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Grupo on-line GOL Judete Vers fin 26 04 20 doc


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Grupos on-line de usuários e familiares em saúde mental na pandemia: 
distanciamento físico, proximidade afetiva. 
 
Judete Ferrari 
 
 Neste 2020, completo 31 anos de vivências em saúde mental coletiva. Vivências 
que apontam para um processo que como fala Sandra Fagundes1 tem sido “construtor de 
sujeitos sociais desencadeadores de transformações nos modos de pensar, sentir e fazer 
políticas, ciências e gestões no cotidiano das estruturas de mediação da sociedade, 
extinguindo e substituindo as práticas tradicionais por outras capazes de contribuir para 
a criação de projetos de vida.”. 
Como psicóloga faço parte do Fórum Gaúcho de Saúde Mental/FGSM, no qual 
coordenamos, através de colegiado, a Parada Gaúcha do Orgulho Louco em Alegrete 
(RS), na sua 10ª Edição. Esta ação foi conquistada para o município, devido a uma forte 
tradição de dispositivos participativos e comunitários de atenção psicossocial, incluindo 
municípios vizinhos. 
No Núcleo Ampliado de Saúde da Família/NASF, da Secretaria Municipal de 
Saúde, trabalho com matriciamento e apoio a três equipes de saúde da família, desenvolvo 
apoio nos Grupos de Ajuda e Suporte Mútuos em Saúde Mental/GAS Mental 
protagonizados por usuários que, em sua grande maioria, são do território de abrangência 
das ESFs e que compartilham o seu cuidado entre elas e as equipes dos Centros de 
Atenção Psicossocial/CAPS e Rede de Atenção Psicossocial de Alegrete. 
Destes 31 anos de trajetória mentaleira, durante 09 anos venho me dedicando a 
apoiar usuários, familiares e profissionais de saúde em iniciativas e/ou atividades de ajuda 
e suporte mútuos em saúde mental. Um processo que envolve muita solidariedade e apoio 
emocional: implica se colocar no lugar do outro para conhecer e reconhecer suas histórias-
vivências com o sofrimento, com o cotidiano, com seus modos peculiares de tocar a vida. 
 A ajuda e o suporte mútuos, como referem Eduardo Mourão Vasconcelos e 
Marcela Weck (2020)2 “caracterizam-se por encontros presenciais em espaços nos 
quais os participantes regularmente acolhem com empatia seus colegas de experiência 
comum, recriam vínculos de amizade e suporte, trocam estratégias de lidar no dia a dia 
com seus problemas comuns, e discutem temas relevantes previamente acordados pelo 
grupo”. 
É comum, nos encontros destes grupos, que os participantes construam 
alternativas de acolhimento, a partir da discussão de uma determinada situação que os faz 
ou os fez sofrer. Alternativas que, muitas vezes, funcionam para aquele determinado 
grupamento. Isso os fortalece, cria redes afetivas, os tornam protagonistas de seus 
destinos. Este compromisso os aproxima e a troca gera a solidariedade muito intensa. 
Cria-se um vínculo muito grande de parceria e corresponsabilização pelo cuidado não só 
de um, mas de todos. É bastante comum que usuários e familiares refiram que participar 
 
1 Fagundes, S. (2010). Os municípios e a desinstitucionalização em saúde mental 
coletiva. In F. Campos, & A. Lancetti (Orgs), Saúde e loucura: experiências da reforma 
psiquiátrica (pp. 203-231). São Paulo, SP: Hucitec. 
2 Eduardo Mourão Vasconcelos e Marcela Weck, Desafios e recomendações para a 
realização de atividades on-line de ajuda e suporte mútuos. Rio de Janeiro, texto de 
discussão junto ao Projeto Transversões (Escola de Serviço Social da UFRJ), abril de 
2020. 
 
