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resumo de garantias constitucionais

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SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 2 
UNIDADE 2 – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ..................................... 5 
2.1 ORIGEM EVOLUTIVA E NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................. 5 
2.2 CLASSIFICAÇÃO E GERAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................... 7 
2.3 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................. 11 
2.5 TITULARES/DESTINATÁRIOS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ..................................... 17 
2.6 EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS OU EFICÁCIA 
HORIZONTAL ............................................................................................................ 19 
UNIDADE 3 – TÍTULO II – DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ...... 24 
3.1 CAPÍTULO I – DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (ART. 5º) ............. 24 
3.2 CAPÍTULO II – DOS DIREITOS SOCIAIS (ART. 6º AO 11) ............................................ 27 
3.3 CAPÍTULO III – DA NACIONALIDADE (ART. 12 E 13) ................................................. 29 
3.4 CAPÍTULO IV – DOS DIREITOS POLÍTICOS (ART. 14 A 16) ........................................ 32 
3.5 CAPÍTULO V – DOS PARTIDOS POLÍTICOS (ART. 17) ................................................ 33 
UNIDADE 4 – LIMITAÇÃO/RESTRIÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ......... 35 
4.1 ÂMBITO DE PROTEÇÃO ........................................................................................ 35 
4.2 RESTRIÇÕES ...................................................................................................... 36 
4.3 TIPOS DE RESTRIÇÕES ........................................................................................ 39 
UNIDADE 5 – REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS ...................................................... 42 
5.1 HABEAS CORPUS ................................................................................................ 43 
5.2 MANDADO DE SEGURANÇA .................................................................................. 44 
5.3 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO .................................................................. 50 
5.4 HABEAS DATA ..................................................................................................... 52 
5.5 MANDADO DE INJUNÇÃO ...................................................................................... 54 
5.6 AÇÃO POPULAR .................................................................................................. 55 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58 
 
 
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
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UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
São vários os ramos jurídicos que abrem suas portas e dão sua contribuição 
para que os Direitos Fundamentais do Ser Humano ganhem espaço para evoluir, se 
façam presentes e sejam respeitados. Mas é no Direito Constitucional que 
encontramos aportes teóricos e embasamentos bem enraizados que nos dão a 
dimensão real da liberdade e intangibilidade física e psíquica da pessoa humana. 
Os direitos e garantias fundamentais constituem um dos pilares do tripé do 
Estado de Direito, ao lado do enunciado da Legalidade e do Princípio da Separação 
de Poderes. 
Segundo NATHALIA MASSON (2014), como tanto os direitos fundamentais 
quanto os direitos humanos buscam assegurar e promover a dignidade da pessoa 
humana, e são direitos ligados, sobretudo, a valores caros à sociedade – tais como a 
liberdade e a igualdade –, reconhece-se que, quanto à finalidade, as expressões, de 
fato, se assemelham. 
De todo modo, a doutrina identifica uma diferença entre os termos, referente 
ao plano em que os direitos são consagrados: enquanto os direitos humanos são 
identificáveis tão somente no plano contrafactual (abstrato), desprovidos de qualquer 
normatividade, os direitos fundamentais são os direitos humanos já submetidos a um 
procedimento de positivação, detentores, pois, das exigências de cumprimento 
(sanção), como toda e qualquer outra norma jurídica (CANOTILHO, 1995). 
O Título I da Constituição brasileira de 1988, composto por quatro artigos, é 
dedicado aos denominados “princípios fundamentais” do Estado brasileiro. 
O nosso constituinte utilizou essa expressão genérica para traduzir a ideia 
de que nesses primeiros quatro artigos já se estabelecem a forma do nosso Estado 
e de seu governo, proclama-se o regime político democrático fundado na soberania 
popular e institui-se a garantia da separação de funções entre os poderes. Também 
neles encontram-se os valores e os fins mais gerais orientadores de nosso 
ordenamento constitucional, funcionando como diretrizes para todos os órgãos 
mediante os quais atuam os poderes constituídos (PAULO; ALEXANDRINO, 2008). 
O art. 1º da Constituição, em seu caput, resume a um só tempo, em uma 
única sentença, as características mais essenciais do Estado brasileiro: 
� a forma de Estado: trata-se de uma federação; 
 
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� a forma de governo: uma república; 
� o regime de governo: adota o regime político democrático (traz ínsita a ideia 
de soberania assentada no povo, ou seja, democracia participativa fundada 
na soberania popular); 
� enumera, em seus quatro incisos, os valores maiores que orientam nosso 
Estado. É um Estado de Direito, que implica a noção de limitação do poder e 
de garantia de direitos fundamentais aos particulares. 
Quanto aos valores, o constituinte denominou esses valores mais gerais de 
“fundamentos da República Federativa do Brasil”, exatamente para transmitir a 
noção de alicerces, de vigas mestras de nossa ordenação político-jurídica. 
Os fundamentos da República Federativa do Brasil são: 
a) a soberania; 
b) a cidadania; 
c) a dignidade da pessoa humana; 
d) os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; e, 
e) o pluralismo político. 
Então! São esses os conteúdos como bem denomina o título da apostila: 
“Direitos e Garantias fundamentais e os remédios constitucionais”. 
Para falarmos dos direitos e garantias fundamentais, que nada menos são 
do que os meios colocados a disposição dos cidadãos, visando sanar, corrigir ou 
evitar ilegalidade e abuso de poder que venha a causar lesão ou inobservância de 
direitos individuais, é preciso partir da teoria geral e do regime jurídico, conhecer as 
características desses direitos, quais suas funções, as dimensões objetiva e 
subjetiva e os titulares desses direitos e garantias. 
Falaremos também sobre a limitação/restrição desses direitos e sobre os 
remédios constitucionais: Habeas corpus, mandado de segurança, mandado de 
segurança coletivo, Habeas data, mandado de injunção e ação popular. 
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como 
premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um 
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados 
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, 
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, 
 
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incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma 
redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas 
opiniões pessoais. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, 
podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos 
estudos. 
 
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UNIDADE 2 – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 
2.1 Origem evolutiva e natureza jurídica dos direitos fundamentais 
Embora se atribua ao cristianismo e ao jus naturalismo as principais fontes 
de inspiração das declarações de direitos, elas nasceram de fato a partir de 
reivindicações e lutas do povo, no decorrer de muitos anos. Vale dizer, o fator 
histórico foi de fundamental importância porque estabeleceu as condições materiais 
objetivas, as quais, aliadas às condições subjetivas introduzidas pelo pensamento 
cristão e pelo jusnaturalismo, conjugaram-se para a sua formulação 
(MASCARENHAS, 2008). 
Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA (2002, p. 173), as condições reais ou 
históricas (objetivas ou materiais), em relação às declarações do século XVIII, 
manifestaram-se na contradição entre o regime da monarquia absoluta, 
estagnadora, petrificada e degenerada, e uma sociedade nova tendente à expansão 
comercial e cultural. 
Vale lembrar que as condições subjetivas ou ideais ou lógicas consistiram 
precisamente nas fontes de inspiração filosófica anotadas pela doutrina francesa: 
1) O pensamento cristão, como fonte remota, porque, na verdade, a 
interpretação do cristianismo que vigorava no século XVIII era favorável ao status 
quo vigente, uma vez que o clero, especialmente o alto clero, apoiava a monarquia 
absoluta, e até oferecia a ideologia que a sustentava, com a tese da origem divina 
do poder; o pensamento cristão vigente, portanto, não favorecia o surgimento de 
uma declaração de direitos do homem; o cristianismo primitivo, sim, continha a 
mensagem de libertação do homem, na sua afirmação da dignidade eminente da 
pessoa humana, porque o homem é uma criatura formada à imagem e semelhança 
de Deus, e esta dignidade pertence a todos os homens sem distinção, o que indica 
uma igualdade fundamental de natureza entre eles [...]. 
2) A doutrina do direito natural dos séculos XVII e XVIII, de natureza 
racionalista, fundada assim na natureza racional do homem, faz descer a este o 
fundamento do poder político e também o Direito positivo em contraposição à 
‘divinização’ que sustentava o regime absolutista vigente [...]. 
3) Pensamento iluminista, com suas ideias sobre a ordem natural, sua 
exaltação às liberdades inglesas e sua crença nos valores individuais do homem 
 
