Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TOXICOLOGIA SOCIAL Drogas de abuso Manuel Alves FORTALEZA, 2017. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA TOXICOLOGIA I IMPACTO DO USO DE DROGAS • Afeta pessoas de todas as idades. MÉDICO SOCIAL ECONÔMICO CRIMINAL ASPECTOS HISTÓRICOS USO DE SUBSTANCIAS PSICOATIVAS • Diversos períodos da história; • Utilizada para obter estado alterado de consciência em diversos contextos: Religioso Místico Social Econômico Medicinal Cultural PsicológicoMilitar BUSCA PELO PRAZER “Houve viciados em drogas muito antes de existirem agricultores.” Aldous Huxley HISTÓRICO HISTÓRICO • Gregos e Romanos – Bebidas alcoólicas; • Idade moderna (revolução industrial) – Aumento do consumo de álcool – Egressos da Ásia, África, Índia; • Final do séc XIX – Disseminação de ópio, álcool e cigarro; • Sec XX (Guerras mundiais) – Consumo de anfetaminas e opióides; • Dec 50 e 60 (movimento hippie) – Consumo de alucinógenos; – Criminalização das drogas ilícitas; • Anos 80 – Drogas sintéticas : ecstasy, anfetaminas; – Guerra ao tráfico de drogas; • Anos 90 – Grande consumo de cocaína; HISTÓRICO • Ações governamentais visando o controle da venda/uso de drogas; • O uso abusivo atinge várias classes sociais; • Aumento do uso/abuso e dependência das diversas drogas; • Surgimento de novos tipo de drogas; ASPECTOS ATUAIS INTRODUÇÃO Área da Toxicologia que estuda os efeitos nocivos decorrentes do uso não médico nem terapêutico de fármacos ou drogas, causando danos não somente ao indivíduo, mas também à sociedade. TOXICOLOGIA SOCIAL Oga, S.; Camargo, M.M.A.; Batistuzzo, J.A.O., 2014. USO/ABUSO DE DROGAS: motivações • Euforia; • Sensação de prazer; • Poder, autoconfiança • Aumento de energia (estimulantes) • Sensação de relaxamento e satisfação Para se sentir bem • Estresse • Indivíduos com transtornos (depressão, ansiedade); Para se sentir melhor • Melhorar a performance cognitiva ou atlética. Para fazer melhor Curiosidade Influencia social FATORES DE RISCO Genes Ambiente Genética Gênero Transtornos mentais DROGAS Lar caótico e abuso Uso pelos pais e atitudes Influências Atitudes da comunidade Desempenho escolar ruim Via de administração Efeito da droga Uso precoce Disponibilidade Custo Neuroadaptação Dependência CONCEITOS ADIÇÃO DEPENDÊNCIA Padrão comportamental de uso abusivo Estado fisiológico de neuradaptação produzido pela administração repetida da droga Forte tendência à recaída após interrupção do uso. Uso compulsivo Administração continuada para impedir o aparecimento de síndrome de abstinência. • REFORÇO POSITIVO (feeling pleasure) – Tendência de uma droga que produz prazer a resultar em autoadministração repetida. • ABUSO (feeling relief) – Autoadministração de qualquer droga de forma não aprovada cuturalmente e que causa consequência adversas. • ABSTINÊNCIA – Reações psicológicas, comportamentais e fisiológicas à cessação abrupta da droga causadora da dependência. CONCEITOS • Sem controle do uso da drogas (apesar das consequências adversas; • Droga adquiriu prioridade na vida do indivíduo; • Padrão mal-adaptado de uso; • Consequências adversas recorrentes; • Prejudicial à saúde; • Uso regular; • Não compulsivo; • Não interfere nas atividades habituais dos indivíduos; CONCEITOS Uso ocasional ou controlado Uso abusivo ou nocivo Uso compulsivo ou dependência CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS DE ABUSO OPIÁCEOS ESTIMULANTES DEPRESSORES DO SNC INALANTESCANABINÓIDES ALUCINÓGENOS Heroína, morfina, codeína. Etanol, barbitúricos, BDZ. Cocaína, anfetaminas, nicotina, cafeína. LSD, psilocibina, mescalina. Δ9-THC Tolueno, n-hexano, acetato de etila. DADOS RELEVANTES • Estima-se que em 2012, 5,2% da população mundial tenha