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Schewinsky Lesão Encefálica Adquirida

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LESÃO ENCEFÁLICA ADQUIRIDA
 o que é importante saber!
 Dra. Sandra Regina Schewinsky 
 Dra. Vera Lucia Rodrigues Alves
O PRESENTE LIVRO TEM COMO FINALIDADE PASSAR 
INFORMAÇÕES PARA O PUBLICO LEIGO, 
SEM CONFLITOS DE INTERESSES 
E SEM FINS LUCRATIVOS.
CONTATO COM AS AUTORAS
srschewinsky@hotmail.com
dra.veraluciarodriguesalves@gmail.com
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LESÃO ENCEFÁLICA 
ADQUIRIDA
o que é importante 
saber!
 Dra. Sandra Regina Schewinky
 Dra. Vera Lucia Rodrigues Alves
Montagem e Diagramação
4 
Índice
Prefácio - 5
Apresentação - 7
PARTE I
Acidente Vascular Encefálico - 9
Traumatismo \crânio Encefálico - 13
Meningites - Neurocisticercose -17
Herpes Cerebral - Tumores - 18
PARTE II
A internação - 19
PARTE III
Áreas causadas pela lesão cerebral - 27
1) Área Motora - 27
2) Área Sensoperceptiva - 31
3) Área de Linguagem - 34
4) Emoção, Comportamento e Cognição - 36
a) Fases da vida 36
Infância - 37
Juventude - 40
Adulto/Maturidae - 41
Terceira Idade - 42
b) Aspectos afetivo-emocionais - 43
c) Aspectos Comportamentais - 45
5) Cognição - 47
PARTE IV
Reabilitação - 51
Avaliação Neuropsicológica - 54
Tratamento Psicológico - 56
PARTE V
Reabilitação Neuropsicológica - 58
Hipotálamo - 60
Tálamo - Sistema Límbico - 61
Tronco Encefálico - Bulbo - 62
Ponte - Cerebelo - 63
Sistemas Cerebrais Locais - 64
Avaliação e Orientação Educacional e /ou Profissional - 73
PARTE V 
Conclusões 74
REFÊNCIAS - 75
a
5 
Prefácio
 Lesões encefálicas acontecem com frequência na população, 
por diversos motivos e em vários estágios da vida. 
 
 Sejam pelos traumas cada vez mais frequentes na população 
mais jovem, os acidentes vasculares cerebrais mais característicos 
dos idosos ou diversos outros adoecimentos, a chance de se ter 
que enfrentar este problema ao longo da vida é palpável, 
e de conhecer alguém que o enfrenta é enorme. 
 
 Quando acontecem, são ameaças iminentes à capacidade da pessoa de 
administrar sua vida, trabalhar, realizar, correr atrás dos seus objetivos e de 
sua felicidade. Torna-se necessário reaprender, buscar novas formas 
de fazer coisas antigas e calibrar as expectativas. 
Porque nem sempre a vida volta ao normal, 
mas sempre é possivel buscar um normal pra chamar de seu. 
 
 Superar é necessário, e os familiares e
 pessoas próximas são muito importantes nesta jornada. 
 
 E esta, como esperado de uma jornada, 
tem armadilhas e atalhos, caminhos tranquilos e perigosos, 
simples e confusos. A informação de qualidade 
é a melhor maneira de se orientar e fazer boas escolhas. 
 
 Neste livro carinhosamente escrito e editado, 
espero que você encontre as perguntas e respostas 
que te ajudarão a trilhar este caminho da melhor maneira possível. 
 
 Boa sorte e boa leitura! 
 
 Bruno Carrara Fernandes, Médico.
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7 
Apresentação
	 Em	nossa	prática	profissional,	percebemos	o	forte	 impacto	que	a	
Lesão Encefálica Adquirida (LEA) pode causar, tanto nas pessoas víti-
mas	de	trauma	cerebral,	como	para	familiares	e	também	profissionais	
que os assistem. 
 A primeira causa de Lesão Encefálica Adquirida que pode levar até 
a morte é o Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Encefálico (AVE), se-
guido pelo Traumatismo Crânio Encefálico (TCE), sendo que as doenças 
mentais e neurológicas atingem aproximadamente 700 milhões de pes-
soas no mundo, representando um terço do total de casos de doenças 
não transmissíveis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). 
Os especialistas advertem que pelo menos um terço dos que sofrem 
com problemas mentais e neurológicos não tem acompanhamento mé-
dico. A revelação está no Plano de Ação para a Saúde Mental até 2020 
(0/05/2013 -Renata Giraldi, Repórter da Agência Brasil).
 O número elevado de pessoas, bem como a magnitude das seque-
las e sofrimento, nos motivou a escrever o presente livro, no intento 
de trazer informações de forma clara e simples que possam facilitar a 
compreensão	das	dificuldades	pelas	quais	a	vítima	de	lesão	encefálica	
passa, como também sobre os tratamentos e formas de superação.
 As Lesões Encefálicas Adquiridas (LEA) podem gerar sequelas di-
versas, como alterações motoras como (monoplegia, hemiplegia, hemi-
paresia, dupla hemiplegia), essas alterações interferem nos movimentos 
do corpo e podem levar a limitações funcionais e incapacidades. Dentre 
as alterações motoras as pessoas vítimas de LEA podem apresentar ain-
da ataxias, desequilíbrios, incoordenações. Prejuízos Sensitivos, tam-
bém podem ocorrer, como: dor, tato, visão, audição, paladar, olfato. E 
de	linguagem:	afasias,	disartrias,	amusias,	agrafias.	
 Alterações emocionais e comportamentais também são comuns, 
como: tristeza, choro, irritabilidade, agressividade, passividade e des-
motivação. Há ainda a possibilidade de presença de prejuízo das fun-
ções cognitivas como: orientação, atenção, memória, funções executi-
vas, curso do pensamento, crítica, cognição social e consciência.
 A pessoa pode ter uma ou mais sequelas, comprometimentos tran-
sitórios ou permanentes, assim, compreender quais áreas foram afeta-
das e seus possíveis comprometimentos é de suma importância.
 Boa Leitura!
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9 
PARTE I
 Começaremos o livro explicando o que pode acontecer no cé-
rebro, ou seja, as causas das lesões encefálicas. Lesões Encefálicas 
Adquiridas – LEA.
 Várias são as causas que podem gerar uma lesão encefálica e 
trazer várias consequências para a pessoa.
ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO:
 Acidente Vascular Encefálico (AVE) é o nome atual do antigo AVC 
(Acidente Vascular Cerebral), e que as pessoas conhecem como “der-
rame”. É a segunda causa de mortalidade no mundo e a que deixa 
mais pessoas com incapacidades no Brasil.
 
Ilustração - M.Conti
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 Como o nome já diz Vascular está relacionado com a parte cir-
culatória do sangue que pode não conseguir passar pelos vasos san-
guíneos do encéfalo em virtude de uma oclusão, de um infarto ou de 
uma embolia, o que leva a um AVE isquêmico. 
 
 
 AVE ESQUEMICO 
CONDIÇÃO NORMAL
CONDIÇÃO INICIAL CONDIÇÃO EVENTUAL
Ilustração - sbdcv.org.br
Ilustração - M.Conti
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 Os vasos sanguíneos também podem apresentar outros proble-
mas como má formação ou aneurisma e rompem causando o AVE 
Hemorrágico em que o sangue derrama em uma parte do cérebro.
 
 O AVE nem sempre avisa que irá ocorrer, por vezes a pessoa 
pode apresentar fortes dores de cabeça, outras vezes sente o braço 
formigar ou perder as forças, além de outros sintomas como: vomito, 
rosto entortar, visão dupla, sonolência, alteração de consciência (pa-
recer embriagado), desmaios e fala embolada.
 
Reprodução/A
cadem
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rasileira de N
eurologia
Ilustração - M
.C
onti
 
O socorro precisa ser o mais rápido possível, mas muitas vezes o 
diagnóstico de AVE não é prontamente realizado fato que piora as 
condições clínicas do paciente. Mesmo quando a pessoa é liberada a 
voltar para casa faz-se necessário continuar prestando atenção em 
seu estado geral e procurar novamente o hospital se os sintomas per-
sistirem ou piorarem.
 O doente não tem culpa deter um AVE que pode ocorrer em vir-
tude de uma cirurgia, uma tendência familiar, problemas cardíacos, 
má formação dos vasos sanguíneos e por outras doenças como, por 
exemplo, a diabete e o colesterol, entre outras causas. Entretanto, 
bons hábitos de saúde, como alimentação equilibrada, exercícios físi-
cos, moderação em álcool, não fumar e não usar drogas, podem evi-
tar muitos AVEs ou facilitar a recuperação da pessoa.
12 
Reprodução/Secr. de Saúde - Brasília
13 
TRAUMATISMO CRÂNIO ENCEFÁLICO
 O Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) é a principal causa de 
morte entre 01 e 44 anos.
 As crianças também costumam ser vítimas de Traumatismos Crâ-
nio Encefálico (TCE) por quedas, batidas de cabeça, acidentes e infe-
lizmente por violência dos adultos.
 
