Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE CAMPUS BURITIS E CRISTIANO MACHADO ENGENHARIAS SISTEMAS AUTOMOTIVOS Autor: Prof. Alex de Oliveira Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 7 1.1 Contexto histórico ....................................................................................................... 7 2 SISTEMAS E SUBSISTEMAS DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA ............... 9 2.1 Componentes Fixos .................................................................................................... 9 2.1.2 Bloco do motor ......................................................................................................... 9 2.1.3 Cabeçote e cárter .................................................................................................... 11 2.2 Componentes Móveis ................................................................................................ 12 2.2.1 Pistão ....................................................................................................................... 12 2.2.2 Anéis de segmento ................................................................................................. 12 2.2.3 Biela ......................................................................................................................... 13 2.2.4 Árvore de manivelas ............................................................................................... 15 2.2.5 Válvulas e eixo de comando de válvulas .............................................................. 17 2.2.6 Volante do motor .................................................................................................... 23 2.3 Sistema de alimentação ............................................................................................ 24 2.3.1 Tanque de combustível .......................................................................................... 24 2.3.2 Sistema de alimentação de ar ................................................................................ 26 2.3.3 Carburador .............................................................................................................. 26 2.4 Sistema de injeção eletrônica ................................................................................... 30 2.4.1 Eletro Injetor ............................................................................................................ 32 2.4.2 Acelerador eletrônico ............................................................................................. 36 2.4.3 Sensores.................................................................................................................. 37 2.4.3.1 Sensor de rotação e de fase ............................................................................... 37 2.4.3.2 Sensor de oxigênio .............................................................................................. 40 2.4.3.3 Medidor de fluxo de ar ........................................................................................ 42 2.4.3.4 Sensor de temperatura ........................................................................................ 43 2.4.3.5 Sensor de velocidade .......................................................................................... 44 2.4.3.6 Sensor de pressão absoluta (MAP) .................................................................... 44 2.4.3.7 Interruptor inercial ............................................................................................... 44 2.4.3.8 Sensor de detonação .......................................................................................... 44 2.4.3.9 Atuador de marcha lenta ..................................................................................... 46 2.5 Sistema de ignição .................................................................................................... 47 2.5.1 Sistema de ignição convencional ......................................................................... 47 2.5.2 Ignição eletrônica ................................................................................................... 53 PRÁTICA 1 – Principais componentes de um motor de combustão interna ............... 56 PRÁTICA 2 – Parâmetros geométricos de um motor de combustão interna ............... 64 Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 2 PRÁTICA 3 – Sistema de alimentação de combustível ................................................ 65 PRÁTICA 4 – Sistema de injeção eletrônica................................................................... 66 PRÁTICA 5 – Motor de 2 tempos .................................................................................... 68 PRÁTICA 6 – Avaliação do desempenho de um gerador Diesel ................................... 74 PRÁTICA 7 – Avaliação do desempenho de um gerador Otto ...................................... 79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 81 Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 3 NORMAS DA DISCIPLINA E DO LABORATÓRIO DE ENGENHARIA 1. É obrigatório o uso de jaleco em todos os laboratórios. 2. Por questões de segurança, no horário da aula, o aluno deverá usar calça comprida e sapatos fechados. 3. Não será permitido, EM HIPÓTESE ALGUMA, que alunos sem o material especificado nos itens 1 e 2, citados acima, assistam às aulas nos laboratórios. 4. É proibido sentar nas bancadas, lanchar e fumar dentro dos laboratórios. 5. Para o bom andamento das práticas, a tolerância máxima de atraso nas aulas de laboratório é de 15 minutos. 6. Os relatórios das práticas deverão ser entregues na data estipulada pelo professor. Não serão aceitos relatórios após a data limite estabelecida. 7. Somente o aluno presente na aula onde se realizou uma determinada prática poderá entregar o referente relatório. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 4 ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DOS RELATÓRIOS Os relatórios das aulas práticas deverão ser digitados eletronicamente, em papel branco ou reciclado, formato A4 (21,0 cm x 29,7 cm), sempre no anverso (frente) das folhas. No texto de todo o trabalho deve-se utilizar fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 11, com espaço de entrelinhas 1,5 (um e meio). Todo o texto deve ter alinhamento justificado. Antes e depois de cada parágrafo deverá ser marcado espaçamento de 6 pontos. Os títulos das seções e subseções devem ser separados do texto por dois espaços de 1,5 de entrelinhas, do texto anterior e posterior. Não se pode usar pontuação no final do título da seção ou subseção. A citações bibliográficas devem seguir as Normas da ABNT. As ilustrações poderão ser cópias fieis de publicações, desde que as fontes sejam citadas no trabalho. Por serem utilizadas para explicar e entender um texto, as ilustrações/figuras devem ser colocadas o mais próximo do texto a que se refere; deve estar centralizada na página e se enquadrar nas mesmas margens do texto. Dentro do texto, a figura deve ser indicada no singular seguida por numeração seqüencial em arábico. O mesmo seaplica aos gráficos e tabelas. Os gráficos deverão ser gerados em Excel ou outro programa compatível. A impressão deverá ser em cor preta. Somente poderão ser utilizadas cores para as ilustrações. Além do título, os relatórios deverão conter as seguintes partes: 1. INTRODUÇÃO: Descrição da teoria que fundamenta a prática de laboratório realizada. Deve ser uma síntese própria dos livros, artigos e outros materiais consultados, contendo, obrigatoriamente, as respectivas citações bibliográficas. O objetivo do trabalho pode aparecer no último parágrafo da introdução, podendo, ainda, ficar separado desta para maior destaque. 2. OBJETIVO: Indica o principal objetivo da experiência. É a descrição sucinta do que se pretende obter. 3. MATERIAIS E MÉTODOS: Deve conter uma descrição completa da metodologia utilizada, que permita a compreensão e interpretação dos resultados, bem como a reprodução dos experimentos. Deve ser dividido em: Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 5 3.1 Materiais: descrição dos materiais e/ou equipamentos utilizados na realização do experimento. 3.2 Procedimento Experimental: descrição do procedimento executado para a realização da prática, incluindo-se modificações que tenham sido feitas no decorrer do experimento em relação ao procedimento originalmente proposto. Pode-se apresentar nesse item um esquema da montagem e/ou bancada experimental. