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O BRUXO DO CONTESTADO ENSINO

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DA PESQUISA À FORMAÇÃO DOCENTE, POR UMA 
ABORDAGEM DIDÁTICA DO TEXTO LITERÁRIO: A 
RESSIGNIFICAÇÃO DA HISTÓRIA PARANAENSE EM O 
BRUXO DO CONTESTADO 
 
CELLA, Thiana Nunes1 
FLECK, Gilmei Francisco2 
 
RESUMO: 
São intrínsecas e inegáveis as relações entre a prática docente e a formação docente 
continuada para o ensino de literatura, especialmente, na educação básica. Com base 
no ensino de literatura a partir de narrativas híbridas de história e ficção paranaenses, 
esse resumo expandido intenta mostrar a contribuição e a necessidade da pesquisa 
constante para a atuação do profissional de Letras. Para tanto, toma-se como corpus 
de análise o romance O bruxo do Contestado, de Godofredo Oliveira Neto, publicado 
em 2012. Como o título prenuncia, o romance apresenta a ficcionalização de um 
momento histórico marcante do estado do Paraná: a Guerra do Contestado (1912 - 
1916), e insere-se, assim, no âmbito de romances que dialogam criticamente com o 
passado e ressignificam a historiografia tradicional do estado. Sobre O bruxo do 
Contestado, apresenta-se uma análise crítica qualitativa na qual o consideramos um 
romance histórico contemporâneo de mediação, na acepção de Fleck (2017). Nessa, 
apontamos de que maneira os discursos da historiografia são reelaborados 
criticamente pela ficção e examinamos as estratégias literárias presentes na urdidura 
narrativa; ao mesmo tempo, a análise objetiva fornecer elementos e ferramentas para 
a apresentação e abordagem adequadas do texto literário em sala de aula, 
consoantes às teorias da Estética da Recepção (JAUSS, 1994) e do ato de leitura 
(KOCH, 2002, 2015). A partir dessa análise, explicita-se como a pesquisa e os estudos 
sobre o romance histórico são fundamentais para garantir o embasamento teórico e 
pragmático vital às práticas de ensino, pois possibilitam uma percepção crítica e 
acurada da produção contemporânea a partir de uma das modalidades de extração 
histórica mais acessíveis para o público jovem e adolescente. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de literatura. Guerra do Contestado. Prática docente. 
Romance histórico contemporâneo de mediação. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O ensino de literatura na educação básica é o foco de muitas discussões, as 
quais envolvem as concepções de ensino, os modos de enfrentar e conceber os textos 
literários, bem como a forma de apresentação dos mesmos em sala de aula. Tais 
 
1 Mestra em Letras, IFPR/UNIOESTE. E-mail: thianacella@gmail.com. 
2 Doutor em Letras, Pós-doutor em Literatura comparada e Tradução, Coordenador do grupo de 
pesquisa “Ressignificações do passado na América: processos de leitura, escrita e tradução de gêneros 
híbridos de história e ficção - vias para a descolonização”, UNIOESTE. E-mail: 
chicofleck@yahoo.com.br. 
 
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demandas exigem uma postura do professor pesquisador frente às diferentes 
abordagens do texto literário. A partir disso, o objetivo do presente resumo expandido 
é oferecer bases para uma postura teórica didática frente aos textos literários - em 
especial àqueles considerados de extração histórica -, que encaminhem possíveis 
práticas docentes na educação básica. 
Para tanto, esse resumo expandido inicia com algumas considerações quanto 
ao ato de leitura e a percepção de leitura literária relativa à Estética da Recepção. 
Relaciona essa postura à leitura de narrativas híbridas de história e ficção e enfatiza-
se o papel primordial do leitor na interpretação e percepção do texto como tal. Na 
sequência, realiza uma brevíssima análise do romance histórico contemporâneo de 
mediação O bruxo do Contestado (2012), de Godofredo de Oliveira Neto, na qual 
apresenta e discute as nuances entre o discurso ficcional e o discurso histórico, aponta 
algumas estratégias narrativas presentes no romance, e destaca o papel do 
profissional de Letras na apresentação dessa tipologia textual em sala de aula. 
 
