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Introdução à Parasitologia- Aula 1 Todos os seres vivos dependem das condições físicas, químicas e climáticas do meio ambiente e em grau variado, de outros seres vivos, que por sua vez também dependem destas condições e estabelecem um ecossistema. Ecossistema e Ecologia: · Ecossistema: É a unidade funcional de base em ecologia representando uma comunidade ecológica ou um ambiente natural onde há um estreito relacionamento entre as várias espécies de animais, vegetais, microrganismos e também minerais. · Ecologia: É o estudo das relações ecológicas dos seres vivos entre si e o meio ambiente. Relações Ecológicas: · Simbiose: · O termo simbiose vem do grego e significa “vivendo junto”. Utilizado em 1879 pelo micologista Anton de Barry com o sentido “do viver junto de organismos diferentes”. · É toda associação interespecífica (entre duas espécies diferentes) na qual existe um grau variado de dependência recíproca. Em alguns casos chega a tal ponto que nenhuma das duas espécies consegue viver isolada da outra. · Forésia ou Forese: · É uma associação interespecífica na qual o indivíduo de uma espécie transporta o individuo de outra espécie, sem se prejudicarem. Exemplo: · Abelha capturando néctar em uma flor, permitindo a realização da polinização. · Veiculação de ovos de Dermatobia hominis por moscas do gênio Fannia. · Comensalismo: · Interação trófica indireta que ocorre entre espécies diferentes, na qual uma espécie é beneficiada com a interação, entretanto, a outra não é beneficiada, nem prejudicada. · No comensalismo observa-se que uma espécie está em busca de alimento e aproveita-se de outra para conseguir esse recurso. Exemplo: Candida albicans: É um fungo habitante comensal da mucosa humana, fazendo parte da microbiota da pele, da mucosa oral, da mucosa gástrica e da mucosa do trato urogenital. Essas leveduras podem se transformar e deixar de serem comensais, causando a destruição do tecido da pele ou das mucosas dando origem a candidíase. · Mutualismo: · É uma relação ecológica entre indivíduos de espécies diferentes, em que ambos são beneficiados pela interação. Exemplos: Líquens- São o resultado de mutualismo entre algas ou cianobactérias e fungos filamentosos. Os fungos fornecem proteção e capturam/reservam água e minerais do substrato, enquanto as algas fornecem carboidrato. · Exploração: · É uma relação ecológica na qual existem danos. Esses danos podem ser: Explorado raramente morre Explorado sempre morre Muitos hospedeiros: Micropredador (hematófagos) Um hospedeiro: Parasita (protozoários, helmintos) Muitos hospedeiros: Predador (leão x gazela, leão x zebra); Um hospedeiro: Parasitoide (vespa) Introdução à Parasitologia: · Parasitologia: É a ciência que estuda o parasitismo. · Parasitismo: Associação entre seres vivos onde existe unilateralidade de benefícios, mas que tende para o equilíbrio. É toda relação ecológica desenvolvida entre indivíduos de espécies diferentes, em que se observa além de associação íntima e duradoura, uma dependência metabólica de grau variado. Exemplos: · Sacculina sp.: É um tipo de craca, pertencente ao grupo cirripedia, que após injetar algumas células (“slug”) através das antenas ou dobras, se instala perto do intestino e passa a se alimentar da comida do caranguejo. Depois, forma projeções que se espalham por todo o corpo do caranguejo e produz substancias que fazem com que o hospedeiro pare de crescer e de regenerar partes. A Sacculina então desenvolve uma estrutura externa onde irão albergar crustáceos machos que vão fertilizar os ovos que ali permanecerão protegidos até o final do desenvolvimento. A Sacculina vai também controlar o comportamento do caranguejo que vai cuidar dos ovos como se fossem seus. · Ophiocordyceps unilateralis: Trata-se de um fungo que infecta uma formiga, que irá se transformar em uma “formiga zumbi”. Os esporos do fungo irão entrar em contato com a formiga emitindo