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ALERGIA ALIMENTAR

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1
Manual de 
ALERGIA ALIMENTAR 
de Aderbal Sabra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2
 3
Manual de 
ALERGIA ALIMENTAR 
de Aderbal Sabra 
 
 
Aderbal Sabra 
Joseph Bellanti 
Selma Sabra 
Gustavo Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Editora 
 
 
Rio de Janeiro, março de 2006 
 4
Todos os direitos reservados. Copyright ©2006 do Dr. Aderbal 
Sabrá para a língua portuguesa. Nenhuma parte deste livro po-
derá ser reproduzida por qualquer meio fotomecânico ou meio 
fotomagnético, exceção feita a citações em trabalhos monográ-
ficos e/ou artigos analíticos, sem a permissão, por escrito, da 
parte do Autor. 
 
 
 
 
Revisão: 
Selma Sabra 
Gustavo Rodrigues 
Carolina Villafranca Faro 
 
Capa e Diagramação: 
Lecc Graph - Luiz Claudio Furtado de Carvalho 
 
 
 
616.97 
 
Sab-man Sabrá, Aderbal 
Manual de alergia alimentar de Aderbal Sabrá. 
Rio de Janeiro: Unigranrio Editora, 2006. 
312p. 
 
Inclui bibliografia, gráficos e fotos. 
 
1. Alergia Alimentar. 2. Alergologia. 
I. Título. II. Autor. 
 
CDD – 616.97 
 
 
 
 
 
Unigranrio Editora 
Rua Professor José de Souza Herdy, 1160 – 25 de agosto 
Duque de Caxias, RJ, 25.071-202 
aderbalsabra@globo.com 
 5
Colaboradores 
 
Aderbal Sabra MD.PhD. 
Professor de Pediatria, Gastroenterologia, Imunopatologia e Aler-
gia – Escola de Medicina da UNIGRANRIO – Visiting Scientist 
and Senior Staff – International Center of Interdisciplinary Studies 
in Immunology – Georgetown University School of Medicine 
Membro Titular da Academia Nacional de Medicina 
 
Joseph A Bellanti MD. 
Professor of Immunology and Microbiology – Director – Interna-
tional Center of Interdisciplinary Studies in Immunology – George-
town University School of Medicine 
 
Selma Sabra MD.MS. 
Professora Adjunta de Pediatria e de Endoscopia Pediátrica – Esco-
la de Medicina da UNIGRANRIO – Escola de Medicina da Uni-
versidade Federal Fluminense – Chefe do Serviço de Endoscopia 
Pediátrica - Hospital Universitário Antônio Pedro – Universidade 
Federal Fluminense 
 
Gustavo Rodrigues MD. 
Professor Colaborador – Escola de Medicina da UNIGRANRIO –
“Fellow” de Gastroenterologia Pediatrica – Especializando em 
Alergia Alimentar - Serviço do Professor Aderbal Sabra – 
Pós-Graduação da Escola de Medicina da UNIGRANRIO 
 
Jonathan Malka-Rais 
“Fellow” de Imunologia do ICISI – International Center of Interdi-
ciplinary Studies in Immunology da Georgetown University 
School of Medicine. 
 
Henry J. Castro 
“Fellow” de Imunologia do ICISI – International Center of Interdi-
ciplinary Studies in Immunology da Georgetown University 
School of Medicine. 
 
 
 6
Julia Mendez Inocencio 
“Fellow” de Imunologia do ICISI – International Center of Interdi-
ciplinary Studies in Immunology da Georgetown University 
School of Medicine. 
 
Barbara Zeligs 
Chefe do Laboratório de Imunologia do ICISI – International Cen-
ter of Interdiciplinary Studies in Immunology da Georgetown Uni-
versity School of Medicine. 
 
Jaime R. Chavez 
“Fellow” de Imunologia do ICISI – International Center of Interdi-
ciplinary Studies in Immunology da Georgetown University 
School of Medicine. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7
Apresentação 
 
 
Há mais de três décadas começávamos a tratar os primeiros 
casos de alergia alimentar no meu serviço de gastroenterologia 
pediátrica do IPPMG da UFRJ, berço deste que é hoje o mais evo-
luído, pesquisado e estudado campo da nossa especialidade - Aler-
gia Alimentar (AA). Tão logo se avolumaram os casos de AA que 
muito cedo percebi que o problema era muito maior do que se pen-
sava à época quando então só podíamos falar em alergia mediada 
por IgE, sob a influência dos trabalhos do respeitável alergista 
Sampson. Fiquei só, por muito tempo, divulgando idéias de que 
havia um tipo de alergia que ocorria com IgE normal. Meus traba-
lhos científicos foram equivocadamente rejeitados, pois eram idéi-
as novas, “latinamerican”, como pejorativamente nossos colegas 
do norte se referem quando não sabem ou não querem saber do que 
falamos. Resolvi então em 1996 deixar minha Escola de Medicina, 
da UFF, onde exercia a titulação e a chefia de serviço e partir para 
Washington, para fazer um pós-doutorado como “Visiting Profes-
sor” em imunologia, para defender com precisão minhas idéias, 
pois tivera meu projeto aprovado para investigar AA não-IgE, no 
International Center of Interdisciplinary Studies in Immunology, 
ICISI, da Georgetown University School of Medicine. 
Acolhida melhor não poderia ter ao iniciar meus trabalhos com 
o eminente professor de imunologia Prof Joseph Bellanti, com 
quem estou trabalhando até hoje. Fizemos o que até então nenhuma 
dupla tinha feito, passamos a estudar a imunologia do tubo digesti-
vo, maior reservatório de linfócitos do corpo humano, com a visão 
do especialista em imunologia, associada à visão do gastroentero-
logista, especialista em alergia alimentar, que buscava explicações 
fisiopatológicas para os casos de AA com IgE normal. Muito rapi-
damente publicamos os primeiros trabalhos voltados para a alergia 
não IgE. Primeiramente a Doença Celíaca foi visitada e fomos os 
primeiros a descrever o papel dos linfócitos CD8 e de suas citoqui-
nas com evidente prevalência do sisteme linfocitário Th1, na gêne-
se e na perpetuação desta doença. 
Na virada do milênio Sampson, finalmente, reconheceu, um 
pouco atrasado em relação aos meus trabalhos, a existência da AA 
 8
não IgE. A visão antecipada que tive da alergia alimentar mediada 
por distúrbio da imunidade celular já havia deixado muitos entre 
nós também incrédulos. Com o reconhecimento internacional da 
AA não-IgE, minha linguagem foi finalmente reconhecida e meus 
trabalhos passaram a ser publicados. Seguimos neste caminho até 
hoje, publicando sempre na área da AA, por mediação celular e 
mais de 20 trabalhos estão publicados e oferecidos à leitura de to-
dos vocês na literatura mundial. Em reconhecimento ao meu traba-
lho fui distinguido com a posição de “Visiting Scientist and Senior 
Staff” pela Georgetown University, posições que ocupo até hoje. 
Nem todos desta geração mais nova de gastroenterologistas, 
formados nos últimos 10 anos, me conhece, pois sequer voltei a 
pertencer ao Comitê de Gastroenterologia, da SBP, que tive a hon-
ra de fundar e ser seu primeiro presidente. Tributo isto aos anos 
que estive fora, mais tempo por lá do que por aqui. Cabe então uma 
breve auto apresentação. Fiz minha formação em Gastroenterologia 
em Denver, no Colorado, entre 1972 e 1973, no serviço do Prof 
Arnold Silverman. Fui seu primeiro “fellow”. Voltei para o Brasil e 
em 1974 fundei o serviço de Gastroenterologia Pediátrica do 
IPPMG, da UFRJ, que chefiei até minha saída em 1985, la deixan-
do um excelente núcleo de especialistas, liderados desde então 
pelos meus primeiros “fellows” brasileiros, Profs Antonio Calçado, 
Sheila Pércope, Josther Gracia e Giuseppe Santalucia. Meu serviço 
de Gastro no IPPMG ganhou destaque e um grande contingente de 
“fellows” tornaram-se especialistas em Gastroenterologia Pediátri-
ca e voltaram a seus serviços de origem, tanto aqui no Brasil como 
por toda América Latina. Minha saída da UFRJ aconteceu após 
ganhar o concurso de professor titular de pediatria da UFF. Trans-
feri-me com dedicação total para o outro lado da Baia de Guanaba-
ra, onde fui chefe do serviço de pediatria e seu professor titular. Lá 
fundei o serviço de Gastroenterologia Pediátrica da UFF, que che-
fiei até viajar para Washington em 1996, deixando o Serviço sob a 
liderança do Prof Rafael Del Castillo Villalba, professor de Gastro-
enterologia e “fellow” de minha segunda geração de especilistas. 
Este novo núcleo segue recebendo futuros especialistas do Brasil e 
da América Latina. 
De 1997 até 2000 morei em Washington com minha família, 
dedicando-me à minha nova especialidade, tornando-me imunolo-
gista do serviço do Prof Bellanti, no ICISI, da Georgetown Uni-
 9
versitySchool of Medicine. Voltei com a minha família para Brasil 
em 2000, dividindo desde então residência entre Washington e Rio 
de Janeiro. Ao deixar a UFF fui convidado a me estabelecer na 
Universidade do Grande Rio, onde tenho a honra de chefiar o mai-
or departamento de Pediatria, dentre todos, das escolas de medicina 
particulares deste nosso imenso Brasil. São mais de 100 docentes 
voltados para a saúde materno-infantil. Hoje chefio não apenas a 
pediatria, mas também uma unidade voltada para o ensino e a pes-
quisa na área da imuno-alergia. São mais de dez projetos em an-
damento, sob minha orientação, tendo como linha de pesquisa cen-
tral a imunopatologia da resposta alérgica. 
Nada mais natural que neste meu novo núcleo de trabalho, na 
Escola de Medicina do Grande Rio, criasse a primeira disciplina, 
inteiramente voltada para a alergia alimentar. É tarefa indissociável 
do educador ensinar com a visão do amanhã, baseado em evidên-
cias e sob sólidos alicerces de pesquisa. Principalmente se ele é um 
pesquisador. Quem dentre nós na gastroenterologia pediátrica du-
vida da importância da AA? Como sempre estive à frente, procu-
rando antecipar os futuros caminhos de nossa especialidade, a gas-
troenterologia, nada mais justo que minha Escola de Medicina, 
fosse a primeira a ter um núcleo de estudos voltados para a AA a 
nível de graduação. Com o consolidar das minhas pesquisas surgiu 
nosso núcleo de pós-gradução na área, passando a gravitar em nos-
so entorno um número cada vez maior de professores da especiali-
dade e de estudantes interessados no problema. Este potencial i-
nesgotável de professores e estudantes talentosos acabou por fun-
dar a Liga de Alergia Alimentar (LAA). 
Esta primeira edição deste manual foi escrita para meus estu-
dantes, da disciplina de Imunopatologia e Alergia Alimentar da 
Escola de Medicina da UNIGRANRIO. Cada capítulo foi cuidado-
samente abordado para contemplar nosso programa de ensino-
aprendizagem. Fui ajudado neste empreendimento pela Prof Selma 
Sabra, que chefia a unidade de Endoscopia e Diagnóstico do nosso 
Serviço de Gastroenterologia. Há 15 anos que tenho o privilégio e 
a honra de compartilhar com ela todas as minhas realizações. Esta 
obra não sairia do berço não fosse sua dedicação ao tema. Esteve 
também ao meu lado, neste novo empreendimento, o Dr. Gustavo 
Rodrigues, que foi o primeiro diretor da LAA e há um ano é meu 
“fellow”, de última geração, em quem identifico qualidades inatas 
 10 
para este tipo de tarefa. Participou também desta obra o meu pro-
fessor de imunologia, Prof Joseph Bellanti, que tão gentilmente 
colaborou com esta edição. Agradeço também aos meus estudantes 
da LAA pelas suas colaborações e aos “fellows” do serviço de i-
munologia do Prof Bellanti. 
À UNIGRANRIO, nossa Universidade, que com sua excelente 
Escola de Medicina, abriga um extraordinário potencial docente 
para o ensino, aprendizado e pesquisa no campo da medicina, a-
gradeço a oportunidade de publicar esta obra, que é fruto do incen-
tivo que a mantenedora, na pessoa do nosso querido Reitor Prof 
Arody Herdy, sempre deu às minhas pesquisas aqui e no exterior. 
 