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desta estratégia de cuidado faz com que se sintam empoderados para resolver suas 
situações práticas frente aos problemas da vida. Para estes grupos presenciais chamamos 
de Grupos de Ajuda e Suporte Mútuos em Saúde Mental/ GAS Mental. 
 E neste ano de 2020 também, a humanidade foi surpreendida pela pandemia do 
COVID-19. Contra ela, várias estratégias estão sendo utilizadas. Lavar as mãos com 
frequência, o uso de máscaras e a estratégia de isolamento-distanciamento social. Esta 
última exigiu, de nossa parte, a organização de alternativas para o acolhimento, a 
interação e o apoio sem o contato presencial, o que produziria riscos para a transmissão 
do vírus em seus participantes e em sua rede sócio-familiar. 
 Identificamos, nesta tarefa, quais as ferramentas mais populares que a maioria dos 
usuários participantes dos grupos presenciais de ajuda e suporte mútuo em saúde mental 
faz uso, e identificamos que são o WhatsApp e o Messenger. A partir disto, criamos 
grupos on-line, aos quais chamamos de Sala de Grupos On-line/ GOL. Incluímos os que 
desejavam participar. A busca dos usuários partiu dos contatos anteriores dos facilitadores 
e das lideranças de grupo. E estas, por sua vez, contataram os colegas e, dessa forma, 
fomos montando a rede de cuidado on-line. 
 O encontro tem dia e hora para o seu início e término. Funciona como um Chat de 
conversação. Estabelecemos o horário de uma hora e meia de duração e um limite de 
quinze (15) pessoas. É importante referir que experimentamos grupos maiores e isso 
dificultou a interação. Nos primeiros dois chats nos comunicamos através de mensagens 
de texto. Aos poucos, os facilitadores foram estimulando aos seus pares a utilizarem as 
mensagens de voz (áudios do próprio WhatsApp), com a justificativa de que a voz 
aproxima e faz com que superemos o distanciamento afetivo. Tivemos usuários que 
resistiram em usar da ferramenta de voz, contudo estão sendo estimulados a superarem o 
medo de ouvir a própria voz. 
 Construímos coletivamente objetivos, regras e dinâmica de funcionamento dos 
grupos on-line, baseados em nossa experiência presencial de nove anos, da seguinte 
forma: 
 
A) Como objetivos destacamos: 
1. Ser espaço de acolhida, para a troca de experiências e apoio emocional em 
tempos de isolamento social ao coronavirus; 
2. Desenvolver a solidariedade, autoconfiança, a autoestima e a esperança na 
vida; 
3. Fazer amigos e superar a solidão. 
 
B) As regras listadas foram: 
1. Pontualidade 
2. Discrição e Sigilo 
3. NÃO COMPARTILHAMENTO de mensagens e informações da Sala de 
grupo; 
4. Preservar nomes e identidades; 
5. Ausência de julgamentos; 
6. Respeito pelas falas dos demais; 
7. Não a conversas paralelas; 
8. Comunicar faltas; 
A participação no GOL é GRATUITA, INFORMADA, VOLUNTÁRIA e 
LIVRE. 
 
C) A dinâmica de funcionamento: 
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O funcionamento dos grupos on-line também foi debatido entre os participantes. 
No GOL contamos com facilitadores escolhidos previamente (no início de cada grupo), 
com o princípio de fomentar o debate cuidando do bom funcionamento do Grupo. 
Contamos com a presença de trabalhadores da saúde, educação e assistência social como 
observadores e/ou apoiadores, com a função de dar suporte aos facilitadores e às 
demandas grupais com vistas ao empoderamento e autonomia dos usuários. Estas funções 
são alternadas. 
 Também consensuamos a proposta de que os grupos incluam alguns militantes 
dos campos da assistência social, da educação e da cultura, que atuam na saúde mental. 
Além disso, convidamos profissionais, professores universitários e lideranças de usuários, 
conselheiros de saúde que nos acompanham na trajetória do nosso programa de ajuda e o 
suporte mútuo em saúde mental, bem como a história da saúde e saúde mental em 
Alegrete. 
 
D) Os temas debatidos: 
 
 Nossa experiência com grupos de ajuda e suporte mútuo em saúde mental aponta 
para uma série de temas de discussão nos grupos. Todavia, nesta experiência on-line, 
identificamos uma variedade de questões e abordagens comuns entre os participantes. 
Entre elas citamos: 
 
1. Conjuntura de isolamento social: como lidar com o medo de contaminação e a 
ansiedade pelas restrições de saída de casa: lançar mão de mensagens que resgatam a 
espiritualidade; selecionar notícias; ler; sair o mínimo possível; cuidar da casa; 
realizar trabalhos manuais e artesanatos; exercitar mantras e atividades de 
relaxamento. 
 
