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Este conteúdo foi produzido pelo Núcleo de Educação a Distância da Universidade Brasil e sua reprodução e distribuição são autorizadas apenas para alunos regularmente matriculados em cursos de graduação, pós-graduação e extensão da Universidade Brasil e das Faculdades e dos Centros Universitários que mantêm Convênios de Parceria Educacional ou Acordos de Cooperação Técnica com a Universidade Brasil, devidamente celebrados em contrato. HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA A REPRESENTATIVIDADE INDÍGENA E A CONDIÇÃO DE PERTENCENCIMENTO SOCIAL 1. AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A DEFINIÇÃO DO CONCEITO “PERTENCIMENTO” ...... 3 2. ALGUNS PERSONAGENS INDÍGENAS E SUA REPRESENTATIVIDADE SOCIAL . 6 3. A IDENTIDADE INDIGENISTA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA. ................... 8 4. FECHAMENTO ......................................................................................................... 9 5. REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 10 7 2 AULA 7 A REPRESENTATIVIDADE INDÍGENA E A CONDIÇÃO DE PERTENCENCIMENTO SOCIAL Analisar o conceito “pertencimento” pela ótica de algumas ciências sociais como a sociologia, antropologia e filosofia; Compreender na figura de alguns personagens importantes de origem indígena, como cumprem um papel social de representação de seu povo, a fim de quebrar barreiras e preconceitos; Refletir sobre as diferentes atuações na sociedade, bem como o modo de vida do indígena na atualidade. 3 1. AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A DEFINIÇÃO DO CONCEITO “PERTENCIMENTO” Não podemos falar de pertencimento sem citar ou passar também pelo conceito de identidade, evidentemente, aquele que pertence significa que se identifica com alguém, com um lugar, com atividades e modo de vida comuns. A organização social e política constrói o papel do indivíduo no contexto da sua história e do seu desenvolvimento, principalmente, no que tange ao aspecto de grupo. Ninguém vive isoladamente, entretanto, há necessidades individuais que se inserem como elemento participativo no grupo de convívio. Portanto, a construção da identidade é um fenômeno que se produz em referência aos outros, em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade1, e que se faz por meio da negociação direta com outros. A identidade soma valores disputados em conflitos sociais e intergrupais, e particularmente em conflitos que opõem grupos políticos diversos, reafirmando uma autonomia e independência significativas. Talvez, seja essa a maior emergência pela qual os grupos indígenas estejam passando como minorias, pois, os conflitos e lutas de resistência ao explorador, ainda não trouxeram resultados positivos e com valores reconhecidos socialmente, fato esse que ainda os fazem sofrer com o genocídio. SAIBA MAIS “Isso aqui é minha vida, minha alma. Se você me levar para longe dessa terra, você leva a minha vida. ” Marcos Veron, liderança Guarani-Kaiowá, morta em 2003 aos 70 anos. Relatos apresentados na matéria do jornal Diário Oficial em 2016. Leia reportagem na íntegra em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2016/10/26/o-genocidio-dos-povos- indigenas-publicado-em-diario-oficial/>. Acesso em: 26/03/2018. Pertencer, significa antes de tudo, ser reconhecido em autenticidade e sem julgamentos, constituir uma essencialidade, cuja etnia estará sendo posta à visibilidade constante, portanto, sendo incorporada à política e às estratégias sociais para operacionalizar seu pertencimento. Podemos a grosso modo chamarmos isso de Cultura, sem categorizar 1 http://www.contracampo.uff.br/index.php/revista/article/view/462. http://www.contracampo.uff.br/index.php/revista/article/view/462 4 academicamente, mas considerar seus elementos cruciais para formatar a identidade de um grupo social e sua importância no contexto global do desenvolvimento. Figura 1: Crianças das tribos Borari e