Aderbal Sabra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11
Agradecimentos 
 
 
Ao Prof Bellanti, extraordinário educador, que me lustrou pe-
los caminhos da imunologia, ciência que domina como um verda-
deiro mestre, expresso aqui minha gratidão. 
A Selma, minha esposa amada, e meus filhos Selminha, Ales-
sandra, Aderbal, Georgeana e Guilherme, meu mais sincero e puro 
amor de pai. Muito obrigado por terem sempre retribuído com ca-
rinho às horas subtraídas frente ao trabalho. 
Ao Gustavo Rodrigues, meu afilhado e amigo, por sua dedica-
ção e competência e por tudo que representa de estímulo aos nos-
sos estudos. 
Aos meus estudantes, que foram e sempre serão o grande es-
tímulo que motiva a minha busca pelo conhecimento. 
Agradeço a Deus por sentir-me um homem feliz e realizado 
pela beleza do amor que reina em minha família, pelo respeito que 
tenho e cultivo com meus pares, pelo exemplo de vida que posso 
dar a meus estudantes e pela felicidade que sinto em tudo que faço. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12 
Sumário 
 
Parte I 
Bases Fisiopatológicas da Alergia Alimentar 
I Imunologia do Desenvolvimento ........................................ 17 
II Imunopatologia Gastrintestinal .......................................... 27 
III Influência do Meio Ambiente na Maturação Imunológica: A 
Hipótese Higiênica ........................................................... 37 
IV Imunopatologia da Resposta Th1 e Th2............................... 43 
Parte II 
Causas de Alergia Alimentar 
Mediadas por Imunidade Humoral (IgE) 
V Anafilaxia ....................................................................... 53 
VI Anafilaxia Intestinal ou Hipersensibilidade Gastrintestinal 
Imediata e Alergia Induzida pelo Exercício Dependente de 
Alimentos ....................................................................... 69 
VII Síndrome da Alergia Oral ................................................. 75 
VIII Urticária ......................................................................... 85 
IX Angioedema .................................................................... 99 
X Rinite e Rinoconjuntivite: As Vias Aéreas Superiores e o 
Sistema Nalt.................................................................. 109 
XI Sinusite ........................................................................ 117 
XII Otite ............................................................................ 125 
XIII Asma e Broncoespasmo .................................................. 133 
Parte III 
Causas de Alergia Alimentar 
Mediadas por Imunidade Celular (Não-IgE) 
XIV Doença Celíaca.............................................................. 147 
XV Enteropatia do Leite de Vaca ........................................... 163 
 13
XVI Enterocolite, Proctocolite e Proctite Induzidas pelas Proteinas da 
Dieta ............................................................................ 171 
XVII Colite do Leite Materno .................................................. 179 
XVIII Dermatite Herpetiforme .................................................. 187 
XIX Sindrome de Heiner ....................................................... 201 
XX Disfunção de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Síndrome da 
Fadiga Crônica e Fibromialgia. ........................................ 205 
Parte IV 
Causas de Alergia Alimentar 
por Mediação Mista (IgE e Não IgE) 
XXI Esofagite Eosinifílica ..................................................... 229 
XXII Gastroenterite Eosinofílica .............................................. 239 
XXIII AA como Causa de Refluxo Gastroesofageano (RGE), Síndrome 
Dispéptica (SD), Pseudo-Obstrução (PO) e Constipação (C) 247 
XXIV Dermatite Atópica.......................................................... 255 
XXV Asma Bronquica Induzida por Alergia Alimentar ............... 265 
Parte V 
Diagnóstico e Tratamento da Alergia Alimentar 
XXVI Diagnóstico da Alergia Alimentar .................................... 277 
XXVII Tratamento da Alergia Alimentar ..................................... 300 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 14 
 15
 
 
 
 
 
 
 
 
Parte I 
Bases Fisiopatológicas da Alergia Alimentar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 16 
 
 17
 
CCAAPPÍÍTTUULLOO II 
IIMMUUNNOOLLOOGGIIAA DDOO DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO 
Nas últimas décadas têm-se observado um aumento significativo 
de pacientes apresentando doenças alérgicas, particularmente na popu-
lação pediátrica. Concomitantemente, têm havido uma inserção de 
novos e mais potentes medicamentos com uma eficácia muito maior 
em relação aos anteriormente disponíveis, o que provoca uma diminu-
ição na morbidade e na mortalidade destas doenças. No entanto a in-
cidência e a prevalência destas doenças são crescentes. 
A explicação para este aumento têm sido abordadapor muitos 
autores como secundária a uma susceptibilidade genética, associa-
da aos novos alérgenos ambientais e às viroses respiratórias. Neste 
sentido, o período de lactância e o período pré-escolar são particu-
larmente importantes, pois nestes momentos da vida, o sistema 
imune encontra-se em processo de maturação e o contato com estes 
fatores interfere na imuno-modulação. Por este motivo, torna-se 
fundamental a compreensão de como o sistema imune se altera 
com o avançar da infância. 
1. O Desenvolvimento dos macrófagos e dos linfócitos 
T e B 
No homem, assim como em todos os mamíferos, o sistema 
imune, inato (não-específico) e adaptativo (específico), é simulta-
neamente produzido pelo sistema hematopoiético no mesoderma, 
por volta da 3ª a 4ª semanas de gestação. Por volta da 5ª a 6ª sema-
na gestacional, o fígado é o responsável pela produção; até que na 
11ª a 12ª semanas o timo e a medula-óssea tornam-se os principais 
órgãos com função imunológica intra-útero. O timo torna-se o res-
ponsável pela imunidade celular, produzindo os linfócitos T tími-
co-dependentes, enquanto a medula-óssea responsabiliza-se pela 
imunidade humoral, produzindo os linfócitos B. 
Paralelamente a estes eventos ocorre a maturação das células 
apresentadoras de antígeno, dentre as quais podemos incluir os 
macrófagos e as células dendríticas, que juntas ao linfócito B, serão 
responsáveis pela apresentação do antígeno aos linfócitos T e B. 
 18 
Este processo de apresentação de antígeno é facilitado pela partici-
pação de moléculas receptoras de superfície denominadas Comple-
xo Maior de Histocompatibilidade de classe I ou classe II (Major 
Histocompatibility Complex - MHC I ou MHC II). 
Os linfócitos T se subdividem em dois grandes sub-grupos: um 
grupo representado pelos linfócitos CD4 ou T helper, que facilitam 
a interação T-T e T-B e outro grupo representado pelos linfócitos 
CD8 ou citotóxicos que suprimem as interações T-T e T-B, além 
de serem os responsáveis pela destruição de células invasoras, co-
mo as células virais. O linfócito T CD4 pode ser ainda subdividido 
em Th1 (responsável pela imunidade celular) e em Th2 (responsá-
vel pela imunidade humoral). Os linfócitos T CD4 Th1 são caracte-
rizados pela produção prevalente de IL-2, IFN-gama e TNF-beta. 
Em contraste, os linfócitos T CD4 Th2 se caracterizam pela preva-
lente produção de IL-4, IL-5, IL-9 e IL-13. 
A relação Th1/Th2 vai sofrendo alterações conforme o cres-
cimento e o desenvolvimento da criança (vide gráficos 1 e 2). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19
Relação 
Th1/Th2 
(%) 
Relação 
Th1/Th2 
(%) 
 
