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Nome do professor Sobre o autor Vinicius Couzzi Mérida Graduado em História pelo Centro Universitário São José de Itaperuna (RJ). Especialista em Política Brasileira pelo Centro Universitário São José de Itaperuna, Ética e Filosofia Política pelo Instituto Coimbra e Gestão Educacional pela Faculdade Redentor de Itaperuna. Mestre em Ciências da Religião pela Faculdade Unida de Vitória, ES e Doutorando em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Atualmente, leciona as disciplinas de Estudos Sócio- Antropológicos, Metodologia Científica, Sociologia do Direito Jurídica no curso de Direito; Introdução às Ciências Sociais e Antropologia Social no curso de Psicologia; Filosofia no curso de Administração e Estados Classes e Movimentos Sociais no curso de Serviço Social da UniRedentor de Itaperuna e Campos dos Goytacazes (RJ). Docente de Filosofia e História da Educação no curso de pós-graduação, lato sensu, em Docência do Ensino Superior da UniRedentor de Itaperuna. De igual maneira, ministra aulas de História na Secretaria Estadual de Educação do estado do Rio de Janeiro (SEEDUC). Pesquisador em Ciências da Religião à luz da história, de acordo com a graduação concluída. No Mestrado, fez uma abordagem histórico-social do Concílio Vaticano II relacionando os movimentos de resistência à recepção desse Concílio pelos movimentos conservadores do catolicismo, e no Doutorado dá sequência à pesquisa iniciada no Mestrado. Apresentação Olá, querido (a) aluno (a), seja muito bem-vindo (a)! A sociedade brasileira é constituída por diferentes grupos étnico-raciais que a caracterizam, em termos culturais, como uma das mais ricas do mundo. Entretanto, sua história é marcada por desigualdades e discriminações, especificamente contra negros e indígenas, impedindo, desta forma, seu pleno desenvolvimento econômico, político e social. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), desde sua fundação, declara que elucidar a contribuição dos diversos povos para a construção da civilização, seria um meio de favorecer a compreensão sobre a origem dos conflitos, do preconceito, da discriminação e da segregação raciais que assolam o mundo. Com essa concepção, a UNESCO, no Brasil, vem contribuindo com as diversas instâncias do governo, da sociedade civil organizada e da academia, na elaboração e no desenvolvimento de ações que possam respeitar as diferenças e promover a luta contra as distintas formas de discriminação, entre elas, a étnico-racial. . . . Bons estudos! Objetivos A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira. Os alunos deverão, a partir de suas experiências de aprendizes, entender a pluralidade cultural e étnica do Brasil, diante da história de diferentes povos e etnias que constituem a nossa nação; Capacidade de dialogar com diferentes culturas e realidades; Capacidade para analisar criticamente as diferenças culturais e sociais do Brasil, com vistas a combater a discriminação e o preconceito racial. Sumário AULA 1 - CIDADANIA PARA TODOS: UMA ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO DE CIDADANIA AO LONGO DA TRAJETÓRIA HUMANA 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12 AULA 2 - A RELAÇÃO ENTRE CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS 2 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 27 AULA 3 - A RELAÇÃO ENTRE ÍNDIOS E PORTUGUESES NO BRASIL COLONIAL 3 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 40 AULA 4 - CONFLITOS ENTRE ÍNDIOS E COLONIZADORES 4 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 55 AULA 5 - A ESCRAVIDÃO INDÍGENA NO BRASIL 5 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 69 5.1 Mão de obra indígena nas colônias europeias ....................................... 69 5.2 A catequese dos indígenas ....................................................................... 71 5.3 Alterando as regras .................................................................................... 73 AULA 6 - NARRATIVAS, MEMÓRIAS E ENSINO DE HISTÓRIA INDÍGENA NO BRASIL: O RESGATE DAS DIFERENTES IDENTIDADES 6 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 83 6.1 A importância da memória coletiva ........................................................ 83 6.2 A memória dos índios precisa ser resgatada .......................................... 85 AULA 7 - PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DO MOVIMENTO INDÍGENA E A QUESTÃO NA CONTEMPORANEIDADE BRASILEIRA 7 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 95 AULA 8 - OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ÍNDIOS NA HISTÓRIA E ATUALIDADE 8 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 106 8.1 A cidadania do índio brasileiro ............................................................... 107 AULA 9 - A EDUCAÇÃO DE INDÍGENAS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 9 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 119 9.1 Povos indígenas no Brasil ......................................................................... 122 AULA 10 - LEI 11.645/2008: O ENSINO DA HISTÓRIA INDÍGENA 10 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 129 10.1 O presidente da república ...................................................................... 129 10.2 Luiz Inácio Lula Da Silva ........................................................................... 129 10.2.1 Fernando Haddad .................................................................................... 129 AULA 11 - O PROCESSO DE INCLUSÃO E DISCUSSÕES RELACIONADAS À TEMÁTICA ÉTNICO RACIAL NO BRASIL 11 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 137 11.1 Problematizações pertinentes ................................................................. 137 11.2 O racismo e a importância das origens ................................................. 138 11.3 A história tem consequências ................................................................. 141 AULA 12 - DESIGUALDADES SOCIAIS E QUESTÃO RACIAL: REFLETINDO SOBRE AS CONDIÇÕES DE VIDA DOS DESCENDENTES DOS PRIMEIROS POVOADORES DA COLÔNIA PORTUGUESA 12 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 147 12.1 A questão social no Brasil ........................................................................ 147 AULA 13 - A HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL COLONIAL 13 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 156 AULA 14 - A RELIGIOSIDADE AFRICANA NO BRASIL 14 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 165 AULA 15 - HISTÓRIA DO MOVIMENTO NEGRO 15 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 175 15.1 O que o movimento negro busca hoje ..................................................177 15.2 O que diz a lei em relação à igualdade racial? ................................... 178 15.3 Polêmicas .................................................................................................. 178 AULA 16 - A LEI 10639/03 E A CULTURA NEGRA NO BRASIL 16 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 188 16.1 Implementação da lei ............................................................................. 191 16.2 História e cultura afro-brasileira .............................................................. 192 16.2.1 Diversidade negra .................................................................................... 192 16.2.2 Consciência negra ................................................................................... 192 16.3 Lei 9.394/96 e a Obrigatoriedade no Ensino da História e Cultura Afro- Brasileira .................................................................................................... 193 16.3.1 Currículo escolar ....................................................................................... 193 16.3.2 Conteúdos programáticos ...................................................................... 194 16.3.3 Calendário escolar ................................................................................... 194 16.3.4 Formação de professores ........................................................................ 194 16.3.5 Vetos .......................................................................................................... 194 Iconografia Cidadania para todos: uma abordagem histórica do conceito de cidadania ao longo da trajetória humana Aula 1 APRESENTAÇÃO DA AULA Nesta aula, estudaremos cidadania para todos. