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Oficinas e Estudos Temáticos: Infância e Adolescência Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Maria Raimunda Chagas Vargas Rodriguez Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites História do ser criança e adolescente no decorrer da história 5 • A Infância na Idade Média • Infância e Adolescência no Brasil Colonial • A infância e a Adolescência durante o Escravismo Colonial • Trabalho Infantil nas Fábricas • Infância e Adolescência na Contemporaneidade · Conhecer quais são as características históricas que permeiam a infância e a juventude; · Compreender como foram se delineando historicamente os primeiros indícios de direitos para esse público; · Descobrir se ocorreram mudanças até a chegada à contemporaneidade. Durante essa unidade, mergulharemos na história da criança e do adolescente desde a Idade Média, capturando brevemente os aspectos mais marcantes de períodos históricos diferentes. É importante perceber as características apontadas por cada autor e em como elas influenciaram e influenciam a contemporaneidade. Nesse sentido, sua participação é fundamental para o bom aproveitamento da disciplina. • Faça a leitura do conteúdo com atenção; • Realize as atividades propostas para fixação do aprendizado; • Participe do Fórum da disciplina; • Tente acessar o material complementar direcionado pelo tutor; • Em caso de dúvidas, contate a equipe do campus virtual. Até a próxima e bons estudos! História do ser criança e adolescente no decorrer da história 6 Unidade: História do ser criança e adolescente no decorrer da história Contextualização Durante o nosso cotidiano, deparamo-nos com situações que desconhecemos a origem. Ao estudar a disciplina, teremos alguns conhecimentos históricos de costumes que observamos diariamente. Por exemplo, o simples gesto de tirar uma foto em família, hoje é comum, mas durante a Idade Média, como eram retratadas as famílias com suas crianças? Fonte: Thinkstock/Getty Images 7 A Infância na Idade Média Iniciaremos nosso estudo realizando um resgate histórico do conceito de infância durante a Idade Média. Nesse período, dava-se pouca importância à infância como fase de desenvolvimento humano e social. Não havia preocupações em relação ao que as crianças deveriam vestir ou estudar – por exemplo, elas conviviam igualmente entre os adultos e chegavam a ser retratadas em obras artísticas da época como adultos com estatura menor. Philippe Ariès (1981) elucida que foi em meados do século XIII que apareceriam crianças que receberiam tratamento semelhante ao que conhecemos hoje. Seja na figura da inocência dos anjos, na figura religiosa do Menino Jesus ou na representação de crianças nuas, havia uma tentativa de representar a criança de uma forma mais sentimental, ou seja, as crianças tinham suas particularidades que as diferenciavam dos adultos. Nos três tipos há intenção de demonstrar a inocência e a pureza da infância, que deveria ser preservada da parte “suja” do mundo adulto. Foi a partir dessas pequenas mudanças que as crianças começaram a ter visibilidade nas famílias, de acordo com o estudo de Ariès, as crianças passaram a aparecer ao lado dos pais nos grandes retratos de família – inicialmente, elas nunca eram retratadas sozinhas, em nenhuma circunstância. Nesse momento, ainda, foi o início do costume vesti-las com roupas próprias que caracterizavam essa fase da vida. A partir do século XVII, as crianças começaram a ser retratadas sozinhas e a assumirem um papel diferenciado na organização familiar, como observa o autor: Foi no século XVII que os retratos de crianças sozinhas se tornaram numerosos e comuns. Foi também nesse século que os retratos de família, muito mais antigos, tenderam a se organizar em torno da criança, que se tornou o centro da composição (ARIÈS, 1981, p. 28). É importante ressaltar que nem todas as crianças eram vistas dessa forma, apenas as de famílias burguesas e nobres. As crianças do povo continuaram se vestindo como adultos e vivendo como um. Não existia delimitação da adolescência para o fim do ciclo infantil como conhecemos atualmente. Figura 1 - Les enfants Habert de Montmort – Philippe de Champaigne (1649) 8 Unidade: História do ser criança e adolescente no decorrer da história Diálogo com o Autor Os historiadores chamam de Idade Média o período da história da Europa (de toda a Europa!), que se estende do século V depois de Cristo até o século XV. Mil anos! Longo