 O machucado pode ser num único lugar do cérebro ou espalha-
do por diversos lugares, tudo depende do tipo de acidente, local e 
gravidade da lesão. Os TCEs podem ser classificados em três formas: 
traumatismo craniano fechado em que não há ferimentos expostos do 
crânio, em que o cérebro bate machuca mas não quebra a caixa cra-
niana. Ilustração - M
.C
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Ilustração - saberatualizado.com
.br
 Já o traumatis-
mo craniano com fra-
tura apresenta afun-
damento ósseo, 
com uma contusão.
14 
Traumatismo interno por forte impacto
Ilustrações - consenfmh.blogspot.
acesso dia 11/01/2019
FORÇA
Golpe e contragolpe causando contusão cerebral
 Os idosos podem ter TCE sem grandes acidentes, pois com o 
envelhecimento o tamanho do cérebro pode diminuir e aumentar o 
espaço entre ele e a caixa craniana (óssea) e mesmo movimentos 
bruscos, como o frear de um carro pode fazer o cérebro bater na 
caixa óssea e gerar um TCE.
 Temos os casos de lesão axonal difusa, em que o processo de 
desaceleração por causa de uma batida, pode causar cisalhamento, 
principalmente nas fibras brancas do seu encéfalo. Principalmente en-
tre os jovens, o Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) é muito comum 
e acontece por acidente automobilístico ou motocicleta, queda, feri-
mento por arma de fogo, brigas e batida de cabeça.
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Golpe causando fratura cerebral
 Há casos de curto período de inconsciência e sem sequelas apa-
rentes, os chamados TCEs leves (concussão), mas mesmo assim no 
futuro a pessoa pode apresentar mudanças de personalidade ou difi-
culdades cognitivas, necessitando de tratamento especializado.
http://promovefisio.com.br/
traumatismo-cranioencefalico/
lesao-axonal-difusa/
acesso 11/01/2019
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 Uma grande parte dos TCEs poderia ser evitada com medidas 
de segurança, por exemplo: não dirigir alcoolizado ou de forma im-
prudente, não usar drogas, cuidados com a segurança no trabalho 
e em casa, atenção as crianças e idosos, como ainda, diminuição da 
violência. 
Ilustrações - M
.C
onti
“não dirigir 
alcoolizado”
Foto - w
w
w
.etags.com
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Existem outras causas que podem gerar LEA, como:
MENINGITES:
 As meningites são causadas por vírus ou bactérias que inflamam 
as meninges (que são como uma pele que reveste o cérebro para 
protegê-lo). A infecção atinge o Sistema Nervoso Central causando 
lesões.
 A neurocisticercose em que 
a larva da taenia (solitária po-
pularmente chamada) entra na 
corrente sanguínea e instala-
se no cérebro e calcificando-se 
como que uma pedra. Esse tipo 
de problema ocorre por meio da 
carne mal passada, água e ver-
duras contaminadas.
Ilustrações - M
.C
onti
NEUROCISTICERCOSE:
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 Herpes cerebral, toxoplasmose e outras lesões bacterianas ou 
virais, que também acarretam lesão neurológica.
 As lesões neurológicas podem causar muitas vezes a morte da 
pessoa, ou períodos de coma e sequelas dramáticas, em que as se-
quelas são justamente o tema desse livro.
TUMORES:
 Temos ainda os tumores, benignos ou malignos, que podem ser 
tratado por meio de cirurgias ou outros procedimentos.
HERPES CEREBRAL:
Fonte de im
agem
: C
C
B
19 
Ilustração - M.Conti
Parte II
A INTERNAÇÃO:
 Geralmente as lesões cerebrais acontecem repentinamente, é o 
jovem que saiu para namorar e sofreu o acidente, é o pai de família 
que foi dormir e amanheceu vítima de um AVE, dores de cabeça que 
acusam um tumor e infecções de uma hora para outra.
 O doente trava uma luta silenciosa pela vida!
 Os outros se esforçam sobremaneira! A equipe de saúde por meio 
de cirurgias, procedimentos, remédios e muitas outras coisas que a 
família nem sabe do que se trata, lançam mão de todos os recursos 
para salvar o paciente.
20 
 Para a família e amigos o único conforto é rezar e confiar em 
Deus, mas muitas vezes tudo isso é muito sofrido e há momentos 
de desespero! Existem hospitais que oferecem apoio psicológico aos 
familiares e também espiritual, essa ajuda fará muita diferença no 
futuro. 
 Finalmente passa o período mais crítico e quando a pessoa vai 
para o quarto, o familiar está estressado e arrasado emocionalmen-
te. Começa então a fase de avaliar as reações do doente: se mexe o 
corpo, se lembra das pessoas, se sabe os nomes de objetos, se está 
orientado e muitas outras atividades.
Ilustração - M.Conti
21 
 Depois do coma é possível o paciente apresentar Amnésia Pós-
Traumática, em que fica desorientado, confuso e sem lembrar-se do 
passado e fatos recentes. A lesão neurológica pode provocar altera-
ções cognitivas e das funções mentais, hidrocefalia, distúrbios moto-
res, distúrbios sensoriais, epilepsia, distúrbios psiquiátricos e altera-
ções sociais. 
Ilustração - M.Conti
22 
 A equipe de saúde avalia em qual nível cog-
nitivo a pessoa encontra-se, como por exemplo: 
- não responsivo, - resposta generalizada, - res-
posta localizada, - confuso e agitado, - confuso 
e inapropriado, - confuso e apropriado automá-
tico e - apropriado intencional (maiores infor-
mações: Escala de Níveis de Função Cognitiva 
do Rancho Los Amigos Medical Center: www.
rancho.org). 
 
