhecimento que o homem tem de si mesmo e da sociedade e contribui para a solução de problemas. Um dos interesses dos sociólogos são as causas das mudanças dos grupos sociais, como, por exemplo, a organização do movimento dos sem terra. Como os grupos humanos se relacionam internamente e entre outros grupos. Analisa o modo de pensar, agir e sentir exteriores ao indivíduo, ou seja, fatos sociais. (Ver em Émile Durkheim) As ciências sociais são o estudo sistemático do comportamento social do homem, o estudo dos grupos sociais, da divisão da sociedade em camadas, da mobilidade social, dos processos de cooperação, competição e conflito na sociedade. O debate mais atual acerca do objeto da sociologia e seu método é a sua internacionalização. Aparece aos seus defensores como uma oportunidade para a sociologia assentar-se no processo de globalização que afeta o mundo moderno, e constituir-se um verdadeiro desafio, tanto institucional como científico. Permite esperar que o projeto universalista dos fundadores da sociologia venha a encontrar na superação dos particularismos nacionais, o seu verdadeiro suporte. Internacionalização conjuga-se, pois, com dominação, etnocentrismo e imperialismo. Esta tese pode apoiar-se no estudo pormenorizado do sistema de produção e de troca de conhecimentos em ciências sociais e do lugar determinante que nele ocupam os autores ocidentais e, mais especificamente, os americanos. (GAREAU, 1985, 1988). CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 16 Podemos concluir no momento que a sociologia tem em sua história as marcas de sua gênese, estar a serviço da ordem hegemônica. Conseguiu construir um arcabouço conceitual que não a compromete, mas está sempre em discussão como o sistema dominante e sempre desafiando sua capacidade de criticar e analisar as contradições históricas. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 17 Aula 04_ A Escolha pela Sociologia Crítica. Temos como representantes da sociologia crítica: Habermas, Foucault e Bordieu e, no Brasil, Florestan Fernandes. Quando estudamos estes cientistas, percebemos como a sociologia está próxima da educação e como ela contribui para uma reflexão profunda das questões políticas, ideológicas e psicológicas referentes a este tema. Ao estudar a sociologia crítica, o educador passa a pensar em sua ação pedagógica de forma complexa e não como uma ação pontual que reflete no espaço e tempo escolar e com o grupo de alunos que ele está interagindo naquele momento. Essa visão plural do professor possibilita o desenvolvimento no aluno desta postura com relação aos saberes que ainda na escola são fragmentados. De fato, uma visão plural das concepções sociológicas possibilita ao professor e ao aluno, cada um no seu nível de compreensão, alterar qualitativamente sua prática social. Do resgate dos seus conteúdos críticos, a sociologia clássica e a moderna permitem esclarecer muitas questões acerca de desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais da sociedade brasileira. A partir do momento que a educação adota essa diretriz não podemos mais aceitar o discurso da neutralidade, da imparcialidade, do descompromisso, do conformismo, a ausência de historicidade. Propõe-se uma Sociologia Crítica que analise a realidade em sua perspectiva de prática e de crítica social. Com isso muda a ação individual de cada educador como na linha de ação da Instituição de ensino ou governo. O conhecimento sociológico crítico é tomado como instrumento de resgate dialético do movimento histórico, do real e do pensado, a partir dos grupos e classes que compõem a maioria (excluída) do povo brasileiro: índios, negros, mulheres, migrantes e trabalhadores da cidade e do campo. Na escola, o pensamento sociológico se consolida na articulação entre experiências e conhecimentos fragmentados com experiências e conhecimentos compreendidos como totalidades complexas. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 18 A partir desses pressupostos, procura-se dar um tratamento teórico aos problemas decorrentes do modo como a sociedade capitalista está organizada, cujas características mais evidentes são: Desigualdades sociais e econômicas; Exclusão do mundo do trabalho; Relações sociais conflituosas; Descaso frente a problemas sócio-ambientais; Negação da diversidade cultural, de gênero e étnico-racial. Em síntese, trata-se de reconstruir dialeticamente com o aluno os conhecimentos de que ele já dispõe, de maneira que alcance um nível de compreensão mais elaborado em relação às determinações históricas nas quais se situa e, mais que isso, na capacidade de intervir e transformar as práticas sociais cristalizadas. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 19 Resumo Unidade I A Unidade I é introdutória e procurou contextualizar a sociologia no currículo da educação ao longo da história. Com isso buscamos enfatizar as contribuições teóricas desta ciência para refletirmos sobre a prática escolar, sua política pública e a ação do educador. A sociologia crítica é a vertente teórica que representa essa preocupação com a educação e a sociologia da educação. Referências Bibliográficas DOWBOR, Ladislau e outros (org). Desafios da Comunicação. Petrópolis: Ed Vozes, 2000. DOWNING, John D.H. Mídia Radical. Rebeldia nas Comunicações e Movimentos Sociais. São Paulo: Ed. Senac, 2002. GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para as novas mídias. Do game à TV Interativa. São Paulo: Ed. Senac, 2003. HABERMAS, Jügen. Mudança estrutural da esfera pública: investigação quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 20 Aula 05_Concepções sociológicas de Karl Marx. Karl Marx (1818-1883) foi filósofo, historiador, sociólogo e economista. Viveu sua formação acadêmica na Alemanha, país que sofreu um processo de unificação tardio e com a ascensão da burguesia somente em 1830. A influência de Kant e Hegel fomentou uma atitude anti-positivista. É importante ressaltar como ele analisa a educação e concebe a sociedade capitalista na sua relação de exploração, no entanto a educação é colocada como possibilidade de emancipar o sujeito da opressão exercida por essa relação desigual. Para Marx, a educação é importante forma de perpetuar a exploração de uma classe sobre a outra, pois dissemina a ideologia dominante e inculca na classe dominada o modo burguês de ver o mundo. No entanto, Marx também vê na educação a possibilidade de reverter essa situação. Conforme seu entendimento cabe à educação devolver ao trabalhador