período em que a maneira de homens e mulheres viverem era muito diferente da de hoje (SCHMIDT, 2005, p. 80). Portanto, foi a partir dos séculos XVI e XVII que os sentimentos com relação às crianças e à família começaram a se modificar lentamente e profundamente (mesmo que não fosse percebido), uma vez que nem toda a população aderia a esse novo modo de olhar para a infância. Era natural para as famílias medievais enviarem seus filhos para casas de outras pessoas a partir dos sete anos de idade. As crianças permaneciam com outras famílias por sete ou nove anos, ou seja, até o período da adolescência. Enquanto estavam nessas casas, as crianças realizavam os serviços domésticos e eram chamadas de aprendizes. Essa era uma forma de ensiná-las boas maneiras como servidores e também um oficio. Era através do serviço doméstico que o mestre transmitia a uma criança, não ao seu filho, mas ao filho de outro homem, a bagagem de conhecimentos, a experiência prática e o valor humano que pudesse possuir (ARIÈS, 1981, p. 228) . A transmissão do conhecimento não acontecia como vivenciamos hoje, através da escola; na Idade Média não era comum frequentar escolas, elas eram destinadas a um público restrito, por exemplo, os clérigos. O conhecimento advinha da prática, da vivência das crianças com os adultos, por isso não havia separação de idades. Figura 2 - Mestre Padeiro e Aprendiz. Fonte: Wikimedia Commons Os vínculos familiares não eram mantidos pelo afeto, pois os filhos saiam de casa muito novos, o que não permitia uma maior aproximação entre pais e filhos. Além disso, a família era vista através da honra de seus nomes e de seus patrimônios, possuía um significado moral e social, o que deixava a parte sentimental distante da realidade familiar. No século XV, um fato precede o que vimos anteriormente com relação aos sentimentos que envolviam a infância e a família: a expansão das escolas. Nesse sentido, o ensino não seria mais restrito, como dito anteriormente, tornando-se a preparação das crianças para a vida adulta. 9 Inicialmente não se separaram os alunos por faixa etária, a única regra era a idade para a entrada na vida escolar. Com o fim da primeira-infância (05/06 anos), as crianças deixavam de ser amamentadas, perdendo o vínculo com a família e as amas. Aos sete anos elas poderiam entrar nos colégios. Ariès relata que após essa delimitação de idade, “mais tarde, a idade escolar, ao menos a idade de entrada para as três classes de gramática, foi retardada para os 9-10 anos” (ARIÈS, 1981, p. 114). Foi nesse momento que começaram a dividir as crianças em classes escolares levando em consideração as idades, ou seja, era o início da delimitação da infância para a adolescência. A partir dos esforços de alguns pais, no início do século XVII, “criou-se uma rede muito densa de instituições escolares de importância diversa” (ARIÈS, 1981, p. 232). Esse acontecimento criava novos vínculos afetivos entre as crianças e seus pais, demonstrando a preocupação dos pais com a educação dos filhos, e não apenas com a moral ou a linhagem da família. Junto à expansão escolar, a necessidade de disciplina foi outro aspecto marcante desse período. Para alguns homens esclarecidos da época, as crianças precisavam saber que existiam hierarquias para controlar os excessos de liberdade. A partir de então, os mestres escolhidos para conduzir as classes não deveriam estabelecer laços de “camaradagem” com as crianças e, além de transmitirem os conhecimentos, “elesdeviam, além disso, e em primeiro lugar, formar os espíritos, inculcar virtudes, educar tanto quanto instruir” (ARIÈS, 1981, p. 117). O modelo disciplinar seria mantido através de métodos como a vigilância constante e os castigos corporais que em pouco tempo (séculos XV e XVI) se tornariam uma prática comum na sociedade medieval. Outra característica ressaltada por Ariès é a segregação que existia entre meninos e meninas nas famílias: as meninas eram enviadas para outras famílias, conventos ou escolas afastadas, elas não tiveram a oportunidade de escolarização antes do século XVIII e início do século XIX. Outra distinção que era feita entre as crianças dizia respeito à idade dos filhos. Os filhos mais velhos possuíam privilégios para que se mantivesse a honra da família, pois se os filhos tivessem os direitos iguais, disputariam entre si o poder, diante disso, ou o filho mais velho (primogênito) era escolhido pelos pais ou qualquer outro dos filhos. Como estamos