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Neonato 1 ano
Idade
Th2
Th1
 
GRÁFICO 1. RELAÇÃO TH1/TH2 NO DESENVOLVIMENTO NORMAL 
 
 
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Neonato 1 anoIdade
Th2
Th1
 
GRÁFICO 2. RELAÇÃO TH1/TH2 NO PACIENTE ALÉRGICO 
 
2. Genética, determinantes ambientais ou sensibiliza-
ção alergênica 
A expressão do fenótipo alérgico depende de dois grandes fa-
tores: uma predisposição genética e uma interação ambiental asso-
ciada à capacidade biológica de desenvolver alergia. O padrão de 
herança alérgica é complexo e poligênico. A alteração pode estar 
localizada em múltiplos genes e esta pode ser diferente em cada 
indivíduo. 
O principal marco biológico do indivíduo atópico é o aumento 
da habilidade dos seus linfócitos B em produzir anticorpos IgE em 
resposta a certos grupos de antígenos ambientais (alérgenos) que 
ativam o sistema imune através da inalação, ingestão ou penetração 
 20 
na pele. Após o reconhecimento destes alérgenos pelos anticorpos 
IgE alérgeno-específicos, dispostos na superfície dos mastócitos e 
dos basófilos, ocorre a liberação de mediadores ativos (leucotrienos, 
fatores quimiotáxicos e citocinas) que desencadeam a cascata alérgi-
ca responsável pelas manifestações clínicas da doença alérgica. As 
superfícies do trato respiratório superior e inferior, assim como o 
trato gastrintestinal são continuamente expostas a uma série de alér-
genos e antígenos patogênicos e não-patogênicos os quais têm um 
potencial de induzir respostas inflamatórias crônicas com participa-
ção dos linfócitos no órgão afetado. Para prevenir este acontecimen-
to, o indivíduo deve desenvolver uma série de mecanismos que in-
duzem à imunidade celular e à tolerância imunológica. 
Os tecidos linfóides associados à mucosa (Mucosal Associated 
Lymphoid Tissue – MALT) são considerados os atores para uma 
possível explicação do desenvolvimento do processo inflamatório. 
Nestes locais haveria a penetração de determinados antígenos que 
geram a cascata imunológica. Estes tecidos estão presentes na mu-
cosa nasal, na mucosa brônquica, no trato gastrintestinal e na pele. 
Em muitos destes locais existem anticorpos IgA e IgAs (Imuno-
globulina A Secretora) capazes de induzir resposta imunológica do 
tipo humoral, que confere uma barreira protetora minimizando a 
penetração de antígenos através do epitélio e prevenindo a sensibi-
lização imunológica. Na Tabela 1 correlacionamos as desordens 
clínicas com o Sistema MALT e com os órgãos afetados. 
Sistema MALT Órgão Alvo Doenças Alérgicas 
NALT Mucosa Nasal Rinite Alérgica 
BALT Trato Respiratório Asma 
GALT Trato Gastrintestinal Hiperssensibilidade Gastrintestinal Imediata 
SALT Pele Urticária Aguda; dermatite Atópica 
TABELA 1. DOENÇAS ALÉRGICAS MANIFESTADAS DE ACORDO COM O SISTEMA 
MALT E OS ÓRGÃOS AFETADOS. 
NALT = Tecido Linfóide Associado à Mucosa Nasal; BALT = Tecido Linfóide Associado à Mucosa 
Brônquica; GALT = Tecido Linfóide Associado à Mucosa Gastrintestinal; SALT = Tecido Linfóide 
Associado à Pele 
 
 
 
 
 
 21
3. Maturação fetal e pós-natal do linfócito T e da função 
sistêmica Th1/Th2 
No nascimento e na tenra infância, a capacidade funcional da 
imunidade adaptativa está diminuída. Isto é atribuído às deficiên-
cias do linfócito T, causadas pela imaturidade da célula, e pelas 
deficiências no compartimento das Células Apresentadoras de An-
tígeno (Antigen-Presenting Cell – APC) que são responsáveis pela 
ativação dos linfócitos. A quantidade de linfócitos T circulantes é 
relativamente maior nesta fase da vida quando comparada com a 
vida adulta, no entanto estes linfócitos expressam marcadores de 
superfície característicos de linfócitos recentemente emigrantes do 
timo, que são extremamente imaturos no sentido de promover tole-
rância. Estes linfócitos T imaturos são altamente susceptíveis à 
apoptose, além disso, a capacidade de ativação dos seus receptores 
(T-Cell Receptor – TCR) está reduzida e eles são facilmente indu-
zidos a anergia após a estimulação, fato este que corrobora na re-
dução da capacidade global de produzir citocinas. Estes fatores 
acabam dificultando a sinalização dos linfócitos T helper e dos 
linfócitos B, o que minimiza a produção de anticorpos e conse-
qüentemente a citólise da célula invasora. 
Outra conseqüência indireta da imaturidade dos linfócitos T 
causada pela baixa produção de citocinas, e neste caso da citocina 
IL-12, é um desvio na relação Th1/Th2 com predominância da 
subclasse Th2, isto porque a expressão desta citocina é o fator res-
ponsável pela criação de um ambiente propício para o desenvolvi-
mento da resposta Th1. Associadamente há uma alteração na res-
ponsividade a IL-12 secretada e uma hiperresponsividade a IL-4 
que gera uma resposta Th2. Entretanto, a diminuição da função 
Th1 durante a gravidez é uma manobra que beneficia a sobrevivên-
cia do feto na sua vida intra-uterina, pois evita a resposta inflama-
tória da imunidade celular e o reconhecimento imunológico do feto 
como um “grande antígeno” por veicular material genético de ori-
gem paterna, considerado non-self pelo sistema imune da mãe. 
Depois do nascimento e nos primeiros meses de vida, a criança 
continua a se apresentar imunologicamente como Th2, e a aquisi-
ção de níveis normais de Th1 acontece plenamente em torno do 
final do primeiro ano. Este momento é extremamente variável de 
indivíduo para indivíduo.Em contrapartida, algumas crianças con-
 22 
tinuam a apresentar um perfil Th2 com um atraso na aquisição do 
perfil Th1. Isto promove importantes seqüelas para vida destas 
crianças que incluem a redução da capacidade de responder às va-
cinas (vacina contra difteria, tétano, pertussis acelular, pneumocó-
cica e a BCG), o aumento da susceptibilidade às infecções virais do 
trato respiratório superior, principalmente as causadas pelo Vírus 
Sincicial Respiratório (VSR) e seus subseqüentes espectros do trato 
respiratório inferior e o aumento da susceptibilidade à alergia. 
Um outro fator que influencia, explica o aumento da prevalên-
cia das doenças alérgicas principalmente nos países desenvolvidos, 
têm seu embasamento na “hipótese higiênica”. Esta hipótese basei-
a-se na teoria de que o aprimoramento das condições de saneamen-
to básico, a menor exposição a patógenos bacterianos, a diminui-
ção no número de membros da família, imposta pela sociedade 
capitalista, a preocupação excessiva com a limpeza do ambiente, 
prejudicam o desenvolvimento da resposta Th1, que depende, den-
tre outros aspectos, destes fatores. Com isto, há uma perpetuação 
da resposta Th2 e o favorecimento ao desenvolvimento das doen-
ças alérgicas. 
O fato é que o feto desenvolve-se intra-útero comportando-se 
imunologicamente como Th2, e isto propicia uma tolerância que 
permite a continuação da gravidez. O benefício inquestionável des-
te comportamento intra-útero pode se tornar um grande problema 
durante o período neonatal imediato e à lactância, devido à vulne-
rabilidade orgânica ao desenvolvimento de doenças alérgicas, uma 
vez que as respostas imunológicas a qualquer estímulo serão coor-
denadas por esta via. O conhecimento desta situação transitória de 
responder Th2 obriga-nos a medidas preventivas quanto ao desen-
volvimento deste braço da resposta imunológica. 
Dentre estas medidas protetoras destacamos: 
 Aleitamento materno exclusivo; 
 Proteção ambiental sem sobrecarga de alérgenos, evitando-
se contudo o excesso de higiene; 
 Proteção das vias aéreas evitando a exposição precoce do 
lactente ao VSR ou a outra qualquer infecção respiratória; 
 Proteção do trato digestivo evitando proteínas non-self até 
que ocorra a maturação dos processos digestivo-
absortivos; 
 23
 Proteção da pele evitando higiene excessiva com substan-
cias alergênicas; 
 Proteção do SNC evitando imunizações com imunizantes 
neurotrópicos; 
 Permitir que se estabeleça uma flora bacteriana entérica 
saprófita estimulando o aleitamento materno. 
Com todas estas medidas, o sistema imune da criança pode re-
agir de forma adversa e responder, por exemplo, com alergia ao 
leite materno provocando um quadro de enterite ou colite, mesmo 
com a criança em aleitamento materno exclusivo. Nestas circuns-
tâncias fica evidente que estão fora do nosso controle determinan-
tes genéticos e interações não conhecidas do binômio mãe gestan-
te-feto. É muito importante que reconheçamos nossas limitações, 
mas prevenir dentro do que se conhece hoje da imunilogia da rela-
ção mãe-filho-ambiente é atitude mandatória. 
4. Leitura recomendada 
Adkins B. Development of neonatal Th1/Th2 function. Int Rev Immunol 
2000; 19:157-171. 
Bellanti JA, Malka-Rais J, Sabra A, et al. Developmental immunology: 
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 25
Anotações de aula 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 26 
Anotações de aula 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 27
 
CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII 
IIMMUUNNOOPPAATTOOLLOOGGIIAA GGAASSTTRRIINNTTEESSTTIINNAALL 
A idéia de que o trato gastrintestinal (TGI) não somente têm 
uma função nutritiva, mas também é um dos maiores órgãos imu-
nológicos, têm aumentado significativamente nos últimos anos. 
Durante a vida de um indivíduo, a mucosa intestinal interage com 
inúmeros componentes que em sua maioria são proteínas alimenta-
res, peptídeos e microrganismos. Dentro deste espectro, o TGI têm 
uma função quase obrigatória de selecionar os nutrientes essenciais 
para o crescimento celular e simultaneamente promover respostas 
benéficas à micróbios e evitar erros imunológicos no reconheci-
mento de proteínas da dieta com potencial de produzir AA. 
O fato é que o sistema imune gastrintestinal têm uma impor-
tância fundamental delimitando o limiar entre a saúde e a doença, e 
participando ativamente da fisiopatologia da doença alérgica atra-
vés do seu principal constituinte imune que é o tecido linfóide as-
sociado à mucosa (Mucosa-Associated Lymphoid Tissues – 
MALT). 
1. Organização anatômica do MALT 
Integrado à mucosa do TGI existe um sistema imune finamen-
te regulado denominado MALT. Este sistema têm a delicada fun-
ção de proteger-nos contra a entrada de substâncias estranhas ao 
meio interno e para isto convoca um vasto número de células e 
libera na superfície da mucosa os produtos destas células. Está cla-
ramente demonstrado que o sistema MALT é apenas uma parte de 
um complexo sistema imune distribuído por toda a superfície cor-
pórea que interage promovendo uma resposta imune coerente e 
integrada. 
O sistema MALT está presente em vários órgãos e em cada 
um destes recebe uma denominação diferente. No TGI o sistema 
MALT recebe o nome de Tecido Linfóide Associado à Mucosa 
Gastrintestinal (Gastrintestinal-Associated Lymphoid Tissues – 
GALT), no pulmão, Tecido Linfóide Associado ao Brônquio 
(Bronchus-Associated Lymphoid Tissues – BALT) e na nasofarin-
 28 
ge, Tecido Linfóide Associado à Nasofaringe (Nasopharyngeal-
Associated Lymphoid Tissue – NALT) Nas demais mucosas e teci-
dos como na glândula mamária e nas glândulas secretoras de muco 
(lacrimal) e no sistema geniturinário, a mucosa imunologicamente 
ativa não recebe denominação específica. Além destes sistemas 
que estão associados à mucosa, outros órgãos têm seu tecido lin-
fóide e também recebem nomenclatura específica, que são a pele 
(Tecido Linfóide Associado a Pele / Skin-Associated Lymphoid 
Tissue – SALT) e o Sistema Nervoso Central (Central Nervous 
System-Associated Lymphoid Tissue – CNSALT). 
Os linfócitos T e B provenientes dos tecidos linfóides são ati-
vados ao entrarem em contato com um antígeno e são liberados na 
circulação linfática e através do Ducto Torácico caemna circula-
ção sangüínea. A partir daí, estes linfócitos ativados permanecem 
na circulação e podem se dirigir ao local onde houve a sensibiliza-
ção ou a qualquer outro local onde exista um tecido linfóide e pro-
mover a resposta imune. Estes linfócitos podem também retornar 
ao nódulo linfático através das vênulas pós-capilares e da própria 
circulação linfática. O processo de circulação do linfócito ativado é 
denominado de “Homing”. Na Figura 1, temos a idéia de como 
este complexo sistema imune se relaciona. 
2. Sistema MALT: Locais de indução e locais de res-
posta 
Em cada local do sistema MALT existem dois importantes 
componentes imunes: a) Locais de Indução (secundários aos teci-
dos linfóides onde existem mecanismos facilitadores da apresenta-
ção de antígenos); b) Locais de Resposta (possuem localização 
difusa e acomodam os linfócitos T e B antígeno-específicos capa-
zes de responder a estímulos antigênicos). Após a exposição ao 
antígeno no Sistema MALT, os linfócitos deixam os locais de in-
dução e migram (homing) para os locais de resposta. 
Evolutivamente, os mamíferos desenvolveram tecidos linfóides 
especialmente organizados no trato respiratório superior e no TGI 
que podem ser classificados como locais de indução, por serem ca-
pazes de facilitar a entrada do antígeno, o seu processamento e sua 
apresentação ao linfócito, induzindo à resposta imune. Na Tabela 1 
encontramos os principais locais anatômicos responsáveis pela indu-
ção da resposta imune e os respectivos órgãos relacionados. 
 29
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8
 
FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA INTEGRAÇÃO FUNCIONAL DAS 
CIRCULAÇÕES SANGÜINEAS E LINFÁTICAS E SUAS INTERRELAÇÕES COM OS 
SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DE ANTÍGENOS, CIRCULAÇÃO DOS LINFÓCITOS 
ATIVADOS, PRODUÇÃO DE ANTICORPOS E ÓRGÃOS LINFÓIDES ASSOCIADOS. 
MALT = Tecido Linfóide Associado à Mucosa; GALT = Tecido Linfóide Associado à Mucosa Gastrin-
testinal; SALT = Tecido Linfóide Associado à Pele; NALT = Tecido Linfóide Associado à Nasofaringe; 
BALT = Tecido Linfóide Associado à Mucosa Brônquica; CNSALT = Tecido Linfóide Associado ao 
Sistema Nervoso; SNC = Sistema Nervoso Central; TGI = Trato Gastrintestinal; CM = Célula M; PP = 
Placa Peyer; LM = Lâmina Própria da Vilosidade Intestinal; IgAs = IgA Secretora; Ag = Antígeno; LT/B 
= Linfócitos T e B 
 30 
LOCAL ANATÔMICO ÓRGÃO INDUTOR 
Tecido linfóide associado ao intestino Jejuno (PP); Íleo (CM) 
Tecido linfóide associado à pele Tecido Linfóide Dérmico 
Tecido linfóide associado à mama Glândula Mamária 
Glândula Secretora de Muco Tecido Linfóide Lacrimal; Tecido Genitourinário 
Tecido linfóide associado ao brônquio Tecido Linfóide Peribrônquico 
Tecido linfóide associado à nasofaringe Tonsilas Palatinas e Adenóides 
TABELA 1. LOCAIS ANATÔMICOS E ÓRGÃOS DE INDUÇÃO DA RESPOSTA IMUNE. 
PP = Placa de Peyer; CM = Célula M. 
 
Um dos principais tecidos de indução é o GALT onde estão 
localizados cerca de 80% de todos os linfócitos produtores de anti-
corpo, e se observam dois sítios diferentes de indução: a) o tecido 
linfóide ileal que está organizado na Placa de Peyer (PP); b) o re-
manescente sistema imune do intestino delgado que está organiza-
do dentro da vilosidade intestinal, os linfócitos da lâmina própria, e 
no seu entorno, entre os enterócitos, onde ficam os linfócitos intra-
epiteliais. A PP é parcialmente coberta por células epiteliais espe-
cializadas denominadas Célula M, as quais são capazes de capturar 
o material antigênico, incluindo alguns microrganismos, proveni-
entes do lúmem intestinal, para dentro da PP. Após a penetração, 
estes antígenos serão conduzidos a áreas específicas, dentro da PP, 
onde ficam localizados os linfócitos T, e desta forma dar início a 
resposta imune. 
Os sítios de resposta estão localizados no órgão-alvo da res-
posta imune. Estes incluem as células linfóides da lâmina própria, 
isto é linfócitos da lâmina própria, presentes no TGI, no trato respi-
ratório superior, no trato reprodutor, nas glândulas secretoras, den-
te as quais estão a mamária, salivar e lacrimal, além daquelas pre-
sentes na mucosa geniturinária, e no SNC. Estes locais recepciona-
rão os linfócitos ativados e se prepararão para resposta através da 
produção de imunoglobulinas. 
3. Apresentação do antígeno na mucosa intestinal 
O processo de indução se inicia com a entrada do antígeno 
(proteína) nos sítios de reconhecimento, que nos intestinos estão 
com esta função atribuída ao complexo chamado PP. A proteína 
intacta absorvida irá interagir diretamente com os linfócitos T e B 
ou esta interação será mediada por uma Célula Apresentadora de 
Antígeno (Antigen-Presenting Cell – APC), que no TGI são repre-
 31
sentadas pelas Células Dendríticas (dendritic cell – DC), pelos Ma-
crófagos, pelos linfócitos B ou pelas células epiteliais denominadas 
Células M (Figura 2), sendo a célula dendrítica a mais importante 
APC capaz de ativar o linfócito T inativo. 
 
 
FIGURA 2 – ESQUEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE POLARIZAÇÃO DO LINFÓCITO TH0 E 
SUA ATIVAÇÃO, DESENCADEANDO RESPOSTA IMUNE. 
A - CÉLULA APC APRESENTANDO ANTÍGENO PARA O LINFÓCITO , MAS QUE SOFRE 
POLARIZAÇÃO DE ACORDO COM SUA HERANÇA GENÉTICA E A CITOCINA PRESENTE NO 
MEIO. 
B. LINFÓCITOS TH1 E TH2 SENDO ATIVADOS E DESENCADEANDO UMA CASCATA DE 
EVENTOS IMUNES QUE CULMINARÃO EM UMA RESPOSTA CELULAR E HUMORAL, 
RESPECTIVAMENTE. 
APC = Célula Apresentadora de Antígeno; MHC = Complexo de Histocompatibilidade Maior; TCR = 
Receptor do Linfócito T; Ag = Antígeno; IL = Interleucina (citocina). 
 
As APCs são responsáveis pelo reconhecimento e o processa-
mento das proteínas e dos peptídeos e como resultado, desencadei-
am a resposta imune ou uma hipo-responsividade imune qualifica-
da como tolerância oral. O processo de reconhecimento do antíge-
no pelo linfócito T envolve um complexo quadrimolecular de inte-
ração caracterizado pela junção em torno da partícula antigênica do 
linfócito T com seu receptor (T-Cell Receptor – TCR), do APC e 
 32 
do Complexo de Histocompatibilidade Maior (Major Histocompa-
tibility Complex – MHC) classe I e II. No processo de identificação 
do antígeno, se faltam estes componentes do reconhecimento à 
partícula, a resposta imune não é ativada e ocorre a tolerância. 
O início do reconhecimento requer que o peptídeo proveniente 
da proteína antigênica entre em contato com a molécula MHC pre-
sente nas APCs. Este contato pode ocorrer por dois diferentes ca-
minhos: o exógeno, onde os antígenos exógenos são endocitados e 
apresentados ao linfócito T na membrana celular pelas moléculas 
MHC de classe II; e o endógeno, onde os antígenos endógenos são 
processados, citolizados e apresentados na membrana pelas molé-
culas MHC de classe I. 
Os TCRs ditam a resposta antigênica específica e têm papel 
fundamental na ativação da célula-alvo (linfócito T). Para gerar 
uma resposta imune completa, o linfócito T requer dois distintos 
sinais para sua ativação e sua subseqüente proliferação. O sinal 
inicial é gerado por uma interação do complexo TCR-CD3 com o 
antígeno apresentado pela molécula MHC, e o segundo sinal é um 
sinal coestimulatório que é promovido pela interação entre o 
CD28, CD2, CD4, CD8 e as moléculas de integrina nos linfócitos 
T e as células apresentadoras de antígeno (Figura 3). 
A maior parte das proteínas absorvidas no intestino delgado, 
fora das PP, são apresentadas para os linfócitos T e B, sem APCs 
oficiais tipo DC ou Macrófagos, e são mediadas pelas moléculas 
MHC II. Nestas circunstâncias existe uma deficiência de sinal co-
estimulatório e por este motivoa resposta do linfócito T não é efe-
tiva. Isto resulta em uma resposta imune “silenciosa” às proteínas 
ingeridas, denominada tolerância imune, induzida pelos linfócitos 
TCD8 supressores ou pelos linfócitos regulatórios Th3 (Figura 
3A). 
 