Arapiuns (Pará)2. Figura 2: Identidade dos povos indígenas3. A primeira figura faz parte de uma reportagem sobre povos indígenas do Pará, os Borari que protestaram sobre a devastação da floresta dentro das terras indígenas e foram acusados pelo governo de serem “falsos índios”. A segunda figura ilustra uma matéria sobre características físicas, sociais e culturais, que atualmente legitimam a identidade dos povos indígenas. Trata-se de um texto que debate sobre conceitos usados, ainda hoje, nos livros didáticos e que estão carregados de 2 Fonte: Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2015/07/quem-pode-dizer-que-eles-nao-sao-indios- 2422.html>. Acesso em: 26/03/2018. 3 Fonte: Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/quem-sao/povos-indigenas>. Acesso em: 26/03/2018. 5 preconceito ou de erros grosseiros, pela falta de atualização e reconhecimento das transformações pelas quais os índios já passaram. Podemos analisar com isso que nas duas situações há mostras evidentes da falta de aceitação dos indigenistas no contexto social mais abrangente, ou seja, as mudanças e conquistas geram às pessoas um julgamento sobre os índios, ainda, pela sua condição de origem histórica antiga; ainda prevalece a imagem que está no imaginário coletivo do índio despido, pintado, antropofágico, silvicultor, caçador e muito mais. SOCIOLOGIA Para a Sociologia, toda e qualquer identidade é construída a partir das relações sociais e do comprometimento entre os indivíduos e o lugar onde vivem; atuando como grupo e se tornando responsável por ele. ANTROPOLOGIA Para a Antropologia, a identidade está inserida no processo de percepção do outro; é nesse sentido que surge o sentimento de pertencimento, cujo estabelecimento do sentido de representatividade e identificação dos seus participantes sociais são inseridos. FILOSOFIA Para esta Ciência, a identidade pode ser explicada a partir do conhecimento que um indivíduo tem de si próprio; gerando capacidades para administrar relações interpessoais, fundamentais para a sobrevivência de um grupo social. Quadro 1: Breve visão sobre o conceito de Identidade para algumas Ciências Sociais4. SAIBA MAIS Pela condição simplista em que se apresenta o quadro acima, recomendo o link abaixo para leitura e ilustração destas breves definições: www.revistas2.uepg.br/index.php/muitasvozes/article/download/7249/pdf_ 117 4 Fonte: Da própria autora. http://www.revistas2.uepg.br/index.php/muitasvozes/article/download/7249/pdf_117 http://www.revistas2.uepg.br/index.php/muitasvozes/article/download/7249/pdf_117 6 2. ALGUNS PERSONAGENS INDÍGENAS E SUA REPRESENTATIVIDADE SOCIAL Mário Juruna, filho do cacique xavante Apoenã, nasceu na aldeia próxima a Barra do Garças (MT) em 1942. Seis anos depois, sua tribo foi contatada pela primeira vez, pela expedição do sertanista Chico Meirelles. Dez anos mais tarde, em 1959, Juruna resolveu deixar a aldeia e conhecer de perto a vida dos brancos. Trabalhou em fazendas, viajou de carona, passou fome e, anos depois, voltou para casa. Não ficou muito tempo, e na década de 70, passou a percorrer os gabinetes da Funai em Brasília, lutando pela demarcação xavante. Foi então que se tornou famoso: jamais era visto sem seu gravador, ‘para registrar tudo o que o branco diz’. Em 1981, Juruna foi eleito deputado federal pelo PDT. Findo o mandato e abandonado pela tribo, ficou na miséria em Brasília; Raoni também perdeu uma eleição: foi destituído do cargo de cacique dos caiapós- txucarramães por Tutu Pombo. Perdeu em casa, mas ganhou o mundo. Acompanhando o cantor Sting, percorreuo planeta, foi recebido por alguns dos mais poderosos políticos do planeta e conseguiu atenção e dinheiro para a causa indígena no Xingu e na Amazônia. Nasceu em 1942. Ficou famoso em 1976, quando o francês Jean-Pierre Dieleux dirigiu um documentário sobre sua vida; Sepé-Tiaraju: Índio guarani de São Miguel das Missões (RS), onde resistiu com guerrilhas ao avanço dos exércitos português e espanhol, na