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PROVA 2 CLÍNICA GASTRO Maria Eduarda Valgas 1 CIRROSE HEPÁTICA DEFINIÇÃO © Doença crônica do parênquima hepático, caracterizado por nódulos regenerativos circundados por faixas fibrosas, formados em decorrência de agressão hepática crônica, levando a hipertensão portal e a insuficiência hepática; ó Desarranjo estrutural do fígado; • Desvio do sangue da veia porta e da veia hepática diretamente para a veia cava (não há troca com os sinusóides) ó Hepatócitos fora da morfologia normal (nódulos regenerativos – hepatócitos regenerados deformados); © Três características principais (características para considerar o paciente cirrótico): ó Septos fibrosos em ponte; ó Nódulos parenquimatosos regenerativos; ó Perda da arquitetura normal do fígado; © Outras características: ó Lesão parenquimatosa e fibrose difusas; ó Nodularidade (fígado com aspecto nodular); ó Desorganização da arquitetura vascular com shunts vasculares intra-hepáticos • O paciente tem sinusóide e hepatócito, no entanto essas duas estruturas não estão em íntimo contato como deveriam estar); © Desorganização vascular leva ao desvio de sangue portal e arterial hepático diretamente para as veias centrais, comprometendo as trocas entre os sinusóides hepáticos e os hepatócitos. ó Quando o sangue da veia porta chega no fígado doente ele não consegue fazer a troca, passando para circulação sistêmica sem ocorrer o metabolismo hepático. PREVALÊNCIA © Distribuição global, independente de raça, sexo ou idade; ó Crianças por doenças genéticas. Mais comum em homens © Estima-se 100 milhões de pessoas acometidas em todo o mundo; © Em 2005, foi a 5ª causa de óbito em pacientes do sexo masculino no Brasil; ó 17.694 óbitos - 19,5 óbitos/100.000 habitantes; © Mortes no mundo atribuídas à cirrose hepática alcoólica em 2010: ó 493.300; ó 0,9% de todas as mortes; ó 7,2 mortes/ 100 mil pessoas atribuídas à cirrose hepática alcoólica; ETIOLOGIA © Via final comum da lesão hepática crônica causada por inúmeras injúrias que resulta no processo de cicatrização (fibrose) do parênquima hepático. ó Cirrose não é o diagnóstico final. Temos que buscar o que ocasionou a cirrose (se não soubermos a causa, não conseguiremos tratar o paciente) ó Causas de cirrose à causas de lesão hepatocelular (cirrose só surge se lesar o hepatócito) ® Vírus da hepatite C (VHC); ® Vírus da hepatite B (VHB); ® Álcool; ® Esteatohepatite não alcoólica - esteatose (NASH); © Hepatopatias autoimunes (HAI, CBP, CEP); © Doenças metabólicas (Hemocromatose, D. Wilson, Deficiência de alfa 1 antitripsina); © Drogas (metotrexate, metildopa); © Criptogênica ou idiopáticaà não consigo identificar a causa. (até 10% dos casos) Após o diagnóstico de cirrose é necessário buscar a causa base para tratar Uma das principais causas de doença hepática crônica no mundo é a esteatose PROVA 2 CLÍNICA GASTRO Maria Eduarda Valgas 2 FISIOPATOGENIA © Deposição de colágeno, criando tratos septais; © Depósito de colágeno do espaço de Disse leva à perda das fenestrações das células endoteliais à capilarização sinusoidal; ó Espaço de disse = espaço virtual entre o sinusóide e o hepatócito. ó O sinusóide é fenestrado com o objetivo de facilitar a entrada do sangue. ó Na cirrose, ocorre perda dessas fenestrações, assim, perdendo o contato do sangue com o hepatócito, ocorrendo um desvio do sangue. ó No espaço de disse tem a célula estrelada (entre o sinusóide e o hepatócito) à a função dessa célula é de armazenamento de vitamina A e lipídios – em pessoas normais. • Devido a inflamação crônica (de qualquer etiologia) os macrófagos do fígado (células de Kupffer) são ativados e acabam levando a produção de interleucinas inflamatórias que atuam nas células estreladas as transformando em miofibroblastos que produzem fibrose (colágeno e glicoproteína). • Com a produção de colágeno e glicoproteínas ocorre deposição de fibrose na camada do espaço de disse, fechando as fenestrações. Isso, associado a lise celular pela hepatite faz com que os hepatócitos comecem a se regenerar com defeito, deformados, perdendo a função do fígado. PROVA 2 CLÍNICA GASTRO Maria Eduarda Valgas 3 FISIOPATOLOGIA Todo o desarranjo leva a 2 consequências è Insuficiência hepática e/ou hipertensão portal; Insuficiência hepática à ↓da massa funcional; Hipertensão portal Aumento da resistência intra-hepática (o sangue tem que ter mais força para passar a barreira de fibrose); Aumento do fluxo sanguíneo portal; ® As alterações estruturais (fibrose + sinusóides sem fenestrações + hepatócitos deformados) aumentam a resistência intra-hepática (aumentam a dificuldade do sangue chegar até o fígado). Associado a isso ocorre uma vasodilatação esplâncnica (circulação esplâncnica = circulação abdominal) = vasodilatação dos vasos abdominais, o que faz com que mais sangue chegue no abdome (e consequentemente na veia porta). ® Por que ocorre vasodilatação esplâncnica? Ainda não se sabe! O que se imagina é que o paciente cirrótico faça um desequilíbrio entre os mediadores de vasodilatação (óxido nítrico) e vasoconstrição (paciente cirrótico produz mais vasodilatadores que vasoconstritores). ® Dentro do fígado ocorre o CONTRÁRIO à são produzidos mais vasoconstritores, então ocorre vasoconstrição, aumentando o tônus dos sinusóides. - Circulação sistêmica abdominal = vasodilatação - Dentro do fígado = vasoconstrição PROVA 2 CLÍNICA GASTRO Maria Eduarda Valgas 4 Cirrótico descompensado: ® Vasodilatação dos vasos abdominais à mais sangue chega até a região abdominal à ↓sangue periférico (↓ volume arterial efetivo); ® Com a redução do volume arterial efetivo o organismo entende que a pessoa está precisando de sangue à ativação de mecanismos compensatórios (faz um maior debito cardíaco) e no rim pela Hipoperfusão renalà ativa SRAA (absorção no tubo distal de mais água e sódio); retém muito e extravasaà ascite ® Absorção de água e sódio à 3º espaço à ascite; ® Pacientes cirróticos tendem a ser mais hipotensão ® A maioria dos pacientes cirróticos não fazem essa descompensação porque o organismo consegue se adequar. No entanto, em quadros mais graves o paciente descompensa e ocorrem essas alterações. Em pacientes mais graves também ocorre Hipoalbuminemia (diminui pressão oncótica dentro dos vasos o que facilita que estravaze líquido para o 3º espaço) à mas esse não é o mecanismo principal, o principal é a retenção de sódio e água!! - Melhor diurético para CIRRÓTICO = ESPIRONOLACTONA! MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS © A maioria dos cirróticos não tem manifestações clínicas!!! © Podem ter: Alterações constitucionais è fadiga, anorexia e perda progressiva de massa muscular (↓testosterona por deficiência) © Insuficiência hepática crônica: ó Hiperestrogenismo/hipoandrogenismo: • Eritema palmar (área bem vermelha em região tenar e hipotênar); • Telangectasias (principalmente em face e tronco – pontinhos de vasos com ramificações – “aranhas vasculares”); § Se apertar e sumir = Telangectasia; • Ginecomastia (pode ser dolorida à palpação); • Redução da massa muscular (↓ testosterona) • Atrofia testicular e queda da libido; � • Rarefação de pelos; © Descompensação do quadro hepático: � ó Encefalopatia hepática; � ó Icterícia e coagulopatia; ó Disfunção renal; (vasoconstrição renal) O sangue passa do intestino para o organismo, não há metabolização efetiva de várias substâncias (inclusive medicações), bactérias que seriam captadas pelo fígado/baço não são captados (morrem mais de infecção) © Hipertensão portal: ó Ascite; ó Varizes gastroesofágicas; ó Esplenomegalia congestiva; ó Circulação colateral; (Umbilical) PROVA 