 33
 
FIGURA 3 – ESQUEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE RECONHECIMENTO E 
APRESENTAÇÃO DO ANTÍGENO REVELANDO A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA 
CÉLULA DENTRÍTICA NA ATIVAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE. 
A - APRESENTAÇÃO FEITA PELO MACRÓFAGO. NÃO EXISTEM SINAIS 
COESTIMULATÓRIOS E POR ISSO HÁ INDUÇÃO À TOLERÂNCIA. 
B - APRESENTAÇÃO FEITA PELAS CÉLULAS DENTRÍTICAS COM PRESENÇA DOS SINAIS 
COESTIMULATÓRIOS E CONSEQÜENTEMENTE ATIVAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE. 
Ag = Antígeno; CM = Célula M; MHC = Complexo de Histocompatibilidade Maior; CD = Célula Dentrí-
tica; INT = Integrina 
 
Em contrapartida a proteína pode chegar ao íleo terminal e ser 
processada pela célula M, através das células dendríticas, e nestas 
circunstâncias o linfócito T irá receber os dois sinais distintos, re-
 34 
sultando em uma completa resposta imune e uma ativação potente 
(Figura 3B). Nesta visão observamos que a célula dendrítica é im-
portante para a indução de resposta imune, uma vez que dentre 
todas as APCs, esta célula é a que têm maior potencialidade na 
apresentação de antígeno, como já descrito, podendo ser até mil 
vezes mais potente que os macrófagos. 
Uma vez ativados, os linfócitos T e B deixam a PP, alcançam 
a circulação linfática e através do ducto linfático chegam à circula-
ção sanguínea. Neste momento inicia-se o processo de “homing”. 
4. Homing 
Após a sua sensibilização, os linfócitos T e B migram, através 
do sistema linfático e da circulação sangüínea, para qualquer dos 
órgãos-alvo (trato gastrintestinal, sistema respiratório superior ou 
inferior, pele e sistema nervoso central) onde a resposta inflamató-
ria ocorrerá. Este processo recebe o nome de “homing” (Figura 1). 
O preciso mecanismo de desencadeamento do “homing” 
não está totalmente esclarecido, mas parece estar relacionado ao 
tropismo seletivo do linfócito ativado pelo órgão-alvo. Esta seleti-
vidade depende de um componente genético inerente ao indivíduo 
e é produzida pelas moléculas seletivas de adesão que direcionam 
os linfócitos T e B ao órgão selecionado. Todavia, parece que as 
células imunes têm predileção por retornar aos locais de indução, 
isto é, retornam para o local onde a resposta foi iniciada pela apre-
sentação do antígeno. 
Uma vez que os linfócitos ativados chegaram ao local de 
destino (caminho final do processo de homing), qualquer contato 
com o antígeno alimentar agressor irá ativar imunologicamente o 
linfócito que começa a liberar várias substâncias, dentre as quais, 
os anticorpos, as citocinas e os peptídeos vasoativos. Estas subs-
tâncias provocarão uma intensa resposta inflamatória no órgão-
alvo que será responsável pelas manifestações clínicas no órgão de 
choque. 
5. Circulação enteromamária 
As glândulas mamárias durante a amamentação são outra parte 
importante do sistema imune que promovem um “link” entre os 
locais de indução (GALT, BALT e tecido linfóide associado à 
mama) da mãe com os locais efetores no intestino e nas vias aéreas 
 35
do lactente. Após a sensibilzação dos locais de indução, GALT e 
BALT, na mãe pelos antígenos alimentares ou por microrganismos, 
os linfócitos T e B ativados assumem a circulação sangüínea e mi-
gram para glândula mamária, onde produzem anticorpos secretó-
rios (IgAs e IgMs) específicos para aqueles antígenos. O lactente 
receberá estes anticorpos através do leite materno e isto promoverá 
uma proteção a inúmeros antígenos com potencial alergênico. 
Os anticorpos fornecidos pela mãe são aqueles contra os an-
tígenos mais prevalentes no ambiente de exposição da mãe e do be-
bê, que serão os antígenos presentes, aos quais a mãe se expõe, nas 
primeiras semanas de vida do lactente. Neste momento mãe e filho 
vivem no mesmo ecosistema. Devido a isto, o leite humano repre-
senta uma integração imunológica entre o sistema imune da mãe e 
do bebê e possui uma importância biológica por conferir ao lactente 
uma proteção contra doenças infecciosas e doenças alérgicas. 
6. Leitura recomendada 
Bellanti JA, Sabra A, Zeligs BJ. Gastrintestinal immunophathology and 
food allergy. Ann Allergy Asthma Immunol 2004; 93(suppl 3):S26-
S32. 
Farstad IN, Halstensen TS, Fausa O, et al. Heterogeneity of M-cell-
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Gebert A, Rothkotter HJ, Pabst R. M cell in Peyer’s patches of the intes-
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components, signaling pathways and signaling integration at the T-cell 
antigen receptor synapse. J Allergy Clin Immunol 2002; 109:758-70. 
Nel AE. T-cell activation through the antigen receptor. Part 2: role of 
signaling cascades in T-cell differentiation, anergy, immune senes-
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Telemo E, Korotkova M, Hanson LA. Antigen presentation and 
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Togias A. Systemic effects of local allergic disease. J Allergy Clin Immu-
nol 2004; 113(suppl):S8-S14. 
 36 
Anotações de aula 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 37
 