expropriado o conhecimento do conjunto, do processo produtivo, e extinguir a divisão do trabalho em intelectual e manual e, consequentemente, a alienação. De acordo com Marx, a educação é um mecanismo que, conforme seu conteúdo de classe, pode oprimir ou emancipar o homem. Em sua visão, o conhecimento e a ciência deviam assumir um papel político crítico em relação ao capitalismo.Por isso defende a participação ativa do cientista social nos atos de transformação da sociedade e seu posicionamento ao lado da classe trabalhadora, ou seja, se tornar um militante. No Brasil veremos posteriormente que Otavio Ianni e Florestan Fernandes defendiam essa ideia e atuaram, assim como Marx, em movimentos sociais e políticos. A teoria marxista centrou a sua análise na compreensão da natureza da sociedade capitalista e procurou em suas obras, junto com Engels, apontar uma direção para sua transformação. Ao perceber, para além das aparências, o processo histórico que conduziu a burguesia ao patamar de classe dominante, Marx enunciou – como lei de validade geral – que a história das sociedades é movida pela luta entre as classes sociais. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 21 Para Marx, o sistema hegemônico se desenvolve e se fortalece na mesma proporção em que ele vai nesta trajetória se desgastando, isto é o que se chama de tese e antítese, a luta dos opostos, choque dialético. Neste princípio, um dos motivadores da crise capitalista seria a luta de classes que com seus sucessivos embates daria força motriz para a história se movimentar. Compreender o pensamento dialético é fundamental para expor alguns princípios da teoria marxista, como o materialismo histórico. Esse princípio recusa a determinação mecânica do econômico sobre o social e coloca a luta de classes como o motor das transformações sociais. Em uma carta de Engels para Bloch¹, de 1890, esses fundamentos são explicitados: Concepção materialista da História, o elemento determinante da mesma é fundamentalmente a produção e a reprodução da vida real. Tanto Marx quanto eu jamais afirmamos mais do que isso. Portanto, se alguém troca essa afirmação por outra em que o elemento econômico seja o único determinante, a frase torna-se sem sentido, abstrata e absurda. A contribuição teórica de Marx e Engels criou um conjunto complexo e coerente de novas categorias de análise para o processo social e, com isso, fundaram uma nova escola de pensamento sociológico, o marxismo. ¹Carta escrita em 21/22 de setembro de 1890, em Londres. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 22 Aula 06_Concepções sociológicas de Émile Durkheim. Émile Durkheim viveu entre 1858 - 1917 fase áurea da burguesia francesa e da primeira crise do sistema capitalista e a fase de disputa imperialista entre as potências europeias. Opositor às ideias socialistas defendia como causa das crises relacionadas às questões sociais como um fenômeno de natureza moral. Concebe a sociedade capitalista como vínculo moral entre os homens e a educação como forma de manutenção da estabilidade e da ordem social. Durkheim constrói um aparato teórico metodológico sobre a problemática das relações sociais e sistematiza o pensamento sociológico. Sua contribuição foi tão importante que o método durkheimiano é parâmetro para pesquisa até hoje. Ao contrário de Marx que defendia o envolvimento do sociólogo nas questões sociais, Durkheim defende o rigor do distanciamento absoluto com relação ao objeto de estudo da Sociologia. Somente com esta atitude que a objetividade da pesquisa seria garantida e consequentemente suas bases científicas. Para ele, as representações dos fatos sociais são percebidas pelas pessoas de modo singular e coletivo ao mesmo tempo: cada ser humano é habitado por estados mentais que dizem respeito apenas à sua pessoa quanto por estados mentais coletivos, que são crenças, valores e hábitos compartilhados. Na sociologia durkheimiana procura-se compreender o funcionamento das “formas padronizadas de conduta e pensamento” definidas como “consciência coletiva”, que se configuram com a moral adotada pela sociedade. Nesse sentido, ele pode ser visto como o primeiro sociólogo funcionalista. No funcionalismo o sujeito faz parte da sociedade assim como parte da sociedade o compõe. Portanto, a sociedade faz sentido somente se compreendida como um conjunto cuja existência própria, independentemente de manifestações individuais, exerce sobre cada ser humano uma coerção exterior, a partir de pressões e obrigatoriedades porque, de alguma forma, ela não “cabe” na sua totalidade, na mente de cada indivíduo. Assim consideradas, as representações coletivas exteriores às consciências individuais, não derivam dos indivíduos tomados isoladamente, mas de sua cooperação. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 23 Durkheim afirma que, para haver cooperação é necessário consenso, ou seja, adesão às regras sociais de validade geral e indistinta, de modo que cabe à educação ensinar aos indivíduos essas regras. Para Durkheim, educação é socialização, é ensinar e aprender o “lugar” de cada um no sistema, no organismo social, sem questionar se a forma de organização social é desigual ou não. Sob tal ponto de vista, a sociedade modela a ação individual; à educação cabe enquadrar cada indivíduo às expectativas de classe, gênero, etnia, e moral que são esperadas dele. Ainda nesta linha de pensamento, foi criado um novo campo de estudo, a morfologia social que consiste na classificação das diversas sociedades. Se para Marx o conceito de alienação está vinculado ao fato do homem ter perdido o controle dos meios de produção tornando-se uma mercadoria pela venda de sua força de trabalho, Durkheim desenvolve o conceito de solidariedade mecânica com sua teoria de que a produção industrial, estruturada pela divisão social do trabalho levaria os homens a uma solidariedade que terminaria os conflitos sociais, pois estariam unidos por uma interdependência funcional. Podemos perceber com estas aulas a importância de despertar no aluno o olhar crítico às diferentes formas de pensar a sociedade e como essas diferenças estão presentes em todos os textos que temos acesso, desde um jornal, uma revista, e até uma fotografia. Cada autor tem uma linha de pensamento para entender a situação social de seu tempo. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 24 ResumoUnidade II Essa unidade deu subsídios teóricos e históricos para que possamos prosseguir com nossas aulas. Os conceitos e métodos mostrados serão aprofundados nos conteúdos específicos que estudaremos até o término de nossa disciplina. Não podemos estudar sociologia sem nos apropriarmos das linhas clássicas e uma das mais importantes da contemporaneidade é o método, o qual nos indica o caminho de análise que faremos sobre qualquer tema. Vocês já estudaram estes autores em outras disciplinas do curso de Ciências Sociais, agora é importante refletir como eles podem nos ajudar na educação, em nossas aulas. Referências Bibliográficas ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Ja-neiro: Zahar, 1996. ANDERSON, Perry - As Antinomias de Gramsci. São Paulo: Joruês, 1986. BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educação. In: NOGUEIRA; CATANI (Orgs.) A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1999. FERNANDES, Floestan. Educação e sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus/Edusp, 1966._. O desafio educacional. São Paulo: Cortez, 1989. GRAMSCI, Cadernos do Cárcere. Ed. bras. de Carlos Nelson Coutinho, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. Site Florestan: http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=90 http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=90 http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=90 http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=90 CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 25 Aula 07_Concepções sociológicas de Max Weber. Max Weber (1864-1920), de formação liberal, não segue os caminhos nem deMarx e nem de Durkheim, ele toma como ponto de partida para sua análise os agentes sociais e suas ações, privilegiando o papel da iniciativa do indivíduo na vida social. Weber concebe a sociedade capitalista como vínculo de racionalização da vida, resultado de uma grande teia de interações e relações interindividuais e pensa a educação como uma resposta limitada e inexorável a essa racionalização. Sua principal contribuição metodológica foi o conceito de “tipo ideal”. Estuda a história sob o ponto de vista comparativo. Para Weber, a realidade social não é algo por si, independente. A realidade tem determinada fisionomia a partir dos valores que orientam sua compreensão, os quais são compartilhados, são coletivos. No entanto, são introjetados e apreendidos de forma diferenciada, efeito do processo de interação social. Ou seja, o social reside na interação entre as partes, que são muitas e se renovam a cada dia; daí a impossibilidade de sua apreensão como totalidade. Outra contribuição de Weber foi a elaboração do conceitual teórico que ele chamou “três tipos puros de dominação legítima”, que são: o legal, o tradicional e o carismático. Para Weber, a ação social no mundo moderno exige dos homens desempenho de tarefas, além dos valores, e não prescinde do cálculo dos custos e benefícios e da racionalidade (finalidades). Compreender a sociedade é analisar os comportamentos movidos pela racionalidade dos sujeitos com relação aos outros, é compreender o agir dos homens que se relacionam uns com os outros, de acordo com um cálculo e uma finalidade que tem por base as regras. Weber entende que uma ordem social, para atender à finalidade do mundo moderno capitalista, torna-se cada vez mais ampla, institucionalizada, desencantada e, sobretudo, burocrática. Nesse contexto, sob uma compreensão “desencantada”, Weber considera que resta à educação sistemática (escolar) prover os sujeitos de conteúdos especializados, eruditos, e de disposições que os predisponham a ter as condições – conduta de vida e conhecimento especializado – necessárias para CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 26 realizar suas funções de perito na burocracia profissional. Nesta concepção, a escola daria o repertório necessário e específico para que cada indivíduo exerça sua função. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 27 Aula 08_Concepções sociológicas de Antonio Gramsci. Antonio Gramsci (1891-1937), pensador marxista e ativo militante comunista, tem a sua ação de pesquisador e militante concomitante. Devido a sua prisão pelos fascistas escreve durante o período de cárcere a sua principal obra com três cadernos, Cadernos do Cárcere. Sua reflexão está voltada para as sociedades de capitalismo avançado, caracterizadas por um forte mercado interno e pelo pluralismo político. Conforme a concepção de Gramsci, o poder é diluído entre o governo e suas instituições, qualificado por ele como o espaço da coerção; e variadas instâncias da sociedade civil, como as indústrias, os partidos, os sindicatos, chamadas de espaço de consenso e persuasão. Alguns conceitos marcaram o pensamento de Gramsci como de hegemonia cultural. Os intelectuais da classe hegemônica, burguesia, produziram, em determinadas circunstâncias históricas, um consenso cultural com a intenção de que a classe trabalhadora identificasse seus próprios interesses particulares com aqueles da burguesia, ajudando a manter o status quo. Por isto, segundo Gramsci, a classe trabalhadora precisava desenvolver uma cultura “contra- hegemônica”, primeiro para demonstrar que os valores da burguesia não representavam os valores “naturais”, “normais” ou “desejáveis” e “inevitáveis” de uma sociedade moderna e, segundo, para expressar politicamente seus próprios interesses (interesses estes que eram majoritários na sociedade como um todo, já que a classe trabalhadora forma a maioria da população de um país). Ou seja, o que hoje denominamos de linguagem e signos que compõem a comunicação da sociedade globalizada com uma cultura hegemônica, foi colocado por ele no início do século. Gramsci em sua época analisou os motivos que não levaram à eclosão da revolução comunista na Europa ocidental e atribuía esse fracasso à hegemonia cultural. Foi neste espaço que a burguesia construiu um arsenal ideológico pela arte, educação e comunicação tão sólido que, por meio de uma cultura hegemônica, os valores e interesses particulares da burguesia se tornavam o “senso comum”. “Senso comum” este, que, como explicaria Gramsci nos seus escritos carcerários, CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 28 existiria, não naturalmente, como uma percepção empírica e passiva da realidade material, mas como uma construção mental realizada por cada indivíduo, grupo, e classe a partir das ideias recebidas e de seus projetos - “todos os homens são filósofos”. Dessa concepção de sociedade, Gramsci propõe uma ação política revolucionária articulada organicamente na