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Abordar historicamente o conceito de cidadania, de modo que entendamos a relação entre cidadania e inclusão social, e compreendamos que só se pode ter uma sociedade desenvolvida quando as pessoas de diferentes grupos puderem ter voz e vez, e essa inclusão parte primeiramente pelo conceito de cidadania. P á g i n a | 12 1 INTRODUÇÃO A história da humanidade é marcada por muitas lutas de inclusão social e busca pela cidadania, dessa forma, a proposta desse capítulo é promover uma abordagem histórica das diferentes sociedades, que visaram contemplar a inclusão social, pois, muitos direitos que hoje estão no nosso cotidiano, na verdade tiveram sua gênese e suas conquistas através de lutas, e muitas dessas lutas foram banhadas por sangue e até mesmo, em casos extremos, em muitos casos houve a morte de milhares de seres humanos. Por isso, enquanto cidadãos de uma sociedade democrática que somos, precisamos sempre ter a consciência do valor da cidadania e da representatividade que ela tem na vida das pessoas, pois somente no exercício da cidadania, podemos reivindicar uma sociedade mais justa, solidária e inclusiva. De igual maneira, é fundamental que ter em mente que o conceito de cidadania iniciado na Antiguidade Clássica não é mais o mesmo que temos na contemporaneidade. Após alguns milénios de história, o termo cidadania tomou significados e práticas diferentes, por isso, concluímos que cidadania é um termo dinâmico, por mudar de acordo com os anseios sociais de cada época e cada grupo social. Mulheres, negros, índios, crianças, estrangeiros, casais e indivíduos homoafetivos, portadores de necessidades especiais, sejam elas físicas ou psicológicas, “os descamisados” etc. Reivindicam seus direitos de ir de vir, propriedade, liberdade de expressão, inclusão social e até mesmo de terem suas memórias e culturas registradas, de modo a se inserirem enquanto sujeitos históricos que marcam e influenciam a história de uma nação. No caso do Brasil, são muitos e diferentes agentes históricos que nos constituem enquanto nação miscigenada e heterogênea. A proposta desse material é fazer uma reflexão histórico-cultural das populações negras e indígenas, de forma a inseri-las no contexto cultural e educacional do Brasil. Historicamente, conhecemos os fatos e descrições do ponto de vista do homem branco, europeu e colonizador que inseriu seus valores culturais. Entretanto, outros olhares também fizeram a história e precisam ser analisados e conhecidos. Uma simples volta pelas cidades, escolas, universidades, campos etc., e poderemos constatar que a história do Brasil é marcada pelos contrastes sociais. E P á g i n a | 13 tal constatação se dá de forma fácil: basta olhar e perceberemos quem ocupa as melhores condições sociais nesse país rico em recursos naturais e com tantas possibilidades, mas, que historicamente só beneficiou alguns em detrimento de tantos. Assim sendo, a discussão histórica sobre o conceito de cidadania é de fundamental valor, afinal, o povo brasileiro ainda padece e carece de ter consciência de si mesmo enquanto nação e agente social coletivo. Enquanto nação, precisamos aprimorar a consciência de que é um cidadão dotado de Direitos e Deveres, e que somente quando tivermos senso de coletividade é que nos acertaremos enquanto nação próspera que esse país pode vir a ser. E diante desse anseio explicitado, iremos observar as origens e os diferentes sentidos desse conceito tão amplo, e ao mesmo tempo tão libertador que é a cidadania. O conceito de cidadania teve início na Grécia Antiga, para ser mais preciso, essa concepção surgiu nas cidades-estado que começaram a surgir aproximadamente no século X a.C. Na Grécia continental, na Ásia Menor, atual Turquia, e Fenícia, atual Líbano. O intenso comércio marítimo, praticado no Mediterrâneo, trouxe o intercâmbio entre diferentes povos do oriente médio, norte da África e Europa, e dessa forma, as rotas comerciais tiveram relação direta com os pontos comerciais fixos, e em torno desses pontos de comércio surgiram um processo de urbanização, e naturalmente, cada cidade adotou suas formas de administração, e uma das formas de administração adotadas foi o modelo de cidades-estados, nas quais surgiram o modelo de democracia participativa. O termo cidadania foi usado para evidenciar os direitos relativos aos cidadãos, que eram os indivíduos que viviam na cidade e nesse lugar, participava das decisões políticas, participando diretamente assim da vida pública. Dessa forma, o termo cidadania designava todas as implicações da vida em sociedade (coletividade), e esse temo está diretamente relacionado ao habitante da Polis. Na Grécia antiga, os indivíduos que viviam nas cidades exerciam a democracia participativa, diferente do atual modelo que indica a democracia representativa, daí haver as eleições, nas quais escolhemos nossos representantes. No modelo de democracia participativa, os cidadãos discutiam e decidiam questões tocantes à vida pública, e assim, a cidadania era exercida na participação coletiva. Naturalmente, crianças, mulheres, estrangeiros e escravos não eram considerados cidadãos e somente os homens livres podiam exercer plenamente a cidadania nos moldes da Grécia Antiga. Tendo em vista que escravos, crianças, mulheres e estrangeiros eram excluídos da democracia, portanto, da vida pública, é P á g i n a | 14 bem fácil presumir que a sociedade grega era marcada pelas diferenças sociais, haja vista o fato de que os principais beneficiados eram os proprietários de terras e os homens livres. A oratória era o foco principal da Ágora, lugar de espaço público onde eram realizadas as discussões relacionadas à vida pública. Para garantir seus benefícios e os benefícios dos seus pares, os homens gregos discutiam, fazendo uso da palavra, para expor suas ideias, tendo em vista os diferentesinteresses discutidos. Um lugar de especial atenção na Ágora eram as escolas, pois nelas eram formados os futuros cidadãos, por isso, nas escolas já era estudada e desenvolvida a prática da oratória, pois através dela, os cidadãos reivindicariam e conseguiriam seus objetivos. A discussão de bens públicos e a participação integral na política eram de valores imensuráveis para os gregos. A contribuição grega para a formação ocidental é imensa, e cabe destaque nesse livro a dimensão da cidadania, pois foram os gregos que criaram o espaço público para discussão de ideias, das quais derivam a democracia e da democracia deriva a cidadania, por isso, a Grécia é considerada um dos pilares do Ocidente. Diretamente influenciado pelos gregos, os romanos criaram o termo cidadania, que deriva do latim civitatem, e a partir daí, gerou civitas, que na língua portuguesa tornou-se cidadania. A Cidadania é um pensamento oriundo da união dos cidadãos e, para os romanos o conceito de cidadania é equivalente à polis grega. A cidadania romana estava ligada exclusivamente para os homens livres, uma vez que havia diferenciação entre homens livres e escravos, e por ser uma sociedade estratificada, portanto, marcada por diferenças sociais. Os homens livres tinham o direito do exercício do cargo público e da magistratura, participação das assembleias políticas e ser sujeito de direito privado, e somente os cidadãos ativos poderiam exercer plenamente a cidadania. No início, a cidadania romana era exclusivamente para os cidadãos que viviam em Roma. Somente com o passar do tempo é que outras áreas foram contempladas com a cidadania romana, e em 212 o Imperador Caracala estendeu a cidadania romana a todos os habitantes do Império, representando assim uma conquista significativa, pois até então os habitantes que moravam distante da cidade de Roma não tinham direito ao voto, portanto, seu exercício de era cidadania mais restrito. Com a queda do Império Romano em 476 d.C. a questão da cidadania entrou em um novo estágio histórico e novas concepções surgiram, pois, nesse momento da P á g i n a | 15 história, as sociedades promotoras primeiras da cidadania já não existiam mais. E com o advento o catolicismo romano, enquanto instituição de maior influência social, as prioridades sociais mudaram, até mesmo influenciadas pela geografia, pois as cidades passaram a ter menos espaço geográfico, pois o campo ganhou mais importância econômica, uma vez que a maior parte da população foi viver nos feudos, sob a égide dos senhores feudais, em regime de servidão. Sendo o regime feudal um sistema constituído por sociedades estamentárias, a questão religiosa ganhou maior destaque e as questões tocantes à cidadania tiveram menor relevância do que durante a antiguidade clássica. Entretanto, seria um equívoco acreditar que as questões sociais não foram pensadas na Idade Média. São Tomás de Aquino (1225-1274) chegou a discorrer sobre modos de governo e o pensamento do bem comum. Em um dos seus textos, ele escreveu: É o regime misto o regime perfeito, bem combinado de monarquia pela preferência de um só, de aristocracia pela multiplicidade de chefes virtuosamente qualificados, de democracia ou poder popular pelo fato de que cidadãos simples podem ser escolhidos como chefes e que a escolha dos chefes pertence ao povo. Assim sendo, as desigualdades sociais inerentes ao regime feudal foram abordadas por alguns clérigos da Igreja Católica, embora, a Idade Média não tenha sido o período de maior apogeu do pensamento social. Entretanto, a estrutura social montada nesse período histórico viria a ser questionada de forma contundente nos séculos que se seguiriam. Na chamada baixa idade média, reaparece a idade de Estado centralizado e com ela a visão clássica ligada aos direitos políticos, e com os direitos políticos surge a ideia de igualdade. E sobre as discussões em torno da igualdade, é com o Iluminismo que discussões ganham espaço com reflexo direto na política e na economia. A partir do século XVIII, os anseios pela igualdade ganham um outro elemento: a liberdade. E estimulados pela igualdade e liberdade, Locke e Rousseau defendem a democracia liberal, em oposição ao discurso de direito divino dos reis. Assim, a monarquia absolutista é questionada e a partir daí, ideias se intensificam de forma a originar a Revolução Francesa (1789), que pôs fim ao absolutismo na França e em outros países europeus. A fraternidade seria o terceiro elemento a ganhar o pensamento