utilizado ao menos uma vez alguma droga ilícita. Relatório Mundial de Drogas, 2014. • Uso de múltiplas drogas: – Estudo em 14 países europeus (2006): • 60% dos usuários de cocaína usam concomitantemente outras drogas; • 42% com álcool; • 28% com Cannabis sativa; • 16% com heroína; DADOS RELEVANTES Relatório Mundial de Drogas, 2014. DADOS RELEVANTES • Álcool e tabaco são as drogas de maior prevalência, em todas as capitais, em estudantes de ensino médio e fundamental; seguidas pelos inalantes; • O crack não é uma droga de destaque entre estudantes. VI Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública e Privada de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras, 2010. • O consumo de drogas aumentou no Brasil nos últimos anos, na contramão da tendência mundial de estabilidade; • Estes estudos demonstram que o álcool é a substância psicoativa de maior uso no Brasil; • A idade de iniciação do uso de drogas é cada vez mais cedo; • A prevalência de uso na vida para qualquer droga (exceto tabaco e álcool) foi de 22,8%; II Levantamento domiciliar do consumo de drogas do Brasil realizado em 2005. DADOS RELEVANTES Neurobiologia da adição a substâncias • Transtorno mental crônico que tem potencial a recorrência e recuperação. • Caracterizada por: • Comportamento compulsivo; • Mudanças em funções cerebrais (neuro-adaptação) que reduz a habilidade de controlar o uso • Ocorrência de um estado emocional negativo quando o acesso à droga é negado. Ciclo da adição • Ciclo repetitivo de três fases – Intoxicação: experiência do efeito prazeroso – Retirada: efeito emocional negativo pela ausência – Antecipação: Busca pela substância após período sem uso Ciclo da adição Neuro-adaptação: - alterações progressivas em regiões cerebrais - persistem por muito tempo após parar o uso - Algumas pessoas tem traços impulsivo-compulsivos - Sistema recompensa geneticamente disfuncional Nem todas as pessoas que fazem uso de substâncias tornam-se adictas a elas. Por quê? Adição a substâncias TRANSTORNO IMPULSIVO-COMPULSIVO Resulta da dificuldade do cérebro de dizer “não” *Inflexibilidade cognitiva CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DSM V 1. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para obter a intoxicação ou efeito desejado; b. Acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade da substância. 2. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a. Síndrome de abstinência característica da substância; b. A mesma substância (ou outra estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência. 3. Uso frequente de quantidades maiores ou por períodos mais prolongados do que o pretendido. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DSM V *3 ou mais critérios ocorrendo no período de 12 meses. 4. Desejo persistente ou esforços malsucedidos para o controlar o uso. 5. Muito tempo é consumido em conseguir, usar ou recuperar-se do uso. 6. Abandono ou redução de atividades sociais, ocupacionais ou recreativas devido ao uso. 7. Uso mantido apesar do reconhecimento de problemas físicos ou psicológicos persistentes ou recorrentes, causados ou agravados pelo uso. • Reuniu “abuso” e “dependência” em “Transtorno por uso de substâncias”. • Diagnóstico de Abstinência de Cannabis e cafeína; • Gravidade do caso: – Leve: dois ou três critérios; – Moderado: quatro ou cinco critérios; – Grave: seis ou mais critérios; DSM IV ≠ DSM V TEORIAS DA DEPENDÊNCIA Reforço positivo • Impulsividade • Uso inicial Reforço negativo Comportamento compulsivo • Adição Desencadeia cascatas neuroplásticas Perda do controle do comportamento • Impulsividade – Tendência em agir prematuramente sem pensar previamente. – A falta de reflexão sobre as consequências de um