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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE SOBRAL – CEARÁ, SEVERINA DO NASCIMENTO SOUSA, brasileira, casada, do lar, portadora do RG nº 2005031051806, inscrita no CPF nº 439.171.353-53, telefone para contato/WhatsApp (88) 9.9728-9723, e-mail: noivaadornadadosenhor@gmail.com, residente e domiciliado(a) na Rua Ferroviária, nº 680, Bairro Sumaré, próximo à estação do metrô, Sobral - CE, CEP 62.014-055, vem, através da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ, propor perante Vossa Excelência a presente AÇÃO DE CURATELA (INTERDIÇÃO) C/C PEDIDO DE CURATELA PROVISÓRIA em face da Sra. FRANCISCA DO NASCIMENTO, brasileira, aposentada, solteira, portadora do RG nº 2018196791-4, inscrita no CPF nº 088.532.743-87, residente e domiciliado(a) na Rua São Judas Tadeu, Nº 348, Bairro Sumaré, Sobral - CE, CEP 62014-050, pelos fatos e fundamentos que passa a expor: DA JUSTIÇA GRATUITA Inicialmente, a parte autora declara-se pobre na forma da lei, tendo em vista não ter condições de arcar com as custas e demais despesas processuais sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família, razão pela qual comparece assistido(a) pela Defensoria Pública do Estado do Ceará, autorizada a atuar por força dos artigos 1º e 4º, inc. IV, da Lei Complementar Federal nº 80/94. Assim, requer(m) preliminarmente os benefícios da gratuidade judiciária (artigo 3º da lei nº 1.060/50), tendo em vista enquadra-se na situação legal prevista para sua concessão (artigo 4º da lei nº 1.060/50 e artigo 98 caput e §1º,§5º do CPC/15) bem como a observância das prerrogativas processuais do defensor público ao final assinado, sobretudo (I) a intimação pessoal e (II) prazos processuais em dobro, tudo em conformidade com o artigo 128 da Lei Complementar Federal nº. 80/94. DA AUDIÊNCIA POR VIDEOCONFERÊNCIA A autora informa, desde já, que concorda em participar de audiência por videoconferência. DOS FATOS A autora, Sra. SEVERIVA DO NASCIMENTO SOUZA, é irmã da Sr(a). FRANCISCA DO NASCIMENTO, ambas já devidamente qualificadas na exordial. A promovida conta hoje com 57 (cinquenta e sete) anos de idade. Ocorre, Excelência, que em outubro de 2019, a Sra. FRANCISCA DO NASCIMENTO foi diagnosticado portadora de transtorno depressivo com sintomas catatônicos (CID n.º F06.1 e F33.9), doença que lhe inflige impedimento de longo prazo de natureza mental e intelectual, deixando-a acamada e impossibilitada de realizar suas atividades diárias sem auxílio de uma cuidadora, visto que esta já não possui mais discernimento para tais atos, sendo sua irmã LUZIA DO NASCIMENTO GOMES responsável pelos seus cuidados. Diante de todos os fatos a Sra. LUZIA DO NASCIMENTO GOMES, a qual informou em audiência realizada no dia 24 de junho de 2020, na 7ª promotoria de justiça de sobral, não possui mais condições psicológicas e emocionais para permanecer responsável pelos cuidados da curatelada, bem como pela administração do benefício da Sra. FRANCISCA DO NASCIMENTO. Cabe registrar que a Sra. FRANCISCA DO NASCIMENTO é solteira e sem filhos, tendo a autora manifesto interesse em assumir a responsabilidade de seus cuidados para si. Sendo assim, restou ajustado que a Sra. LUZIA DO NASCIMENTO GOMES entregará à Sra. SEVERINA DO NASCIMENTO, até o dia 1º de julho de 2020, toda a documentação, bem como os cartões do benefícios, a fim de que esta passe a administrar, por completo, os cuidados inerentes às pessoas com deficiência. A Sra. Francisca possui 4 (quatro) irmãos, no caso a assistida e outros 3 (três), todos residentes em Sobral-CE e que concordam com o pedido de curatela. Dois deles firmaram declaração de anuência ao pleito; o 3º encontra-se internado e impossibilitado de assinar. Destarte, ante esse déficit físico-intelectual, pois sua doença ataca diretamente o sistema neural, a interditanda vive sob a vigilância da autora, já que não detém o elementar discernimento para realizar os atos da vida civil sozinha. Esclarece a autora, que é sua irmã. Desta feita, dada a necessidade de curatela da interditanda para pagamento de despesas de custeio, internação, vestuário, etc, necessita a autora o reconhecimento por este Juízo de sua aptidão para figurar como curadora da interditanda, a fim de que possa gerir não só sua vida financeira, mas possa, ao menos, ajudar no custeio de um tratamento longo e sem perspectiva de melhora a médio prazo. É a síntese do necessário. DO DIREITO DA LEGITIMIDADE ATIVA A legitimidade para o ajuizamento de ação de interdição é prevista nos artigos 1.768 e 1.769 do Código Civil (modificados pela Lei nº 13.146 /2015-Estatuto da Pessoa com Deficiência), sic: Art. 1.768. O processo que define os termos da curatela deve ser promovido: I - pelos pais ou tutores; II - pelo cônjuge, ou por qualquer parente; III - pelo Ministério Público. IV - pela própria pessoa. O artigo 747, do Novo Código de Processo Civil estabelece: Art. 747. A interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II - pelos parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando; IV - pelo Ministério Público. Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial. No caso em análise, a autora é irmã da Sr(a). FRANCISCA DO NASCIMENTO, conforme prova documental em anexo, tendo legitimidade ativa para ingressar com a presente ação. DA DEFICIÊNCIA Os artigos 3º e 4º do Código Civil, após a modificação efetuada pela Lei nº 13.146 /2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), estabelecem: Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. O artigo 1.767 do Código Civil estabelece o rol de sujeitos à curatela: Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; II - (Revogado); III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; IV - (Revogado); V - os pródigos. Os artigos 2º da Lei nº 13.146 /2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) estabelece: Art. 2o Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1o A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III - a limitação no desempenho de atividades; e IV - a restrição de participação. No caso em análise, a curatelada acometida pela doença é portadora de transtorno depressivo com sintomas catatônicos (CID n.º F06.1 e F33.9), doença que lhe inflige impedimento de longo prazo de natureza mental e intelectual, consistindo em perda da sua capacidade civil, incapacitando-a de exercer suas atividades habituais, causando esquecimentos e vários outros sintomas, deixando-a acamada e impossibilitada de realizar suas atividades diárias sem auxílio de uma cuidadora, visto que esta já não possui mais discernimento para tais atos. Assim, enquadra-se claramente na condição de deficiente, sendo merecedora da proteção legal. DO(A) CURADOR(A) O artigo 1.772, parágrafo único, 1.775 e 1.775-A, do Código Civil (modificadospela Lei nº 13.146 /2015 -Estatuto da Pessoa com Deficiência) estabelecem: Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencialidades da pessoa, os limites da curatela, circunscritos às restrições constantes do art. 1.782, e indicará curador. Parágrafo único. Para a escolha do curador, o juiz levará em conta a vontade e as preferências do interditando, a ausência de conflito de interesses e de influência indevida, a proporcionalidade e a adequação às circunstâncias da pessoa. Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito. §1o Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto. § 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos. § 3o Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do curador. O artigo 755, §1º do Novo Código de Processo Civil estabelece: Art. 755. (…) § 1o A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado. No caso em análise, a curatela deve ser atribuída à autora, pessoa proba, que já exerce os cuidados com saúde, segurança alimentar e administração patrimonial da deficiente, sendo a pessoa que melhor atende aos interesses da curatelada e não possui conflito de interesses com a deficiente. DA CURATELA PROVISÓRIA O artigo 87 da Lei nº13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) estabelece: Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os interesses da pessoa com deficiência em situação de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a requerimento do interessado, nomear, desde logo, curador provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às disposições do Código de Processo Civil. O artigo 749, parágrafo único do Código de Processo Civil estabelece: Art. 749. (...) Parágrafo único. Justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando para a prática de determinados atos. O artigo 1.771 do Código Civil (modificado pela Lei nº 13.146 /2015 - Estatuto da Pessoa com Deficiência) estabelece: Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos da curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe multidisciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando. No caso em análise, o deferimento de CURATELA PROVISÓRIA é medida relevante e urgente que se impõe, pois a documentação médica carreada aos autos aponta, mesmo que preliminarmente, a incapacidade da curatelada, bem como essa necessita de pessoa apta e autorizada a representá-la perante o INSS, órgãos de saúde e banco onde recebe seu benefício previdenciário. DOS PEDIDOS Assim, requer a Vossa Excelência: 1) o recebimento da inicial com a qualificação