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FEITIÇARIA E MAGIA PERSEGUIÇÃO COLONIAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
NOME DO ALUNO
FEITIÇARIA E MAGIA: PERSEGUIÇÃO COLONIAL
Local
2016
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
NOME DO ALUNO
FEITIÇARIA E MAGIA: PERSEGUIÇÃO COLONIAL
Artigo Científico encaminhado à Universidade Candido Mendes – UCAM, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em.....(Seu curso).
Local
2016
FEITIÇARIA E MAGIA: PERSEGUIÇÃO COLONIAL
RESUMO
O Brasil é um país com uma identidade cultural forte em razão de possui uma população extremamente heterogênea, cujas raízes estão fixadas ao período colonial, uma vez que com a chegada dos portugueses acarretou na entrada de africanos escravos para trabalhar na colônia. Cada povo trouxe consigo um pouco da sua identidade, da sua cultura, da sul religião. Essa mistura representou grandes conflitos na época, haja vista que uma nação queria impor sua cultura sob as demais. Nesse sentido, visando a dominação da sociedade, o governo português instaurou o tribunal inquisitorial, que perseguia aqueles que professavam sua religião de maneira diversa da católica. Destarte que rituais de magias para deuses eram muito comum na cultura africana e indígena, os quais sofreram resistência para de adequar aos moldes da igreja católica e do governo português. Dessa forma, neste estudo almejo investigar quais eram os rituais de magias e feitiçaria praticados no Brasil Colônia, bem como descrever como tais práticas eram vistas pela igreja católica e o governo português. Para tanto, procedeu-se a uma pesquisa qualitativa que caminha pelas lentes da revisão bibliográfica, tendo como fonte livros e artigos científicos publicados em periódicos da área de história. Através destes estudos percebemos que a perseguição aos praticantes de magia e feitiçaria não ocorreu de forma tão significante no Brasil como nos demais países, contudo há diversos registros de pessoas condenadas pela prática de bruxaria, feitiçaria e curandoria. Parte dessa cultura ainda faz parte do cotidiano da população, o que reverbera a importância de estudar a história do Brasil para entender um pouco da nossa identidade.
INTRODUÇÃO
O Brasil é constituído por uma população extremamente heterogênea. Desde a chegada dos portugueses ao continente, inúmeros povos, dos mais diversos cantos do planeta, vieram ao país para (re)começar uma vida nova. Tais povos trouxeram na sua bagagem um pouco da sua história, suas tradições, costumes, usos, modos de vida e, principalmente, seus rituais religiosos, o qual é o foco principal deste trabalho. 
A mistura de toda essa diversidade cultural dentro de uma sociedade é denominada de sincretismo religioso
, o qual no Brasil Colonial caminhara por linhas muito mais profundas, uma vez que estas práticas religiosas sofreram uma mútua influência e assim, formaram novas práticas, dando a colônia brasileira, uma peculiaridade tão singela jamais vista em nenhum outro canto do mundo, a qual será discutida com maior aprofundamento posteriormente. Dentre as práticas religiosas cultuadas no Brasil Colônia, me detenho nesta pesquisa a investigar a Feitiçaria e a Magia. 
Desta forma, com base no exposto, através deste estudo almejo lançar mão das seguintes indagações: quais eram os rituais de magias e feitiçarias praticados no Brasil Colônia? Quais os discursos, regados de práticas, eram proferidos pela igreja católica e o governo português, sobre os rituais de magias e feitiçarias no território brasileiro no período colonial? 
Bruxas, feiticeiras, magos, curandeiros... Religiões! Esses elementos sempre me cativaram e, principalmente, provocaram-me profundos questionamentos existenciais, que perpassam desde a minha infância, quando assistia desenhos de bruxas e feiticeiras, depois na escola durante as aulas de História da idade média, em que a igreja católica perseguia homens e mulheres que praticam seus próprios cultos, e também durante minha formação inicial em História, quando comecei a me aprofundar nas práticas religiosas durante o Brasil Colonial.
 Pensar sobre tais questões históricas não está desvinculada da atualidade, pois, não é incomum, navegarmos pelas redes sociais e noticiários, e nos depararmos com situações de intolerância religiosa, e, principalmente, aquelas que possuem raízes nas questões que proponho discutir no presente texto. Entender como se deu, e por qual motivo se deu esses processos discriminatórios faz-se importantíssimo para que não haja reproduções de práticas agressivas e aversivas para tais condutas religiosas. 