observando, a trajetória da infância até a adolescência não era de grande visibilidade para os adultos na Europa. Vimos que desde o início da Idade Média as crianças eram tratadas como adultos e conviviam nesse meio para aprender na prática a viver, o que para a época tornava a escolarização uma ferramenta de ensino de pouca importância. Percebemos até aqui a importância da escola para a construção da família moderna, que passou a dar maior valor à formação moral e intelectual das crianças, e como esses dois agentes de socialização primária e secundária dos indivíduos foram sofrendo modificações ao longo da história. Reflita Em que aspectos os costumes medievais nos remetem aos costumes contemporâneos? , 10 Unidade: História do ser criança e adolescente no decorrer da história Infância e Adolescência no Brasil Colonial A Chegada dos Jesuítas Continuando com nosso estudo sobre a história da infância, iremos nos aprofundar na história do Brasil e em como a influência europeia trazida pelos colonizadores foi sendo introduzida por meio da religião e da disciplina nos costumes, principalmente, relacionados às crianças indígenas no momento da colonização. Mary Del Priore, no livro História da criança no Brasil, traz um panorama da infância no período colonial brasileiro. Com a chegada dos portugueses, o cenário das terras brasileiras começou a mudar com a instalação de vilarejos e capelas, além do início de plantações que seriam favorecidas pelo clima quente e úmido do litoral. Ao pisarem em solo brasileiro, no século XIV, os colonizadores se encantaram pelas belezas naturais. Porém, mesmo em meio a tanto encantamento, aos olhos europeus, a Terra de Santa Cruz precisava de ordem. Mas além das mudanças na paisagem, a intenção dos colonizadores era, por meio da disciplina, adestrar moral e espiritualmente a força de trabalho indígena para explorar ao máximo as riquezas do país, nesse sentido “[...] as almas indígenas deviam ser ordenadas e adestradas parar receber a semeadura da palavra de Deus” (DEL PRIORE, 1991, p. 11). Como vimos no item anterior, foi a partir do século XVI que, na Europa, os sentimentos com relação à infância começariam a mudar, o que influenciou as ações dos jesuítas ao chegarem ao Brasil. Del Priore esclarece que em meados do século XVII, em Portugal, já havia melhorias em relação à legislação de proteção às crianças que eram rejeitadas por suas famílias, elas eram retiradas das ruas para que tivessem melhores condições de sobrevivência. Com a expansão da imagem e devoção do menino Jesus no século XVII, a comparação da infância de Cristo com a das outras crianças tornou-se inevitável. A pureza e a delicadeza da criança estavam estampadas no exemplo de Jesus, e foi esse modelo que também influenciou a Companhia de Jesus a encarar as crianças indígenas como papeis em branco nas quais ainda não havia inscrições dos pecados. Ou seja, houve a doutrinação dos curumins que se juntavam aos órfãos portugueses, os quais eram disciplinados por meio do “amor correcional” movido por castigos físicos. Lentamente a população indígena ia perdendo seus costumes para as características europeias através da incorporação de uma nova religião, de um novo idioma, de novas roupas, etc. Sugestão de vídeo: A criança no Brasil Colônia – Mary Del Priore https://www.youtube.com/watch?v=INSKaEjHYx4 Figura 3 - Padre Antonio Vieira Fonte: Sec. Nacional da Pastoral da Cultura 11 Criaram-se hábitos como o batismo e a catequese para o ensino religioso das crianças que deveriam se confessar periodicamente À medida que iam se aperfeiçoando na leitura e escrita, algumas crianças viravam interpretes para os jesuítas, o que facilitava a doutrinação. Diálogo com o Autor A presença de intérpretes chamados pelos padres de “meninos língua” era constante: “para nos ajudarem na conversão dos gentios”, explicava Anchieta (DEL PRIORE, 1991, p. 17). Foram construídas pequenas instalações com área de estudo, refeitório e sacristias. Eram locais onde ficavam reunidos os órfãos, os curumins e os padres. A alimentação basicamente era constituída das raízes que se plantava – por exemplo a mandioca –, da caça e pesca. Aos poucos, os colonizadores foram introduzindo a criação de gado para a obtenção de leite para a nutrição. Para os europeus, “andar nu” era um hábito que deveria ser mudado, assim foram encomendados “panos” para cobri-los. As brincadeiras e o lazer das crianças baseavam- se em banhos de rio, corridas, além das danças