sociedade, no cotidiano das relações sociais. Além da superação da exploração de uma classe sobre a outra e da eliminação da propriedade privada é necessário conquistar a hegemonia política e ideológica, lutar contra a apropriação privada e elitista do conhecimento. A escola, em seus diferentes graus, é o instrumento da formação de um novo tipo de homem, que deve entender-se como produto de uma elaboração de vontade e pensamento coletivo, logrado mediante o esforço individual concreto e não por processos ou determinações alheios a cada um. Para Gramsci, as características da alternativa pedagógica que busca uma nova sociedade são: que a educação seja social; que a educação seja de todos e para todos; e que a educação seja responsável, aceita interiormente, e não imposta. Trata-se do projeto da “escola única”, na qual, desde o nível fundamental até o nível superior, não esteja presente o abismo que separa as classes sociais na sociedade capitalista ocidental. Esse projeto é revolucionário porque abandona a ideia do conhecimento dual, ou seja, extingue a existência de escolas nas quais alguns são preparados para ser dirigentes e outros são preparados para serem dirigidos. A necessidade de criar uma cultura da classe trabalhadora está relacionada com a proposta que Gramsci fez para um novo tipo de educação que pudesse desenvolver intelectuais na e para a classe operária. Suas ideias para um sistema educacional deste tipo correspondem à noção de pedagogia crítica e educação, segundo foram teorizadas e postas em prática décadas depois por Paulo Freire no Brasil. Por este motivo, promotores de educação popular e de educação para adultos consideram Gramsci como uma voz a ser ouvida até os nossos dias. As CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 29 ideias de Gramsci também serviram de base para a criação da chamada Teologia da Libertação. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 30 Aula 09_Concepções sociológicas de Bourdieu. O sociólogo e defensor do movimento antiglobalização Pierre Bourdieu morreu aos 71 anos na França. Bourdieu morreu de câncer no hospital Saint- Antoine, em Paris, no dia 23 de janeiro de 2002. Foi descrito pelo jornal Lê Monde, no dia de sua morte, como Crítico contundente da sociedade capitalista. Bourdieu começou sua carreira acadêmica na Universidade Algiers, em 1958, quando rebeldes argelinos lutavam pela independência do império colonial francês. Ele é o autor de “A Economia das Trocas Simbólicas” (Ed. Perspectiva) e “As Regrasda Arte” (Companhia das Letras), dentre muitas outras publicações. Bourdieu é visto por muitos como alguém que deu novos rumos aos estudos da sociologia desde os anos 1960. Seus trabalhos abrangeram um vasto campo de conhecimento nas áreas da cultura, política, educação, mídia e literatura. Além disso, manteve-se ligado à atividade política e ao apoio às classes trabalhadoras, o que o tornou um intelectual de referência para a esquerda. Em sua concepção de sociedade, radicaliza a precedência e o peso das estruturas sociais sobre as ações individuais presentes no pensamento de Durkheim. Bourdieu questiona o discurso que propaga uma escola igualitária que, supostamente, possibilitaria a concretização das potencialidades humana. Sua contribuição maior no campo educacional foi desmantelar a visão romântica da educação. Ele questiona a importância da escola pública como sendo o caminho para superar os atrasos econômicos e a desigualdade social, ou seja, ele rompe com a visão funcionalista de que a escola é uma Instituição neutra e com ela a igualdade de oportunidades seria para todos. Ao contrário, para ele, a instituição escolar dissimularia, sob a fachada da neutralidade, as desigualdades. As escolas, as universidades e outras instituições reproduzem as relações sociais e de poder dominantes pelos critérios de triagem e seleção, inclusão ou exclusão de conteúdos, métodos e, consequentemente, de indivíduos que ocupam determinados papéis sociais. Sob tal concepção, a possibilidade de mudança não está necessariamente na educação que veicula o saber sistematizado. Assim, toda ação pedagógica é considerada uma violência simbólica, arbitrária, e oculta relações de força sob CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 31 imposição de valores, normas e concepções culturais revestidas de uma suposta autoridade, originárias nos grupos e classes dominantes. Para Bourdieu, os bens culturais aos quais o aluno tem acesso conforme sua classe social, incrementados pelos conhecimentos escolares – seu capital cultural –, determinam a sua posição na hierarquia econômica e social. Ambígua por natureza, a escola é responsável também pela expansão do acesso ao conhecimento, ao mesmo tempo em que pode contribuir para o fortalecimento de um saber restrito a poucos (Bourdieu, 1998). Os estudos recentes de Bourdieu são importantes principalmente para os jovens entenderem o poder da mídia. Ele se dedicou nos últimos anos de sua vida a fazer uma crítica contumaz aos meios de comunicação e seu poder. Um dos principais alvos de crítica de Bourdieu, nos seus últimos anos de vida, foram os meios de comunicação, que estariam, segundo ele, cada vez mais submetidos a uma lógica comercial inimiga da palavra, da verdade e dos significados reais da vida. Na sua obra Questions aux vrais maîtres du monde, afirmou: Esse poder simbólico que, na grande maioria das sociedades, era distinto do poder político ou econômico, hoje está concentrado nas mãos das mesmas pessoas que detêm o controlo dos grandes grupos de comunicação, quer dizer, que controlam o conjunto dos instrumentos de produção e de difusão dos bens culturais. Texto obrigatório: PIERRE BOURDIEU (1930/2002): SOCIÓLOGO CIDADÃOhttp://www.fundaj.gov.br/observanordeste/obex04.htmlacessado em maio de 2008. http://www.fundaj.gov.br/observanordeste/obex04.html CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 32 Aula 10_Concepções sociológicas de Florestan Fernandes. Florestan Fernandes (1920-1995) tem sua marca profissional a aliar a sua luta política com a trajetória teórica. Seus principais pontos de interesse na sociologia foram: análise crítica do capitalismo dependente, relações sociais, estrutura de classes da sociedade brasileira, Estado, ideologia e papel do intelectual nos embates sociais e políticos. Dermeval Saviani, ao escrever sobre a obra Ensaios da sociologia geral e aplicada de Florestan Fernandes, aponta que as análises confluem para a caracterização daquilo que