social na Europa. Assim sendo, o pensamento sobre igualdade, liberdade e fraternidade foi de encontro aos privilégios da realeza, dos nobres e do alto clero P á g i n a | 16 católico, e novos atores sociais surgiram na política, na economia, nas artes etc. tornando a sociedade europeia mais complexa e menos estratificada. Muito bem. Você completou metade da unidade. Aproveite um merecido descanso. Beba uma xícara de chá, e então você estará descansado e pronto para começar. No mundo, os ares Iluministas ganharam espaço, e foi na independência dos Estados Unidos da América, na crise do sistema colonial na América Latina e na libertação dos escravos africanos e indígenas na América que o Iluminismo ganhou dimensões práticas. Na Europa, a Revolução Industrial traz a burguesia como personagem de destaque, uma vez que eram donos dos meios de produção. Entretanto, o proletariado é outro elemento fundamental nessa página da história, e serão eles a protagonizar revoluções sociais em busca de direitos. Assim, o século XIX foi um período histórico importante no contexto de lutas sociais, pois foi nesse período da história que se originaram ideologias que se consolidariam no século XX e influenciariam outras minorias na luta dos seus direitos. De forma mais particular no Brasil, ainda há muito o que se conquistar, de forma mais particular, as populações negras e indígenas precisam e maior espaço e reconhecimento, pois ainda são ignoradas por grande parte da população brasileira, embora, os africanos e indígenas tenham constituído grande parte da nossa identidade, e é justamente pensamento na importância desses grupos étnicos é que esse material busca trazer à tona a discussões sobre a diversidade étnica brasileira. No século XX, o conceito de cidadania passou a ser vinculado não somente à participação política, mas, também aos deveres que o Estado tem com seus cidadãos: educação, segurança, saúde, liberdade de expressão, ir e vir, votar e ser votado, estrutura urbana etc. Portanto, o que se conclui é que a humanidade, historicamente estratificada, vem caminhando na luta dos direitos e inclusão, e hoje ainda no século XXI, percebemos que ainda há muito para se conquistar, pois a todo momento, percebemos que em diferentes lugares do mundo direitos conquistados sofrem ameaças, e em outros lugares, muitos direitos triviais em países desenvolvidos estão longe de serem conquistados, daí a necessidade perene de discussões sobre esses temas. Fica a dica! Assista aos vídeos da disciplina, são fundamentais para a sua aprendizagem! Fique atento aos horários de atendimento disponíveis na Secretaria Virtual da Blackboard! Não acumule dúvidas! Procure o professor da disciplina ou o tutor para esclarecer suas dúvidas. Referências Básica: BOBBIO, N. A Era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus. 1992. BONAVIDES, P. Do estado liberal ao estado social. 5. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey.1993. COUVRE, M. M. M. O que é cidadania. 3 ed. São Paulo: Brasiliense.2001. DALARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: 1999. DIMENSTEIN, G. Aprendiz do futuro; cidadania hoje e amanhã. 2 ed. São Paulo: Ática. 1998. MEDEIROS, A. J. Ideias e práticas da cidadania. União: Cermo. 2002.Bibliografia Complementar: CHICARINO, T. (org.). Educação nas relações étnico-raciais. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016. (Biblioteca Virtual) DIWAN, P. Raça pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 2007. (Biblioteca Virtual) LUCIANO, G. S. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília (DF): UNESCO, 2006. OLIVEIRA FILHO, J. P. de.; FREIRE, C. A. da R. A presença indígena na formação do Brasil. Brasília: UNESCO, 2006. RAMOS, F. P.; MORAIS, M. V. de. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. (Biblioteca Virtual) SILVA, A. M. P. História e cultura afro-brasileiras. 2. ed. Curitiba: Expoente, 2008. WITTMANN, L. T. (org.). Ensino de história indígena. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. AULA 1 Exercícios 1) Os gregos sentiram paixão pelo humano, por suas capacidades, por sua energia construtiva. Por isso, inventaram a polis: a comunidade cidadã em cujo espaço artificial, antropocêntrico, não governa a necessidade da natureza, nem a vontade dos deuses, mas a liberdade dos homens, isto é, sua capacidade de raciocinar, de discutir, de escolher e de destituir dirigentes, de criar problemas e propor soluções. O nome pelo qual hoje conhecemos essa invenção grega, a mais revolucionária, politicamente falando, que já se produziu na história humana, é democracia. (Adaptado de Fernando Savater, Política para meu filho. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 77.) Assinale a alternativa correta, considerando o texto acima e seus conhecimentos sobre a Grécia Antiga. a) Para os gregos, a cidade era o espaço do exercício da liberdade dos homens e da tirania dos deuses. b) Os gregos inventaram a democracia, que tinha então o mesmo funcionamento do sistema político vigente atualmente no Brasil. c) Para os gregos, a liberdade dos homens era exercida na polis e estava relacionada à capacidade de invenção da política. d) A democracia foi uma invenção grega que criou problemas em função do excesso de liberdade dos homens. Texto para a próxima questão: Leia o texto para responder à(s) questão(ões). O Ocidente havia conhecido somente três modos de acesso ao poder: o nascimento, o mais importante, a riqueza, muito secundário até o século XIII salvo na Roma Antiga, o sorteio, de alcance limitado entre os cidadãos das cidades gregas da Antiguidade. (Jacques Le Goff. Os intelectuais na Idade Média, 1985. Adaptado.) P á g i n a | 20 2) Na democracia ateniense da Antiguidade, havia um modo de exercício do poder político, que consistia no sorteio a) de cidadãos para o exercício de funções administrativas por um curto período de tempo. b) de indivíduos da população da cidade para participarem da assembleia dos cidadãos na ágora. c) de habitantes mais hábeis militarmente e mais cultos para comporem o conselho político da polis. d) de homens e mulheres descendentes de gregos para governarem a cidade nos tempos de paz. e) de estrangeiros aliados da cidade para auxiliarem os cidadãos nas decisões concernentes às relações entre as polis. 3) Considere o texto abaixo. “Do ponto de vista territorial, uma pólis se divide em duas partes: a acrópole [...] e a ágora [...]. No entanto, se perguntássemos a um grego da época clássica o que era a pólis, provavelmente esta não seria sua definição: para ele a pólis não designava um lugar geográfico, mas uma prática política exercida pela comunidade de seus cidadãos. [...]. Se no caso da pólis o conceito de cidade não se referia à dimensão espacial da cidade e sim à sua dimensão política, o conceito de cidadão não se refere ao morador da cidade, mas ao indivíduo que, pode participar da vida política. ” (ROLNIK, R. O que é cidade. In: PETTA, N. L.; OJEDA, A. B. História, uma abordagem integrada. São Paulo: Moderna, s\d, p. 17) O conhecimento histórico e o texto permitem afirmar que na Grécia Antiga: a) a cidadania, direito de participar da vida pública, atingia todos os habitantes da maioria das cidades-estado. b) o equilíbrio de poderes presente nas cidades-estado evitou a ocorrência de conflitos sociais. c) a lei era o resultado de discussões entre os representantes da cidade-estado e definia o direito dos cidadãos. d) a soberania dos cidadãos dotados de plenos direitos era fundamental para a existência da cidade-estado. P á g i n a | 21 e) o direito à cidadania e a organização política possibilitaram a criação da democracia em todo o país. 4) Leia o excerto a seguir: “A Grécia se reconhece numa certa forma de vida social, num tipo de reflexão que define a seus próprios olhos sua originalidade, sua superioridade sobre o mundo bárbaro. No lugar do Rei cuja onipotência se exerce sem controle, sem limite, no recesso de seu palácio, a vida política grega pretende ser o objeto de um debate público em plena luz do sol, na ágora, da parte de cidadãos definidos como iguais e de quem o Estado é a questão comum [...]”. (VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: DIFEL, 2013.) Tendo como base as afirmações expostas por Vernant, identifique os traços principais da polis grega, o sistema político que ela substituiu e os principais problemas que ela apresenta. 