 No início alterações comportamentais e 
agressivas são comuns, em virtude dos medi-
camentos e da própria lesão, pode acontecer 
ainda, mutismo (pessoa não fala nada) e alte-
rações de memória. 
andar espástico
 O paciente precisa al-
ternar momentos de estimula-
ção com momentos de descanso, 
pois não consegue concatenar 
todas as informações e fatos que 
acontecem com ele. Direcionou 
muita energia para sobreviver 
ao trauma e também precisa ca-
nalizá-la para a recuperação, e 
se simultaneamente as visitas 
não param! Amigos bem inten-
cionados, mas que ficam dando 
palpite e/ou sobrecarregando o 
doente com perguntas, pode ser 
desgastante e prejudicial. Por 
isso às vezes é necessário limitar 
as visitas.
É possível também haver lentidão para entender e responder as perguntas, 
dificuldade para organizar tudo o que se passa ao seu redor e o paciente 
sente-se confuso e pode ficar agitado, irritado e até ser hostil. Em alguns 
casos há a necessidade do uso de fraldas e outras dificuldades físicas, como 
se alimentar, por exemplo, o que pode deixar a pessoa muito constrangida.
Ilustração - M
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Foto - stowellassociates.com
Por exemplo: devido à pa-
ralisia de um braço a pes-
soa não consegue proteger 
o rosto ou a cabeça na hora 
do tombo, o que pode oca-
sionar fraturas dos mem-
bros paralisados, etc.
23 
Os amigos precisam saber quesão importantes e o apoio como um 
breve sorriso e um aceno já é uma grande ajuda, as amizades serão 
muito necessárias depois em casa.
 Importante evitar contar detalhes sobre tudo o que aconteceu 
na frente do doente, mesmo que ele esteja dormindo ou com a cons-
ciência alterada de alguma forma o impacto emocional de tudo fica 
gravado. Na necessidade do familiar desabafar o ideal é sair do quarto 
e deixar outra pessoa no seu lugar.
Ilustração - M.Conti
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Durante a internação a estimulação deve ser aos poucos e com ações 
simples como durante o dia deixar a janela aberta e fazer referencias 
sobre o clima fora do hospital, deixar um calendário à vista e circular 
cada dia, mostrar fotos das pessoas mais intimas e algum objeto sig-
nificativo, camisa do time que torce ou algo do trabalho pode auxiliá
-lo na recuperação. Manter dentro das possibilidades hábitos e rotinas 
como horários para acordar e dormir, ler jornais ou ver notícias.
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 Mesmo o paciente aparentando não ter nenhuma interação so-
cial, os gestos e palavras de amor ficam registrados e podem facilitar 
a recuperação. As orientações dos profissionais de saúde e esclareci-
mentos das duvidas facilitam o trato com o paciente.
 O estresse gerado pelo medo de perder a pessoa querida, acres-
cido das noites insones, cansaço e dúvidas sobre as limitações, dei-
xa a família como se estivesse com uma ferida aberta, nesses casos 
podem ocorrer desavenças entre parentes. Por isso que o acompa-
nhamento psicológico da família é tão importante, ele poderá ajudar 
inclusive com orientações pontuais como não levar em consideração 
alguns comentários, nem rivalizar, entendendo que em verdade é o 
sofrimento que faz falar algumas “bobagens”.
“O estresse gerado pelo 
medo de perder a pessoa 
querida, acrescido das noites 
insones, cansaço e dúvidas 
sobre as limitações, deixa 
a família como se estivesse 
com uma ferida aberta”
Ilustração - M.Conti
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 O familiar é humano, não deve querer ser super herói, precisa 
dividir o tempo com outras pessoas durante a hospitalização, pois 
quando o paciente for para casa terá muito trabalho pela frente. Às 
vezes o familiar gasta sua reserva de energia e pode vir a adoecer, é 
importante cuidar para isso não acontecer, e também mais de uma 
pessoa saber cuidar do doente.
 A alta da internação gera alivio, mas também muitas inseguran-
ças, pois nem sempre os familiares são orientados de como lidar com 
a pessoa que agora possui uma deficiência, por isso é indicado procu-
rar um centro de reabilitação especializado o mais rápido possível.
 O tempo e o tratamento de reabilitação são os maiores aliados, 
do paciente e da família, além da paciência e confiança.
 O cérebro comanda absolutamente tudo em nosso corpo, por 
isso que quando machucado a pessoa pode ter dificuldades em várias 
esferas. As seqüelas podem estar relacionadas à área motora, sen-
soperceptiva, linguagem, emocional, comportamental e cognitiva que 
iremos verificar no decorrer dos próximos capítulos.
foto - medicalxpress.com
27 
PARTE III
ALTERAÇÕES CAUSADAS PELA LESÃO CEREBRAL
1)ÁREA MOTORA:
 Nosso cérebro é dividido em duas partes Hemisfério Esquerdo 
(HE) e Hemisfério Direito (HD), os feixes nervosos cruzam-se o que 
faz uma lesão no HE, por exemplo, paralisar o lado direito do corpo o 
que chama Hemiplegia Direita, e vice-versa.
28 
 Lesões maiores acometendo os dois hemisférios podem ocasio-
nar a Dupla Hemiplegia, ou seja, os dois lados do corpo comprometi-
dos.
 hemisférios cerebrais direito e esquerdo
 A pessoa com he-
miplegia pode apre-
sentar dificuldade para 
andar e mexer o braço 
paralisado. Cada caso é 
um caso, há quem fique 
com os membros flá-
cidos e sem força, em 
outros casos os mem-
bros ficam endurecidos 
e movimentam-se sem 
que a pessoa comande 
(movimentos involuntá-
rios). Há ainda déficits 
de coordenação motora 
e de equilíbrio.
Ilustração - M
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 A atividade motora é muito mais complexa do que se pode ima-
ginar, por isso é importante ter cuidado com o que se diz para uma 
pessoa que teve lesão cerebral que a deixou com hemiplegia. 
 Muitos reclamam de comparações feitas, por exemplo, “meu pai 
depois de um mês que teve derrame andou e você ainda não!” ou “de-
pois do AVE ele ficou medroso e preguiçoso!”
 Toda pessoa quer melhorar, entretanto as reações e respostas do 
organismo podem ser diferentes, a movimentação pode ser dolorosa 
e cansativa, associada, por vezes, a incompreensão do que está acon-
tecendo com ele, podendo gerar tristeza e desmotivação. O medo 
também é comum, por isso devem-se seguir apenas as orientações 
de profissionais especializados em tratar de pacientes neurológicos, 
são eles que saberão orientar adequadamente. Pessoas, mesmo que 
bem intencionados, sem a devida formação podem machucar e retar-
dar a recuperação da pessoa.
 Procurar um centro de reabilitação especializado em deficiência 
física é necessário para um tratamento com equipe interdisciplinar: 
médico fisiatra, assistente social, fisioterapeuta, terapeuta ocupacio-
nal, fonoaudiólogo, enfermeiro, nutricionista, educador físico, psicólo-
go e neuropsicólogo.
 É preciso cuidar para evitar deformidades nos membros acometidos, 
e também com a segurança. Um dos grandes alicerces da reabilitação 
é a SEGURANÇA! “Querer que a pessoa ande antes do tempo pode 
causar deformidades ou pior ainda: GRAVES ACIDENTES”.
Foto- kingsleystudio.com
.au
30 
 O processo de reabilitação pode ser mais lento do que o deseja-
do, por exemplo, é importante tratar o fortalecimento dos membros 
(pernas e braços) e o equilíbrio antes de iniciar a deambulação, quan-
do o prognóstico objetivo for de marcha.
Atualmente existem vários recursos que podem melhorar muito a ati-
vidade motora da pessoa, mas o envolvimento do paciente e da famí-
lia é fundamental, imprescindível seguir as orientações em casa e re-
alizar todos os exercícios recomendados pela equipe, principalmente 
pelos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. 
 A falta de exercícios pode atrofiar os membros inferiores e su-
periores, entretanto o excesso também pode prejudicar com inchaço 
e lesões importantes, portanto o ideal é realmente seguir as orienta-
ções quanto ao tipo de exercício, forma de realizá-lo e a quantidade a 
ser feita para evitar problemas.
 Os exercícios físicos serão necessários sempre, por isso a con-
tinuidade após a alta como atividades de condicionamento físico, hi-
droterapia, esporte adaptado podem ser indicados, com educadores 
físicos, se possível especializados em reabilitação.
Foto - integrisok.com
31 
2)ÁREA SENSOPERCEPTIVA:
 Há casos em que ocorrem as alterações sensoperceptivas, como 
por exemplo, o tato. A pessoa pode reclamar muito de dor, entretanto 
não sente quando pegam em seu braço. Isso acontece porque a dor 
é neurológica, ou seja, o cérebro interpreta o estímulo como dor, en-
tretanto realmente não discrimina os outros contatos, o que precisa 
ser esclarecido quanto ao cuidado, pois pode encostar o braço numa 
panela quente, não sentir e se queimar, machucar e não perceber. A 
falta de sensação e de força também pode ocasionar acidentes.
Ilustração - M
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 A alteração de sensibilidade e longos períodos sentados ou deita-
dos podem causar as úlceras de pressão, a equipe de enfermagem irá 
orientar sobre os cuidados necessários com a pele nesses casos, para 
evitar ou minimizar estes problemas.
 Existe um fenômeno chamado heminegligência, geralmente ocor-
re quando a lesão é no Hemisfério Direito, a pessoa não se apercebe 
doque está a sua esquerda, isso pode levar a não conversar com uma 
visita que sentou do lado esquerdo, não achar o talher na mesa, co-
mer apenas a comida que está à direita, não conseguir realizar uma 
escrita ou leitura. 
 Importante salientar que a pessoa realmente não está perceben-
do os estímulos e não fingindo. Portanto é preciso lembrá-lo, chaman-
do sua atenção para o lado despercebido.
Ilustração - M
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33 
“Existe um fenômeno 
chamado heminegligência, 
geralmente ocorre quando a 
lesão é no Hemisfério Direito, 
a pessoa não se apercebe do 
que está a sua esquerda”
Ilustração - M.Conti
 Alterações proprioceptivas são comuns, por exemplo, a pessoa 
está caída na cadeira e não sabe se arrumar, ou então está bem e co-
meça a gritar que vai cair. Essas alterações dificultam a recuperação 
de várias atividades, pode interferir no caso para o andar, pois gera 
muita insegurança, um simples degrau pode aparentar um “precipício” 
para a pessoa, entender essa dificuldade e acalmá-la é fundamental.
 Além dos déficits relacionados ao tato e percepção a visão tam-
bém pode ficar prejudicada, não enxergar um lado ou um quadrante 
do espaço, ter visão dupla (diplopia), ver borrões ou não apagar logo 
a imagem quando sai do campo visual. O que confundem a pessoa 
quando precisa realizar alguma ação motora ou interpretar o que está 
acontecendo a sua volta.
 O cérebro está muito sensível, por isso a audição pode ficar au-
mentada ou com ruídos, deixando a pessoa irritada, não querendo ba-
rulho, participar de reuniões com muita gente pode ser insuportável. 
Em outros casos pode-se ouvir menos e não entender ou discriminar 
sons como de um diálogo ou da televisão.
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 Paladar e olfato podem ser alterados, diminuindo em muito o 
apetite e dificultando comer alguns alimentos. Ocorrem ainda os pro-
blemas de deglutição com engasgos, a avaliação do médico, do fono-
audiólogo e do nutricionista torna-se fundamental nesses casos.
3)ÁREA DA LINGUAGEM:
 Alterações de comunicação podem ocorrer principalmente se o 
Hemisfério Esquerdo for acometido, gerando a afasia.
 Existem tipos diferentes de afasias, como de Broca, de Wernicke, 
de Condução e Mista. São casos em que a pessoa compreende o que é 
dito, mas não consegue a articulação motora para falar, outros casos 
em que o pensamento não é transformado em fala, casos mistos e por 
vezes a compreensão também fica comprometida.
 Ocorrem ainda dificuldades para lembrar nomes e palavras, pro-
blemas para leitura e escrita.
Inicialmente tanto o paciente quanto a família sofrem muito, pois 
tudo é desconhecido, são muitas as novidades e problemas que nem 
sabiam que poderiam acontecer.
 A pessoa fica nervosa e com vergonha por não conseguir se ex-
pressar, motivo que pode levar ao isolamento e depressão. Pode até 
acontecer momentos de irritabilidade e agressão contra a família ou 
foto - www.newsweek.com
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profissionais que o atendem, a firmeza nesse momento é importante, 
como ainda evitar os sentimentos de magoa ou raiva em relação ao 
paciente. 
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 Esses comportamentos tendem a melhorar com o passar do tem-
po e o tratamento. 
 É importante saber que há várias formas de tratamento e alter-
nativas para a comunicação hoje em dia, o fonoaudiólogo saberá ava-
liar, tratar e orientar da melhor maneira, para cada caso.
4)EMOÇÃO, COMPORTAMENTO E COGNIÇÃO:
a) Fases da vida: 
 Como vimos às seqüelas podem ser ocorrer em várias áreas, 
como: motora, sensoperceptiva, comunicação, linguagem, cognitiva, 
emocional e comportamental, e tudo ocorrendo concomitante, logo o 
abalo emocional gerado é muito grande.
 A lesão cerebral pode gerar mudanças de humor, de compor-
tamentos e alterações cognitivas, como ainda a desestabilização da 
dinâmica familiar, fatores que fazem freqüente a necessidade da in-
tervenção do profissional de psicologia.
 Durante nossa vida desenvolvemos nossa personalidade e a ma-
neira peculiar de como lidamos com nossos problemas, essa forma de 
reação em muito influenciará o impacto emocional e capacidade de 
enfrentamento diante da instalação da deficiência.
 Outro aspecto importante para ser levado em consideração é em 
que momento da vida da pessoa o acidente aconteceu. 
37 
Infância:
 Há crianças que podem sofrer dano cerebral, por doenças, inclu-
sive AVE e acidentes. 
 Muitas vezes nesses casos elas ainda não possuem estrutura 
emocional e a parte intelectual desenvolvida o suficiente para com-
preender tudo o que acontece. As crianças ficam assustadas com a 
internação e procedimentos que são submetidas, necessitam do su-
porte e apoio dos familiares, caso estes familiares ficarem muito pe-
sarosos cada vez que for necessário um procedimento, como tomar 
uma injeção, por exemplo, a experiência será muito mais difícil para 
todos.
Ilustração - M
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 Os pais geralmente sofrem muito com o ocorrido, pois ficam re-
ceosos de como será o futuro, toda a idealização que se tinha em re-
lação ao filho fica abalada. Nesse momento, nem sempre amigos e fa-
miliares ajudam, às vezes até atrapalham, pois conselhos e sermões 
para os pais as vezes não são adequados naquele momento. Exemplo 
falar: “agora a vida deve ser direcionada só para a criança deficiente, 
a mãe “tem” que ser abnegada, ou foi um castigo, ou se tiver fé Deus 
fará a criança ficar normal”. Falas que, apesar da boa intenção do in-
terlocutor, podem aumentar a angustia dos pais.
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 A família também sofre muito com a situação, mas é preciso 
tranqüilizar a criança, dar as respostas para o que ela pergunta, pois 
ás vezes a criança não entende o motivo de seu problema e pode 
achar que ficou doente porque fez algo errado, tem medo que os pais 
não gostem mais dela e a abandonem, como ainda os medos dos tra-
tamentos e de passar dor.
 As seqüelas podem ser iguais as dos adultos, logo parar de an-
dar e falar é muito difícil como também a alteração comportamental 
e cognitiva. Uma linguagem simples, respeitando sua compreensão e 
sua idade pode facilitar seu tratamento. Importante não abandonar o 
tratamento de reabilitação, mesmo que a criança chore no início.
 O afeto e convivência com irmãos e amiguinhos precisam ser 
mantidos e incentivados.
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Juventude:
 Os jovens, que sofrem lesão neurológica, podem sentir que suas 
vidas foram interceptadas e não terão mais chances. Frequentemente 
eles ficam impactados sem entender o que houve e acham que tudo 
vai passar rapidamente e ser como antes, depois podem ficar revolta-
dos e irritados, tratando mal todas as pessoas que se aproximam ou 
reagem com tristeza e depressão.
 O isolamento pode ser um entrave, os amigos se afastam, namo-
ros são terminados e o jovem passa a conviver apenas com a família 
e os profissionais que o atendem, diminuindo seu convívio social.
 As questões afetivas, cognitivas e comportamentais podem ficar 
desestabilizadas, por isso a importância da avaliação psicológica, pois 
o retorno para atividades anteriores precisa ser cuidadosamente es-
tudado para não haver maiores traumas e sofrimento.
 Os comportamentos anteriores a lesão também precisam ser le-
vados em consideração, muitos jovens vivem se arriscando, como 
dirigir embriagados ou em alta velocidade, uso de drogas e situações 
violentas. Tais características podem afetar o relacionamento familiar 
e estressar ainda mais o cuidador e impedir o bom aproveitamento do 
programa de reabilitação.
 Muitas vezes o incidente pode ser a chance de uma nova forma 
de viver, com perspectivas diferentes e melhor interação entre as pes-
soas da família.
Foto - M
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Adulto/Maturidade:A lesão neurológica na idade adulta pode trazer várias dificulda-
des não só para o paciente, mas também para sua família.
Por exemplo, quando ocorrem alterações de papéis sociais e familia-
res, em que às vezes a esposa precisa passar a administrar seus ne-
gócios e da família, mesmo sem muito conhecimento, os filhos preci-
sam assumir compromissos, a situação financeira pode ficar abalada. 
O assistente social é o profissional que em muito pode auxiliar nas 
orientações para buscar os recursos e benefícios que se tem direito e 
meios para facilitar o tratamento de reabilitação.
 O paciente pode ficar muito angustiado pelo declínio e mudança 
no padrão social, ou pela perda de uma boa oportunidade profissional 
e não saber com restabelecer seu papel na família e na sociedade.
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Terceira Idade:
 Os idosos podem achar uma grande injustiça depois de tanta luta 
ficarem doentes, sentem-se desamparados, que atrapalham a vida 
dos outros e podem ter dificuldades para seguir os tratamentos.
 Muitas vezes precisam se adequar a rotina das pessoas que cui-
dam deles e suas vontades e preferências não são levadas em consi-
deração. Perdem grande parte de sua autonomia e alegria de viver. A 
presença de sintomas depressivos precisa ser investigada.
 A lesão neurológica pode acelerar o processo de senescência, 
motivo que torna importante a manutenção de tarefas cognitivas e 
em muitos casos verificar se há indícios de quadros demências. 
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b)Aspectos afetivo-emocionais:
 As limitações físicas e dificuldades de comunicação geram de-
pendência de outras pessoas, por exemplo, precisarem de ajuda para 
beber um simples copo d’água, para atos de higiene pessoal, para ir 
aos lugares, frequentemente geram tristeza e angustia. Sentimentos 
de inutilidade, inadequação, inferioridade são comuns e podem levar 
a depressão reativa, ou seja, uma reação compreensível para tudo 
isso, mas que precisa de atenção e tratamento, pois o paciente não 
consegue se motivar para a reabilitação e não ver perspectivas futu-
ras.
 