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acima dos valores sociais, firmando o individualismo que exala dessas primeiras 
declarações dos direitos do homem. 
Mas, em verdade, esses fundamentos foram superados pelo processo 
histórico-dialético em razão das novas relações objetivas que surgiram com o 
desenvolvimento industrial e, em consequência, do surgimento de um proletariado 
sujeito ao domínio da burguesia capitalista dominante. 
A partir dessa nova realidade da sociedade, foram “surgindo” direitos 
considerados fundamentais, como os direitos econômicos e sociais, e da 
transformação social que se verificou, na passagem do absolutismo para a 
sociedade burguesa, surgiram novas “doutrinas sociais” que buscavam a 
transformação da sociedade no sentido da realização ampla e concreta dos direitos 
para todos. Dentre essas “doutrinas sociais”, podemos citar o Manifesto comunista e 
as doutrinas marxistas, com sua crítica ao capitalismo burguês e ao sentido 
puramente formal dos direitos do homem proclamados no século XVIII, quando foi 
proposta liberdade e igualdade materiais para todos, dentro de um sistema 
socialista; a doutrina social da Igreja, a partir do Papa Leão XIII, que propunha uma 
ordem social mais justa, embora no regime capitalista; e, por fim, o intervencionismo 
estatal, que reconhece que o estado deve intervir no meio econômico e social de 
modo a proteger as classes menos favorecidas, dentro de um regime capitalista, o 
que faz acentuar a ideologia das desigualdades e das injustiças sociais 
(MASCARENHAS, 2008). 
Dessa evolução, podemos afirmar que a conceituação dos Direitos 
Fundamentais do Homem mais aceita dentre os doutrinadores modernos é aquela 
que estabelece que são situações jurídicas, objetivas e subjetivas, definidas no 
direito positivo, em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana 
(SILVA, 2002, p. 179). 
Quanto à natureza jurídica, os Direitos fundamentais do homem têm a 
natureza jurídica de direitos constitucionais, justamente porque estão inseridos na 
Constituição, ou mesmo porque constem de uma declaração solene de direitos 
estabelecida pelo poder constituinte. 
 
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Sendo assim, sua eficácia e a aplicabilidade das normas de direito 
fundamental dependem do enunciado do texto, posto que se encontra em função do 
Direito Positivo. 
A Constituição brasileira de 1988, no §1º, do artigo 5º, dispõe 
expressamente que “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais 
têm aplicação imediata”. Mas isto não quer dizer que todas as normas têm eficácia 
plena e aplicabilidade imediata, porque é a própria CF que faz algumas normas 
dependerem de legislação ulterior para a sua aplicabilidade. 
Para JOSÉ AFONSO DA SILVA (2002), via de regra, as normas que 
consubstanciam os direitos fundamentais democráticos e individuais são de eficácia 
contida e aplicabilidade imediata, enquanto as que definem os direitos econômicos e 
sociais tendem a sê-lo também na Constituição vigente, mas algumas, 
especialmente as que mencionam uma lei integradora, são de eficácia limitada, de 
princípios programáticos e de aplicabilidade indireta. 
Assim, é de se concluir que existem direitos fundamentais de eficácia plena 
(por exemplo, art. 5º, LXVII, LXVIII, LXIX, LXX), de eficácia contida (art. 5º, XII, XIII) 
e de eficácia limitada (art. 5º, XXIX, XXXII). 
Voltando à questão das diferenças, citadas na introdução, “Direitos 
fundamentais” e “direitos humanos” afastam-se, portanto, apenas no que tange ao 
plano de sua positivação, sendo os primeiros normas exigíveis no âmbito estatal 
interno, enquanto estes últimos são exigíveis no plano do Direito Internacional 
(MASSON, 2014). 
 
2.2 Classificação e gerações dos direitos fundamentais 
Acompanhando a doutrina de JOSÉ AFONSO DA SILVA (2002, p. 182), a 
classificação que decorre do nosso Direito Constitucional é aquela que agrupaos 
direitos fundamentais com base no critério do seu conteúdo, que, ao mesmo tempo, 
se refere à natureza do bem protegido e do objeto da tutela. 
Assim, podemos distribuí-los em cinco grupos: 
1) Direitos individuais (art. 5º) – reconhecem autonomia aos particulares, 
garantindo-lhes iniciativa e independência diante dos demais membros da sociedade 
e do próprio Estado. 
 
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2) Direitos coletivos (art. 5º) – direitos do homem enquanto membro de uma 
comunidade. 
3) Direitos sociais (art. 6º e 193 e seguintes) – assegurados aos homens em 
suas relações sociais e culturais. 
4) Direitos à nacionalidade (art. 12) – têm por objeto a definição de 
nacionalidade e os direitos dela decorrentes. 
5) Direitos políticos (arts. 14 a 17) – também chamados de direitos 
democráticos ou de participação política em sociedade. 
PAULO BONAVIDES (2004, p. 563) explica que o desenvolvimento dos 
direitos fundamentais não se deu em um mesmo e único momento histórico. De 
modo vagaroso, no transcorrer de uma evolução histórico-social, enquanto 
consequência das conquistas políticas angariadas, aos poucos, pelo homem, 
referidos direitos foram aparecendo e, gradativamente, disciplinados nos textos 
constitucionais. 
NATHALIA MASSON (2014) esclarece que o vocábulo “geração” não está 
isento de críticas. Para muitos, é um termo que remete à ideia de superação, 
significando que uma nova “geração” sucede a outra, tornando-a ultrapassada, o 
que, sabe-se, não ocorre. Em verdade, a sucessão de “gerações” deve ser vista 
como uma evolução que amplia o catálogo de direitos fundamentais da anterior, 
sendo possível, inclusive, modificar o modo de interpretá-los. 
Destarte, não há que se falar em sedimentação de direitos por “geração”, 
tampouco em substituição da “geração” antecedente pela posterior. 
Por fim, em que pese a crítica e a proposta de nova terminologia substitutiva 
– a saber, “dimensões” –, o termo “gerações” segue sendo largamente utilizado, não 
só pela doutrina como também pelas bancas examinadoras de concurso (MASSON, 
2014). 
Mas quais, quanto e como são essas gerações ou dimensões? 
NORBERTO BOBBIO (1997) classifica os direitos fundamentais como de 
primeira, segunda e terceira gerações, tendo por base a ordem histórica cronológica 
em que passaram a ser reconhecidos constitucionalmente. 
Os direitos de primeira geração são os responsáveis por inaugurar, no final 
do século XVIII e início do século XIX, o constitucionalismo ocidental, e importam na 
 
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consagração de direitos civis e políticos clássicos, essencialmente ligados ao valor 
liberdade (e enquanto desdobramentos deste: o direito à vida, o direito à liberdade 
religiosa – também de crença, de locomoção, de reunião, de associação – o direito à 
propriedade, à participação política, à inviolabilidade de domicílio e segredo de 
correspondência). 
Apresentam-se como direitos dos indivíduos e são oponíveis, sobretudo, ao 
Estado, na medida em que exigem deste, precipuamente, uma abstenção, um não 
fazer – e não um agir ou uma prestação estatal – possuindo, dessa forma, 
inequívoco caráter negativo. 
Nas palavras de GILMAR FERREIRA MENDES (2011), constituem 
postulados de abstenção dos governantes, criando obrigações de não fazer, de não 
intervir sobre aspectos da vida pessoal de cada indivíduo. São considerados 
indispensáveis a todos os homens, ostentando, pois, pretensão universalista. 
Referem-se a liberdades individuais, como a de consciência, de culto, à 
inviolabilidade de domicílio, à liberdade de culto e de reunião. São direitos em que 
não desponta a preocupação com desigualdades sociais. O paradigma de titular 
desses direitos é o homem individualmente considerado. 
Já os direitos de segunda geração – normalmente traduzidos enquanto 
direitos econômicos, sociais e culturais – acentuam o princípio da igualdade entre os 
homens (igualdade material). São, usualmente, denominados “direitos do bem-
estar”, uma vez que pretendem ofertar os meios materiais imprescindíveis para a 
efetivação dos direitos individuais. Para tanto, exigem do Estado uma atuação 
positiva, um fazer (daí a identificação desses direitos enquanto liberdade positivas), 
o que significa que sua realização depende da implementação de políticas públicas 
estatais, do cumprimento de certas prestações sociais por parte do Estado, tais 
como: saúde, educação, trabalho, habitação, previdência e assistência social 
(MASSON, 2014). 
O surgimento dessa segunda dimensão de direitos é decorrência do 
crescimento demográfico, da forte industrialização da sociedade e, especialmente, 
do agravamento das disparidades sociais que marcaram a virada do século XIX para 
o século XX. Reivindicações populares começam a florescer, exigindo um papel 
mais ativo do Estado na correção das fissuras sociais e disparidades econômicas, 
 