5) O aparecimento da pólis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo (...). O que implica o sistema da pólis é primeiramente uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. Torna-se o instrumento político por excelência, a chave de toda a autoridade no Estado, o meio de comando e de domínio sobre outrem (...). Uma segunda característica da pólis é o cunho de plena publicidade dada às manifestações mais importantes da vida social. Pode-se mesmo dizer que a pólis existe apenas na medida em que se distinguiu um domínio público, nos dois sentidos diferentes, mas solidários do termo: um setor de interesse comum, opondo-se aos assuntos privados; práticas abertas, estabelecidas em pleno dia, opondo-se a processos secretos. Essa exigência de publicidade leva a apreender progressivamente em proveito do grupo e a colocar sob o olhar de todos o conjunto de condutas, dos processos, dos conhecimentos que constituíam na origem o privilégio exclusivo. (VERNANT, J. P, As origens do pensamento grego, 1984.) a) No contexto apresentado, explique o que se entende por pólis. P á g i n a | 22 b) Identifique, no texto, duas semelhanças entre os procedimentos descritos para a pólis grega e os procedimentos vigentes nos regimes democráticos contemporâneos. AULA 1 Gabarito Resposta da questão 1: [C] A liberdade dos homens, garantida, principalmente, pelo pleno exercício da cidadania, na Grécia Antiga estava atrelada ao fazer política, uma vez que só podia participar da democracia escravista ateniense aqueles que eram considerados cidadãos. Resposta da questão 2: [A] O exercício da cidadania era bem restrito na Grécia Antiga. Apenas homens, maiores de 21 anos e atenienses natos eram considerados cidadãos e podiam exercer a democracia direta. Sendo assim, ocorria, apenas dentro desse seleto grupo, um sorteio para o preenchimento de cargos administrativos na cidade-Estado. Resposta da questão 3: [D] Segundo o texto, o cidadão ateniense – os homens, maiores de 21 anos e atenienses natos – enxergava a pólis como o lugar da prática do exercício político. Resposta da questão 4: Durante o período Arcaico da Grécia, VIII-VI a.C, predominava um governo aristocrático monopolizado pela elite agrária que possuía o domínio político e econômico. No período Clássico, V-IV a.C, foi implantada a democracia e o poder foi transferido para os cidadãos. A ágora, praça pública, passoua ser o cenário do debate político dos cidadãos visando criar leis para a polis. Vale lembrar que polis era uma cidade estado que possuía autonomia política, a democracia era direta e participativa e a cidadania era muito restrita, apenas 10% da população exercia seus direitos políticos. Mulheres, escravos e estrangeiros estavam excluídos. Resposta da questão 5: a) O pensador francês associa a polis a palavra considerando a importância dos debates que ocorriam na ágora ou praça pública. A democracia grega na P á g i n a | 24 antiguidade era direta ou participativa e a oratória e persuasão eram fundamentais. Daí que os filósofos denominados de sofistas davam curso ensinando técnicas de persuasão e oratória. A palavra é o instrumento político, o meio de domínio sobre o outro. b) A democracia grega era direta ou participativa e a democracia contemporânea é representativa. Apesar desta diferença, há algumas semelhanças segundo Vernant. A publicidade da vida social é um elemento em comum entre os dois modelos de democracia bem como a oposição entre a esfera pública e a privada. A relação entre cidadania e direitos humanos Aula 2 APRESENTAÇÃO DA AULA Nesta aula, iremos discutir a relação entre cidadania e direitos humanos. É preciso ter em mente como é importante essa discussão, afinal, ao observarmos historicamente a trajetória humana, vemos que as conquistas em torno dos direitos humanos garantem a implementação do Estado Democrático de Direito, conforme já estudamos na aula anterior. Partindo do princípio que a nossa disciplina aborda as relações étnico-raciais no Brasil, antes de mais nada, é fundamental perceber que esse conteúdo não está isolado de um contexto histórico-global, mas, sim inserido em uma realidade de afirmação sociocultural de diferentes povos e etnias historicamente exploradas. Por isso, no atual momento da humanidade, esses povos merecem sim que nos aprofundemos em suas realidades. Na verdade, os direitos humanos visam promover a dignidade humana em todas as suas esferas, visando eliminar qualquer tipo de segregação e preconceito contra qualquer grupo humano, e para ter representatividade junto aos direitos humanos, basta ser humano que cada indivíduo deverá ser contemplado com esses direitos. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Relacionar os conceitos de cidadania e direitos humanos. Muito mais do que supostamente defender “marginais”, os direitos humanos trouxeram uma nova expectativa para a humanidade no pós-guerra mundial, pois, foi no século XX que se entendeu que o ser humano tem P á g i n a | 26 direitos e deveres para a vida social. Países desenvolvidos só são desenvolvidos porque garantiam direitos aos seus cidadãos, e já é tempo desse país repensar o seu tratamento com as pessoas, pois, somente quando houver respeito aos direitos humanos é que exerceremos plenamente nossa noção de cidadania. P á g i n a | 27 2 INTRODUÇÃO A noção de cidadania sempre esteve voltada para uma ação positiva. Por sua vez, os direitos humanos, entendidos como direitos básicos do homem, embora tenham sido uma grande conquista, ainda hoje são interpretados negativamente por muitos grupos. Por isso, é necessário discuti-los. A partir do momento em que a cidadania se tornou mais abrangente e menos restrita, ela passou a garantir ao cidadão o direito de reivindicar junto ao Estado a implementação de direitos sociais e individuais. Esses direitos estão diretamente relacionados aos direitos humanos. A Constituição Federal de 1988 representou uma importante conquista na transição democrática e na institucionalização dos direitos humanos no Brasil. Como marco de uma nova fase da realidade jurídica e política da República brasileira, assim, a Constituição de 1988 realizou um importante marco em relação aos direitos humanos, conectado diretamente ao contexto da ordem internacional, como verdadeiro modelo de referência ao ordenamento jurídico nacional e, por consequência, orientador das relações de trabalho. Com base nesse conjunto princípio-lógico, necessário foi que se abrisse a ordem jurídica brasileira ao sistema internacional de proteção aos direitos humanos, o que causou uma nova interpretação dos tradicionais princípios que permearam a história brasileira, tanto na dimensão política, quanto na dimensão das relações sociais. Figura 1: Ilustração. Fonte: IVAN CABRAL (2008) P á g i n a | 28 (PARA LER MAIS) Direitos Humanos (Direitos Fundamentais) Conjunto de regras para salvaguardar as necessidades essenciais da pessoa humana e os benefícios que a vida em sociedade proporciona, a fim de que a pessoa, ao mesmo tempo em que se torne útil à mesma sociedade, viva em harmonia e goze de paz. É justamente a lei, à qual se submetem o Estado e a sociedade, que vem coordenar o exercício dos direitos fundamentais. O artigo 4° da Declaração de 1789 exprime, em sua segunda parte: "O exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão os que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Esses limites não podem ser determinados senão por lei". Tais leis decorrem, geralmente, de uma carta de princípios, intitulada Declaração de Direitos, que precedem as constituições. Isso aconteceu na América do Norte e na França. Neste país, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão apareceu em 1789, e, a Constituição, somente em 1791. Em nossa Constituição de 1988, os Direitos Fundamentais dizem respeito aos Direitos Individuais e Coletivos (art. 5°: direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade), aos Direitos Sociais (art. 6° ao art. 11º – direito à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção, à maternidade e à infância, e à assistência aos desamparados), e aos Direitos Políticos (art. 14º ao 16º). Esses três conjuntos de direitos, que compõem os direitos do cidadão, não podem estar desvinculados entre si, pois sua efetiva realização depende da relação recíproca e, sobretudo, de forças econômicas e políticas, que, a propósito, deverão estar a serviço da cidadania e não do capital. O núcleo do conceito de direitos humanos se encontra no reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Essa dignidade, expressa num sistema de valores, exerce uma função orientadora sobre a ordem jurídica porquanto estabelece "o bom e o justo" para o homem. A expressão "direitos humanos" é uma forma abreviada de mencionar os direitos fundamentais da pessoa humana. Esses direitos são considerados fundamentais porque sem eles a pessoa humana não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida. Todos os seres humanos devem ter assegurado, desde o nascimento, as mínimas condições necessárias, para se tornarem úteis à humanidade, como também devem ter a possibilidade de receber os benefícios que a vida em sociedade pode proporcionar, para viver em harmonia e gozar de paz. Esse conjunto de condições e de possibilidades associa as características naturais dos seres humanos à sua P á g i n a | 29 capacidade natural (como um dever) de atuar como cidadão na organização social, e dela usufruir seus direitos. É a esse conjunto que se dá o nome de direitos humanos. Pacto Social e Constituição: O pacto social, para estabelecer a vida em sociedade de seres humanos livres, dotados de faculdades, prerrogativas, interesses e necessidades protegidos – dotados de direitos, enfim – impõe a definição de limites que os membros da sociedade aceitam para esses direitos, sob pena de se estabelecer o conflito, a balbúrdia. Com a Revolução Francesa tem-se a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), que estabelece emseu art. 16º: "A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos fundamentais nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição". A divisão do exercício do poder seguiu fórmula preconizada por Montesquieu (em "O Espírito das Leis"), e consistia no estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos (Constituição Brasileira, 1988, art. 2° – "São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário"). 