 A própria lesão neurológica pode causar outro tipo de depres-
são chamada secundária, em que o paciente não se alegra com mais 
nada, colabora pouco com o processo de reabilitação e fica repetitivo 
em suas queixas, reclama sempre das mesmas coisas e as palavras 
de estímulo parecem que não surtem nenhum efeito. Nesse caso a 
pessoa pode ficar muito diferente de sua personalidade anterior, sen-
do importante avaliação médica para conduta medicamentosa. Esse 
é um fenômeno orgânico e não fraqueza de caráter do doente. Tem 
casos que a família nega-se a dar a medicação, pois deseja que o 
paciente reaja com a mesma força que sempre teve em outras situa-
ções, esse comportamento só aumenta o sofrimento da pessoa e da 
família porque o controle psicológico é impossível nesse momento. 
Fo
to
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 d
ia
ri
oc
or
re
o.
pe
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 Uma forma de entender é pensar em uma queimadura na mão, 
como metáfora, por exemplo, deixa em volta da queimadura a pele 
sensível e dolorida, o mesmo acontece com o cérebro de quem tem 
um AVE ou TCE, pode desencadear uma grande sensibilidade que al-
tera as emoções. Ocorre a chamada “Labilidade Emocional”, ou seja, 
a pessoa pode chorar ou rir muito independente do contexto em que 
está.
 O choro é muito comum, chora ao ver um familiar, falar ao tele-
fone ou começar os exercícios. Inicialmente a família chora junto, de-
pois pode começar a ficar incomodada e querer interferir na reação do 
paciente: “Está chorando por quê? Todo mundo trata você bem, com 
carinho! Está cheiroso, bem alimentado... parece que não valoriza ou 
agradece nada que fazemos por você!” Realmente para a família é 
angustiante o choro, mas é involuntário e difícil para o paciente con-
trolar. 
 Por exemplo, o caso de uma senhora que ao se sentar à mesa 
para as refeições começava a chorar, questionada por que chorava, 
respondia que não estava chorando, ou seja, nem ao menos se aper-
cebia do choro. Outro caso de um alto executivo que chorava nas reu-
niões da empresa e precisou afastar-se até diminuir a labilidade.
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 Mas também pode ocorrer o contrário, quando ocorrem lesão no 
hemisfério direito, por vezes, gera a jocosidade. O riso descontextua-
lizado pode causar situações embaraçosas, como ataques de risos em 
velórios, risos em hospitais diante de pessoas doentes e durante os 
exercícios dificultando a concentração nas tarefas. É necessário ex-
plicar para as pessoas que estas reações fazem parte do quadro neu-
rológico, para não ficarem com raiva do paciente, com a recuperação 
neurológica a labilidade emocional tende a diminuir.
 Emoção, comportamento e cognição fazem parte da mente hu-
mana e são interdependentes e uma influencia a outra por isso que o 
comportamento também pode ficar alterado.
c)Aspectos comportamentais:
 Outras áreas afetadas do cérebro podem causar alteração de 
comportamento. Agitação psicomotora, agressividade verbal e física 
pode acontecer por qualquer motivo, muitas vezes por falta de com-
preensão o paciente pode ficar assustado e reagir com comportamen-
tos hostis ou agressivos, como bater e morder quem cuida dele.
Ilustração - M.Conti
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 O estresse da doença e da hospitalização pode ocasionar um 
quadro de distúrbio psiquiátrico com sintomas de despersonalização, 
delírios e até alucinações. O quadro de estresse pós-traumático pode 
evoluir com pânico, (medo, sensação de morte entre outros sinto-
mas), é preciso informar os médicos nesse caso.
A dinâmica afetivo-emocional e comportamental anterior à lesão pode 
dificultar a evolução do paciente, principalmente em caso de drogadi-
ção ou alcoolismo anterior, com crise abstinência e recusa em aban-
donar o vicio, o paciente pode ficar agitado ou agressivo. A interven-
ção psiquiátrica pode ser necessária.
 