CCAAPPÍÍTTUULLOO IIIIII 
IINNFFLLUUÊÊNNCCIIAA DDOO MMEEIIOO AAMMBBIIEENNTTEE NNAA MMAATTUURRAAÇÇÃÃOO 
IIMMUUNNOOLLÓÓGGIICCAA:: AA HH IIPPÓÓTTEESSEE HH IIGGIIÊÊNNIICCAA 
Em 1989 a “Hipótese Higiênica” foi proposta por Strachan, na 
tentativa de explicar o gradiente inversamente proporcional entre a 
incidência de rinite alérgica e o tamanho da família. 
No final da década de 80, período pós-industrialização, o nú-
mero de membros de uma família estava diminuindo na Inglaterra, 
devido às imposições do capitalismo, e inversamente, a incidência 
de rinite na população geral tinha caráter ascendente. Foi então que 
Strachan propôs um estudo epidemiológico para avaliar a rinite 
alérgica fazendo um comparativo com a higiene e o tamanho da 
família. Ele concluiu que existia uma forte e inversa relação entre 
rinite alérgica e o número de irmãos, e observou que a incidência 
do agravo diminuía naquelas famílias onde os recém-nascidos já 
tinham um irmão mais velho. Mediante a estes resultados Strachan 
concluiu que possivelmente as mudanças da sociedade durante as 
décadas, no que diz respeito à diminuição do número de familiares, 
às melhores condições sanitárias e à mudança cultural quanto à 
higiene pessoal, provocaram uma menor exposição da criança à 
infecções, o que prejudicou o desenvolvimento imunológico e de-
vido a isto, possibilitou um aumento das doenças alérgicas. 
1. Tamanho e estrutura familiar, atendimento hospita-
lar, gradiente sócio-econômico e as diferenças urba-
nas e rurais na gênese da alergia 
Como originalmente observado, subseqüentes estudos têm 
constatado a relação inversa entre doenças alérgicas e o tamanho 
familiar, a ordem de nascimento ou o compartilhar do mesmo quar-
to pelos irmãos. Acredita-se que estas situações domésticas podem 
potencializar a exposição bacteriana entre irmãos. Neste contexto, 
Wickens examinou a relação entre o tamanho da família e o risco 
de desenvolvimento de doenças alérgicas e observou que este risco 
era menor para o segundo filho quando comparado ao primogênito. 
Entretanto, não havia uma subseqüente redução dos riscos com o 
 38 
nascimento do terceiro ou do quarto filho. Outro estudo produzido 
por Von Mutius constatou que o tamanho familiar também estava 
relacionado com a redução de positividade no teste cutâneo. 
A emergência hospitalar é outra importante fonte de exposição 
a doenças infecciosas para criança. Vários estudos mostravam uma 
associaçãoentre a entrada precoce da criança nestes ambientes e 
subseqüente desenvolvimento de sibilância a partir dos três anos de 
idade. Em contrapartida, estudos mais recentes revelam que esta 
precoce exposição pode ser benéfica, reduzindo a prevalência de 
atopia e asma. Neste contexto, um outro aspecto importante é a 
constatação de que certas doenças infecciosas promovem proteção 
para as doenças atópicas. Shirakawa observou que a infecção por 
M. tuberculosis protegia contra o desenvolvimento de atopia. Isto 
foi comprovado pela constatação de que a positividade do teste 
tuberculínico tinha uma associação inversamente proporcional com 
a prevalência de atopia e asma, a quantidade de IgE e a produção 
das citocinas Th2; e uma correlação com a expressão das citocinas 
Th1, pricipalmente o interferon-gama. 
Existem fortes evidências de que o gradiente sócio-econômico 
influencia diretamente na gênese das doenças alérgicas. Estas evi-
dências atribuem-se a dois fatores: ao maior número de intercor-
rências infecciosas nas crianças mais pobres e aos diferentes estilos 
de vida entre as populações de melhor e pior poder aquisitivo. Esta 
balança mostra que os grupos de pior poder aquisitivo se benefici-
am destes fatores que teoricamente se tornam atributos protetores 
para o desenvolvimento de doenças alérgicas. Por este aspecto, os 
grupos de alta renda tendem a ter mais alergia. 
Um outro aspecto importante são as diferenças observadas en-
tre as crianças residentes em ambientes rurais e ambientes urbanos. 
As crianças moradoras em fazendas têm estatisticamente menos 
doenças alérgicas e sensibilização alergênica do que àquelas resi-
dentes em áreas urbanas, e que esta “proteção” se extende até a 
vida adulta. Estudos têm mostrado que esta diferença têm direta 
associação com dietas ricas em leite e seus derivados, e à exposi-
ção ao gado, que proporciona a estas crianças a exposição a uma 
grande quantidade de endotoxinas bacterianas (lipopolissacarídeos 
– LPS) as quais atuam como Th1-estimulantes. 
A presença de animais domésticos pode também ser um fator 
benéfico para o correto desenvolvimento imunológico. Acredita-se 
 39
que o nascimento de uma criança em uma casa que já contenha um 
cachorro ou gato, possibilite a exposição as endotoxinas e provo-
que uma estimulação da resposta Th1. No entanto, caso este animal 
seja introduzido após o nascimento da criança, eles atuariam po-
tencializando a resposta Th2 aumentando a produção de IgE. 
2. Infecções parasitárias, flora intestinal, vacinação, 
antibióticos e alergia 
Vários estudos têm tentado mostrar uma relação entre a infec-
ção por parasitas intestinais e o desencadeamento de alergia. Para-
sitas como o Schistosoma mansoni, Ascaris lumbricoides, Necator 
americanus, entre outros têm sido relacionados nestes estudos. Os 
achados sugerem que a infecção do parasita está correlacionada 
com a produção de IL-10 e que as características antiinflamatórias 
desta interleucina induziria a atenuação da resposta alérgica ou 
promoveria tolerância. Contudo um estudo brasileiro produzido por 
Medeiros revelou que a esquistossomíase estava associada à atenu-
ação dos sintomas da asma e da anormalidade nas provas espiro-
métricas, além de reduzir o uso de medicações, entretanto não re-
duziria a prevalência da asma. 
A flora bacteriana do trato gastrintestinal sofre interferência 
das doenças atópicas. Esta interferência afeta diretamente na quan-
tidade de bactérias comensais presentes no trato digestivo. Foi vis-
to que a flora de pacientes alérgicos possuiu menos quantidade de 
enterococo, bactéria bífida e Bacterióides e em contrapartida uma 
quantidade maior de Clostridio, coliformes e S. aureus, quando 
comparada com a flora dos pacientes sem alergia. Não se sabe, ao 
certo, que repercussões isto pode trazer para o indivíduo, no entan-
to, alguns estudos estão sendo desenvolvidos com a intenção de 
verificar a relação da administração de Lactobacillus, quer seja 
para as mães durante o pré-natal ou para os recém-nascidos, nos 
primeiros 6 meses de vida, com a diminuição da prevalência de 
doenças alérgicas.Os dados iniciais parecem indicar um fator bené-
fico com o uso destes probióticos. 
A vacinação confere ao indivíduo uma proteção imunológica a 
inúmeras doenças. Isto pode ser comprovado pelas estatísticas que 
mostram uma redução drástica do número de infecções nos primei-
ros anos de vida e, até mesmo, a erradicação de algumas doenças. 
Porém, teoricamente, o que traz um grande benefício preventivo, 
 40 
poderia prejudicar o amadurecimento imunológico, uma vez que as 
infecções da infância são em parte responsáveis pelo estímulo da 
resposta Th1. Todavia, ainda não existem evidências que as vaci-
nas utilizadas comumente nos dias de hoje, aumentam o risco do 
desencadeamento da atopia. Em contrapartida, o uso de antibióti-
cos no tratamento destas doenças infecciosas, principalmente 
quando ocorre no primeiro ano de vida, aumenta este risco. 
3. A Importância da maturação Th1 no período neonatal 
precoce 
O desenvolvimento normal do “braço” Th1 da resposta imune 
é essencial para a sobrevivência e extremamente importante para 
suprimir a resposta alérgica expressada pela via Th2, na presença 
das interleucinas (IL-4, IL-5 e IL-13). No período peri-natal, quan-
do os primeiros alérgenos entram em contato com o sistema imune, 
este responde com uma expressão de Th2. Isto se deve a imaturi-
dade da função Th1. Qualquer problema com esta maturação gera 
um risco muito aumentado de desenvolvimento de atopia, pois a 
via Th1 promove uma inibição na resposta Th2. 
Dentro deste espectro, as bactérias são os mais poderosos i-
munoestimulantes Th1 no ambiente. Estes efeitos são mediados 
pela ativação de APCs através de inúmeros mecanismos que en-
volvem o CD14 (receptor de lipopolissacarídeos bacterianos). Nes-
te processo imunopatológico há liberação de IL-12, o que favorece 
a diferenciação Th1. 
Estudos genéticos têm sustentado a hipótese de que o polimor-
fismo na região do gen responsável pela decodificação do CD14 
está associado com o aumento dos níveis totais de IgE. Estes mes-
mos estudos têm revelado que os níveis de CD14 estão positiva-
mente correlacionados com a resposta Th1 (interferon-gama), mas 
inversamente correlacionados com a resposta Th2 (IL-4). 
4. Onde estamos e para onde vamos? 
A hipótese higiênica inicialmente foi proposta a partir de uma 
observação epidemiológica associando o número de integrantes de 
uma família com a prevalência da alergia. Atualmente esta propos-
ta evolui revelando a interação de vários fatores ambientais e as 
suas respectivas interferências no risco de desenvolver alergia. 
 41
O aprofundamento deste tema se torna importante dentro da 
visão de que estratégias terapêuticas profiláticas podem derivar 
deste estudo. 
5. Leitura recomendada 
Ball TM, Castro-Rodriguez JÁ, Griffith KA, et al. Siblings, day-care 
attendance, and the risk of asthma and wheezing during childhood. N 
Engl J Med 2000; 343: 538-43. 
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 42 
Anotações de aula 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 43
 
CCAAPPÍÍTTUULLOO IIVV 
IIMMUUNNOOPPAATTOOLLOOGGIIAA DDAA RREESSPPOOSSTTAA TTHH11 EE TTHH22 
Os linfócitos Th1 e Th2 não são dois tipos distintos de linfóci-
tos CD4. Na verdade, eles simplesmente representam duas formas 
polarizadas de linfócitos CD4 altamente heterogêneos. Estes linfó-
citos se diferenciam principalmente pelos seus produtos, ou seja, as 
citocinas liberadas por eles durante sua atividade. Aqueles classifi-
cados como Th1 são responsáveis pela produção de IL-2, IFN-
gama e TNF-alfa, e não produzem IL-4, IL-5, IL-9 e IL-13. Os 
denominados Th2 são caracterizados pela produção de IL-4, IL-5, 
IL-9 e IL-13, sem produzirem IL-2, IFN-gama e TNF-alfa. 
Atualmente, sabe-se que os linfócitos Th1 e Th2 são proveni-
entes da mesma célula mãe que é conhecida como linfócito Th0. 
Esta diferenciação ocorre a partir de dois fatores principais: o fator 
genético (predisposição de cada indivíduo para desenvolver deter-
minada resposta imunológica) e as influências ambientais. Estes 
fatores podem ser influenciados pelos fatores modulatórios, como: 
os receptores dos linfócitos (T-cell receptor – TCR), a ativação de 
moléculas co-estimuladoras, a predominância de uma determinada 
citocina no ambiente onde está ocorrendo a diferenciação (princi-
pal fator modulatório), e o número de divisões celulares pós-
ativação. Outro componente que pode ter participação na diferen-
ciação do linfócito é o seu componente genético intrínseco. 
Estes fatos dividem a resposta imunológica em dois tempos 
(Figura 2 – Cap II); no primeiro momento em que há ativação da 
célula-mãe (linfócito Th0) gerando uma polarização deste em Th1 
ou Th2; e no segundo momento os linfócitos polarizados entrarão 
em contato novamente com o antígeno desencadeando a resposta 
imune e tendo como conseqüência manifestações clínicas relacio-
nadas às doenças alérgicas desencadeadas. 
Como descrito, o principal fator modulatório responsável pela 
polarização do linfócito são as citocinas presentes no meio. A IL-
12 é de suma importância para o desenvolvimento da via Th1, as-
sim como a IL-4 para a via Th2. Secundariamente, a presença de 
outras citocinas como o IFN-gama, o TGF-beta e a IL-2 podem 
 44 
também estimular a polarização para a via Th1; assim como a IL-5 
estimula a via Th2. Uma vez que estas citocinas entram em contato 
com o linfócito Th0, inúmeros sinais de transdução e de transcrição 
são ativados até que o linfócito se transforme em Th1 ou Th2. No 
linfócito Th1 estes ativadores de transcrição são as moléculas de-
nominadas como STAT4 e o T-bet. No linfócito Th2, as moléculas 
que participam deste processo são STAT6, GATA3 e C-Maf. A de-
ficiência destas moléculas pode reduzir a polarização de uma des-
tas vias. 
Uma vez que os linfócitos encontrem-se polarizados, qualquer 
novo contato com antígenos, que serão apresentados pelas APCs, 
irá desencadear resposta imune de acordo com a respectiva polari-
zação (Th1 ou Th2). Quando houver estimulação do linfócito Th2 
ocorrerá o que chamamos de resposta humoral. Os linfócitos Th2 
liberam citocinas (IL-4, IL-5, IL-9 e IL-13) que serão responsáveis 
pelo recrutamento de eosinófilos (principalmente a IL-5) e pela 
estimulação do linfócito B (principalmente a IL-4) que produzirá 
Imunoglobulina E (IgE). Por outro lado, os linfócitos Th1 liberam 
citocinas (IL-2, IFN-gama, TNF-alfa) que são responsáveis por 
estimular os linfócitos CD8, dentre outras células e desta forma 
desencadear a resposta celular. 
1. O Paradigma Th1/Th2 e suas complicações clínicas 
A diferenciação Th1/Th2 é importante não só para modular o 
tipo de resposta imune (resposta humoral ou resposta celular), mas 
permite a sobrevivência do indivíduo e o desenvolvimento de tole-
rância. Um exemplo disto é a predominância do perfil Th2 durante 
a vida intra-uterina, que permite a sobrevivência do feto, e o poste-
rior equilíbrio da relação Th1/Th2 durante o primeiro ano de vida. 
Devido a estas mudanças na relação Th1/Th2 durante a vida 
do indivíduo, a exposição à proteínas deve ser cautelosa. Os neona-
tos, por possuírem um predomínio da resposta imunológica para a 
via Th2, quando expostos à proteína do leite de vaca, correm o 
risco de desenvolver uma sensibilização imune ativando a cascata 
Th2 e tendo como resultado a produção de IgE. Estes eventos no 
início da vida podem trazer conseqüências em longo prazo, com-
prometendo o desenvolvimento de tolerância até que o sistema Th1 
possa equilibrar a equação e, com isto, tornar o indivíduo menos 
susceptível à manifestações alérgicas. 
 45
2. A Relação Th1/Th2 e a alergia alimentar 
Baseado nas alterações imunes descritas anteriormente é pos-
sível construir uma provável explicação para as expressões clínicas 
da Alergia Alimentar (AA), dentre as quais a AA mediada por IgE, 
a AA não-mediada por IgE e a AA de Mediação Mista. A manifes-
tação clínica da AA é o resultado da alteração imunológica media-
da pela interação de antígenos alimentares com elementos dos teci-
dos linfóides associados à mucosa (Sistema MALT) nos órgãos-
alvo. Isto, em última análise, será modulado pela relação Th1/Th2. 
Na tabela 1 são apresentadas as desordens clínicas associadas 
a AA de acordo com seus mecanismos de mediação e classificadas 
em concordância com o Sistema MALT e com o órgão afetado. 
Mecanismo 
Imunológico 
Sistema 
MALT 
Afetado 
Órgão-Alvo Desordem Clínica 
IgE 
(humoral) 
GALT Trato Gastointesti-
nal 
Anafilaxia; Hipersensibilidade GI 
imediata; SÃO 
SALT Pele Urticária; Angioedema 
NALT Nasofaringe Rinite; Sinusite; Otite 
 BALT Trato Respiratório Broncoespasmo; Asma 
Não-IgE 
(celular) 
GALT Trato Gastointesti-
nal 
Doença Celíaca; Enteropatia do 
LV; Enterocolite, Proctocolite e 
Proctite induzida pela proteína 
dietética; Colite do Leite Materno; 
SALT Pele Dermatite Herpetiforme 
BALT Trato Respiratório Síndrome de Heiner 
CNSALT SNC Distúrbios do Comportamento 
Mediação 
Mista - (IgE e 
Não-IgE) 
GALT Trato Gastointesti-
nal 
Esofagite eosinofílica; Gastroen-
terite eosinofílica; RGE; Dispep-
sia; Pseudo-obstrução; Constipa-
ção 
SALT Pele Dermatite Atópica 
BALT Trato Respiratório Asma Brônquica induzida pela AA 
TABELA 1. CAUSAS DE AA DE ACORDO COM A MEDIAÇÃO IMUNOLÓGICA. 
MALT = Tecido Linfóide Associado à Mucosa; GALT = Tecido Linfóide Associado à Mucosa Gastrin-
testinal; SALT = Tecido Linfóide Associado à Pele; NALT = Tecido Linfóide Associado à Nasofaringe; 
BALT = Tecido Linfóide Associado à Mucosa Brônquica; CNSALT = Tecido Linfóide Associado ao 
Sistema Nervoso; GI = Gastrintestinal; LV = Leite de Vaca; SAO = Síndrome de Alergia Oral; RGE = 
Refluxo Gastroesofagiano. 
 