1.6 Estado de Direito A submissão do Estado às regras do direito objetivo é construção do final do século VIII, decorrente dos movimentos sociais registrados na França e na América do Norte. É a consagração do poder do direito (lei) em substituição ao poder despótico, concretizando antiga lição de Aristóteles (séc. 4 a.C.), segundo a qual o governo das leis é melhor do que o governo dos homens, porque aquelas não têm paixões. Os Direitos dos Povos ou os Direitos da Solidariedade (A Terceira Geração dos Direitos Humanos) depois da Segunda Guerra Mundial desenvolvem-se os direitos dos povos, também chamados de "direitos da solidariedade", a partir de uma classificação que distingue entre os "direitos da liberdade" (os direitos individuais da Primeira Geração), os "direitos da igualdade" (os direitos sociais, econômicos e culturais da Segunda Geração) e os "direitos da solidariedade" (novos direitos, ou direitos da "Terceira Geração"). Assim, os direitos dos povos são ao mesmo tempo "direitos individuais" e "direitos coletivos", e interessam a toda a humanidade. Uma nova e complexa realidade colocou na ordem do dia uma série de novos anseios e interesses reivindicados por novos movimentos sociais. São direitos a serem garantidos com o esforço conjunto do Estado, dos indivíduos, dos diferentes setores da sociedade e das diferentes nações. Entre eles estão o direito à paz, ao desenvolvimento, à autodeterminação e soberania dos povos, a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado e à utilização do patrimônio comum da humanidade. P á g i n a | 30 Direito à Liberdade Real Quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que todas as pessoas nascem livres, significa que a liberdade faz parte da natureza humana. Sem liberdade a pessoa humana não está completa. Montesquieu, no seu livro “O Espírito das Leis”, diz que num Estado, isto é, numa sociedade onde há leis, “a liberdade consiste no direito de se fazer tudo que as leis permitem”. A liberdade, como outro direito, deve ser exercitada de forma livre, até que não venha a invadir, privar, obstaculizar direito de outrem quando então deverá sofrer limitações ou punições. Quando uma pessoa escolhe algo contra sua vontade, por medo dos poderosos, ou porque sua pobreza a obriga a fazer o que outros querem, ou, ainda, porque o “chefe político” lhe retribuirá algum favor, não há verdadeira escolha e não existe liberdade. O Estado Democrático de Direito é um berço para o desenvolvimento das liberdades públicas. É na democracia que o homem encontra os meios necessários para desenvolver suas liberdades e buscar, incansavelmente, sua satisfação pessoal. É por isso que José Afonso da Silva afirma com razão que “Quanto mais o processo de democratização avança, mais o homem se vai libertando dos obstáculos que o constrangem, e mais liberdade conquista” (Extraído do “Curso de Direito Constitucional”, José Afonso Silva. São Paulo, Malheiros, 1992). Extraído de http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/Cidadania_e_Direitos_Humanos.pdf. Veja a charge abaixo, e reflita sobre o modelo em que estamos construindo nossas relações sociais. Vamos pensar um pouco, a quem interessa as desigualdades sociais abismais que marcam as relações históricas desse país? É sabido que as desigualdades sociais estão ligadas diretamente à violência, portanto, toda a sociedade acaba sendo refém dessas desigualdades, e consequentemente ninguém ganha. http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/Cidadania_e_Direitos_Humanos.pdf P á g i n a | 31 Figura 2: Programa Nacional de Direitos Humanos. Fica a dica! Assista aos vídeos da disciplina, são fundamentais para a sua aprendizagem! Fique atento aos horários de atendimento disponíveis na Secretaria Virtual da Blackboard! Não acumule dúvidas! Procure o professor da disciplina ou o tutor para esclarecer suas dúvidas. Referências Básica: ANDREWS, G. R. Negros e brancos em São Paulo. São Paulo: Edusc, 1998. ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. AZEVEDO, C. M. M. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites, século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. COSTA, E. V. Da senzala à colônia. São Paulo: Unesp, 1998. DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SÓCIOECONÔMICOS (DIEESE). A situação do trabalho no Brasil. São Paulo: DIEESE, 2001. GEBARA, A. O mercado de trabalho livre no Brasil. São Paulo: Brasilense, 1986. HALIMI, Gisèsele. La cause des femmes. Paris: Bernard Grasset, 1978. HASENBALG, C.; SILVA, N. V. Estrutura social, mobilidade e raça. Rio de Janeiro: Iuperj, 1988. Bibliografia Complementar: CHICARINO, T. (org.). Educação nas relações étnico-raciais. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016. (Biblioteca Virtual) DIWAN, P. Raça pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 2007. (Biblioteca Virtual) LUCIANO, G. S. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília (DF): UNESCO, 2006. OLIVEIRA FILHO, J. P.; FREIRE, C. A. R. A presença indígena na formação do Brasil. Brasília: UNESCO, 2006. RAMOS, F. P.; MORAIS, M. V. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. (Biblioteca Virtual) SILVA, A. M. P. História e cultura afro-brasileiras. 2 ed. Curitiba: Expoente, 2008. WITTMANN, L. T. (org.) Ensino de história indígena. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. AULA 2 Exercícios 1) O Brasil, por sua vez, é um país fortemente estratificado: a desigualdade sempre foi a marca da nossa sociedade. Somos um misto de sociedade de “castas” com meritocracia. O indivíduo pode, por esforço e talento próprios, mudar de casta sem reencarnar – mas a posição relativa das “castas” há de ser mantida. Durante o governo Lula, essa estrutura começou a se alterar e, aparentemente, gerou grande mal-estar: os ricos estavam se tornando mais ricos e os pobres, menos pobres. Por seu turno, as camadas médias tradicionais olhavam para a frente e viam os ricos se distanciarem; olhavam para trás e viam os pobres se aproximarem. Sua posição relativa se alterou desfavoravelmente. Se os rendimentos dessas camadas médias não perderam poder de compra medido em bens materiais, perderam-no quando medido em serviços. HADDAD, F. Vivi na pele o que aprendi nos livros. Um encontro com o patrimonialismo brasileiro. Piauí. Edição 129. Jun 2017. Disponível em: http://piaui.folha.uol.com.br/materia/vivi-na- pele-o-que-aprendi-nos-livros/. Acesso em: 07 jun. 2018. A partir do trecho acima, responda: a) O que diferencia a estratificação por classe social da estratificação por castas? b) Por que o autor considera que o modelo de castas explica melhor a sociedade brasileira que o modelo de classes sociais? 2) Considere os seguintes dados da Retrospectiva da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, referente ao período de 2003 a 2013: A taxa de desocupação de 2013 (média de janeiro a dezembro) foi estimada em 5,4%. Esta taxa era de 12,4% em 2003. [...] A pesquisa apontou disparidade entre os rendimentos de homens e mulheres e, também, entre brancos e pretos ou pardos. P á g i n a | 35 Em 2013, em média, as mulheres ganhavam em torno de 73,6% do rendimento recebido peloshomens. A menor proporção foi a registrada em 2003, 70,8%. O rendimento dos trabalhadores de cor preta ou parda, entre 2003 e 2013, teve um acréscimo de 51,4%, enquanto o rendimento dos trabalhadores de cor branca cresceu 27,8%. A pesquisa registrou, também, que os trabalhadores de cor preta ou parda ganhavam, em média, em 2013, pouco mais da metade (57,4%) do rendimento recebido pelos trabalhadores de cor branca. [...] Destaca-se que, em 2003, não chegava à metade (48,4%). BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Retrospectiva da Pesquisa Mensal de Emprego 2003 a 2013. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/retrospectiva200 3_2013.pdf. Acesso em: 20 ago. 2018. Texto adaptado. Escreva um texto apontando as conclusões a que se pode chegar com a interpretação dos dados apresentados. 3) Enquanto persistirem as grandes diferenças sociais e os níveis de exclusão que conhecemos hoje no Brasil, as políticas sociais compensatórias serão indispensáveis. SACHS, I. Inclusão social pelo trabalho decente. Revista de Estudos Avançados, n. 51, ago. 2004. As ações referidas são legitimadas por uma concepção de política pública a) focada no vínculo clientelista. b) pautada na liberdade de iniciativa. c) baseada em relações de parentesco. d) orientada por organizações religiosas. e) centrada na regulação de oportunidades. 4) Você sabe que lá fora você pode abrir seu laptop na praça, pode deixar a porta aberta, a bicicleta sem cadeado. Mas lá fora, não esqueça, é você quem limpa a sua privada. Você já relacionou as duas coisas? Nos países em que você lava a própria privada, ninguém mata por uma bicicleta. Nos países em que uma parte da P á g i n a | 36 população vive para lavar a privada de outra parte da população, a parte que tem sua privada lavada por outrem não pode abrir o laptop no metrô. DUCLOS, D. apud DUVIVIER, G. A privada e a bicicleta. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 6 jul. 2018 (adaptado). O texto, apresentado como uma carta às elites brasileiras, sucedeu a notícia sobre um assassinato por causa de uma bicicleta. Nele contrapõem-se dois padrões de sociabilidade, diferenciados pelo(a) a) desenvolvimento tecnológico. b) índice de impunidade. c) laicização do Estado. d) desigualdade social. e) valor dos impostos. 