em que se mostrava claramente a cultura indígena. Esses costumes não eram vistos com naturalidade pelos colonizadores que cada vez mais impunham um discurso disciplinador baseado no medo. Associavam os momentos de dificuldade das tribos, como doenças e epidemias, a castigos por causa de suas “ações malignas”. A puberdade das crianças indígenas era vista como um momento em que as crianças começavam a apoderar-se de si. O período da adolescência era encarado como o fim da imagem da criança inocente e vulnerável que era representada pelo menino Jesus, os adolescentes eram vistos como “ervas daninhas”. Como elucida Del Priore, Nota-se também uma nostalgia da criança “meúda”, pequena e vulnerável na qual se podia projetar o menino Jesus. A puberdade aos olhos dos padres catequistas é a idade perigosa e ingrata na qual as raízes falam mais alto (DEL PRIORE, 1991, p. 23). Era na puberdade que as crianças começavam a seguir os exemplos dos genitores e iam contra os padrões coloniais. Os adolescentes se tornavam ingratos aos olhos dos colonizadores, pois a partir dessa fase eles começavam a seguir os costumes dos seus pais, ou seja, suas raízes. Figura 4 - Reprodução da cabana de Tibiriçá, onde os jesuítas se abrigaram no dia 25 de janeiro de 1554. Fonte: quadro de O.C. Mello 12 Unidade: História do ser criança e adolescente no decorrer da história A infância e a Adolescência durante o Escravismo Colonial Figura 5 - Obra de Jean-Baptiste Debret – O Jantar no Brasil, 1827. Para contextualizar a infância e a adolescência nesse período, precisamos relembrar que no momento da colonização brasileira os portugueses escravizaram inicialmente os índios, que habitavam o território. A partir do século XVII, os colonizadores começaram a utilizar mão-de- obra escrava indígena e africana (através do tráfico negreiro). Com a morte de muitos escravos indígenas causadas, entre outros motivos, pelas doenças (gripe, sarampo, varíola)1 trazidas pelos europeus e pelo massacre que sofreram por esses, o tráfico de escravos africanos tornou-se prática comum entre os colonizadores. Foi nesse contexto que as crianças, filhos das escravas, marcaram o histórico brasileiro. Com base no texto O Filho da Escrava, de Katia Mattoso (1988), observamos que as crianças eram consideradas “crianças” até os sete anos de idade, ou escravos com estatura menor, após essa idade já se tornavam aptas para o trabalho. A partir da lei de 28 de setembro de 1871, conhecida como“Lei do Ventre Livre” ou “Lei Rio Branco”, os senhores dos escravos, em relação aos filhos das escravas, tinham como obrigação tratá-los e criá-los até os oito anos de idade; atingindo essa idade, o senhor poderia receber uma indenização do Estado ou permanecer com a custodia dos escravos até atingirem os vinte e um anos de idade, onde, enquanto isso, prestariam serviços a seus senhores até serem liberados. A Lei do Ventre Livre trouxe outro aspecto relevante: permitiu o trânsito das crianças nas cidades, que se tornariam os “primeiros meninos de rua”. Nesse sentido, essa divisão de idades tornava a transição da infância para a adolescência dos escravos rápida, pois acontecia antes dos doze anos, como vimos no parágrafo anterior. Com relação à vida nos engenhos de açúcar e na casa grande, as crianças escravas (até os sete anos) podiam participar das brincadeiras com os filhos dos senhores e andar pela casa. Diálogo com o Autor Nas grandes propriedades de engenhos de açúcar, as crianças escravas passeiam com toda a liberdade, participando das brincadeiras das crianças brancas e das carícias das mulheres de casa, verdadeiros “cúpidos de ébano”, como os classifi cou um viajante ao descrever a admiração beata dos senhores [...] (MATTOSO,1988, p. 43). 1 Cf. SCHMIDT, 2005:196. 13 Trabalho Infantil nas Fábricas O trabalho infantil na indústria começa a figurar em São Paulo a partir da década de 1870, “sobretudo nos estabelecimentos têxteis e em pequenas oficinas” (MOURA, 1992, p. 113). Em 1917, em meio à fase de industrialização do país, começam a surgir as primeiras grandes fábricas no estado de São Paulo, por exemplo, as indústrias Matarazzo. Eram publicados anúncios nos jornais da época a procura de crianças e adolescentes que procuravam trabalho para ajudar a complementar a renda miserável das famílias operárias. Figura 6 Fonte: exhibitenvoy.org O uso da mão-de-obra infantil torna-se interessante para o empresariado, pois diminui os custos da produção ao não terem que pagar pelo