2 LEITURA E TEXTO LITERÁRIO: DA TEORIA À PRÁTICA 
 
Gostaríamos de iniciar essa discussão a partir de duas posturas teóricas 
distintas, mas complementares: a primeira delas diz respeito ao processo de leitura 
definido por meio da concepção interacional (dialógica) da língua, proposta por Koch 
(2002, 2015), pela qual o leitor é percebido como um receptor ativo responsivo. Nessa 
concepção, a leitura, literária ou não, é considerada: 
 
[...] uma atividade interativa altamente complexa de produção de 
sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos 
linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de 
organização, mas requer mobilização de um vasto conjunto de 
saberes no interior do evento comunicativo. (KOCH, 2015, p. 11). 
 
Essa concepção nos conduz à concepção de leitura literária proposta pela 
Estética da Recepção, primeiramente proposta por Jauss (1994), e desdobrada no 
Brasil por profissionais como Zilberman (1989) e Bordini, Aguiar (1993). Nessa 
postura, o leitor passa a figurar papel de destaque na tríade literária (leitor, autor e 
obra) e a ser entendido como um elemento essencial para a existência da literatura, 
uma vez que essa só se concretiza no ato de leitura. Assim, a atividade receptiva se 
 
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inicia no momento de aproximação entre leitor e texto. O texto se faz na travessia, na 
passagem, ou seja, na leitura. Essa leitura é única, é individual, é plural, uma 
interpretação que apenas se repete na diferença, que é permeada por ecos de outros 
textos, referências anônimas, plurais. Esse diálogo, portanto, dependerá do grau de 
identificação e estranhamento com o texto lido, bem como das implicações sociais e 
culturais a que ambos estão vinculados, da construção e reconstrução daquilo que 
Jauss (1994) designa de horizonte de expectativas: o sistema histórico-literário de 
referência individual que o leitor utiliza. 
Por essa perspectiva, o leitor passa a figurar papel de destaque e a leitura está 
sujeita a sua interpretação, depende do olhar do leitor e da sua capacidade de 
identificação de elementos - culturais, literários, históricos ou não -, para conseguir 
compreender o romance. Assim, em relação aos romances de extração histórica, 
aproximamo-nos daquilo que Celia Fernández Prieto (1996) defende quando afirma a 
importância do reconhecimento do elemento histórico na diegese do texto literário. É 
necessário que o leitor possa identificar os traços, de eventos, datas, e nome próprio 
de personagens históricas, pois se o leitor não é capaz de reconhecer historicamente 
esses elementos, não serão atribuídas as propriedades historiográficas a essa 
narrativa. 
Nesse sentido, a capacidade representativa ou referencial é conseguida por 
meio do ato da leitura, que, em sua temporalidade, constrói sentidos para o texto, pois 
a leitura “ficcionaliza a História. Em contrapartida, a leitura historiciza a Ficção, na 
medida em que a voz narrativa situa no passado o mundo da obra” (NUNES, 1988, p. 
34). Desse modo, o processo de leitura é o responsável por abrir a história à ficção e 
a ficção à história. 
Dessa forma, ainda consoante a Fernández Prieto (1996), a historicidade do 
romance dependerá do que o leitor compreende como histórico, pois fatos, figuras e 
elementos históricos apenas são históricos a partir do momento que forem 
identificados como tais. Por isso a importância de um professor mediador consciente, 
que atualize a leitura do texto junto aos alunos, para que o mesmo possa ressignificar 
os elementos do passado de forma crítica, com vistas à formação de um leitor 
autônomo e crítico. 
É a partir dessa concepção de leitura, leitura literária, em especial, de leitura e 
interpretação do romance histórico que apresentamos, na sequência, uma análise do 
 
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romance histórico contemporâneo de mediação, O buxo do Contestado (2012), de 
Godofredo de Oliveira Neto, na qual apresentamos alguns pontos que devem ser 
ressaltados quando da apresentaçãodo texto literários em sala de aula. 
 