A força do sincretismo religioso no Brasil Colonial está enraizada em suas bases culturais, haja vista que neste período habitava neste Pindorama, povos portugueses, africanos e indígenas. Cada povo expressava-se religiosamente de forma única, sendo que alguns destes povos, na maioria das vezes, caminhavam na contramão do que pregava o cristianismo, que tinham a bíblia sagrada como seu manual para boas condutas, e extirpar aquelas que na visão cristã fossem inadequadas e torpes (FONSECA, 2012). 
Neste período o cristianismo era a religião oficial de Portugal. Aqueles que professam sua fé por outras vias eram tidos como criminosos (Judeus e Protestantes) que precisavam ser controlados. Para tanto foi instaurada em 1536 pelo reino de Portugal a inquisição
, que em linhas gerais é “... um mecanismo de dominação utilizado pela Igreja Católica e pelo Estado na tentativa de manter o domínio sobre as pessoas, controlando as ações destas através da religiosidade” (SILVA, 2011, p. 78). 
Vale ainda ressaltar que a inquisição erroneamente é sempre associada com a igreja Católica e principalmente com o cristianismo. Neste período existia inquisição em muitos povos com as mais variadas religiões, como forma de dominar a população, e se preciso fosse com violência.
No Brasil não foi instalado um tribunal Inquisitorial. Contudo, havia uma comissão que fiscalizava a colônia de tempos em tempos. Os que porventura fossem acusados eram intimados a comparecer no reino para o seu julgamento. O tribunal inquisitorial responsável por julgar os crimes cometidos na colônia brasileira ficava localizado em Lisboa (SILVA, 2010). 
 Destarte salientar que na colônia brasileira, as perseguições aos “hereges” não ocorreram de forma tão simbólica como nas demais populações do planeta. Veremos mais a frente como se deu processo de inquisição no Brasil Colônia, bem como pontuar de que forma a metrópole se relacionava com as práticas de magia e feitiçaria. Utilizaremos para tanto uma revisão bibliográfica do assunto em livros e artigos científicos da área.
DESENVOLVIMENTO
Esta pesquisa utiliza-se da pesquisa qualitativa como abordagem metodológica, uma vez que esta procura entender os fenômenos estudados e interpretá-los (LUDKE; ANDRÉ, 1986). O estudo caminha ainda pelas lentes da revisão bibliográfica, tendo como fonte livros e artigos científicos publicados em periódicos da área de história. 
Antes de adentrar neste vasto campo da magia e de feitiçaria que ocorreram na colônia brasileira, inicio este texto trazendo a tona um breve resumo da inquisição portuguesa, o qual foi à gênese da perseguição aos não cristãos.
A INFLUÊNCIA DA INQUISIÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL COLÔNIA
A inquisição foi um mecanismo de controle da sociedade utilizado, principalmente, pela igreja católica, através da religiosidade. Estudos apontam que o surgimento da inquisição tenha ocorrido por volta do século IX, no Império Romano com o termo inquisitio, que consistia basicamente na formulação de uma denúncia pela própria autoridade, quando não presentes testemunhas (FERREIRA, 2012).
No decorrer da história da humanidade, a inquisição esteve presente em muitos momentos, influenciando todo um modo de vida de uma sociedade. A inquisição percorreu pelos mais diversos países do planeta, sempre revertidos com novas facetas e com modus operandi diversificado (AQUINO, 2009).
Em Portugal, a inquisição foi instaurada no ano de 1531 sob o reinado de D. João III (1521-1557), que requereu ao Papa uma licença para criação de um Tribunal Inquisitorialpara apuração dos crimes praticados contra a fé católica. Contudo, Feitler (2007) assevera que o Tribunal ainda não atendia aos interesses do Rei, levando este a solicitar a Igreja Romana poderes para exercer o papel de inquisidor. 
Podemos vislumbrar que a inquisição, a qual a princípio era um meio de dominação da igreja, passa a ser também um mecanismo de controle do Estado Português. Além do mais, é importante salientar que o inquisidor, chamado na época de Inquisidor-mor, era o cargo mais elevado dentro de um sistema inquisitorial. Devendo ser exercido pelos membros da alta sociedade portuguesa, sendo na maior parte das vezes, pela família do Rei, quando não por ele próprio. O Inquisidor-mor era assistido ainda por um conselho que exercia a função de aprovar as sentenças proferidas pelos tribunais (MOTT, 2010). 