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO: É a parte mais importante do relatório e que requer maior maturidade acadêmica do aluno. Descreve os principais resultados obtidos durante a prática realizada em laboratório. Os resultados devem ser apresentados em uma sequência lógica, de preferência obedecendo a ordem em que o procedimento foi realizado. Devem-se incluir os cálculos efetuados, sendo que os resultados podem ser apresentados em forma de gráficos ou tabelas, conforme o caso e de modo a melhorar a sua compreensão. As unidades de medida devem ser expressas no Sistema Internacional (SI). Todos os resultados devem ser acompanhados de uma análise crítica, com base nos conceitos teóricos citados na Introdução. Sempre que possível, deve-se realizar a análise de erros e indicar a incerteza de medição. 5. CONCLUSÃO: Síntese das conclusões e/ou parecer acerca do experimento e dos resultados obtidos. Devem estar em sintonia com os objetivos propostos e ser fruto de observações e/ou análise realizada pelo autor do relatório. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: A apresentação das referências bibliográficas deve seguir as Normas da ABNT. A pontuação dos relatórios será dividida em: Divisão Pontuação Introdução 20% Objetivo 10% Materiais e Métodos 20% Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 6 Resultados e Discussão 30% Conclusão 10% Referencias Bibliográficas 5% Formatação e Apresentação 5% Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 7 1 INTRODUÇÃO Esta apostila foi criada para dar suporte à disciplina Sistemas Automotivos do curso de Engenharia Mecânica do UniBH. Foram utilizadas referências bibliográficas de livros, artigos e sites especializados que devem ser usadas para um aprofundamento teórico. Na primeira parte do texto são apresentados conceitos dos principais componentes que compõe os veículos movidos a motores de combustão interna, com destaque aos motores de ignição por centelha. Na segunda parte do texto são apresentadas as propostas de práticas experimentais para aplicação dos conceitos. 1.1 Contexto histórico Não se sabe o momento exato de criação do primeiro automóvel. Sabe-se que esse surgiu de sucessivas adaptações tecnológicas e com um objetivo: transportar cargas e pessoas. Sua evolução aconteceu no decorrer dos séculos XVIII e XIX, sendo um dos primeiros registros por volta de 1769, quando Nicolas-Joseph Cugnot criou um carro a vapor de três rodas (Figura 1). Este veículo possuía um motor de combustão externa, ou seja, o combustível era queimado fora do motor (CAPELLI, 2010). Alguns pesquisadores não consideram Nicolas Cugnot como criador do automóvel, já que sua criação era movida por um motor a vapor. Figura 1 - Carro de Nicolas Cugnot Fonte: DIAS (2011) Na França, em 1860, o belga Jean Joseph Étienne Lenoir construiu o primeiro motor de combustão interna, propulsionado por gás. Já em 1876, o alemão Nikolaus Otto construiu um motor de combustão interna que operava em quatro tempos, onde o combustível era comprimido antes de ser inflamado (OLIVEIRA, 2010). A partir do uso da gasolina, os primeiros automóveis de combustão interna movido por esse combustível surgiram quase que simultaneamente. Karl Friedrich Benz, um Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 8 engenheiro de automóveis alemão, possui a patente do primeiro veículo com motor de combustão interna alimentado por gasolina (Figura 2), datada em 29 de janeiro de 1886 (CAPELLI, 2010). A Figura 3 mostra a patente de Nikolaus Otto, que deu nome ao ciclo de quatro tempos como “ciclo Otto”. O motor de ignição por compressão foi desenvolvido inicialmente por Rudolf Christian Karl Diesel, em 1892, dando nome ao motor Diesel (BRUNETTI, 2012). Figura 2 - Criação e patente de Karl Benz Fonte: DIAS (2011) Figura 3 - Patente Nikolaus Otto Fonte: CAPELLI (2010) Vários fabricantes isolados em diversos países começaram a produzir seus veículos e marcas conhecidas começaram a surgir, como: Peugeot, Fiat, Opel, Renault, Cadillac, Ford, Buick, Rolls Royce, todas até 1910. Destaque para Henry Ford (Figura 4), que tinha a ideia do automóvel como um meio de transporte barato, útil, prático e sobretudo seguro. Ele passou a fabricar automóveis em série, destacando o Ford T, fabricado de 1908 a 1927, cujas vendas ultrapassaram 15 milhões Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 9 de unidades. É interessante observar que desde a criação do primeiro motor a quatro tempos os automóveis tiveram uma grande evolução, porém o conceito inicial é o mesmo. Figura 4 – Henry Ford e Ford T Fonte: DIAS (2011) 2 SISTEMAS E SUBSISTEMAS DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA Os motores de combustão interna são constituídos de diversos sistemas e subsistemas. Os tópicos a seguir apresentam os principais componentes de um motor. 2.1 Componentes Fixos 2.1.2 Bloco do motor O bloco representa a estrutura principal do motor, onde são acoplados os componentes principais e auxiliares que o compõe. No bloco são usinados os cilindros, sendo que alguns blocos possuem tubos removíveis, chamados de “camisas”, que formam as paredes dos cilindros. O interior do bloco é usinado para permitir a passagem de óleo e água dos sistemas de lubrificação e arrefecimento, além de estruturas para acoplamento dos demais componentes do motor. Os materiais de construção do bloco dependem do tipo e dos custos de fabricação, podendo ser de ferro fundido, alumínio fundido, alumínio forjado e aço. Atualmente, o alumínio é utilizado nos motores modernos para se obter redução de peso e boa dissipação de calor. A Figura 5 (a) mostra um modelo de bloco de alumínio e a Figura 5 (b) mostra um bloco com detalha da “camisa” do cilindro. Estas camisas podem ser úmidasou secas. A Figura 6 mostra o detalha da camisa úmida, onde o líquido de arrefecimento entra em contato direto com a camisa e a camisa seca, onde não há contato direto com a camisa. Temos ainda, os motores refrigerados a ar, onde Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 10 os cilindros são separados e circundados por aletas que aumentam a superfície de troca de calor, como mostra a Figura 7. Figura 5 - Bloco do motor em alumínio (a) e detalhe do "encamisamento" (b) Fonte: TILLMANN (2013) Figura 6 - Camisa seca e úmida Fonte: TILLMANN (2013) Figura 7 - Cilindros com aletas Fonte: TILLMANN (2013) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 11 2.1.3 Cabeçote e cárter O cabeçote corresponde à parte superior do motor, onde se formam as câmaras de combustão e se localizam as válvulas, velas, injetores, etc. A união do bloco com o cabeçote é feita por uma junta de amianto revestida por material metálico, que deve estabelecer total vedação, já que entre o bloco e o cabeçote ocorrem as combustões em altas pressões. A Figura 8 mostra um modelo de cabeçote e junta. Os cabeçotes podem ser de ferro fundido ou ligas de alumínio e também possuem galerias em seu interior por onde circula água de refrigeração. A fixação do cabeçote deve ser realizada conforme prescrito pelo fabricante, seguindo uma certa ordem de posicionamento e aperto dos parafusos, além de aplicação do torque adequado. Figura 8 - Cabeçote e junta Fonte: COLLARD (2007) e ROCHA (2015) O cárter (Figura 9) fecha a parte inferior do bloco e armazena o óleo lubrificante do motor. É normalmente constituído de ferro ou alumínio fundidos e a união com o bloco, também, requer uma junta para evitar vazamentos. Figura 9 – Cárter Fonte: FIERROS CLASSICOS (2015) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 12 2.2 Componentes Móveis O conjunto móvel dos motores são formados pelas bielas, pistões, anéis, árvore de manivelas, dentre outros, e transforma os movimentos retilíneos alternados dos êmbolos em rotação da própria árvore de manivelas. 2.2.1 Pistão O pistão é o órgão do motor que transmite a energia resultante da expansão dos gases após a combustão da mistura ar/combustível. A força recebida pela expansão dos gases queimados é transmitida à biela. A conexão entre o pistão e a biela é realizada através de um pino de aço, como mostra a Figura 10. Os pistões são, geralmente, fabricados de ligas de alumínio ou aço. O pistão deve possuir elevada resistência mecânica, pois deve suportar as forças da compressão e combustão, boa resistência ao calor, já que a combustão pode atingir temperatura de até 2000 ºC, elevada resistência ao desgaste, pois em 6000 rpm alterna o movimento 100 vezes por segundo e boa condutibilidade térmica. Figura 10 – Pistão Fonte: UFPEL (2012) 2.2.2 Anéis de segmento Os pistões apresentam canaletas para alojamento dos anéis de segmentos. Esses anéis são componentes montados nos pistões e ficam em contato direto com as camisas. As funções dos anéis de segmentos são: vedação da compressão e da combustão, controle do óleo lubrificante e transferência de calor para o sistema de arrefecimento. Geralmente, os anéis são fabricados de ferro fundido cinza, devido à resistência ao desgaste. Os anéis são classificados em dois tipos: anéis de vedação e anéis de lubrificação. Os anéis de vedação estão na parte superior do pistão e os anéis de lubrificação ficam na parte inferior do pistão e têm a finalidade de lubrificar as paredes do cilindro. A Figura 11 mostra os anéis de segmento. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 13 . Figura 11 – Anéis de segmento Fonte: TILLMANN (2013) 2.2.3 Biela A biela é o componente do motor responsável por transmitir os movimentos alternativos do pistão para o eixo do motor. Junto com o eixo de manivelas, transforma o movimento retilíneo do pistão em movimento rotativo. São construídas em ligas de aço e em alguns casos de alumínio. A Figura 12 mostra um modelo de biela. Figura 12 – Biela A Figura 13 mostra uma divisão das partes de uma biela: cabeça, corpo e pé. O pé articula-se no pino de pistão por intermédio de uma bucha de bronze fosforoso chavetada. A cabeça da biela é dividida em duas partes e se acopla ao moente da árvore de manivela. Em ambas as partes, são montados casquilhos ou bronzinas para o assentamento do moente. O corpo da biela pode ser tubular ou de seção em duplo T, para aumentar a rigidez e diminuir o peso. Em alguns casos, existe um orifício interno para conduzir o óleo lubrificante. A Figura 14 mostra o conjunto pistão e biela, Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 14 Figura 13 – Partes da Biela Fonte: TILLMANN (2013) Figura 14 – Conjunto Pistão e Biela Fonte: TILLMANN (2013) Os casquilhos ou bronzinas são buchas que servem de guia e apoio para os órgãos giratórios em regime de velocidade e cargas elevadas. Estes componentes são bipartidos, geralmente tri- metálicos, de aço-cobre-estanho e possuem na sua superfície um material especial anti-fricção, que diminuem o atrito entre o eixo e seu apoio, suportando cargas elevadas. As bronzinas possuem ressaltos para assegurar um posicionamento correto na montagem e impedir seu deslocamento lateral, bem como orifícios que permitem facilitar a lubrificação, como mostra a Figura 15. Nos motores, estes componentes são empregados na árvore de manivelas e, em alguns modelos, nas árvores de comando de válvulas. Os principais tipos de casquilhos são: a) Casquilhos para assentamento das bielas aos moentes da árvore de manivelas; b) Casquilhos para assentamento da árvore de comando de válvulas; c) Casquilhos com flange de encosto para ajustar a folga axial da árvore de manivelas; d) Casquilhos inteiriços, também conhecidos como bucha; e) Casquilhos do munhão da árvore de manivelas. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 15 Figura 15 – Bronzinas Fonte: SENAI (2003) 2.2.4 Árvore de manivelas A árvore de manivelas ou eixo virabrequim é o componente que transforma o movimento alternado do pistão em movimento rotativo. É considerado o eixo motor e recebe as bielas que lhe imprimem movimento e se apoiam nos moentes do virabrequim. Os munhões são os locais onde a árvore se apoia ao bloco do motor e os moentes são os locais onde as bielas são fixadas. Tem fixado em sua parte frontal uma polia que distribui movimento para os acessórios externos do motor, como o eixo do comando de válvulas e a bomba d’água. Na sua região posterior é fixado o volante do motor e nesse a embreagem. O interior do virabrequim contém ainda dutos especiais por onde circulam o óleo necessário à lubrificação dos munhões e dos moentes. A Figura 16 mostram alguns componentes de um eixo virabrequim Esse componente tem uma série de características para possibilitar um funcionamento correto. As cargas aparentes de um virabrequim resultam em tensões devido a flexão, torção e cisalhamento em todo seu comprimento. A geometriacomplexa envolvida torna impossíveis cálculos precisos de tensão, ainda que as cargas fossem conhecidas com precisão. Esses componentes são geralmente feitos de aços especiais que garantam uma resistência, de acordo com a potência do motor. Não deve ter cantos vivos onde possam aparecer trincas e devem apresentar raios de concordância adequados, que provoquem um arredondamento nos cantos e garantam maior resistência. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 16 Figura 16 – Partes do Virabrequim Fonte: SENAI (2003) Os tipos de árvores de manivelas podem variar de acordo com o alinhamento dos cilindros do motor. Nos motores com cilindros em linha (Figura 17), o número de moentes é igual ao número de cilindros. Nos motores em V (Figura 18) há duas bielas para cada moente e, assim, a árvore de manivelas pode ser mais curta e mais resistente. Figura 17 – Virabrequim – Motor em linha Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 17 Figura 18 – Virabrequim – Motor em V 2.2.5 Válvulas e eixo de comando de válvulas As válvulas são os componentes do motor responsáveis pela vedação dos orifícios de admissão do ar e exaustão dos gases da combustão. Desta forma, existem dois tipos de válvulas: válvula de admissão e válvula de exaustão. As válvulas podem ser dispostas, em relação ao cilindro, lateralmente ou no topo da câmara de combustão. As válvulas posicionadas no topo favorecem a potência do motor e um rendimento térmico superior. A Figura 19 mostra os principais componentes das válvulas e do mecanismo de acionamento destas. Figura 19 - Principais componentes de acionamento da válvula Fonte: TILLMANN (2013) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 18 Os tuchos presentes no comando de válvulas têm a função de transmitir o movimento do came à vareta ou haste impulsora ou diretamente às hastes das válvulas, dependendo da posição do eixo de comando. Existem dois tipos de tuchos utilizados nos motores: a) Convencional: peça única e maciça (Figura 20): Figura 20 - Tucho Convencional Fonte: SENAI (2003) b) Hidráulico: com componentes em seu interior que visam compensar os desgastes existentes entre as peças móveis, que acionam as válvulas e o comando de válvulas, e melhorar o acionamento das válvulas e o rendimento do motor (Figura 21). Figura 21 - Tucho Hidráulico Fonte: SENAI (2003) Os balancins têm a função de inverter o sentido do movimento gerado pelo came e a mola tem como função fechar a válvula, mantendo-a pressionada com a sua sede. O conjunto de balancins e molas são instalados no cabeçote. As varetas são hastes longas que transmitem os movimentos dos tuchos aos balancins e estes, para as válvulas. Cada balancim possui uma regulagem independente através de porca e parafuso, o que possibilita periodicamente ajuste na folga das válvulas. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 19 As sedes das válvulas são instaladas no cabeçote por interferência e tem a função vedar a mistura ar/combustível na câmara de combustão. São fabricadas em aços especiais para resistirem a altas temperaturas. As guias de válvulas, como o próprio nome já diz, têm a função de guiar as válvulas, para sua abertura e fechamento. São fabricadas em latão, ferro fundido ou aço, têm forma cilíndrica em são posicionadas em perfurações existentes no cabeçote. Em geral, na parte superior das guias, encontram-se retentores de válvulas, que fazem a vedação do óleo lubrificante. As válvulas podem ser acionadas por: a) Hastes e balancins com eixo de cames no cárter; b) Balancins com eixo de cames suspenso; c) Eixo de cames suspenso com impulsos diretos sobre as válvulas; A abertura e fechamento das válvulas estão relacionados com o movimento do pistão e com o ponto de injeção. O movimento do eixo de manivelas é transmitido para um outro eixo, chamado eixo de comando de válvulas por meio de engrenagens, corrente ou correias. Nos motores de 4 tempos, a relação de rotação da árvore de manivelas para a árvores de comando de válvulas ou eixo de cames é de 2:1, isto é, a cada duas voltas das árvores de manivelas, o eixo de cames realiza somente uma, já que o motor necessita de duas voltas no virabrequim para completar a realização de um ciclo. Existem diversas maneiras de ligação entre as árvores de comando de válvulas e de manivelas, como mostra a Figura 22 a seguir: Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 20 Figura 22 - Diferentes tipos de acionamento das válvulas Fonte: SENAI (2003) E conforme a localização da árvore de comando de válvulas, cada motor leva uma denominação, como mostra a Figura 23 a seguir: Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 21 Figura 23 - Posições da árvore de manivelas Fonte: SENAI (2003) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 22 A árvore ou eixo de comando de válvulas tem as funções de sincronizar a abertura e o fechamento das válvulas com os êmbolos do motor; estabelecer a ordem de ignição dos cilindros; e limita a rotação do motor. Esse eixo possui vários excêntricos chamados de cames ou ressaltos e em alguns casos ele aciona, também, a bomba de combustível e a bomba de óleo. O eixo é apoiado por meio de munhões e alguns motores