3 O BRUXO DO CONTESTADO: A RESSIGNIFICAÇÃO DA HISTÓRIA POR MEIO 
DO DISCURSO LITERÁRIO 
 
A história do Paraná tem sido cada vez mais revisitada pela literatura produzida 
no estado. Um romance exemplar dessa reconstituição do passado paranaense, em 
comunhão ao catarinense, é O bruxo do contestado (2012), do professor e escritor 
Godofredo de Oliveira Neto. Nesse, o passado brasileiro é reelaborado e revisitado 
por meio do relato da trajetória da família Rünnel. 
O romance é narrado por Tecla Jonhaski, uma personagem narradora que teve 
acesso às histórias da Guerra do Contestado, ocorrida entre os anos de 1912 e 1916, 
a partir de histórias contadas pela família de Gerd Rünnel e por ele mesmo, um dos 
personagens protagônicos da narrativa. A utilização da primeira pessoa não ocorre 
em todo o romance, ela é exclusividade de sete capítulos que rompem com a 
linearidade narrativa dos anos 1910: “Optei, finalmente, por deixar os [nomes] 
verdadeiros, inclusive o meu, Tecla” (OLIVEIRA NETO, 2012, p. 11). Esses capítulos 
são escritos no formato de diário e foram escritos entre o dia 20 e 26 de janeiro de 
1981, período em que a nação vivia outro momento conturbado, a Ditadura Militar 
(1964 – 1985), tema bastante frequente nos capítulos em formato de diário. 
Além do período dos conflitos do Contestado, Tecla também relata episódios 
vivenciados durante a Segunda Guerra Mundial no Brasil, as relações com as disputas 
de poder no Governo Vargas e o regime militar de 1964. Essas características, junto 
à inserção da diegese em um tempo pretérito bem delimitado, fazem com que o texto 
seja considerado uma narrativa híbrida de história e ficção (FLECK, 2017), ou ainda, 
um romance de extração histórica (ESTEVES, 2010). Em uma análise mais 
aprofundada, é possível afirmar que O bruxo do Contestado se enquadra como um 
romance histórico contemporâneo de mediação (FLECK, 2017), pois apresenta as 
características principais de uma releitura crítica e verossímil do passado, a 
linearidade na reelaboração do evento histórico, foco narrativo centralizado em 
personagens marginais ou ex-cêntricas, emprego de linguagem coloquial e fluída, e 
 
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utilização de algumas poucas estratégias metaficcionais e bakhtinianas, as quais são 
indispensáveis nessa modalidade3. 
No plano da diegese, Gerd Rünnel, testemunhou a Guerra do Contestado, e é 
com foco em sua família, esposa Juta e filha Rosa, que a narrativa se desenrola. Gerd, 
considerado na narrativa como a representação do bruxo do Contestado, vive uma 
terceira guerra: interna, solitária, pois convive com pensamentos conflitantes sobre a 
fidelidade de sua esposa e a legitimidade de sua filha, que não fala e possui 
transtornos mentais. Essa linha semântica narrativa é bastante fértil, em especial ao 
se tratar das relações entre a Guerra do Contestado e o imaginário da época, suas 
crenças e folclores, e por apresentar traços da memória coletiva e histórica sobre um 
momento pouco explorado pela historiografia tradicional. 
O Bruxo do contestado (2012) inicia com uma Nota aos leitores, no qual explica 
que essa história havia sido escrita, primeiramente, em um caderno, e que o mesmo 
foi encontrado quando da demolição de um palacete na cidade de São Paulo. Em 
consonância à acepção de Genette (2006), esse paratexto fornece um olhar “oficial 
ou oficioso” direcionando o leitor à aceitação como verdade do que é apresentado 
posteriormente. Para isso, o paratexto apresenta autorreferência ao processo de 
escrita, bem como detalhes do manuscrito que conferem verossimilhança ao texto 
ficcional: “O texto, escrito com caneta-tinteiro azul, foi pouco modificado, apenas 
algumas palavras atualizadas, e outras inventadas onde a letra era ilegível.” 
(OLIVEIRA NETO, 2012, p. 9). 
Em certa medida, pode se considerar os trechos de diários também como 
paratextos, pois os mesmos apresentam, frequentemente, a característica de explicar 
o manuscrito O bruxo do contestado. No entanto, suas inserções não se esgotam 
nisso, também realizam uma reelaboração do passado histórico, bem como uma 
revisão crítica da história e da historiografia nacional, como é possível perceber em: 
 
Papai convidava, frequentemente, membros da coordenação da 
mobilização econômica, criada por Getúlio logo depois da declaração 
de guerra ao Eixo e encarregada de regular a distribuição, circulação 
e consumo de mercadorias básicas. [...]. Numa dessas reuniões, me 
lembro, o assunto foi a invasão da representação diplomática 
 
3 Por motivos de espaço, optamos por não aprofundar o exame do romance histórico contemporâneo 
de mediação, para mais informações sobre essa modalidade consultar: FLECK, Gilmei Francisco. O 
romance histórico contemporâneo de mediação: entre a tradição e o desconstrucionismo – releituras 
críticas da história pela ficção. Curitiba: CRV, 2017. 
 