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em suma, na realização da justiça social – o que justifica a intitulação desses direitos 
como “direitos sociais”, não por envolverem direitos de coletividades propriamente, 
mas por tratarem de direitos que visam alcançar a justiça social. 
Reconhecer a cruel realidade de que o mundo está partido, de maneira 
abissal, entre nações desenvolvidas e nações subdesenvolvidas foi elemento 
determinante para o desenrolar, no final do século XX, de uma nova geração de 
direitos fundamentais, uma terceira geração. Nesta apareceram os direitos de 
fraternidade ou solidariedade que englobam, dentre outros, os direitos ao 
desenvolvimento, ao progresso, ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, à 
autodeterminação dos povos, à propriedade sobre o patrimônio comum da 
humanidade, à qualidade de vida, os direitos do consumidor e da infância e 
juventude. 
Em síntese, são direitos que não se ocupam da proteção a interesses 
individuais, ao contrário, são direitos atribuídos genericamente a todas as formações 
sociais, pois buscam tutelar interesses de titularidade coletiva ou difusa, que dizem 
respeito ao gênero humano. 
É, pois, a terceira geração dos direitos fundamentais que estabelece os 
direitos “transindividuais”, também denominados coletivos – nos quais a titularidade 
não pertence ao homem individualmente considerado, mas a coletividade como um 
todo (MASSON, 2014). 
MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO (1995, p. 57) conclui, com razão, 
comparando com o lema da Revolução Francesa – liberté, igalité e fraternité –, que 
os direitos de primeira geração seria os direitos de liberdade, os de segunda 
geração, os de igualdade; e os de terceira geração, os de fraternidade. 
Não. Nós não nos esquecemos dos direitos de quarta e a defesa de uma já 
quinta geração! 
A quarta geração ou quarta dimensão surgiu dentro da última década, por 
causa do avançado grau de desenvolvimento tecnológico: seriam os Direitos da 
Responsabilidade, tais como a promoção e manutenção da paz, à democracia,à 
informação, à autodeterminação dos povos, promoção da ética da vida defendida 
pela bioética, direitos difusos, direito ao pluralismo, entre outros. A globalização 
política na esfera da normatividade jurídica foi quem introduziu os direitos desta 
 
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quarta geração, que correspondem à derradeira fase de institucionalização do 
Estado social. Está ligada à pesquisa genética, com a necessidade de impor um 
controle na manipulação do genótipo dos seres, especialmente o homem. 
JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO (2010) pondera que há autores 
que se referem a essa categoria, mas ainda não há consenso na doutrina sobre qual 
o conteúdo desse tipo de direitos. Há quem diga tratarem-se dos direitos de 
engenharia genética (é a posição de Norberto Bobbio1), enquanto outros os referem 
à luta pela participação democrática (corrente defendida por Paulo Bonavides). 
Segundo FERNANDA SILVA BIANCO (2006), essa quarta geração de 
direitos foi criada pelo professor Paulo Bonavides, para quem pode ser traduzida 
como o resultado da globalização dos direitos fundamentais de forma a torná-los 
universais no campo institucional. Enquadram-se aqui o direito à informação, ao 
pluralismo e à democracia direta. 
 
2.3 Características dos direitos fundamentais 
Como diz NATHALIA MASSON (2014), é tarefa complexa apontar 
caracteres para os direitos fundamentais que sejam sempre válidos – em todo lugar, 
em qualquer tempo. Todavia, grande parte da doutrina indica qualidades que lhes 
são associadas de forma corriqueira, portanto, devido sua natureza essencial, se faz 
mister reconhecer as seguintes características: 
a) Universalidade: esta característica aponta a existência de um núcleo 
mínimo de direitos que deve estar presente em todo lugar e para todas as pessoas, 
independentemente da condição jurídica, ou do local onde se encontra o sujeito – 
porquanto a mera condição de ser humano é suficiente para a titularização. É, pois, 
relacionada à titularidade, e preceitua serem detentores dos direitos fundamentais 
toda a coletividade, numa definição que, a princípio, não admite discriminação de 
qualquer espécie e abarca todos os indivíduos, independente da nacionalidade, 
raça, gênero ou outros atributos. 
É válido frisar, todavia, que nem todos os direitos podem ser universalmente 
realizados por todas as pessoas, afinal é perfeitamente factível que a Constituição 
limite aos detentores de certas particularidades – como, por exemplo, ser cidadão, 
 
1 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 
 
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nacional, trabalhador, pessoa física, dentre outros atributos – o exercício de algumas 
prerrogativas. Isso significa que no rol enunciado na Constituição brasileira “há 
direitos de todos os homens – como o direito à vida –, mas há também posições que 
não interessam a todos os indivíduos, referindo-se apenas a alguns – aos 
trabalhadores, por exemplo” (MENDES; BRANCO; COELHO, 2010, p. 316). 
b) Historicidade: como os direitos fundamentais são proclamados em certa 
época, podem desaparecer em outras ou serem modificados com o passar do 
tempo, apresentam-se como um corpo de benesses e prerrogativas que somente 
fazem sentido se contextualizadas num determinado período histórico. Isso denota 
serem direitos dotados de caráter histórico-evolutivo, que não nascem todos de uma 
só vez – pois são o resultado de avanços jurídico-sociais determinados pelas lutas 
do povo em defesa de novas liberdades em face de poderes antigos ou em face das 
novas afeições assumidas pelo antigo poder –, tampouco são compreendidos da 
mesma maneira durante todo o tempo em que compõem o ordenamento. Vê-se, 
pois, que direitos fundamentais não são obra da natureza, mas das necessidades 
humanas, ampliando-se ou limitando-se a depender das circunstâncias. 
Segundo a doutrina (MENDES; BRANCO; COELHO, 2010), é o caráter da 
historicidade que justifica que os direitos sejam proclamados em certa época, 
desapareçam em posteriores, ou se modifiquem com o transcurso do tempo, o que 
revela, inequivocamente, a índole evolutiva desses direitos. Como exemplo da 
mudança de compreensão que um direito fundamental pode sofrer, cite-se a 
jurisprudência do STF que durante muitos anos admitiu “a extradição para o 
cumprimento de penas de caráter perpétuo, jurisprudência somente revista em 
20042” (MENDES; BRANCO; COELHO, 2010, p. 318). 
c) Indivisibilidade: os direitos fundamentais formam um sistema harmônico, 
coerente e indissociável, o que importa na impossibilidade de compartimentalização 
dos mesmos, seja na tarefa interpretativa, seja na de aplicação às circunstâncias 
concretas. 
 
2 Admitindo a extradição para cumprimento de pena perpétua: Extr. 598-Itália, Extr. 669-0/EUA e Extr. 
711-Itália, julgamento em 18-2-1998. A jurisprudência muda com a Extr. 855, julgada em 26-8-2004, 
rel. Min. Celso de Mello. 
 
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d) Imprescritibilidade, inalienabilidade: direitos fundamentais não são 
passíveis de alienação, deles não se pode dispor, tampouco prescrevem. 
Inalienabilidade é característica que exclui quaisquer atos de disposição, quer 
material – destruição física do bem –, quer jurídica – renúncia, compra e venda ou 
doação. Deste modo, um indivíduo, tendo em conta a proteção que recai sob sua 
integridade física, não pode vender parte do seu corpo ou dispor de uma função 
vital, tampouco mutilar-se voluntariamente. Ressalte-se que, como a 
indisponibilidade justifica-se pela proteção que se deva dar à dignidade da pessoa 
humana, nem todos os direitos fundamentais devem ser interpretados como 
indisponíveis (MASSON, 2015). 
Indisponíveis seriam tão somente os direitos que intentam preservar a vida 
biológica – sem a qual não há substrato físico para o desenvolvimento da dignidade 
– ou que visam resguardar as condições ordinárias de saúde física e mental, assim 
como a liberdade de tomar decisões sem coerção externa. 
Parece que o correto é analisar a indisponibilidade perante cada situação, 
afinal, muito embora seja inaceitável a disposição irrevogável dos direitos 
fundamentais, em certas ocorrências fáticas nada impedirá que o exercício dos 
direitos seja restringido em prol de uma finalidade aceita ou tolerada pela ordem 
constitucional. Assim, 
 
a liberdade de expressão, v. g., cede às imposições de não-divulgação de 
segredos obtidos no exercício de um trabalho ou profissão. A liberdade de 
professar qualquer fé, por seu turno, pode não encontrar lugar propício no 
recinto de uma ordem religiosa específica (MENDES; BRANCO; COELHO, 
2010, p. 328). 
 