chamada Guerra Guaranítica, 1754-56. Morreu em 1756 ao preparar uma emboscada aos espanhóis. Filipe Camarão: Nasceu na região atualmente conhecida como Rio Grande do Norte. Índio batizado e casado com Clara Camarão, que conforme o costume indígena, acompanhava o marido nos combates. Por suas lutas contra os holandeses, o rei Filipe III de Portugal e Espanha concedeu a Filipe Camarão o brasão de armas, com soldo e patente de capitão-mor dos índios e uma pensão de 40.000 réis. Em 1635, recebeu o tratamento de Dom e a comenda de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Com seus índios, Camarão combateu em Porto Calvo, Goiana, Terra Nova, Camandaiatuba, Baia de Todos os Santos, Casa Forte, Rio Guaju e Aguiar. Seu último combate foi na primeira batalha dos Guararapes, em 1648, quando adoeceu e se recolheu ao Engenho Novo de Goiana, vindo a falecer, sendo sepultado na igreja do Arraial. Zorobabê: Cacique potiguara, aliado dos franceses na segunda metade do século XVI. Submetido pelos portugueses, marchou com 1.300 índios para proteger a capitania da Bahia 7 contra os aimorés. Mas seus guerreiros, com medo de serem escravizados, revoltaram--se e conseguiram autorização para voltarem ao litoral da Paraíba, desde que atacassem os Quilombos dos Palmares. Fato ocorrido em 1603. Cunhambebe: Chefe tamoio que dominava a região de Cabo Frio (RJ) até Bertioga (SP). André de Thevet (padre francês) descreve o chefe índio de quem Hans Staden (mercenário alemão) foi prisioneiro entre 1554 e 1557. Morreu de peste logo após a chegada dos franceses de Villegaignon na baía de Guanabara. Inácio Abiaru: Chefe guarani que derrotou a bandeira paulista de Jerônimo Pedroso de Barros em 1641, no rio Mbororê, afluente do rio Uruguai, encerrando o ciclo de bandeiras no extremo sul. André Guacarari: Índio de São Borja (RS), conhecido como Andrezito Artigas, derrotou a tropa luso-brasileira comandada por Gama-Lobo, em 1817. Araribóia: Antigo senhor da ilha de Paranapuã, Araribóia era tão fiel aos portugueses que se batizou com o nome de Martim Afonso de Sousa. Por sua participação decisiva na conquista do Rio, foi feito cavaleiro da Ordem de Cristo e ganhou uma vasta sesmaria em Niterói. Mas, em 1574, repreendido pelo governador Antônio Salema por cruzar as pernas na presença dele, Araribóia se ofendeu, voltou para Niterói e não saiu mais do local, até morrer esquecido. Fonte: Cemepe - Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais julieta Diniz. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/c/direitos/constituicoes/introducao>. Acesso em: 26/03/2018. Cada personagem descrito acima formou um elo com sua “gente”, categorizando suas ações pela emergência da representatividade cultural e afirmação de seu grau de pertencimento ao grupo indígena de origem. O avanço da ignorância e violência contra os índios gerou na sociedade nacional e internacional nos últimos anos, um posicionamento que propiciou para os "índios" no Brasil, um oficial mecanismo de pressão para a produção de uma representação ou representações. Reconhecer e valorizar tais características das formas indígenas de se organizar e representar, tem sua importância atual pautada por estatutos e emendas governamentais que, no fundo, ainda representam os interesses do homem branco e ignoram as inúmeras organizações criadas pelo próprio índio no intuito de se autodefender da exclusão social. 8 SAIBA MAIS Recomendo esse vídeo no youtube como exemplo da força e determinação dos povos indígenas em suas lutas para sobreviverem como grupo e com suas identidades. Fóruns Permanentes - 30 anos da Constituição e o capítulo “Dos Índios” na atual conjuntura, publicado pela TV Unicamp. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=16&v=ARxNMge-pGs>. Acesso em 25 de abril de 2019. 