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48 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Unidade II 5 10 15 20 4 SiStema tributário braSileiro Objetivos do módulo Entende-se por sistema tributário o complexo orgânico formado pelos tributos instituídos em um país ou região autônoma e os princípios e normas que os regem. Podemos concluir, então, que o Sistema Tributário Brasileiro é composto dos tributos instituídos no Brasil, dos princípios e das normas que regulam tais tributos. Entretanto, cabe aqui contextualizarmos os principais conceitos do sistema tributário que norteiam o Estado brasileiro e suas principais características. 4.1 os tributos no brasil O Sistema Tributário Brasileiro é composto pelos tributos instituídos no Brasil, e pelos princípios e normas que regulam tais tributos. No Brasil, adota-se o princípio da estruturalidade orgânica do tributo, pelo qual a espécie tributária é determinada pelo seu fato gerador. Para estruturar este modelo, necessitamos entender a distribuição da renda, como segue abaixo: • funcional, que é a quantidade da renda privada que assumirá a forma de salários, lucros, juros e aluguéis; • pessoal, que é o percentual da renda (%Y) que ficará com cada percentil da população; 49 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 • regional, que prioriza a forma como se distribuem os recursos orçamentários entre as Unidades Federativas (UF) e municípios; • pública e privada, onde o Estado tributa o setor privado, para definirmos qual parte será a pertencente ao governo; • federal, isto é, como e com qual grandeza a arrecadação tributária será pactuada entre a União, os estados e os municípios. 4.1.1 Dados históricos O Plano de Metas, implantado a partir de 1957, representou o primeiro grande esforço de planejamento pró-industrialização do país. O plano priorizava o aprofundamento da estrutura industrial e a construção da infraestrutura necessária para tal objetivo. Ao Estado caberiam os investimentos no setor de energia/transporte e em algumas atividades industriais básicas como siderurgia e refino de petróleo, além dos incentivos aos investimentos privados para a expansão e diversificação da indústria de transformação, com ênfase nos setores produtores de insumos básicos e de bens de capital. Com tal processo de industrialização e ampliação de setores fundamentais da economia brasileira como a agricultura e o comércio, além da ampliação e ganho de importância do setor de serviços, a economia interna foi sendo dinamizada e, junto a ela, houve uma explosão demográfica nos centros industriais, incrementando uma onda de novas necessidades sociais nas áreas da educação, saúde, habitação e segurança. Simplificando, o Estado teve a obrigação de expandir-se e aparelhar-se para receber estas novas funções de cidadania. Portanto, a reforma tributária nos anos 1960 buscava aumentar a receita do Estado em face desta nova realidade, e, diante de tal complexidade, solucionar o problema do 5 10 15 20 25 30 50 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 déficit fiscal gerado por esta onda de crescimento que não mostrava sinais de arrefecimento. Ainda que estivesse em um plano inferior, tal reforma deveria, se a arrecadação proporcionasse, possibilitar a continuidade de estímulo ao crescimento econômico interno. A reformulação do Sistema Tributário Brasileiro foi estabelecida em cinco níveis, sendo quatro categorias de impostos e um meio de receita extra: • Tributação sobre o comércio exterior: a tributação estadual passou para a esfera federal devido ao seu caráter de política econômica (Macro). • Tributação sobre o patrimônio e a renda: o somatório do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) como municipal,io Imposto de Transferência de Bens Imóveis (ITBI) como estadual, o Imposto Territorial Rural (ITR) e o Imposto de Renda (IR) como federais. • Tributação sobre a produção e a circulação: além do IPI e do ICMS, o Imposto sobre Serviço de Transportes e Comunicação (ISTC) e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), ambos federais, e o Imposto sobre Serviços (ISS), que é municipal, todos em substituição aos impostos sobre indústrias e profissões. • Impostos únicos: Imposto sobre Energia Elétrica (IUEE), sobre combustíveis e lubrificantes (IUCL) e sobre minerais (IUM), todos federais. • Receitas extraorçamentárias: criação de fundos para implantar ações pontuais, como as contribuições do empregador para o FGTS e as contribuições para a Previdência Social. Impostos são tributos cobrados, cujo valor arrecadado não tem um fim específico. São tributos cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade 5 10 15 20 25 30 51 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 estatal específica, relativa ao contribuinte. Os impostos se caracterizam por serem de cobrança e não darem um retorno ao contribuinte sobre o fato gerador. Por exemplo, um imposto sobre posse de automóvel não necessariamente será revertido em melhorias das condições das vias urbanas ou rodovias. Existe uma distinção entre impostos indiretos e impostos diretos. Este é pago diretamente pelo contribuinte (o Imposto de Renda, por exemplo), enquanto aquele tem o preço embutido no valor da transação. Um exemplo é o ICMS. Impostos indiretos também não têm qualquer variação na renda do contribuinte. Impostos gerais são aqueles que incidem amplamente sobre determinado conjunto de transações. Especiais são impostos cobrados sobre a compra e a venda de determinado bem ou serviço. A estrutura da alíquota classifica os impostos gerais em uniformes ou seletivos. Uniformes apresentam alíquotas únicas e seletivos são aqueles que diferenciam a alíquota do imposto conforme a natureza do produto. Os impostos especiais, por sua natureza, são seletivos. Taxas são tributos para manutenção do funcionamento de um serviço dirigido a uma comunidade de indivíduos. As taxas são tributos incidentes sobre um fato gerador e que são aplicados em contrapartida a esse fato gerador. Uma taxa só pode ser instituída por uma entidade tributante da mesma competência. Por exemplo: taxas sobre iluminação pública só podem ser cobradas pelos municípios. Não necessariamente o pagante da taxa vai usar o serviço, apenas terá o serviço à disposição. Contribuições são tributos cujos recursos devem ser legalmente destinados a finalidades preestabelecidas. Contribuições de melhoria são tributos que têm como fato gerador o benefício decorrente das obras públicas. São cobradas somente na região beneficiada pela obra. Não necessariamente essas contribuições refletem 5 10 15 20 25 30 52 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 em “melhoria”, uma vez que algumas obras públicas em determinadas regiões tendem a desvalorizar os imóveis locais. O fundamental para o fato gerador é o benefício decorrente da obra pública. Contribuições especiais estão previstas nos artigos 149 e 149-A da Constituição Federal, sendo tributos cuja característica principal é a finalidade para a qual é destinada sua arrecadação. Podem ser: sociais, de intervenção no domínio econômico, de interesse de categorias econômicas ou profissionais e para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (COSIP). Empréstimocompulsório segundo o art. 148 da Constituição Federal, a União poderá instituir, mediante lei complementar, empréstimos compulsórios: • para atender às despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; • no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional. Uma crítica constante aos impostos “em cascata” ou “cumulativos” são a consequente inibição à integração vertical da produção e à perda de competitividade em termos internacionais. Em face disto, grande importância tem sido dada ao Imposto sobre o Valor Adicionado (IVA) em diversas economias do planeta. Suas principais vantagens são a neutralidade e a dificuldade de sonegação por concentrar a tributação no atacado, dentre outras. Todavia, tal imposto permaneceria infringindo o conceito da progressividade, como faz o atual ICMS. Existem vários tipos de impostos sobre vendas de mercadoria e serviços. Estes se diferenciam devido à amplitude de sua base, ao estágio do processo de produção e comercialização onde o tributo incide e à forma de apuração da base de cálculo do imposto. 