2. Sintomas de sofrimento psíquico: depressão; síndrome do pânico; solidão; tristeza; 
angústia;dores no peito; incompreensão por parte de familiares (marido, filho, mãe); 
desemprego; uso abusivo de drogas e álcool; crises de ansiedade; violência doméstica; 
machismo e preconceito de gênero; instabilidade, ansiedade e ideação suicida. 
 
3. Problemas orgânicos que agudizam sofrimentos psíquicos: diabetes, insuficiência 
respiratória, problemas cardíacos, hipertensão, obesidade mórbida. 
 
4. Rever o movimento de nossa vida, de nossa casa, da sociedade; compartilhamento de 
vídeos sobre Felicidade Interna Bruta, produção de máscaras e dicas de limpeza. 
5. Problemas de ordem financeira: apreensões com as exigências econômicas da família 
e a suspensão dos proventos; insegurança com a possibilidade de cortes nas contas de 
luz e água. 
6. Estranhamento e repúdio aos pronunciamentos presidenciais; repúdio e revolta. 
7. Comportamento da juventude: está brincando com o momento risco ; se acha fora de 
se aglomera, sai pra rua o tempo todo. Faltam atividades para a juventude. Não aderem 
às atividades coletivas da casa. Chamar a atenção dos professores sobre a importância 
de seu contato e interatividade. 
8. Dicas do que fazer em casa, durante o confinamento, para superar a pressão, a 
depressão e a angústia de ficar só em casa: fazer uma horta; caderno ou diário de 
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anotações com três coisas positivas do dia; cuidar do espaço da casa; cuidar e brincar 
com os pets e animais de estimação; manusear álbuns de foto, envolvendo a família, 
fazer exercícios físicos e trabalhos manuais. 
9. Rever o movimento de nossa vida, de nossa casa, da sociedade. 
10. Conversamos sobre como acolher um usuário de crack e álcool em tempos de 
coronavirus: a importância da rede entre família e serviços de saúde no cuidado; 
procurar não centrar, somente, no uso de drogas e focar na problemática familiar. 
Todos que têm contato com o usuário de álcool e outras drogas devem receber atenção 
e cuidados. A equipe de cuidadores precisa manter um contato terapêutico sistemático 
com a família, por meio de reuniões, consultas, visitas domiciliares, entre outras 
abordagens; buscar o diálogo sobre o que faz sofrer, com verdade na fala, e isso 
fortalece. Assumir que, muitas vezes, somos impotentes diante do problema, e aceitar 
isso é reconhecer a complexidade. Não se assustar com a ignorância sobre o tema, e 
entender o processo de recaída como algo que faz parte da aprendizagem de novas 
posturas. 
11. Insegurança e timidez no uso da ferramenta do WhatsApp, no tocante às mensagens 
de voz, por parte de alguns. 
12. O confinamento e a tendência à perda da noção de tempo e dos dias. 
13. A depressão por perdas de familiares e as dores no corpo e na alma, e a fadiga que o 
sentimento de tristeza imprime em cada um/uma. 
14. Angústia frente ao trabalho de home office (por exemplo, a exigência dos trabalhos 
de mestrado) e o cuidado com os filhos pequenos. 
15. Preocupação econômica, com o dinheiro escasso e a diminuição da receita familiar. 
16. Avaliação e como reforçar a atividade de grupo on-line: o grupo como lugar de apoio, 
de interação, um refresco para solidão; é participação, uma forma de sair, uma saída para 
o sofrimento. A vida não é normal neste período, o isolamento social tem mostrado isso, 
a vida passa a ser como um mar revolto e o grupo é como o salva-vidas. 
 
E) Encaminhamentos e estratégias de lidar no dia a dia 
 Entre os encaminhamentos e estratégias de lidar no dia a dia, discutidos 
nos grupos on-line, encontramos: 
1. MUTIRÃO DE COLETA DE ALIMENTOS E PRODUTOS DE HIGIENE 
E LIMPEZA para pessoas com vulnerabilidade social. 
2. Produzir artesanatos e trabalhos manuais durante a quarentena com venda 
revertida para a realização de uma Festa de Reencontro. Exemplo de trabalhos manuais: 
produzir fuxicos durante o confinamento, para comporem uma COLCHA DE FUXICOS 
DO CONFINAMENTO. 
3. Elaborar o LIVRO DE RECEITAS DO CONFINAMENTO, produzido a 
partir de três vivências, diárias, positivas, durante o confinamento. 
4. Buscar a rede de saúde mental, entre ela o CAPS AD, para ABORDAGEM 
DE CUIDADO EM REDE, durante a pandemia, a partir de discussão de PROJETO 
TERAPÊUTICO SINGULAR. 
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7. ESCREVER, LER, OUVIR MÚSICAS para relaxar e gravar os sentimentos 
para ouvir a posteriori. 
8. Fazer ATIVIDADES QUE NOS RECONECTEM COM A VIDA, e que nos 
devolvam a sensação de bem estar: como cuidar da horta, dançar, fazer ginástica, cantar, 
desenhar, escrever, exercitando o corpo, a mente e a criatividade. 
9. Realizar de GRUPOS DE VIZINHANÇA para fortalecer os sujeitos presentes 
nos territórios da Estratégia de Saúde da Família. 
 