2 CLÍNICA GASTRO Maria Eduarda Valgas 5 HISTÓRIA NATURAL DA CIRROSE © Descompensação àinfecções, falta de tratamento... ó Identificação da descompensação: ascite, encefalopatia hepática, hemorragia digestiva (varizes esofágicas), alteração do TAP/albumina.... ó A sobrevida cai em média 2 anos quando o paciente descompensa; ó Mortalidade grande nos próximos anos; © Pacientes com ascite à geralmente estágios finais da doença; © Maioria dos pacientes são compensados J DIAGNÓSTICO Cirrose hepática é um termo anatomopatológico; Padrão ouro è biópsia hepática (não é feito) Clínica: Anamnese; Estigmas de hepatopatia crônica à eritema palmar, telangectasias, ginecomastia; Presença de sinais/sintomas das complicações à ascite, encefalopatia; Evidências de hipertensão portal à esplenomegalia, circulação colateral; Lab Não há indicadores específicos; Pedir: ® TGO/TGP (geralmente pouco elevadas e TGO > TGP); ® TAP, albumina, bilirrubina (estão alterados em pacientes descompensados); ® FA, GGTà discretamente alterada ® Hemograma (avaliar citopenias à podem ter anemia, Plaquetopenia, leucopenia); • Plaquetopenia em pacientes cirróticos ocorre pelo hiperesplenismo (hipertensão portal – aumenta o baço – ocorre uma k distributiva à as plaquetas são produzidas e são funcionantes, mas ficam no baço); ® Eletroforese de proteínas (painel de todas as proteínas do organismo) ü Hipoalbuminemia e alargamento do TAP; Aumento de bilirrubinas (fração direta); Pancitopenias (pp. plaquetas); ü Hipergamaglobulinemia (aumento da fração de gama globulina no sangue) – visto através da eletroforese de proteínas; * Função da gama globulina = defesa (produção de anticorpos); * Por que ocorre aumento em pacientes cirróticos? Porque como o fígado não consegue mais detoxificar o sangue que vem da circulação espâncnica, mais endotoxinas acabam caindo na circulação sistêmica, fazendo com que se produza mais gama globulina por mecanismos de defesa. * Índice APRI, Fibrotest®; Imagem USG (principal) à superfície irregular, superfície heterogênea, lobo E > D, veia porta dilatada. Endoscopia (todo paciente com cirrose tem que fazer para avaliar a presença de varizes esofágicas); Presença de varizes esofágicas = hipertensão portal (hipertensão portal pode ser causada por cirrose, esquistossomose, trombose de veia porta...); Fibroscan (similar ao USG) elastografia; - ainda não é caro, não muito utilizado; Laparo Fígado com aspecto nodular 1. Parâmetros clínicos: 2. Parâmetros laboratoriais; 3. Parâmetros de imagens; 4. Laparoscopia; PROVA 2 CLÍNICA GASTRO Maria Eduarda Valgas 6 PROGNÓSTICO DA CIRROSE HEPÁTICA © Diagnóstico etiológico; © Estadiamento; © Atividade da doença; © Complicações; © Efeito do tratamento; PROGNÓSTICO – AVALIAÇÃO FUNCIONAL Classificação de Child-Pugh: © Bilirrubinas; © Albumina; © Tempo e atividade da protrombina; © Ascite; © Encefalopatia; B E A T A 5 a 6 pontos à85% sobrevive nos próximos 2 a 7 a 9 pontos à60% sobrevive nos próximos 2 a 10 a 15 pontos à35% sobrevive nos próximos 2a MELD (Model for End-Stage Liver Disease): © Avalia bilirrubina sérica, INR e creatinina sérica. © MELD = 3,78[Log bilirrubina sérica (mg/dL)] + 11,2[Log INR] + 9,57[Log creatinina sérica (mg/dL)] + 6,43 © Quanto maior o número, maior o risco de morrer; © Score mais acurado; © Dependendo da pontuação o paciente vai subindo ou descendo na fila de transplante (score 40 à tem que ser transplantado rapidamente!!); Mortalidade em 3 meses: 40 — 100% de mortalidade; 30–39 — 83% de mortalidade; 20–29 — 76% de mortalidade; 10–19 — 27% de mortalidade; <10 — 4% de mortalidade; TRATAMENTO © Tratamento depende da causa da cirrose; © Suporte nutricional; © Tratamento e prevenção das complicações; © Avaliação para transplante hepático;
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