possuem buchas ou casquilhos entre os munhões e os mancais de apoio. Cada motor possui o seu comando de válvulas específico e através da angulação dos cames são formados os diagramas de válvulas. A Figura 24 mostra um modelo de eixo de comando de válvulas e a Figura 25 mostra um modelo de diagrama de válvulas. Figura 24 – Eixo de comando de válvulas Figura 25 – Diagrama de válvulas Fonte: MWM INTERNATIONAL (2007) O acionamento das válvulas é realizado com movimento giratório do eixo de comando, onde o ressalto ou came aciona o tucho que, por sua vez, move a haste, fazendo com que o balancim transmita o movimento à válvula, abrindo-a. Para cada válvula, há um conjunto tucho, haste, Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 23 balancim, como mostra a Figura 26. Para os modelos DOHC e OHC a haste é movimentada diretamente pelos cames. Figura 26 - Conjunto de acionamento das válvulas Fonte: TILLMANN (2013) Na instalação da válvula é necessária uma folga, a fim de que a válvula vede bem e, para permitir ajustagens, desgaste, expansão e contração devido a mudanças de temperatura. Essa folga deve ser a mínima necessária para assegurar que a válvula fique ajustada na sede. As principais consequências de uma folga mal ajustada são: folgas pequenas provocarão, na admissão, má compressão e explosões nos condutos de admissão; nas válvulas de descarga, as consequências serão danosas para a integridade do sistema,uma vez que, além de má compressão, poderão provocar a queima da válvula ou a consequente deformação; folgas excessivas na admissão terão como resultado admissão deficiente, enquanto na descarga o escape incompleto dos gases queimados. Nas duas situações o resultado será o baixo rendimento do motor. 2.2.6 Volante do motor O volante do motor é uma massa fixada no eixo de manivelas responsável por acumular energia cinética, propiciando uma velocidade angular uniforme no eixo de transmissão do motor. Durante o tempo de potência útil de cada pistão (expansão), o volante absorve energia, que é restituída nas fases de admissão, compressão e exaustão, reduzindo os efeitos da variação dos tempos do motor. Volantes mais pesados dão mais estabilidade ao motor, com funcionamento mais suave, em contrapartida, a subida de rotações é mais lenta. A Figura 27 mostra um modelo de volante. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 24 Figura 27 – Volante Fonte: UFPEL (2012) 2.3 Sistema de alimentação O sistema de alimentação de combustível garante o fornecimento de combustível aos motores na quantidade e no momento adequados. Nos motores tradicionais de ciclo Diesel, o combustível é injetado diretamente na câmara de combustão, no momento exato para que ocorra a combustão instantânea da mistura ar/combustível. Já nos motores de ciclo Otto, a mistura ar/combustível é introduzida na câmara de combustão. Nos motores de ciclo Otto mais modernos o combustível (álcool ou gasolina) podem ser introduzidos diretamente na câmara de combustão. A seguir são descritos os principais componentes do sistema de alimentação de combustível, com foco em motores do ciclo Otto. 2.3.1 Tanque de combustível O tanque tem a função de armazenar o combustível no veículo. A localização e a capacidade dependem do veículo e do motor. Antigamente, os tanques eram construídos de chapas de aço e revestidos internamente para evitar corrosão. Hoje em dia, são fabricados em material plástico, mais leves e resistentes à corrosão. No tanque estão instalados a bóia, para indicar o nível de combustível, o tubo de sucção e, em alguns casos, separadores internos para atenuar o movimento do combustível. O circuito de alimentação conta com tubulações que conduzem o combustível do tanque ao motor e o excedente de volta para o tanque. Entre o tanque e a bomba de combustível, há um filtro que retém impurezas que possas estar presente no combustível e atingir o carburador ou bicos injetores. A bomba de combustível pode ser acionada mecanicamente ou através da tensão elétrica da bateria, dependendo do veículo. A bomba mecânica, geralmente, faz partes dos carros mais antigos. Os carros construídos a partir de 1990 já são equipados com bombas elétricas, que são Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 25 posicionadas dentro do tanque de combustível. Nessas bombas, o combustível refrigera e lubrifica seus componentes internos. A Figura 28 mostra um modelo de tanque de combustível e conjunto de uma bomba elétrica veicular. Figura 28 - Tanque e conjunto da bomba de combustível Hidrocarbonetos são liberados do tanque na forma de vapores aromáticos. Os níveis de emissões evaporativas devem ser controlados. Portanto, um sistema foi desenvolvido para armazenar os vapores liberados pelo combustível. Esse sistema é chamado de cânister, mostrado pela Figura 29. O cânister é composto por um filtro de carvão ativado que retêm os vapores e libera para atmosfera, somente o ar puro. O tanque de combustível possui uma válvula que é ativada quando a pressão interna atinge um valor determinado, liberando o vapor para cânister. A válvula de cânister tem a função de dosar o fluxo de vapores de combustível provenientes do tanque. Ela permite a reutilização dos vapores de combustível com direcionamento para o coletor de admissão. Essa válvula pode ser controlada pela central eletrônica. Figura 29 – Cânister Fonte: COSTA (2002) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 26 2.3.2 Sistema de alimentação de ar O sistema de alimentação de ar é projetado para suprir o motor de ar livre de partículas e em quantidade suficiente para o melhor rendimento do motor. O coletor de admissão (Figura 30) é responsável por conduzir o ar ou a mistura ar/combustível para o interior dos cilindros. O ar atmosférico é aspirado pela depressão gerada pelos pistões do motor e passa por um elemento filtrante, que tem a função e reter as impurezas existentes no ar ambiente. O elemento filtrante é fabricado em papel fibroso sanfonado. A geometria do filtro é dependente do tipo de veículo (Figura 31). Figura 30 – Coletores de ar Figura 31 – Filtros de ar Fonte: COSTA (2002) 2.3.3 Carburador Em motores do ciclo Otto a mistura ar/combustível pode ser realizada de duas maneiras: carburador ou injetores de combustível. A Figura 32 mostra o esquema de um veículo com sistema de alimentação por carburação. A bomba de combustível é acionada e transfere combustível do tanque para o carburador. Ao mesmo tempo, o ar também chega ao carburador após passar pelo filtro de ar. No carburador a mistura ar/combustível é formada na dosagem correta de combustível vaporizado e ar, a qual vai alimentar o motor (CAPELLI, 2010). Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 27 Figura 32 - Circuito de alimentação com carburador Fonte: COSTA (2002) As funções do carburador, são: dosar a quantidade de combustível, dosar a quantidade de ar aspirado, misturar o combustível com o ar em proporção exata, pulverizar a mistura ar/combustível. Os principais componentes do carburador são (VALLE, 2014): a) Corpo: estrutura de fixação dos demais componentes; b) Cuba: recipiente de combustível proveniente do tanque. Uma válvula controlada por uma bóia controla o nível de combustível no interior da cuba. c) Difusor ou cone de venturi: o ar passa pelo difusor ganhando velocidade. Na seção mais estreita a pressão é reduzida, sugando o combustível da cuba. A Figura 33 ilustra esse processo. Figura 33 – Funcionamento do carburador Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 28 d) Tubo de emulsão: responsável pela dosagem da mistura ar/combustível. É constituído por um tubo mediante o qual o combustível da cuba tem acesso ao difusor. Na extremidade superior se encontra um parafuso, com um orifício chamado de gicleur de ar. Na extremidade inferior do tubo de emulsão, em contato com a cuba do carburador, se encontra outro parafuso um orifício chamado de gicleur principal, que tem a função de dosar o combustível. e) Borboleta de aceleração: é uma válvula responsável por regular o fluxo de mistura que alimenta o motor. O tipo mais comum é a borboleta mecânica, cujo comando é realizado através do pedal do acelerador. A Figura 34 mostra alguns dos componentes do carburador. Figura 34 – Componentes do carburador Fonte: DIAS (2015) Os carburadores são configurados para trabalhar em diferentes regimes: a) Partida a frio: quando o motor é colocado em funcionamento em baixas temperaturas, o circuito de partida a frio é colocado em operação. O tipo mais comum é o da borboletaafogadora, localizada acima do venturi. Essa borboleta ao fechar-se, forma uma grande depressão dentro do conduto, aumentando o fluxo de combustível para dentro do cilindro. Sem o uso deste sistema a baixa temperatura dentro do coletor de admissão e baixa velocidade de rotação, dificultam a atomização ideal das moléculas de combustível. Ao atingir a temperatura adequada, um sistema abre a borboleta do afogador automaticamente. A Figura 35 mostra o esquema deste circuito. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 29 Figura 35 – Partida a frio Fonte: DIAS (2015) b) Marcha-lenta (Figura 36): quando o motor está em marcha-lenta, a borboleta de aceleração está em repouso, com uma pequena abertura para que o mínimo de ar possa passar. Essa situação cria uma depressão abaixo da necessária para sucção do combustível. Como a depressão do coletor de admissão de ar é alta, o combustível é desviado do circuito principal para um canal auxiliar. Na saída do canal está localizado um parafuso em forma de agulha, que controla o fluxo de mistura, permitindo assim a regulagem da marcha lenta do motor. Uma parte do ar necessário para a combustão é aspirada da própria válvula borboleta e a outra, através de um furo calibrado, chamado de gicleur de ar da marcha lenta (VALLE, 2014). Figura 36 – Marcha-lenta Fonte: DIAS (2015) c) Média/alta rotação: nessa situação o sistema principal (Figura 34) entra em operação. A válvula borboleta está parcialmente aberta, desativando o sistema de marcha-lenta, e o Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 30 carburador passa a fornecer combustível pelo pulverizador principal devido à alta velocidade do motor e depressão criada pelo difusor. d) Aceleração rápida: em situações de ultrapassagem, por exemplo, no instante de abertura da válvula borboleta, ocorre a entrada de uma grande quantidade de ar, entretanto, o aumento do combustível aspirado não é proporcional, causando empobrecimento da mistura em um momento de alta necessidade de potência. Nesse momento, o sistema de aceleração rápida entre em ação, pois quando a válvula borboleta é acionada com maior ângulo, uma bomba de aceleração é acionada. A bomba direciona o combustível da cuba para o pulverizador de aceleração, que injeta o combustível adicional logo antes do difusor, enriquecendo a mistura (Figura 37). Figura 37 – Aceleração rápida Fonte: DIAS (2015) Consulte Capelli (2010) para mais detalhes do sistema de carburação. 2.4 Sistema de injeção eletrônica O gerenciamento eletrônico dos motores surgiu da necessidade de se produzir motores que poluíssem cada vez menos, imposição de severas leis de proteção ambiental em todo o mundo. Os sistemas de injeção eletrônica substituíram o carburador e a distribuição de combustível convencional (VALLE, 2014). Ao contrário do que muitos pensam, o gerenciamento eletrônico do motor não é um conceito novo, sendo que a Bosch já testava injeções eletrônicas em 1939, e em 1954 o primeiro veículo com injeção eletrônica foi lançado, o Mercedes Benz 300 SL (CAPELLI, 2010). No Brasil, o VW Gol GTI foi o primeiro carro com injeção eletrônica, sendo lançado em 1989. O gerenciamento eletrônico do motor faz muito mais do que a “injeção eletrônica”, como é popularmente conhecida. A central controla diversos subsistemas do motor e do veículo, sendo um Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 31 deles, o sistema de alimentação de combustível. Dentre as outras funções, podemos citar: controle da mistura, controle da ignição e memória adaptativa do mapa de injeção. O sistema de injeção eletrônica oferece diversas vantagens em relação ao uso do carburador, dentre elas: a) Menor consumo de combustível; b) Maior confiabilidade; c) Menor necessidade de manutenção; d) Melhor dirigibilidade e) Melhor atomização do combustível; f) Maior controle da mistura ar/combustível, mantendo-a sempre dentro dos limites; g) Redução dos gases poluentes, como o CO, HC e NOx; h) Maior controle da marcha lenta; i) Maior rendimento térmico do motor; j) Redução do efeito "retorno de chama" (backfire) no coletor de admissão; k) Facilidade de partida a frio ou a quente. O sistema de injeção eletrônica faz todo gerenciamento do motor através de microprocessadores, cuidando de todo o processo térmico do motor, como a preparação da mistura ar/combustível, a sua queima e a exaustão dos gases. Para este controle, o sistema recebe informações de sensores sobre as informações de diversas condições do motor, como sua temperatura, a temperatura do ar admitido, a pressão interna do coletor de admissão, a rotação, etc. Com o processamento destas informações ocorre o controle de diversos dispositivos que irão atuar no sistema de marcha lenta, no avanço da ignição, na injeção de combustível. Em resumo, a unidade de comando analisa os dados fornecidos pelos sensores distribuídos no motor, processa e retorna ações de controle nos diversos atuadores, de modo a manter o motor em condições ótimas de consumo, desempenho e emissões de poluentes. Os atuadores são componentes que recebem informações da unidade de comando e atuam no sistema de alimentação, variando o volume de combustível que o motor recebe. Podemos dizer que a função principal desse sistema de injeção é a de fornecer a mistura ideal entre ar e combustível (relação estequiométrica) nas diversas condições de funcionamento do motor. A Figura 38 mostra uma central eletrônica, chamada de ECU (Eletronic Control Unit), com os principais atuadores e sensores que compõe o gerenciamento eletrônico. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 32 Figura 38 – Sensores e atuadores do sistema de injeção eletrônica Fonte: COSTA (2002) 2.4.1 Eletro Injetor Em um sistema de injeção eletrônica o eletro injetor tem o papel de atuador. É uma eletroválvula normalmente fechada que abre a passagem de combustível para o coletor de admissão ao ser energizada e fecha mecanicamente pela ação de uma mola interna quando desenergizada. É responsável ainda pela atomização do combustível (SENAI, 2012). A Figura 39 mostra o esquema de um injetor. Figura 39 - Eletro Injetor Fonte: RAMOS (2006) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 33 Quando não há corrente no circuito, a agulha pressiona a superfície de vedação devido à ação da mola, mantendo o combustível pressurizado. Quando energizada, a bobina cria um campo magnético atraindo o corpo da agulha, determinando assim a abertura do injetor. O combustível é pulverizado no momento da injeção pela ponta da agulha (GUO, 1999). A válvula injetora deve ter tempos de resposta rápidos. O tempo em que a válvula permanecer aberta determina a quantidade de combustível injetada, sendo função da unidade de controle o cálculo deste tempo de abertura. Este cálculo é gravado na memória do controlador da unidade eletrônica. A quantidade de eletro injetores e a forma como é comandada a sua abertura definem o tipo do sistema de injeção. De um modo geral o sistema pode ser classificado em: a) Mono ponto (Figura 40): injeção é dada em um único ponto localizado na entrada do coletor de admissão.A válvula borboleta controla a quantidade de mistura que chegará aos cilindros. Esse sistema já está obsoleto, e os carros atuais são fabricados com a injeção multiponto. b) Multiponto (Figura 41): composto por um injetor para cada cilindro, nesse sistema a borboleta fica instalada antes dos bicos. O sistema multiponto é mais eficiente, pois fornece a quantidade adequada de combustível para cada cilindro e com melhor atomização do combustível. Figura 40 - Injeção Monoponto Fonte: SENAI, 2012 Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 34 Figura 41 - Injeção Multiponto Fonte: SENAI, 2012 Atualmente, a maior parte dos motores de ignição por centelha é alimentada por sistemas de injeção indireta de combustível. Nos sistemas de injeção indireta multipontos atuais, os injetores são instalados em cada um dos ramais do coletor de admissão de forma que o combustível seja pulverizado na parte posterior das válvulas de admissão e seja admitido junto com o ar no curso de admissão do pistão, como mostra a Figura 42. Figura 42 – Injeção indireta em motores de ignição por centelha Fonte: Adaptador de NORBYE (2013) e SENDYKA e NOGA (2013) O sistema de injeção direta de combustível de motores do ciclo Otto fornece o combustível diretamente à câmara de combustão, como mostra a Figura 43, e evita a formação de filme de combustível nos dutos de admissão. Além disso, o sistema promove maior controle na quantidade de combustível fornecida ao motor para cada combustão, reduzindo o tempo de transporte do combustível desde a injeção até o início da combustão e possibilitando a redução do consumo de combustível. A necessidade de reduzir as emissões de poluentes e o uso de combustível e, consequentemente, aumentar a eficiência térmica do motor levam a avanços tecnológicos nos sistemas de injeção de Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 35 motores de combustão interna. Comparando-se os motores de injeção direta de combustão por compressão