trabalho de um adulto, ou seja, o trabalho das crianças gerava lucro. Assim, no processo de acumulação de capital, o menor adquire uma dada função, à medida que a mecanização torna possível absorver mão-de-obra em idade ainda precoce – percorrendo, muitas vezes, as etapas iniciais do processo de desenvolvimento físico – e, como é fácil prever, profissionalmente inexperiente (MOURA, 1992, p. 112). Os jovens eram chamados para trabalhar por meio de anúncios em classificados de jornais da época, que eram caracterizados com “expressões como meninos, meninas, crianças e mesmo aprendiz ou aprendizes” (MOURA, 1992, p. 114). Porém a inserção desses jovens no trabalho fabril provocava inúmeros acidentes de trabalho, mesmo que as máquinas fossem “personalizadas” para a estatura dos jovens trabalhadores. Os casos de acidentes com as crianças nas fábricas saiam nos jornais e denunciavam a precária condição de trabalho a que eram submetidas. 14 Unidade: História do ser criança e adolescente no decorrer da história A partir da iniciativa do Centro Libertário de São Paulo, é que se iniciam questionamentos acerca da segurança no trabalho das crianças, que deveria ser regulamentada como medida de proteção. Em 1891, já existiam algumas medidas que visavam regularizar o trabalho infantil nas fábricas. A pouca experiência dos trabalhadores juntamente a pouca idade tornavam-nos alvos fáceis dos acidentes nas máquinas, as quais eles também não sabiam como manejar. As crianças geralmente aparentavam estar doentes por ficarem expostas a longas jornadas de trabalho, eram consideradas responsáveis pelos acidentes que causassem no ambiente de trabalho, por serem avaliadas como “imprudentes”. Usava-se como pretexto que as crianças brincavam durante o trabalho e por isso causavam os acidentes, por distração. O fato é que esses jovens perdiam momentos preciosos de sua infância e adolescência ao vender sua força de trabalho por quantias miseráveis e que nem sempre eram pagas. Percebemos o quanto os direitos das crianças e adolescentes eram negligenciados, como jovens e como humanos, em detrimento da expansão capitalista. Sobre a situação dos trabalhadores e das crianças trabalhadoras. Sugestão de fi lme: Como era verde o meu vale Título original: How Green Was My Valley Diretor: John Ford Leia a Sinopse: http://www.adorocinema.com/� lmes/� lme-1594/ Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3jIB_FIv0Kg Podemos perceber até aqui a influência europeia nos costumes indígenas a partir do período colonial brasileiro, além de estudar o escravismo colonial e a infância operária. Observamos que ações de respeito com relação à infância e à adolescência progrediam lentamente, mas começaram a figurar nos países europeus – como vimos o exemplo de Portugal, que retirava as crianças órfãs das ruas para que pudessem ter outra oportunidade de sobrevivência. A proteção integral às crianças e adolescentes é um assunto atual e recente na legislação brasileira, que veio a partir da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei n° 8.069/90, um assunto que será estudado nas próximas unidades. Figura 7 Fonte: laerciojsilva.blogspot.com.br 15 Infância e Adolescência na Contemporaneidade A proteção integral da infância e adolescência é um assunto vigente em nossos dias. Diariamente nos deparamos com notícias veiculadas pela mídia, da juventude que está sendo lesada em seus direitos fundamentais. Nesse item, iremos conhecer brevemente alguns marcos regulatórios importantes para o tema. A partir dos estudos de Mione Apolinario Sales, iremos desenvolver um debate sobre os direitos das crianças e dos adolescentes que foram sendo conquistados historicamente, por isso, o estudo da infância desde a Idade Média se torna importante para essa discussão. Como vimos anteriormente, as crianças eram excluídas da vida familiar em tenra idade, e iniciavam suas vidas no trabalho aprendendo ofícios com seus mestres. Nosso modelo atual de juventude é marcado pela violência social, descrita por Sales, a partir dos autores Minayo e Telles, como uma categoria que envolve inúmeras questões, algumas são: “a desigualdade, o desemprego, a precarização do trabalho, a degradação das condições de vida, a incivilidade, a alienação no trabalho e nas relações [...], dentre outras” (SALES, 2007, p. 21). Dessa forma, nosso histórico tornou a infância e a juventude invisíveis socialmente, em consonância com o processo de produção excludente que perpetua a