hifas que serão capazes de penetrar a carapaça da formiga e atingir a hemolinfa. Uma vez atingido a hemolinfa, o fungo passa a produzir substâncias que irão mudar o comportamento da formiga em relação a sua comunidade. A tendência é que essa formiga suba em uma determinada altura de uma árvore onde a temperatura e a umidade seja ideal para o desenvolvimento do fungo. Na árvore, a formiga irá morder a veia central da folha e, posteriormente, sua mandíbula irá travar. O fungo continuará se desenvolvendo formando uma estrutura cheia de esporos, que serão lançados de cima da árvore, tendo probabilidade maior dos esporos atingirem uma área maior da superfície e contaminar novas formigas. · Toxoplasma gondii: · Parasita intracelular obrigatório que possui como hospedeiro definitivo o felino, que irá eliminar em suas fezes cistos do parasita, que podem ser ingeridos por roedores ou outros animais. Nesses animais, os cistos se desenvolvendo formando cistos teciduais. Eventualmente, o felino, em seu comportamento eventual, irá caçar esses animais e se contaminar. No corpo no felino, o Toxoplasma irá se reproduzir, de maneira sexuada. Os cistos também podem contaminar alimentos, água e outros animais, como por exemplo, porcos, cabras, entre outros, que podem ser ingeridos pelo ser humano, infectando-o. · O toxoplasma infecta todo tipo de célula nucleada e trata-se de um parasito intracelular obrigatório. · Possui distribuição mundial. · Tem caráter oportunista, em imunocomprometidos causa toxoplasmose. · Apresenta diferentes formas evolutivas: taquizoítas, bradizoítas e cistos. · Taquizoítas dividem-se rapidamente e são capazes de afetar tecidos (cérebros, retina) e cruzar a barreira hemato-encefálica e transplacentária (comprometendo seriamente a gestação). · Na infecção, o Toxoplasma é capaz de modificar o comportamento do hospedeiro: camundongo perde o medo do cheiro da urina do gato, alto índice de humanos mortos em acidentes automotivos em função de convulsão, alto índice de suicídio entre infectados. Parasitismo: · O estabelecimento das relações são muito mais íntimas e duradouras; · A intimidade se manifesta pelo contato permanente que muitas vezes ocorre em nível histológico. · Observa-se diferentes graus de dependência metabólica: incapacidade de produzir determinadas substâncias, perda de informação genética, etc. · Um dos organismos passa a ser o meio ecológico do outro ou seu habitat. Conceitos Básicos: · Habitat: É onde o parasito vive (órgão ou região no hospedeiro onde tem predileção). · Hospedeiro: Organismo que serve de habitat para outro que nele se instala encontrando as condições de sobrevivência. · Hospedeiro definitivo: É o que apresenta o parasito em fase adulta ou em fase de atividade sexual. · Hospedeiro intermediário: É o que apresenta o parasito em fase imatura ou em fase assexuada. · Habitat dos parasitos no hospedeiro: · Tubo digestivo: Protozoários (amebas, Giardia, etc), helmintos ou vermes. · Mucosas/epitélio: Protozoários (amebas, Giardia, Trichomonas), fungos. · Órgãos internos (pulmão, fígado, cérebro, etc): Protozoários, fungos, helmintos ou vermes. · Sistema fagocítico mononuclear: Fungos, protozoários (Leishmania, Trypanosoma). · Sangue, linfa e líquidos intersticiais: Fungos, protozoários, helmintos ou vermes. Parasito X Doença: · Agente etiológica: É o agente causador ou o responsável pela origem da infestação ou doença, que é também chamada de parasitose. Exemplo: O Toxoplasma gandii é o agente etiológico da toxoplasmose. O Plasmodium falciparum é o agente etiológico da malária. Existem várias maneiras para estabelecer o contato com o parasito e ter o início de uma infecção: · Ingestão: Água e alimentos contaminados com cistos, formas trofozoítas, ovos, larvas, etc. · Inalação: Esporos de fungos. · Penetração: Mucosas, descontinuidades da pele ou mesmo através da pele íntegra. · Inoculação: Vetor ou fômites. · Vetor: É um artrópode,molusco ou outro