Por fim, são imprescritíveis, eis que a prescrição é instituto jurídico que 
apenas alcança a exigibilidade de direitos de cunho patrimonial, nunca a de direitos 
personalíssimos. 
Estes últimos sãosempre exercíveis, de forma que não há intercorrência 
temporal de não-exercício que possa fundamentar a impossibilidade da exigibilidade 
na prescrição. 
e) Relatividade: de acordo com o que preleciona a doutrina (MENDES; 
BRANCO; COELHO, 2010), o exercício dos direitos individuais, não raro, acarreta 
conflitos com outros direitos constitucionalmente resguardados, dada a circunstância 
 
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14
de nenhum direito ser absoluto ou prevalecer perante os demais em abstrato. Como 
todos os direitos são relativos, eventualmente podem ter seu âmbito de incidência 
reduzido e ceder (em prol de outros) em ocorrências fáticas específicas. 
Nestes casos, de aparente confronto e incompatibilidade entre os diferentes 
direitos, caberá ao intérprete decidir qual deverá prevalecer, sempre tendo em conta 
a regra da máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos, conjugando-a 
com a sua mínima restrição (LENZA, 2009, p. 672). 
f) Inviolabilidade: esta característica confirma a impossibilidade de 
desrespeito aos direitos fundamentais por determinação infraconstitucional ou por 
atos de autoridade, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal 
(MASSON, 2015). 
g) Complementaridade: direitos fundamentais não são interpretados 
isoladamente, de maneira estanque; ao contrário, devem ser conjugados, 
reconhecendo-se que compõem um sistema único – pensado pelo legislador com o 
fito de assegurar a máxima proteção ao valor “dignidade da pessoa humana”. 
Destaca-se, ademais, que referida complementaridade também se faz sentir quando 
do exercício dos direitos, que igualmente pode ser cumulativo: por exemplo, quando 
um jornalista transmite certa notícia (direito de informação) e, simultaneamente, 
emite uma opinião (direito de opinião) (LENZA, 2009, p. 672). 
h) Efetividade: a atuação dos Poderes Públicos deve se pautar (sempre) na 
necessidade de se efetivar os direitos e garantais institucionalizados, inclusive por 
meio da utilização de mecanismos coercitivos, se necessário for. 
i) Interdependência: em que pese à autonomia, as previsões constitucionais 
que se traduzem em direitos fundamentais possuem interseções/ligações 
intrínsecas, com o intuito óbvio de intensificar a proteção engendrada pelo catálogo 
de direitos. Estes estão todos interligados, associados – a liberdade de locomoção, 
por exemplo, está intimamente vinculada à garantia do habeas corpus, bem como a 
previsão de que a prisão válida somente se efetivará em flagrante delito ou por 
ordem escrita e fundamentada da autoridade judicial competente (MASSON, 2015). 
 
 
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15
2.4 Dimensões objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais 
Segundo GILMAR FERREIRA MENDES (1999), a doutrina brasileira, 
afinada com a tradição europeia, classifica os direitos fundamentais a partir de dupla 
perspectiva, uma subjetiva e outra objetiva, significando que referidos direitos são, a 
um só tempo, direitos subjetivos e elementos fundamentais da ordem constitucional 
objetiva. 
São direitos subjetivos, do particular, constituindo “direitos de defesa” 
(HESSE, 1998, p. 235) contra os poderes estatais. Tal se verifica, por exemplo, na 
liberdade de informação (CF, art. 5º, IX). São, também, elementos da ordem objetiva 
da coletividade, determinando os limites e o modo de cumprimento das tarefas 
estatais, pelo que se pode citar a promoção da saúde (CF, art. 6º). 
Em palavras mais simples: 
 
enquanto direitos subjetivos, os direitos fundamentais outorgam aos titulares 
a prerrogativa de impor os seus interesses em face dos órgãos obrigados. 
Por outro lado, em sua dimensão objetiva, os direitos fundamentais formam 
a base do ordenamento jurídico de um Estado de Direito democrático 
(MASSON, 2015, p. 185). 
 
Segundo J.J. GOMES CANOTILHO (1992, p. 544), a dimensão subjetiva 
gravita em torno da posição jurídica do indivíduo, consubstanciando-se na faculdade 
de o titular de um direito exigir uma ação ou uma abstenção do Estado ou de outro 
indivíduo tendo em vista preservar a sua situação em particular: o direito subjetivo 
consagrado por uma norma de direito fundamental reconduz-se, assim, a uma 
relação trilateral entre o titular, o destinatário e o objeto do direito. 
CHRISTINE OLIVEIRA PETER DA SILVA (2001, p. 49) salienta o viés 
subjetivo como a possibilidade de um titular “fazer valer” sua prerrogativa jurídica: 
 
É importante destacar que, ao se falar sobre direitos fundamentais 
subjetivos, faz-se referência à possibilidade que tem o seu titular – o 
indivíduo ou a coletividade a quem é atribuído – de fazer valer judicialmente 
os poderes, as liberdades, o direito à ação ou mesmo as ações negativas 
ou positivas que lhe foram outorgadas pela norma consagradora de direito 
fundamental em questão. 
 
 
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16
Por sua vez, a dimensão objetiva destina-se a organizar uma atividade que 
tenha influência coletiva, funcionando como programa diretor para a realização 
constitucional (BARROS, 2003, p. 132-134). 
Para J.J. GOMES CANOTILHO (1992, p. 544), “Uma norma vincula um 
sujeito em termos objetivos quando fundamenta deveres que não estão em relação 
com qualquer titular concreto”. Como elementos da ordem jurídica da coletividade, 
as normas determinam “o objetivo, os limites e o modo de cumprimento” das tarefas 
estatais (HESSE, 1998, p. 241). 
O reconhecimento de uma dimensão objetiva para os direitos fundamentais 
traz consequências tangíveis: os direitos deixam de ser considerados 
exclusivamente sob uma perspectiva individualista, e os bens por eles tutelados 
passam a ser vistos como valores em si, a serem preservados e fomentados no 
ordenamento (MASSON, 2015). 
Sob a ótica da dimensão subjetiva, é possível afirmar que os direitos 
fundamentais cumprem diferentes funções na ordem jurídica, conforme a teoria dos 
quatro “status” de Jellinek. 
No final do século XIX, o autor construiu a doutrina que tem por base o 
reconhecimento de que o indivíduo pode se apresentar em distintas posições 
perante o Estado. Uma primeira é a de subordinação frente aos poderes públicos, na 
qual o indivíduo é detentor de deveres para com o Estado. Este possui competência 
para vincular o indivíduo, por meio de mandamentos e proibições. Tem-se, nesse 
sentido, o status passivo. Em outra circunstância, faz-se necessário que o Estado 
não se intrometa na livre escolha do indivíduo, permitindo-se, dessa forma, que os 
indivíduos gozem de um espaço de liberdade de atuação, sem ingerências dos 
poderes públicos. Nesse caso, fala-se em status negativo. 
Uma terceira posição estabelece o indivíduo em situação de exigir do Estado 
que este atue positivamente em seu favor, através da oferta de bens e serviços, 
principalmente os essenciais à sobrevivência sadia e a qualidade de vida da própria 
comunidade. Tem-se, assim, o status positivo. Finalmente, fala-se em status ativo, 
no qual oindivíduo desfruta de competências para contribuir na formação da 
vontade estatal, correspondendo essa posição ao exercício dos direitos políticos, 
manifestados principalmente através do direito ao sufrágio (MASSON, 2015). 
 
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Esquematicamente temos: 
 
Fonte: MASSON (2015, p. 186). 
 