 
 
 
 46 
3. Desordens Mediadas por IgE 
As desordens mediadas por IgE se manifestam em quatro sis-
temas: o GALT, o SALT, o BALT e o NALT. Em cada um destes 
sistemas observaremos sintomas específicos de acordo com o ór-
gão-alvo afetado. O envolvimento generalizado pode acontecer, 
desencadeando um processo de anafilaxia à antígenos alimentares. 
O exercício pode também levar a reação alérgica mediada por 
IgE em qualquer órgão ou sistema podendo também originar anafi-
laxia por reação alérgica sistêmica. 
A alergia mediada por IgE caracteriza-se pelo seu alto potencial 
de especificidade. Isto é devido à participação da imunoglobulina que 
no seu processo de produção promove uma decodificação desta imu-
noglobulinaa um epítopo específico. Trata-se também de uma alergia 
de curta memória, quando comparada àquela produzida pela via Th1. 
a) Sistema GALT 
A Hipersensibilidade Gastrintestinal Imediata é uma reação 
que se desenvolve de minutos a duas horas depois da exposição do 
TGI ao antígeno efetor. Clinicamente o indivíduo apresentará, náu-
sea, vômitos, dor abdominal e diarréia. Outra desordem que pode 
ser manifesta no sistema GALT é a Síndrome de Alergia Oral, em 
que os sintomas estão confinados à boca e à orofaringe. Os sinto-
mas mais freqüentes são: o prurido auricular, o angioedema de 
lábios, língua e palato, e “inchaço” na garganta. 
b) Sistema SALT 
A urticária aguda e o angioedema são típicas manifestações da 
AA Mediada por IgE. Estas são manifestações que podem persistir 
por muitos dias e tipicamente têm um padrão migratório. 
c) Sistema BALT 
Embora a asma induzida por inalantes seja a mais freqüente 
desordem mediada por IgE do trato respiratório, a AA também 
pode desencadear o agravo através da ativação do sistema BALT 
após a proteína alimentar ter sido ingerida e processada. Os princi-
pais sintomas manifestos são o broncoespasmo e a secreção das 
vias aéreas superiores. 
 47
d) Sistema NALT 
Assim como no sistema BALT, os antígenos podem ser inala-
dos ou ingeridos para desencadear o processo. Nestes pacientes, as 
manifestações se restringem ao trato respiratório superior se mani-
festando através das rinites, sinusites e otites. 
4. Desordens não-mediadas por IgE 
As Desordens não-mediadas por IgE são mediadas pela via 
Th1. Por este motivo também são conhecidas como Alergias Medi-
adas por Th1. Neste processo, como já é sabido, há o desenvolvi-
mento de uma resposta celular, e por este motivo, este tipo de aler-
gia é caracterizada por não ter uma especificidade muito grande, 
contudo possui um grande potencial de memória imunológica. 
a) Sistema GALT 
Doença Celíaca, Enteropatía do Leite de Vaca, Enterocolite, 
Proctocolite e Proctite induzidas pela Proteína Dietética e Colite do 
Leite Materno são as manifestações clínicas mais comuns da AA 
não-Mediada por IgE no Sistema GALT. Os sintomas do trato gas-
trintestinal incluem diarréia que geralmente contém muco e ocasi-
onalmente contém sangue. As estrias de sangue alarmam as mães 
que amamentam seus filhos. Estes sintomas são produzidos pelos 
linfócitos Th1 ativados e pelos linfócitos T CD8. 
A Doença Celíaca é gerada por uma reação alérgica a gliadina 
(fração protéica contida no trigo) que provoca uma ativação dos 
linfócitos Th1 que liberam grandes quantidades de IFN-gama e IL-
2, tanto nos tecidos, quanto na circulação sangüínea. Além disso, 
há influência dos linfócitos TCD8 citotóxicos na perpetuação do 
processo inflamatório. Em última análise, a ativação do sistema 
imune desencadeará um processo inflamatório crônico que resulta 
em atrofia vilositária, perda da capacidade absortiva e hiperplasia 
de criptas, na mucosa intestinal. 
A Enteropatía do Leite de Vaca é uma enteropatia do primeiro 
ano de vida. É uma desordem não-IgE classicamente mediada pelo 
linfócito T, entretanto pode haver uma participação do linfócito B, 
que pode comumente ser visto na lâmina própria intestinal. 
A Colite do Leite Materno, a Enterocolite, a Proctocolite e a 
Proctite induzidas pela Proteína Dietética são caracterizadas pela pre-
sença de sangue nas fezes em bebês saudáveis em aleitamento mater-
 48 
no. Acredita-se que as proteínas ingeridas pela mãe, ou diretamente 
pelas crianças causem estas desordens não-mediadas por IgE nos lac-
tentes. Como nas outras desordens onde há predominância dos linfóci-
tos Th1, observamos um aumento das citocinas IL-2 e IFN-gama. 
b) Sistema SALT 
A dermatite Herpetiforme é a manifestação de pele da alergia 
mediada por células. Existe uma grande associação entre este agravo e 
as manifestações inflamatórias gastrintestinais da Doença Celíaca. 
c) Sistema BALT 
A Síndrome de Heiner é uma manifestação de doença pulmo-
nar crônica induzida por antígenos alimentares, que evolui clini-
camente para a hemosiderose pulmonar. É uma patologia rara na 
infância que deve ser suspeitada nos casos de hemoptise associada 
a infiltrado pulmonar persistente. 
d) Sistema CNSALT 
Vários estudos têm mostrado uma ligação entre Hiperativida-
de, Déficit de Atenção, Hiperplasia Nodular Linfóide e AA não-
mediada por IgE. Acredita-se que nestes casos o linfócito ativado 
faria um “homing” para o Sistema Nervoso Central e promoveria 
estas alterações. 
5. Desordens de mediação mista 
Nestas desordens existe participação de componentes Th2 e 
Th1, portanto, as duas classes de linfócitos estão envolvidas. 
a) Sistema GALT 
A Gastroenterite Eosinofílica e a Esofagite Eosinofílica são 
desordens caracterizadas pela infiltração de eosinófilos no esôfago, 
no estômago e na parede intestinal. Estas patologias apresentam-se 
com clínica de sintomas persistentes no órgão afetado, refratárias 
aos tratamentos convencionais na dependência do grau de infiltra-
ção eosinifílica na parede do órgão. 
b) Sistema SALT 
A dermatite atópica com comprometimento na pele, localizado 
ou difuso é uma manifestação comum da AA engatilhada por am-
bos mecanismos. É uma condição complexa de difícil controle que 
muitas vezes melhora espontaneamente por volta dos 2 a 4 anos de 
 49
idade, momento em que há um importante amadurecimento do 
sistema imune. 
c) Sistema BALT 
A asma é classicamente uma desordem mediada por IgE. Contu-
do, em alguns casos, esta pode ser mediada por mecanismo misto. 
Nestes pacientes há um elevado risco de deflagração de anafilaxia. 
Após esta breve introdução, faremos nos capítulos seguintes 
um detalhamento de cada uma das condições patológicas descritas 
anteriormente. 
6. Leitura recomendada 
Abbas AK, Murphy K, Sher A. Functional diversity of helper T lympho-
cytes. Nature 1996; 383:787-93. 
Bluestone JA, Abbas AK. Natural versus adaptative regulatory T cells. 
Nat Rev Immunol 2003; 3:253-7. 
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Th1/Th2 polarization. Immunol Today 2000; 21:479-83. 
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Sampson HA, Anderson JA. Summary and recommendations: classifica-
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Wittmann M, Alter M, Stünkel T, et al. Cell-to-cell contact between acti-
vated CD4+ T lymphocytes and unprimed monocytes interferes with a 
Th1 response. J Allergy Clin Immunol 2004; 114:965-73. 
 