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brasileira em Vichy, na França pelos alemães, em novembro de 1942. 
O embaixador Sousa Dantas teve tempo de queimar códigos e 
arquivos, mas, juntamente com 26 funcionários consulares foi 
internado pelas autoridades alemãs em Badegodesber, perto de Bonn. 
(OLIVEIRA NETO, 2012, p. 13). 
 
É necessário ressaltar, também, que a percepção das relações entre o discurso 
ficcional e o discurso histórico sofreu grande transformação a partir das proposições 
de Hayden White (2001), em meados do século XX, quando ambos passam a ser 
entendidos como material discursivo, constituídos, portanto, de linguagem. 
Distinguidos pela busca ou pelo compromisso que a história possui com a verdade: 
enquanto a literatura aceita e se reconhece como ficção imaginativa, a história se 
pretende verdadeira. Milton (1992) reafirma essa postura: 
 
A ficção e a história guardam em si estreita solidariedade, como 
instâncias que são representação da experiência humana e pela 
natureza basicamente narrativa de seus respectivos discursos, que 
encontram na categoria do tempo o grande eixo estruturador. Da 
mesma forma, distinguem-se radicalmente pelo tipo de convenção que 
as organiza, isto é, a da veracidade para o campo historiográfico e a 
da verossimilhança para a narrativa literária. (MILTON, 1992, p. 9 apud 
FLECK, 2017, p. 27). 
 
Portanto, enquanto o historiador permanece na busca pela veracidade 
histórica, está preso aos fatos e datas, o ficcionista, fazendo uso do pacto ficcional 
com o leitor, tem a possibilidade de se eximir de tal obrigação. De fato, O bruxo do 
Contestado (2012), apresenta diversas estratégias narrativas que buscam conferir 
verossimilhança ao texto, seja pela utilização dos paratextos (já assinalados 
anteriormente), seja pela extensa utilização de detalhes e elementos histórico 
geográficos, ou ainda pela inserção de personagens representativos da historiografia 
oficial: “Mas tem muita gente que ajuda o Eixo. [...], por exemplo, de que sabe, mulher 
de Harry Berger, um dos que chefiaram o levante comunista de 1935, foi deportada, 
em fins de 1936, para a Alemanha. O mesmo aconteceu com a Olga Benário.” 
(OLIVEIRA NETO, 2012, p.44). 
Dessa forma, fica evidente as relações entre o discurso histórico e o ficcional 
no romance. Verifica-se, também, em todo o texto, as fortes restrições que o romance 
ficcional alocado em um espaço e tempo bem determinados estão sujeitos, tal como 
afirma Fernández Prieto (1996): 
 
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el mundo ficcional de la novela histórica queda sometido a una serie 
de restricciones de carácter semántico-pragmático desde el momento 
en que se elabora con entidades públicas y conocidas en la 
enciclopedia de los lectores. […] El género requiere una base histórica 
documentada, pero admite diferentes grados de compromiso con ella, 
desde las novelas que exhiben sus fuentes de información y se ajustan 
con rigor a los datos históricos subordinando a ellos los demás 
componentes del mundoficcional (lo que se ha llamado historia 
novelada), hasta las que alteran conscientemente su base histórica 
rompiendo las expectativas del lector en función de proyectos 
semántico-ideológicos y de designios estéticos diversos. Entre estos 
extremos cabe una extensa gama de combinaciones y posibilidades 
de juegos ficcionales que requieren matizar los contratos genéricos en 
cada caso. (FERNÁNDEZ PRIETO, 1996, p. 191). 
 