Ainda nesta esteira, Souza (2009) destaca que os principais alvos dos tribunais inquisitoriais eram os crimes de heresia, praticados por protestantes, judeus e islâmicos, os crimes sexuais, como o adultério, bigamia e homossexualidade, e os crimes heterodoxos, feitiçaria, bruxaria e afins.
Segundo Silva (2011) todos os crimes citados tinham como causador influências demoníacas, sendo que a heresia era o mais grave, haja vista que as demais poderiam ser praticadas por católicos pecadores, e assim, passiveis de perdão. Ao passo que os hereges professavam sua fé por vias que se desencontravam com a católica, logo estavam aptos a serem julgados e condenados.
Como vimos anteriormente no Brasil não houve uma efetiva criação de tribunais inquisitoriais, limitando-se a algumas visitações de tempos em tempos a colônia para apurar possíveis crimes. Aqueles que fossem acusados seriam submetidos ao tribunal inquisitorial de Lisboa. Assim, na colônia brasileira não houve uma perseguição tão simbólica como nos demais povos do globo terrestre, em razão da heterogeneidade cultural a qual os habitantes da época estavam acostumados. Além desse fato, acrescentam-se ainda questões financeiras, como nos explica Silva (2012, pág. 72):
Os senhores de escravos muitas vezes deixavam estes praticar sua religiosidade, sem denunciar estas práticas ao Santo Ofício, pois temia perder seus escravos, o que resultaria em danos a sua propriedade. Também havia o medo da revolta popular, pois em um clima tenso, de perseguição, as massas poderiam se unir e ocasionar revolta ao serem extremamente controladas pela Igreja e Estado, até mesmo em suas práticas rituais. Não sufocar a Colônia, em um sistema de controle rígido, foi à forma que o Estado português encontrou para manter operante o Antigo Sistema Colonial.
Nesse sentido, Siqueira (1978) explica que na colônia havia uma dependência dos grandes donos de terras de seus “escravos”, os quais custavam valores altos, ocasionando assim, com a prisão dos mesmos, prejuízos financeiros. Tais fatores contribuíram para que o Brasil Se tornasse um ambiente com elevado sincretismo religioso, marcado por um intenso hibridismo cultural, “aceito” até pelos jesuítas, os quais eram as autoridades religiosas com maior predominância:
A Instituição não se pôde transplantar porque não encontrou receptividade na nova mentalidade que se elaborava no Brasil. O Santo Ofício, onde e quando atuou na Colônia, ajustou-se à nova realidade, exercendo então neste tempo a vigilância que o ambiente permitiu. Não se reeditaram simplesmente na Colônia as instituições metropolitanas. O meio diferia, diferiam as concepções de mundo e as formas de vida. Embora portuguesa, a Colônia foi, desde seu início, original (SIQUEIRA, 1978, p.312).
Embora a inquisição no Brasil Colônia tenha sido singela, quando comparado a outros processos de inquisição que marcaram a história, houve no país inúmeras perseguições aos praticantes de bruxarias, feitiçarias e curandoria. Nas próximas linhas que se seguem trarei um panorama das principais perseguições que ocorrem na colônia e os principais castigos aplicados.
JOGUEM-VOS NA FOGUEIRA: PERSEGUIÇÃO DE BRUXAS, FEITICEIRAS E CURANDEIROS NO BRASIL COLONIAL 
No decorrer dos séculos surgiram algumas figuras ilustres como a (o) bruxa (o), a (o) feiticeira (o) e, não tão famosa (o) assim, a (o) curandeira (o). Atualmente estes personagens fazem parte do mundo da imaginação de muitas crianças, não sabendo elas, que tais personalidades que existiram aqui no Brasil colonial, foram alvo de muitas perseguições, um verdadeiro mar de sangue foi derramado em “terras canarinhas” na busca pela exterminação dos “dominadores de magia
”.
Tratar sobre magia no período inquisitorial (1531-1820), nos remete a três personalidades da cultura popular: as bruxas, feiticeiras e curandeiras. As bruxas são, a princípio, constituídas por mulheres
 que praticavam magia negra por meio de pactos demoníacos. Já as feiticeiras, inicialmente também somente sob a face feminina, eram mulheres que se utilizavam de mecanismos misteriosos para realizar adivinhações, curar doenças, bem como angariar benefícios para si ou para outrem, seja ele financeiro, amoroso ou social. Já a curandeira ou curandeiro, podemos ver aqui já a presença do homem, eram pessoas que utilizavam de ervas medicinais para curar doenças, bem como tirar quebranto somente com o poder da oração (SOUZA, 1993). 