comportamento. – Inabilidade de parar o início de ações. • Compulsividade – Compulsões são caracterizadas pela inabilidade de adaptar um comportamento após um feedback negativo. – Inabilidadeterminar ações em andamento. TEORIAS DA DEPENDÊNCIA TEORIAS DA DEPENDÊNCIA Neuroadaptação do SNC Alteração da homeostase de circuitos neurais Contrabalançar o efeito CONTRA-ADAPTAÇÃO ÀS AÇÕES AGONISTAS DE DROGAS OU FÁRMACOS. Essas alterações tendem a compensar o efeito do fármaco e produzir um estado funcional aparentemente normal durante a presença do mesmo. Exposição repetida Sensibilização Padrão compulsivo A sensibilização do sistema de recompensa pode está relacionada ao comportamento de recaída, após períodos longos sem uso da droga. Fenômeno DURADOURO!! TEORIAS DA DEPENDÊNCIA ESTÁGIOS DA DEPENDÊNCIA Reforço agudo/uso da droga • Contato esporádico e recreacional; • ↑ da dopamina mesolímbica Dependência • Alterações neuroquímicas, funcionais e efeitos neuroadaptativos; • Tolerância, sensibilização e dependência Abstinência/recaída • Ausência da droga é insustentável; • Síndrome de abstinência Sistema recompensa Mecanismos moleculares DROGA Ação reforçadora positiva Via de administração Tempo de ação Potência e grau de pureza AMBIENTE Disponibilidade da droga Condição socioeconômica Pressão dos companheiros Estresse USUÁRIO Predisposição genética Polimorfismo genético Transtorno psiquiátricos Idade de início de uso “Comportamento de risco” VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM NO DESENVOLVIMENTO DA DEPENDÊNCIA SISTEMA RECOMPENSA As drogas “sequestram” o sistema cerebral de recompensa Áreas relacionadas com cada fase do ciclo da adição Neurotransmissores com cada fase do ciclo da adição PROJEÇÕES DOPAMINÉRGICAS Neuroadaptação no SCR devido adição a substâncias AÇÕES DAS DROGAS NOS CIRCUITOS DE RECOMPENSA • Todas as drogas aumentam dopamina (DA) no estriado ventral, também chamado de núcleo accumbens. • Recompensa induzida por drogas pode iniciar uma cascata de neuroadaptação no estriado ventral que migra para a via estriatal dorsal. VIA DOPAMINÉRGICA MESOLÍMBICA • Área tegmental ventral (ATV) • A dopamina se acopla com seus receptores, no hipocampo (via amígdala) e no núcleo accumbens (Nacc); • Despolarização dos neurônios dopaminérgicos (pós- sinápticos); • Sensação de recompensa. MECANISMOS MOLECULARES DA DEPENDÊNCIA MECANISMOS MOLECULARES DA DEPENDÊNCIA • Anormalidades comportamentais • Gradual • Progressiva • Persistente • Plasticidade neural • Regulação da transcrição gênica • Δ FosB (envolvido com a sensibilização) Exposição repetida Expressão gênica Altera quantidade e tipos de genes Síntese de Proteínas Alterações de comportamento ΔFosB • Membro da família Fos de Fatores de transcrição (p.ex: c-Fos, FosB, Fra-1, Fra-2); • As isoformas ΔFosB são as únicas que se acumulam nos neurônios com repetidas exposições Alta estabilidade • Resposta a muitas drogas ou fármacos de abuso como administração crônica de: Cocaína, Anfetamina, Opiáceos, Nicotina e Etanol MECANISMO • Amplificam por anos os sinais que circulam entre as células; • Ativa genes relacionado a sensibilização às drogas PROTEÍNA CDK5 1 2 3 1 e 2 – Ramificações normais 3 – Maior quantidade de ramificações, levando a uma maior sensibilização CREB • Fator de transcrição que se liga a região CRE no DNA; • Relacionado: Aprendizado, memória, depressão, resposta a estímulos emocionais; • Administração de farmácos/drogas estimulam a via no NAcc • Efeitos mediados principalmente pelo peptídio opióide Dinorfina MECANISMO Dinorfina DINORFINA • Causa diminuição da dopamina DISFORIA • Adaptação homeostática negativa, pois diminui a sensibilidade a uma nova exposição Tolerância Regulação de curta