5) Observe a imagem a seguir: Figura 3: Exercício. Valendo-se do conteúdo sociológico contido nessa imagem, é INCORRETO afirmar que, no Brasil: a) a dificuldade de acesso aos serviços básicos provoca uma grande distância social entre os habitantes ricos e pobres. P á g i n a | 37 b) o Plano “Brasil Sem Miséria”, criado em 2011 pelo governo federal, propõe identificar e direcionar as pessoas, que não possuem nenhum benefício social, para algum tipo de auxílio, cujo objetivo é diminuir a desigualdade no país. c) a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio é um índice econômico, que aponta as diferenças entre os indivíduos, abandonando o conceito de classe social e a exploração, pois seu objetivo é quantificar e descrever a realidade de pobres e ricos. d) as diferenças entre as pessoas estão presentes não apenas nas classes sociais, mas também nas relações de gênero, nas relações étnico-raciais e no grau de instrução da população. e) o desenvolvimento do capitalismo criou as desigualdades evidenciadas na miséria e na pobreza em todo o país, mas a superação foi resolvida com as políticas de divisão de riquezas implantadas nos últimos anos pelo governo federal. AULA 2 Gabarito Resposta da questão 1: a) O modelo de classes sociais é aquele em que há mobilidade social: o indivíduo pode sair de uma classe social e adentrar a outra. Em contrapartida, o modelo de castas não permite tal mobilidade. b) Ainda que haja mobilidade social (através da meritocracia), na sociedade brasileira o que se espera é que a posição relativa dos indivíduos seja mantida, da mesma forma como o modelo de castas é organizado. Resposta da questão 2: Fatores como cor de pele, gênero e renda são importantes diagnósticos da desigualdade social no Brasil. Os dados de diminuição da taxa de desocupação, bem como de diminuição das diferenças de renda entre homens e mulheres e entre brancos e negros demonstram que entre 2003 e 2013 a desigualdade social diminuiu no Brasil. Isso se deu por alguns motivos, dentre eles o desenvolvimento econômico do período e a criação de políticas afirmativas como cotas. Resposta da questão 3: [E] As políticas compensatórias buscam, entre outras coisas, tentar equivaler uma desigualdade de oportunidades já existente no país historicamente. Resposta da questão 4: [D] O texto apresenta o argumento de que furtos, roubos e assaltos estão diretamente relacionados com a desigualdade social. Em locais onde há mais desigualdade, há mais violência desse tipo, exatamente como ocorre em muitas cidades do Brasil. Resposta da questão 5: [E] A miséria e a pobreza não deixaram de existir no Brasil. Ainda que as políticas de redistribuição de renda tenham surtido um efeito positivo, elas não foram capazes de acabar com essa desigualdade social. A relação entre índios e portugueses no Brasil colonial Aula 3 APRESENTAÇÃO DA AULA Vamos refletir sobre a atual situação dos indígenas brasileiros. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles estabeleceram um sistema colonial muito excludente: os donatários portugueses se apropriaram das terras, trouxeram os africanos para trabalharem como escravos e marginalizaram os índios para o interior do país. Anos depois, vemos nossas cidades com uma estrutura urbana mal situada, pois os mais pobres moram nas periferias ou nas favelas, com pouca infraestrutura básica; atualmente, a população indígena está reduzida a alguns milhares e a população negra não goza dos mesmos privilégios e acessos a que a população branca tem acesso. Outro ponto para pensarmos é que a natureza, tão limpa e bonita, achada pelos portugueses está deteriorada e os recursos naturais precisam ser preservados pelo Estado e pela sociedade, e infelizmente, os planos de governo negligenciam a natureza. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Analisar um pouco da relação entre os índios e portugueses no Brasil colonial. Hoje, vivemos as consequências, ainda, dos modelos de relações estabelecidas no período colonial, e para tal, conhecer a gênese do modelo das nossas relações sociais é fundamental para que entendamos o Brasil atual. P á g i n a | 40 3 INTRODUÇÃO Nesta aula, iremos abordar um pouco sobre a história dos índios e dos portugueses no início do período colonial brasileiro. Imagine que você estivesse na caravela de Cabral, e após meses no mar, chegasse a uma terra desconhecida, e ao desembarcar da caravela, encontrasse pessoas com pouca roupa, de pele vermelha e pinturas típicas extraídas da flora local. Naturalmente, isso representaria um choque de cultura significativo, ainda mais se você analisar que os portugueses eram católicos escrupulosos, e se escandalizaram com alguns hábitos indígenas. Por outro lado, a chegada dos portugueses em suas caravelas com roupas e idioma próprios também causaram estranhamento por parte dos índios. É sobre essa relação que falaremos nessa unidade. Vamos pensar e aprender juntos? Será uma ótima viagem no tempo! Partiu? Figura 4: Ó de casa? Tem gente. (LEIA MAIS) A história do Brasil anterior à chegada dos portugueses é pouco conhecida. Os povos que viviam aqui não conheciam a escrita e seus objetos e construções eram feitos de material perecível, quase nãosobreviveriam à ação do P á g i n a | 41 tempo e dos conquistadores. O Brasil é habitado por seres humanos há pelo menos 12 mil anos e foi ocupado por numerosos povos indígenas. A diversidade deles era enorme: tinham línguas, religiões, valores, costumes, lendas, expressões artísticas, tipos de aldeia e até aspectos físicos diferentes. Em geral, eram sociedades igualitárias, sem divisões sociais e sem distinção de ricos e pobres. Em todas, havia uma divisão de trabalho por sexo e por idade. Os conhecimentos, a posse e o uso da terra e os recursos existentes eram compartilhados por todos. Bens e serviços eram distribuídos por regras ou compromissos estabelecidos pelas relações de parentesco e amizade ou pelos rituais de acordos políticos. O chefe apaziguava as disputas políticas, buscando o consenso e a união entre as pessoas e só tomava uma decisão depois de consultar os mais velhos da tribo. Os povos indígenas que estabeleceram maior contato com o colonizador foram os de língua tupi, como os tupinambás que habitavam a faixa litorânea. Por isso, as informações que chegaram até nós sobre os indígenas se referem a esses povos. Quando os portugueses chegaram ao território que mais tarde seria o Brasil, aqui viviam mais de 2 milhões de nativos. Eles não tinham a noção de país e nenhum povo se considerava o dono de todas as terras; diferente dos portugueses, que tomaram o território como propriedade do rei de Portugal. Em 22 de abril de 1500, Pedro Álvares Cabral e sua esquadra aqui permaneceram por 15 dias. Primeiramente, chamaram as terras encontradas de Ilha de Vera Cruz, mas quando viram que não se tratava de uma simples ilha, chamaram de Terra de Santa Cruz. Mas, a grande quantidade de pau-brasil das matas litorâneas, inspirou o apelido de Terra do Brasil, que permaneceu. O pau-brasil já era conhecido pelos portugueses. Eles utilizavam os índios para extraírem a madeira, dando em troca alguns objetos. Nas primeiras décadas, o contato entre indígenas e europeus era pacífico. Como queriam obter muitos objetos, os nativos esperavam os “brasileiros” (comerciantes de pau-brasil) abatendo centenas de árvores. Inicialmente, as relações entre os nativos e os colonizadores se davam através do escambo. Essa prática consistia na troca de objetos e presentes aos índios que, em troca, trabalhavam para os portugueses na extração e transporte do pau-brasil. Portugal lançou-se na aventura das grandes navegações com alguns propósitos ligados ao mercantilismo e ao absolutismo, dentre eles: o enriquecimento por meio do comércio marítimo e especiarias, o fortalecimento do poder real, o desenvolvimento da burguesia e da nobreza fiel ao rei... O Brasil estava inserido nesse contexto. Após a chegada dos portugueses oficialmente ao Brasil, um longo período P á g i n a | 42 se passou sem que houvesse ocupação efetiva do território. As novas terras não despertavam interesse na Coroa portuguesa; aparentemente não existiam riquezas para explorar e os nativos não constituíam um mercado consumidor para os produtos trazidos de Portugal. O governo português preferiu investir seus recursos no comércio de especiarias com o Oriente, no qual obtinham enormes lucros. Esse período que vai de 1500 a 1530 é conhecido como período Pré-colonial. Temendo que as novas terras fossem dominadas por outros reinos, enviaram expedições de exploração, de guarda- costas e finalmente, de ocupação. Exploração: tinham como função pesquisar os recursos da região (minérios, fontes de água, características dos nativos, vegetação e animais). Guarda-costas: patrulhavam o litoral, perseguindo piratas e navios não autorizados e impediam a fixação de estrangeiros. A partir da habitação e ocupação de terras no Brasil, começa o período colonial (1530-1808). A ocupação permanente do território exigia que os portugueses se instalassem no Brasil e iniciassem a colonização. A primeira tentativa de ocupação se fez por meio das capitanias hereditárias. Elas eram grandes porções de terras, doadas a nobres da metrópole, de forma vitalícia e hereditária, que somente poderiam ser vendidas à própria Coroa. O donatário, nobre que recebia a