2.5 Titulares/destinatários dos direitos fundamentais 
Segundo VICENTE PAULO e MARCELO ALEXANDRINO (2008), os direitos 
fundamentais surgiram tendo como titulares as pessoas naturais, haja vista que, na 
sua origem, representam limitações impostas ao Estado em favor do indivíduo. 
Com o passar dos tempos, os ordenamentos constitucionais passaram a 
reconhecer direitos fundamentais, também, às pessoas jurídicas. 
Modernamente, as Constituições asseguram, ainda, direitos fundamentais às 
pessoas estatais, isto é, o próprio Estado passou a ser considerado titular de direitos 
fundamentais. 
Não significa afirmar, porém, que todos os direitos fundamentais têm como 
titulares as pessoas naturais, as pessoas jurídicas e as pessoas estatais. 
Há direitos fundamentais que podem ser usufruídos por todos, mas há 
direitos restritos a determinadas classes. 
Na Constituição Federal de 1988, quanto aos destinatários de direitos 
fundamentais, mencionamos, em caráter meramente exemplificativo: 
a) Direitos fundamentais destinados às pessoas naturais, às pessoas 
jurídicas e ao Estado – direito da legalidade e de propriedade (art. 5º, II e XXII). 
b) Direitos fundamentais extensíveis às pessoas naturais e às pessoas 
jurídicas – inviolabilidade do domicílio e assistência jurídica gratuita e integral (art. 
5º, XI e LXXIV). 
 
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c) Direitos fundamentais exclusivamente voltados para a pessoa natural – 
direito de locomoção e inviolabilidade da intimidade (art. 5º, XV e X). 
d) Direitos fundamentais restritos aos cidadãos – ação popular e iniciativa 
popular (arts. 5º, LXXIII, e 14, III). 
e) Direitos fundamentais voltados exclusivamente para a pessoa jurídica – 
direito de existência das associações, direitos fundamentais dos partidos políticos 
(arts. 5º, XIX, e 17). 
f) Direitos fundamentais voltados exclusivamente para o Estado – direito de 
requisição administrativa no caso de iminente perigo público e autonomia política 
das entidades estatais (arts. 5º, XXV, e 18) (PAULO; ALEXANDRINO, 2008). 
NATHALIA MASSON (2015) ressalta que a doutrina mais recente e a 
Suprema Corte têm realizado interpretação do dispositivo na qual o fator meramente 
circunstancial da nacionalidade não excepciona o respeito devido à dignidade de 
todos os homens, de forma que os estrangeiros não residentes no país, assim como 
os apátridas, devam ser considerados destinatários dos direitos fundamentais. 
Desta forma, alguns direitos são assegurados a todos, independentemente 
da nacionalidade, porquanto intrínsecos ao princípio da dignidade humana. Cite-se 
como exemplo a garantia do habeas corpus, que pode ser manejada por estrangeiro 
em trânsito no território nacional (turista) se eventualmente sua liberdade de 
locomoção tiver sido violada. 
Noutro giro, existem direitos que são dirigidos ao indivíduo enquanto 
cidadão, portanto apenas aos brasileiros que estejam exercendo seus direitos 
políticos, como, por exemplo, a propositura de uma ação popular (art. 5º, LXXIII, 
CF/88). No mesmo sentido, direitos sociais, como alguns direitos referentes ao 
trabalho, são compreendidos como não acessíveis aos estrangeiros sem residência 
no país. 
No que concerne às pessoas jurídicas, de início, entendia-se que os direitos 
e garantias assegurados nos incisos do art. 5º dirigiam-se apenas às pessoas 
físicas, nunca a elas. 
Doutrinariamente, contudo, superou-se esse posicionamento e, atualmente, 
admite-se que os direitos fundamentais beneficiem, também, pessoas jurídicas 
brasileiras e estrangeiras atuantes no Brasil. Não admitir essa possibilidade nos 
 
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conduziria, nos dizeres de CELSO RIBEIRO BASTOS (2000, p. 282), a uma 
interpretação absurda, afinal “em muitas hipóteses a proteção última do indivíduo só 
se dá por meio da proteção que se confere às próprias pessoas jurídicas”. 
Sob a perspectiva jurisprudencial, já se manifestou o STF no sentido de que 
alguns dos direitos consagrados no art. 150, CF/88 são garantias fundamentais do 
contribuinte, aplicáveis, certamente, às pessoas jurídicas quando estas se 
apresentam enquanto sujeitos passivos da relação tributária. 
Por fim, deve-se destacar que muito embora as pessoas jurídicas sejam 
consideradas titulares de vasto rol de direitos, alguns são exclusivos das pessoas 
físicas. Isso porque a natureza de certas garantias, como a que diz respeito à prisão 
(art. 5º, LXI CF/88), e também aos direitos políticos – como o de votar e o de ser 
eleito para cargo político – ou aos direitos sociais, como o de assistência social, é 
determinante para que as pessoas físicas sejam percebidas como únicas 
destinatárias (MASSON, 2015). 
 
2.6 Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas ou Eficácia 
horizontal 
Quando os direitos fundamentais surgiram, eram tidos como aqueles ligados 
à liberdade, os chamados direitos de defesa, ou seja, direitos que exigem uma 
abstenção do Estado. Os únicos destinatários dos direitos fundamentais eram os 
Poderes Públicos. Os direitos individuais eram direitos atribuídos ao indivíduo para 
que este pudesse se proteger contra os Poderes Públicos. Como a relação entre os 
particulares e os Poderes Públicos é de subordinação e não de coordenação, esta 
eficácia dos direitos fundamentais ficou conhecida como eficácia vertical, em razão 
dessa relação estado-particular ser de subordinação. Esta é a eficácia clássica dos 
direitos fundamentais. Quando surgiram, tinham apenas eficácia vertical, eram 
aplicados apenas a essa espécie de relação (ALVES, 2012). 
Com o passar do tempo, foi se constatando que a opressão e a violência 
vinham não só do Estado, mas de outros particulares. Então, houve uma mudança 
na eficácia dos direitos fundamentais. Há instituições no mundo que tem um poder 
econômico muito maior do que muitos Estados. Então, a ideia de que não só o 
Estado é órgão opressor dos indivíduos, mas também outros particulares, o que fez 
 
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com que surgisse a eficácia horizontal, aplicada nas relações privadas, onde os 
interesses antagônicos são entre particulares. 
Enquanto a eficácia vertical é a aplicação dos direitos fundamentais nas 
relações particular-Estado, a eficácia horizontal é a aplicação dos direitosfundamentais às relações entre particulares. Como a relação entre particulares é, ao 
menos teoricamente, de coordenação, de igualdade jurídica, quando os direitos 
fundamentais são aplicados a essas relações, se fala que os direitos fundamentais 
têm uma eficácia horizontal ou privada (ALVES, 2012). 
No Brasil, direitos fundamentais têm sido aplicados nas relações privadas, 
conforme se depreende das anotações doutrinárias e de importantes paradigmas 
jurisprudenciais. No entanto, de acordo com o que informa abalizada doutrina sobre 
o tema (SARMENTO, s.d apud BARROSO, 2003), ainda não há uma 
fundamentação teórica específica acerca dos limites e alcance dessa aplicação na 
jurisprudência. 
Existem algumas teorias que buscam explicar a relação entre particulares e 
os direitos fundamentais, com destaque para as seguintes: 
a) Teoria da INEFICÁCIA HORIZONTAL dos direitos fundamentais: 
Segundo essa teoria, se há uma ineficácia horizontal, significa que os 
direitos fundamentais não podem ser aplicados às relações entre particulares. É a 
teoria adotada nos Estados Unidos, onde se entende (doutrina e jurisprudência) que 
os direitos fundamentais têm apenas a eficácia clássica, vertical. Aplicam-se às 
relações entre Estado e particular, mas não seria aplicado às relações entre 
particulares. 
Essa teoria só vigora nos EUA devido ao fato de a Constituição norte 
americana, que é de 1787 (vigente até os dias atuais) e à época de sua 
promulgação só haviam direitos de defesa do indivíduo em face do Estado. Seu 
texto traz vários dispositivos que consagram direitos fundamentais, fazendo 
referência ao Estado, ao Poder Público como destinatário desses deveres. Só que 
mesmo nos EUA, criou-se uma teoria para contornar essa situação. 
Há muita divergência doutrinária sobre essa teoria da ineficácia horizontal 
dos Direitos Fundamentais, ou Doutrina da State Action (Doutrina da Ação Estatal). 
 