 Durante o confinamento, até a data de hoje, nasceram novas experiências de 
grupos de ajuda mútua em saúde mental on-line: em Farroupilha, com a coordenação 
de usuário e o apoio de trabalhadores de saúde mental, reúne usuários de diferentes 
municípios do estado no território de abrangência do FGSM, chamada de GAS Serra 
Gaúcha; outra chamada de Escuta na Quarentena envolvendo o Coletivo de Mulheres 
Ouvidoras de Vozes e o Grupo de Pesquisa de Enfermagem da UFPel; e uma terceira 
frente, em Porto Alegre, que iniciou grupos inspirados nos GOL para atender mulheres 
em situação de violência ligadas ao projeto "Clínica Feminista" da UFRGS. Temos ainda 
um Grupo de Apoio à Quarentena, com a coordenação de profissionais do antigo 
NASF da saúde do município de Rio Grande. Em Alegrete, além do GOL, nossas 
usuárias criaram o Grupo de Mulheres Empoderadas, com a participação de suas 
amizades, conhecidas, vizinhas e familiares. Debatem o tema da quarentena e como lidar 
com ela. 
Debatemos e compartilhamos o texto de Eduardo Vasconcelos e de Marcela Weck, 
do Projeto Transversões (da Escola de Serviço Social da UFRJ), bem como fizemos parte 
da live com o Eduardo Vasconcelos no Instagram, no dia 16/04, conversando sobre o 
cenário político e a saúde mental. 
Esta produção de debate e cuidados também vem gerando poesias e comunicações 
poéticas, que aqui compartilhamos: 
 
1. “Grupo On Line/GOL de Roque Júnior 
 
Grupo 
On 
Line. 
Gostar muito de 
Onde vem a Felicidade 
Lugar mais perto que parece. 
Guria, guri e 
Os mais velhos 
Lutando pela Saúde Mental. 
Grupo para debater 
 6 
Os assuntos em geral 
Lembrando de momentos bons. 
GOL - Uma iniciativa 
Onde tudo é excepcional na 
Luta Antimanicomial.” 
 
2. “ O dia é curto de Larissa Dall Agnol 
 
O dia é curto 
A vida é breve 
Um dia se fala 
Outro dia se escreve". 
 
3. “Nesta fase estamos com as fantasias espalhadas pela casa” de Xica 
Carvalho 
 
 
 
F) O Plantão da Madrugada 
 
 Esta estratégia foi criada para funcionar como mais um espaço de acolhida e 
cuidado on-line, no período noturno, para pessoas com problemas do sono e insônia. 
Participam do Plantão da Madrugada, usuários de grupo on-line, facilitadores e 
apoiadores destes grupos, trabalhadores de saúde e professores universitários (UFPel e 
UNISINOS) acadêmicos de Terapia Ocupacional (UFPel). 
 Funciona no período das 19 horas às 07 horas. Fora deste período, a/o 
administrador/a do grupo mudará as configurações de envio de mensagens, permitindo a 
postagem coletiva, somente a partir das 19 horas. A função administrativa do Plantão é 
exercida por pares compostos por facilitadores de grupos on-line, conforme deliberação 
dos participantes. E no plantão contamos, ainda, com a função do apoio, alternando entre 
os trabalhadores presentes. 
 Este dispositivo está em construção, todavia estamos buscando nova 
operacionalização para os plantonistas, chamados de “MADRUGAdorez” (facilitadores e 
apoiadores, acolhedores que confortam as dores que tiram o sono). Vamos estabelecer 
nova estratégia que implica na disponibilização do contato telefônico do madrugador a 
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ser acessado em caso de emergências na madrugada. Este contato respeitará uma tabela 
de disponibilidades para o plantão. 
 