Nota-se que era associado a ideia de magia a presença de mulheres. Dessa forma, para entender o contexto histórico que se construía no período colonial é preciso contextualizar o papel da mulher naquela sociedade. 
Os inquisidores pregavam que a mulher era um ser propenso a pactuar com demônios. Muito desse pensamento estava ancorado no mito da desobediente Eva, que comera do fruto da árvore proibida, trazendo o mal para a Terra. Acrescentava-se ainda que a mulher era a responsável pelos cuidados da saúde dos membros de suas famílias, com recursos escassos, muitas vezes retirados de plantas na própria natureza constituindo assim, saberes passadas de mãe para filha. Tal conhecimento foi demonizado pela igreja logo após a criação de universidades de medicina (ARAUJO, 2009).
Nesse sentido, destaca-se que no Brasil Colônia a presença de médicos e remédios era extremamente limitada, ficando ao cargo das donas de casas a busca para as enfermidades por meio de ervas e benzeduras. Tanto a igreja, como a medicina condenavam tal prática. Ambos acreditavam serem os únicos autorizados a se comunicar com os espíritos (igreja) e a cura de doenças (médicos) (PRIORI, 2009).
As punições incorriam desde a pena de morte, torturas e o degredo, sendo que este último consistia basicamente na expulsão do acusado da metrópole para o interior, tornando-se a punição mais utilizada pelo tribunal inquisitorial. Em Portugal, era muito comum a extradição dos praticantes de magia negra para a colônia Brasileira ( NAZARIO, 2005).
Sousa (2009) assevera que as piores penas eram proferidas para aqueles que invocavam algum tipo de magia ou se compactuar com algum demônio, utilizando-se de artefatos como pedras, água benta ou outros objetos consagrados por forças negativas. Para o indivíduo pobre era determinado o pagamento em dinheiro, a qual poderia ser substituída por uma pena corporal, bem como uma penitência pública. Em casos de reincidência a pena era de imediato degredo. Quanto ao rico, este era punido com pagamento de multa e em caso de reincidência o castigo era o degredo pelo prazo de dois anos. Na mesma esteira, os crimes cometidos pelos clérigos da igreja eram de expulsão do bispado e o pagamento de custas processuais. Em todos os casos era aplicada ainda a excomunhão.
 De um modo geral, as pessoas que fossem condenadas ao degredo eram encaminhadas para uma cidade no interior. Segundo Pieroni (2006), 80% das pessoas condenadas por bruxaria em Portugal, eram encaminhadas para uma pequena cidade do interior. O restante era degredado para o Brasil. De acordo com o autor ao chegar ao Brasil às bruxas continuavam a exercer suas atividades.
Muitas das sentenças proferidas pelos tribunais inquisitórios foram encontradas e estudadas por diversos historiadores.Dentre tais registros, foi encontrado por Cavalcanti (2011) o processo de Luzia Pinta, uma escrava que veio da Angola para trabalhar em uma fazenda localizada em Minas Gerais. A ré foi presa em Sabará pela prática do crime de feitiçaria, nos seguintes termos:
Pela denunciação inclusa consta que Luzia Pinta preta forra natural de Angola e moradora junto a capella de N. Sra. da Soledade na vizinhança da Villa de Sabará (hé) [...] por feiticeira, fazendo aparições diabólicas por meyo de humas danças, a que chama calundu [...], com grande escandalo dos fieis catholicos, e por que hé conveniente a justiça se faça [...] (CAVALCANTE, 2011, pág.4) 
 É importante salientar que calundu trata-se de uma entidade maligna que se apodera do corpo de indivíduo para torná-lo ruim, triste e de mau humor. Segundo Cavalcanti (2011) calundu também era um ritual realizado por Luzia Pinta na qual a mesma apresentava-se com uma roupa peculiar, revestida de uma espécie de grinalda. O ritual ainda incluía dança e música regada a tambores e batucadas, que levava o público a um estado de transe. 