chama de “dilema educacional brasileiro”, determinado pela situação de subdesenvolvimento colocando, ao mesmo tempo, necessidades que exigem a intervenção da educação e obstáculos para que essa intervenção se efetive. Isso é ilustrado por um exemplo: “A estabilidade e a evolução do regime democrático estão exigindo a extensão das influências socializadoras da escola às camadas populares e a transformação rápida do estilo imperante de trabalho didático, pouco propício à formação de personalidades democráticas”. Florestan defende a cooperação entre educadores e cientistas sociais quando examina minuciosamente “como os cientistas sociais devem encarar sua participação e responsabilidade nos projetos de reconstrução do sistema educacional brasileiro”. Para ele, o homem se constitui como ser social no mesmo processo por meio do qual constitui sua sociabilidade, sua forma de organização concreta. “Existir” socialmente significa, para o sociólogo, compartilhar condições e situações, desenvolver atividades e reações, praticar ações e relações que são interdependentes e se influenciam reciprocamente. Em 1966, Florestan publica Educação e sociedade no Brasil, um volume de 644 páginas em que reúne estudos sobre questões educacionais produzi-os entre 1946 e 1962. Os textos relacionados à educação e que cobrem principalmente o período da década de 1980 foram reunidos no livro O desafio educacional, publicado em 1989. No prefácio o autor afirma: CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 33 Este livro reúne artigos que apanham aspectos da erupção de um vulcão que parecia extinto. A mensagem do autor aparece, aqui e ali, como proposta de esclarecimento de processos interrompidos de mudança educacional. (...) Artigos de jornal ou de revista, textos de conferências, entrevistas e ensaios revelam o publicista que se empenha em debates ou em pugnas que clamam por uma revolução educacional. (FERNANDES, 1989:9-10) Texto obrigatório para leitura: A Sociologia de Florestan Fernandes http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141996000100006. Acessado em maio de 2008. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141996000100006 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141996000100006 CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 34 Resumo Unidade III A unidade III voltou-se às questões sociais e fez uma breve apresentação dos principais pontos que devemos tratar no Ensino Médio e que estão presentes em nosso cotidiano. Procure sempre usar recursos visuais, filmes e músicas que ilustrem um determinado conceito. Como dica filmes de produção nacional como Orfeu e Cidade de Deus que ilustram os temas discutidos. Referências Bilbiográficas LAKATOS, Eva Maria. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1990. SANTOS, Boaventura: O Social e o Político na Transição Pós-moderna. São Paulo: Cortez, 1988. __________________. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1995. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 35 Aula 11_Estratificação social Estudaremos as diversas formas de estratificação social e a existência ou não de mobilidade social. O conceito de estratificação social está relacionado à existência de segmentos organizados de indivíduos que ocupam posições diferentes dentro de uma determinada estrutura social. Por isso refere-se à forma de organização por meio da divisão da sociedade em estratosou camadas sociais distintas, de acordo com algum tipo de critério estabelecido. São três os principais tipos de estratificação social: 1. Estratificação econômica:- a referência é a posse de bens; 2. Estratificação política: baseada no poder de mando; 3. Estratificação profissional: a importância está na profissão exercida na sociedade e o valor dado a ela. Estes fatores não são considerados de forma isolada, pelo contrário eles estão interligados. Outros tipos de classificação clássica de formas de estratificação são: As sociedades divididas em castas – Antiguidade e Índia A sociedade estamental – Feudalismo – Europa Sociedade de classes – sistema industrial - capitalista Segundo Marx, a desigualdade social pode ser compreendida através do conceito classe. Para este autor, a organização social é marcada pelo trabalho, pois através dele se produzem os meios de subsistência. Ora a organização social da produção econômica “envolve a tecnologia, a divisão do trabalho e, acima de tudo, a propriedade ou não propriedade dos meios de produção e/ou controle.” (Pires, Fernandes, Formosinho, 1991, p. 42). A classe é, pois, o conjunto de agregado de pessoas que se encontram na mesma situação em relação aos meios de produção. O conflito, ou luta de classes, é marcado pela tensão existente entre as classes que possuem os meios de produção e os controlam e as classes que não possuem. Apesar do conceito de classe passar também pela dimensão política é, contudo, a relação com o poder econômico que determina a situação da classe. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 36 Max Weber apresenta uma perspectiva mais complexa sobre a estratificação social. Segundo Weber, a classe (poder econômico), o status (prestígio social), e o poder (poder político) são as três fontes de desigualdade social. Tal como Marx, Weber considera que o conceito de classe é caracterizado pelo poder econômico, embora Weber expresse o poder econômico em termos de riqueza e de rendimento. O status, ou prestígio social, é outra dimensão da desigualdade social, compreendendo modos de comportamento social ou estilos de vida. Finalmente, a terceira dimensão da desigualdade social tem a ver com o poder. O poder significa a oportunidade de um homem ou vários poderem realizar a sua própria ação comum, mesmo contra a vontade de outros. Weber não considera que o sistema de valores comum e o patrimônio cultural sejam aceitos por todos os membros da sociedade de uma forma natural e consensual. Para este autor, esse patrimônio e sistema de valores comum são os da elite dominante que detém o poder. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 37 Aula 12_Mobilidade social. Com o conceito de estratificação social claro para você, iremos conceituar mobilidade social e depois relacionar os dois conceitos para compor o conhecimento sobre as questões sociais. Para Sorokin, mobilidade social é toda a passagem de um indivíduo ou de um grupo de uma posição social para outra, dentro de uma constelação de grupos e de estratos sociais. Por mobilidade cultural, entende-se um deslocamento similar de significados, normas, valores e vínculos. (Sorokin) A mobilidade social pode ser ascendente e descendente. A primeira, quando a pessoa melhora sua posição no sistema de estratificação social e passa a integrar um grupo de situação superior à de seu grupo de origem. Descendente é ao contrário, quando a pessoa piora sua posição social. Pode ocorrer mudança de posição social dentro de um mesmo grupo, esse movimento é chamado de mobilidade social horizontal, um exemplo deste fenômeno é a mudança de partido político ou de religião. A mobilidade social vertical ascendente é uma subida social, e a queda social é chamada de mobilidade social vertical descendente. A ascensão social depende muito da origem de classe de cada indivíduo. Uma pessoa que nasceu em uma camada social privilegiada tem mais possibilidade de ascender e se sair melhor do que aqueles que nasceram em camadas inferiores. A oportunidade de cursar uma Universidade, fazer cursos de línguas, viajar etc. fazem com que o capital cultural das camadas superiores seja sempre maior. No site do IBGE, temos algumas tabelas que mostram a mobilidade social em nosso país tendo como referência a educação e a ocupação. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mobilidade_social/defa ult.shtm, acesso em maio de 2008. Existem diferentes conceitos de mobilidade social, temos o que considera a movimentação das pessoas pelas classes sociais, enquanto há outro que prioriza o impacto dos benefícios coletivos ao longo dos anos na melhoria da qualidade de vida de uma sociedade, tais como as iniciativas nas áreas da educação e da saúde, também conhecido como mobilidade coletiva. Partindo dessa concepção, http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mobilidade_social/default.shtm http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mobilidade_social/default.shtm CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 38 recentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou uma pesquisa em que o Brasil aparece como o país onde, coletivamente, as pessoas mais melhoraram de vida nos últimos 28 anos. Para chegar a esse resultado, a pesquisa considerou a taxa de analfabetismo, a taxa de matrícula no ensino fundamental, a longevidade da população, o produto interno bruto (PIB) e a renda per capita dos países. Na revista do Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos¹, há um artigo que associa a mobilidade social à questão da etnia e mostra como os negros têm dificuldade de ascender socialmente em nosso país. ¹http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2524&It emid=1 http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2524&Itemid=1 http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2524&Itemid=1 CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 39 Aula 13_Papéis sociais. Partindo do princípio que a sociedade é um conjunto de posições sociais (como a posição de médico, de professor, de aluno, de filho, de pai), todas as expectativas de comportamento estabelecidas pelo conjunto social para os ocupantes das diferentes posições sociais determinam o chamado papel prescrito. Assim, sabemos o que esperar de alguém que ocupa determinada posição. Os papéis sociais permitem-nos compreender a situação social, pois são referências para a nossa percepção do outro, ao mesmo tempo em que são referências para o nosso próprio comportamento. Se no encontro social nos apresentamos como ocupantes da posição de professores ou autores de um livro, sabemos como nos comportar, porque aprendemos no decorrer de nossa socialização o que está prescrito para os ocupantes dessas posições. Se formos convidados a proferir uma palestra na sua escola, não iremos vestidos como se estivéssemos indo para o clube. Os diferentes papéis sociais e a nossa enorme plasticidade como seres humanos permitem que nos adaptemos às diferentes situações sociais e que sejamos capazes de nos comportar diferentemente em cada uma delas. Aprender os nossos papéis sociais é, na realidade, aprender o conjunto de rituais que nossa sociedade criou. O papel social de gênero é um conjunto de comportamentos associados com masculinidade e feminilidade, em um grupo ou sistema social. Todas as sociedades conhecidas possuem um sistema sexo/gênero, ainda que os componentes e funcionamento deste sistema variem bastante de sociedade para sociedade. A maioria dos pesquisadores reconhece queo comportamento dos indivíduos é uma consequência das regras e valores sociais, e da disposição individual, seja inconsciente, ou consciente. Alguns pesquisadores enfatizam o sistema social e outros enfatizam orientações subjetivas e disposições. Com o passar do tempo mudanças ocorrem sobre regras e valores. Entretanto todos os cientistas sociais reconhecem que culturas e sociedades são dinâmicas e mudam. Debates em como e o quão rápido estas mudanças ocorrem são, especialmente, intensos quando envolvem o sistema sexo/gênero, já que as CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 40 pessoas possuem uma gama de visões diferentes sobre o quanto o gênero depende do sexo biológico. Leitura obrigatória: UNESCO e INEP lançam pesquisa sobre relações raciais nas escolas. http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/unesco_inep_rel_raciais_esco-las.htm – Acessado em maio de 2008. http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/unesco_inep_rel_raciais_escolas.htm http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/unesco_inep_rel_raciais_escolas.htm CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 41 Aula 14_ Classes sociais e desigualdade social. A classe social é todo grupo de pessoas que apresenta uma mesma situação com relação aos elementos da produção. A sociedade capitalista é dividida basicamente em dois grupos: proprietários dos meios de produção, e não proprietários dos meios de produção, constituído por aqueles que vendem sua força de trabalho para os proprietários. Para Marx, o motor da História é a sucessão da luta de classes, de forma que sempre que uma classe dominada passa a assumir o papel de classe dominante, surge em seu lugar uma nova classe dominada, e aquela impõe a sua estrutura social mais adequada para a perpetuação da exploração. A classe dominante, que controla direta ou indiretamente o Estado e as classes dominadas por ela, são reproduzidas inexoravelmente por uma estrutura social implantada pela classe dominante. Temos no Brasil “os sem terra” grupo de pessoas que pertencem