apresentada (cf. artigo 319, inciso II, e §2º e 3ºdo CPC/151); 2) o processamento da ação sob segredo de justiça (cf. artigo 189, inciso I do CPC/151) e durante as férias forenses (cf. artigo 215, inciso I do CPC/152); 3) o deferimento da gratuidade judiciária integral para todos os atos processuais (cf. artigo 98 caput e §1º e §5º do CPC/151); 4) a citação do(a) curatelado(a) para comparecer em dia designado e ser entrevistado pessoalmente pelo(a) juiz(a), auxiliado(a) por equipe multidisciplinar (cf. artigo751 caput do CPC/151 c/c artigo1.771 do CC/021); devendo o(a) juiz(a) ir ao seu encontro e ouvi-lo(a) onde estiver caso não lhe seja possível deslocar-se (cf. artigo 751, §1º do CPC/151 ); 5) a intimação do Ministério Público Estadual para manifestar-se previamente acerca da curatela provisória (cf. artigo 87 do Estatuto da Pessoa com Deficiência); 6) o deferimento de CURATELA PROVISÓRIA, autorizando a autora a praticar em nome da curatelada atos relacionados ao exercício de direitos de natureza patrimonial e negocial, tais como: (A) saque do benefício assistencial/previdenciário; (B) aquisição e venda de bens/produtos; (C) contratação/rescisão de serviços e (D) quitação e assunção de dívidas, no curso do processo ou até que o curatelado(a) reconquiste a autonomia para a prática de tais atos em igualdade de condições com as demais pessoas da sociedade atestado por alta médica (cf. artigo 87 do Estatuto da Pessoa com Deficiência1 c/c artigo 749, parágrafo único do CPC/152 c/c artigo 1.771do CC/022); 7) a nomeação de curador especial caso a curatelada não apresente impugnação ao pedido no prazo de 15 dias, contados da entrevista, ou declare não possuir condições para contratação de advogado, devendo em ambos os casos o múnus recair sobre Defensor(a) Público(a) Estadual (cf. artigo 751, §2°2c/c artigo 752 do CPC/153); 8) a realização de perícia médica, devendo o laudo pericial indicar, se atestada a deficiência, os atos para os quais haverá necessidade de curatela (cf. artigo 753, §2º do CPC/153) 9) a intimação do Ministério Público Estadual para emitir parecer final na condição de fiscal da ordem jurídica (cf. artigo, §1° do CPC/156) 10) Ao final proferir sentença de resolução de mérito, no sentido de: 10.1) reconhecer que o(a) Sr(a). FRANCISCA DO NASCIMENTO, encontra-se na condição de deficiente, pois desde outubro de 2019, é portadora de transtorno depressivo com sintomas catatônicos (CID n.º F06.1 e F33.9), doença aquela que lhe inflige impedimento de longo prazo de natureza mental e intelectual. 10.2) declarar que o impedimento de longo prazo de natureza mental e intelectual apresentado pela Sra. FRANCISCA DO NASCIMENTO obstrui a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas e afeta a prática de atos relacionados ao exercício de direitos de natureza patrimonial/negocial, tais como: (A) saque do benefício assistencial/previdenciário; (B) aquisição/venda de produtos/bens; (C) contratação/rescisão de serviços e (D) quitação/assunção de dívidas. 10.3) determinar que a Sra. FRANCISCA DO NASCIMENTO seja submetida à CURATELA, nomeando a autora sua curadora; 10.4) fixar os LIMITES DA CURATELA, no sentido de autorizar a curadora a exercer em nome da curatelada os atos relacionados ao exercício de direitos de natureza patrimonial/negocial adiante elencados: (I) saque do benefício assistencial/previdenciário; (II) aquisição de bens/produtos de primeira necessidade; (III) contratação de serviços/tratamentos destinados a promover a melhora da condição de saúde/vida do(a) curatelado(a) e conquista de sua autonomia; (IV) pagamento de despesas essenciais e quitação de dívidas contraídas anteriormente; 10.5) fixar como PRAZO FINAL DA CURATELA o dia em que o impedimento de longo prazo de natureza física/mental/intelectual/sensorial cesse/diminua a ponto do(a) curatelado(a) poder exercer de forma autônoma, em igualdade de condições com as demais pessoas da sociedade, os atos relacionados ao exercício de direitos de natureza patrimonial/negocial anteriormente especificados atestado por alta médica; Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidas em direito, notadamente depoimento pessoal das partes, oitiva de testemunhas, exame pericial e juntada posterior de documentos. Atribui à causa o valor de R$ 1.045,00 (um mil e quarenta e cinco reais). Nestes termos, Pede e espera deferimento. Sobral - CE, 28 de agosto de 2020. DAVID GOMES PONTES DEFENSOR PÚBLICO ESTADUAL MAT. Nº 301.179-1-3 Antonio Eufrásio Caetano Acadêmico do Curso de Direito Faculdade Luciano Feijão João José Bezerra Diniz Acadêmico do Curso de Direito Faculdade Luciano Feijão
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