 A cognição social que é a capacidade de analisar os estímulos 
do ambiente e reagir de forma adequada a eles pode ficar alterada e 
gerar comportamentos disfuncionais, inadequados, como grosserias, 
vocabulário chulo mesmo em situações profissionais. O paciente pre-
cisa ser protegido evitando-se situações de risco, negociações finan-
ceiras ou confronto com pessoas que podem levá-lo ao perigo, pois o 
doente pode perder inclusive a noção de medo. 
Crítica e juízo são funções mentais que direcionam o nosso compor-
tamento social, assim quando alterados podem resultar em inadequa-
ções, pessoais, sociais e inclusive sexuais. Por vezes, o paciente conta 
piadas e faz comentários impróprios, em casos mais graves pode per-
der a inibição para aspectos sexuais e fisiológicos, como a noção do 
público e do privado.. 
 A empatia pode ficar reduzida, então a pessoa não se sensibiliza 
com o sofrimento dos outros, mesmo que sejam suas ações que cau-
sem o sofrimento.
 A capacidade de inibição quando alterada faz com que a pessoa 
não consiga se controlar a tocar alguma coisa, pode, por exemplo, fi-
car mexendo ou olhando um objeto como uma criança pequena, como 
ainda falar desenfreadamente.
 O inverso também pode ocorrer como a apatia patológica em que 
a pessoa só realiza alguma ação sobre o comando do outro, perde a 
capacidade de ter iniciativa e programar uma atividade, por exemplo. 
Isso pode irritar o familiar, por exemplo, uma vez deixaram o paciente 
dentro do carro na garagem para ver até quando ele agüentava, de-
pois de horas o filho se conscientizou que não era provocação e bus-
47 
cou seu pai no carro. 
 Da mesma forma que o paciente não consegue iniciar uma ação, 
ele pode não conseguir pará-la, também precisando do comando ver-
bal do familiar, como, por exemplo, parar de esfregar a cabeça duran-
te o banho.
 Outras alterações comportamentais podem ocorrer em virtudedos déficits cognitivos, como será exposto a seguir.
5)COGNIÇÃO:
 Conforme mencionamos anteriormente, as alterações sensoper-
ceptivas, em que as sensações são as estimulações recebidas pelos 
órgãos dos sentidos, enquanto que a percepção é a tomada de cons-
ciência do estimulo sensorial, assim as dificuldades podem ocorrer na 
recepção (sensação) ou na interpretação (percepção) do estímulo. 
 A pessoa pode apresentar dificuldades de percepção do próprio 
corpo e do ambiente circundante, o que interfere na orientação quan-
to ao tempo (perde a noção do dia, ano e horas) e quanto ao espaço 
(não sabe onde está, perde-se dentro da própria casa, não sabe como 
se deslocar). A localização depende de áreas do cérebro como a pa-
rietoccipital que também possibilita a síntese visual. 
 Por isso além das alterações citadas anteriormente, a cognição 
pode ficar prejudicada para a decodificação dos elementos, neste caso, 
por exemplo, a pessoa não consegue reconhecer uma maçã, distorção 
de imagens, não reconhecimento de sinais e códigos que interferem 
na leitura e escrita. A percepção faz com que direcionamos nossa 
consciência para um elemento ignorando os outros estímulos, por isso 
é cabível afirmar que a atenção é uma função mental elementar para 
48 
a existência das outras atividades.
 A atenção direciona a atividade mental para um determinado 
objeto, logo quando alterada prejudica outras funções. Paciente com 
lesão cerebral pode ter pouco tempo de concentração e fácil fadiga o 
que prejudica o aprendizado de novos exercícios no caso de reabilita-
ção. A capacidade de focar a atenção também pode apresentar défi-
cits, sendo que a pessoa se distrai com facilidade, podendo interferir 
nos exercícios dos outros, mas não conseguindo atentar para os seus 
exercícios. Lesão no lobo frontal, por exemplo, faz com que o paciente 
não responda nenhuma pergunta direcionada á ele, entretanto pode 
responder tudo o que é perguntado para seu vizinho.
 
 Essas alterações podem influenciar em várias áreas, por isso, o 
reaprendizado para andar necessita de muita atenção da pessoa, por 
isso, ambientes que possam distraí-lo são perigosos, com risco de 
quedas e acidentes.
 Muitas vezes as dificuldades de atenção são confundidas com 
excesso de agitação/hiperatividade, problema de memória ou emo-
cional. De fato a diminuição da atenção interfere em tudo, principal-
mente na memória.
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 O processo de memorização começa com a recepção, seleção e 
tratamento da informação recebida pelos órgãos dos sentidos, se essa 
fase está prejudicada não passa para os outros estágios. Assim as al-
terações sensoperceptivas e atencionais mencionadas anteriormente 
podem dificultar a memória, como ainda aspectos emocionais, como 
a depressão em que a energia da pessoa encontra-se diminuída. 
O isolamento social e a falta de compromissos profissionais e/ou edu-
cacionais também interferem na memória. A pessoa não tem animo 
para prestar atenção nos novos acontecimentos, pois não tem com 
quem comentar ou brincar, assim não memoriza e sente-se cada vez 
mais alienada e excluída.
Regiões responsáveis pela segunda fase da memorização que é o ar-
mazenamento das informações também podem sofrer prejuízos. As 
informações são estocadas de acordo com sua relevância ou repeti-
ção, por esse motivo que é possível trabalhar a reabilitação neuropsi-
cológica da memória. 
 
O último estágio do processo de memorização é a evocação ou acesso 
as informações que pode ser consciente ou não ao indivíduo.
 
Possuímos diferentes tipos de memória e não são todas que apresen-
tam alterações, fatos que geram desentendimentos entre o paciente e 
a família. Antes de explicarmos os tipos de memória, salienta-se que 
a pessoa com lesão neurológica apresenta oscilações em seu desem-
penho, ou seja, pode lembrar-se de um fato hoje e no dia seguinte 
não lembrar mais. Vários são os motivos para essas oscilações, desde 
alterações climáticas, estado de saúde, emoções e sobrecarga de es-
tímulos.
Sabemos nossa história graças à capacidade de nosso cérebro reter 
e recuperar as experiências, tanto antigas como recentes. Diante de 
uma lesão neurológica é comum a pessoa manter a integridade da 
memória remota, ou seja, a lembrança de fatos, informações e luga-
res do passado, enquanto a memória recente como nomes de pessoas 
mais novas (netos, por exemplo) fatos recentemente acontecidos e a 
rotina do tratamento são esquecidos.
A dificuldade para fixar novos elementos e mantê-los ativos na men-
50 
te para realizar uma tarefa pode deixar a pessoa confusa e estressar 
os familiares, como por exemplo às vezes o doente teima que não 
almoçou e já almoçou, esquece os medicamentos, não dá recados e 
demora mais para aprender coisas simples. Alguns recursos básicos, 
como anotar e fotografar eventos (refeições, por exemplo) pode faci-
litar a orientação e o processo de memorização, como ainda facilitar 
a memória prospectiva, ou seja, a memória de futuro do que precisa 
ser feito depois.
A memória de nossa autobiografia é que nos dá a sensação de inti-
midade conosco e deixa integra nossa identidade, por isso quando 
abalada reescrever fatos da vida, olhar fotos e filmagens de festas e 
amigos, ajuda muito a pessoa a resgatar sua identidade e a tranqüili-
za emocionalmente.
Não vivemos mais nas cavernas graças à capacidade do nosso cérebro 
em aprender fatos registrados por outras pessoas, por isso o estudo 
possibilita a evolução do Homem, mas muito do conteúdo estudado 
pode ser esquecido e precisa ser reaprendido. 
A lesão cerebral pode não só alterar a função motora, como também, 
a memória de procedimento da habilidade perceptomotora, ou seja, 
o automatismo motor como andar, digitar, tocar um instrumento e 
dirigir. Dentre as dificuldades podem acontecer as apraxias, em que 
a pessoa perde a capacidade de idealizar as ações motoras, como se 
vestir, repetir gestos, montar um quebra-cabeça.
 Para realizarmos algumas ações simples como fazer o almoço, por 
exemplo, necessitamos de várias atividades agindo em concerto, cha-
mamos esse conjunto de ações de “Funções Executivas”, em que seus 
principais componentes são: a volição, em que a pessoa tem a inten-
ção de realizar uma ação; o planejamento para saber quais etapas e 
metas serão seguidas; a ação proposital em que se inicia, mantém, 
altera ou pára o comportamento de acordo com a necessidade e de-
sempenho efetivo em que verifica os resultados e os modifica caso 
necessário. O paciente com déficits das “Funções Executivas” pode ter 
sérias dificuldades para tomar decisões e resolver problemas da vida 
diária, o que interfere em seu comportamento e estado emocional.
51 
Parte IV
1) Reabilitação
 A melhora da pessoa que sofreu a lesão cerebral já se inicia no 
período de hospitalização e prossegue por muito tempo. Algumas cé-
lulas nervosas recuperam-se e outras se reorganizam espontanea-
mente. Alguns artigos referem que a recuperação ocorre no período 
de três a seis meses, caso contrário a pessoa fica com seqüelas. Ao 
lerem essas informações retiradas pela Internet paciente e familiar 
podem ficar desesperados buscando rapidez no processo com longas 
e estressantes jornadas de exercícios, o que é um erro, não se deve 
sobrecarregar o paciente, pois o estresse pode dificultar a evolução, 
ele precisa de descanso e paciência.
 É necessário procurar orientações especializadas. O tratamento 
de reabilitação é indispensável por vários motivos, primeiro porque os 
exercícios ajudam no processo de recuperação das células do cérebro 
pelo princípio da neuroplasticidade, em que alguns neurônios voltam 
a crescer e também há a possibilidade dos neurônios realizarem novas 
redes neuronais, ou seja, novas conexões para restabelecer a função 
perdida.
A rede de neurônios
Foto: Pixabay
52 
 A lesão neurológica podecausar a deficiência física, que melho-
ram com os exercícios de acordo com a gravidade do caso, como tam-
bém temos a melhora funcional, em que a pessoa readquire a função 
mesmo que deficiência permaneça, ela consegue realizar atividades 
por meio de adaptações. Exemplo, o pé da pessoa vira muito e a im-
pede andar, aparelhos como órteses e outras adaptações ajudam a 
ficar na posição certa e a pessoa consegue andar.
andar espástico
 Vários fatores interferem na maneira como 
a pessoa enfrentará a deficiência: sua estrutura 
de personalidade, relacionamentos interpesso-
ais, aspectos cognitivos, alterações neuropsico-
lógicas, expectativas de melhora e seus planos 
futuros de vida.
 Muitas vezes a pessoa não entende o que 
aconteceu com ela e pensa que a recuperação 
será muito rápida. Outras vezes fica tão impac-
tada que não consegue se organizar emocio-
nalmente e fica presa em seu sofrimento. Sen-
timentos de negação, como se nada houvesse 
acontecido ou de desamparo, tristeza e vergonha 
são comuns.
 Importante avaliar mudanças de humor, como a presença de si-
nais de depressão, estadiamento e caracteristicas e de qual tipo, bem 
como, a labilidade emocional, pois esses fatores além de trazerem 
sofrimento para o paciente também fazem sofrer seus familiares que 
muitas vezes não compreendem sua tristeza. 
 É comum questionarem o motivo de tanto choro, quando ele é 
recorrente e sem contexto. O não entendimento da situação pode le-
var os cuidadores a considerarem o paciente um ingrato com a família 
que se dedica tanto. A depressão e a labilidade podem ser causadas 
pela lesão neurológica e a pessoa não consegue se controlar, por ve-
zes nem explicar porque tanto choro. Quanto mais cobrada pior fica 
seu estado emocional e sentimentos de inutilidade.
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Imagem: 
HOMEM VELHO COM A CABEÇA 
EM SUAS MÃOS - 1890
Vincent van Gogh
(Kröller-Müller Museum)
Otterlo - Holanda
 A falta de motivação também é comum, acrescidas as dificul-
dades motoras e dores reais, deve-se diferenciar esse fenômeno da 
falta de interesse e preguiça. É difícil quem não queira melhorar, mas 
muitas vezes a falta de energia e a capacidade de esforço para empe-
nhar-se no tratamento são abalados e o tratamento psicológico ajuda 
a recuperá-los.
 Irritação e agressividade podem acontecer sendo necessário em 
alguns casos o uso de medicação indicada pelo médico. Ressalta-se 
que não se trata de falta de caráter ou maldade do paciente e sim a 
consequência da disfunção cerebral acarretando esses problemas.
 A avaliação psicológica engloba a verificação das funções cog-
nitivas e mentais, emocionais e comportamentais do paciente, inter 
relacionando-as com o funcionamento cerebral e a lesão.
 Verifica-se a compreensão do paciente, em que ele pode enten-
der apenas solicitações simples e concretas, motivo que dificulta se-
guir várias ordens ao mesmo tempo ou realizar uma seqüência de 
tarefas. Aspectos como concentração, raciocínio, abstração, capaci-
dade de elaboração e síntese também podem estar alterados e com-
prometer seu desempenho cognitivo.
54 
2)Avaliação Neuropsicológica:
 A neuropsicologia estuda as relações entre o cérebro e o com-
portamento humano, cabe ao psicólogo especialista nessa área rea-
lizar a avaliação neuropsicológica, pois essa é um tipo complexo de 
avaliação que demanda conhecimento da psicologia clínica, psicologia 
do desenvolvimento das funções mentais, dos testes e instrumentos 
psicológicos, como ainda, conhecimento do sistema nervoso, organi-
zação e especialização cerebral e dos quadros patológicos. Assim, a 
neuropsicologia estuda, além da cognição, as emoções e seus distúr-
bios, bem como os distúrbios de personalidade provocados por alte-
rações do cérebro, que é o órgão do pensamento e, portanto, a sede 
da consciência
 O cérebro funciona de forma integral e em concerto, logo uma 
lesão em determinado local pode interferir em várias funções, por-
tanto, detectar uma disfunção não nos remete imediatamente para o 
local da lesão. Entretanto o sistema nervoso possui uma organização 
e especialização das funções, o neuropsicólogo saber disso facilita o 
entendimento dos sintomas do paciente.
 