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Para DANIEL SARMENTO (2006), referida teoria simplesmente nega 
aplicação da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, ou seja, os direitos 
fundamentais não se aplicariam nas relações entre particulares. 
Já para VIRGÍLIO AFONSO DA SILVA (2005), a teoria da State Action não 
nega aplicação dos direitos fundamentais entre particulares, mas tenta, de alguma 
forma, contornar a falta de regulamentação, sendo a finalidade da doutrina definir 
em que casos se poderia fazer a aplicação, mesmo que os direitos fundamentais, 
em regra, não se apliquem às relações entre particulares. O detalhe, segundo o 
doutrinador, é que não estamos nos referindo a uma doutrina que estabelece de 
forma sistemática as situações. 
b)Teoria da EFICÁCIA HORIZONTAL INDIRETA dos direitos fundamentais: 
Para a teoria da eficácia indireta ou mediata, os direitos fundamentais são 
analisados do ponto de vista de duas dimensões: a) dimensão negativa ou proibitiva, 
que veda ao legislador editar lei que viole direitos fundamentais; b) dimensão 
positiva, impondo um dever para o legislador implementar direitos fundamentais, 
ponderando, porém, quais deles devam se aplicar às relações privadas. Essa a 
teoria prevalente na Alemanha (ALVES, 2012). 
Para essa teoria, não há que se falar em imposição de direitos fundamentais 
numa relação entre particulares que estão em nível de igualdade. Não negam – os 
seguidores de referida teoria – que os direitos fundamentais possam ser aplicados a 
essas relações, mas dizem que para isso acontecer, é necessário uma 
intermediação através da lei. A lei, o direito privado, teria que regulamentar, que 
incorporar aqueles direitos fundamentais ao direito privado, para que a aplicação 
fosse relativizada, ou, tecnicamente falando, os direitos fundamentais irradiam os 
seus efeitos nas relações entre particulares por meio de mediação legislativa. Então, 
segundo a doutrina alemã, essa porta de entrada dos direitos fundamentais nas 
relações entre particulares seriam as cláusulas gerais do direito privado, os pontos 
de infiltração. 
Portanto, para a teoria da eficácia indireta dos direitos fundamentais, ao se 
interpretar uma cláusula geral, deve-se fazê-lo com base nos direitos fundamentais 
que a Constituição consagra (ALVES, 2012). 
b) Teoria da EFICÁCIA HORIZONTAL DIRETA dos direitos fundamentais. 
 
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Esta teoria curiosamente surgiu na Alemanha, na década de 50, por meio de 
um magistrado do Tribunal Federal do Trabalho, chamado Hans Carl Nipperdey. A 
curiosidade reside no fato de que, apesar de ter surgido na Alemanha, não 
prevalece naquele país (ALVES, 2012). 
Nos termos da proposta da teoria da eficácia direta ou imediata, como o 
próprio nome sugere, alguns direitos fundamentais podem ser aplicados diretamente 
às relações privadas, ou seja, sem a necessidade da intervenção legislativa. 
PEDRO LENZA (2011) traz o seguinte sustentáculo à aplicação da teoria: 
 
(...) sem dúvida, cresce a teoria da aplicação direta dos direitos 
fundamentais às relações privadas (‘eficácia horizontal’), especialmente 
diante de atividades privadas que tenham um certo ‘caráter público’, por 
exemplo, em escolas (matrículas), clubes associativos, relações de trabalho 
etc. 
 
Porém, INGO WOLFGAND SARLET (2006, p. 392) lembra que há duas 
considerações a respeito da aplicação da teoria da eficácia dos direitos 
fundamentais às relações privadas: 
Primeiro, quando há relativa igualdade das partes figurantes da relação 
jurídica, caso em que deve prevalecer o princípio da liberdade para ambas, somente 
se admitindo eficácia direta dos direitos fundamentais na hipótese de lesão ou 
ameaça ao princípio da dignidade da pessoa humana ou aos direito aos direitos da 
personalidade. 
Segundo: quando a relação privada ocorre entre um indivíduo (ou grupo de 
indivíduos) e os detentores de poder econômico ou social, caso em que, de acordo 
com o referido autor, há consenso para se admitir a aplicação da eficácia horizontal, 
pois tal relação privada assemelha-se àquela que se estabelece entre os 
particulares e o poder público (eficácia vertical). 
Enfim, a teoria da eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais deve ser 
aplicada de forma tanto mais intensa quanto maior for a situação de desigualdade 
entre o indivíduo que tem seu direito fundamental violado e o ente privado agente 
desta violação. 
Portanto, cabe ao Estado não só respeitar, mas, ainda, assegurar a 
observância do regular cumprimento das normas de direitos fundamentais por todos 
aqueles potencialmente capazes de violar tais direitos, uma vez que, nos dias atuais, 
 
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não só o Estado, mas também tais entidades podem igualmente, como detentores 
do poder social, violar a esfera de liberdade dos indivíduos (ALVES, 2012). 
 
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UNIDADE 3 – TÍTULO II – DOS DIREITOS E GARANTIAS 
FUNDAMENTAIS 
 
Em seu Título II, a Constituição Federal estabelece o gênero “Direitos 
Fundamentais”, do qual decorrem algumas espécies: direitos individuais e coletivos, 
direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos políticos e direitos relacionados à 
existência, organização e participação em partidos políticos. 
Para NATHALIA MASSON (2015), é importante esclarecer que essa 
sistematização do Título II, que tornou ágil e organizada a busca pelos principais 
dispositivos que proclamam direitos fundamentais, não se pretende exaustiva, não 
impede a identificação de outros direitos consagrados em trechos diversos do Título 
II (em artigos esparsos do texto constitucional). Os direitos econômicos (art. 170), 
por exemplo, assim como os direitos referentes ao meio ambiente (art. 225) e o 
direito à educação (art. 205), dentre tantos outros, não estão listados no Título II; 
nada obstante são certamente fundamentais – em virtude da essencialidade dos 
mesmos para a identificação do projeto básico constitucional. 
Vejamos: 
 
3.1 Capítulo I – dos direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5º) 
O artigo 5º do texto constitucional vigente trata dos direitos e dos deveres 
individuais e coletivos, chamados também, dos direitos dos cidadãos. Tais direitos, 
na história dos direitos da pessoa humana, confundem-se com a luta da humanidade 
pela realização de seus anseios democráticos. Os primeiros documentos a tratar do 
assunto foram: o Código de Hamurabi e a Civilização Heleno–Romana. 
Os direitos individuais e coletivos são aqueles destinados à proteção não só 
dos indivíduos (direitos individuais), mas também dos diferentes grupos sociais 
(coletivos); estão estritamente vinculados ao conceito de pessoa humana e da sua 
própria personalidade (a vida, a liberdade, a honra, a dignidade) (MASSON, 2015). 
Sempre em face dos abusos do poder, foram os direitos estatísticos a partir 
da Carta Magna de 1215 passando pelo “Bill for Rights” Inglês de 1689 (Câmara dos 
Lordes e pela Câmara dos Comuns), a Declaração da Independência dos Estados 
Unidos de 1665 e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 
1789. 
 