5 10 15 20 25 30 53 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 O Imposto sobre Valor Agregado (IVA) tributa apenas o valor adicionado em cada estágio da produção. Existe uma equivalência entre o IVA e o Imposto sobre Vendas a Varejo (IVV). Um imposto pode ser cobrado “por dentro” ou “por fora”. O cálculo do imposto “por dentro” inclui o imposto na base tributária do valor do mesmo, enquanto o cálculo “por fora” exclui o imposto da fórmula. IVA e IVV “por fora” IVA IVV Estágio 1 Valor adicionado pela firma A 100,00 100,00 Imposto recolhido por A 10,00 0,00 Preço de venda da firma A 110,00 100,00 Estágio 2 Valor adicionado pela firma B 50,00 50,00 Imposto recolhido por B 5,00 15,00 Preço de venda da firma B 165,00 165,00 Total de imposto recolhido 15,00 15,00 Fonte: Elaborado pelo autor (2009). IVA e IVV “por dentro” IVA IVV Estágio 1 Valor adicionado pela firma A 100,00 100,00 Imposto recolhido por A 11,11 0,00 Preço de venda da firma A 111,11 100,00 Estágio 2 Valor adicionado pela firma B 50,00 50,00 Imposto recolhido por B 5,55 16,66 Preço de venda da firma B 166,66 166,66 Total de imposto recolhido 16,66 16,66 Fonte: Elaborado pelo autor (2009). 5 54 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 4.2 Carga tributária brasileira A carga tributária representa a soma de todos os impostos cobrados pelas diferentes esferas públicas, municipal, estadual e federal, sobre a renda nacional ou sobre o Produto Interno Bruto (PIB). Nos anos 1950, a carga tributária média era de aproximadamente 18,7%; nos anos 1960, era 25%; e, nos anos 1980, era 26,5%. Já no período de 1990 em diante, a carga tributária passou a subir para 29%, até alcançar, no ano de 2006, o valor de 34,12% do PIB nacional. Carga tributária no Brasil (% do PIB) 1971 25.2 1981 25.2 1991 24.4 2001 1972 25.9 1982 26.2 1992 25.0 2002 1973 25.6 1983 26.9 1993 25.3 2003 1974 25.1 1984 24.2 1994 27.9 2004 1975 25.2 1985 23.8 1995 28.0 2005 1976 25.1 1986 26.5 1996 28.6 2006 1977 25.6 1987 24.3 1997 28.9 1978 25.7 1988 23.4 1998 28.9 1979 24.7 1989 23.7 1999 29.5 1980 24.4 1990 29.6 2000 33.0 Fonte: Receita Federal e IBPT Fonte: Receita Federal (2006). Historicamente, o setor público brasileiro apresenta necessidades de financiamento positivas (déficits nominais). O setor público pode-se financiar (i) domesticamente, por meio de dívida mobiliária, de dívida bancária ou da base monetária (que é um passivo do Banco Central), entre outras formas; (ii) externamente, via empréstimos; e (iii) pela redução de seus ativos. 5 10 15 55 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Em 2006, até junho, fontes domésticas financiaram integralmente as necessidades de financiamento do setor público, havendo em contrapartida uma queda do financiamento externo. Composição da receita tributária (% PIB) Discriminação da receita federal 1991 2006 Variação % Imposto Importação 0,42 0,43 2,4 IPI 2,16 1,21 –44,0 IR 3,39 5,92 74,6 PF 0,16 0,37 131,3 PJ 0,84 2,42 188,1 Retido na fonte 2,39 3,13 31,0 Rendimento trabalho 1,53 1,69 10,5 Rendimento capital 0,55 0,92 67,3 Outros rendimentos 0,31 0,52 67,7 IPMF/CPMF 0 1,38 * IOF 0,59 0,29 –50,8 COFINS 1,31 3,98 203,8 PIS/PASEP 1,06 1,05 –0,9 CSLL 0,28 1,21 332,1 CIDE – combustíveis 0 0,34 * Outras receitas 0,86 1,09 26,7 Total de receitas administradas * 10,07 16,9 67,8 Receita INSS 4,59 5,32 15,9 ICMS Brasil 6,73 7,39 9,8 Fonte: Giambiagi, 2001. 4.3 Distribuição por nível de governo Desde o final dos anos 1970 e início dos anos 1980 tem-se verificado no Brasil uma descentralização de recursos e de poder. Este tópico focaliza a complexidade do sistema tributário, da repartição de receita e da execução de gastos, objetivando acomodar uma multiplicidade de demandas. 5 10 56 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 As razões da descentralização decorrem de fatores: • econômicos; • culturais, políticos e institucionais; • geográficos. A receita do governo é objeto de várias discussões, tanto na questão da carga tributária como em pontos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A receita do governo está dividida em Receita Tributária Bruta (RTB) e Receita Tributária Disponível (RTD); para a União e as unidades federativas, a RTB é maior que a RTD, e para os municípios, a RTB é menor que a RTD, devido a receber repasses orçamentários das duas outras esferas. No caso dos municípios, há uma questão bem particular, pois na sua cesta de arrecadação, o IPTU responde por 25% de suas receitas, sem as transferências federais e estaduais. Os impostos que são federais (IR, IPI, importação e IOF), os impostos estaduais (ICMS, IPVA, energia elétrica, entre outros) e os impostos municipais (ISS e IPTU) perfazem a grande cesta tributária brasileira. Do total arrecadado, estados, municípios e União trocam repasses que são conhecidos tecnicamente como Fundo de Participação Estadual (FPE) e Fundo de Participação Municipal (FPM). No que diz respeito à extrema centralização do sistema, vale ressaltar a perda de autonomia dos estados e municípios, não apenas no que diz respeito à queda do volume de recursos transferidos pela União, mas também à imposição de vinculações desses recursos e à interferência na geração e normatização dos recursos próprios destes governos. O pequeno raio de manobra quanto a ganhos de eficiência na arrecadação de tributos próprios, assim como a pouca flexibilidade na formulação das despesas trouxe grande dependência dessas unidades em relação às transferências federais (Giambiagi, 2001). 5 10 15 20 25 30 57 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Principais impostos e participação por esferas de governo (%) Esferas de governo Antes da Constituição de 1988 Depois da Constituição de 1988 Federal Estadual Municipal Federal Estadual Municipal A. Federal Imposto de Renda 67 16 17 53 24,5 22,5 IPI 67 16 17 43 32 25 Imposto de Importação 100 100 IOF 100 100 B. Estadual ICMS 80 20 75 IUEE 30 50 20 IUCL 40 40 20 IUM 10 70 20IUST 30 50 20 IUSC 100 IPVA 50 50 50 50 ITBI 50 50 100 IR Adicional 100 C. Municipal ISS 100 100 IPTU 100 100 Fonte: Elaborado pelo autor (2009). Na década de 1960, em plena ditadura militar, o governo federal que já havia proposto uma reforma como mencionado anteriormente no texto, ampliou ainda mais sua arrecadação com o isolamento financeiro dos estados e municípios. E este isolamento se deu pela redução dos repasses aos fundos estaduais e municipais. Entretanto, no final de os anos 1970, os repasses voltaram a ser ampliados de 6% para 9% por conta da crise internacional e da asfixia dos estados e municípios, chegando em 1983 a 13,5% e, finalmente, em 1985 aos 16%. 5 10 58 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 A perda de recursos disponíveis da União, decorrente da expansão das transferências, bem como da eliminação de cinco impostos, cujas bases foram incorporadas à do ICM dando origem ao ICMS, requereria ajustes, o mais óbvio dos quais – e compatível com o objetivo de fortalecer a Federação – era a descentralização de encargos. A Constituição de 1988, entretanto, não previu os meios legais e financeiros, para que se desenvolvesse um processo ordenado de descentralização de encargos. Além disso, a seguridade social e a educação, áreas de atuação governamental onde há maior volume de atividades descentralizáveis, foram contempladas com garantia de disponibilidade de recursos no nível federal (Giambiagi, 2001). 4.4 Problemas e desafios do modelo brasileiro O nível de taxação no Brasil é alto e representa um ônus para um país de renda média. Em comparação com países desenvolvidos, a carga tributária brasileira em percentual do PIB estaria em um nível intermediário. Já em relação a países subdesenvolvidos, o Brasil está entre os que têm maior carga tributária, sendo expressivamente superior aos demais países da América Latina. No sentido de progressividade, seria suposto que a carga tributária fosse maior em países de renda mais alta e vice-versa. Desta forma, considerando a renda per capita brasileira, a pressão tributária é enorme. O problema no Brasil não é a questão de sua carga tributária ser elevada (34,1% em 2006), mas sim o não retorno dessa cobrança nas formas de bons sistemas de saúde, educação, segurança, entre outros, pois, na Suécia, conforme Giambiagi (2001), a carga tributária chega a 51,4% do PIB, entretanto, esse país consegue levar para a população os benefícios econômicos e sociais que justificam esse percentual cobrado. Ao olhar os casos internacionais, percebe-se que há sistemas tributários cuja maior base de arrecadação é a renda, 5 10 15 20 25 30 59 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 como nos EUA e no Japão. Sendo assim, temos que olhar três pontos no sistema tributário para verificar a sua eficiência: • taxação sobre a produção, a circulação e a renda; • baixa equidade com a cobrança de impostos regressivos; • competitividade. Competitividade No Brasil existe grande presença de tributos cumulativos não passíveis de desoneração plena. Portanto, os preços ficam inchados. As elevadas contribuições sobre folha salarial aumentam o custo para as empresas, e mesmo o IPI e o ICMS, que incidem sobre o valor agregado, possuem problemas devido à enorme complexidade da legislação atual. Exemplos: IPMF/CPMF, IOF, COFINS, PIS/PASEP, CSLL, INSS, ISS. Todavia, a União tem demonstrado preferência por tributos de fácil arrecadação e não sujeitos à partilha, contrariamente a muitos países nos quais os impostos são cobrados sobre o valor agregado. Portanto, os produtos brasileiros perdem competitividade tanto no mercado externo como interno. Internamente, os produtos tornam-se caros frente aos importados. E no mercado externo, o mesmo produto enfrenta a concorrência de produtos sem essa carga tributária. Essa figura contrasta com as necessidades impostas pela abertura econômica. Observação: o problema foi a falta de articulação entre os recursos arrecadados e as despesas com os encargos, resultando na deterioração da tributação, bem como dos serviços públicos. 