duração, revertendo ao normal após dias ou semanas e interrupção da substância TOLERÂNCIA TOLERÂNCIA “Consiste na diminuição do efeito do fármaco/droga por exposição excessiva ao princípio ativo, tornando-se necessária uma dosagem cada vez maior para alcançar o efeito desejado” A redução da resposta ao fármaco/droga está relacionado ao seu uso contínuo; TIPOS DE TOLERÂNCIA 1. Tolerância Inata 2. Tolerância Farmacodinâmica 3. Tolerância Farmacodinâmica aguda 4. Tolerância Farmacocinética 5. Tolerância Reversa 6. Tolerância Cruzada 7. Tolerância Condicionada 8. Tolerância Comportamental TOLERÂNCIA INATA • Tipo de sensibilidade determinada geneticamente; observada quando o fármaco/droga é administrado a primeira vez; • Potencial de tolerância pré-determinado de um fármaco; • Possível causa: polimorfismo de genes codificadores de enzimas; diferentes respostas mediadas pelos receptores. • Observada com o álcool. TOLERÂNCIA FARMACODINÂMICA • Necessidade de doses cada vez maiores no sítio de ação do fármaco/droga; • Alterações adaptativas nos receptores dos sistemas afetados por esses agentes químicos; – Ex: Alterações de eficiência e/ou densidade de receptores. TOLERÂNCIA FARMACODINÂMICA AGUDA OU TAQUIFILAXIA • Desenvolve-se rapidamente a partir da utilização de doses excessivas e repetidas em um curto espaço de tempo. – Ex: Cocaína: usada como um “binge” com doses repetidas no decorrer de 1h ou algumas horas do dia. Há um decréscimo da resposta em doses seguidas. TOLERÂNCIA FARMACOCINÉTICA • Também chamada metabólica, está relacionada com alterações farmacocinéticas após utilização repetida; • Redução da concentração no sangue, bem como nos sítios de ação do fármaco/droga; • Motivo: indução de sistemas enzimáticos no fígado, especialmente CYP450; – Ex: Barbitúricos TOLERÂNCIA REVERSA • Também chamada sensibilização, refere-se ao aumento da resposta ao efeito de um fármaco/droga após administrações repetidas; • Sensibilização do sistema mesolímbico dopaminérgico sob duas medidas: – Níveis de DA e seus metabólitos no NAcc; – Medição dos efeitos ativadores-psicomotores dos agentes químicos. • Evidências laboratoriais comprovam o incremento da atividade psicomotora com esses agentes químicos. TOLERÂNCIA CRUZADA • Fenômeno em que a tolerância a determinado agente químico implica também na tolerância a outro. Pode ser: • Farmacodinâmica: propriedades farmacológicas semelhantes entre os agentes. Ex: Etanol e barbitúricos/benzodiazepínicos; • Metabólica: Indução enzimática de um agente químico provoca a biotransformação de uma série de substâncias nunca antes administradas. Ex: Etanol e Barbitúricos. TOLERÂNCIA CONDICIONADA • Chamada ambiente-específica, desenvolve-se mediante administração do fármaco/droga na presença de um estímulo ambiental conhecido; • Sinalizam a presença do agente químico, provocando adaptações fisiológicas no organismo mesmo antes do alcance da droga no sítio de ação; • Precedido o mesmo estímulo, a adaptação pode prevenir a manifestação total dos efeitos naquela concentração (tolerância); • Substância é “esperada” pelo organismo. ABSTINÊNCIA ABSTINÊNCIA • As características particulares da síndrome de abstinência dependem das mudanças adaptativas induzidas pela droga ou fármaco que, por sua vez, dependem em parte de suas ações farmacológicas. • Ex: morfina: diminuição da motilidade GI e miose. ABSTINÊNCIA • A intensidade da reação de abstinência também guarda relação com o curso temporal da droga; • Droga de ação relativamente lenta e por tempo relativamente longo, frequentemente dá origem a sintomas de abstinência menos intensos do que outra que age de maneira rápida, intensa e breve CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compartilhar