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Os direitos individuais sempre tiveram amparo nas Constituições que foram 
promulgadas desde 1719. 
No Brasil, desde a primeira Constituição brasileira (25 de março de 1824) 
foram sempre relacionados e sugeridos em todas as demais Constituições 
outorgadas ou promulgadas. 
a) O direito à vida: 
É, por certo, o mais fundamental de todos os direitos, constituindo, da fala de 
ALEXANDRE DE MORAES (2001, p. 61), pré-requisito à existência e exercício de 
todos os demais direitos. 
A manutenção da integridade física e moral é mola propulsora para este 
direito. A pessoa humana, não pode ser torturada ou colocada no ridículo, nem ter 
sua vida tirada por outra pessoa. Tal direito deve ser entendido como qualidade de 
vida. 
É dever do Estado assegurar o direito à vida em seu duplo sentido: o 
primeiro, o de continuar vivo; o segundo, o de ter uma vida digna no que se refere à 
subsistência (moradia, salário digno, saúde, educação, entre outros). A vida se 
inicia, para efeitos da Lei, desde o útero materno, daí ser crime, no Brasil, a prática 
do aborto (MASCARENHAS, 2008). 
b) Direito à liberdade: 
É a permissão para que qualquer cidadão possa se locomover, praticar sem 
censura sua religião, se expressar contra este ou aquele (desde que justifique); 
enfim, qualquer maneira ou forma de cerceamento na liberdade da pessoa humana, 
ato de excepcionalidade. 
A ideia de liberdade de atuação do indivíduo perante o Estado traduz o 
cerne da ideologia liberal, de que resultaram as revoluções do final do século XVIII e 
início do XIX. A doutrina essencial do laissez faire exigia a redução da esfera de 
atuação do Estado e de sua ingerência nos negócios privados a um mínimo 
absolutamente necessário. 
Do lema da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade –, foi 
sem dúvida a liberdade o axioma mais encarecido originalmente pelo Liberalismo. 
Como ideologia da classe burguesa triunfante sobre o Absolutismo, interessava mais 
aos capitalistas de então a defesa da liberdade negocial do que uma atuação 
 
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tendente à obtenção de uma igualdade material, efetiva, no seio da sociedade 
(PAULO; ALEXANDRINO, 2008). 
c) Direito à igualdade: 
A igualdade é o mais vasto dos princípios constitucionais. Ela garante o 
indivíduo contra toda má utilização que se possa fazer da ordem jurídica. 
A função do princípio constitucional da igualdade é a de informar e 
condicionar todo o resto do direito. É através dele que o ordenamento jurídico pátrio 
assegura a todos, indistintamente, os direitos e prerrogativas constitucionais. 
A igualdade, no dizer de CELSO RIBEIRO BASTOS (1989, p. 13), além de 
ser um princípio informador de todo o sistema jurídico, reveste-se também da 
condição de um autêntico direito subjetivo. 
Assim, o princípio da igualdade deve ser entendido como dirigido ao 
legislador e ao próprio executivo – de modo a impedir que estes façam leis e 
medidas provisórias e arbitrárias ao Judiciário, que deverá, utilizando-se de 
mecanismos constitucionais, dar uma interpretação única e igualitária às normas 
jurídicas, mas, também, aos particulares – de modo o impedir o tratamento 
diferenciado de um cidadão por outro(s) nas mesmas situações em que a lei também 
não poderia diferençar, como por exemplo, condutas discriminatórias, 
preconceituosas ou racistas (MASCARENHAS, 2008). 
O princípio da igualdade determina que se dê tratamento igual aos que se 
encontram em situação equivalente e que se trate de maneira desigual os desiguais, 
na medida de suas desigualdades. Ele obriga tanto o legislador quanto o aplicador 
da lei (igualdade na lei e igualdade perante a lei). Alexandre de Moraes aponta 
mesmo uma tríplice finalidade limitadora do princípio da igualdade – limitação ao 
legislador, ao intérprete/autoridade pública e ao particular. 
A lei deve ser igual para todos: “homens e mulheres são iguais em direitos e 
obrigações, nos termos desta Constituição” (inciso I). Não há discriminação (sexo, 
origem social, cor, raça, escolha religiosa, filosófica ou política). 
d) Direito à segurança: 
Todas as pessoas têm direito à segurança pública. Por essa razão, devem 
existir leis que definam os crimes e as sanções para aqueles que cometerem delitos. 
A segurança, como direito, não é somente a policial, mas também a jurídica. 
 
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Nenhuma pessoa pode ser presa senão em flagrante delito ou por ordem judicial de 
prisão. Assimnão ocorrendo à prisão, será ela imediatamente considerada ilegal. 
e) Direito à propriedade: 
É o direito à propriedade particular − privada (não somente ao Estado). A 
propriedade da pessoa é atendimento a função social. Havendo necessidade da 
tomada da propriedade (para benefício social) particular-privada, o Estado deve 
indenizar com valor justo e em dinheiro. 
Os direitos individuais correspondem aos direitos diretamente ligados ao 
conceito de pessoa humana e de sua própria personalidade, como, por exemplo, o 
direito à vida, à dignidade, à liberdade. Estão previstos no art. 5.° da Constituição, 
que alberga, especialmente, os direitos fundamentais de primeira geração, as 
chamadas liberdades negativas. Nesse mesmo art. 5.°, temos direitos fundamentais 
coletivos, como são exemplos os previstos nos incisos XVI (direito de reunião); XVII, 
XVIII, XIX e XXI (direito à associação); LXX (mandado de segurança coletivo). 
 
3.2 Capítulo II – dos direitos sociais (art. 6º ao 11) 
Os direitos sociais constituem as liberdades positivas, de observância 
obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por objetivo a melhoria das 
condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização da igualdade 
material ou substancial. Estão arrolados no art. 6º e seguintes da Carta Política, e 
são disciplinados em diversos outros dispositivos constitucionais (por exemplo, 
direito à saúde - art. 196; direito à previdência - art. 201; direito à educação - art. 
206) (PAULO; ALEXANDRINO, 2008). 
Os direitos sociais são normas de ordem pública, dotadas de imperatividade, 
inviolabilidade, autoaplicabilidade, e são suscetíveis de mandado de injunção em 
caso de omissão do poder público na regulamentação de alguma norma de direito 
social que inviabilize o seu exercício (MASCARENHAS, 2008). 
Dentre os direitos sociais expressamente indicados no art. 6.° da 
Constituição Federal, encontra-se o direito à moradia, incluído neste rol pela 
Emenda Constitucional 26/2000. Em que pese essa proteção constitucional 
outorgada ao direito à moradia, o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de 
que o bem de família, instituído na forma da lei civil, de uma pessoa que assume a 
 
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condição de fiador em contrato de aluguel pode ser penhorado, em caso de 
inadimplência do locatário (RE 407.688, rel. Min. Cezar Peluso, 08.02.2006). 
Podemos, com base na classificação proposta pelo Prof. ANDRÉ RAMOS 
TAVARES (2006), identificar as seguintes categorias, dentre o rol de direitos e 
garantias constante do Capítulo II do Título II da Carta Política: 
1) Direitos sociais genéricos (art. 6.°). 
2) Direitos sociais individuais do trabalhador, pessoa física, que são direitos 
de proteção, pertinentes ao denominado “direito individual do trabalho”, abrangendo: 
a) direitos de proteção, relacionados à extinção da relação de emprego (art. 
7º, I, II, III, XXI, e art. 10 do ADCT); 
b) direitos relacionados à remuneração (art. 7º, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, 
XII, XVI e XXIII); 
c) direitos relacionados à duração do trabalho (art. 7º, XIII, XIV, XV, XVI e 
XVII); 
d) direitos relacionados à não-discriminação e à proteção, nas relações de 
trabalho, da mulher e do menor (art. 7º, XVIII, XIX, XX, XXV, XXX, XXXI, XXXII, 
XXXIII, e art. 10 do ADCT); 
e) direitos relacionados à segurança e medicina do trabalho (art. 7º, XXII e 
XXVIII); 
3) direitos sociais coletivos do trabalhador, que são aqueles pertinentes ao 
denominado “direito coletivo do trabalho”, abrangendo: 
a) liberdade de associação profissional ou sindical (art. 8º, II, V, VII); 
b) garantia de autonomia dos sindicatos (art. 8º, I, IV, VIII); 
c) direito a defesa dos interesses dos trabalhadores em negociações 
coletivas e órgãos públicos (art. 8º, III, VI, art. 10 e art. 11); 
d) direito de greve (art. 9º). 
 