5 10 15 20 60 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Reforma A reforma tributária que consiste em modificar o sistema tributário existente sempre deve ter um objetivo de melhoria, seja para aumentar a carga tributária para prestar serviços melhores, seja para melhorar a qualidade da tributação. Como visto no item anterior, a carga tributária no Brasil é bastante alta, o que deve retirar da pauta a elevação da carga existente. Segundo Giambiagi e Além (2001), a reforma, então, deveria se pautar pela melhoria da qualidade do sistema atual, o que pode ser entendido como a busca de melhorar a equidade, a progressividade, a neutralidade e a simplicidade. Sendo assim, o objetivo seria corrigir os problemas do sistema atual, citados no item anterior, sendo que para fazer isso a proposta deve buscar: • adaptar-se às tendências tributárias internacionais; • simplificar o sistema de impostos, substituindo a variedade de bases tributárias por um número reduzido de tributos e reduzindo custos de administração; • aumentar a participação dos impostos sobre a renda e sobre a riqueza no Brasil, para trazer maior equidade e progressividade, em detrimento dos tributos de má qualidade, como os sobre consumo que não trazem equidade e são regressivos; • minimizar os efeitos sobre a competitividade dos produtos nacionais, inserindo maior neutralidade ao sistema; devem ser eliminados dos impostos de natureza cumulativa (incidentes sobre faturamento, receita e movimentações financeiras); pode ser introduzido o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), em substituição aos impostos cumulativos sobre transações; 5 10 15 20 25 30 61 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 • eliminar todo o ônus tributário que afete a competitividade dos produtos nacionais no mercado internacional (as exportações); • seguir a tendência internacional de redução das contribuições incidentes sobre salário; • reduzir a autonomia dos estados e municípios para legislar em matéria tributária; • promover harmonização fiscal; • partilhar as competências entre os componentes da federação. Não devemos, porém, pensar em revoluções tributárias como o imposto único, pois geraria descontinuidade e resultaria em mudanças abruptas em todos os preços relativos da economia, causando uma séria desorganização social. Há grande repercussão na mídia pelo fato de existirem mais de 80 impostos no Brasil. Entretanto, a discussão sobre essa quantidade exagerada de impostos não é tão pertinente e importante, pois ela deve-se ao fato de poucos tributos, dez aproximadamente, representarem a maior parte da arrecadação. Os demais não têm participação relevante na carga de tributos, e suas contribuições e taxas são baseadas no princípio dos benefícios, que não atinge o grosso da população. Exemplos: ITR, Fundo da Marinha Mercante, taxa de expedição de passaportes 4.5 resumo Este módulo recuperou o conceito do Sistema Tributário Brasileiro, que é composto pelos tributos instituídos no Brasil, Ponto de reflexão Você é capaz de dimensionar a importância do ICMS nas contas públicas do Brasil? 5 10 15 20 25 62 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 —2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 e pelos princípios e normas que regulam tais tributos. Falamos também que a carga tributária representa a soma de todos os impostos cobrados pelas diferentes esferas públicas, municipal, estadual e federal, sobre a renda nacional ou sobre o Produto Interno Bruto (PIB). Lembramos que desde o final dos anos 1970 e início dos anos 1980 tem-se verificado no Brasil uma descentralização de recursos e de poder, e que o problema no Brasil não é a questão de sua carga tributária ser elevada (34,1% em 2006), mas sim o não retorno dessa cobrança nas formas de bons sistemas de saúde, educação, segurança, entre outros. 5 SiStema feDerativo e a DeSCentralização Do eStaDo braSileiro Objetivos do módulo Atribui-se o nome de “federação” a um Estado composto por diversas entidades territoriais autônomas dotadas de governo próprio, geralmente conhecidas por “estados”. Como regra geral, os estados (“estados federados”) que se unem para constituir a federação (o “Estado federal”) são autônomos, isto é, possuem um conjunto de competências ou prerrogativas garantidas pela Constituição, que não podem ser abolidas ou alteradas de modo unilateral pelo governo central. Entretanto, apenas o Estado federal é considerado soberano, inclusive para fins de direito internacional. Normalmente, apenas estes possuem personalidade internacional; os estados federados são reconhecidos pelo direito internacional apenas na medida em que o respectivo Estado federal os autorizar. O sistema político pelo qual vários estados se reúnem para formar um Estado federal, cada um conservando sua autonomia, chama-se federalismo. 5 10 15 20 25 63 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 5.1 Conceituando a federação Dá-se o nome de “federação” a um Estado composto por diversas entidades territoriais autônomas dotadas de governo próprio, geralmente conhecidas como “estados”. Como regra geral, os estados (“estados federados”) que se unem para constituir a federação (o “Estado federal”) são autônomos, isto é, possuem um conjunto de competências ou prerrogativas garantidas pela Constituição que não podem ser abolidas ou alteradas de modo unilateral pelo governo central. Entretanto, apenas o Estado federal é considerado soberano, inclusive para fins de direito internacional. Normalmente, apenas estes possuem personalidade internacional; os estados federados são reconhecidos pelo direito internacional apenas na medida em que o respectivo Estado federal os autorizar. O sistema político pelo qual vários estados se reúnem para formar um Estado federal, cada um conservando sua autonomia, chama-se federalismo. O federalismo (do latim: foedus, foedera, “aliança”, “pacto”, “contrato”) é a forma de governo que consiste na reunião de vários estados num só, cada qual com certa independência e autonomia interna, mas obedecendo todos a uma constituição única. Países federados do mapa mundi 5 10 15 20 64 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 São exemplos de Estados federais: a Alemanha, a Austrália, o Brasil, o Canadá, os Emirados Árabes Unidos, a Índia, a Malásia, o México, a Nigéria, a Rússia, a Suíça e os Estados Unidos. Quanto à forma de Estado, as federações contrapõem-se aos Estados unitários e distinguem-se também das confederações. Existe um certo contraponto entre o sistema de federação e o de confederação. Numa confederação, os estados têm soberania, ou seja, autonomia para sair ou não, quando quiserem, da confederação. De forma diversa, numa federação, a distribuição de poderes e encargos é realizada, mas não é possível a separação de nenhum estado federado. A divisão de poderes segue uma tripartição elaborada na França, colocada em prática pela primeira vez durante a Revolução Francesa. São as funções destes: legislar (Poder Legislativo), administrar (Poder Executivo), e garantir o cumprimento das leis (Poder Judiciário), além de garantir uma fiscalização efetiva entre eles, evitando que desandem ou que abusem da autoridade (teoria dos freios e contrapesos). 