com os motores de ignição por centelha de injeção indireta, observa-se o menor consumo específico de combustível dos motores diesel, associado à maior razão de compressão e ao coletor de admissão sem estrangulamento, possibilitado pela injeção direta de combustível (ZHAO et al., 2002). Figura 43 – Injeção direta em motores do ciclo Otto Fonte: Adaptado de ADRIANO (2014) e SENDYKA e NOGA (2013) Sistemas de injeção direta possibilitam o uso de menor quantidade de combustível na partida e redução de emissão de hidrocarbonetos na transição de cargas. Outra vantagem do uso de injeção direta de combustível é a vaporização do combustível atomizado, que pode reduzir substancialmente a temperatura do ar. Com uma vaporização adequada, o combustível pode retirar calor somente do ar admitido. Esse resfriamento possibilita a redução da ocorrência de detonação durante a compressão e o uso de maiores razões de compressão, além de possibilitar aumento da eficiência volumétrica com maior quantidade de ar admitido. Com a injeção direta, porém, há um menor tempo disponível para vaporização do combustível e formação de uma mistura homogênea ar/combustível, requerendo maior vaporização do combustível e maior pressão de injeção. O menor tempo de formação da mistura pode causar a não evaporação de parte do combustível e formar gotas que saem na exaustão em forma de hidrocarbonetos não queimados (ZHAO et al., 2002). As limitações ao uso da injeção direta envolvem o alto custo de implementação em comparação com a injeção indireta e resultados de Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 36 experimentos que relatam aumento da emissão de NOX e HC devido à não evaporação de parte do combustível (ZHAO et al., 2002). 2.4.2 Acelerador eletrônico Nos sistemas modernos o acelerador dos veículos passou a ser eletrônico, ou seja, em vez de um cabo de aço para abrir e fechar a válvula borboleta, um motor elétrico executa essa tarefa. O pedal do acelerador é um atuador eletrônico que envia sinais para ECU que comanda eletronicamente a abertura no corpo da borboleta. No acelerador eletrônico existem dois potenciômetros que atuam juntos, enviando o sinal para ECU de acordo com a posição de aceleração. Os dois potenciômetros são redundantes por questão de segurança, ou seja, na falha de um, o outro continua garantindo o funcionamento do sistema. As variações dos sinais do potenciômetro são interpretadas pelo programa da ECU, que atua em um motor elétrico acoplado à borboleta, que produz sua abertura ou fechamento de acordo com a aceleração solicitada. A Figura 44 mostra um modelo de borboleta controlada por motor elétrico e a Figura 45 mostra um esquema do sistema de aceleração eletrônica. O acelerador eletrônico possui diversas vantagens em relação ao acelerador mecânico: melhor desempenho, controle total da aceleração, melhor resposta do motor, melhor controle da marcha lenta, aceleração suave, melhor retomada e economia de combustível. Figura 44 – Válvula borboleta elétrica Fonte: LOPES (2009) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 37 Figura 45 – Acelerador Eletrônico Fonte: LOPES (2009) 2.4.3 Sensores A ECU leva em conta diversos fatores para calcular o montante de combustível a ser injetado. Dentre os mais importantes estão: temperatura do líquido de arrefecimento, temperatura do óleo, sensor de oxigênio (sonda lamba), temperatura e e densidade do ar atmosférico e rotação do motor. A Figura 46 mostra o esquema de um sistema multiponto (Motronic – Bosch). Figura 46 - Injeção Multiponto eletrônica – MOTRONIC - BOSCH Fonte: CAPELLI (2010) 2.4.3.1 Sensor de rotação e de fase Uma central de controle eletrônico de combustível deve fornecer a quantidade adequada de combustível e no momento certo. Para isso deve saber a rotação do motor e a posição dos cilindros. A função do sensor de fase e de rotação é informar a rotação do motor e a referência do ponto morto superior (PMS). O sensor de fase e de rotação são geralmente do tipo magnético ou do tipo indutivo. O sensor magnético é constituído de um imã permanente que é o núcleo de uma bobina. Em sistemas automotivos ele é fixado próximo de uma roda dentada, fabricada com material ferroso e Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 38 que possui 58 dentes e um espaço equivalente a dois dentes, sendo chamada no meio automotivo de roda fônica (Figura 47). Figura 47 - Sensor Magnético Fonte: COSTA (2002) O enrolamento da bobina está dentro do fluxo magnético, constante, gerado pelo imã permanente, que tem sua intensidade variada pelos dentes da roda fônica. Quando o dente da roda dentada estiver diante do sensor, o fluxo magnético é máximo e quando em frente ao sensor estiver à cavidade o fluxo magnético é mínimo. Esta variação de fluxo magnético devido à passagem dos dentes (ou cavidade) é condição necessária para gerar uma força eletromotriz – tensão elétrica – no enrolamento da bobina do sensor. A magnitude da tensão induzida é proporcional à variação do fluxo magnético (Equação 1). A tensão de pico (ponto máximo) produzida por esse sensor varia de poucos voltsa um baixo número de rotações e, algumas dezenas de volts quando a rotação aumenta. 𝒇. 𝒆. 𝒎. = − 𝒅∅𝑩 𝒅𝒕 (1) O sensor indutivo baseia-se na geração de um campo eletromagnético de alta frequência gerado por uma bobina ressonante. A bobina em condição normal gera um sinal alternado. Quando um metal aproxima-se do campo, este, por correntes de superfície, absorve a energia do campo, diminuindo a amplitude do sinal gerado no oscilador. A variação de amplitude deste sinal é convertida em uma variação contínua que é comparada com um valor padrão, usado para identificar a fase e rotação do motor. A Figura 48 ilustra o sinal gerado, onde os pulsos assinalados com 2 são gerados pelos dentes e em 3 se vê o sinal gerado pela falha. O sensor magnético é assinalado por 1 e a roda fônica por 4. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 39 Figura 48 - Sensor magnético e roda fônica Fonte: PEDROSO, 2002 Para completar a sincronização da central eletrônica com o ciclo de combustão do motor, um outro sensor é utilizado, chamado de sensor de fase. A função é de informar a referência de fase do primeiro cilindro para determinar o momento de injeção e/ou ignição (sequencial). O sinal enviado à central eletrônica é gerado por um sensor de efeito Hall montado na polia de comando de válvulas (1 rotação = 1 ciclo completo). A Figura 49 mostra o esquema de instalação do sensor de fase e a Figura 50 mostra o sincronismo entre o ciclo do motor, o sensor de rotação e o sensor de fase. Figura 49 - Sensor de fase Fonte: CAPELLI (2010) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 40 Figura 50 – Sincronismo do motor 2.4.3.2 Sensor de oxigênio Conhecido como sonda lambda, o sensor de oxigênio é parte integral do sistema de controle de emissões de poluentes e está localizado no duto de exaustão do motor. Quando a quantidade de ar é a mais adequada para prover a queima completa do combustível, é chamada de mistura ideal ou estequiométrica. Todo gerenciamento eletrônico do motor tem como principal objetivo atingir a estequiometria. O parâmetro λ (lambda) é utilizado para saber se a mistura está ideal, sendo calculado pela Equação 2 (CAPELLI, 2010). Nos capítulos seguintes veremos mais detalhes da formação da mistura e cálculo da razão estequiométrica. λ = 𝑣𝑎𝑧ã𝑜 𝑚á𝑠𝑠𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑟/𝑣𝑎𝑧ã𝑜 𝑚á𝑠𝑠𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡í𝑣𝑒𝑙 𝑣𝑎𝑧ã𝑜 𝑚á𝑠𝑠𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑟 𝑒𝑠𝑡𝑒𝑞𝑢𝑖𝑜𝑚é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎/𝑣𝑎𝑧ã𝑜 𝑚á𝑠𝑠𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡í𝑣𝑒𝑙 𝑒𝑠𝑡𝑒𝑞𝑢𝑖𝑜𝑚é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎 (2) A classificação da mistura é dada por: • Se λ = 1: mistura ideal ou mistura estequiométrica; • Se λ < 1: mistura rica; • Se λ > 1: mistura pobre. A sonda lambda está localizada na exaustão do motor, antes do conversor catalítico, em um local onde a temperatura seja suficiente para o regime de funcionamento do sensor. O sensor tem a Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 41 função de medir o conteúdo de oxigênio nos gases de descarga e informar à central para que seja feita a correção da quantidade de combustível injetado. A sonda consiste de um corpo cerâmico especial, cuja superfície é provida de eletrodos de platina permeáveis a gás. O material cerâmico poroso permite uma difusão do oxigênio do ar. A cerâmica torna-se condutora em temperaturas elevadas, e havendo uma diferença de teor de oxigênio entre os dois lados será gerada uma tensão elétrica nos eletrodos, que é enviada à central eletrônica (VALLE, 2014). A superfície externa está em contato com o gás de exaustão e a superfície interna está em contato com o ar atmosférico. A Figura 51 mostra o esquema do sensor. Figura 51 – Componentes da sonda lambda Fonte: VALLE (2014) O material do sensor, geralmente zircônio, se torna condutor em temperaturas acima de 300ºC. Quando a mistura ar/combustível se aproxima da relação ideal, estequiométrica, existe uma variação brusca na tensão gerada, entre 0 e 1V. Para atingir esta temperatura o gás de escape leva algum tempo para aquecer o elemento, e para reduzir esse tempo, alguns sensores possuem aquecedor interno. A Figura 52 mostra os tipos desse sensor e a Figura 53 mostra um modelo de sonda lambda. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 42 Figura 52 – Tipos de sonda lambda Fonte: Valle (2014) Figura 53 – Modelo de sonda lambda Fonte: CARROS INFOCO (2012) 2.4.3.3 Medidor de fluxo de ar Este sensor, também conhecido como debímetro, mede a massa de ar admitida pelo motor. Um dos tipos de debímetro, realiza a medição através de uma “membrana aquecida” interposta em um canal através do qual flui o ar que entra no motor. A membrana é mantida em temperatura constante, aproximadamente 120ºC acima da temperatura do ar, através de uma resistência de aquecimento colocada em contato com ela (CAPELLI, 2010). Quando o fluxo de ar atravessa o canal, retira calor da membrana. Para que a membrana se mantenha com temperatura constante, uma certa corrente deve passar pela resistência. Através de Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 43 uma ponte de Wheatstone, essa corrente é medida e relacionada com a vazão mássica de ar que passa pelo canal. O sistema é todo calibrado para as condições de fábrica do motor, como o bom estado do filtro de ar, por exemplo (CAPELLI, 2010). A central usa a informação do fluxo de ar para adequar a quantidade de combustível pulverizada. A Figura 54 mostra um modelo de debímetro. Figura 54 – Medidor de vazão mássica Fonte: CAPELLI (2010) 2.4.3.4 Sensor de temperatura O sensor de temperatura é utilizado para medir a temperatura do fluido de arrefecimento, ar ou água, e informar à central de injeção/ignição. O sensor é do tipo resistivo NTC (coeficiente de temperatura negativa). O valor da resistência é alterado em função da temperatura do fluido, sendo reduzida com o aumento da temperatura. A leitura da resistência/tensão pela central, indica à central a leitura da temperatura. Problema com sensor de temperatura do motor podem causar uma queda significativa do rendimento do veículo (CAPELLI, 2010; VALLE, 2014). A Figura 55 mostra o sensor de temperatura. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 44 Figura 55 – Sensor de temperatura Fonte: VALLE (2014) 2.4.3.5 Sensor de velocidade Os sensores de velocidade, conhecidos como sensores taquimétricos, informam a velocidade do veículo à ECU. Esse sensor fica localizado na saída do eixo diferencial. 2.4.3.6 Sensor de pressão absoluta (MAP) O sensor de pressão absoluta é conhecido como MAP (Manifold Abolute Pressure) e tem como função informar as variações de pressão existentes no coletor de admissão e a pressão atmosférica local, para cálculo da massa de ar admitida (CAPELLI, 2010). Na maioria dos sistemas, o elemento sensível desse sensor é constituído de uma membrana de material cerâmico. Um diafragma separa duas câmaras: na câmara inferior lacrada é criado o vácuo e a superiorcomunica-se diretamente com o coletor de admissão através de uma tubulação de borracha. O sinal gerado é derivado da deformação sofrida pela membrana, de natureza piezorresistiva, que é amplificado antes de ser enviado à central eletrônica, que identifica do valor da pressão. O sensor MAP pode ser integrado ao sensor de temperatura em alguns casos. A Figura 56 mostra um modelo desse sensor. Figura 56 – Sensor MAP 2.4.3.7 Interruptor inercial O interruptor inercial atua em interrupções bruscas de movimentos, como em casos de colisão, desativando a bomba de combustível. Desta forma, reduz a possibilidade de incêndio. 2.4.3.8 Sensor de detonação Sensores de detonação são componentes importantes nos veículos modernos, pois possibilitam a proteção do motor e auxiliam para o controle de uma queima de combustível mais eficiente. Estes sensores são utilizados para detectar um fenômeno que ocorre quando uma parte da mistura Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 45 ar/combustível alcança alta temperatura e pressão suficientes para causar uma rápida ignição (ou autoignição) no cilindro, devido à compressão, antes da combustão ter sido iniciada pela vela de ignição, em motores com ignição por centelha. Ao ocorrer a ignição da mistura, uma grande quantidade de energia química é liberada rapidamente, causando um rápido aumento de pressão local. Esse fenômeno causa um ruído característico e pode causar sérios danos ao motor, sendo chamado de detonação (TOPINKA, 2003). Estes sensores são compostos por tipos de cristais que, quando submetidos a deformações, produzem uma tensão elétrica proporcional, fenômeno chamado de piezoeletricidade. O sensor é composto basicamente por uma massa, uma mola e o cristal piezoelétrico (Figura 57). Vibrações induzidas nesse sistema comprimem a montagem e deformam o cristal contra a massa, resultando em uma tensão elétrica (FERNANDEZ, 2006). Na utilização em motores, estes sensores geram sinais elétricos a partir das vibrações transmitidas através da estrutura do motor. A dificuldade de detectar um fenômeno específico, como detonação ou combustão, deve-se ao ruído de fundo das vibrações mecânicas, comuns no funcionamento dos motores, principalmente em altas rotações. No momento em que o módulo de injeção eletrônica recebe o sinal com indicação de detonação, inicia gradativamente um processo de redução graduação do avanço de ignição. Ao término da detonação, o sistema reestabelece o valor de avanço do motor. A Figura 58 mostra um posicionamento típico do sensor de detonação no bloco do motor. Figura 57 - Vista em corte de um sensor de detonação piezoelétrico Fonte: FERNANDEZ, 2006 Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 46 Figura 58 – Posicionamento do sensor de detonação Fonte: BRAGA, 2007 2.4.3.9 Atuador de marcha lenta O atuador de marcha lenta limita a quantidade de ar de maneira a manter a rotação constante de marcha lenta durante a fase de aquecimento do motor, nos momentos em que são ligados os acessórios elétricos do veículo e em desaceleração. Possui um motor de passo ou, em alguns sistemas, um motor de corrente contínua. A central utiliza informações do sensor de rotação, temperatura de arrefecimento e posição da borboleta para controlar o atuador. No corpo da borboleta há um orifício por onde passa parte do ar aspirado. O fluxo nesse orifício é regulado pelo atuador de marcha lenta, como os antigos “glicleur” dos carburadores (CAPELLI, 2010), como mostra a Figura 59. Figura 59 – Atuador de marcha lenta Fonte: COSTA (2002) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 47 2.5 Sistema de ignição Em motores de combustão interna ocorre a transformação da energia química em energia térmica através da reação química, denominada combustão. Para que ocorra a combustão, precisamos de combustível, o ar e o agente detonante ou calor. O sistema de ignição faz o papel do elemento detonante, provendo uma centelha (faísca). Os sistemas de ignição também sofreram evoluções ao longo do tempo. Veremos aqui os sistemas convencionais e o sistema eletrônico. 2.5.1 Sistema de ignição convencional A Figura 60 mostra um sistema de ignição convencional e seus principais componentes. A bateria faz a transformação de energia química em energia elétrica, que alimenta todos os sistemas do motor. A tensão da bateria em veículo convencionais fica em torno de 12,6 V. O alternador carrega a bateria e fornece energia elétrica durante o funcionamento do veículo Figura 60 – Sistema de ignição convencional Fonte: MICHEL (2015) A tensão fornecida pela bateria não é suficiente para produção de faísca. Em sistemas convencionais essa tensão elétrica deve atingir entre 8.000 e 20.000 V. Portanto, deve haver uma transformação de tensão elétrica, obtida através das bobinas de ignição. A bobina (Figura 61) é um transformador que recebe baixa tensão da bateria e transforma em alta tensão. A bobina é envolvida por uma chapa metálica e em seu interior possui um núcleo de ferro laminado e dois enrolamentos, chamados de primário e secundário. Geralmente, o enrolamento primário possui cerca de 350 espiras e o secundário 20.000 espiras (fio mais fino). O enrolamento Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 48 primário está conectado nos terminais positivo e negativo da bateria e o secundário possui uma extremidade ligada na saída de alta tensão da bobina, onde está o cabo, e a outra ligada internamente no