Como regras,observamos: 
 
1. A discrição, o sigilo com as histórias, vivências, postagens contendo sofrimentos, 
experiências e angústias dos participantes. 
2. O não compartilhamento de postagens publicadas, com a exceção da permissão 
antecipada dos colegas de grupo. 
3. Postura de respeito, empatia e acolhimento com as dores dos demais. Precisamos estar 
com e ao lado de. 
4. Falar sobre os colegas quando estes estiverem presentes. 
5. Ouvir e acolher as dores dos demais. 
 
 Neste Plantão temos trocado histórias de vida, de família, vivências com a saúde 
mental, fotos, receitas culinárias, livros e filmes para serem apreciados. O humor também 
preenche o vazio da noite. Trocamos piadas e vídeos de humor. As avaliações dos 
participantes apontam para a continuidade deste dispositivo após o distanciamento social 
ao Covid-19. 
 
 
G) SUS(P)IRADAS on-line: 
 
 Criamos o grupo SUS(P)IRADAS On-line que consistem em reuniões que 
implicam conversa sobre sentimentos vivenciados na tarefa dos facilitadores e os 
apoiadores dos grupos on-line. Este grupo tem servido como laboratório de idéias 
contagiando novas estratégias de trabalho para os diferentes espaços e pessoas 
envolvidas. 
Este grupo, majoritariamente, é composto por usuários. Também é composto por 
profissionais de saúde, da educação e da assistência social; líderes comunitários e 
conselheiros de saúde; acadêmicos e professores universitários. Tem a participação de 
representantes de cinco regiões do Estado do RS (Fronteira Oeste, Campanha, Sul e 
Metropolitana), de diversos municípios (Alegrete, Farroupilha, Rio Grande, Pelotas, 
Porto Alegre, São Leopoldo, Bagé) e Palhoça (SC), de quatro universidades (UFRGS, 
UFPEL, UNISINOS e UNIPAMPA) e três cursos (Psicologia, Enfermagem e Terapia 
Ocupacional). Faz parte do grupo também uma doutoranda em saúde mental, que faz seu 
curso em Barcelona (Espanha). 
 
Considerações finais 
 
Participar do trabalho com Grupos de Ajuda e Suporte Mútuos em Saúde Mental, 
tem me suscitado pensar na riqueza destes dispositivos para o acolhimento em saúde, 
produzido através dos encontros entre os usuários. São encontros que facilitam o diálogo, 
a solidariedade e a valorização do vivido. É comum ouvirmos relatos de usuários 
referindo o quanto cuidar do outro é terapêutico e significativo para cada um. Seus 
depoimentos dão conta de valorizar os serviços que apostam no protagonismo dos 
usuários, no que tange ao próprio cuidado em saúde. 
 Ressalto que precisamos, enquanto trabalhadores de saúde, fomentar a 
constituição destes grupos, pois eles humanizam o saber e o fazer em saúde na medida 
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em que valorizam o saber e fazer dos usuários e sua história de vida. E humanizando, 
democratizam o trabalho na saúde. Com este texto convido as/os colegas, 
trabalhadoras/es, como eu, para que construamos redes de cuidado com nossos usuários 
dos CAPS e da atenção básica, possibilitando momentos de fala, em grupos e geridos por 
eles. Aproveitemos que nossos usuários convivem em nossas oficinas e dispositivos de 
atenção psicossocial para constituirmos grupos de ajuda e suporte mútuos em saúde 
mental e, desta forma, fortalecermos, cada vez mais, a capacidade de nossos usuários em 
organização com autonomia e protagonismo. 
 A ajuda e o suporte mútuo em saúde mental on-line, como um experimento novo, 
vêm se apresentando como uma ferramenta potente para facilitar, ainda mais o acesso e 
a realização de encontros para as trocas afetivas e para o acolhimento. É bem verdade que 
não substituirá a necessidade dos encontros presenciais. No entanto, estes grupos 
fomentam a partilha dos saberes e entendimentos acerca da produção de saúde e doença, 
presentes em cada um de nós. E neste contexto do distanciamento social e pandemia que 
assola a humanidade, o desafio está posto frente a nossa capacidade de inovar para 
preservar a vida. 
 
Alegrete, 24 de abril de 2020.