terra, tinha apenas a posse da terra, a propriedade continuava a ser da Coroa portuguesa. Ele possuía o direito total sobre sua capitania, mas também atribuições: - Defender a capitania com os próprios recursos; - Promover o desenvolvimento da capitania, dividindo-as em lotes menores (sesmarias), doados aos colonos; - Promover o povoamento e instalar atividades lucrativas; - Aplicar a justiça; - Cobrar impostos e enviar uma parte da arrecadação à Coroa portuguesa. As relações entre donatários e Coroa eram definidas por dois documentos: Carta foral: direitos e deveres do donatário; Carta de doação: direito de posse, de administração e às rendas e poder legal para interpretar e ministrar leis. A maioria das capitanias hereditárias fracassaram, pois não era possível administrar partes tão grandes de terra. O sistema de capitanias hereditárias foi complementado então, pelo governo geral. O governo geral foi a centralização administrativa através da substituição dos forais por um único regulamento. Foi escolhida como sede do Governo-geral, no Brasil, a Bahia, que era capitania de bom clima, terras férteis, possuía muitos rios navegáveis e ótima região para construir-se um excelente porto. A escravidão e o comércio de escravos africanos eram praticados pelos portugueses desde o começo da expansão marítima, no século XV. A partir do século XVI, os indígenas foram sendo substituídos pelos africanos por vários motivos: P á g i n a | 43 - extermínio de muitos povos indígenas do litoral e a fuga dos sobreviventes para o interior dificultavam a captura; - interesse da Coroa e dos comerciantes no tráfico de escravos africanos; - os negros africanos tinham menos chances de fugir, pois desconheciam a língua e os lugares; - os portugueses podiam estabelecer relações pacíficas com os indígenas e de livrar dos ataques. Os escravos africanos sempre recebiam um nome cristão. Ao chegarem aos armazéns, ficavam à espera de um comprador. Eram examinados, como se fossem bichos e contados por “peça” e identificados como “macho”, “fêmea”, “filhote” ou “cria”. Os jovens alcançavam maior preço. Os recém-chegados, que não conheciam a língua, eram chamados “boçais”. Quando se adaptavam aos costumes dos colonos e aprendiam a língua, eram chamados “ladinos” e custavam mais caro. Os nascidos no Brasil eram chamados “crioulos”. Havia escravos de engenho e das cidades, mas todos recebiam castigos cruéis de seus senhores: açoite, amputações, palmatória, tronco, máscara e coleira de ferro, correntes com peso. Alguns, depois de décadas de trabalho, conseguiam comprar a liberdade. Outros, que se revoltavam com a situação fugiam e formavam quilombos. Extraído de http://www.lasalle.edu.br/public/uploads/publications/esteio/4f6f6461634a06facb0ae92b7c86e793.pdf (REFLEXÃO) Figura 5: Dia do índio. Vamos refletir sobre a atual situação dos indígenas brasileiros. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles estabeleceram um sistema colonial muito excludente: os donatários portugueses se apropriaram das terras, trouxeram os http://www.lasalle.edu.br/public/uploads/publications/esteio/4f6f6461634a06facb0ae92b7c86e793.pdf P á g i n a | 44 africanos para trabalharem como escravos e marginalizaram os índios para o interior do país. Anos depois, vemos nossas cidades com uma estrutura urbana mal situada, pois os mais pobres moram nas periferias ou nas favelas, com pouca infraestrutura básica; atualmente, a população indígena está reduzida a alguns milhares e a população negra não goza dos mesmos privilégios e acessos que a população branca tem. Outro ponto para pensarmos é que a natureza, tão limpa e bonita, achada pelos portuguesesestá deteriorada e os recursos naturais precisam ser preservados pelo Estado e pela sociedade, e infelizmente, os planos de governo negligenciam a natureza. Fica a dica! Assista aos vídeos da disciplina, são fundamentais para a sua aprendizagem! Fique atento aos horários de atendimento disponíveis na Secretaria Virtual da Blackboard! Não acumule dúvidas! Procure o professor da disciplina ou o tutor para esclarecer suas dúvidas. Referências Básica: ANDREWS, G. R. Negros e brancos em São Paulo. São Paulo: Edusc, 1998. ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. AZEVEDO, C. M. M. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites, século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. COSTA, E. V. Da senzala à colônia. São Paulo: Unesp, 1998. DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SÓCIOECONÔMICOS (DIEESE). A situação do trabalho no Brasil. São Paulo: DIEESE, 2001. GEBARA, A. O mercado de trabalho livre no Brasil. São Paulo: Brasilense, 1986. HALIMI, Gisèsele. La cause des femmes. Paris: Bernard Grasset, 1978. HASENBALG, C.; SILVA, N. V. Estrutura social, mobilidade e raça. Rio de Janeiro: Iuperj, 1988. Bibliografia Complementar: CHICARINO, T. (org.). Educação nas relações étnico-raciais. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016. (Biblioteca Virtual) DIWAN, P. Raça pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 2007. (Biblioteca Virtual) LUCIANO, G. S. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília (DF): UNESCO, 2006. OLIVEIRA FILHO, J. P.; FREIRE, C. A. R. A presença indígena na formação do Brasil. Brasília: UNESCO, 2006. 264 p. RAMOS, F. P.; MORAIS, M. V. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. (Biblioteca Virtual) SILVA, A. M. P. História e cultura afro-brasileiras. 2 ed. Curitiba: Expoente, 2008. WITTMANN, L. T. (org.) Ensino de história indígena. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. AULA 3 Exercícios 1) A região metropolitana do litoral sul paulista é constituída pelos municípios representados no mapa: Figura 6: Atlas Nacional do Brasil. Fonte: IBGE (2010) Ao longo do tempo, essa região conheceu diferentes formas de ocupação territorial e de desenvolvimento. Identifique o tipo de ocupação territorial e a forma de desenvolvimento que ocorreram, nessa região, tendo como referência os anos de 1530, 1920, 1950 e 2010. 2) P á g i n a | 48 Figura 7: Mapa: imagens da formação territorial brasileira. Fonte: ADONIAS, I. FURRER, B (1993) Podem-se observar nos mapas maneiras distintas de representar o território que viria a ser designado como Brasil, no contexto da conquista e colonização portuguesa na América entre os séculos XVI e XVII, respectivamente. Identifique um aspecto de cada um dos mapas que os diferencie quanto à representação do território. Em seguida, apresente duas ações políticas ou econômicas da colonização portuguesa no Brasil, uma para o século XVI e outra para o século XVII. 3) “Desde o alvorecer de São Paulo, as águas amarelas e quietas do Tietê despertaram sonhos de aventura e de riqueza. ” (NÓBREGA, M. História do Rio Tietê. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1981, pág. 61) Sobre esse rio, pode-se afirmar corretamente que: P á g i n a | 49 a) foi utilizado pelos bandeirantes, como meio de transporte, na procura de ouro e na captura de indígenas. b) possibilitou o acesso de nordestinos para São Paulo, por ser o mais importante afluente do rio São Francisco. c) se tornou poluído a partir do século XIX, em decorrência da intensa mineração desenvolvida ao longo de seu leito. d) facilitou a intensa urbanização da capital paulista pelo fato de suas águas correrem no sentido interior-litoral e de ter sua foz no litoral. e) exerceu importante papel no século XVIII, uma vez que possibilitou o escoamento da produção cafeeira do oeste paulista até o porto de Santos. 4) Leia o segmento abaixo, do escritor indígena Ailton Krenak. Os fatos e a história recente dos últimos 500 anos têm indicado que o tempo desse encontro entre as nossas culturas é um tempo que acontece e se repete todo dia. Não houve um encontro entre as culturas dos povos do Ocidente e a cultura do continente americano numa data e num tempo demarcado que pudéssemos chamar de 1500 ou de 1800. Estamos convivendo com esse contato desde sempre. KRENAK, A. O eterno retorno do encontro. In: NOVAES, A. (org.). A outra margem do Ocidente. São Paulo: Funarte, Companhia das Letras, 1999. p. 25. Considerando a história indígena no Brasil, a principal ideia contida no segmento é: a) negação da conquista europeia na América, em 1500. b) ausência de transformação social nas sociedades ameríndias. c) exclusão dos povos americanos da história ocidental. d) estagnação social do continente sul-americano após a chegada dos europeus. e) continuidade histórica do contato cultural entre ocidentais e indígenas. 5) A Bahia é cidade d’El-Rei, e a corte do Brasil; nela residem os Srs. Bispo, Governador, Ouvidor-Geral, com outros oficiais e justiça de Sua Majestade; [...]