enrolamento primário (COSTA, 2002; CAPELLI, 2010 e VALLE, 2014). Figura 61 – Bobina de ignição Fonte: VALLE (2014) O transformador da bobina de ignição somente realiza o processo de indução com tensões alternadas. O platinado é um elemento chaveador que altera uma tensão puramente contínua e constante, da bateria, em pulso de tensão para o primário da bobina (CAPELLI, 2010). Por meio de uma engrenagem localizada na base do distribuidor, o platinado se abre e se fecha sucessivamente. Quando a chave de ignição é ligada e dá-se a partida, o platinado abre e fecha (Figura 62). Com o platinado fechado, o terminal da bobina de ignição está ligado à massa. Acionando o comutador de ignição, o enrolamento primário da bobina é energizado com tensão da bateria. Essa tensão será elevada para ordem de 10³ V no secundário e é armazenada em forma de campo magnético, para depois ser fornecida à respectiva vela, permitindo a formação da centelha. Esse campo magnético vai aumentando até alcançar o seu ponto máximo. Nesse momento, o platinado se abre (acionado pelo distribuidor) interrompendo a circulação de corrente pelo circuito da bobina. Nesse instante, é gerada no secundário da bobina uma força contraeletromotriz, devido à energia acumulada. Um capacitor, chamado de condensador, é ligado em paralelo com o platinado e absorve a energia proveniente da força contraeletromotriz gerada na bobina primária, evitando a formação de arco elétrico nos contatos do platinado. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 49 Figura 62 – Circuito com platinado fechado Fonte: COSTA (2002) O distribuidor (Figura 63) tem a função de determinar o tempo paraa bobina de ignição causar os pulsos de alta tensão e, também, distribuir esses pulsos para as velas de ignição na ordem requerida. Esse dispositivo é instalado diretamente no motor, sendo acionado por meio de um eixo auxiliar ou no comando de válvulas. O rotor gira internamente ao distribuidor, fazendo a distribuição da corrente elétrica, que passa pela tampa do distribuidor. A tampa do distribuidor é fabricada de material isolante de corrente elétrica. Para um motor de quatro cilindros, possui em sua superfície cinco torres de encaixe, sendo a torre central para encaixa do cabo da bobina e as outras para encaixe dos cabos das velas de cada cilindro. O momento ideal para geração da centelha é variável e depende de diversos fatores, como: rotação do motor, carga, temperatura do sistema de arrefecimento, temperatura do coletor de ar, detonação. Existe um tempo entre a geração da centelha na vela até a queima completa da mistura e para que seja aproveitada ao máximo a elevação da pressão no interior dos cilindros, é imperativo que a centelha seja lançada antecipadamente ao PMS. Ao adiantamento da centelha, chama-se avanço da ignição. O sistema deve prever esse avanço e alterar o momento de geração da centelha. No interior do distribuidor são instalados dois sistemas de avanço da abertura de comando do platinado, o avanço a vácuo e o avanço centrífugo (Figura 64). O avanço a vácuo é um dispositivo que tem a forma circular, instalado na lateral do distribuidor, onde um diafragma está ligado por uma mangueira até o carburador e o mesmo diafragma, na outra extremidade, é ligado a uma mesa móvel dentro do distribuidor. Na transição da rotação do motor de marcha lenta para maiores rotações, cria-se uma depressão no carburador que faz com que o diafragma se movimente, movimentado a parte móvel da mesa para avançar o ponto de abertura do platinado. O retorno é feito por uma mola eu fica por trás do platinado (COSTA, 2002). Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 50 Figura 63 – Componentes do distribuidor convencional Fonte: COSTA (2002) Já o avanço centrífugo é instalado dentro do distribuidor, ligado à mesa por pinos e às sapatas dos cames da árvore do distribuídos por meio de molas. São pesos em forma de meia-lua colocados estrategicamente dentro do distribuidor para que, quando houver o aumento de rotação do motor, os mesmos sejam afastados, fazendo com que os cames da árvore giratória acionem os ressaltos, antecipando a abertura do platinado. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 51 Figura 64 – Avanço de ignição Fonte: COSTA (2002) A corrente elétrica que sai do distribuidor é conduzida até as velas através dos cabos de ignição ou cabos de velas (Figura 65). Esses cabos possuem diâmetros específicos e aplicações específicas, conforme o tipo de sistema de ignição. São resistentes à alta tensão e às altas temperaturas existentes no compartimento do motor. Nos cabos são instaladas resistências para eliminar interferências que podem prejudicar o funcionamento de outros sistemas eletrônicos do motor. Podem ser cabos supressivos (CS), onde há um supressor instalado ao longo do próprio cabo ou de terminais supressivos (TS), onde há um resistor instalado nos terminais que vão sobre as velas. Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 52 Figura 65 – Cabos de ignição Fonte: COSTA (2002) Finalmente, as velas de ignição são as responsáveis por conduzir a alta voltagem elétrica para o interior da câmara de combustão, convertendo-a em faísca para inflamar a mistura ar/combustível. É um componente que requer para sua concepção a aplicação de tecnologia sofisticada, pois o seu perfeito funcionamento está diretamente ligado ao rendimento do motor, os níveis de consumo de combustível, a maior ou menor carga de poluentes nos gases expelidos pelo escape, etc. A Figura 66 mostra os principais componentes de uma vela de ignição. O eletrodo central recebe o pulso do distribuidor e percorre todo o interior da vela. O eletrodo lateral fica na parte inferior da vela, bem próximo ao eletrodo central. Essa distância é vencida pela tensão elétrica e deve ter um valor específico e controlado para que a centelha gerada seja suficiente para dar início à combustão. Figura 66 – Velas de ignição Fonte: MARQUES (2014) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 53 2.5.2 Ignição eletrônica Com a evolução dos sistemas automotivos, o sistema de ignição convencional foi substituído pela ignição eletrônica, eliminando, principalmente, o platinado. O comando de ignição sem contato mecânico apresenta vantagens que tornam o sistema atrativo como: a) Não há desgaste mecânico; b) Maior facilidade no ajuste do ponto de ignição; c) Maior segurança de ignição em regime de rotação elevada e absorção ideal de potência em rotação reduzida, pois mantem a potência de ignição constante. A principal característica desse sistema é o emissor de pulsos, que substituiu o platinado. Ele produz pulsos de comando sem auxílio de contatos mecânicos, podendo ser emissor de pulsos indutivos (TSZ-I) ou emissor de pulsos Hall (TSZ-H). A ignição transistorizada por bobina, com emissor de pulsos indutivos (TSZ-I), é um sistema de ignição que controla o momento da faísca por um gerador de sinal indutivo, instalado dentro do distribuidor. Esse sistema aumentou a eficiência da centelha para os cilindros, ampliando os intervalos de regulagens do sistema de ignição e melhorando o comportamento das partidas em altas e baixas temperaturas. Portanto, o distribuidor de ignição passou a ser equipado com o emissor de pulsos indutivos. O conjunto é formado por um estator fixo composto de um ímã permanente, enrolamento de indução, núcleo e rotor emissor de impulsos que gira de acordo com o eixo do distribuidor. Ambos têm prolongamentos denominados ponta de estator e ponta de rotor (CAPELLI, 2010). A Figura 67 mostra o distribuidor indutivo. Figura 67 – Distribuidor indutivo Fonte: COSTA (2002) Sistemas Automotivos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 54 A ignição eletrônica transistorizada por bobina, com emissor de pulsos Hall (TSZ-H), baseia-se em um emissor de impulsos de material semicondutor, percorrido por uma corrente elétrica polarizada e submetido a um campo magnético, que geral um pulso elétrico na ordem de milivolts, denominada de tensão Hall. É composto por dois componentes, um fixo e outro móvel. O emissor conta com um ímã permanente com peças condutores em um circuito integrado e um rotor com janelas de igual tamanho instaladas para o comando do primário da bobina de ignição. A Figura 68 mostra o esquema desse sistema. Para maiores detalhes do funcionamento dos sistemas de ignição, consulte a referência CAPELLI (2010). Figura 68 – Emissor de pulsos Hall Fonte: COSTA (2002) Uma outra evolução dos sistemas de ignição é a ignição mapeada, onde eliminou-se o avanço mecânico da ignição. Esse sistema possibilita o avanço do ponto de ignição com maior flexibilidade, atendendo às alterações de rotação e carga impostas ao motor e regula o ponto de ignição em um cilindro detonante. O sistema é programado
Compartilhar