injustiça social, a visibilidade acontece apenas “em momentos de crise, conflitos e violência extrema, sofrida ou praticada por eles” (SALES, 2007, p. 22). Podemos visualizar alguns pontos diferenciados da Idade Média e do Período Colonial no que se refere às crianças e aos adolescentes. Por exemplo: os marcos regulatórios como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que foi promulgado em 1990, e aparece no histórico brasileiro como a regulamentação mais importante para a garantia de direitos das crianças e adolescentes atualmente. O reconhecimento de que ser criança ou adolescente são fases de desenvolvimento humano diferenciadas até que se chegue à vida adulta e de que há a necessidade de proteger os indivíduos nesse período representam um avanço se compararmos aos costumes que estamos estudando desde a Idade Média. O estudo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) será iniciado na próxima unidade, mas que tal começar a ter contato e saber onde procurá-lo quando precisar desde já? https://goo.gl/XE9ht A adolescência na sociedade contemporânea representa a preparação para a vida adulta e a consequente entrada no mercado de trabalho, mas nem todos os nossos jovens terão a mesma oportunidade – um aspecto que vimos anteriormente: os filhos das famílias ricas europeias tinham aulas de música ou a oportunidade de estudar, enquanto os filhos dos camponeses eram desde criança inseridos notrabalho adulto. 16 Unidade: História do ser criança e adolescente no decorrer da história Nesse sentido, podemos destacar dois pontos importantes que são destacados na obra de Sales (2007): o primeiro diz respeito ao que a autora chama de cidadania escassa e o segundo refere-se à tentativa das crianças e dos adolescentes de terem visibilidade social em meio à violação de seus direitos como cidadãos. Com relação à cidadania escassa, podemos nos basear na falta de proteção e efetivação de direitos que estão presentes no ECA em suas disposições preliminares: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (ECA, Título I, Art.4°). No que se refere à visibilidade social, Sales (2007) nos leva a refletir sobre o que torna as crianças e os adolescentes visíveis socialmente nos tempos atuais. Se a juventude não recebe a atenção que deveria através da consolidação efetiva dos seus direitos, ela acaba recebendo atenção através da sua invisibilidade, o que Sales denomina como (in) visibilidade perversa. Diálogo com o Autor Assim, crianças e adolescentes vitimados, alvos de sucessivas violações de direitos sociais, a princípio, não se manifestam, não perturbam a ordem, a menos quando, já pela condição fronteiriça de quem quer transpor a (in) visibilidade perversa, tentam vender os seus chicletes nos bares e sinais (SALES, 2007, p. 24-25). Estudar a juventude não é tarefa fácil, crianças e adolescentes possuem suas particularidades que durante muito tempo passaram sendo ignoradas pelos adultos. Consideramos importante a discussão sobre o que a infância e a juventude significam para a sociedade atual. Será que devemos respeitá-los por estarem sendo preparados para a futura geração de trabalhadores ou por serem dotados de razão e sentimentos também? Em Síntese • Desenvolvimento histórico do ser criança e adolescente; • Conquista de direitos; • Violação dos direitos da infância e juventude. 17 Material Complementar Livros: BOCK, A.; FURTADO, O.; TEIXEIRA,M. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. (Livro disponível na biblioteca da Universidade Cruzeiro do Sul. Ler capítulo 18: “Adolescência: Tornar-se jovem”). Artigos: Mapa da violência 2014 – Jovens do Brasil. http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil_Preliminar.pdf Infância e adolescência na sociedade contemporânea: alguns apontamentos. http://ref.scielo.org/kwm8w4 18 Unidade: História do ser criança e adolescente no decorrer da história Referências ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. DEL PRIORE, Mary. História da criança no Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1992. MATTOSO, Kátia de Queirós. O Filho da Escrava (Em torno da Lei do Ventre Livre). Rev. Bras. De Hist., v.8, n. 16, p. 37-55. São Paulo, 1988. SALES, Mione Apolinario. (in) visibilidade perversa: adolescentes infratores como metáfora da violência. São Paulo: Cortez, 2007. SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica. São Paulo: Nova Geração,2005. 19 Anotações
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