3. A IDENTIDADE INDIGENISTA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA. Algumas iniciativas indigenistas têm sido praticadas para não só acompanharem os avanços da modernidade, mas também para provarem que, mesmo com características inovadoras nas tribos, hoje é necessário serem visíveis aos olhos do mundo e fazerem crescer as relações de trocas culturais para, enfim, formarem um todo que explique a identidade brasileira. Simultaneamente ao processo de auto-organização política dos povos indígenas no Brasil, diversas outras ações foram por eles desencadeadas, assumindo cada vez mais novos espaços, além daqueles tradicionais: É o caso do domínio da escrita, por exemplo, cuja educação tem proporcionado registros e testemunhos que servem como referências para a Educação em geral; trata-se de materiais produzidos tanto na língua nativa como em português; O aprendizado das ferramentas de informática e da internet deram às organizações indígenas maior visibilidade e meios para divulgar suas culturas e direitos. “Web indígena”. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Web_ind%C3%ADgena>. Acesso em 20 abril de 2019; As associações e organizações indígenas surgiram em várias regiões do Brasil, na década de 1980. Mas foi após a promulgação da nova Constituição Federal em 1988, que elas se multiplicaram, devido a possibilidade dessas associações se constituírem como pessoas jurídicas; 9 Instrumentos jurídicos já permitem a alguns indígenas a possibilidade de patentear produtos genuinamente brasileiros e de produção local; isso significa crescimento e evolução na economia indígena; A política tem chamado a atenção dos indigenistas para a possibilidade de representação, evidentemente, o processo de eleições também vem atraindo cada vez mais indígenas para o poder público, e com isso, aumentando o número de candidatos. 4. FECHAMENTO Dentro do exposto, concluímos que: 1. As ciências sociais não identificam da mesma forma os conceitos Identidade e Pertencimento, mas chegam a um lugar comum, destacando cada uma em sua explicação, que a permanência e a força do coletivo precisam desses significados; 2. Vimos que não há possibilidade de debater o conceito Pertencimento isoladamente do conceito Identidade, ambos se complementam na formação de um grupo social bem representado; 3. Em termos de representatividade, temos na figura dos índios Raoni e Juruna, exemplos de indigenistas que promoveram ações que foram além das fronteiras das terras indígenas; suas práticas de protestos atingiram patamares internacionais e chamaram a atenção do mundo para as causas e problemas vividos por diversas nações indígenas no Brasil; 4. Com o tempo e pela falta de iniciativas concretas para ajudar verdadeiramente os indigenistas, muitas tribos passaram a buscar conhecimentos práticos da sociedade contemporânea, sejam eles educacionais, de informática e de internet, políticos, econômicos, a fim de resolverem suas questões mais eminentes em relação a exclusão social. Este conteúdo foi produzido pelo Núcleo de Educação a Distância da Universidade Brasil e sua reprodução e distribuição são autorizadas apenas para alunos regularmente matriculados em cursos de graduação, pós-graduação e extensão da Universidade Brasil e das Faculdades e dos Centros Universitários que mantêm Convênios de Parceria Educacional ou Acordos de Cooperação Técnica com a Universidade Brasil, devidamente celebrados em contrato. 10 5. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses Indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,2003. BRASIL, República Federativa. Constituição 1988. Brasília: Senado Federal. Centro Gráfico, 1988. GIANNOTTI, José Arthur; MOUTINHO, Luiz Damon Santos. Os limites da Política, uma divergência. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. KLEIN, Herbert S. e LUNA, Francisco Vidal. Slavery in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2010. TEIXEIRA, Ana Claudia C.; JÚNIOR, José César Magalhães (org.). Fundos Públicos e Políticas Sociais - Estudos, formação e assessoria em Políticas Sociais. São Paulo: Instituto Pólis, 2004.
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