veículo transmissor de um parasito. · Vetor Biológico: É quando, além de ser transmitido, o parasito também se reproduz ou se desenvolve no vetor. · Vetor Mecânico: É quando só ocorre a transmissão do parasito (não se reproduz nem se desenvolve no vetor). · Vetor Inanimado ou Fômite: Quando o parasito é transportado por objetos, tais como lenções, seringas, espéculos, talheres, etc. · Modalidades de Parasitismo · Nível de exigência do parasito em relação ao seu hospedeiro. · Parasito Obrigatório: Em condições naturais não podem prescindir da vida parasitária. Exemplo: protozoários e helmintos. · Parasito Facultativo: Habitualmente livres, podem se implantar em outros seres vivos e tornarem-se parasitas/patógenos. Exemplos: fungos. · Número de hospedeiros necessários para completar o ciclo evolutivo: · Parasito Monoxênico: Só possui hospedeiro definitivo. · Parasito heteroxênico: Possui hospedeiro definitivo e intermediário. · Localização habitual: · Parasito Cavitário: Encontrado em cavidades naturais do organismo e lúmen de órgãos como os intestinos grosso e delgado. Exemplos: vermes e protozoários. · Parasito Tecidual: Encontrado no sangue, líquor, linfa, líquidos intersticiais e diferentes tecidos. · Parasito Superficial: Encontrado na superfície da pele, unhas e cabelos. · Ciclo Biológico. · O desenvolvimento de um parasito se inicia pela instalação no hospedeiro e obedece a um programa regular de acontecimentos- Ciclo Biológico. · O ciclo biológico também envolve a passagem (transmissão) do parasito de um hospedeiro para outro hospedeiro e o seu desenvolvimento neste último. · Conhecer o ciclo biológico do parasito permite que se entenda a sua biologia e sua(s) relação (ões) com o(s) hospedeiro(s) e, consequentemente, a sua patogenicidade. · Fornece uma visão de pontos de prevenção, tratamento e controle das parasitoses (profilaxia). · Patogenicidade: É a habilidade/capacidade do agente etiológico (parasito) em provocar lesões/danos e doenças/infecção. · Patogenia: Mecanismo pelo qual um parasito causa lesões/danos e doenças/infecção. · Profilaxia: É o conjunto de medidas que visam à prevenção, controle ou erradicação das lesões/danos e doenças/infecções causadas pelos parasitos. · Parasito e Hospedeiro: Incluem os eucariotos (protozoários, artrópodes, helmintos (acantocéfalos, platelmintos, nematódeos), fungos). Observação: Vírus e bactérias também podem ser parasitas, mas estes não serão estudados. Observação: Viva aonde viver, esteja onde estiver o homem sempre está exposto as infecções parasitárias em maior ou menor grau. Contudo, a severidade da doença causada pelas parasitoses depende de vários fatores que se relacionam, tais como: - A(s) espécie(s) do(s) parasito(s); - A carga parasitária; - A idade do hospedeiro; - O estado nutricional e imunológico do hospedeiro. · Relação Parasita-Hospedeiro. · Fatores que predispõem à infecção grave por parasitos: Inerentes ao hospedeiro: Inerentes ao parasito: Idade do hospedeiro; Estado nutricional; Fatores imunológicos; Fatores sócio-econômicos; Sexo e fatores genéticos; Doenças intercorrentes; Reexposição. Espécie/estirpe; Infecções múltiplas; Carga parasitária; Localizações ectópicas- Local do tecido onde o parasito está causando a infecção; Uma questão de sobrevivência: · O parasito se adapta a cada nicho do hospedeiro; · Ocorre a formação de uma relação íntima. · Dependência metabólica; · Muitas adaptações podem ser observadas; · Ocorre uma relação duradoura (crônica) · No parasitismo endêmico, quando ele está restrito a uma determinada região do país ou do planeta. · Existe um reservatório de infecção; · Vias de transmissão entre hospedeiro/vetor. · Capacidade reprodutiva garantida. · Geralmente o parasito mais bem adaptado é também o menos patogênico (o que menos causa danos). Prevenção: · Educação; · Condições socioeconômicas; · Tratamento adequado; · Bom diagnóstico.
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