à mesma classe social, estão na pirâmide social na base e todos foram expropriados da propriedade da terra e por isso teriam que vender sua força de trabalho para o latifundiário. O grupo se organizou e, com uma ação política, luta para a posse das terras para poder plantar. Este é um exemplo típico de classes social do capitalismo brasileiro. Essa diferença nos leva ao conceito de desigualdade social, conceito que foi construído na modernidade quando os cientistas tiveram que justificar as novas formas sociais. Na sociedade da antiguidade e média, essas diferenças eram vistas como naturais e não um problema social. Apesar do avanço teórico e jurídico quanto às justificativas para a desigualdade social, ainda hoje é comum virmos a desigualdade ser tratada como fracasso individual, incompetência e falta de adaptação ao sistema. Isso isenta as autoridades e as classes sociais que provocaram tal situação de qualquer responsabilidade. De acordo com o coeficiente de Gini, parâmetro internacionalmente usado para medir a concentração de renda, no Brasil 46,9% da renda nacional concentra- se nas mãos dos 10% mais ricos. Já os 10% mais pobres ficam com apenas 0,7% CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 42 da renda. Na Guatemala, por exemplo, os 10% mais ricos ficam com 48,3% da renda nacional, enquanto na Namíbia, o país com o pior coeficiente de desigualdade, os 10% mais ricos ficam com 64,5% da renda. Vocês têm um texto para leitura da Folha on line de novembro de 2006 que relaciona a educação com o Índice de Desenvolvimento Humano que mede (IDH). É uma medida comparativa de pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros fatores para os diversos países do mundo. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população, especialmente bem-estar infantil. Site Texto para complementação do tema: Baixo desempenho em educação atrapalha desenvolvimento humano do Brasil http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u58484.shtml. Acessado em maio de 2008. http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u58484.shtml CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 43 Resumo Unidade IV A unidade IV se deteve no estudo sobre as instituições que envolvem o nosso cotidiano e estão presentes na vida de nossos alunos. Pesquisar os conceitos de cada uma delas em olhares diferentes e levantar o conhecimento prévio dos alunos sobre cada um destes assuntos foi uma forma de começar os estudos. Exemplos e problemas, com certeza, emergiram nas aulas, pois as instituições aqui estudadas são causas de conflito da adolescência. Referências bibliográficas GUSMÃO, Paulo Dourado de. Manual de Sociologia. Rio de Janeiro: Forense, 1967. GRARESCHI, Pedro. Sociologia crítica: alternativas de mudança. Porto Alegre: Mundo Jovem, 1984. LAKATOS, Eva Maria. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1990. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1982. ________. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1978. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 44 Aula 15_O processo de Socialização e as Instituições Sociais. O processo de socialização possibilita compreender as diferentes formas de organização social. Esse processo e a interação com as instituições sociais constroem o comportamento de um determinado grupo. A vida em sociedade exige que seus membros conheçam e internalizem as expectativas de comportamentos estabelecidos por valores, regras e normas nela presentes, o que se dá fundamentalmente por meio das instituições sociais vinculadas a contextos econômicos, políticos e culturais. De fato, as instituições sociais devem ser estudadas em sua constante dinâmica, sempre conflituosa, e em suas diversas faces – sejam essas conservadoras, ou quando apontam para práticas revolucionárias. A importância do estudo das instituições sociais na disciplina de Sociologia tem como funções principais: Contribuir para a mudança de atitudes a fim de que se ampliem as condições de cidadania dos estudantes; Contribuir para o desenvolvimento de um pensamento analítico, livre de noções preconceituosas e deterministas, acerca das relações sociais. A instituição social pode ser definida como um conjunto de regras e procedimentos padronizados e mutáveis, aceitos pela sociedade. São modo de pensar, agir e sentir que encontramos preestabelecidos, e sua mudança é lenta e conflituosa. As instituições não existem isoladas umas das outras; ao contrário, formam uma relação de interdependência mútua, o que dificulta ainda mais as mudanças, pois uma mudança pode acarretar um efeito dominó nas outras instituições. As instituições sociais surgem de uma necessidade da sociedade. A partir desta necessidade ela cumpre o papel de servir de instrumento de regulação e controle das atividades do homem. As principais instituições sociais são: Instituição familiar Instituição escolar Instituição religiosa Vamos analisar cada uma delas nas próximas aulas. CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 45 Aula 16_ Instituição familiar. É quase consenso entre os pesquisadores que a família é a matriz primordial da organização da sociedade. É um grupo organizado no qual seus membros assumem um conjunto definido de posições mútuas que definem suas interações em obediência a padrões de comportamentos definidos e motivados poratitudes e comportamentos recíprocos. (Gusmão, 1967) Para Guareschi (1984), a família é fonte geradora de relações de dominação, formando indivíduos com base em relações autoritárias e reprodutoras do sistema, de forma que, sem se dar conta, as pessoas passariam a viver como se o único contexto possível fosse o da manutenção dessas relações de dominação, que seriam, por sua vez, automaticamente transportadas para todos os outros ambientes e instâncias de interação individual e coletiva. Com a globalização ou mesmo antes com a inserção da mulher no mundo do trabalho a família sofreu mudanças em sua estrutura e valores. Boaventura Santos analisa a instituição família como espaço - tempo doméstico que são, para o autor, as relações familiares entre cônjuges e pais e filhos e a posição na qual as mulheres vêm sendo colocadas e que se relacionam a questões econômicas de ordem mundial. A mulher no mercado de trabalho rompe com a relação de dominação patriarcal doméstica, característica de nossa sociedade, mas passa a sofrer outros tipos de consequências no âmbito das relações produtivas como assédio sexual, discriminação sexual. A família neste