 A cognição humana é uma atividade complexa que envolve pro-
cessos mentais e cerebrais interconexos com o mundo físico e social, 
a divisão em tópicos é apenas didática, pois o individuo é a intera-
ção de toda a complexidade motora, sensoperceptiva, comunicativa, 
emocional, comportamental e cognitiva, sendo que uma área tanto 
interfere como é resultante de outra.
Como as funções mentais são interligadas tornam-se mister avaliar a 
sensopercepção em que a pessoa tem a consciência de si e dos obje-
tos, assim comportamentos como bater no próprio braço, encostá-lo 
em uma panela quente, reclamar de dores ou que está mal posiciona-
do na cama podem ser devido as essas alterações. 
Por vezes o paciente apresenta medo para andar de carro, temor na 
cadeira de rodas ou paralisa para andar ao ver um pequeno desnível 
no chão, como também ignorar elementos do ambiente ou enxergá
-los distorcidos. 
 A avaliação neuropsicológica pode diferenciar se é o caso de me-
55 
dos e inseguranças ou na realidade de disfunções sensoperceptivas.
 
 Necessário avaliar o processo atencional, levando-se em consi-
deração que o mesmo envolve a atração e interesse por determinada 
situação que depende da carga emocional que o sujeito possui no 
momento. Quando a pessoa tem dificuldade de atenção é importante 
verificar qual tipo, focal, seletiva, sustentada ou flutuante. Várias po-
dem ser as causas de prejuízos atencionais: extensão e local da lesão, 
baixa de energia cerebral (alteração do tônus cortical), alterações do 
ciclo circadiano (período de sono e vigília), medicamentos e estado 
de humor. È uma atividade psíquica de base que influencia nas outras 
atividades mentais.
 
 Atenção e memória são interdependentes assim avaliar em que 
fase do processo de memorização se tem maior dificuldade e qual tipo 
de memória está prejudicado: a imediata, a operacional que depen-
dem diretamente da atenção, memória recente ou remota, memória 
de fatos pessoais ou de eventos, semântica, procedimental, ou mes-
mo memória de futuro. As dificuldades de memória são as maiores 
queixas tanto dos pacientes como de suas famílias, pois podem com-
prometer vários aspectos da vida pessoal.
56 
 É preciso avaliar seu controle cognitivo, sua capacidade de reali-
zação de ações, praxias e funções executivas, pois por vezes a pessoa 
sabe os elementos para realizar uma ação, mas não consegue coorde-
ná-la no tempo e no espaço, ou seja, não sabe fazer na prática uma 
atividade simples como coar um café.
 
 Diante disso avalia-se a consciência do sujeito, que é síntese das 
outras funções e de sua adequação social.
O entrelaçamento dos dados da avaliação permite orientar a família 
e o paciente, traçar um plano de tratamento e esclarecer a equipe de 
reabilitação sobre o funcionamento psíquico geral do paciente.
3)Tratamento Psicológico:
 Tanto para o paciente como para a família aderir ao processo de 
reabilitação é importante que entendam o que de fato aconteceu. É 
muito comum os pacientes perguntarem: “mas o que aconteceu co-
migo?” e não compreenderem e aceitarem as dietas, exercícios, tra-
tamentos e medicamentos.
 Outra grande dificuldade é com o uso dos medicamentos anti-
convulsivantes, que são importantíssimos! A convulsão pode ocorrer 
porque há uma lesão neurológica, o cérebro funciona por sinapses 
(trocas de mensagens eletroquímicas entre os neurônios), como há 
uma cicatriz no cérebro pela LEA, as mensagens entre os neurônios 
ocorrem de forma irregular, ou há uma grande descarga que parece 
um choque elétrico (convulsão) ou a diminuição da atividade elétrica 
há a crise de ausência. Cada crise que acontece pode lesar cada vez 
mais o cérebro, motivo que torna essenciala medicação.
 Para que o organismo fique em harmonia e funcione bem, de-
vem-se respeitar os horários da medicação, caso contrário pode haver 
sobrecarga ou carência do medicamento no organismo.
 Ouvir o paciente em suas duvidas e receios, dar explicações sim-
ples, compreender seu sofrimento e fortalecê-lo para a busca de so-
luções, faz parte do atendimento psicológico. 
 As variações emocionais são naturais, angustia, tristeza, revolta, 
alta expectativa entre outras. Os relacionamentos interpessoais po-
57 
dem ser prejudicados, pela impaciência e desmotivação do paciente.
 A percepção da limitação, como por exemplo, ter sede e não po-
der levantar para pegar um copo d’água pode levar ao desespero e 
sentimento de urgência e irritabilidade, em que a raiva é direcionada 
para o familiar mais próximo e que cuida do doente, ou ainda, achar 
que os profissionais que lhe tratam não são bons o suficiente e por 
isso não se “cura”.
 Vergonha e tendência ao isolamento também são manifestações 
frequentes e podem levar o paciente a não querer participar de even-
tos sociais e familiares, o incentivo para essas ocasiões deve ser do-
sado com cada momento da evolução.
 Apesar de a vida aparentar ter ficado virada de cabeça para bai-
xo, o tempo e o tratamento se encarrega de amenizar as coisas, res-
significa os fatos e a vida torna a ter sentido e bons momentos estão 
por vir, mas comemorar pequenos ganhos ajuda muito nesse cami-
nhar.
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Parte V 
REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
Para realizar efetivamente o tratamento e a Reabilitação Neuropsico-
lógica, compreender a organização e especialização Encefálica faz-se 
necessário. Vamos mostrar quais áreas e sistemas estão relacionados 
com a Lesão Encefálica Adquirida.
Sistema Nervoso Central é responsável pela coordenação de todos 
os outros sistemas, ele se encarrega da percepção de estímulos bem 
como da organização de reações ou respostas a eles. É formado pelo 
encéfalo, localizado na caixa craniana, e pela medula espinhal
O Encéfalo é aquela porção da parte central do sistema nervoso con-
tida no crânio. Aproximadamente 100 bilhões de neurônios e de 10 a 
50 trilhões de neuroglias compõem o encéfalo, que possui uma massa 
de aproximadamente 1.300g nos adultos. Em média, cada neurônio 
forma 1.000 sinapses com outros neurônios. O número total de sinap-
ses, aproximadamente é de um quintilhão.
Im
ag
em
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 u
ni
ve
rs
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om
.b
r
59 
 Sistema Nervoso Central SNC, como o nome já diz, sistema sig-
nifica que funciona de forma integrada, assim uma lesão pode trazer 
alterações funcionais em várias áreas da vida da pessoa, como físi-
cas, psíquicas e sociais. 
 O nosso cérebro é composto por hemisférios direito e esquer-
do, que trabalham em concerto, como as áreas occiptais, parietais, 
temporais, frontais, sistema límbico, que atuam de forma integrada, 
mas também com funções especificas. Apesar desse funcionamento 
integrado do cerebro, existem regiões mais responsáveis por algumas 
atividades, como veremos a seguir, de forma resumida:
Hemisfério Esquerdo (HE):
 Geralmente é o hemisfério dominante, o responsável por todo 
o maquinismo para a função linguística, a fala, cálculos e o controle 
motor fino. Neste hemisfério a “cissura de Sylvius” é maior, portanto a 
região temporal também é maior, bem como a área secundária. Todo 
processo sequencial ou ordenação em série é função do HE que rea-
liza os programas fonêmicos da fala, percepção e generalização das 
conexões sintáticas.
 No hemisfério direito a cissura de Sylvius é menor e com curva-
tura para cima, fazendo com que a região parieto-occiptal seja maior. 
Hemisfério Direito (HD):
 Importantíssimo na complexa tarefa 
visuo-espacial , perceptual, comportamen-
to emocional e o aspecto paralinguístico da 
comunicação. Responsável pela representa-
ção do espaço extra-pessoal, distribuição da 
motivação e esquema motor de exploração.
 O HD cumpre as funções como visão 
espacial e memória topográfica, atenção, 
sensação e percepção (inclusive a proprio-
cepção), reconhecimento de fisionomias, e 
também com o controle emocional. Ou seja, 
responsável pela nossa percepção de como 
e onde estamos, posição do corpo e como 
nos relacionamos com os outros. 
 Além de funcionar junto com o HE, 
como se “verificasse” o que o HE está fa-
zendo, procedendo simultaneamente e em 
paralelo.
60 
HIPOTÁLAMO:
 