Em O bruxo do contesto (2012), o grau de compromisso com a historiografia 
oficial é bastante alto, ao mesmo tempo, essa também é uma forma de resistência, 
uma luta pelo não apagamento da memória de períodos históricos perturbadores e de 
uma postura de não conformidade com as diferentes situações brasileiras, como a 
própria narradora afirma: 
 
Para uma ex-militante política exilada, que sonha com um mundo 
melhor – que parece sempre existir em algum lugar -, escrever O bruxo 
é capitular? É renunciar a outras formas de luta? É se vender? 
Com a morte em minhas canelas, não consigo ver se Hélio tinha 
mesmo razão e se, como doutor Fausto, é lídimo vender a alma ao 
Diabo. Mas vou deixar o O Bruxo do Contestado amanhã na avenida 
Paulista mesmo assim. (OLIVEIRA NETO, 2012, p. 149, grifos do 
autor). 
 
Mostrar como essas relações entre o discurso ficcional e o discurso histórico 
se realizam dentro do texto literário é o compromisso que o professor deve assumir, 
destacando as características do texto enquanto literatura, suas estratégias textuais e 
de linguagem, intertextualidades, dentre outras, para que, junto ao professor, os 
alunos sejam capazes de verificar e desvendar as nuances e as claves dos textos 
literários. Assim, o professor fornecerá as bases para que o leitor possa escolher de 
forma autônoma dentre as fendas proporcionadas pela ficção. 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
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A partir da análise aqui elaborada, é possível notar que a ficção contemporânea 
se apropria dos discursos históricos e os ressignificam para a consolidação ou rejeição 
de determinadas posturas histórico ideológicas, bem como para posicionar-se como 
um elemento de resistência ao apagamento e/ou esquecimento de versões da história 
não legitimadas pelo discurso histórico hegemônico. Para que esses textos cheguem 
até o leitor literário, é necessário que o professor esteja apto a realizar uma análise 
apurada e conduzir os alunos pelas diferentes possibilidades interpretativas que a 
ficção oferece, o que explicita a necessidade de o professor estar atento às posturas 
teóricas a respeito do texto literário e sua apresentação em sala de aula. 
Para exemplificar essa prática, foi realizada uma brevíssima análise do 
romance O bruxo do Contestado (2012), de Godofredo de Oliveira Neto, que se 
coaduna à modalidade de romance histórico contemporâneo de mediação. Nesse 
contexto, torna-se patente a relevância da pesquisa e dos estudos sobre o romance 
histórico, fundamentais para garantir o embasamento teórico e pragmático necessário 
e vital às práticas de ensino em sala de aula, pois essa possibilita uma percepção 
crítica e acurada da produção contemporânea. 
De fato, para que os docentes saibam selecionar o material, conduzir uma 
abordagem didática e mediar a leitura de obras literárias, é preciso que os mesmos 
conheçam obras exemplares, concepções e teorias condizentes com essa produção. 
Além disso, é fundamental que o docente esteja ciente de que a leitura deve ser 
centrada no leitor, pois esse, junto às contribuições do professor, é quem deve 
escolher os caminhos para a compreensão da ficção; postura que o encaminha ao 
desenvolvimento omnilateral, crítico e autônomo, desejado na educação brasileira. 
 
5 REFERÊNCIAS 
 
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Método recepcional. In: ___. 
Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2. Ed. Porto Alegre, 
Mercado Aberto, 1993. 
 
ESTEVES, Antonio. O romance histórico brasileiro contemporâneo (1975-2000). 
São Paulo: Ed. UNESP, 2010. 
 
FERNÁNDEZ PRIETO, C. Poética de la novela histórica como género literario. In: 
Signa. Revista de la Asociación Española de Semiótica. Núm. 5, 1996. p. 185-202. 
 
 
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FLECK, Gilmei Francisco. O romance histórico contemporâneo de mediação: 
entre a tradição e o desconstrucionismo – releituras críticas da história pela ficção. 
Curitiba: CRV, 2017. 
 
GENETTE, Gérard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Belo Horizonte: 
Faculdade de Letras, 2006. 
 
KOCH, Ingedore. ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender: os Sentidos do Texto. 3. 
ed. São Paulo: Contexto, 2015. 
 
NUNES, Benedito. Narrativa histórica e narrativa ficcional. In: RIEDEL, Dirce Côrtes 
(Org.). Narrativa: ficção e história. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1988. p. 9-35. 
 
OLIVEIRA NETO, Godofredo de. O bruxo do Contestado. Rio de Janeiro: Record, 
2012. 
 
WHITE, Hayden. Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. Trad. 
Alípio Correia de Franca Neto. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2001. 
 
ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história literária. São Paulo: Ática, 
1989.