momento encontra-se em fogo cruzado pelos meios de comunicação de massa e pelo consumismo, ou seja, a sociedade da informação está modificando radicalmente as relações familiares pautadas anteriormente em valores religiosos e de tradição. Neste contexto de transformação, a escola sofre as consequências desta mudança no espaço - tempo doméstico, pois, assim como a família, ela também resiste às mudanças e não aceita essas novas formas organização familiar. Boaventura também aponta para uma mudança no ambiente familiar provocada pela revolução tecnológica que mudou o espaço de trabalho. Muitos homens que trabalhavam no escritório passaram a trabalhar em asa devido às CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 46 facilidades da rede de comunicação, Internet, e passam a interagir mais com família. Também na Europa e América do Norte as famílias estão optando por educar seus filhos em casa e abrem mão do espaço escolar. Não podemos ser ingênuos em não encontrar relação entre as mudanças que a Globalização e a revolução da tecnologia de informação e comunicação trouxeram para todas as esferas sociais e não refletir de que forma isso atingiu a família.Temos de levantar algumas questões como educadores, tais como: até que ponto a família influencia na formação do jovem do século XXI? Que funções ela exerce hoje? Mudaram essas funções? Como uma família de casal homossexual será tratada na escola? Esperamos que você faça estas discussões com seus alunos! Leitura obrigatória: Fim da família? http://www.multiciencia.unicamp.br/r01_6.htm acessado em maio de 2008. http://www.multiciencia.unicamp.br/r01_6.htm CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 47 Aula 17_ Instituição escolar. Se a instituição família é a primeira na organização social, a escola é vista como a transmissora das normas e condutas transmitidas pela família e agora reforçadas e trabalhadas pela escola. A escola não é vista socialmente como uma instituição autônoma, isso porque ela é o canal de ação para reforçar normas e costumes já estabelecidos e também tem a função de incutir os novos valores quando isso é de interesse para se fazer mudanças. Essa função da escola mostra que ela está condicionada a ser manipulada e manipuladora. Para Durkheim, o ato educativo se dá por meio de uma ação exercida pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social. A escola faz parte da superestrutura e foi criada para reproduzir e reforçar as relações hegemônicas para perpetuar o grupo que está no poder. Apesar das teorias inovadoras, como as contribuições de pesquisadores como Paulo Freire, pouco percebemos de mudanças positivas no espaço da escola. As discussões sobre educação hoje passam para a real necessidade de uma formação humana, e a Sociologia, no Ensino Médio, mostra que algumas iniciativas nesta direção estão sendo tomadas. A educação tecnicista pautada na reprodução de informações prontas está sendo questionada de forma mais consistente, e a procura por escolas com uma concepção pedagógica concretamente voltada para a formação do indivíduo autônomo, criativo e sensível está crescendo. Procure, em suas aulas, pesquisar com os alunos a instituição escolar e sua origem histórica, suas diferentes teorias ou olhares construídos sobre a instituição escolar, distintos modelos escolares presentes em sociedades diversas. Também poderão ser orientadas análises sobre a importância e o papel da escola e de seus atores – professores, alunos, funcionários e direção – nas sociedades atuais. Acesse o site: http://www.tvebrasil.com.br/salto/, acessado em maio de 2008, e selecione o texto com o título: Ensino médio: entre jovens e estudantes. http://www.tvebrasil.com.br/salto/ CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 48 Aula 18_Instituição religiosa. Vamos entrar em um assunto muito delicado e que merece cuidado ao ser tratado em qualquer espaço. Numa sociedade multicultural como a nossa, mas marcada pela predominância do cristianismo em nossa cultura, discutir religião é sempre complexo. A importância é deixar claro que estaremos estudando os aspectos religiosos com o olhar do sociólogo e, por isso, trataremos das implicações das Instituições religiosas e a sua dimensão do Sagrado e de representação coletiva do mundo. Para iniciar nossos estudos, cito frases historicamente clássicas para provocar discussões. Marx classificava a religião como “a religião é o ópio do povo”; Lakatos, que segue a linha de Durkheim, definia a religião como “um sistema unificado de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, isto é, a coisas colocadas à parte e proibidas – crenças e práticas que unem numa comunidade moral única todos os que as adotam”. Os estudos a respeito da religião sofreram algumas mudanças nestes últimos anos. A princípio, a religião estava vinculada somente ao sagrado, mas, recentemente, a religião é estudada fora desta dimensão, e para entender esse método de análise vamos ter como referência a reflexão de Steiner. (1996:53-63) Ele faz uma análise histórica da representação da religião da antiguidade aos dias de hoje. Alguns milênios atrás, as experiências anímicas espirituais eram instintivas. Em seu estado de vigília, o homem vivia repleto de imagens oníricas, de imaginação. E, do íntimo dessa humanidade primitiva, ascenderam aquelas imaginações oníricas, que, mais tarde, assumiram a formar lendas, mitos, sagas de deuses. O homem vivia nessas imaginações. De um lado, ele observava o mundo, de outro, vivenciava as imaginações oníricas. Para a humanidade primitiva, a natureza parecia um mundo universal que tinha perdido sua espiritualidade divina. E assim, ao contrário dos nossos dias, o homem necessitava de uma consolação que lhe ensinasse a relação entre esse mundo sensorial decaído e aquele outro, espiritual, que ele estava acostumado a CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 49 vivenciar através de imaginações instintivas, meio apagadas, mas ainda suficientes para aquela época. Nos Mistérios, os velhos sábios reuniam as funções de sacerdote, mestre e artista e explicavam aos homens, por meio do conteúdo dos mistérios, que as mesmas forças divino-espirituais encontradas nas imaginações instintivas interiores estavam presentes também naquele mundo aparentemente decaído. Trouxeram aos homens angustiados uma reconciliação do mundo abandonado pelos deuses com o mundo divino que estes percebiam em suas imaginações
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