5.2 estrutura federalista A configuração do sistema financeiro-tributário é parte da definição essencial do pacto federativo. É, também, instrumento da política econômica que, direcionado para o estabelecimento da divisão espacial do poder onde as forças políticas são tangenciadas por condicionamentos impostos pelo contexto histórico-institucional, compromete-se com determinados objetivos públicos. O federalismo fiscal constitui a forma pela qual a economia do setor público é repartida nas diversas esferas federadas de competência, espelhando, de um ponto de vista substantivo, compromissos e objetivos assumidos pelo Estado com determinadas forças sociais, políticas e econômicas. 5 10 15 20 25 30 65 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 5.2.1 O poder e a política De acordo com a Constituição de 1988, o Brasil é uma república federativa presidencialista, inspirada na forma de Estado norte-americano, diferindo no sistema legal, no qual segue a tradição romano-germânica. Também o federalismo no Brasil não é exatamente igual ao federalismo estadunidense. O Poder Executivo é exercido pelo presidente, que acumula as funções de chefe de Estado e chefe de governo, eleito quadrienalmente. Concomitantemente às eleições presidenciais, vota-se para o Congresso Nacional, sede do Poder Legislativo, dividido em duas casas parlamentares: a Câmara dos Deputados, que têm mandato de quatro anos, e o Senado Federal, cujos membros possuem mandatos de oito anos e elegem-se em um terço e dois terços, alternadamente, a cada quatro anos. Embora o peso de cada voto individual seja o mesmo no sufrágio para o Poder Executivo, o mesmo não ocorre com o Poder Legislativo. Por um lado, há três senadores representando cada unidade da federação (atualmente 26). Por outro, a se considerar o modelo federativo clássico, a representação do povo pelos deputados deveria ser consoante à população de cada unidade da federação; seu número é, entretanto, limitado a no mínimo oito e no máximo setenta. De qualquer forma, adota-se o sistema majoritário para a eleição dos senadores e o proporcional para os deputados. Finalmente, há o Poder Judiciário, cuja instância máxima é o Supremo Tribunal Federal, responsável por zelar e “guardar” a Carta Magna da nação. Composto de onze ministros indicados pelo presidente, sob aprovação do Senado, dentre indivíduos de renomado saber jurídico. Sabe-se, no entanto, que a composição dos ministros do Supremo Tribunal Federal não é completamente renovada a cada mandato presidencial, pois o presidente somente 5 10 15 20 25 30 66 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 indica um novo ministro quando um deles se aposenta ou vem a falecer. Há ainda o Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral e o Superior Tribunal Militar. Todos julgam em última instância as matérias de suas competências. 5.3 a descentralização de fato Com a promulgação da Constituição de 1988 houve uma expressiva descentralização na distribuição dos recursos tributários e do poder político no Brasil, como já demonstramos no módulo anterior. A Constituição resultou do compromisso com a institucionalização de valores democráticos, em que adescentralização assumiu papel relevante. No entanto, após a promulgação da Constituição, o papel do Estado como provedor de políticas econômicas e sociais passa por diversas reformulações, ao mesmo tempo em que se enfatiza a importância dos mecanismos de mercado. Completando esse ciclo “liberal” de transformações, reformas econômicas, especialmente as voltadas para o controle da inflação, reduziram a ação do governo federal na provisão de infraestrutura e de serviços públicos locais e regionais. Na esfera federal, os resultados da descentralização são bastante visíveis: • a União tem sido particularmente afetada por dificuldades financeiras e tem encontrado obstáculos, embora não intransponíveis, para a montagem e sustentação de coalizões parlamentares que lhe permitam governar; • na esfera subnacional, todavia, os resultados da descentralização apresentam alto grau de heterogeneidade devido às desigualdades regionais existentes no país. 5 10 15 20 25 67 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Os efeitos da descentralização sobre o federalismo e sobre a formulação e implementação de políticas públicas no Brasil, especialmente a relação entre o governo federal e os estados, expõem questões de desigualdade regional, que introduzem novas tensões no arranjo federativo desenhado pela Constituição de 1988 e pactuado no processo de democratização. Argumenta-se que a experiência brasileira de descentralização tributária e política tem favorecido a consolidação da democracia e tornado o Brasil um país mais “federal” pela emergência de novos atores no cenário político e pela existência de vários centros de poder soberanos que competem entre si. Governadores dos estados economicamente mais fortes e prefeitos das capitais transformaram-se em um dos principais centros de poder, forçando o governo federal a negociar políticas públicas nacionais com as esferas estaduais. Por outro lado, a experiência brasileira tem mostrado não só os limites da descentralização e do federalismo em países onde as disparidades regionais e sociais são muito profundas, mas também que a descentralização dificulta a redução das referidas desigualdades regionais pelo enfraquecimento político e financeiro do governo federal, o que coloca novos desafios e tensões para o enfrentamento de velhos problemas, como o das disparidades regionais. Não existe um modelo ideal para a descentralização, pois cada país possui características diferentes. Contudo, existem dois modelos básicos que veremos mais adiante. Veremos antes os motivos para ser feita uma descentralização em um país. Razões para a descentralização Giambiagi e Além (2001) classificam três fatores como motivos da descentralização: (1) fatores econômicos, (2) fatores culturais, políticos e institucionais e (3) fatores geográficos. 5 10 15 20 25 30 68 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Fatores econômicos A descentralização por fatores econômicos refere-se à busca da alocação de recursos mais eficientes e significa determinar qual das esferas do governo (federal, estadual ou municipal) pode administrar de forma mais eficiente os impostos, os gastos, as transferências, a regulação e outras funções públicas. Definem-se quais bens e serviços públicos devem ser fornecidos de forma centralizada (União) e quais devem ser fornecidos de forma descentralizada (estados e municípios). Os defensores da descentralização afirmam que o governo central deve ficar com as responsabilidades de fornecer os bens públicos nacionais, aqueles cujos benefícios atinjam ao país como um todo, ou que a produção esteja sujeita a importantes economias de escala, como segurança nacional e infraestrutura de transportes. Nesse caso, os recursos devem ser obtidos nacionalmente. Já as esferas subnacionais devem ser responsáveis pelos bens e serviços públicos cujos benefícios são limitados geograficamente, isto é, beneficiam principalmente a população local. São exemplos: iluminação pública, corpo de bombeiros, administração e controle do trânsito, manutenção de parques etc. Nesse caso, é desejável que os recursos sejam obtidos pelas esferas locais. Contudo, caso houvesse superposição de responsabilidades entre as esferas governamentais, como na saúde e educação, o financiamento dos recursos deveria ocorrer por meio de transferências do governo central. Fatores culturais, políticos e institucionais Em relação aos fatores culturais, políticos e institucionais, a maior autonomia dos governos subnacionais levaria a uma maior participação política da população local e desconcentraria 5 10 15 20 25 30 69 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 o poder político no governo central. Dessa forma, busca-se fortalecer a governabilidade e as instituições democráticas, com envolvimento dos cidadãos na determinação dos rumos da comunidade. Isso reduz os perigos que os excessos de centralização do poder podem trazer às liberdades individuais, como demonstra a experiência internacional. Em muitos casos, a descentralização surgiu em contraposição à excessiva centralização como nos casos de ditadura. Fatores geográficos No que diz respeito aos fatores geográficos, quanto maior for a área territorial da nação, os ganhos de eficiência promovidos pela descentralização tenderão a ser maiores. Desse ponto de vista, certamente é mais fácil governar o Uruguai do que o Brasil, pois aquele possui um território muito menor do que o brasileiro. Para o Brasil, a administração dos recursos será mais eficiente com uma descentralização maior que a do Uruguai. Para grandes territórios, é mais fácil de os governos subnacionais atenderem às demandas locais do que para um governo centralizado. 