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3.3 Capítulo III – da nacionalidade (art. 12 e 13) 
Enquanto vínculo jurídico político que explicita a ligação entre um indivíduo e 
determinado Estado, a nacionalidade apresenta-se como direito básico que 
capacitará o indivíduo a exigir proteção do Estado e o sujeitará ao cumprimento de 
alguns deveres (MASSON, 2015). 
O artigo 12 cuida da definição dos nacionais e dos nacionalizados e dos 
direitos e vedações a eles inerentes. Em sentido jurídico, nacionalidade é o liame 
jurídico-político que une um indivíduo a um estado (nação). 
CELSO RIBEIRO BASTOS (1999, p. 267), ao estabelecer a diferenciação 
entre o nacional e o estrangeiro, afirma que o primeiro é todo aquele que se 
encontra preso ao Estado por um vínculo jurídico que o qualifica como seu 
integrante (vínculo que o acompanha, inclusive em seus deslocamentos no espaço, 
quando se encontrar no âmbito territorial de outros Estados), ao passo que o 
estrangeiro é aquela pessoa a que o direito do Estado não atribui a qualidade de 
nacional. 
ALEXANDRE DE MORAES (2001) estabelece alguns conceitos 
relacionados com o estudo de nacionalidade, de modo a facilitar o seu 
entendimento. São eles: 
• povo – é o conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado – é o seu 
elemento humano. O povo está unido ao Estado pelo vínculo jurídico da 
nacionalidade; 
• população – é o conjunto de habitantes de um território, de um país, de uma 
região, de uma cidade. Esse conceito é mais extenso que o anterior – povo –, 
pois engloba os nacionais e os estrangeiros, desde que habitantes de um 
mesmo território; 
• nação – agrupamento humano, em geral numeroso, cujos membros, fixados 
num território, são ligados por laços históricos, culturais, econômicos e 
linguísticos; 
• cidadão – é o nacional (brasileiro nato ou naturalizado) no gozo dos direitos 
políticos e participantes da vida do estado. 
A nacionalidade pode ser primária (de origem ou originária) ou secundária 
(adquirida): 
 
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• a nacionalidade primária resulta de fato natural (nascimento), a partir do qual, 
de acordo com os critérios adotados pelo Estado (sanguíneos ou territoriais), 
será estabelecida. Cuida-se de aquisição involuntária de nacionalidade, 
decorrente do simples nascimento ligado a um critério estabelecido pelo 
Estado; 
• a nacionalidade secundária é a que se adquire por ato volitivo, depois do 
nascimento (em regra, pela naturalização). Cuida-se de aquisição voluntária 
de nacionalidade, resultante da manifestação de um ato de vontade (PAULO; 
ALEXANDRINO, 2008). 
 
São dois os critérios para a atribuição da nacionalidade primária, ambos 
partindo do nascimento da pessoa: o de origem sanguínea - ius sanguinis - e o de 
origem territorial - ius solis. 
O critério ius sanguinis funda-se no vínculo do sangue, segundo o qual será 
nacional todo aquele que for filho de nacionais, independentemente do local de 
nascimento. 
O critério ius solis atribui a nacionalidade a quem nasce no território do 
Estado que o adota, independentemente danacionalidade dos ascendentes. 
A Constituição Federal de 1988 adotou, como regra, o critério ius solis, 
admitindo, porém, ligeiras atenuações. Portanto, no Brasil, não só o critério ius solis 
determina a nacionalidade; existem situações de preponderância do critério ius 
sanguinis. 
Em relação ao tratamento diferenciado entre brasileiro nato e naturalizado, a 
Constituição de 1988 não permite que a lei estabeleça distinção entre brasileiro nato 
e naturalizado. Os únicos casos de tratamento diferenciado admitidos são aqueles 
expressamente constantes do próprio texto constitucional, a saber: 
a) Cargos: são privativos de brasileiro nato os cargos de Presidente da 
República e Vice-Presidente da República, Presidente da Câmara dos Deputados, 
Presidente do Senado Federal, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Carreira 
Diplomática, Oficial das Forças Armadas e de Ministro de Estado de Defesa (CF, art. 
12, § 3.°). 
 
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b) Função no Conselho da República: no Conselho da República, órgão 
superior de consulta do Presidente da República, foram constitucionalmente 
reservadas seis vagas a cidadãos brasileiros natos (CF, art. 89, VII); 
c) Extradição: o brasileiro nato não pode ser extraditado, o que pode ocorrer 
com o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou 
de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na 
forma da lei (CF, art. 5.°, LI). 
d) Direito de propriedade: o brasileiro naturalizado há menos de dez anos 
não pode ser proprietário de empresa jornalística e de radiofusão sonora de sons e 
imagens, tampouco ser sócio com mais de 30% (trinta por cento) do capital total e do 
capital votante e participar da gestão dessas empresas (CF, art. 222). 
A perda da nacionalidade só poderá ocorrer nas hipóteses expressamente 
previstas na Constituição Federal, não podendo o legislador ordinário ampliar tais 
hipóteses sob pena de manifesta inconstitucionalidade. 
Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que (CF, art. 12, § 4º): 
a) tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de 
atividade nociva ao interesse nacional; 
b) adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos de reconhecimento de 
nacionalidade originária pela lei estrangeira ou de imposição de naturalização, pela 
norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição 
para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. 
Em regra, o brasileiro que adquire outra nacionalidade perde a condição de 
nacional brasileiro. Porém, a Constituição Federal admite, em duas situações, a 
dupla nacionalidade: 
a) Reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira: não 
perderá a nacionalidade o brasileiro que tiver reconhecida outra nacionalidade por 
Estado estrangeiro, originariamente, em virtude de adoção do critério ius sanguinis. 
É o caso da Itália, que reconhece aos descendentes de seus nacionais a 
cidadania italiana. Os brasileiros descendentes de italianos que adquirirem aquela 
nacionalidade não perderão a nacionalidade brasileira, uma vez que se trata de 
mero reconhecimento de nacionalidade originária italiana, em virtude de vínculo 
sanguíneo (terão eles dupla nacionalidade). 
 
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b) Imposição da lei estrangeira: imposição de naturalização, pela norma 
estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para 
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. 
Nessa hipótese, o brasileiro não perde a nacionalidade brasileira porque a 
aquisição da segunda nacionalidade não se deu em razão de ato volitivo, de 
manifestação de vontade sua, mas sim de imposição do Estado estrangeiro. O 
brasileiro não possuía a intenção de abdicar da nacionalidade brasileira, mas, por 
força da norma estrangeira, vê-se praticamente obrigado a adquirir a nacionalidade 
estrangeira, por motivos de trabalho, acesso aos serviços públicos, entre outros 
(PAULO; ALEXANDRINO, 2008). 
 
3.4 Capítulo IV – dos direitos políticos (art. 14 a 16) 
Os direitos políticos cuidam do conjunto de regras que disciplinam as formas 
de atuação da soberania popular, com o fim de permitir ao indivíduo o exercício 
concreto da liberdade de participação nos negócios políticos do Estado, conferindo-
lhe os atributos da cidadania. Estão enumerados no art. 14 da Constituição (PAULO; 
ALEXANDRINO, 2008). 
Por soberania popular, é importante saber: 
• decorre de preceito constitucional estabelecido no parágrafo único do artigo 
1º, da Constituição Federal, que assim dispõe: “Todo poder emana do povo, 
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos 
desta Constituição”; 
• a soberania popular é exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e 
secreto, com valor igual para todos, e nos termos da lei, mediante: 
I – plebiscito; 
II – referendo; 
III – iniciativa popular. 
Têm o “direito” de votar todos os maiores de dezoito anos, os analfabetos, 
os maiores de setenta anos e os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. 
Em verdade, o que deveria ser “um direito” é, na prática, um dever, posto 
que o voto em nosso País é obrigatório, exceto para os maiores de setenta e os 
menores de dezesseis e maiores de dezoito, e para os analfabetos. Em outras 
 
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palavras, é “um direito” para as exceções, e um “dever”, para a regra geral 
(MASCARENHAS, 2008). 
Por outro lado, têm direito de ser votado, todos aqueles que possuem as 
condições de elegibilidade, vale dizer, aqueles que podem ser eleitos. 
Sufrágio é o direito que todos os que estão em pleno gozo dos seus direitos 
políticos têm de votar e ser votado. Apresenta-se, pois, sob dois aspectos: 
a) Capacidade eleitoral ativa (direito de votar – alistabilidade). 
b) Capacidade eleitoral passiva (direito de ser votado – elegibilidade). 
A Constituição Federal prevê que uma das formas de exercício da soberania 
popular será a realização de consultas à população, por meio de plebiscito e 
referendo (CF, art. 14), que deverão ser autorizados pelo Congresso Nacional (CF, 
art. 49, XV). 
Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere 
sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou 
administrativa. 
O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou 
administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido 
submetido. 
O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou 
administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição. 
A distinção entre os institutos é feita levando-se em conta o momento da 
manifestação dos cidadãos: se a consulta à população é prévia, temos o plebiscito; 
se a consulta à população sobre determinada matéria é posterior à edição de um ato 
governamental, temos o referendo

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