A acusada “confessou” o crime, o qual foi publicado em um jornal da época. A confissão foi descrita assim:
[...] disse e confessou que de certo tempo a esta parte vindolhe a doença chamada calandu(z), e os ventos de adivinhar por meyo destes sabia quaes erão os pretos que trazião mandinga, ou outra couza diabolica, e uzava de feitiços as pessoas que os padecião o que praticava vestindose de varias invenções com [...] na calcia e hú alfange na mão, mandando preparar a moda de um docel e debaxo delle húa cadeyra em que se sentava, metendo certos poz na sua boca, e dos mais circunstantes que ali se achavão para serem curados, mandando a estas pessoas cantar e tocar instromentos por algú tempo, e no fim lhe tirarão húa cinta que tinha amarrada pella barriga fazendo varios tregeytos, e dizendo que naquella ocazião lhe vinhão os ventos de adivinhar, e logo entrava a cheyrar todas as pessoas que ali se achavão e aquellas que dizia tinha feitiços lhe atirava ella Re com cestos por que trazia, mandando deytar no chão os doentes e passava por sima delles varias vezes, e fazendolhes depois algúas unturas e outros mais factos, dizendo que tudo obrava por virtude que Deos lhe dera (CAVALCANTI, 2011, pág.5).
Luzia Pinta foi condenada por “[...] ter pacto com o demônio por cuja intervenção, fazia curas com operações supersticiosas e impróprias para os fins que pretendia, jactando se ter virtude de Deus para obrar o referido” (CAVALCANTI, 2011), cuja pena foi ser degredada para a cidade de Couto de Mastro Marim.
Assim como Luzia, houve muitos outros casos de acusações de uso de magia. A maior parte das acusadas tratava-se de negras escravas, índias e mulheres expulsas de Portugal que continuaram a prática de bruxaria e feitiçaria no Brasil. 
Além do calundu, se dava também um ritual denominado por catimbó, sendo este de origem indígena que envolvia a possessão de deuses. Tanto calundu quanto catimbó foram as principais formas de bruxaria encontradas na colônia (CANTUARIO, 2008).
Dentre as feitiçarias mais comuns na Colônia, destacavam-se as bolsas de mandigas, também conhecidas como patuás, que servia como um amuleto de proteção. As bolsas de mandigas foram um dos elementos mais fortes de magia Sincrética, conforme nos explica Silva (2011, p. 78) 
Foram formas de magia sincrética: misturavam hábitos culturais europeus, africanos e indígenas. O hábito de usar estes amuletos de proteção só aflorou no mesmo período em que se constituiu a mentalidade colonial, no século XVIII. Nas bolsas de mandingas eram utilizados elementos sagrados cristãos mesclados aos elementos pagãos. O uso das bolsas em Portugal, na África e no Brasil confirma a troca cultural entre estas regiões, através do trânsito de pessoas e mercadorias. As bolsas de mandinga possuíam importância para os habitantes da Colônia, pois era uma forma destes superarem suas adversidades, acalmando as tensões.
Os homens começam a fazer parte do rol de culpados com a prática da curandoria. O curandeirismo do Brasil era constituído em sua maioria por homens indígenas e africanos, em oposição à bruxaria e feitiçaria que predominavam mulheres (CAVALCANTI, 2011).
Na colônia os curandeiros utilizavam-se ervas e rituais indígenas e africanos para exercer a medicina. Estes além de curadores desfaziam possíveis feitiços. De acordo com Pieroni (2006, p. 169) “quase sempre, o curandeiro era um homem que se dizia capaz de curar as chagas do corpo e da alma, acumulando múltiplas funções como as de médico, de padre e de sábio”. 
Destaca-se que as condições na colônia brasileira eram extremamente precárias, fazendo com que o curandeiro ganhasse um status importante dentro da sociedade, sendo inclusive estimados pela população. Contudo, não escapavam dos inquisidores, que frequentemente recebiam acusações anônimas de homens, chamados de servos do diabo, que praticavam adivinhações (PRIORI, 2009). 
Neste cenário de horror e perseguição que se encontrava a colônia brasileira as mágicas e as feitiçarias tornaram-se uma forma de molde do colono ao ambiente a qual estava inserido, uma vez que as mesmas tinham um caráter revertido de duas funções, qual seja ofensiva, para agredir aquele que o machucava e a outra defensiva, almejando preservar e conservar (SOUZA, 2009, p.259). 
CONCLUSÃO 
O sincretismo religioso no Brasil foi um processo extremamente singular dentro do contexto histórico, haja vista as peculiaridades que se estabeleciam dentro da colônia, como jamais ocorreu em nenhum outro lugar do mundo. De uma forma ou outra o processo de colonização do país trouxe para o território brasileiro portugueses, africanos que passaram a habitar, juntamente com os indígenas que aqui viviam, e interagir culturalmente entre si.