5.3.1 Modelos de descentralização Existem dois modelos para a condução de descentralização: (1) o do principal agente e (2) o da eleição pública local. Contudo, o mais comum é encontrar modelos híbridos, os quais conciliam os interesses de cada nação. Modelo do principal agente Nesse modelo existe uma espécie de contrato entre os governos central e subnacionais, ficando a cargo do governo central estabelecer as responsabilidades de cada unidade subnacional. Por sua vez, estes governos recebem as transferências do governo central e têm que prestar contas ao mesmo. Neste 5 10 15 20 25 70 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 caso específico surge um problema, pois este sistema provoca a falta de autonomia dos governos locais. Modelo da eleição pública Este modelo enfatiza o processo de decisão por parte dos cidadãos, por meio da eleição dos governos locais. Pressupõe maior autonomia dos governos subnacionais que devem financiar a maior parte de suas despesas com recursos próprios, gerados pelos tributos locais. A responsabilidade fiscal dos governos subnacionais é reforçada pela avaliação da população que premiará ou castigará o governante por meio do voto nas eleições. O problema desse sistema é que ele pode prejudicar a execução de alguns objetivos nacionais, como, por exemplo, o tratamento de doenças especializadas como do coração, para o qual os governos locais (municipais) não possuem recursos suficientes para realizá-lo. No caso brasileiro, portanto, concluímos que usamos uma combinação desses dois modelos, pois os governos estaduais e municipais recebem as transferênciasda União, como já vimos antes, e também porque usamos a eleição para eleger o Poder Público local. 5.3.1.1 Caso brasileiro Desde a descoberta do Brasil, a evolução política brasileira foi marcada por movimentos de centralização e descentralização. As próprias capitanias hereditárias foram uma forma de descentralização. Nossa descentralização, iniciada nos anos 1970, foi marcada pela motivação política de forma a redemocratizar o país em reação ao antigo governo militar. Não houve uma motivação para criar-se um plano nacional de descentralização, o que 5 10 15 20 25 71 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 resultou em um processo marcado pela desordenação, por distorções e conflitos. O principal aspecto da descentralização no Brasil foi a tendência municipalista, na qual esses membros da federação foram postos em condições de igualdade com estados em termos de direitos e deveres. Tal fenômeno foi realçado pela dimensão territorial do Brasil. Tal processo nos levou a duas tendências opostas, que precisaram e ainda precisam ser conciliadas: • desejo de integração nacional; • tendências regionalistas que precisam ser reconhecidas, embora ainda subordinadas ao Governo Federal. Tal conciliação não impede a existência de conflitos entre o Governo Federal e os governos subnacionais, além dos conflitos entre as regiões Sul e Norte do país. Mas apesar desses conflitos, a unidade nacional tem persistido por três fatores: a existência de uma língua comum; a ausência de divisões de fundos religiosos ou étnicos; e a inexistência de movimentos separatistas que tenham perdurado. Vejamos, então, como a Federação Brasileira é constituída: Federação Brasileira (1) Distrito Federal (26) estados (5.564) municípios 5.4 resumo Você ficou sabendo que o sistema político pelo qual vários estados se reúnem para formar um Estado federal, cada um conservando sua autonomia, chama-se federalismo. E que o Ponto de reflexão Apesar das considerações sobre o tema neste módulo, você seria capaz de argumentar contra a descentralização. Em qualquer resposta, positiva ou negativa, justifique sua posição. 5 10 15 20 72 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 federalismo fiscal constitui a forma pela qual a economia do setor público é repartida nas diversas esferas federadas de competência, espelhando, de um ponto de vista substantivo, compromissos e objetivos assumidos pelo Estado com determinadas forças sociais, políticas e econômicas. Giambiagi e Além (2001)classificam três fatores como motivos da descentralização: os fatores econômicos; os fatores culturais, políticos e institucionais; e por fim os fatores geográficos. Soube também que os efeitos da descentralização sobre o federalismo e sobre a formulação e implementação de políticas públicas no Brasil, especialmente a relação entre o governo federal e os estados, expõem questões de desigualdade regional, que introduzem novas tensões no arranjo federativo desenhado pela Constituição de 1988 e pactuado no processo de democratização. GaSto PúbliCo e falhaS Do Governo 6 SeGuriDaDe SoCial Objetivos do módulo Neste módulo, exploraremos os conceitos da Seguridade Social, em que a Previdência Social (no Brasil) consiste num conjunto de políticas sociais, cujo fim é amparar e assistir o cidadão e a sua família em situações como a velhice, a doença e o desemprego. Já a Previdência Social, é uma política pública integrante da seguridade social e, portanto, não deve ser entendida como Seguridade Social. Segundo a legislação brasileira, Seguridade é muito mais do que a palavra expressa, é o conjunto de ações envolvendo não só a Previdência, mas também a saúde pública e a própria assistência social. No entanto, é bom que você saiba que a previdência é um seguro social mediante contribuições previdenciárias, utilizada para substituir a renda do trabalhador quando o mesmo tenha efetiva perda de sua capacidade de trabalho. 5 10 15 73 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 6.1 Seguridade Social A Previdência Social (no Brasil) consiste num conjunto de políticas sociais cujo fim é amparar e assistir o cidadão e a sua família em situações como a velhice, a doença e o desemprego. Segundo a Constituição de 1988, artigo 194, a Seguridade Social: Compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde pública, à previdência e à assistência social. A contribuição é efetuada via recolhimento compulsório (obrigatório, forçado). O governo adota este tipo de contribuição a fim de tentar amenizar as ocorrências dos problemas citados abaixo: • alguns indivíduos poderiam não contribuir para a previdência, preferindo consumir ao longo de seu ciclo de vida uma parcela maior de seus recursos; • dadas as incertezas ao longo da vida, as pessoas poderiam ser levadas a avaliar de maneira incorreta suas necessidades na velhice, subpoupando durante sua vida ativa os recursos empregados em seu sustento quando não estiverem mais trabalhando. A Previdência Social é uma política pública integrante da Seguridade Social e, portanto, não deve ser referida como Seguridade Social, pois segundo a legislação brasileira, Seguridade seria o conjunto de ações envolvendo não só a Previdência, mas também a saúde pública e a assistência social. A previdência é seguro social, mediante contribuições previdenciárias, e serve para substituir a renda do trabalhador, quando da perda de sua capacidade de trabalho. 5 10 15 20 25 74 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 A importância da Previdência Social em três notas: 1. Social: proteção e dignidade, com redução da pobreza. 2. Econômica: em mais de 67% dos municípios brasileiros os recursos pagos pela previdência são maiores do que os do fundo de participação dos municípios. 