 O hipotálamo tem muitas funções importantes: tem o papel de 
regular o Sistema Neurológico Autônomo (que subdivide-se em sim-
pático e parassimpático) e o Sistema Endócrino; na regulação da tem-
peratura corporal, funcionando como um “termômetro”, detectando 
as variações de temperatura do sangue.
 Ele tem papel importante junto ao Sistema Límbico, ajudando 
nos processos emocionais como raiva, medo e prazer. Participa da 
regulação do sono e vigília, da ingestão de alimentos e de ingestão e 
liberação de água do organismo, além das suas conexões com a neuro 
e adeno-hipófise.
61 
TÁLAMO:
 
O tálamo tem diversas funções, devido às suas conexões, inclusive 
com o Sistema Límbico. Sua principal função está relacionada à sen-
sibilidade
Imagem - http://albagutipsicologia.blogspot.com
SISTEMA LÍMBICO:
 
 O sistema límbico assume um importante papel na regulação de 
quatro tipos de comportamento:
 -memória e aprendizagem
 -modulação do impulso
 -colorido afetivo da experiência
 -alto controle do balanço hormonal e tono autônomo.
62 
TRONCO ENCEFÁLICO:
 
 O Tronco Encefálico fica localizado entre a medula e o diencéfalo, 
próximo ao cerebelo; divide-se em bulbo, ponte e mesencéfalo. É aqui 
que se faz grande parte do controle da respiração, do sistema cardio-
vascular, da função gastrintestinal, movimentos estereotipados, equi-
líbrio e movimentos oculares (em grande parte, pois o controle total é 
exercido pela formação reticular da primeira unidade funcional).
Im
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BULBO:
 Lesões no bulbo podem cau-
sar desde hemiparesia até hemi-
plegia, ou a paralisia dos múscu-
los de metade da língua situada 
no lado lesado, em que o pa-
ciente faz a protusão da língua, 
a musculatura do lado normal 
desvia a língua para o lado le-
sado. Segundo Machado (2003), 
também pode ocorrer perda da 
sensibilidade térmica e dolorosa 
na metade da face, perturbações 
da deglutição e fonação decido a 
paralisia dos músculos da faringe 
e laringe.
63 
PONTE:
 É nesta região do tronco encefálico que se origina o nervo fa-
cial, a sua lesão pode ocasionar paralisia facial periférica, com perda 
do tônus e flacidez, que pode levar a perda de saliva, paralisia do 
músculo que permite o fechamento da pálpebra, podendo gerar in-
fecções e lesões nos olhos.
Im
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CEREBELO :
 O cerebelo tem por função fazer com que os movimentos saiam 
coordenados e uniformes, intervém também no equilíbrio (mesmo 
parados precisamos de equilíbrio) e orientação, e regula o grau de 
contração do músculo em repouso. Processa informações que vêm de 
áreas do cérebro, da medula espinhal e receptores sensoriais, com o 
objetivo de indicar o tempo exatos para realizar os movimentos coor-
denados e suaves do sistema músculo esqueléticos, até mesmo quan-
do vamos pegar um objeto e ele se move subitamente, é o cerebelo 
que coordena esses movimentos. 
O cerebelo lista e ordena eventos no tempo e é essencial para algu-
mas funções cognitivas envolvendo sequências, como ainda influencia 
as emoções.
64 
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SISTEMAS CEREBRAIS LOCAIS
Região frontal:
 
 O Lobo Frontal compreende as funções de “excelência” do ser 
humano, como a memória operacional, mecanismos de decisões 
racionais e emocionais, planejamento de ações e funções cogniti-
vas (inteligência), entre outras. Pode ser divididoem:
Im
ag
em
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om
65 
 Córtex pré-central (motor primário): Media os movimentos e está 
relacionado com os movimentos voluntários.
Córtex pré-motor: Permite a integração dos atos motores e sequência 
das ações aprendidas, assim como a programação e planejamento das 
atividades motoras e iniciação dos movimentos voluntários. Abrange 
funções como o planejamento e análise das consequências de ações 
futuras, estando relacionado com comportamento.
Região órbito-frontal: desinibição so-
cial, labilidade emocional, falha de jul-
gamento, alegria inapropriada, mó-
ria (euforia Exagerada), o que podem 
levar, por exemplo, a comportamen-
to sexual inadequado, promiscuidade. 
Também são observados distúrbios de 
atenção (distração), tanto quanto au-
mento da atividade motora e impulsivi-
dade. Encontra-se prejudicada também 
a capacidade afetiva para direcionar o 
comportamento e motivação. Quando a 
lesão for bilateral pode provocar altera-
ções da personalidade.
Imagem - http://pt.psy.co
Imagem - atlasdocorpohumano.com
66 
Pré Motor: lesões nessa área podem causar déficits de controle e in-
tegração das atividades cognitivas, dificuldade para focar e sustentar 
atenção, motivação, respostas tardias, prejuízos também na memória 
operacional, na flexibilidade mental, prejuízo nas estratégias constru-
cionais e de organização em tarefas de cópia e aprendizagem, distúr-
bios na programação motora e na execução de desenhos, redução da 
fluência verbal, déficits de raciocínio e nas funções executivas, que 
compreendem prejuízos na motivação e consciência de si próprio e do 
meio, fazendo com que o paciente tenha dificuldades para escolher 
o que lhe é mais vantajoso, pois não consegue integrar os aspectos. 
Prejuízo no planejamento e sequência de respostas, com dificuldades 
até para iniciar uma sequência; déficits na atenção seletiva, observan-
do-se distração, perseverança, suscetibilidade para intrusão, lentidão 
para reagir aos estímulos, dificuldade em manter o foco atencional e 
para inibir respostas adequadas.
Resumindo
 A maioria dos impulsos da região frontal é originada na área do 
pré-estriado, temporal e néo córtex parietal posterior, e com a região 
da amygdala-hipocampal na parte mesial do lobo temporal onde a 
memória é processada. 
 O que implica que o córtex frontal pode modular, bem como, re-
ceber impulsos das áreas corticais posteriores que são envolvidas no 
processamento e, provavelmente, na armazenagem da informação 
visual, auditiva, e somatosensória de longa duração.
 A capacidade de monitorar a performance de uma série de ações 
ou re-chamar a ordem de ocorrência de uma sequência de even-
tos é provavelmente um essencial componente do sistema neuronal 
que contribui significativamente para o desenvolvimento de planos 
de ações e a execução desses planos. Similarmente a adaptação do 
comportamento pode ser considerada intensificada pelo aprendizado 
condicional, isto é, a capacidade de aprender a performance de di-
ferentes respostas dadas de acordo com a situação de particular es-
tímulo do ambiente. Capacidade de manter um contínuo registro de 
respostas próprias e generalizadas é condicional para o aprendizado, 
organização (planejamento) de sequências de respostas, a seleção e 
desenvolvimento de estratégias apropriadas em complexas situações, 
a monitorização de efetivos comportamentos do próprio organismo, 
a capacidade de inibir ou ativar o comportamento em determinadas 
situações.
 Acometimentos mórbidos nas regiões frontais podem ocasionar 
déficit na consciência de si próprio (atividade consciente), no com-
portamento moral, ou seja, consciência de normas sociais, iniciativa, 
67 
intenção, formar planos e programar ações, fala narrativa (compre-
ensão do significado geral), analisar o pensamento ativamente. Pen-
samento abstrato e julgamento; incluem-se também funções integra-
tivas, motivação, memória recente, atenção seletiva e planejamento. 
Portanto os prejuízos podem ser:
-inabilidade para formar ou mudar um processo de pensamento (fle-
xibilidade de pensamento abstrato).
-inabilidade em utilizar o conhecimento para regular o comportamen-
to.
-déficit na argumentação lógica do raciocínio na presença de interfe-
rência e distração (atenção)
-pobreza de “planejamento” e organização para resolver problemas 
(prejuízo das funções de execução)
-dificuldade para recorrer a um contexto aprendido.
-dificuldade nas atividades de vida diária, pois diminui o grau de pla-
nejamento e flexibilidade de respostas.
O trabalho de memória encontra-se prejudicado para ordenar a ocor-
rência de eventos, organizar e realizar uma sequência de respostas, 
havendo déficits para tarefas verbais em lesões frontais esquerdas e 
déficits em tarefas não verbais em frontais direitos, resumindo a me-
mória sequencial está alterada em indivíduos com lesões frontais, o 
mesmo pode ser capaz de discriminar entre o estímulo apresentado e 
o novo, mas não consegue ordená-lo temporalmente.
 O lobo frontal tem papel relevante na manutenção de atenção, or-
ganização de informações, e prevenir distrações, desta forma muitas 
teorias de memória estão sendo modificadas para modelos de aten-
ção, pessoas com lesões unilaterais exibem uma performance pobre 
em testes de memória, mas muito mais por uma dificuldade em con-
trolar estes processos do que déficits dos mesmos.
 Capacidade para regular o comportamento antecipando as con-
sequências, mudar um processo de pensamento, em lesionados há di-
ficuldades, aparentemente devido a interferências perseverativas de 
modelos e respostas, para a flexibilidade de pensamento, eles pos-
suem a habilidade para reconhecer e comentar seus erros, embora se 
mostrem incapazes de usar esta informação para corrigi-los.
68 
Região Temporal:
 
