Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A flexibilização do Direito Sucessório no século XXI Jorge Duarte Pinheiro 1 Sobre a sucessão imperativa (legitimária ou necessária) • Delimitação • Sucessão legitimária tout court (comum, hereditária): artigo 2156.º e s. do CC. • Sucessão legitimária anómala ou sob a forma de legado: artigo 1707.º-A/3 do CC; artigo 5.º da LUF. • Consideração central da primeira. 2 Bibliografia • CORTE-REAL, Carlos Pamplona, Curso de Direito das Sucessões, Lisboa, Quid Juris, 2012. • CORTE-REAL, Da imputação de liberalidades na sucessão legitimária, Lisboa, Centro de Estudos Fiscais, 1989. • MORAIS, Daniel, Direito Sucessório – apontamentos (introdução e estática sucessória), Lisboa, AAFDL, 2019. • PINHEIRO, Legado em substituição da legítima, Lisboa, Edições Cosmos, 1996. • PINHEIRO, Jorge Duarte, O Direito das Sucessões Contemporâneo, 4.ª edição, Lisboa, AAFDL, 2020 (no prelo). 3 O Direito das Sucessões Contemporâneo, 4.ª edição, Lisboa, AAFDL, 2020 4 O testamento do porco • O desenho que ilustra a capa teve como inspiração o “Testamentum ludicrum Grunnii Corocotae porcelli”. • Também conhecido como “Testamento do porco”, este “testamentum” burlesco consta de manuscrito aparentemente do século IV D.C., citado por São Jerónimo, que nasceu também no mesmo século. • Disponível em latim e em tradução para inglês (https://tlockyer.wordpress.com/2012/04/20/testamentum- porcelli-a-little-pigs-will/), o testamento ditado pelo leitão “Grunnius Corocotta”, num momento em que a sua vida se aproxima do fim por exigências de consumo humano, deixa, por morte do seu autor, cereais aos familiares porcinos e partes do corpo do próprio testador a seres humanos. • Dele se conhecem várias versões populares, incluindo uma portuguesa, disponível em https://porabrantes.blogs.sapo.pt/791610.html. 5 Flexibilização, sim • mas ainda não a ponto de se admitir que um animal faça testamento válido • ou que, pelo menos em Portugal, beneficie de capacidade testamentária passiva. • A flexibilização de que se fala respeita à relação entre sucessão legal e voluntária. 6 Bibliografia (estudos) • DIAS, Cristina Araújo, “A protecção sucessória da família – notas críticas em torno da sucessão legitimária”, em AA.VV., Autonomia e heteronomia no Direito da Família e no Direito das Sucessões, Coimbra, Almedina, 2016, pp. 447-461. • XAVIER, Rita Lobo, “Notas para a renovação da sucessão legitimária no Direito português”, em AA.VV., Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Carlos Pamplona Corte-Real, Coimbra, Almedina, 2016, pp. 351-372. 7 Liberdade de testar versus protecção da família 8 Roma Germânia Domínio árabe Património disponível 100% 0% officium pietatis 75% (séc. I) 20% (séc. VII) 33,3% Liberdade de testar versus protecção da família • Roma: direito anglo-americano • Germânia: direito romano-germânico • Portugal/património disponível • Séculos XIV-XVIII: 33,3 % • CC 1867, versão originária: 33,3% • CC 1867, versão de 1930: 50% • CC 1966: de 33,33 a 66,66% 9 Tópicos relativos à sucessão legitimária • Existência • Valor, quando existente ▫ Massa de cálculo ▫ Percentagem aplicável à massa de cálculo • Forma/natureza ▫ Pars creditoris ou crédito sobre a herança ▫ Pars bonorum ou legado ▫ Pars hereditatis ou quota da herança; a intangibilidade qualitativa. 10 Tópicos relativos à sucessão legitimária (cont.) • Titulares • Enunciado • Possibilidade/impossibilidade de exclusão; indignidade e deserdação • A situação dos ascendentes, do cônjuge e do companheiro 11 Duas questões específicas • O preenchimento da quota do herdeiro legitimário na partilha. • O enquadramento sucessório da doação ao cônjuge. 12 O preenchimento da quota do herdeiro legitimário na partilha • A intangibilidade qualitativa (artigo 2163.º do CC) • A partilha litigiosa ▫ Domínio legislativamente mais agitado no quadro de um ramo relativamente estático. ▫ A solução tradicional: licitação, na falta de unanimidade ▫ A solução de 2013: licitação, na falta de unanimidade ou maioria qualificada. 13 Solução de 2013 • Artigo 48.º, n.º 1, do RJPI • Na conferência preparatória da conferência de interessados, as quotas de todos os herdeiros podem ser preenchidas, por deliberação de dois terços dos herdeiros e independentemente da proporção que lhes caiba na herança. 14 Solução de 2019-20 • Regresso à unanimidade: é novamente exigível o acordo unânime dos herdeiros (art. 1111.º, n.º 2, do CPC) • O Regime Jurídico do Processo de Inventário, aprovado pela Lei n.º 23/2013, de 5 de Março, incluindo o tal artigo 48.º, n.º 1, foi entretanto revogado pela Lei n.º 117/2019, de 13 de Setembro. • Recuo em matéria de flexibilização. 15 O enquadramento sucessório da doação ao cônjuge • A relevância da vontade do autor da doação/sucessão. • A dúvida sobre o regime supletivo • A ausência de regra específica, dada a inaplicabilidade da colação e dos seus artigos. • A doação como antecipação da sucessão • A necessidade de protecção mínima da liberdade de testar • Evitar favorecimento excessivo do cônjuge 16 Demonstração • No momento da morte, A tinha bens no valor de 40. Doara em vida bens no valor de 50: 25 ao cônjuge e 25 ao filho A, um dos dois filhos sobrevivos. Tinha deixado por testamento a um amigo m bem no valor de 4. • VTH=90; QI=2/3 17 Esboço de mapa da partilha QI=60 QD=30 Cônjuge A 20 5+5+2 32 Filho A 20 5 +2 27 Filho B 20 5+2 27 Amigo --- 4 4 18 O que aconteceria se a doação ao cônjuge tivesse sido imputada na QD? QI=60 QD=30 Cônjuge A 20 25 45 (antes 32) Filho A 20 5 25 (antes 27) Filho B 20 --- 20 (antes 27) Amigo --- 4-4 0 (antes 4) 19 A doação ao cônjuge: um argumento adicional em 2018? • Artigo 2168.º do CC, na redacção da Lei n.º 48/2018, de 14 de Agosto • O n.º 1 corresponde à versão originária do artigo 2168.º • O n.º 2 dispõe o seguinte: • “Não são inoficiosas as liberalidades a favor do cônjuge sobrevivo que tenha renunciado à herança nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 1700.º, até à parte da herança correspondente à legítima do cônjuge caso a renúncia não existisse.” 20 Porta abandonada…e renascida • Estes e outros grandes problemas do Direito das Sucessões contemporâneo são considerados em obra da minha autoria: O ensino do Direito das Sucessões Contemporâneo, Lisboa, AAFDL, 2020, pp. 21 a 92. • O Direito das Sucessões não se ocupa da morte, mas da continuidade. 21 Obrigado pela atenção! 22
Compartilhar