3. Política: paz social. A Previdência é originalmente uma competência do Poder Público, mas também é comumente oferecida por iniciativa de organizações não governamentais (Ongs) e organizações religiosas. Muitas entidades privadas, particularmente, instituições financeiras, também oferecem planos de previdência complementar, também chamada de previdência privada. No Brasil, a Previdência Social é administrada pelo Ministério da Previdência Social, e as políticas referentes a esta área são executadas pela autarquia federal denominada Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Todos os trabalhadores formais recolhem, diretamente ou por meio de seu empregador, contribuições previdenciárias para o fundo de previdência. No caso dos funcionários públicos brasileiros é devido abono de permanência àqueles que, apesar de já reunirem todos os requisitos para a aposentadoria, optaram por continuar em atividade. O artigo 201 da Constituição Federal Brasileira prevê o Regime Geral da Previdência Social. Os benefícios são em caso de aposentadoria: • por invalidez; • por idade; • especial; • por tempo de contribuição; 5 10 15 20 25 75 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 • em caso de auxílio; • auxílio doença; • auxílio acidente; • auxílio reclusão; • salário-maternidade;• salário-família; • pensão por morte. RPPS - Regimes Próprios de Previdência dos Servidores Funcionários públicos estatutários Obrigatório, público, níveis federal, estadual e municipal, benefício definido. Militares federais Obrigatório, público, nível federal, estadual e municipal, benefício definido = última remuneração Administrado pelos respectivos governos Administrado pelo governo federal Repartição simples/Capitalização em alguns estados e municípios RGPS - Regime Geral de Previdência Social Trabalhadores do setor privado e funcionários públicos celestiais Obrigatório, nacional, público, subsídios sociais, benefício definido: teto de R$ 3.038,99 Administrado pelo INSS Repartição simples 5 76 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Tabela de contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso, para pagamento de remuneração a partir de 1º de março de 2008 Salário de contribuição (R$) Aliquota para fins de recolhimento ao INSS (%) até R$ 911,70 8,00 de R$ 911,71 a R$ 1.519,50 9,00 de R$ 1.519,50 a R$ 3.038,99 11.00 Portaria nº 77 de 12 de março de 2008. Fonte: Ministério da Previdência Social (2008). 6.1.1 Programas sociais Saúde pública: é caracterizado pelas ações cujo foco é o bem-estar físico e mental dos indivíduos. Ações que visem a reduzir os riscos de doenças e seus agravamentos. A relação entre os pagamentos feitos e os serviços utilizados não é direta, visto que a população pode ou não utilizar os serviços na mesma proporção em que contribui. Assistência social: refere-se aos programas de cunho distributivo, seja por meio de recursos, seja em espécie. Sua função é transferir renda dos grupos mais ricos para os menos privilegiados. Art. 203. “A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social.” A assistência social provê o atendimento das necessidades básicas traduzidas em proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhice e à pessoa portadora de deficiência, bem como a reintegração ao mercado de trabalho daqueles que necessitarem. Visa a garantir meios de subsistência às pessoas que não tenham condições de suprir o próprio sustento, dando especial atenção às crianças, idosos e deficientes. 5 10 15 20 77 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 A Previdência Social tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Existe certa semelhança entre Previdência Social e contrato de seguro, uma vez que a pessoa contribui e tem cobertura de certos eventos, entretanto, devemos lembrar que o seguro traz a ideia de contrato ligado ao direito privado, enquanto que a previdência social é eminentemente pública. 6.2 Sistemas previdenciários Existem dois tipos de sistema previdenciário: o regime de repartição e o regime de capitalização. Eles são definidos pela forma de administração dos recursos e, portanto, pela taxa de retorno da previdência social – que é a taxa que iguala os valores presentes entre as contribuições (feitas durante a vida ativa) e os benefícios (recebidos durante o período de inatividade). Regime de repartição: as contribuições dos trabalhadores em um determinado período são utilizadas no mesmo período para o pagamento das aposentadorias aos inativos. Este processo, no qual cada geração financia os benefícios da geração anterior, é chamado de solidariedade intergeracional compulsória ou transferência intergeracional. A escolha do regime de repartição é um reflexo do processo histórico de escolha, feito com base em condições econômicas e demográficas particulares. A Previdência Social também pode ser entendida como uma forma de poupança obrigatória durante a vida ativa, cuja alíquota mínima é definida pelo Estado. Logo, como toda 5 10 15 20 25 78 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 aplicação, possui uma determinada taxa de retorno, a qual pode ser expressa com base na seguinte equação: 1+ r = (1+ w) (1+ n) Onde: r é a taxa de retorno (ou remuneração) w é a taxa de crescimento salarial n é a taxa de crescimento populacional Regime de capitalização: as contribuições de cada indivíduo são aplicadas e capitalizadas a cada período, visando a formar um fundo que custeará sua própria aposentadoria, quando passar para a inatividade. O valor da aposentadoria é função direta do montante contribuído pelo indivíduo durante sua vida ativa e da taxa de juros que remunera este estoque de ativos. É imediato notar que o retorno obtido corresponde à taxa de juros da economia. No regime de capitalização nota-se que não há solidariedade intergeracional. Dados os parâmetros previdenciários básicos, como expectativa de vida, alíquota de contribuição, taxa de juros e duração da vida ativa, na média, o valor presente das contribuições deve ser igual ao valor presente dos benefícios recebidos pelos indivíduos. Valendo essa condição, o regime de capitalização pode ser qualificado como atuarialmente justo. Transferência intergeracional: é aquela ocorrida entre indivíduos de gerações diferentes, ou seja, quando as pessoas são jovens, as contribuições por elas efetuadas financiam os benefícios dos idosos. 5 10 15 20 79 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Dessa maneira, o montante das contribuições depende de características como a taxa salarial, o número de trabalhadores e a alíquota de contribuição. Já o valor dos benefícios recebidos depende dessas mesmas características. Portanto, se quaisquer variáveis que afetam as contribuições de uma geração se modificarem, a geração anterior será afetada, dado que sua taxa de retorno irá sofrer uma alteração. Transferência intrageracional: é aquela que ocorre entre indivíduos de uma mesma geração, de forma que os benefícios são transferidos de um beneficiário a outro. Portanto, os indivíduos que têm uma vida mais longa, recebem implicitamente uma transferência de renda daqueles (da mesma geração) que viveram por menos tempo, dado que esses últimos receberam seus benefícios por um período menor. Para ficar mais bem esclarecido, podemos pegar o salário maternidade, pago pelo INSS, como exemplo de distribuição intrageracional. Como tal benefício obviamente não está ao alcance dos homens, fica evidente que uma parte dos recursos gerados por suas contribuições é empregada para pagar o benefício das mulheres que engravidam. Observação 1: mulheres têm maior expectativa de vida do que os homens, e dentro de uma distribuição intrageracional, temos transferência de renda do sexo masculino para o sexo feminino. Outro exemplo de transferência intrageracional são os benefícios pagos pela previdência rural: Existe um grande número de trabalhadores rurais que não contribuem para o INSS, pois muitas vezes trabalham na informalidade. Porém, os benefícios destinados aos trabalhadores rurais correspondem a quase um terço do total de benefícios 5 10 15 20 25 80 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 pagos pelo INSS, oque mostra que há distribuição intrageracional no sentido urbano-rural. Obviamente, tais políticas de distribuição de renda têm forte impacto na redução da pobreza na área rural; porém, isto representa um custo. Os dispêndios com benefícios rurais são, dentre outros, um dos grandes responsáveis pelo aumento do déficit no INSS, dado que o valor das contribuições rurais são bastante reduzidos diante do montante de benefícios recebidos. 6.2.1 Causas do déficit previdenciário Seguem alguns exemplos para explicar a existência do déficit previdenciário do Brasil, de acordo com cada sistema (RPPS e RGPS). Sistema RPPS Até 1998, quando foi aprovada a Emenda Constitucional nº 20, não havia idade mínima para a concessão da aposentadoria dos RPPSs, o que gerava a aposentadoria precoce. Desta forma, acontecia um menor tempo de contribuição para a previdência e um maior tempo de concessão de benefícios, gerando o déficit previdenciário. Este problema foi solucionado somente com a reforma de 1998, quando foi sancionada a EC nº 20, que instituiu uma idade mínima de aposentadoria. A EC nº 20 limitou a idade mínima para aposentadoria em 53 anos (homens) e 48 anos (mulheres), além de exigir 35 anos de contribuição para os homens e 30 para mulheres. Até o ano de 2003, quando foi aprovada a Emenda Constitucional nº 41, os RPPSs tinham direito à aposentadoria integral e com paridade, ou seja, eles se aposentavam com o salário integral e com direito aos mesmos reajustes, bonificações e aumentos dados aos funcionários ativos – vale lembrar que a integralidade e a paridade valiam para os aposentados e também para os pensionistas. 