 
 
 50 
Anotações de aula 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 51
 
 
 
 
 
 
 
 
Parte II 
Causas de Alergia Alimentar Mediadas por 
Imunidade Humoral (IgE) 
Participação dos estudantes da LAA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 52 
 53
 
CCAAPPÍÍTTUULLOO VV 
AANNAAFFIILLAAXXIIAA 
1. Introdução 
O termo anafilaxia foi introduzido pela primeira vez na litera-
tura em 1902 por Portier e Richet. Este termo se refere a uma do-
ença sistêmica mediada por IgE que resulta em uma rápida libera-
ção de potentes substâncias ativas farmacologicamente, a partir de 
células denominadas mastócitos e basófilos. O que desencadeia 
todo este processo são os antígenos (alimentos, medicamentos, 
picaduras de insetos, látex, etc). O intervalo de tempo entre a expo-
siçãoao antígeno e o início da reação é geralmente imediato, po-
rém em alguns casos pode ser mais demorado. Alguns pacientes 
podem apresentar os dois tipos de evolução, chamada de reação 
anafilática bifásica. A anafilaxia é considerada uma emergência 
médica e seus sintomas iniciais podem variar desde manifestações 
respiratórias, cardiovasculares, cutâneas, gastrintestinais, até colap-
sos cardiovasculares fulminantes. 
A anafilaxia severa é caracterizada por quatro síndromes clíni-
cas: síndrome cardiovascular, cutânea, respiratória e gastrintestinal. 
Sua classificação pode ser feita de acordo com a severidade em 
quatro graus, sendo a anafilaxia severa classificada de graus 3 e 4. 
Grau 3 inclui sérios sintomas como colapso cardiovascular, arrit-
mia cardíaca e broncoespasmo. O grau 4 inclui falha circulatória, 
parada cardíaca e/ou respiratória. Anafilaxia letal pode ser classifi-
cada como grau 5. 
A anafilaxia ocorre quando os mastócitos são estimulados e 
secretam mediadores que provocam uma resposta sistêmica. Os 
principais alvos são, portanto, os órgãos abundantes em mastócitos 
(cardiovascular, cutâneo, respiratório e gastrintestinal). A ativação 
destes mastócitos se dá pela via clássica da hipersensibilidade do 
tipo I. Em outras palavras, requer a clivagem de alérgenos (alimen-
tares ou inalatórios) nas células apresentadoras, apresentação de 
epítopos para os linfócitos Th2, co-ativação de linfócitos B, libera-
ção maciça de IgE, citocinas IL-4 e IL-5, ligação aos receptores 
 54 
específicos mastocitários e finalmente, degranulação de mediado-
res inflamatórios, principalmente histamina. 
A reação anafilática é um evento dramático que exige do mé-
dico uma rápida percepção quanto à severidade da doença, para a 
implementação do tratamento o mais precocemente possível. No 
caso de pacientes que já tiveram um episódio de anafilaxia, é papel 
do médico, saber orientar o seu paciente sobre o que fazer caso 
haja outro episódio, uma vez que a chance de recorrência é grande. 
A maioria das reações ocorre localmente e resulta em uma 
resposta local. Por exemplo, a asma alérgica e a rinite alérgica. A 
reação anafilática sistêmica exige que o alérgeno seja distribuído 
sistemicamente antes que os mastócitos em locais distantes sejam 
ativados. Isso acontece mais facilmente com a administração pa-
renteral do alérgeno (ex: penicilina intravenosa). No entanto, as 
alergias alimentares, podem manifestar-se de forma igualmente 
grave podendo causar anafilaxia letal. 
Estudos epidemiológicos de anafilaxia em hospitais demons-
traram que de todas as anafilaxias que tiveram causas identificadas, 
a alergia por drogas foi de 62%, AA foi de 15% e por insetos de 
11%. Por outro lado estudos epidemiológicos de anafilaxia em 
unidades de emergência demonstraram que dentre as causas identi-
ficadas, a causa mais prevalente foi de AA 38.5 %, seguido de a-
lergia às drogas 34.6 % e insetos 1.5 %. 
2. Etiologia 
Na etiologia estão os antígenos alimentares que promovem a-
tivação intensa dos mastócitos e basófilos. Alguns destes antígenos 
são uma freqüente causa de AA, podendo levar a um processo ana-
filático. Dentre estes se destaca o amendoim como substância que 
têm um alto potencial alergênico, seguido pelos crustáceos, outros 
legumes, amêndoas, peixe, leite e ovos. 
A alergia a um antígeno alimentar como o amendoim, por e-
xemplo, não implica em dizer que este indivíduo terá alergia a to-
dos os outros alimentos que pertencem à mesma família. Entretan-
to, casos de reações cruzadas a antígenos que pertencem à mesma 
família têm sido descritos na literatura (o exemplo é um caso de 
uma jovem que tinha alergia à avelã e desenvolveu uma reação 
anafilática após ingerir macadâmia). 
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O problema da ingesta de alimentos da mesma família é que 
eles apresentam proteínas em comum. Se o indivíduo tiver alergia 
àquela proteína, provavelmente terá alergia a todos os alimentos da 
mesma família. No caso do amendoim, o indivíduo teria alergia a 
toda família das legumináceas; no caso do camarão, à família dos 
crustáceos; no caso do leite a todos os alimentos que compõem a 
diversa família de produtos derivados do leite (principalmente ao 
leite de vaca); no caso do ovo, estudos têm mostrado a possibilida-
de de reação cruzada entre ovos de diferentes espécies; e os aditi-
vos alimentares e corantes (Ex.: tartrazina). 
As reações foram relatadas após cheirar, tocar, comer ou beber 
gêneros alimentícios, sendo 82% das reações iniciadas dentro de 30 
minutos após contato. O edema de lábios e glote foi o sintoma mais 
comum em ambos os grupos. Adultos relataram sintomas graves 
com maior freqüência, particularmente colapso cardiovascular. 
Todavia, dor abdominal severa, urticária local e generalizada, rini-
te-conjuntivite e “rash” foram mais relatados em crianças. Na Ta-
bela I encontra-se a maioria dos antígenos alimentares já relatados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Alimentos relacionados com reações anafiláticas 
Aipo Chicória Lentilha Pistache 
Alcachofra Caroço de algo-dão Laranja-lima Pimenta-do-reino 
Alçafroeira Cravo Leite de vaca Pinha 
Algaravia Cominho Lagosta Pimenta-malagueta 
Alho Coco Lingüiça Rábano silvestre 
Amêndoas Canela Laranja Pimenta-da-Jamaica 
Amendoim Ervilha Macadâmia Salmão 
Atum Caranguejo Maçã Riboflavina (vit. B2) 
Avelã Cogumelo Melão Soja 
Bacalhau Fermento de pão Mel Semente de psyl-lium 
Banana Erva-doce Mamona Sálvia 
Batata Folha de louro Manga Siba 
Batata-doce Fermento de cerveja Milho 
Semente de fun-
cho 
Baunilha Framboesa Morango Tomilho 
Beterraba Feijão de gar-banço Marisco Semente de aneto 
Camarão Frango Mostarda Tangerina 
Camomila Fruto de junípero Noz Tapioca 
Castanha Gergelim Ovo Trigo mouro 
Castanha de caju Hipoglosso (peixe) Painço/milho moído Trigo 
Castanha-do-Pará Kiwi Pêssego 
Chocolate Girassol Ostra 
Corantes (tartrazina) Gengibre Noz-moscada 
TABELA I – ANTÍGENOS DEFLAGRADORES DO PROCESSO. 
3. Epidemiologia 
As estatísticas de prevalência e incidência de reações anafiláti-
cas causadas por alimentos descritas na literatura são insipientes. 
Um trabalho realizado em 2001 nos EUA por Neugut, mostrou que 
cerca de 0,0004% da população americana (aproximadamente 1080 
pessoas), apresentava um quadro de anafilaxia causada por alimen-
tos em um ano. Destes casos, cerca de 10% evoluem para o óbito. 
Um outro estudo mostrou que dentre todas as pessoas que tive-
ram uma reação anafilática, uma porcentagem destas eram pessoas 
atópicas e esta porcentagem era de duas a três vezes maior do que a 
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quantidade de atópicos encontrados na população geral. A conclu-
são é de que os indivíduos atópicos têm uma chance maior de de-
senvolver um quadro anafilático, quando comparados a indivíduos 
normais. 
Como estes dados referem-se a grupos populacionais pequenos 
e de áreas específicas, não podemos dizer que eles refletem a reali-
dade da incidência e prevalência deste agravo na população mun-
dial e, possivelmente, a ocorrência mundial suplanta os números 
relatados devido à sub notificação. 
4. Fisiopatologia 
A reação anafilática, também chamada de hipersensibilidade 
imediata, é imunologicamente reconhecida como uma hipersensibi-
lidade do tipo I. A clássica anafilaxia sistêmica é um processo alér-
gico, sendo mediado por mastócitos e com reação antígeno-
anticorpo IgE específica. Os mastócitos, um dos principais media-
dores do processo, estão presentes ao longo de todo o trato gastrin-
testinal, o que nos leva a concluir que a alergia pode acometer toda 
esta extensão, podendo também alcançar qualquer outro sistema 
(pele, SNC, pulmões, sistema cardiovascular, etc) por via hemato-
gênica. 
O princípio da reação alérgica se dá no primeiro contato do in-
divíduo com o alérgeno, chamado período da sensibilização. O 
agente causal (leite, amendoim, crustáceos, peixe, entre outros), 
depois de ter vencido todos os mecanismos de defesa do trato di-
gestivo (enzimas digestivas, IgA secretora e

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