Como vimos até agora, essa convivência cultural não foi nada fácil, pois, houve uma sobreposição de um povo sobre os outros, no caso os portugueses, que tentaram impor a sua religião sobre as demais.
Dessa forma, para tentar controlar a sociedade portuguesa e as suas colônias, o rei de Portugal instalou um tribunal inquisitorial, o qual no Brasil não ocorreu de forma tão simbólica como nas demais colônias do reino. Ainda assim, muitos foram os casos de pessoas condenadas pela prática de crimes heterodoxos (bruxaria, feitiçaria e curandoria).
A maior parte dos condenados eram escravos vindos da África, que apesar de ter se convencionado que estes eram submissos, lutavam contra a repressão, utilizando de seus rituais de magia e feitiçaria como um mecanismo de defesa.
Os principais rituais de bruxaria praticados eram o calundu e o catimbó. Quanto à feitiçaria predominava as bolsas de mandigas. Já curandoria, talvez a prática de magia mais famosa e aceita pela sociedade em razão da sua importância para a saúde da população, já que utilizavam de ervas para curar os enfermos.
Ainda hoje muitas destas crenças se fazem presente no cotidiano da sociedade, como o uso de amuletos, ervas medicinais e simpatias. Demonstrando a importância de estudar os fenômenos históricos que coadunaram para forma um pouco da nossa base cultural.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ARAÚJO, El A arte da sedução: sexualidade feminina na Colônia. In: PRIORE, Mary Del (org.); BESSANEZI, Carla (coord.). História das mulheres no Brasil. 9ed. São Paulo, Contexto, 2009.
AQUINO, F. Para entender A Inquisição. Lorena: Cléofas, 2009.
CANTUÁRIO, M. Z. A M. A maternidade simbólica na religião afro-brasileira: aspectos socioculturais da mãe de santo na umbanda em Fortaleza-Ceará. 2009. Tese de Doutorado. Tese (Doutorado em Sociologia)–Universidade Federal do Ceará.
CAVALCANTI, C. A. M. A Teoria do Imaginário para fazer História das Religiões: facilitando o ofício do historiador na análise da inquisição. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História–ANPUH–São Paulo, 2011.
FERREIRA, A. G. INQUISIÇÃO CATÓLICA: EM BUSCA DE UMA DESMISTIFICAÇÃO DA ATUAÇÃO DO SANTO OFÍCIO. Simpósio Internacional de Estudos Inquisitoriais–Salvador, 2011.FEITLER, B. Nas malhas da consciência. Igreja e Inquisição no Brasil. São Paulo: Alameda: Phoebus, 2007
FONSECA, D. R. As raízes do sincretismo religioso afro-brasileiro. REVISTA ELETRÔNICA LÍNGUA VIVA, v. 2, n. 1, 2013. 
LUDKE, M; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MOTT, L. Bahia: inquisição & sociedade. EDUFBA, 2010.
NAZARIO, L. Autos-de-fé como Espetáculos de Massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005.
PIERONI, G. Os excluídos do Reino: a Inquisição portuguesa e o degredo para o Brasil Colônia. 2ed. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006.
PRIORE, M. D. Magia e medicina na Colônia: o corpo feminino. In: PRIORE, Mary Del (org.); BESSANEZI, Carla (coord.). História das mulheres no Brasil. 9ed. São Paulo, Contexto, 2009.
SILVA, C. V. MAGIA E FEITIÇARIA NA COLÔNIA: A ORIGINALIDADE DAS PRÁTICAS SINCRÉTICAS. Revista Historiador, 2011.
SILVA, D. S. A. A investigação preliminar nos delitos de competência originária de tribunais. 2012. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
SIQUEIRA, Sônia Aparecida de. A inquisição portuguesa e a sociedade colonial. São Paulo: Ática, 1978.
SOUZA, L. M. O diabo e a terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial. 2ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
SOUZA, Laura de Mello e. Inferno Atlântico: demonologia e colonização: séculos XVI-XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
� Fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos.
� Importante salientar que neste texto não almejo afirmar que bruxas, feiticeiras e curandeiras manipulavam elementos da natureza, nem muito menos realizavam pactos demoníacos.
� Inicialmente bruxaria e feitiçaria estavam associadas com a representatividade feminina. Os homens entram em cena a ideia do curandeiro.
� O fragmento preserva a linguagem da época.

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