 É o centro cortical da audição, pois transmite, prolonga e esta-
biliza a acústica no córtex. Este lobo engloba funções como memória 
semântica e declarativa, que diz respeito aos conhecimentos adquiri-
dos pela linguagem, e à memória episódica, que utiliza a linguagem 
para que a pessoa monte a sua autobiografia. 
 Importante papel nas emoções, percepção da realidade e com-
portamento. Paciente pode apresentar labilidade emocional, ora rin-
do, ora chorando, independente do contexto.
Imagem - amenteemaravilhosa.com.br
Região Occipital :
 
 Estas regiões desempenham o papel de sintetizar estímulos vi-
suais, codificá-los e formá-los em Sistemas Complexos. A área visu-
al capta o estímulo, identifica o objeto manda-o para a memória. A 
visão é a “porta de entrada” para todas as memórias, e lesões occip-
itais podem provocar, no geral, diversos tipos de distúrbios do pro-
cessamento visual. (vide imagem acima)
69 
Região Parietal:
 
 É a principal área sensitiva, pois é aqui que as áreas das sen-
sações visuais, auditiva, vestibular, cutânea e proprioceptiva se su-
perpõem, tendo também as representações corporais e a memória 
topográfica (espacial). (vide imagem acima)
70 
Reabilitação Neuropsicológica:
 A reabilitação neuropsicológica é um tipo de tratamento bastante 
específico realizado por psicólogos com especialização na área. Tem o 
objetivo de melhorar as funções mentais prejudicadas pela lesão neu-
ronal ou ajudar com estratégias compensatórias.
 
 Por meio de atividades direcionadas busca-se propiciar a recu-
peração funcional pelo princípio da neuroplasticidade, ou seja, recu-
peração neuronal e criação de novas redes neuronais. A reorganização 
cerebral também é possível em que outras regiões supram as funções 
da região lesada. E também é possível propiciar estratégias compen-
satórias para diminuir as dificuldades, como o uso de agendas, por 
exemplo.
 Para se entender porque 
a reabilitação neuropsicológica 
costuma investir em tarefas dife-
rentes, vamos imaginar que nos-
sas funções mentais são como 
um caldeirão de sopa:“Em determinadas situações usa-
mos mais a memória autobiográfi-
ca, em outros momentos o raciocí-
nio lógico matemático, em outros 
a atenção e assim vai de acordo 
com a necessidade. Na sopa se 
o caldo estiver fervendo os com-
ponentes se batem, assim é com 
nossa mente, nossas emoções são 
como o caldo, caso estejam fer-
vendo como na angústia, nervo-
sismo, pânico, agitação e estresse, 
tudo fica se batendo e a atividade 
mental fica prejudicada. Caso as 
emoções estejam frias, como de-
pressão, desmotivação e apatia as 
atividades mentais não têm ener-
gia suficiente para atuar adequa-
damente e como na sopa ficam em 
baixa”.
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 - sitedopastor.com
.br
Imagem - M.Conti
71 
 Assim a reabilitação neuropsicológica leva em consideração a di-
nâmica afetiva emocional do paciente, seus interesses e desejos.
As tarefas cognitivas são direcionadas de acordo com cada pessoa, 
sua formação educacional, profissão, família, gostos e grau de com-
prometimento neuropsicológico.
Geralmente inicia-se com exercícios mais simples e o grau de dificul-
dade e complexidade aumenta gradualmente. Atividades como orien-
tação temporal, dia, mês e ano que se dá por meio de calendário, 
pode ser o começo.
 
 Escolher feijão para dificuldades perceptivas. Ver fotos para ati-
var a memória, ou fazer um diário, são atividades básicas que podem 
ajudar muito.
 È possível tratar todas as funções: percepção, atenção, memória, 
funções executivas e também a cognição social.
 Comumente familiares procuram por ajuda neuropsicológica, pois 
a pessoa que sofreu a lesão neurológica se lembra e entende os fatos, 
porém mudou sua personalidade, sendo fria e distante, como ainda 
tendo rompantes de agressividade infundadas. São situações difíceis 
que podem ser tratadas e os efeitos da lesão minimizados.
 A reabilitação neuropsicológica pode acompanhar o paciente até 
seu retorno à escola ou ao trabalho, como ainda adequação no am-
biente familiar e social.
Orientação Familiar.
 A família fica muito desgastada e triste quando um membro que-
rido sofre uma Lesão Encefálica, tanto no período de internação, como 
depois, por todos os encargos e tratamentos que o paciente necessi-
ta, alterando a rotina e dinâmica dos familiares. 
 Muitas vezes, após a alta hospitalar, a família não recebeu ou 
não assimilou todas as orientações necessárias de como lidar com 
a pessoa, mesmo porque, quando ocorre um problema com alguém 
que estamos diretamente envolvidos, alguns conhecimentos prévios 
podem ser totalmente esquecidos.
 A família é a peça fundamental no tratamento e recuperação 
da pessoa, tarefa complexa e difícil. Vários sentimentos acontecem 
concomitantemente, como a sensação de ser muito cobrada, pouco 
compreendida e até mesmo incapaz, fatores geradores de grande es-
tresse.
 Poder falar sobre os sentimentos e as duvidas ajuda muito nesse 
processo, como ainda compreender as disfunções neuropsicológicas 
72 
pode auxiliar no tratamento de maneira global.
 
Importante saber discriminar ajuda fundamentada de interferências 
como soluções mágicas, comparações e cobranças infundadas. 
 
A família é um organismo único, quando um membro seu adoece to-
dos podem se descompensar, tanto por questões emocionais quanto 
práticas. Muitas vezes há um abalo financeiro e profissional. A vida 
parece ter-se desorganizado, alguns ficam com a sensação que ca-
íram em buraco profundo, mas os tratamentos, o tempo, o carinho, 
são como degraus que ajudam a sair desse buraco, assim manter a 
esperança na melhora como um todo, torna mais fácil a jornada.
Imagem - M.Conti
73 
Avaliação e Orientação Educacional e/ou Profissional.
 A Inclusão social é o conjunto de meios e ações que combatem 
a exclusão proporcionada pela deficiência. Visa oferecer oportunidade 
iguais de acesso a todos os diretos. 
 Os direitos civis são os que têm o objetivo de garantir a liberdade 
individual e a igualdade entre as pessoas. São os principais:
 • direito à vida;
 • direito à liberdade de expressão;
 • liberdade de ir e vir;
 • igualdade entre homens e mulheres;
 • proteção da intimidade e da vida privada;
 • liberdade para exercer sua profissão;
 • direito à propriedade.
 
 Assim, além das leis, é necessário que haja conscientização das 
pessoas para representem e busquem usufruir seus direitos e deve-
res.
 O profissional de Psicologia, com técnicas e instrumentos per-
tinentes, pode avaliar as condições emocionais, comportamentais e 
cognitivas do sujeito, bem como, sua área de interesse para facilitar o 
retorno a escola ou trabalho, levando em conta suas potencialidades 
e dificuldades após a Lesão Encefálica Adquirida.
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74 
Parte VI: CONCLUSÔES: 
 A vida segue cheia de surpresas, nem sempre agradáveis, pois 
sofrer uma Lesão Encefálica, pode de fato ser dramático, tanto para a 
pessoa como para a família.
 Mas, mesmo diante, das adversidades, das sequelas, das mu-
danças ocorridas, é importante ter em mente que sempre há uma 
gama de possibilidades a serem alcançadas.
 Seguir as orientações, fazer corretamente os tratamentos, e, 
principalmente manter os vínculos afetivos facilita, em muito, a recu-
peração e estabilização do quadro.
 Assim, como mensagem final queremos lembrar, que mesmo tor-
tuosa,
 A VIDA é o maior bem que se pode ter!
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