5 10 15 20 25 30 81 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Sistema RGPS A quantidade de trabalhadores que ainda hoje trabalham na informalidade torna-se uma potencial demanda reprimida de benefícios assistenciais no futuro, acentuando o desequilíbrio orçamentário da previdência. Ou seja, o valor arrecadado para a previdência não supre os valores que são concedidos por meio de benefícios. Outra grande responsável pelo déficit do INSS é a área rural, onde menos de 10% dos beneficiários contribuíram com a previdência. Ano Clientela Arrecadação líquida Benefícios previdenciários (b) Resultado (a-b) 2006 Total Urbano Rural 8.897 8.623 273 14.150 11.501 2.649 (5.253) (2.878) (2.375) 2007 Total Urbano Rural 9.986 9.621 294 13.880 11.185 2.695 (3.894) (1.494) (2.400) 2008 Total Urbano Rural 11.207 10.888 318 16.296 13.085 3.211 (5.089) (2.196) (2.893) Arrecadação líquida e pagamento de benefícios, segundo a clientela urbana e rural – Janeiro/2008 – RGPS. 18,00 16,00 14,00 12,00 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 - R$ B ilh õe s 10,89 13,08 0,32 0,21 Arrecadação líquida Pagamento de benefícios Arrecadação líquida Pagamento de benefícios Urbana Rural Fonte: Ministério da Previdência Social (2008). 5 10 82 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Valor médio real pago pelos benefícios da Previdência Social de janeiro de 2001 a setembro de 2008 (Inclui apenas os benefícios previdenciários e acidentários). 670,00 650,00 630,00 610,00 590,00 570,00 550,00 530,00 510,00 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 R$ 524,58 535,00 526,29 560,10 567,63 624,73 638,33 641,12 Fonte: Ministério da Previdência Social (2008). 6.3 resumo Neste módulo você ficou sabendo que a Previdência Social (no Brasil) consiste num conjunto de políticas sociais cujo fim é amparar e assistir o cidadão e a sua família em situações como a velhice, a doença e o desemprego, e que a assistência social provê o atendimento das necessidades básicas traduzidas em proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhice e à pessoa portadora de deficiência, bem como a reintegração ao mercado de trabalho daqueles que necessitarem. E que existem dois tipos de sistema previdenciário: o regime de repartição e o regime de capitalização, que são definidos pela forma de administração dos recursos e, portanto, pela taxa de retorno da previdência social – que é a taxa que iguala os valores presentes entre as contribuições (feitas durante a vida ativa) e os benefícios (recebidos durante o período de inatividade). E, por fim, revelamos a você que existe um grande número de trabalhadores rurais que não contribuem para o INSS, pois muitas vezes trabalham na informalidade. Porém, os benefícios destinados aos trabalhadores rurais correspondem a quase um Ponto de reflexão Você seria capaz de dimensionar os “custos de transição” da Previdência Social, caso houvesse uma mudança nos regimes atuais? 5 10 15 20 83 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 terço do total de benefícios pagos pelo INSS, o que mostra haver distribuição intrageracional no sentido urbano-rural. 7 DemoCraCia e aCCountability Objetivos do módulo Accountability é um termo ligado à gestão pública moderna, que está relacionado à responsabilidade social e à ética da boa gestão ou, ainda, à gestão cidadã. Os políticos que fazem parte da área executiva dos governos, passaram a ser obrigados a relatarem suas práticas e filosofias de gestão através da contabilidade social. É isso aí, podemos chamar esta palavra xenófoba de prestação de contas social. Ao olharmos a construção dessa palavra, percebe-se que o account vem de conta, que sugere confiança, e o ability, a questão da habilidade, isto é, os políticos passam a ter que incorporar o papel da confiança e da habilidade técnica para executar as propostas colocadas em seus planos de governo. 7.1 Governo e democracia Os organismos internacionais têm defendido e disseminado a ideia de que para alcançar o desenvolvimento não basta canalizar capitais para investimentos em economias emergentes. São necessárias reformas institucionais que reduzam a ineficiência na alocação de recursos por parte dos governos e possibilitem maior controle dos governantes, reduzindo ou eliminando os problemas de corrupção e clientelismo que afetam o desempenho econômico. É a partir dessa preocupação que a problemática de accountability democrática emerge no contexto da chamada segunda geração de reformas do Estado, que objetiva tornar os governos não só mais eficientes no provimento de suas políticas públicas, mas também mais responsivos às demandas dos eleitores. 5 10 15 20 25 84 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Democracia pode ser entendida pela busca de três ideais, tomados como princípios orientadores: • o governo deve emanar da vontade popular, que se torna a principal fonte de soberania; • os governantes devem prestar contas ao povo, responsabilizando-se perante ele, pelos atos ou omissões cometidos no exercício do poder; • o Estado deve ser regido por regras que delimitem seu campo de atuação em prol da defesa de direitos básicos dos cidadãos, tanto individuais quanto coletivos. Por seu turno, existem três formas de garantir a accountability, ou seja, a responsabilização política ininterrupta do Poder Público em relação à sociedade: • o processo eleitoral, garantidor da soberania popular; • o controle institucional durante os mandatos, que fornece os mecanismos de fiscalização contínua dos representantes eleitos e da alta burocracia com responsabilidade decisória; • criação de regras estatais intertemporais, pelas quaiso poder governamental é limitado em seu escopo de atuação, a fim de garantir os direitos dos indivíduos e da coletividade que não podem simplesmente ser alterados pelo governo de ocasião. Formas de accountability Instrumentos Condições Processo eleitoral Sistema eleitorale partidário Pluralismo de ideias (crenças ideológicas e religiosas) Controle institucional durante o mandato Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Mecanismos de controle do Poder Público Regras estatais intertemporais Garantias de direitos básicos pela Constituição (cláusulas pétreas) Fonte: Abrucio; Loureiro, 2003. 5 10 15 20 85 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Formas de accountability Instrumentos Processo eleitoral Financiamento de campanhas eleitorais Controle institucional durante o mandato CPI PPA LDO LOA Orçamento Participativo Regras estatais intertemporais Regras de restrição orçamentária e de responsabilidade fiscal. Limites de endividamento público. Metas inflacionárias. Fonte: Abrucio; Loureiro, 2003. 7.1.1 Financiamento de campanhas eleitorais 1. Consolidação do horário eleitoral gratuito. 2. Reforço do papel dos tribunais eleitorais e das leis de moralização das campanhas, de maneira que, nos últimos anos, aconteceram pela primeira vez em nossa história, cassações de mandato vinculadas ao abuso do poder econômico. 3. Desde 1993, todos os candidatos são obrigados a fazer, ao final da eleição, uma declaração detalhada das contribuições de campanha. 7.1.2 Processo orçamentário e prestação de contas por parte do Poder Executivo 1. Limitação do número de emendas. 2. Fixação de valor máximo para cada uma. 3. Criação de relatorias. 4. Exigência de reuniões de bancada. 5. Instituição de audiências públicas. 5 10 86 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 6. Incentivo à rotatividade dos membros da Comissão Mista do orçamento, para evitar o controle dos recursos públicos por determinados indivíduos ou grupos. 7.1.3 Mecanismos de restrição orçamentária e accountability, com destaque para a LRF 1. Limitação de gastos com pessoal, estabelecendo não somente o quanto pode ser gasto por cada nível de governo em relação à receita líquida, mas também – e aí está a sua novidade – o percentual equivalente a cada um dos poderes, eliminando, assim, a distorção existente anteriormente, em especial nos governos estaduais. 2. Reafirmação dos limites mais rígidos para o endividamento público estabelecidos pelo Senado Federal, com a retenção de transferências constitucionais e a proibição de empréstimos e de convênios com o governo federal. 3. Definição de metas fiscais anuais e exigência de apresentação de relatórios trimestrais de acompanhamento. 4. Estabelecimento de mecanismos de controle das finanças públicas em anos eleitorais. 5. Proibição de socorro financeiro entre os níveis de governo, reduzindo o risco moral entre agentes públicos e desses com os privados. 