. É terra farta de mantimentos, carnes de vaca, porco, galinha, ovelhas, e outras criações; tem 36 engenhos, neles se faz o melhor açúcar de toda a costa; [...] terá a cidade com seu termo passante de três mil vizinhos Portugueses, oito mil Índios cristãos, e três ou P á g i n a | 50 quatro mil escravos da Guiné. (Fernão Cardim. Tratados da terra e gente do Brasil, 1997.) O padre Fernão Cardim foi testemunha da colonização portuguesa do Brasil de 1583 a 1601. O excerto faz uma descrição de Salvador, sede do Governo-Geral, referindo-se, entre outros aspectos, à: a) incorporação pelos colonizadores dos padrões culturais indígenas. b) ligação da atividade produtiva local com o comércio internacional. c) miscigenação crescente dos grupos étnicos presentes na cidade. d) existência luxuosa da nobreza portuguesa na capital da colônia. e) dependência da população em relação à importação de produtos de sobrevivência. AULA 3 Gabarito Resposta da questão 1: [Resposta do ponto de vista da disciplina de Geografia] O mapa representa a Região Metropolitana da Baixada Santista na atualidade. Em 1530, a ocupação territorial se dava basicamente por etnias indígenas, começando a ter a primeira forma de ocupação portuguesa com as primeiras iniciativas de produção de cana de açúcar na região, concentradas em São Vicente. Embora já houvesse a presença de portugueses na região para a extração de pau- brasil em um sistema de feitorias, antes de 1530, é apenas a partir desta data que de fato passa a haver uma ocupação europeia na região. Em 1920, no contexto de intensa imigração europeia para o Brasil, a ocupação se dá principalmente pelo estabelecimento do porto de Santos e consequente escoamento da produção cafeeira do Oeste Paulista para exportação. Neste momento, ocorre uma urbanização mais intensa de Santos e São Vicente e também surgem novos núcleos urbanos ao longo do litoral. Em 1950, devido ao crescimento industrial do país, a ocupação urbana da região se torna mais efetiva com a criação do polo industrial de Cubatão, com indústria siderúrgica (Cosipa) e indústrias petroquímicas. A urbanização e a industrialização avançaram sobre espaços ocupados por populações indígenas, como os guaranis, restringindo cada vez mais os seus territórios. Também avançou o processo de desmatamento dos biomas de Mata Atlântica e Formações Litorâneas (Mangue e Restinga). Em 2010, consolida-se a Região Metropolitana da BaixadaSantista a partir da interação socioeconômica entre as cidades e do fenômeno da conturbação. A região constitui um importante polo industrial, terciário (serviços, comércio e turismo) e portuário, que tende a ser dinamizado com a perspectiva de exploração do petróleo da camada pré-sal. Um dos fenômenos mais recentes é o avanço da especulação imobiliária e o agravamento de problemas de mobilidade urbana, além dos problemas socioambientais. [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] P á g i n a | 52 O mapa retrata a Região Metropolitana da Baixada Santista. Em 1530, havia diversas etnias indígenas na região. Porém, neste contexto, o comércio das especiarias entrou em declínio e Portugal enviou para o Brasil Martim Afonso de Souza para viabilizar o processo de colonização portuguesa. Daí surgiu as Capitanias hereditárias que dividiram o Brasil em lotes de terras. Nesta região, se estabeleceu a Capitania de São Vicente que se destacou na produção da cana de açúcar. Em 1920, no contexto da República Velha, 1889-1930, havia uma política de incentivo à imigração europeia para o Brasil intensificando a ocupação na região. O Porto de Santos se destacou para escoar a produção de café do “Oeste Paulista”. Na década de 1950, no segundo governo de Vargas, 1950-1954, e no governo de JK, 1956-1960, ocorreu um forte crescimento industrial gerando forte ocupação da região. Surgiu um polo industrial através de siderúrgica e petroquímica. Esta modernização contribui para dizimar culturas e povos nativos. Em 2010, consolidou-se a Região Metropolitana da Baixada Santista como grande polo industrial, do setor terciário e com uma tendência a se intensificar devido à exploração da camada pré-sal. Resposta da questão 2: O primeiro mapa aponta elementos da paisagem natural da costa brasileira como a fauna e a flora enquanto o segundo mapa apresenta o brasão da coroa portuguesa e menciona os nomes de localidades e acidentes. No século XVI ocorreu o início da Conquista, criação das Capitanias Hereditárias, Governo Geral, início da plantação da cana-de-açúcar, surgimento de vilas e cidades, entre outras medidas. No século XVII, podemos destacar a expansão da lavoura canavieira, ampliação do uso de africanos na condição de escravos, a expansão para o interior, as invasões holandesas no Nordeste brasileiro, etc. Resposta da questão 3: [A] [Resposta do ponto de vista da disciplina de Geografia] Como mencionado corretamente na alternativa [A], o Rio Tietê foi curso desbravador para o interior utilizado pelas bandeiras. Estão incorretas as alternativas: [B], porque o Tietê não é afluente do rio São Francisco e não tem relação com a migração de nordestinos; [C], porque sua poluição é caracterizada pela concentração urbano-industrial no século XX; [D], porque seu sentido é litoral-interior e sua foz, no rio Paraná; [E], porque o escoamento do café foi feito por ferrovias e sua nascente não chega ao Porto de Santos. P á g i n a | 53 [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] Somente a proposição [A] está correta. Desde o período colonial, sobretudo nos séculos XVII e XVIII o rio Tietê foi muito importante na perspectiva econômica. Através deste rio, os bandeirantes paulistas foram em busca de metais preciosos na região das Minas Gerais. Foi utilizado também para capturar nativos. Também foi útil nas bandeiras chamadas “Monções” que visavam abastecer as áreas mineratórias. Resposta da questão 4: [E] A explanação do escritor indígena é bastante clara: desde o primeiro momento de contato, nunca mais a relação cultural entre indígenas e brancos deixou de acontecer no Brasil, sempre trazendo consequências para os dois lados. Resposta da questão 5: [B] Ao citar os mantimentos, os engenhos e a produção do açúcar, o padre deixa claro que a Bahia cumpria bem o papel de centro da colônia: inserir-se no comércio internacional, enriquecendo a metrópole através da venda de seus produtos. Conflitos entre índios e colonizadores Aula 4 APRESENTAÇÃO DA AULA Neste capítulo, iremos abordar alguns elementos que evidenciam a difícil relação entre os portugueses e os indígenas no início do período colonial. Diferentemente do que alguns pensam, essa relação foi marcada por entendimentos e conflitos, pois, a guerra era sim uma prática indígena. Nas novas terras descobertas, havia diferentes etnias indígenas que guerreavam entre si, e vindos do além-mar, portugueses, franceses e holandeses rondavam o território colonial em busca de terras a serem colonizadas. Dessa forma, conflitos e alianças marcaram essa delicada relação nos primeiros anos da colônia, e é um pouco dessa história que abordaremos nessa aula. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Abordar a relação conflituosa entre portugueses e índios no período colonial. P á g i n a | 55 4 INTRODUÇÃO O primeiro contato entre os colonizadores portugueses e os índios foi considerado pacífico. Pero Lopes, irmão de Martim Afonso, descreveu que os índios se apresentavam amistosos e tinham interesse nos objetos ofertado pelos portugueses. Nas trocas de presentes, manifestavam a calorosamente com alegria com abraços e sorrisos, enquanto os portugueses recebiam essas manifestações afetuosas com certa reserva. Esse entendimento durou um certo tempo, mesmo com a chegada de outros colonizadores portugueses. Aos poucos, a colônia foi sendo conquistada, e a monarquia portuguesa foi estendendo mais e mais seus mecanismos de dominação e conquista. Com o tempo, as hostilidades começaram a aparecer. Os Potiguaras, aliados dos franceses, atacaram Itamaracá e Pernambuco. Os Aimorés organizaram ataques severos aos estabelecimentos portugueses em Ilhéus e Bahia. No Espírito Santo e norte fluminense, os portugueses padeceram com ataques dos Goitacás. Assim, os conflitos e alianças começaram tendo em vista a dominação das novas terras. Sobre a relação conflituosa entre índios e portugueses, três cidades podem ser exemplificadas: São Vicente, Bahia e Pernambuco. Em cada uma dessas regiões, a relação ocorreu de diferente maneira: em São Vicente, segundo o Padre Anchieta, nunca houve guerra entre brancos e índios, a não ser em 1562. Outro personagem histórico, Pero de Magalhães Gandavo, chamou a atenção para a generalizada união das raças. Os portugueses revestiram boa parte da cultura material indígena ao ponto de adotarem sua língua, um dos únicos meios de comunicação entre eles até o século XVIII. Nesse aspecto, os jesuítas merecem destaque, pois se dedicaram arduamente a formular uma gramática do tupi. A junção entre portugueses e indígenas na região fez surgir uma população miscigenada. Na Bahia, com a instalação do governo-geral, foi implantada uma política baseada na guerra declarada aos Tupinambás e, ao mesmo tempo, em uma forte parceria com os Tupiniquins. Com esse pensamento de diferenciar indígenas aliados e indígenas inimigos, foi criada na Bahia uma organização que se arregimentou para proteger os portugueses. E nesse sentido, o litoral baiano foi sendo ocupado pela coroa portuguesa com construções que buscavam demarcar território. P á g i n a | 56 Em Pernambuco, os indígenas foram militarmente derrotados pelos portugueses. Ao contrário do que ocorreu na Bahia, os colonizadores não estabeleceram alianças e dessa forma, ficaram mais expostos aos ataques indígenas. O controle da Bahia pelos portugueses teve um papel estratégico na luta contra os indígenas. Quando Tomé de Sousa se estabeleceu no litoral baiano, em 1549, os Tupinambás já guerreavam contra os colonizadores de Portugal. Entretanto, os Tupiniquins permaneciam em paz com os povoadores europeus. Figura 8: Tomé de Sousa.
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