7.1.4 Tribunal de contas Neste particular aspecto, existe uma forte influência de indicações políticas para a composição e provimento dos membros dos tribunais de contas. Por sua vez, a vitaliciedade não significa garantia de dedicação, eficiência e moralidade pública por parte dos nomeados, pois acaba funcionando como aposentadoria para políticos, mantendo o sentido que Getúlio Vargas atribuía a essa instituição: “um armário onde se arquivam os amigos”. 5 10 15 20 25 87 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 7.1.5 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) Visam ao aumento da transparência e da accountability do Poder Público, reforçando a vigilância sobre a classe política, podendo chegar à punição dos infratores ou, ao menos, alterando a distribuição do Poder Público. Têm sido um instrumento pelo qual o Poder Legislativo obriga o Poder Público a prestar contas à sociedade, não necessariamente por intermédio da punição de envolvidos nas irregularidades constatadas. Constitui hoje o melhor mecanismo de accountability horizontal existente no Brasil, o que não significa dizer que estejam livres de problemas vinculados à falta de transparência e ao abuso de poder legar, tal como ocorreu na CPI do Banestado. 7.1.6 Orçamento Participativo (OP) Trata-se de um instrumento de controle social, por meio do qual a população participa da discussão e deliberação sobre a distribuição dos recursos públicos durante o mandato dos governantes. 7.2 resumo Neste módulo você aprendeu que são necessárias reformas institucionais que reduzam a ineficiência na alocação de recursos por parte dos governos e possibilitem maior controle dos governantes, reduzindo ou eliminando os problemas de corrupção e clientelismo que afetam o desempenho econômico. Aprendeu também que é a partir dessa preocupação que a problemática de accountability democrática emerge no contexto da chamada segunda geração de reformas do Estado, que objetiva tornar os governos não só mais eficientes no provimento de suas políticas públicas, mas também mais responsivos às demandas dos eleitores. Ponto de reflexão Você poderia apontar um conflito “clássico” que o processo de accountability pode evitar ou ajudar a mediar? 5 10 15 20 25 88 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 8 teoria De eSColha PúbliCa Objetivos do módulo Neste módulo observaremos como uma das falhas de governo, batizada de corrupção e com dimensões desastrosas sobre a eficiência econômica dos Estados, transforma as relações impessoais em relações pessoais, conduzindo, como tais, para a “teoria da escolha pública”. Inspirada como uma disciplina independente, ou quase independente da economia política, James Buchanan9 a define como uma perspectiva do campo político que emerge de uma extensão da aplicação de ferramentas e métodos econômicos para decisões coletivas ou tomada de decisões fora do mercado. Em resumo, a escolha pública não é nada mais do que a aplicação de ferramentas econômicas à política. 8.1 Corrupção e a figura do rent seeking É prático e histórico a corrupção transformar relações impessoais em relações pessoais, refutando um dos pressupostos básicos da ética e do modus operandis do Estado, isto é, tornando um bem público em bem privado. A corrupção é tratada dentro da teoria dos caçadores de renda, também conhecidos como rent seeking, sendo estes aqueles agentes econômicos que buscam lucros positivos a longo prazo, dentro de um ambiente repleto de regras falíveis e falhas institucionais. O lucro, nestas circunstâncias, poderá ser maximizado com ou sem estas regras, e as transferências de recursos podem ser feitas dentro da sociedade e consumar toda forma de privilégios. 9 James M. Buchanan Jr. nasceu em Murfreesboro, Tenessee, no dia 3 de outubro de 1919. Esteve vinculado durante a maior parte de sua vida acadêmica a George Mason University, no estado de Virginia, onde foi diretor do Center for the Study of Public Choice. Foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1986. 5 10 15 20 25 89 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 8.2 teoria de escolha pública (public choice) A escolha pública aplica métodos econômicos para analisar o comportamento das pessoas com capacidadede tomar decisões políticas, o que envolve um estudo interativo de todo o processo. A escolha pública difere da escolha constitucional. Enquanto a primeira faz uma análise positiva, a última faz uma análise normativa. A análise da escolha pública revela que a reforma ou o aperfeiçoamento dos resultados políticos são possíveis com a mudança nas regras e nas restrições, em nível constitucional, segundo as quais, as escolhas são feitas, dificultando as mudanças ocasionais implementadas por políticos oportunistas. Segundo Dias (2008), a “teoria da escolha pública” testou para os políticos e burocratas - com base nos princípios elementares da ciência econômica, aceitos desde os tempos de David Hume e Adam Smith - a mesma hipótese de comportamento individualista válida para a maior parte da espécie humana. Afinal, como é tênue a pressão exercida pelos eleitores sobre seus representantes, principalmente em democracias pouco maduras, políticos e burocratas estão livres para cuidar apenas de suas vantagens pessoais (pecuniárias e ideológicas) e dos interesses de lobbies que se organizam na busca de privilégios, sem temer a represália das urnas. Buchanan enumera dois elementos distintos da perspectiva da escolha pública: o primeiro elemento é a abordagem generalizada da Catalaxia aplicada à economia; o segundo é o postulado do homo economicus. A abordagem da Catalaxia (ciência das trocas) à economia chama a atenção para os processos de troca, acordos, ou contratos. Esta abordagem redireciona a ênfase do campo econômico para além do mercado, ou seja, para todo o processo de acordo voluntário entre as pessoas. 5 10 15 20 25 30 90 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 A perspectiva da escolha pública estuda o processo político de uma maneira diferente da ciência política. Enquanto esta estuda os processos políticos sob o ponto de vista do poder e da força, aquela considera os processos de troca que emergem dentro de um processo político. Ainda de acordo com Dias (2008), o postulado do homo economicus diz que os indivíduos agem conforme os seus próprios interesses no sentido de maximizar a sua utilidade, de acordo com as restrições que eles encontram. Este postulado tem guiado os economistas, desde o século XVIII, na análise do comportamento das pessoas nos mais variados mercados. Entretanto, somente quando a política deixou de ser vista como uma relação exclusivamente pautada pela coerção e o postulado do homo economicus passou a ser combinado com o paradigma da catalática, que surgiu a teoria econômica da política. De acordo com esta teoria, todas as escolhas são privadas. Logrolling Trocas legislativas ou (logrolling) é a ideia básica de que o indivíduo pode “vender” seu voto em determinado ponto da agenda, assegurando, em contrapartida, os votos de outros indivíduos em temas de seu próprio interesse. O Congresso seria, portanto, o locus onde a motivação econômica no comportamento político tornar-se-ia mais evidente para Buchanan, a dimensão forte da barganha sustentar-se-ia na pressuposição de que as intensidades diferenciadas das preferências devem prevalecer no cômputo das decisões. Resumindo, o resultado da corrupção em termos de custos, poderá resultar na redução do crescimento econômico, na medida em que privilegia a alocação equivocada de recursos em atividades pouco produtivas, provocando custos elevados de operacionalização, pois empresas e investidores optam por investimentos em países com menor índice de corrupção. Ponto de reflexão Você acha justo que um homem público, eleito pelo voto democrático, realize escolhas privadas em detrimento do interesse público? 5 10 15 20 25 30 91 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 8.3 resumo O módulo que se encerra, visitou o conceito da corrupção tratada dentro da teoria dos caçadores de renda, também conhecidos como rent seeking, sendo estes aqueles agentes econômicos que buscam lucros positivos a longo prazo, dentro de um ambiente repleto de regras falíveis e falhas institucionais. Apresentou também a escolha pública, que aplica métodos econômicos para analisar o comportamento das pessoas com capacidade de tomar decisões políticas, o que envolve um estudo interativo de todo o processo. 5 10
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